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0 onstituicgado de 1988: catalisadora da evolucao do Direito Administrativo? ‘dete Medause | sumino | sts | 2 Oran cols 3.0 pretmbulo or rinse fndaetas 4. Kgun pees J ol os cos fondementl 5, Nats sbreo cept eodo 3 Nminitngto Piblin pee rece ee 7. Tepe dens 4. Ua pret ric: prcarce #2 Concto | BED bovosugo (0 fanets Prosper Weil” afrmava oseguinte: “Desde a época clissica, esbose-se o problema central do Direito Adminietrativo: de um lado, @ suspeigho quanto ao governo, do qual ze teme a Testo aos dietos do cidadao; de outro, a neces- sidade de dsporo governo des meics necessrioe a0 atendinento do interes pibico. A primeira cxigtncia requr limitagdo, potanto, controle da ‘Adiinistag0; a segunda suscite a outorga & Adinistasdo de privlégiose prerogatives {LD Ade PUL, 19 Por seu tumo, o cléssico Droit Administratif? continha o trecho a seguir: "S6 se pode coneiliar 60s diteitos do Estado isto €, as prerrogativas que a predominancia do interesse piiblico implica, e os direitos dos particulares, pela elaboragéo de um Direito distinto, consagrando, mas limitando, as prerrogativas administrativas”. A despeito da mengao a limitagao ou controle do poder, a balanga do Direito Administrative pendia para as prerrogativas. Os trechos dos autores da Franca, pais conside- rado 0 berco do Direito Admi strativo, mestram-se significativos por expressarem un momento da elaboragio deste ramo juridico, ao invocarem, de tm lado, as prerrogativas privilégios da Adminis- tragto ¢, de outro, as limitagdes & Administragio sob o prisma do controle. ‘Também da Franga, Marcel Waline? notava ‘que: “Ter imposto normas & atuagdo da Adminis- tragdo € uma viléria sobre a tendéncia, natural de quem governa, a recusat qualquer limitago a0 seu poder” Ponto comum aos trés autores situa-se na in- vocacao as limitagdes ao poder, como uma das “misses” do Direito Administrativo, formado a partir de meados do século XIX. Na verdade, no somente o Direito Administrative, mas também outros ramos lo Direito Pablico visam, em sinte- se, fixar nornas ao exerefcio do poder estatal (e, por Sbvio, ao poder dos governantes e autorida- des administrativas), em contraposigéo ao modo de atuar existente no chamado Estado absolutista, 2 Jean Rivero, 10" ed, Paris, Dallor 1983. 3. In Pec Droit Administra Paris, Montelrestien, 1969. caracterizado, em geral, pela au icin deessas normas. Observe-se, nda, que Prosper Weil cito hum pequeno trecho, as palavras privilégios © prerrogativas (da Adi texto de poucas linhas, utilizou duas vezes o tere prerrogativas Ousode da mengiio & limitagdo ou controle do poder, a balanga do Diteito Administrative pendia prerrogativas. If isto ocorria talvez em virlucle da vocdbulos revela que, a despeito rt as proximidade (temporal) com as priticas do l'sta- do absolutista, cuja aboligdo nao se daria de ime- stragio), ¢ Rivero, no | diato, Ou talvez porque até poucas décadas atris | as declaragbes de direitos das Coustituigoes dos Estados ou existentes fora destas eram vistas como recomendlagées ou indicagdes ao legislador, do- tadas da chamada natureza programtica, desti- tufdas de aplicagio direta e imediata. Ou, quem sabe, ante um contexto de reduzida consciéncia de dieitos por parte dos cidadacs. Alguns exemplos do foco sobre as prerrogati vas ou sobre os poderes no eixo das construgies do Dircito Administrativo até fins da década de 1970 podem ser apontados. Assim, a maioria dos rincipios dizia respeito a prerrogativas: suprent- cia do interesse piiblico sobre o particular; pre: sungio de legalidade ¢ veracidade; autotutela; auto-exceutoriedade, Na Doutrina, a atengdo se voltava, sobretudo, para o alo administrativo como decisio unilateral; os podleres da Adminis- tragiio; 0 poder discriciondrio como poder quase livre, com pouces direcionamentos. Além do mais, algumas locugdes vagas, reveladoras da. énfase em prerrogativas ¢ privilégios aleatérios, apare- ciam em obras doutrindrias, mesmo de autores que contrapunham um Estado absolutista, sem Direito Administrativo, a um Estado de Direito, com Direito Administrativo, dentre as quais 0 po- der de supremacia especial; dominio eminente do Estado; relages de sujeigio especial, interesse do servigo; sem explicagées calcadas em fatos ¢ em 3 Constituigo de 1988: catalisadora da evolusde do Direite Administrative? Revista do Advogade | Constituigso de 1988: catalisadora da evolugio do Direito Administrative? 8 Revista do Advogade fundamentos legais, encargos, dmus ¢ restric s a direitos recebiam justificativas nestas palavras, levando, em geral, ao impedimento de controle jurisdicional. A palavra catalisadora, associada 4 Constituigao de 1988, ressalta seu potencial no incentivo e realizaciio de mudangas em concepgédes tradicionais do Direito Administrativo. Em 2008, pode-se indagar: nos 20 anos de vi- gencia, a Constituigdo de 1988 provocou, incen- tivou, acarretou mudangas no Direito Administra- tivo? Permitin destocar 0 foco dle suas construgbes para os direitos das pessoas fisicas ¢ jurtdicas? Os vocdbulos catalisadora € evolugao Mostra-se relevante, no tratamento das perguntas anteriores, tecer consideragdes prévias sobre 0s termos catalisadora ¢ evolugao, usados no § Utulo deste artigo. A consulta ao Novo Diciondrio Aurélio, edigdo de 1999, permite verificar o seu significado habitual. ‘As palavras catalisago, catalisador ou cata- lisadora h4 muito sto empregadas na Quiinica. Como substantive, denomina certas reagdes pio- vocadas por determinadas substincias; como adje- tivo, essas substincias seriam entao catalisadoras isto ou daquilo, por provocarem ou estimularem dleterminados efeitos. Nesta sede, ao usar a palavra catalisadora, asso- ciada a Constituigdo de 1988, busca-se visualizar, estes 20 anos de vig@ncia, seu potencial no in- contivo e realizagio de mudangas em concepgies tradicionais do Diteito Administrative © em priticas, também tradicionais, da Administragio Pablica brasileira Quanto ao termo evolugio, 0 referido dicio- nario menciona, dentre varios significados, 0s se- guintes: “passagem sucessiva de acontecimentos, de coisas, dle pessoas; movimento ou deslocamen- to gradual e progressivo em determinada diregio; conjunto de modificagdes sucessivas que de infcio era apenas potencial; proceso lento ¢ continuo | de transformagées”. Aplicada ao Direito Adminis- trativo, denota as mudangas,alteragdes ¢ transfor- mages af incidentes No estudo centrado na indagagao supra, dada a amplitude da Constituigdo de 1988, serio sa- lientados alguns elementos do seu contetido, no se exaurindo todos os dispositives inovadores. Observes, alémn do mais, nao se tratar este artigo | de comentirios com discussdes a respeito de con- ceitos, interpretagées ou jurisprudéncia. Ell 0 preambuto ¢ os principios fundamentais A Constituigio de 1988 € dotada de um pref. bulo ¢, no sen Titulo I, arrola os chamados prin- cfpios fundamentais. Formam, entio, os ciados primeiros € prévios do seu texto, caracte- rizando a feigao bisica do Estado brasileiro, com seus desdobramentos, sobretudo no respeito aos direitos das pessoas fisicas e juridicas. Por isso, no Preimbulo, menciona o Estado Democritico ¢ indica, em primeiro lugar, na lista dos fins do Estado, 0 de assegurar 0 exereicio dos direitos enum sociais e individuais. No Titulol, oartigo 1° caracteriza a Reptiblica Federativa do Brasil como Estado Democritico de no inciso HI, apés a soberania (inciso 1), a cidad nia, on seja, 0 reconhecimento ¢ a pritica de di- ito e, dentre os fundamentos, encontra-se, reitos das pessoas. Na seq{iéneia vem a dignidade da pessoa humana. A caracterizagao do Estado brasileiro ¢ a indi- ceagio dos seus findamentos (nem todos ali pre- vistos sio ora listados) nao apresentam a natureza de meros “enfeites”, desprovidos de conseqiién- operacionais, no sentido de sua desnecessi- dade ou no de poderem ser esquecidos, por sua imelevancia. Ao contritio. A correta aplicagéo ¢ a verdadeira efetividade da Constituigio exigem sua irradiagio pritica no atendimento dos direi- tos dos cidaclios, na atuagdo de todos os poderes piiblicos, na elaboragao legislativa e nas decisoes do Judicidrio. E, ainda, e nao por tiltimo, na cons- trugdo doutrindrio-cientfica de todos os ramos do Direito, interessando, neste artigo, a do Direito Administrativo. Sem diivida, s6 0s clementos supra-apontados jd permitem ressaltar 0 predominante fovo, deter- minado pela Constituigdo de 1988, nos direitos das pessoas. Dat ter recebido o nome de Consti- tuigo cidada. Alguns preceitos do rol dos direitos fundamentais individuais ¢ coletivos Na ordem de insergio espacial serdo salien- tados certos preceitos que desencadearam signi- ficativas mudangas no Direito Adiinistrativo, se confrontado a ordem jaridica antes vigente, Prio- rizam-se 0s dispositivos atinentes a relagies diretas ¢ imediatas de pessoas fisicas ou juridicas com a Administrag0 Pablica. artigo 5°, inciso XXXII, assegura a todos 0 direito de receber informagiies dos érgios pt blicos de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ow geral. Este direito fundamental se vi cula ao Principio da Publicidade constante do artigo 37, caput. Mediante ambos, a Constituigo de 1988 quebrou a tradicio do sigilo, que durante ee 4: Para esd aprofdado sabre o proceso abinisativo, oc tdi « a ampla defo wo ordensment basins « en slg fxdenaments esangsvr, vide Ole Means, prcenvaidode tm Diao Adina, 2, So Pol, RT, 2008, vitias décadas predominou na atuagio adminis- trativa; o sigilo agora € excego, quando impres- cindivel @ seguranga do Estado e da sociedade (parte final do inciso XXXII) e para preservagao dos direitos & vida privada, & honra e a imagem (ine, X do att, §°). Antes, a Administragao se re- ‘cusava a fornecer informago, por qualquer meio (vista, c6pia, ete), se nao tivesse mengdo explici- ta a0 nome do peticionstio e, ainda assim, com enorme dificuldade. Kis uma sujeigao & Admini tragdo © uma alteragdo positiva nas dretrizes teo- ricas do Diteito Administrativo, propiciada pela Constituigdo de 1988, em beneficio das pessoas fisicas ou juridicas, na esteira da linha doutrindria {que se firmava, a favor da publicidade € transpa- réncia, desde os fins da década de 1970. S6 os elementos supra- apontados j4 permitem ressaltar 0 predominante foco, determinado pela Constituigao de 1988, nos direitos das pessoas. tos fund Outro dispositivo do rol dos di mentais, de marcante significado ¢ irradiagio, encontra-se no inciso LV do artigo 5°, garantin- do 0 contraditério ¢ a ampla defesa no processo administrativo (¢ no processo judicial). 18 impos- sivel exaurir neste artigo todas as conseqiléncias jf ocorridas na ordem juridica brasileira ¢ todo © potencial do referido preceito, notoriamente cm rol de direitos de pessoas fisicas ou jurfdicas nos | ineulos diretos com a Administragio Pablica.* A Constituigdo de 1988, no dispositivo, alinhou 0 Direito Pablico ¢ 0 Direito Administrativo bra- ios aos mais avangados do mundo ocidental, assegurando direitos a pessoas fisicas ¢ juridicas antes mesmo da tomada de decisdes, af incluia isadora da evolugao do Direito Administrative? Constituigéo de 1988: fesian Se seeeess istrative? 3 S | constituigso de 1988, catatissdore da evolucéo do Direito Adm: Revista do Advogado | aatuagio com fornecimento de dados, documen- | tos, solicitagaio de provas, etc., de obrigatério exa- ime pela autoridade, A Constituigado de 1988 reservou importante tratamento para os assuntos referentes a Administragao Piblica e ao Direito Administrativo. | Dentre os desdobramentos do contradit ‘encontrase a exigéncia de motivagao, para jus- tificar 0 teor do ato emitido. A exigéncia de mo- | tivagdo para grande mimero de decisdes modifica | aregra anterior, dominante por varias décadas, de ndo-exigncia de motivagdo, ¢ possibilita reforco. i | crafter -adh duiselapicls en eer { nistrago Publica. | Os direitos ou garantias ao contralto, ampla | cefesa e motivagdo também se revestem do cariter es dias, insuscetives de adogio sem 0 oferecimento | j | | iieigo a Administragao para amplo rol de me- da possibilidacle de aluago prévia dos interessados. Comto itradingzo do dispositive, pode ser citada a elaboragio de leis gerais de processo acdministrati- vo, editadas seja para o fimbito da Administragzo Federal — Lei n° 9.784, de 29/1/1999, seja para ni- veis estaduais € municipais. E, ainda, a existéncia | de uma jurisprudéncia tica, com origem em Jufzos |e Tribunais de graus diversos, formada ao longo de | 20 anos, impositiva do contraditério e ample defe- + sa, quandlo estes foram descumprides, concretizan- do assim os citadlos direitos fundamentais. nn matéria de controle jurisdicional da Administeagio, o artigo 5° contempla inovagdes favoraveis ao mesmo tempo a defesa de direitos das pessoas € a extensiio deste controle. Assim, por exemplo, 20 cléssico mandado de seguranga individual acrescentou o mandado de seguranga coletivo, no inciso LXX, concedendo legitimidade | ativa a partido politico com representagio no Congresso Nacional, a organizagao sindical, en- tidade de classe ou associagdo legalmente cons- | tituida e em funcionamento hé pelo ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados. Por sua vez, a agiio popular de an- | tes leve seu objeto aumentado, para possibilitar a anulago de ato lesivo a moralidade administrati- va € ao meio ambiente — inciso LXXIIL. E criow | yenos umn. © habeas data, no conhecimento de informagoes pessoais constan- tes de registro ou bancos de dados ¢ para a retifi- neiso LXXI, para assegurar 0 cago dos mesmos. Notas sobre 0 capitulo dedicado a Administragdo Pablica No Titulo IIT - Organizagao do Estado situase | © capftulo VII, sob 0 nome Da Administragao Publica, dotado de quatro segdes: I - disposigdes gerais, IL litares dos Estados, do Distrito Federal e dos ‘Territ6rios, IV ~ regides. A previsio de um capitulo destinado a Adminis- tragao Piiblica representa novidade em confronto aos, textos constitucionais precedentes, nos quais havia pouces dispositivas na matéria, enfefxados em seqdes 04 capitules, sob 0 nome Funciondrios Pablicos, | cuidando, em esséncia, deste tema, com preceito | sobre responsabilidade civil do Estado inserido em | outros tépicos. Portanto, a Constituigio de 1988 re- servou importante tratamento para os assuntos refe servidores pablicos, II rentes a Administragio Paiblica e, por conseguinte, 20. | Direito Administrativo, com cerca de 42 preceitos na. | redagao primitiva, hoje aproximadamente 70, apenas nas segdes I¢ Il. Nao se exaurem, neste capitulo, os Aspositvos ainentes & Administaggo Pablica e 20 Diteito Administrative, pois outros se encontram dis- ‘persos em varios pontos da Constituigao. Alguns elementos do citado capitulo set res- saltados, deixando-se de lado as segdes destinadas 205 militares dos Estados ¢ as regi i) Sem dtivida, um ponto de grande relevo se apresenta no caput do artigo 37, com a indicagio dos prinespios que devertio ser obedecidos pela Administragao direta e indireta em todos os nfveis da Federagio brasileira e em todos os poderes que tenham atividades admi istrativas. Na redagdo original consagraram-se os Prinefpios da Legali- dade, Impessoalidade, Moralidade, Publicida- de, acrescentado, depois, o da Eficiéncia, pela Emenda Constitucional n° 19/1998 Esses Prinefpios expressam um modelo de Administragio: a atividade administrativa deve realizarse jendendo &s normas de todo ordena- mento; nao ha de se pautar pela subjetividade; seus administradores devem ser corretos, hones- tos, prevalecendo a transparéncia dos atos e medi las. Vétios dispositivos integrantes deste capftulo ou existentes em outros locais «la Constituigo representam emanagdes destas bases. Os Princf- pios explicitos significam, sem diivida, inovagao benéfica da Constituicao de 1988, revestindo-se | do cardter de sujeigées impostas a Administragao e seus agentes. ii) O inciso TI do artigo 37 determina a apro- vagio prévia em concurso piiblico de provas ou de provas ¢ titulos para investidura em cargo o8 emprego puiblico, salvo as nomeagoes para cargo em comissao dleclarado em lei de li € exoneragio, Trate-se de desdobramento dos Prinefpios da Igualdade, da Impessoalidade e Mo- ralidade, sobretudo. Representa inovagio quanto fe nomeagio as fundagées piiblicas, empresas priblicas e so dades dle economia mista ¢ a todos 0s vinculos mediante contrato, com excego da contratagio por tempo determinado para atender a necessida- de temporéria de excepcional interesse pablico (ine. IX}, O descumprimento da regra implica dade do ato ¢ punigio da autoridade responsével (§ 2° do art. 37). Mais uma sujeigao. Conforme 0 ineiso XXI, os contratos de obras, servigos, compras e alienagées devem ser precediclos de processo de licitagio que assegure igualdade de condigées a todos os participantes, dispensivel ou inexigivel este nos casos especifi cados na Legislaio. Quer dizer, a Administragaio nio detém liberdade para contratar de forma di reta. A exigénci atende aos Prinefpios da Legali- dade, Impessoalidade e Moralidade, em especial. Outra sujeigdo a0 Poder Paiblico. iv) De seu lado, 0 § 1° do artigo 37 crion limite 8 publicidade dos érgios piiblicos, tio do agrado dos governantes (para a qual sempre ha recursos clevados, enquanto nfio hd para as atividades ver: deiramente importantes, como satide e educagao); essa propaganda deverd ter carter educativo, infor- tivo ou de orientagao social, sendo vedlado cons- tar nomes, simbolos ou imagens «ue signifiquem. promogiio pessoal de autoridades ou servidores pri- blicos, Mais uma sujeigio, como desdobs dos Prinefpios da Impessoalidadle e Moral mento ade. v) Em virtude da Emenda Gonstitucional n® 19/1998, € prevista, no § 3° do artigo 37, a disciplina, por lei, das formas de participagio do usuario na Administragdo direta ¢ indireta, tendo ‘em vista, em especial: as reclamagies relativas & prestagdo dos servicos ptiblicos em geral, assegu- radas a manutengio de atividades de atendimento a0 usuario e avaliagao periddica; 0 acesso dos ustd- rios a registros administrativos e a informagdes sobre atos de governo; a representagio contra 0 exercicio negligente ou abusive de cargo, em prego ou fungio na Administragio Publica. 1is mais um ponto benéfico ao cidadao, podendo ser interpretado como sujeigao. Na esfera federal | ado de: ainda nao foi editada lei a respeito. No Sao Paulo, por exemplo, promulgou-se lei para seu ambito. ‘ vi) Em irradiagao do Principio da Moralida- de, 0 artigo 37, § 4°, determina que os atos de improbidade administrativa importario a sus- pensio dos direitos politicos, a perda da fungio piiblica, a indisponibilidade dos bens ¢ 0 ressarci mento ao Erario, na forma e graclagtio previstas em lei, Para cumprir esse preceito, elaborou-se a Lei = Revista do Advogado B | Constituigso de 1988: catalisadors da evolugéo do 0} | n® 8429/1992 - denominada Lei de Improbida- de Administrativa, que vem sendo concretizada, sobretudo, pela atuagao do Ministério Publico. Surge af n de ¢ dos cidadaos ¢ uma sujeigio as autoridades | piblicas. um elemento ci favor da socieda- Eis uma prerrogativa degradante e vergonhosa, de frontal desrespeito aos direitos das pessoas fisicas e jurfdicas e ao Poder Judiciério, consagrando 0 calote oficial. vii) Em matéria de responsabilidade civil do Ustado, o § 6° do artigo 37 inovou ao estender 0 | critério objetivo as pessoas jurfdicas privadas pres- | tadoras de servigos piiblicos, 0 qual jé vigorava e foi reiterado para as pessoas jurfdicas de diteto pabl- 0. Verifica-se outro dispsitivo em prol do cidadao, | aleangando a Administragio no tocante As empre- sas ptiblicas, sociedades de economia mista ¢ fun- dagoes governamentais, dotadas de personalidade iusdica privada, prestadoras de servigos pi FE Aiguns aspectos relativos a servidores puiblicos A Constituigao de 1988 contempla uma segdo dlenominada Dos servidores piiblicos, no capitu- Jo dedicado & Administragio Publica. Nao inovou quanto A matéria e ao item especifico, jd presente cm textos anteriores, mas trocou a palavra funcio- nnarios por servidores. No entanto, preceitos sobre servidores também figuram em outras partes da Constituigao. Duas relevantes previsbes estavam ausentes em textos anteriores: o direito a livre associagao | sindical (art. 37, ine. VI) e o direito de greve, | este nos termos e limites definidos em lei espect- fica (art, 37, ine, VII). Aqui se vislumbram sujei- ‘des da Administrago em relaglo aos seus servide- res, alterando 0 secular quadro de impedimento da sindicalizagio e da greve. Em matéria de limite de remuneragao (teto), a redagio original jé estabelecera, no ineiso XI do artigo 37, cxitétios para tal. As Emendas Constitu- cionais n° 19/1998 e n° 41/2003 alteraram o texto, o que redundou em grande rigidez Quanto a previdéncia, nos aspectos de apo- sentadoria ¢ pensdes, a Constituigo manteve o regime proprio, mas esle recebeu mudangas ins- taladas pelas Emendas n° 20/1998 e n° 41/2003, sarretaram © seguinte, as quais, no conjunto, resumidamente: i) regime préprio somente para titulares de cargos efetivos; ii) regime contribu- tivo e solidério; iii) contribuigdo previdencisria obrigatéria, em percentual tinico, para todos os niveis federativos, paga por servidores em ativida- de, inativos e pensionistas, tendo 0 STF decidido nao haver dircito adquirido ao regime de néo-pa- gamento de contribuigZ0; iv) nao-integralidade de proventos e pensdes, salvo para servidores ja aposentados ou com requisites jd completados na data das Emendas ¢ também para quem te- cebia pensio nas mesmas datas; v) auséncia de paridade com as alteragdes de remuneragio dos servidores na ativa, ressalvadas as mesmas exce- ges acima. Ed tepicos diversos i) Em tema de controle extemno da Adminis- tragio, a Constituiglo de 1988 amplion as com- peténcias dos ‘Tribunais de Contas (arts. 70 e 71, em especial); fixou critérios para escolha de seus integrantes (art. 73, §§ 1° e 2°}; dividiu as indica- 98es entre o Poder Executivo ~ 1/3 ~ e o Poder Legislativo — 2/3 — (art. 73, § 2°) e atribuiu a todo cidaddo, partido politico, associagao ou sindicato legitimidade para denunciar irregularicades ou ilegalidades perante a instituigao (art, 74, § 2°). ii) Ainda no setor do controle externo, a ago civil pablica intentada pelo Ministério Pablico tecebeu consagragio constitucional (art. 129, inc. Il), No curso de 20 anos, a Constituigao revelou-se catalisadora da evolugao do Direito Administrativo e de praticas administrativas em prol dos direitos das pessoas fisicas e jurfdicas. iii) De grande importincia reveste-se 0 artigo 175, caput. Af se fixa a titularidade do Poder Priblico no tocante aos servicos piiblicos. Embora se avente um earéter ébvio do preccito, assim no se apresenta nas tiltimas décadas, em virtude principalmente dos debates suscitados a respeito de assunto. Ao conferir 2 incumbéncia dessa atividade a0 Poder Piiblico, a Constituigao tomnou-o responsivel, perante a sociedade, por sua prestagao, seja de modo direto, seja mediante exe- cugio por particulares. O dispositive menciona a possi silo ou permissio, sempre por meio de licitacao, Mais sujeigdes & Administragao. llidade de realizagao sob regime de conces- EB una pretrogativa critica: precatérios Num ponto a Constituigao inclinou-se a favor de prerrogativa da Administragio: trata-se dos pa- gamentos devidos pela Fazenda Pablica em vir- tude de sentenga judicidria (art, 100). Embora a Constituigio determine a inchusto, no orgamento, de verba necessaria ao pagamento dos precatérios judicidrios apresentados até 1° de julho, para que | se efetue até o final do exercicio seguinte, coin atualizagdo monetéria, em muitos setores estatais © pagamento deixa de se efetuar por décadas. Nao se vé responsabilizagio de autoridade alguma, pois a Constituigdo ndo aponta efeito especifico para sanar a desobediéncia. As figuras do crime de responsabilidade e da intervengao, por terem conotacao politica € por sen peso, mostran-se ineficazes. Ao longo de 20 anos ocorreram alteragde: para beneficiar os credores, mas para favorecer 0 devedores piiblicos, postergando ainda mais paga- io mentos jd atrasadissimos. A desculpa da falta dle verba mostra-se risivel ante os elevados gastos com propaganda ou obras. Sem diivida, eis umta prer- | rogativa degradante e vergonhosa, de frontal des- respeito aos direitos das pessoas fisicas jurfdicas ¢ a0 Poder Judici El conctusso rio, consagrando 0 calote oficial. | Vese, pelos lineamentos supra, que a Cons- | tituigéo de 1988 prioriza os direitos das pessoas | fisicas e jurfdicas, havendo muito mais sujeigdes | | | i | | | a Administragdo do que prerrogativas ‘Torna-se mister permitir que seu teor se assente, evitando a enxurrada de emendas conslitucionais, por vezes casuisticas, como vem acontecendo. Se Iii uma emenda a ser promulgada, diz respeito& respon- sabilizagdo eficaz de quem niio paga precatérios. No curso de 20 anos, a Constituigio revelou-se catalisadora da evolugo do Direito Administrati- vo e de priticas administrativas em prol dos direi- tos das pessoas fisicas e juridicas. Mas ainda nfo é suficiente, em especial no tocante & pritiew alm nistrativa, com cidadaos ainda tratados como sti- | ditos, em contraste A Constituigdo, Fsta deve se tornar cada vez mais viva e mais plenamente res- peitada, reduzindo-se a distancia entre sua letra © sua aplicagio, o que é tarefa de todos e, de modo mais acentuado, dos profissionais do Di Revista do Advogado & | Constituigdo de 1980; catalisadore da evolugdo do Direito Ad

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