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ws ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM ¥ ; ey PA is IMACULADA CONCEICAO ae ANO XI -N.° 34 Janeiro / Junho 2005 * Publicacio Semestral construida nos sonhos ¢ concrctizada no Amor” AD. BRINCAR TERAPEUTICO © brincar das criangas comecou a despertar nos curiosidade desde 1992, altura em que iniciamos a nossa actividade em Pedopsiquiatria. Comecamos por observar as. brinca- deiras das criancas e estas nos pareceram, por veces, frégels e encantadoras, outras ruidosas, turbulentas, ingénuas ou perturbadoramente semelhantes as acgdes e atitudes dos adultos. Ao pesquisarmos sobre o tema, encontramos entre outros investigadores, Garvey (1992) salientando que a maior parte dos investigadores deste tema - o brincar - aceitariam as seguintes caracteristicas: 1 Brincar € agradavel, divertido. Mesmo quando néo € acumpa- nhado por sinais de alegria é po- sitivamente para quem brinca. 2- A molivagao do brincar ¢ intrinse- ca. Consiste mais num disputar da actividade em si do que num esforco dedicado a qualquer fim particular. 3- Brincar € expontaneo e voluntario 4-Brincar requer um certo empe- nhamento activo por parte de ‘quem brinca 5 - Brincar tem algumas relacées sis- tematicas com 0 que nao é brincar. Assim, esta tiltima caracteristica leva- “nos a pensar que se brincar fosse apenas um impulso isolado, seria talvez interessante, mas o seu estudo nao seria de grande valor ientifico. ‘Ana Isabel Mateus da Silva Doutoranda em Psicologia - Especialidade Psicologia do Desenvolvimento Mestre em Comunicagéo em Saiide Enfermeira especialista Saiide Mental e Psiquiatria Segundo a mesma autora, a acti dade liidica tem sido relacionada com a cria- tividade, com a resolugio de problemas, com a aprendizagem da linguagem, com o desen. volvimento dos papéis sociais e com outros fenémenos cognitivos e sociais Chama-se brinquedo aos objectos que 0s adultos desenharam ou selecciona- ram especialmente para atrair uma crianga (Garvey, 1992), Assim, os objectos servem de diver- sas formas como elo de ligacéo entre a ctianga e o mei. Dao oportunidade a crianca ara expressar ou representar os seus senti- mentos, preocupacdes ou interesses, Deste modo, podemos questionarmo “hos se uma crianca pequena quando encon- tra um bringuedo que novo para ela comega logo a brinear? aNoMI“N. Apés a nossa observagio verifivamnos que a crianca no comega imediatamente a brincar, observa-sc antes uma progressio que vai da descoberta e da simples manipulagio até a ulilizacéo imaginativa dos objectos. Sylva e Lunt (1994) referem que Piaget achava que o desenvolvimento da brin- cadeira eslava intimamente ligado com o desenvolvimento da inteligéncia e além disso, que um dos inulicadures do estagio de desenvolvimento de uma crianga poderia ser obtido pela observagio da brincadeira. Para Sprinthall e Sprinthall (1990), Tiagel, demonstrou que as criangas mais novas tendem a pensar que toda a gente ve as situagdes da mesma mancira que elas proprias. Descreven-as como egocenttricas, no sentido em que estio centradas na sua propria perspectiva. No entanto 6 mais Provavel que os adolescentes reconhegam que o punto de vista dos outros ¢ diferente do seu. Ainda, segundo estes aulures esta car- acteristica do pensamento operatério formal (bem como as anteriores), pode ter ‘uma relagao directa com © proceso de desen- volvimento da Ieitura Muito recentemente, os psicdlogos teconheceram a importancia da estimulagio precoce no desenvolvimento intelectual, ape- sar de se considerar que a eslimulacdo pre- coce era essencial no desenvolvimento emo- ional. Sylva c Lunt (1994) referem que Piaget achava que o desenvolvimento da brin- cadeira estava intimamente ligado com o desenvolvimento da inteligéncia ¢ além disso, que um dos indicadores do estagio de desenvolvimento de uma crianca poderia ser obtido pela ubservagio da brincadeira Segundo as mesmas autoras, Piaget chamou brincadeira de dominio, ou brin- cadeixa pratica, que corresponde a0 sen esta- gio sens6rio motor do desenvolvimento (0 08 ? anos). O bebé sna brincadeira, comeca a NOX. N'38 oni / Juan 205, praticar ¢ controlar os seus movimentos ¢ a explorar o mundo. Este tipo de brincadeiza consiste principalmente em moviment repetidos e em exploracdo. O bebé repete o seu comportamento, nav num novo esforco para aprender ou investigar, mas pelo simples prazer de do- miné-lo e exibir para si mesmo o seu proprio poder de sujeitar a realidade. Brincadeira simbélica ou faz-de- conta, coincide cum o estdgio pré-operatério (2-7 anos). Esta é uma idade na qual a crianga usa simbolos na brincadeiras, aprende a fin- guagem e¢ aprende a simular, fazendo com que algo represente alguma outra coisa. A esséncia do faz de conta consiste em que a crianga transforma a si, ow a um objecto, em alguina outra coisa. Neste estdgio, a brincadeira simbélica torna-se a principal lorma de brincar, visto que a crianca estd rapidamente aprendendo a linguagem e testando o usu que pode dar as palavras e simbolos. Brincadeiras com regras, iniciam-se a partir dos 7 anus que caracteriza a crianca no estégio operative. A medida que o pensa- mento da crianga se toma mais légico, os seus jogos ¢ actividades comegam a incurpo- rar regras. De inicio, as criangas preferem fazer as suas proprias repras e séo incapazes de seguit «as regras de jogo», é 56 mais tarde que se tumam capazes de seguir as regras padronizadas estabelecidas para todos. Isto coincide com o desenvolvimento do pensa- mento. A nossa experiéncia Utilizando esta terapia obtivemos com maior facilidade a conlianga da crianga, observamos as suas atitudes e comporta- mentos, bem como identificamos alguns problemas de cumportamento ¢ apressivida- de, ou mesmo de relacao entre oulras crian- (as ou adultos. Utilizamos o brincar, essencialmente na primeira infancia como estratégia para: * introduzir e desenvolver competén- ias sociais; * socializacao; * adesio & terapéutica farmacologica * diminuicdo de comportamentos agressivos. A lerapia foi empregue quer individual, quer em grupo, dependendo das siluacées opta- mos por una das modalidades. Perante tudo 0 que acabamos de expor, estamos certas que o brincar terapéu- tico é uma lerapia que poderd ser utilizado pela enfermeira, desde que esta tenha for- macao para o fazer e essencialmente pela enlermeira especialista em satide mental psiquiatria, ie BIRLIOGRAFIA EYSENCY, Michael W. e Mark T; Keane - scofo- _$ia Cognitina. 2 ed. 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