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CAPITULO VI Se EET a A FUNGAO SOCIAL DO ENSINO DE CIENCIAS NATURAIS E A QUESTAO DA CONCEPGAO DE MUNDO NA PEDAGOGIA HISTORICO-CRITICA Lucas Monteiro Pereira Luciana Maria Lunardi Campos Este texto possui como objetivo explorar a relagao entre o ensino e aprendizagem das Ciéncias Naturais e a formaao da concep¢ao de mundo, como via de fundamentar o que entendemos como fungio social deste trabalho educativo. Assim, buscamos dar concretude, no que se refere aos contetidos das Ciéncias Naturais, a tese historico-critica, anunciada por Duarte (2016, p. 94), de que “o papel educativo do ensino dos conheci- mentos cientificos, artisticos e filosdficos efetiva-se de maneira tao mais consistente quanto mais esse ensino esteja fundamentado na concep¢a0 de mundo materialista, histérica e dialética”. Para tanto, o texto segue, primeiramente, pelo exame da fungao social do trabalho educativo em geral, apontando seu papel na humanizacao dos individuos e, em seu interior, na formagao da concepgao de mundo. A par- tir disso, analisamos a elaboracao cientifico-filoséfica das concepgées de mundo a partir do desenvolvimento histérico da esfera de objetivacao das Ciéncias da Natureza, desvelando, em especial, a luta ideolégica entre ide- fim, abordamos a contribuicao especifica do alismo e materialismo. Por io mate- conhecimento cientifico para o desenvolvimento de uma concepga tialista, histdrica e dialética de mundo nos individuos. Introducao de Ciéncias Naturais, entendemos aquilo Por fungo social do ensino : : bjetivo pretendido com o ensino ¢ que se define usualmente como © © Digitalizado com CamScanner EDUCAGAO PARA A CIENCIA ; _ s0, 0 conhecimento cienti- de certo conhecimento ~ n0 cas Fi Ha ‘ua vez, requer compreender © papel ou , i e conhecimento cumpre na vida buigdo especifica que © ensino dest : ee ntemente, na sociedade em que 0 processo eI dos/as alunos/as e, consequ , ee educativo transcorre. Podemos colocar de outro modo: a auieetse ‘qual a funcao social?” do ensino de um contetido envolve, ainda que implicita- ni 2 A mente, questées como “que ser humano queremos formar?’, bem como « los?” “para que sociedade queremos formé-los?”. Vale lembrar que vivemos, ainda, em um sistema social capitalista, regido pela produgao de mercadorias e pela expropriacao do trabalho assa- lariado, o solo fértil do qual emergem distintas formas de alienacao e feti- chizaco. Para que a grande maioria da humanidade supere esta sociedade que a explora e oprime, é necessdrio que os individuos compreendam as contradi¢ées que suportam em seu cotidiano imediato e se posicionem praticamente a respeito delas. Toda definicao de objetivo do processo edu- cativo deve responder também a este “que fazer?” com os rumos tomados pela sociedade contemporanea.! aprendizage! ; fico. Delimitar esse objetivo, Por Sob nosso ponto de vista, compreender a funcdo social do ensino de Ciéncias Naturais para além das aparéncias implica reconhecer primeira- mente que tais questdes nem sempre foram tomadas de forma explicita e elaborada pela area de Educagéo em Ciéncias, Em uma breve contextu- alizacao historica, Aikenhead (1994) descreve que a introducdo das dis- iplinas cientificas na escola tradicional se deu apenas a partir de fins do século XIX, sob influéncia da diviséo do trabalho intelectual que susten- polenta arene ees ‘ranspondo para a escola valorizacio do conhecimento teéric a Spare come 2 s0bre € As questoes sociais, Isto quer atte calocava ane a fungio de formar cemtists = sdcee eocav* PaFa 0 ensino de Cigncias a ‘quados, é claro, aquele modelo. £ nitido @ perspectiva geral da pedagopia tra.1, Ee 808i tradicional, propri tio da burguesie (SAVIANT, 2003), "PrP do perfodo revoluco- ‘bastante claro, também, implicitamente, tivamente coloc; » Que toda definics uma resposta pan itis de objetivo deg on adas no Sala Petgunta, balizada sempre pete om si, ainda que ‘ado da sociedade ent a Pobre pelas possibiidades obj" 7 7 es cativo se di Digitalizado com CamScanner ENSINO DE CIENCIAS E PEDAGOGIA HISTORIGO-cRiTICA FORTALECENDO APROXIMAGOES £m meados do século XX, jd no auge * a J auge da etapa monopolista do capita- Jismo, em um contexto politico-social de plena luta e i ‘ali eriéncias socialistas, a ex; 5 ‘a uta entre o imperialismo e ex socialistas, a expressao deste signi : as lo mate emcee , esahe deste significado de ensino se altera. Com i i are id Es Sputnik pela Unido Soviética, em 1957, cadeou nos Estados Uni s pal ; A desen idos ¢ outros paises capitalistas centrais um movimento de reformas curriculares das disciplinas de Fisica, Quimica e iologia. Desse modo, jetivo inicialmer i Biologia. Desse lo, 0 objetivo inicialmente pretendido se reconfigurou em busca do aumento do interesse dos jovens pelas ciéncias exatas e natu- rais, basicas ou aplicadas, tendo em vista o desenvolvimento cientifico- -tecnolégico necessario 4 dominagio geopolitica e econémica. A partir desse perfodo, 0 processo de ensinar e aprender Ciéncias Naturais na escola basica passou a ser objeto de investigagées sistematicas, incorporando refe- renciais tedricos notadamente da Psicologia da Educagao e da Historia e Filosofia da Ciéncia (posteriormente, também dos estudos CTSA), consti- tuindo-se entéo como um campo especifico de teorizagao e pesquisa edu- cacional. A primeira grande referéncia tedrico-metodolégica da area viria com 0 modelo de ensino por mudanga conceitual, De modo geral, neste ercurso histérico, 0 objetivo explicitado se articulou e, ao mesmo tempo, Pi ) P) se tensionou entre a necessidade de formagao de cientistas e 0 propdsito de compreensio e aceitago dos conceitos cientificos. Ainda que partindo de outra perspectiva, concordamos com Cachapuz et al (2004, p. 366) quando dizem que: um tal debate sobre o estatuto epistemol6gico da Educagéo em Ciéncia sé tem verdadeiramente sentido educacional se estiver arti- culado com a questdo da justificagao social da Educagao em Ciéncia, questo esta com profundas conseqiiéncias. A guestio, nuclear passa por termos de rever respostas sobre 0 para qué @ no s6 sobre 0 0 qué (questio ligada aos curriculos) ¢ 0 co70 (questdo ligada as estra- de tudo, tégias de trabalho), como quas . apesar requerendo respostas bem menos comprometedoras. .e sempre sucede & clear & que parece existir, a nosso ver ampo da Educagio em Ciéncias, as 4s vezes tomado como um slogan O dilema com a dita questao nu um certo consenso generalizado no © Vezes aprofundado com varias nuances, 197 Digitalizado com CamScanner EDUCAGAO PARA A CIENCIA e para qué se deve ensinar € aprender Ciéncias Naturaig educacional, sobre para q prios Cachapuz et al (2004, p. 366-7) apon. na educagio basica atual. Os pr Py “formagio de cidadaos cientificaments tam que a prioridade deyeria se mente e responsavelmente em socieda. cultos, capazes de participar Femocriticas” De modo bem amplo, 9 gue des que Se ere oer go social do ensino de Ciencias Natural Ste et - 40 de alfabetiza¢ao/letramento cientifico, pela passa centralmente pela nogao ce 220° la prothocso:da.toiiad perspectiva de educa¢ao para cidadania e pela pi G3 aa - de decisées socialmente responsaveis em problemas envolvendo ciéncia ¢ tecnologia.” Neste texto, nao polemizamos centralmente com este consenso, embora possamos apontar que a sua devida andlise critica possa contribuir para precisar até que ponto o campo da Educagao em Ciéncias avancou em fundamentos essenciais para a defini¢ao que buscamos aqui e até que ponto ainda se enreda em antinomias ¢ falsas dicotomias sobre os aspectos do processo educativo escolar. O artigo de Camillo e Mattos (2014, p. 112), por exemplo, analisa explicitamente algumas tenses presentes no ensino de Ciéncias, a saber: “a oposicao entre individuo e coletividade” acerca do sujeito da pratica educativa, “a oposicao entre ensinar resultados cientifi- Cos ou processos cientificos, entre ensinar ciéncia como uma ontologia ou como uma epistemologia’; e a “oposicao entre apropriacao de conhecimen- tos estabelecidos (o que é muitas vezes associado a um processo alienante) €a constru¢ao de novos conhecimentos (ligado & construgao de uma indi- vidualidade livre)” ase fe é contribuir para a superacéo de tais tensdes, tca (SAVIANI, 2011) Su e perpeva a teoria pedagégica histérico-cri- gogia marxista, ou se an e7n08 que esta teoria, enquanto uma peda- (de Bree ontolégica 2 is e le derivada da “concepgao de fundo materialismo histérico™ (SAVIAM a Bee aie earactera Para uma definicio de funcio soc, ie B, BU) node secvir de base ev pleas relagdesdialéticas entre a apropene nn oe viens Natura; He Propriacao do conhecimento cientifico» 2 Ver, por exemy a plo, as disti i Marandino (2007), jenkjnnn®S, discussdes elaby ilchik > Fenkins (1999), Osbornes 007s eer a ouaseot Con asi mer (2001). 198 Digitalizado com CamScanner ENSINO DE CIENCIAS E PEDAGOGIA HISTORICO-CRITIGA: FORTALECENDO APROXIMAGOES, a formagao dos individuos como seres humanos e a transformacdo da pra- cial em que eles se inserem, pe tica $0 A pumanizagao dos individuos, o trabalho educativo ¢ a concep¢ao de mundo ‘A pedagogia hist6rico-critica entende a educagao como um fend- meno especificamente humano e, sendo assim, postula que a “compreen- sio da natureza da educagao passa pela compressao da natureza humana” (SAVIANI, 2011, p. 11). Em uma concepsao histérico-social deser humano, coerente com OS fundamentos tedricos marxistas desta teoria pedagégica, a educagao corresponde ao processo de formago dos individuos como seres humanos, ou seja, a teoria marxista entende que nao nascemos como seres humanos, mas nos humanizamos, nos tornamos membros do género humano, uma categoria que expressa a “objetividade das caracteristicas humanas historicamente formadas” (DUARTE, 2013, p. 13). Como a exis- téncia concreta do género humano depende do conjunto dos individuos em sociedade, estes se desenvolvem sempre em relacao ao nivel de desen- yolvimento historicamente alcangado por aquele, por meio de um duplo proceso: a “apropriacéo das caracteristicas humanas [historicamente] objetivadas e a objetivacao individual mediada pelo que foi apropriado” (DUARTE, 2013, p. 13, incluso nossa). Obviamente cabe aqui um destaque: esta dinamica de apropriagao- -objetivacao esta sempre presente, dado que todo individuo nasce e cresce no interior de determinadas relagées sociais que medeiam o seu vinculo com o patriménio de objetivagbes do género humano; a relacao entre 0 individuo (singular) e a sua generalidade (universal) é sempre mediada pela sociabilidade (particular) na qual ele vive. Ocorre que a socializagéo do individuo nao leva necessariamente a sua formagao como ser generico, isto 6 existem inter-relages contraditérias entre 0 individuo, a sociabili- dade concreta e o género humano, que decorrem “do fato de que a objeti- Yagio do género humano se realiza a0 longo da histéria da luta de car fazendo com que a vida da maior parte da humanidade se efetive ae limites muito aquém do nivel de desenvolvimento alcangado pelo ge humano” (DUARTE, 2013, p. 111)- 199 Digitalizado com CamScanner EDUCAGAO PARA A CIENCIA (duos comegam a se huma- j jo do contato ¢ da relagao com as objetivagdes genéricas em si (rater, 1960, Jificadas pelos objetos, pelos costumes e pela lin. vege ae ae humanos originados para resolver os problemas guage, que SiO Pr vida cotidiana. Para se apropriar e se objetivar por Priticos ¢mecia ir objetivacoes, nao ha necessidade de uma relacio meio desse conjunto de ob) bastando uma rela¢ao espontanea e prag- i 80, consciente para com 0 proces d ¢ eae p matica aH elas, Dessa forma, os individuos constituem a sua individua- lidade em si (DUARTE, 2013), aprendendo a reproduzirem a si mesmos. B neste contexto que se coloca a problematica da alienacao, mas nao porque a vida cotidiana seja essencialmente alienada e alienante. A huma- nizagao dos individuos se torna, com efeito, um processo alienado caso se limite pelo cotidiano: “a alienagao da individualidade nao é a existéncia do em si, mas a limitacao da vida a ele; isto é, a existéncia de barreiras sociais [...] que nao permitem as pessoas viverem, em suas atividades, a dialética da superacao do em si por sua incorpora¢ao ao para si” (DUARTE, 2013, p. 206). Neste caso, o individuo tem a sua consciéncia e a sua atividade vital direcionada exclusivamente pelas necessidades e motivagées particulares vacao primaria, os indivi Ja em sua socializago primaria, da sua vida cotidiana; ele aceita a estrutura hierarquica de atividades de seu cotidiano como algo espontaneo e natural, que conduz e subordina a sua vida. Para que a humanizagao dos individuos se torne um processo para si, eles devem estabelecer uma relacio de apropriacao-objetivacao do conjunto és objetivacoes genéricas para si (HELLER, 1984), isto &, daquelas esferas lo género hi i A a gi ne aue comportam conhecimentos e priticas voltadas nao Para 0 cotidiano (a vida dos individuos singulares), mas sim para o proprio da ciéncia e da filosofia. Neste caso, 200 Digitalizado com CamScanner ENSINO DE CIENCIAS E PEDAGOGIA HISTORICO-cRinica: FORTALECENDO APROXIMAGO IAGOES sgnero humano. Este si (DUARTE, 2013). O papel da exol se insere neste quadro de problemas, Saviani (2007) mostra que a escola surgi com a divisio social do trabalho, como uma jnstancia de formagao intelectual da classe dominante, enquanto a maio- ria esmagadora dos individuos continuavam se formando como mae humanos a partir da atividade de trabalho. Como em qualquer sociedade de classes, as conquistas materiais e intelectuais do género humano eram acessiveis somente a uma minoria. No entanto, coma génese e estruturagio do modo de produgio capitalista, a esfera da educagéo adquiriu um novo carter essencial, porque este momento histérico exigiu a universalizacéo do acesso & escola basica para a formagio dos individuos. Processo € constituigao de sua individualidade para As raz6es histérico-concretas aqui nao importam. O ponto é que, a despeito das contradigées de uma expansio limitada pelas condicdes mate- riais de um sistema econdmico nascente e ditada pelos interesses ideolégi- cos da burguesia, a escola se converteu em parte constitutiva da totalidade social, o que coloca ao menos a possibilidade da defesa de seu micleo essen- cial, da sua fungao especifica para o ser social, qual seja, a “transmissao-assi- milagio do saber sistematizado” (SAVIANI, 2011, p. 17). Isso quer dizer: a partir da escola, abre-se a possibilidade de que a apropriagéo-objetivacao do conhecimento elaborado, tal qual o cientifico, seja parte essencial da humanizacao de todos os individuos. Nao 4 toa, Saviani (2011, p. 13, grifos nossos) define que, do ponto de vista da educagao, os conhecimentos nao interessam em si mesmos, mas: [...] enquanto é necessario que os homens os assimilem, tendo em vista a constituigao de algo como uma segunda natureza. Portanto: ° que nao € garantido pela natureza tem que ser produzido historica- mente pelos homens, e ai se incluem os proprios homens. Podemos, pois, dizer que a natureza humana nao é dada ao homem, mas épor re a base da natureza biofisica. Consequentemente, .duzir, direta e intencionalmente, iidade que é produzida historica ele produzida sob 0 trabalho educativo é 0 ato de pro em cada individuo singular, a human e coletivamente pelo conjunto dos homens. 201 Digitalizado com CamScanner EDUGAGAO PARA A CIENCIA | ecppeico-eritica, 0 trabalho educativo cumpre um Para a pedago Hingular a histéria humana, entre eee “entre a relagao objetivag4o-apropriacao que lagdo objetivagao-apropriagao nos campos ve ciéncia, da arte e da filosofia, ou seja, das objetivagdes genéricas para si? (DUARTE, 2013, p- 213). Entendemos que essa definicéo nao é uma op¢ao qualquer, dentre tantas possiveis, sobre a formacao dos individuos no Ambito da educacdo escolar, mas, sim, um posicionamento em relacéo As suas possibilidades mais humanizadoras. E claro, porém, que afirmar ° cardter humanizador do contato e da relacéo consciente do individuo com os contetidos das objetivacdes genéricas para si ndo implica em ignorar 0 carater potencialmente alienante desses contetidos no interior da sociabi- lidade capitalista. Esta escolha parte do entendimento, em primeiro lugar, de que a auséncia do para si na vida do individuo constitui um fendmeno de alie- nagao, daquele expressado pela distancia entre o individuo singular e 0 género humano (MARKUS, 2015). Para além disso, ha o fato de que a vida cotidiana, por conta de sua estrutura voltada para o sujeito e seus proble- mas praticos e imediatos, pode estar permeada por outras variadas formas de alienacao em uma sociedade estruturada pela divisao social do trabalho (HELLER, 1984). De qualquer forma, cabe a realizagao do trabalho educa- tivo a escolha de direcionar este proceso de acordo com as necessidades postas pelo ser social, captando as possibilidades e limites de sua efetivacao: pap’ a cotidiano e nao-cotidiano, se realiza no cotidiano € a re A educagao escolar na sociedade capitalista nao poder formar ple- namente wee esse ser humano rico, pois isso s6 poderd ser alcancado com ‘a superacao d ji ph " Peragao dessa sociedade. Mas jé ¢ possivel, nas condigdes atuais, fazer com ; ‘ ue os conhecimentos cientificos, artisticos ¢ filoséficos 5 7 yvimento ‘ se tornem necessérios para os indivi iduos, produzindo o mo de superacao dos limites da alho educativo escolar pr ades particulares. Para isso, porém, de vista da formacao dos ap cisa ter como referéncia, do ponto individualidade em si ‘mos, © movimento de superagao da sis e precisa ter como vpn OorPOrAGaO & individualidade par’ mo referéncia, Para a definicao dos contetidos € 202, Digitalizado com CamScanner ENSINO DE CIENCIAS & PEDAGOGIA HISTORICO-CRITICA: FORTALECENDO APROXIMAGOES, métodos de ensino, as objetivag a agdes mais desenvolvidas do géne humano (DUARTE, 2013, p. 215), aiaucaae Pelo discortido até agora, pode-se perceber como a concepgio his- igrico-critica de humanizagio dos individuos e da fungio especifica do trabalho educativo para tal processo, é também um posicionamento afir- mativo emi relagao a algumas de suas tendéncias e uma critica ou luta con- o, contra a alienagao intrinseca a sociedade capitalista. Por (o se associa necessariamente A dimensio politica da edu- tra outras, NO 0, tal concep’ 1o escolar, isto é, ao seu posicionamento na luta de classes. De acordo com a pedagogia histérico-critica, “a explicitagéo da dimensio politica da pritica educativa est condicionada & explicitagio da especificidade da pritica educativa” (SAVIANI, 2002, p. 89) ou, em outras palavras, o papel politico do trabalho educativo depende da efetivacio ou nao de seu papel ecifico na formagio dos individuos como seres humanos. De fato, desde a sua origem, varias contradicées se interpuseram nas relagdes entre a escola e a sociedade, as quais, com 0 desenvolver incon- trolével do capital, passaram a adquirir formas cada vez mais complexas ¢ implacaveis, subordinando a educacao aos conflitos politicos da luta de classes, Um fato fundamental talvez seja 0 de que como a consolidagao da democracia burguesa envolveu a mudanga de interesse de transformagao de sua manutengio, surgiu a tendéncia de secundarizagao e esvaziamento da fungao especffica da escola, 0 que om os interesses de sugere fortemente que esta fungao esta em conflito manutengio do préprio sistema capitalista que a engendrou (SAVIANI, 2002; 2011). Sendo assim, o trabalho educativo expres classe sobre as relagoes entre a func4o da escol resses da classe trabalhadora, a classe objetiva “nada tém a perder a nao ser os seus grilhdes” (MARX ENGELS, 1998). Mas como se dao essas relagbes? Segundo Saviani (1996, P- 3),a edueie deve ser encarada como um instrumento de luta das classes por heen’ hia, especificamente como parte da Juta ideoldgica que ee 4 acompanha. Este processo, por sua Ve illo As iia Cepcio dominante (a ideologia burgue esp das relagdes sociais para o sentido ssa também uma opgao de Ja e as necessidades e inte- mente revoluciondria, que 2, requer tanto sa)” quanto a “fo 203 Digitalizado com CamScanner EDUCAGAO PARA A CIENCIA resses populares’, ou seja, adequada ada aos inte ejay adequ Porém, continua Saviani (1996, p concepgao de mundo A aosi & sua atuagao politica revolucionaria. 3-4): [..] néo se elabora uma concepgio sem método [...]. Mais do que isso se se trata de elaborar uma concepsa0 que seja suscetivel dese tornar hegeménica, isto é que seja capaz. de superar a concepgig atualmente dominante, é necessario dispor de instrumentos légico. -metodoldgicos cuja forga seja superior aqueles que garantem a forca e coeréncia da concep¢ao dominante” A aquisicao de tais instrumentos intelectuais, que sirvam a inevitave] luta ideolégica a ser efetuada pela classe trabalhadora, se identifica com a apropriagio-objetivagao das formas mais desenvolvidas das objetivacées do género humano, por captarem os aspectos mais essenciais da realidade natural e social. Como demonstra Duarte (2013), por meio do contato com as objetivagées genéricas, a constituigao da individualidade culmina na formacao da concep¢ao de mundo, mas, ressalta-se, é apenas por meio da relagao consciente com os contetidos das objetivagées genéricas Para si que se constituem individuos para si, portadores de uma concepgao de mundo que lhes possibilita o dominio consciente da sua atuagao na vida cotidiana, bem como orientar as suas decisées e posicionamentos a respeito da rea- lidade concreta, Em se tratando da realidade da classe trabalhadora, esta concepgao de mundo deve possibilitar a compreensio de sua situagao de dominagio, a critica das manifestacdes ideoldgicas dessa situacao, a anilise das condicées e perspectivas da aco politica etc. Para que néo se caia em reducionismos, vale esclarecer duas questées. imeira € que a pedagogia histérico-critica entende a funcao especifi Apri a compreensa: a tiva [ rate <8 pritica social passa por uma alteragio qualita = Preciso, no entanto, Tessalvar que a alteragdo objetiva da 204 Digitalizado com CamScanner ENSINO DE CIENCIAS E PEDAGOGIA HISTORICO.cRitiCA: FORTALECENDO APROXIMAGG GOES pritica s6 pode dar-se a partir da nossa condigio de agent is ativos, reais. A educagao, portanto, néo transforma de m os Pie imediato e sim de modo indireto e mediato, isto é, a ind ; tno sujeitos da pritica (SAVIANI, 2002, p. 72-73, grifo an “ee ‘A segunda questao € entendermos que formacio de concepgao de mundo, mesmo que materialista, histérica etc., nao significa obrigatoria- mente formagao de consciéncia de classe. Nao obstante, como eviden- ciou Leontiev (2004), qualquer grau de consciéncia individual é legatario da consciéncia social estabelecida e 0 proprio desenvolvimento daquela depende do nivel e da consisténcia objetiva dos conceitos socialmente dis- ponibilizados aos individuos.? Portanto, a socializacéo do conhecimento elaborado a classe trabalhadora é parte basilar de um processo mais amplo de constituigdo e tomada de consciéncia de classe: “[...] 0 nivel de conscién- cia dos trabalhadores aproxima-se de uma forma elaborada 4 medida que eles dominam os instrumentos de elaboracao do saber. Nesse sentido é que a propria expressio elaborada da consciéncia de classe passa pela questéo do dominio do saber” (SAVIANI, 2011, p. 68). Isto posto, podemos concluir que, no interior da humanizacao dos individuos, a formacao de uma concepsao estruturada e sistematizada de mundo representa uma sintese maxima do reflexo subjetivo da realidade objetiva, natural e social, Nesse sentido, no que se refere 4 funcao social do trabalho educativo, a questio da concepgao de mundo adquire uma centralidade politica: é somente por mediagao de um reflexo adequado do teal, sustentado por instrumentos intelectuais objetivos e universais, que se pode ao menos cogitar a possibilidade de que um individuo compreenda também as contradigées colocadas em sua vida concreta e as perspectivas de transformacao das relagées sociais que as produzem. — i aqui o papel do 3 = ae ‘palho, no abordaremos aq Por ultrapassar sobremaneira os objetivos a que desenvolvam 0 pensamen'o trabalho educativo na apropriacao de sistema’ ledigno da realidade objetiva ‘assim, a consclénca eos eelne fem direcdo a um reflexo idedignt TT vidamente a : se an: (MARTINS, 2013), Contudo, este ¢ um t6pico Fe acto ide determinados con- lagio entre transformago da consciénci a, a part ‘eltos,e da concepcio de mundo dos individuos 205 Digitalizado com CamScanner EDUCAGAO PARA A CIENCIA 5 Ciéncias Naturais e as concep¢ées de mundo 009) assinala que existem apenas trés xm de fato este titulo: a concepcag Aesfera da: fildsofo marxista Lefebvre (2 3 do a merecerel randes concepgoes de munt n peste neepci jadaico-cristh (que corresponde a concepgao medieval); a concep¢io indi- ‘idualista (que corresponde & concepgao burguesa nadie) Secoeey cao marxista. Em que pese 0 fato de podermos jdentificar visdes : mundo cecundérias na superestrutura da sociedade, de que essas concep¢des prin- cipais passaram por mutagdes no decorrer da historia da luta de classes e de que as visGes de mundo dos individuos singulares reproduzem apenas muito mediatamente as relacées e conflitos ideolégicos, pode-se supor que elas ainda se constituam em grandes referéncias de pensamento sistemati- zado sobre o que é 0 mundo, a realidade natural e social. Mas de onde vém as concepgdes de mundo? Como estamos anali- sando isso a partir do materialismo hist6rico, é importante assinalar que, a despeito de sua expressao ideal, elas possuem uma origem material. Afinal de contas, tudo que constitui a realidade humana tem uma génese, uma existéncia e um desenvolvimento primordialmente materiais: “O modo de producao da vida material condiciona o processo de vida social, politica e intelectual. Nao é a consciéncia dos homens que determina o seu ser; ao contrario, é o seu ser social que determina sua consciéncia” (MARX, 2008, p. 47). Na teoria marxista, por sua vez, a produgao material é defi- nida como trabalho, isto é, a atividade consciente e mediada realizada pelo ser humano Para transformar a natureza e satisfazer as suas necessidades basicas e sociais, © que conecta o trabalho as esferas mais elaboradas da vida social, como a ciéncia, a filosofia e as concepcées de mundo, é o fato de que, jus- nea aoe atividade consciente e mediada, o trabalho instaurou means icalmente a forma de satisfago de suas neces~ scone necessidades advindas deste préprio proceso Ente novas possibilidades para a transformacéo da Digitalizado com CamScanner eautonomia relativa. Vejamos © proprio caso das Ciéncias Naturais, Pela necessidade de apropriar da natureza, transformando-a de acordo com finali sidade ese mente idealizadas', o ser humano passou a observat Meee cer generalizagdes sobre os objetos e fendmenos anes ' aoe formas de conhecimento, ainda enquanto costumes rumidticies abies rudimentares, ainda que impregnada: a pan ticiosas, foram se fixando e te aman . rie Lukacs (1966) acerca da génese e diferenciacao da arte e eee — - eas E la ciéncia a partir da satisfagio das necessidades sociais pelo trabalho mostra que houve e hé uma tendéncia histérica de autonomizagao destas esferas de objetiva- ao em relacao aos problemas praticos e imediatos enfrentados pelos seres humanos no cotidiano.5 O que realmente importa para nés aqui é que, em seu desenvolvi- mento histérico-ontoldgico de distanciamento da vida cotidiana, a ciéncia intensificou 0 choque entre seus conhecimentos objetivos ¢ as represen- tacdes idealistas, subjetivistas e antropomérficas, das quais a religido ¢ 0 exemplo mais significativo, e alcangou 0 potencial de fundar uma concep- materialista de mundo. Porém, 0 caminho que leva da ¢do objetiva, isto é de mundo nela assente é perpassado por varias ciéncia a uma concepga0 contradi¢ées. £ preciso pontuar que, em um estagi 0 ainda uma intima articulag4o entre a necessidade de resoluc4o dos pro- blemas praticos da vida cotidiana € 0 desenvolvimento do conhecimento sobre a realidade objetiva. Isso significa dizer que 0 reflexo subjetivo na aa sete: atividade de trabalho era essencialmente limitado aos elementos mee ime: serem transformados. Trata-se, portanto, de um ‘0 inicial da histéria humana, havia diatamente necessarios de F tividade especifica- 1 Beempre vido contextualizar a definigdo marcisa treo da melhor Sbedha 60 [ato ment renames 9 que desde oni dist e r qma cer No final do em sua me te na representaGao do tra de que o primeiro tem a colmeia rocesso de trabalho, chega-se a balhador no inicio do processo, por! ja estava presen ¢ nes tad rs é existia idealmente: (MARX, esta andlise para carac 2013, p. 327). ‘ . ydei-me ne a 5 Em trabalho anterior (PEREIRA; CAMPOS 202), aprofundégico da esera de objetivasto terizar a especificidade e 0 desenvolviment© ist6rico-0 das Ciéncias Naturais. 207 Digitalizado com CamScanner EDUCAGAO PARA A GIENCIA conhecimento que ~ ainda que obrigatriamente abetva, pois cn fosse, se faria absolutamente impo sivel tran a or al cacti fortemente pelo pragmatismo, ou seja, pe la “vinculaga fata da teorig e da pritica” (LUKACS, 1966, p. 44). hah / De fato, mesmo com todas as mudangas que o tral i 10 € a vida coti- diana sofreram historicamente, esta caracteristica geral nao se alterou Ctais esferas da vida social se marcam ainda hoje por um Pragmatismo intrin- seco. Gragas a isso, nés atuamos colidianamente segundo um “materiq- lismo espontaneo” (LUKACS, 1966, p. 46) com o qual, apesar de captarmos corretamente alguns elementos do mundo material, néo questionamos esses elementos em si, nem como os captamos, nem as conclusées tomadas a partir deles. Por conta disso, esse materialismo nao pode se constituir diretamente em uma concepgao de mundo, Em um momento origindrio do ser social, é compreensivel que representacGes idealistas, derivadas do plano ideal do sujeito do trabalho, tenham se generalizado muito antes dos conhecimentos objetivos, podendo se constituir assim em uma concepgio de mundo: Os motivos séo muitos. Em primeiro lugar, a ignorancia da natu- reza e da sociedade, Por esta ignorncia, o homem primitivo apenas tenta ir para além das relagées imediatas do mundo objetivo que lhe toca diretamente, se vé obrigado a apelar a analogias nao fundadas, ou insuficientemente fundadas, nas coisas, e isso partindo por regra geral de sua prépria subjetividade, Em segundo lugar, a incipiente divisdo social do trabalho cria a camada social que vai dispor do écio necessirio para refletir “profissionalmente” [...]. Com isto, com a liberacio da necessidade de reagir sempre imediatamente ao mundo oxterno, se cria para essa camada social a distancia necesséria com 8 qual pode comesar a superar a imediaticidade esponténea da coti- dianidade, sua deficiente generalizacio: 0, esta dvisio do trabatho vai distanciandle ced pn aan mesmo essa camada privilegi eth ee Biada [..]. Agora bem: o trabalho 6. base ae wie lard ° materialismo espontaneo da vida cotidiana, ainda ‘™ das tendéncias idealistas na c a ‘oncepgdo de mun (LUKACs, 1966, p. 51, Srifo nosso), . 208 Digitalizado com CamScanner ENSINO DE CIENCIAS E PEDAGOGIA HISTORICO-cRiTICA: FORTALECENDO APROXIMAGOT “ IACOES Como se vé, 0 momento histérico de ori ivisd Gandanienteli cal fe origem da divisio social do tra- palho foi fun Para o desenvolvimento das esfe jetivaca ; . " sferas de objetivacao enérica e, por isso, teve também um forte i gener A do, coy fe impacto na evolugao das con- cepgdes de mundo, comecando-se pelas concepedes idealistas, tal como a ‘0. Ora, esta esfera pode ser assim definida por err n definida porque separa em abso- Tuto o mundo ‘as representa¢oes ideais, sendo que sua inconsis- téncia reside na ruptura do cardter unitario da realidade objetiva. Como assevera Lukacs (1966, p. 57), “o pensamento cotidiano, a cién- cia ea arte refletem a mesma realidade objetiva’, ainda que “o contetdo a forma de figuracdo possam e tenham que ser distintos” para cada caso. O mesmo deve valer para a religido, quer dizer, também a religido é uma forma de reflexo da realidade e também ela se originou, em tltima instan- cia, a partir do trabalho. No caso, a religido é uma esfera de objetivacao que surgiu da superagéo do pensamento mégico, antropomorfizando e perso- nificando as “forgas naturais” que comandariam a realidade e subordina- riam a vida humana, elevando-as a transcendéncia material e convertendo aquilo que ainda nao se conhece em incognoscivel por principio. Dai a cen- tralidade da fé, a exigéncia de se acreditar sem conhecer, no pensamento religioso. Conjuntamente, a religido surgiu j4 em um contexto estavel de divisdo social do trabalho, buscando intervir nos problemas éticos e sociais jes imediatas para a vida cotidiana dos decorrentes e nas suas implica¢ individuos. Apenas em uma formagao social, particularmente consolidada, como a sua estrutura permitiu a separagao entre ciéncia € filosofia (originalmente unidas) e cotidiano ¢ religido. Em vista disso, em ntifico-filosofico da Grécia sua particularidade histérica, o pensamento cie1 Antiga pode elaborar os alicerces de uma concepgao objetiva de reflexo cientifico, “fandada em uma objetividade real do conhecimento, [ena] sua separacdo do subjetivismo que resulta insuperdvel no marco da vida coti- diana’, postulando que “uma captagao verdadeiramente cientfica da rea- ‘ante uma ruptura radical a Antiguidade grega, lidade objetiva nao é {vel mais do que medi ijetiva nao é possivel mais P com 0 modo de concep¢ao personificador, antropomorfizador” (LUKACS, 1966, p. 153). 209 Digitalizado com CamScanner EDUCAGAO PARA A CIENCIA | concep¢ao propiciou para 0 desenvolvimento dg al nv 10 carater objetivista® (logo, materialista) e desan. o conhecimento cientifico passou a adquirir frente io do pensamento cotidiano e a inversao ontoldgica da pelo pensamento jdealista. Esta concepgao € uma base tedrica para caer te e ualquer avango cientifico tem de se reportar, sendo Vilida, al todo ico te ‘ ‘ a medida, até hoje para as Ciéncias Naturais modernas: emalgi 7 © avango que & jal tem a ver com ser SO ‘ tropomorfizador que ao subjetivismo propn ‘As ciéncias da natureza compreendem os conhecimentos da huma. nidade sobre o mundo ndo-humano, incluida ai a propria fisiolo. gia humana. Desde sua origem, as ciéncias naturais estdo apontadas para a desantropomorfizagao, ainda que este objetivo nao tenha sido ainda totalmente realizado. A causa essencial das ciéncias naturais & desantropomorfizar, e onde esta tendéncia esta deficiente o que encontramos € a visio filoséfico-ideolégica de natureza. Quanto mais a ciéncia desantropomorfiza, mais ela se move além das pos- sibilidades abertas 4 percep¢ao sensorial humana do mundo. O que tudo isso leva é & inferéncia de que as ciéncias naturais vdo contra nossa consciéncia cotidiana (HELLER, 1984, p. 100, grifos nossos). Jé a concep¢ao do materialismo filoséfico nasceu em um momento Posterior da hist6ria social, em luta contra as concepgoes idealistas. Acerca disso, vale “observar que no curso da histéria 0 materialismo desantro- pomorfizador tem conquistado terrenos cada vez mais extensos do saber humano que o idealismo se vé obrigado a abandonar” (LUKACS, 1966, p- 155). No contexto dos embates ideolégicos da Grécia Antiga, o auge do Pensamento materialista e desantropomorfizador se expressou na teoria atomista de Demécrito e Epicuro. pelas demandas coletivas e campos gg a 6 Nosentido d A despeito da necereany ayolt#¢8Primordialmente para arealidade objetiva material em si totalmente o pope do sujet, €imperione eke Xe Feflexo da objtividade, que apatavs histérica no terreno epistemoldgico °° CORECET que ela se tratou de uma conquist® O fato & que, ainda que enquadrado de respostas possiveis colocadas pela é ‘ ' 2 gue posit forma humana. Isso quer dizer que uma represe~ nio da objetividade. Do mann oetinido a partir de fatores proprios da subjetividade € Drocesso de andlise e critica dos dee om Teflexo desantropomorfizador se trata de Um celina cP t2dos de um fendmeno real, que visa identificat © nar aqueles projetados pela subjetividade. Digitalizado com CamScanner ENSINO DE CIENCIAS E PEDAGOGIA HISTORICO-cRiTICA: FORTALECENDO APROXIMAGUES totalidade social oes contexto) historico particular, 0 pensamento cien- tifico-filosdfico tende a refletir e sistematizar os fendmenos a ‘ cada vez mais objetividade e universalidade e menos subjetvaeiale 4 a pomorfismo. Os casos do desenvolvimento da teoria heliocéntrica emi tard, da teoria darwinista de evolugao das especies sio sulicientemente representativos desta tendéncia de conflito entre ciéncia, de um lado, ¢ cotidiano e religiéo, do outro. De qualquer forma, os limites do modo de produgio escravista da Grécia Antiga nao permitiram que as descobertas e resultados cientificos pudessem ser generalizados e aplicados as técnicas e instrumentos de tra- balho, ou seja, obstruiram o enriquecedor retorno da ciéncia ao trabalho ea vida cotidiana. Com a continuidade das limitacdes materiais no modo de produgao feudal da Idade Média, também nao houve, neste perfodo, alteragdes essenciais na concep¢ao de reflexo cientifico nem, portanto, na concep¢ao de mundo predominante, para além do aprofundamento idea- lista dado pela hegemonia ideolégica do cristianismo. ‘Além disso, Lukacs (1966) mostra como, a partir do declinio das bases materiais da formagao social antiga, 0 pensamento filos6fico recuou no tocante a uma concepgao materialista desantropomorfizadora de mundo a concep¢ao idealista de reflexo cientifico. Isso em Plotino. Mas é claro que essa invo- rialismo e idealismo; dai as e acabou por elaborar um éexplicito em Platao e, ainda mais, lucéo se situa no interior da luta entre mate ctiticas materialistas de Aristdteles e, depois, de Epicuro. Em outra obra, Lukacs (2012, p. 25) argumenta que esse momento é a génese do chamado dualismo ontolégico, um trago marcante de quase todo o pensamento ae alista e religioso posterior: “de um lado, 0 mundo dos seres humanos te qual provém as necessidades religiosas ¢ 4 Ansia por sua realizabilida le; de outro, um mundo transcendente, cuja constituicao ontolégica é invocada para fornecer perspectivas ¢ garantias de tal realizabilidade” Coerentemente, uma segunda etapa na evolucao das cane tes mundo se daria com outro momento histérico de: mudanga las eo entre conhecimento e transformagao da nature7a, isto é = gas es lidacdo do modo de produgao capitalista. O ponte essen agus lar uma das distingdes do capitalismo em relaydo = 2 nto das prévios: a sua tendéncia teoricamente iimitada de °° ant Digitalizado com CamScanner = = S = = Ss sae cht em uma “constante interagao com um desen. Ie rmitado, do método cientifico, em intercimbig g menos ili nURACS, 1966p 174) ‘talismo, a desantropomorfizag o do processo de trabalho ome Le |, porque a produgio de um conhecimento amente, pode converter conceilos cientificos em ea ipios de orga. 0 e aperfeigoamento da produgio material, A partir disso, 0 reflexo lades reais de se universalizar na vida social: volvimento, nao n im reciprocidade de influéncie se torna umi ca mpi nizi cientifico adquiriu possibilid: ‘Ao desaparecer a limitagio da produgdo que é caracteristica das anteriores formagées, desaparecem também todas as barreiras opos- las a difusio e ao aprofundamento do método cientifico. Agora o desenvolvimento da ciéncia assume, tedrica ¢ praticamente, o caré- ter de um progresso indefinido, Muito relacionado com isso estd 0 fato de que os resultados da ciéncia, sobretudo através da modela- io do proceso de trabalho, penetram cada vez mais intensamente na vida cotidiana e, ainda que sem poder transformar sua estrutura bisica, modificam essencialmente seus modos de aparigao e expres- sio (LUKACS, 1966, p. 174), Embora, como citado, a vida cotidiana nao se altere essencialmente a partir do advento das transformagées técnico-cientificas do sistema capi- talista, é evidente que surge ai um novo Cotidiano, o que cria a possibilidade d com a realidade em si, | exemplo, que os instrum: grau de interagao entre ciéncia e le um salto na relaco do ser humano tukies (1966, p. 192, grifo nosso) argumenta, pot entos cientificos, sejam eles materiais ou intelectu- nee ‘oncluir que a forma¢a0 cep¢do materiali: 5 mundo se torna, entao, uma a ista ¢ desantropomorfizadora d F ternati : a tiva e quantitativamente, ativa concreta para o ser social, qualita ‘a que a avango, se constitua em ‘Ue © conhecimento cientifico, em constante uma concepcaig materialista de mundo se 4 22 Digitalizado com CamScanner ENSINO DE CIENCIAS E PEDAGOGIA HISTORICO-CRITICA: FORTALECENDO APROXIMAGOES desenvolvi aan porque tall esenvolvimento ilimitado encontra um entrave nos inte: da propria manutengio do modo de producio capitalisa: “[, } 4 céncie, . . . sta: a ciénci: nascida gragas as forcas produtivas que desencadeara: a dncod dointasate se 1m essa sociedade, essa » Se encontra, se se levam até o fim, metodologi e do ponto de vista da concepei Sewanee re cep¢ao de mundo, seus resultados gerais, em contradi¢ao com os pressupostos ideolégicos daquele dominio de classe” (LUKACS, 1966, p. 175). Dito de outro modo: quanto mais a ciéncia avanga em geral, muito para sustentar e desenvolver a producao material e intelec- tual, mais se desvelam também as bases do poder politico e econémico da burguesia e, assim, mais ameacada ela se torna. Nessa etapa histérica, as reacdes da classe dominante, em suas ten- tativas de preservar o terreno do idealismo, tém de ser diferentes, tém de aceitar minimamente as descobertas cientificas ao passo em que buscam reduzir o seu impacto para a elaboracao de uma concep¢ao de mundo. A luta desta classe: contra essas tendéncias [desantropomorfizadoras] é cada vez mais violenta, mas [ela] se vé constantemente obrigada a se servir de novos meios. A natureza destes tem que ser tal que nao perturbem a marcha normal, praticamente eficaz, da ciéncia (inclufda, natu- ralmente, a desantropomorfizagio), mas removam todas as arestas das generalizagoes de resultados que tenham releviincia para a con- deles consequéncias titeis as tendéncias cepgao de mundo, inferindo conservadoras da situagao social de cada caso. {..|. © sentido dessa retirada consiste em rechagar a pretensdo do conhecimento humano ao conhecimento objetivo da verdade [...], uma ver, visto que ja € impossivel opor 4 viséo desantropomorfizadora de mundo que a oferece uma imagem concreta antropomorfizadora, sob @ 0 0 ulterior desenvolvimento da ciéncia. Esta lar e dominar com prazer o mundo dos feno- desse mundo ndo se podem obter infe- da realidade objetiva. O idealismo ciéncia pena de pér em perig é autorizada a manipul menos, uma vez decretado que réncias a respeito do mundo em si, ko filosdfico, agora somente subjetivo, se retira a uma posicao que con- siste na mera proibicio epistemologica de uma imagem objetiva de mundo (LUKACS, 1966, P- 176, grifos nossos). 213 Digitalizado com CamScanner fundamento do citado dualismo ontolégico, que um aproful idade da transformagao da natureza pelo de outro, a tradicional ruptura da realidade objetiva trabalho explorado és tase, em verdade, de um antagonismo entre a exercida pela religiao. ‘Trat _ 7 pritica da realidade e uma antropomor. necesséria desantropomorhent a pelo pensamento dominante, que busca fizagaa ideoligica emprib™ «uma ver descobertos, a uma concepsig icular os principios cient ‘ ae de Pando A partir deste momento, se agu¢am os conflitos entre ss - 5 : ‘ iéncia, cotidiano e religiao, ainda que mais no campo ideolégico do que no a material. Nao 4 toa, temos 0 exemplo emblemitico do cardeal Bellarmino, que recomendou a Galileu que tratasse a descoberta do heliocentrismo como uma mera hipotese subjetiva para que ele escapasse da condenacio da Igreja, haja visto as implicacoes desta teoria para a concepgao de mundo Temos aqui i assegura, de um Jado, a continu! hegeménica na época. Neste balanco da evolugao hist6rica das concep¢es de mundo, é obri- gat6rio reconhecer as mutacées ocorridas no pensamento cientifico-filos6- fico durante a vigéncia da sociedade capitalista. Um primeiro periodo, que pode ser considerado como ascendente e progressivo, vai do século XVI ao século XVIII, ou seja, se refere as fases iniciais da economia capitalista, em que a busca pelo conhecimento da natureza, a fim de se transforma-la ¢ produzir mercadorias, era o principal motor do desenvolvimento intelec- tual em geral.* Esse papel positivo se da porque, conforme Tonet (2013, p. 49): nesse primeiro periodo a burguesia é uma classe revolucionaria, pois estd em luta contra o sistema feudal e abrindo caminho para a cons- {uso de uma forma de sociabilidade que, segundo seus ide6logos, seria cada vez melhor. Considerando, pois, u que a luta de classes se ravava entre a burguesia e a nobreza feudal, |, 4 primeira interessava eS 8 Como também analisa Tonet (201 : 3), i fi : aa ciéncia politica tenham dodo fi cer tegen me cifco da realidade social, eles ainda eaten com a maturagao politica e eco” as ditas ciéncias sociais adquirem™ Digitalizado com CamScanner ENSINO DE CIENCIAS E PEDAGOGIA HISTORICO-CRITICA: FORTALEGENDO APROXIMAGOES de modo especial a bu: = 0 isca da verdade - que i : caracteriza 0 verdadei conhecimento. “ns Por suposto, um segundo periodo pode ser considerado, consoante Lukacs (2015, p. 98), como o da decadéncia ideolégica, inaugurado em meados do século XIX com a eclosao das revolugées de 1848, ponto em que “a burguesia ja domina o poder politico e a luta de classes entre ela e ptoletariado se coloca no centro do cenario histérico’. A partir deste peri- odo, o capitalismo jé esgotara suas possibilidades de humanizacao para 0 ser social e o pensamento dominante passa a justificar ideologicamente as necessidades econémicas e politicas da burguesia. Ainda segundo Lukcs (2015, p. 100): Essa liquidago de todas as tentativas anteriormente realizadas pelos mais notaveis idedlogos burgueses no sentido de compreender as verdadeiras forcas motrizes da sociedade, sem temor das contradi- Ges que pudessem ser esclarecidas; essa fuga numa pseudo-historia construfda a bel-prazer, interpretada superficialmente, deformada em sentido subjetivista e mistico, é a tendéncia geral da decadéncia ideoldgica mente neste contexto politico-social - que se arrasta, de fato, 4 ideoldgica, acima aludi- presses se dé na exigéncia E precisai até hoje - que os meios reacionarios de dominag dos, se desenvolvem. Uma das suas principais ex] de que os cientistas sejam neutros € desinteressados e de que seus métodos sejam os mais rigorosos possiveis, a0 passo ¢m que eles devem pressupor os dados empiricos como 4 tinica realidade possivel de ser apreendida, reduzindo o conhecimento cientifico a um cardter pragmético-utilitario. Este postulado viria a ser 0 fundamento central da filosofia positivista, a Jo XVIII-principio do século XIX, qual, justamente, “surge, em fins do sécul fnelpi F como uma utopia critico-revoluciondria da burguesia antiabsolutista, para tornar-se, no decorrer do século XX, até os nossos dias, uma ideologia con- servadora identificada com a ordem estabelecida” (LOWY, 2000, p. 18). A questao que se explicita a partir de entao é justamente a relagao a i ectiva entre ciéncia e ideologia ou entre producéo do conhecimento e perspecti 215 Digitalizado com CamScanner EDUCAGAO PARA A CIENCIA resolucdo apenas na concep¢ao marxista, asua " de classe, 0 que enconitl a co-dialética de mundo, Como atesta Tonet quer dizer, materialista histéric (2013, p. 66): ] a sociedade burguesa, pela sua natureza permite e, a0 mesmo tempo, interdita a compreenséo cientifica da realidade social, Abrem-se, assim, dois caminhos para a compreensao dessa reali dade, De um lado, a elaboragao de um conhecimento que contribua para a reproducao desta forma de sociabilidade. De Sut lado, uma teoria que possibilite uma compreensao que articule a critica radical com a transformagao também radical da sociedade. Como caminho trilhado por Marx e Engels se instaura uma nova con- cepcao e método de conhecimento da realidade social, na perspectiva da classe trabalhadora. Deve-se esclarecer que no se trata de identificar uma opsao de classe com a correspondéncia objetiva ou nao do conhecimento, mas, sim, com as possibilidades de repercusso epistemoldgica, politica € social de seus resultados e conclusées. Do ponto de vista das Ciéncias Naturais, uma perspectiva ideolégica pouco diz acerca da objetividade das suas descobertas, dado que esto voltadas para um setor da realidade que nao deixou nunca de precisar ser conhecido e transformado para a repro- ducao do sistema capitalista? Porém, ao mesmo tempo, o que se demanda da ciéncia e 0 que se faz.com suas descobertas diz muito sobre o direciona- mento dado pela classe dominante as Possibilidades de se entender 0 que €0 mundo. No decorrer do século XX e na entrad, se amento entre desantropomorfizacéo pritica, realizada por revolu- sci piven pl morfizacao ideolégica, em es nee = Havilhe Saino): Sane: chizagdo da realidade soc Pi iodo de cada vez mais falseamento e feti- 3 Bracas 4 hegemonia do pensamento neoliberal la do século XXI, é patente o Se 9 Hino campo das ciéncias sociais, como aborda Lowy (2000), © ideologia sio b objeto de estdo das Cnc a Je ta via, € bastante plausivel também que certs assem ets Sestuem mais prose aye oe interdigdes de ordem politico idec6- Envolvendo side e corpo humang), "> “*® 4*terminacées do ser social (como as questoes as relagdes entre objetividade 216 Digitalizado com CamScanner ENSINO DE CIENCIAS E PEDAGOGIA HISTORICO-CRITICA: FORTALECENDO APROXIMAGG IAGOES « pos-modem®, O ponto conclusivo é que as concepgdes elab pensamento cientifico-filos6fico precisam ser compeenatd ras pelo mente e que “a historia da ciéncia nao pode ser separada dak ; ope geral, da historia da luta de classes em particular” (LOWY, 2000, ‘istéria em caminhos colocados pela luta de classes ao desenvolvimento ae Ba Os coes de mundo dependem, por fim, das perspectivas de sua caren ampla maioria dos seres humanos. ido a A apropria¢ao/objetivacao do conhecimento cientifico e a formagao da concep¢ao de mundo Podemos comegar este tépico, justamente para concluir quanto ao nosso objetivo inicial, procurando esclarecer a seguinte questéo: como é possivel relacionar os conceitos e teorias das Ciéncias Naturais com a concepcao de mundo necesséria a atuagao revolucionéria da classe traba- Ihadora? A primeira vista, pareceria um exagero estabelecer uma relagao dessas entre o conhecimento elaborado e abstrato sobre a natureza ea vida social concreta dos sujeitos ou, pelo menos, com as suas demandas para uma aco politica. Ora, independentemente das consequéncias politicas da educacao escolar, é importante responder as criticas to comuns acerca da relacio entre conhecimento abstrato e vida concreta, que nao raro contra- poe ensinar contetidos a educar um ser humano e adjetivam certas propos- cas como “conteudistas” Em relagao a este questionamento, tas pedagogi rico ao dizer que: Duarte (2016, p. 95-96, grifo nosso) é catego acao com o ensino dos de que esses contetidos rativa [...] trata-se da acusagao de que a preocupé contetidos escolares descuidaria do sentido m teriam ou nao para a vida real dos alunos. A adjetivagao pejo! resumida na palavra “conteudista” assume 0 pressuposto oe os conhecimentos podem ser acumulados na mente de ores nee sem que isso gere impactos significativos sobre ap ae ea Ocorre que esse pressuposto nao resiste una a aad de pautar-se no estabelecimento de relagoes imediat se ragmais entre pensamento ¢ agao, compreenda as relagoes, cons Sando e torica e dialeticamente, entre conhecimentos, concep so pratica social. 217 Digitalizado com CamScanner EDUCAGAO PARA A GIENCIA jentifico-natural na formagao Exami o papel do conhecimento cientifico natur: cdo da xaminar 0 pa ‘i i le mundo pressupée, por Obvios do. Considerando- o seu papel na humanizacio concepgio d indivic to oe v dos individuos como um ca a votidiane a faneze efetiva enquanto mediagao entre 0 cotidiano eo ndo aoe aee in : se 0 ° ° i ino de Ciéncias Naturais deve ser produzir e ssoneenteoal tos mais desenvolvidos desta esfera de se que 0 trabalho educativo ciente entre o aluno e os conheciment i jetivaga éri belecendo-se, entao, objetivagao genérica, estal It singular e género humano. Podemos rastrear ¢m Duarte (2001, p. 64, grifo nosso) uma anélise exemplar acerca do objetivo do ensino € aprendizagem da ciéncia: um vinculo entre individuo Por que as pessoas precisam aprender ciéncia? Por duas raz6es: por- quea ciéncia se incorpora cada vez mais a vida cotidiana e porque a ciéncia é cada vez mais necessaria A reproducao da sociedade como um todo. Nem todos os individuos sero cientistas, isto é, somente alguns se dedicaréo diretamente 4 producao e reproducao da cién- cia, mas 0 trabalho nos mais variados campos da vida social exige cada vez mais, para sua realizacao, 0 dominio de conhecimentos Cientificos. Nao se trata apenas de incorporar a atividade os produ- tos finais da ciéncia, pois isso a vida cotidiana também o faz, (...], de forma inteiramente pragmitica [...]. A escola nao visa apenas a essa utilizacao pragmatica de produtos da ciéncia. Ela visa a que o indi- viduo possa fundamentar na ciéncia 0 /Pensamento e a acao em varios momentos da vida social. Sao momentos nos quais 0 individuo supera (ainda que parcialmente) a heterogeneidade e 0 Pragmatismo da vida Cotidiana e se dirige por uma relacao homogénea com a ciéncia. Produzir uma rela ';40 consciente entre o aluno i ete € os conhecimentos das Ciéncias Naturais, : ae u corresponde, €m Nossa perspectiva tedrica, a0 pro- cee mogeneizacao (HELLER, 1984) do aluno com esta esfera de Jetivagao genérica, quer dizer, colocé-lo direta e intencionalmente em contato com os seus contetid los, buscando su i one : 'Perar 0 seu ponto de vista par- ‘cular quanto aos conceitos em estudo e, Por fim, desenvolver a s x cia enquanto ser genérico,10 : eer q Benérico."" Neste processo, a apropriacio-objetivacao do See een 10 Ver Pereira e Campos (2020) Para uj

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