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AHaAA XVW rTr-OTALI advo mbora Max Weber nioseja muito conhecido fora do imbito das ciéncias sociais, na sociologia ele 4 éconsiderado um cléssico de primeira grandeza. Ao contrario de outras teorias que hoje apresentam sinais de crise, o pensamento de Max Weber tem sido bastante relido na atualidade, proporcionando paraa sociologia instrumentos muito titeis paraa compreensio de seus prprios fundamentos e para a interpretagio do ‘mundo modemo. Além de criticar os pressupostos do positivismo (fornecendo para a sociologia novas bases epistemo- Tégicas e metodoldgicas), Weber realizou um cuidadoso estudo das religides mundiais, mostrando quea marca fundamental da modernidade é a racionalizagio da cultura e da sociedade. Para Weber, a razio humana, na versio encarnada pela economia capitalista e pela burocracia do Estado, éuma forca que, 20 mesmo tempo em que “desencanta” o mundo, invade todas a esferas, da vida humana, ocasionando’ a perda da liberdade e do sentido da vida. 95 Dorkbeimn, Weber eMare say 2sagan te, 26 seapunia sagi8yjay sep eortguosa tn9 Y - cT6t © ajsuaasduroo exfojor0s up strrofaies seumBye axqos omsug ~ C16r © @peparog 2 ermouosg nStpox e e5am0D) — o8ttue opunty op eungnoue eu ogsnposd ap ogsep1sy - 66T @ ourszpearde op o1ydso 0 2 soameasoiord searas sy — wanayno ep seDED sep voiS9] y.sraros ered soon sopmsy ~ 9961 © (eued,z) owsrpeudes op ousdsa 0 a aimersaiord von? 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De Nietszche, Weber herdow uma visio pessimista da sociedade moderna. b) Filésofos neo-kantianos: estes tebricos vio influenciar diretamente as bases filoséficas do pensamento de Weber. Os filésofos Wilhelm Dilthey (1833-1891), Wilhelm Windelband Sociologia Cision (1848-1915) e Heinsich Rickert (1863-1936), insistiam na necessidade de distinguir as caracteristicas das ciéncias sociais (chamadas de ciéncias do espirito/cultura) das demais ciéncias da natureza. c) Pensamento social alemio: embora Max ‘Weber seja o maior expoente da teoria sociolégica alemi, cle nio era um pensador jsolado, Na obra de Weber aparecem, reromadas, idéias de varios pensadores importantes da época, principalmente Ferdinand Ténnies (1855-1911), Georg Simmel (1858-1918), Werner Sombardt (1863-1941) e Ernst “Troeltsch (1865-1923). 1.2. Contexto sdeio-histsrico Max Weber, embora nfo fosse um politico de profissio, mas um cientista, participouativamente do Gebate politico da Alemanha de sua época. A situagio social da Alemanha também inspirou pesquisas, textos ¢ reflexdes académicas do autor, especialmente em telagio aos fendmenos do capitalismo, da burocracia e do poder politico. Na época de Weber (1864-1920), 0 capitalismo industrial se expandia com velocidade por toda Europa. ‘No entanto, a Alemanha ainda era uim pais retardatitio no processo de industrializacio. Para quea Alemanka puidesse participar da corrida econémica, a unificacio fos territbrios germinicos, efetuada por Otto von Bismarck (1815-1898), ‘em 1870, foi fundamental. “Todavia, ao contririo da Inglaterra (pais lider da Js revolucio industrial) e da Franga, a burguesia alemii Durkheim, Webere Mars eee io possufa forca politica para condhuzir este processo sozinha e se apoderar do Estado. Isto se devia a0 peso representado pelos “junkers”, como eram chamados os proprietarios rurais. Além da posse da terra, a aristo- cracia rural dominava alguns postos do Estado, impe- dindo aascencio politica da burguesia, que acabou se acomodando em seu papel politico. Para resolver este impasse, a existéncia de um govemno forte ecentralizador, como o de Bismarck, foi essencial para os esforgos de modernizacio alemi. Mas, por outro lado, como julgava Weber, acarretou também um aumento da burocracia estatal etornou a burguesia alema acomodada em sex papel politico. Por esta razio, Weber defendia o fortalecimento do parlamento e as eleigdes diretas para presidente. Segundo ele, estes seriam dois instrumentos importantes para forraleceras liderangas nacionais, desvinculando- as do peso da burocracia estatal. O papel do Estado como lider da industrializacio econémica, a expansio do capitalismo, a situacio dos trabalhadores do campo e da cidade, o papel do Estado e da burocracia e virios outros temas, serio constan- temente debatidos por Weber em seus escritos politicos esociolégicos. IL. TEORIA SOCIOLOGICA COMPREENSIVA Aocontritio de Comte eDurkheim, que construiram. suas teorias sociolégicas com base no primado do objeto, Weber vai orienta toda sua producio sociolégiea com base no primado do sujeito. A idéia de que o individuo é 0 elemento fundante na explicagio da 100 Sociologia Glisien realidade social atravessa a producio epistemoldgi metodolégica de Weber, operando uma verdadeira revolucio nas ciéncias sociais. Deste modo, Weber inaugurou na sociologia um novo caminho de interpretagio da realidade social: a teoria sociolégica compreensiva. E seri acerca desta teoria e de suas implicagdes que trataremos doravante. 2.1. Epistemologia A discussio sobre os fundamentos epistemolégicos da sociologia ocupou grande parte das polémicas tebricas de Weber. Criticando os pressupostos episte- molégicos do positivismo, Weber vai proporcionar novas bases tebricas para as ciéncias sociais. Desta forma, ele contribuiu de forma fundamental para 0 desenvolvimento da sociologia contemporinea. a) Ciéncias naturais x ciéncias sociais A grande preocupacio dos fildsofos neo-kantianos eracombatero pressuposto positivista de queas cicias danatureza eas ciéncias sociais deviam adotar o mesmo método, Weber também partilhava desta posigio. No texto“A objetividade do conhecimento nas ciéncias sociais", ele mesmo afirma: “de td o queatéaquisedisse resulta que carece de razdo de ser um estudo “objetivo” dos acontcimentosculearas nosertidocm que finvideal do trabalho cieneffco deveria consisvir numa redixiio da realidadeempirica acertas leis” (1991, p.96). Nesta citagio, percebemos como Weber faz. um ataque frontal contra um dos pressupostos essenciais do positivismo: o pressuposto de que todaa realidade 101 Durkin, Weber Maca social pode ser explicada mediante a descoberta de um sistema de “leis” inerentes ao funcionamento da socie- dade, Era esta premissa que justificava a identidade entre as ciéncias sociais e as ciéncias da natureza, promovida pelo positivismo. Por sso, a preocupagio bisica dos criticos do positivismo era apontar quais eram os aspectos que diferenciavam as ciencias sociais das ciéncias da natureza, a0 mesmo tempo em que buscavam para elas um novo método. De quemodo Weber vaijustificar a distingio entre estes dois tipos de ciéncias? Para elucidar estas diferen- «2, Weber vai participar dos debates entre os fildsofos neo-kantianos, que hi tempo vinham se dedicando a esteproblema.E no confronto exitico com estes autores que Weber vai eaborando suas posigdes tedticas. Dentre os fildsofos neo-kantianos, Dilthey afirmava quea diferenca entre as ciéncias do espirito eas ciéncias danatureza reside no frto de que os seus objetosde estudo é queso diferentes. Enquanto as ciéncias naturais tém como objeto a navureza, as ciéncias sociais estudam 0 ‘mundo da cultura, que é uma criacio do spite humano (ou ainda da sociedade). Tal diferenca, por sua vez, implica. fato de que em cada um destes tipos de ciéncia cexiste uma maneira diferente de relacionar o sujeito com © objeto. Enquanto nas cigncias da natureza 0 objeto deestudo éalgo exterior ao homem, nas ciéncias sociais, ohomem é0 sujeito e o objeto ao mesmo tempo. Por isso, conclufa Dilthey, as ciéncias naturais fizem uso do principio da “explicagio”, enquanto as ciéncias sociais se articulam em torno do principio da “com preensio”. Enquanto a explicasio consiste na busca clas leis causais, a compreensio implica um mergulho empitico no espirito dos agentes historicos em busca do sentido de sua agio. Resumindo, poderfamos esquematizar 0 pensamento de Dilthey da seguinte forma: 102, Sosioogia Ces METODO, Explicagio Todavia, para Windelband, a diferenca entre as ciéncias naturais ¢ as ciéncias sociais nio estava no objeto de estudo, mas residia no método. Por isso, Windelband distinguia dois tipos de ciéncias: as que susam o “método nomotético” eas que usam o “método ideogrifico”. Enquanto 0 método nomotético esti orientado para a construcio de leis gerais, o método ideografico visa destacar a individualidade ¢ a singularidade de um determinado feadmeno. Esque- ‘maticamente, temos: _OBETIVO, Ledsgeris ‘Singulardade dos fendmenos ‘Também para Rickert, a distincio entre ciéncias naturaise ciéncias sociais residia no método. Acontece queas ciéncias sociais sto ciémeias nas quais existe uma “relacio com o3 valores”, fato que niio ocorre nas ciéneias da natureza, Ou seja, nas ciéncias da cultura (como as chama Rickert), 0s objetos sio selecionados conforme os valores culturais e os interesses pessoais do pesquisador. Esta idéia ser reromada diretamente por Weber, que firma: “o conhecimento cient fico aulieral tulcomo oentendemosencantrase reso, porcanto,apremisss 103 Durkleiey, Weber Mace oduuas tod ‘eoisyy vu 9992008 Oto FeUIIO) PUISSUE ‘xp axdwas zo1s000 treaap soumtagtay sopeuratiaap an ap ophiuas ot ‘sjo] ap vazowsts wn ap ogSAsHOD BOLE spepos seugys sea auezaperou98 opoizus op apeprredsy wand 9 ‘ouueirod ‘iazxp tonb soqaaiy amb © 085” %P sores soped opreoruanesandin opens opedasoxdr sonzyowe S108 sopad sangsuanuducn ops sptvosscosp srai0 nb a piads sof ap winzooo o1rfap sogdvmns syppuruciazap anb ep ‘opsnaasgo ppd sypeuurfuor ‘sxoid [ossou ofui8 | sopypysqrgosd sppeuatuesarap spuadt Ay 1208 SeURD sep apeprreuy ‘opypes oporgis owos ,seoyFAUOB s sage A KEP txOUU ‘on seIqUID| euroisis owrapow op wols0 eu seawourepty Sesne sep euin on709 soperapistion 42s wopod (araersox0xd Se PUI} vexed ‘ouusrpendeo 0 argos sesinbsad seyy “souatguay so anu sooSeppr z0ajaquase vosnq anb ‘apeprpesneo ep ordppurad o aauezyesaues oporpur op zezgypin WA 39q>/9\ soussrpendes op uraaiio ve aesmbsed or ‘seyq “OuaTIQUI, senbjenb op sarenSunsa soatrenpenb sasorsese9 so tred oeSuaie ens.tp tmnooxdanb ‘aiteaenpragpar opoxzar op osn op as-eiex], “otUFQUOIW oIaUTELOdWO ap "ULI0¥ SesINO ap UIEOURI|IP 0. eULDISIS aIso WOES anb soquawiap so singimstp namooxd saqe 94 ‘ojdusox9 EP SOpep so eUOIDa/PS [EOS vast ° ieMprarpur oporgur oped “unssy ‘sesmbsod sens seu (auezieiaus$ a nuezsTenptarpin) sopoxgur sop soaso seaSoauy Joqus aaap o80[9190s 0 “oqa yy LIE 66 °d'<661) oxrmo v m0 oporrue un yr0 osuina0d sououupaafop ru rprnenureprumanydoop “Speppegisod se woqjoragya.rporund rouge Pun tarntiy awergpundsonbasqptarap smpiit spuiot oUen 50781 25 waaiap wn P0579 wip sou Sowcxgaosoanb weSrpiogy? prof ep escoidurrsoqpia reat anand nad iy soda opsanuecayomproapea daquvenpriaueS sopopt SEENDSNDUBRDO Spa STUPID: spathafieccwe oporpu wit aod opterndo sen ersasspxe opoztcap odst axpouranacsimoepesopurouse ren sub Reprsn.27 A) 4 sonb sou-eoydxo rru1951 “Sroqpy ap emmisod ssp varaay “esmbsad ep sopep sv aurroyu09 sopesmbsad oped open ns at ‘saremourajduos ogs (ogstaarduoo 9 yest soqaunpsoosd stop so ‘ormearod ‘raqa,a\ wav, -o{qns oxour ow sre ap onstr 0: (86°F T66n mean eehenfrm soxutpunaibrmpeunenuaouns nsed Paupras orpreu.cod ‘orsrperuantp uonesudranboprprpaury sowuawuape sppnbrp.uvdiooas suadvap omfojed ,watilqns, sociologia positivist). Todavia, nem por isso ele deve ser desprezado (erro da filosofia neo-kantiana). O :método generalizanteé um procedimemto indispensivel para a sociologia explicar os fendmenos sociais ¢ histéricos, que io seu objeto de estudo. Como vocé pode notar, Weber entrou em um debate bastante complexo, dialogando com virios autores ¢ analisando diferentes posigdes tebricas. No conironto com estas teorias, ele estabeleceu as bases filosdficas quesustentam o edificio das ciéncias sociais eos princi pios pelos quais elas se distinguem das ciéncias da nnatureza. © importante, para nio se perder neste debate, éque os autores analisados por Weber, ém sempre em vista delimitar a especificidade das ciéncias sociais e distingui-las das ciéncias da natureza, Este 60 objetivo fundamental da reflexio weberiana. Fagamos, 20 final, tum breve resumo deste debate. , “iat roms PS Ascidncias ca naturezaeascéncissecais possum omesino Asciéncias a naturezaeascigaciassociais possuem méodos diferentes z -UMAX WEBER (Critica aos positivstas a realidade infinita. Logo, nfo pode ‘seresplicada totalmente patirdeleiscentifcas Crt icaaos neokantianos: a sociologia devera fazer uso das dois mérodos, dependendo da finalidade da pesquisa Todavia, nas ciéncias sociais, as “leis” sto apenas ‘probabilidades de ago social. Sic um meioe niios finalidade a pesquisa b) Individualismo Metodoldgico Se Max Weber i tinha uma posicio epistemoldgica diferente do positivismo no que tange 3 relacio entre cifncias sociais enaturais, o mesmo vai se dar na questio da relacdo emtre individuo e sociedade. Para 0 pensa- mento weberiano, o ponto de partida da explicagio sociol6gica reside no individuo: A sociologia interpretativa considera o individuo e seu ato como a unidade bdsica, como sen “tomo” — se nos permitirem pelo menos uma-vez a comparagio discutivel, Nessa abordagem, o individuo é também 0 limite superior e 0 tinico portador de condita sienifiativa (.,) Em geral, paraasociologia, concitos como “Estado” , “associacio”, ‘feudalismo” e outros somelhantes designam certas citegorias de intenacio humana. Dai ser tarefa de sociologia reducir esses conceitos & agio compreenstvel, isto 6 sem excegio, dos «atos dos individuos participante. (1982, p. 74). Se, para Durkheim, a sociedade é superior a0 individuo, poderfamos dizer que para Weber, 0 individuo é 0 fundamento da sociedade. Esta afirmacio ‘vai muito além do fato de que uma sociedade nio existe sem individuos. A existéncia da sociedade somentese realiza pela agio e interacio reciprocas entre as pessoas. Entio, quer dizer que a “sociedade”, ou mesmo estruturas coletivas como a farnilia, o grupo, o Estado, © capitalismo e outros, nio existem? Nao se trata ‘exatamente deste argumento. Conforme explica Cohn, o que Weber quer dizer éque: 0 objeto de andlise socioldgica nao pode ser definido como a sociedade, om 0 grupo social, ou mediante qualquer outro conceito de referéncia coletiva. 107 Durkbin, Weber Mars Noentanto, Glaro quea sociologia trata defenémenos coletivos, cuja existéncia niio ocorreriaa Weber negar. O que cle sustenca éque o ponto de partida da andlise socioldgica sé pode ser dado pela agao de indiotduos e que ela & “individualista” quanto ao método. (1991, p. 26). Em Weber, a possibilidade de entender asociedade e suas instituigdes passa pela andlise do compor- tamento dos individuos. Tudo o que existe na sociedade, seus grupos, instituigdes e comporta- mentos, sio fruto dz vontade e da atividade dos homens. Por isso, no faz sentido compreendé-los sem resgatar 0 sentido contido em cada elemento da sociedade. Segundo Weber, é preciso voltar ao nascimento destas instituigSes e entender a atividade significativa que lhes deu nascimento e as razbes que os homens tinham e ainda tém para sustentar as instituiges e os comportamentos sociais. E por esta razio que o individuo é 0 fandamento da explicagio sociolégica. 2.2. Metodologia A preocupagio em dotar asociologia de conceitos claros e bem definidos é uma das prineipais incengdes da teoria metodoldgica weberiana. Por esta razio, os textos nos quais Max Weber define 0 que é a socio- logia e qual o seu objeto de estudo, sio alguns dos urechos mais discutidos e analisados do pensador alemio. Na principal destas obras (Economia e Sociedade), Weber traz a seguinte definicio de sociologia: 108 Sociologia Cisicn Sociologia significa nmaecibncia quepretende compreender interpretatiaamentea giz social eassimnexpliclacr ser cirs0 eseus efeitos (1994, p. 3). Podemos traduzir esta defingio, na forma do seguinte grafico: - $0cIOL061 METODODE | OBJETODE S ANALISE | ESTUDO - Compreender | Agto Social eee Explicar [estas poucas linhas, Weber nio s6 definiu o que é a sociologia, como também apontou sew objeto de estudo e ainda seu método de andlise (ow sew objeto formal). Tudo de acordo com os pressupostos que 4 apontamos acima (o individuo como fundamento da explicacio sociolgica). Nas paginas que seguem, yamos tratar de esclarecer e aprofundar cada um estes pontos em detalhe. 4) Sociologia: objeto material e objeto formal Como esti muito claro na definicio de Weber, 0 objeto de estudo da sociologia é a agio social. Mas, © que o devemos entender por agio social? FE novamente Weber que vai nos ajudar a esclarecer este conceito. Assim, segundo sua definigio, temos que: 2) Ago: é um comportamento (..) sempre que ena medida em que o agente ou os agentes 0 relacionem com um sentido subjetivo. 109 Durkin, Webgre Maes b) Agio social: significa uma acio que, quanto a seu sentido visado pelo agente ou pelos agentes, se refere a0 comportamento de outros, orientando-se por este em seu curso. Logo, coerente com o pressuposto filoséfico do individualismo metodoldgico, 0 objeto de estudo da sociologia é a acio social. na agio dos individuos, quando orientada em relagio a outros individuos (portanto, quando ela é social) que a sociologia tem o seu pomto de partida légico e, como consequiéncia, seu objeto de estudo. E sempre a partir do sujeito que Weber pretende fundar a explicagio dos fendmenos sociais. Porém, de que forma o socidlogo deve empreender atarefa de explicar as agées dos individuos em suas relagdes reciprocas? Qual o método de estudo pelo qual a sociologia aborda as ages sociais? Em outras palavras, qual € 0 sew objeto formal? Segundo Weber, a tarefa da pesquisa sociolégica consiste em determinar qual o “sentido” ou “significado” da agio. Mas, quais seriam estes significados aos quais Weber serelere? Conforme esplica Cohn, “interasa enfin, aquele sentido quese naanifestaem agées concretasequeenolee mn ‘motivo sustentado pelo agente como fundamento desuaagio” (1991, p. 27). O fundamento para explicar aacio social, portanto, é 0 seu motivo. Para a sociologia, importa recuperar a razio e a finalidade que os proprios individuos conferem as suas atividades ~ bem como as suas relagdes com os demais individuos e com a sociedade. Sio estas raz6es que explicam 0 motivo ea propria existéncia das agSes sociais. F por isso que a teotia sociologica de Weber é chamada de “metodologia compreensiva”: seu objetivo é compreender 0 significado da ago social. 110 Sovilegin Clason No entanto, as agdes humanas sio infinitas e, éclaro, ‘osocidlogo nio poderia fazer um acompanhamento de todos os tipos de comportamento social. Tendo em vista esta dificuldade, Weber constréi sua conhecida teoria dos tipos de agao. A intencio de Weber éjusramente fpontar quaisseriam os senidos (ou motivos) bisicos da acio social: L 3. ‘Agio racional referente a fins: a acio determinada por expectativas quanto 20 comportameato de objetos do mundo exterior ede outras pessoas. Estas expectativas funcionam como “condigées” ou “meios” para aleangar fins prOprios, ponderados e persegu tacionalmente como sucesso. Portanto, neste tipo de a¢io, o homem coloca determinados objetivos e busca os meios mais adequados para persegui-los. © importante ¢ perceber que o motivo da agio € alcancar sempre um resultado cficiente. Asio racional referente a valores: a acio dexerminada pela crenga consciente no valor witico, estético, rligioso ou qualquer que seja sua interpretacio — absoluto e inerente a determinado comportamento como tal, independente do resultado. O motivo da agio, neste caso, nio é um resultado, mas um valor, independente dos resultados positivos ou negativos que ela possa ter. Agao social afetiva: a agio é determinada de modo afetivo, especialmente emocional: por afetos ou estados emocionais atuais. qb DDurkhie, Weber e Maes eae 4. Agio social tradicional: a agio & determinada pelo costume arraigado. , Estabelecida a unidade bisica da andlise socio- égica, a ago social ¢ os seus tipos fundamentais, Weber vai mostrar como as interagdes entre os individuos vio sera base de formaciio dos grupos sociais ‘etambém das instituigGes sociais. Acompanhemos seu mdocinio, Quando 0 sentido da ago social é compantilhado por varios agentes, temos a relaglo social. A relacio social parte do pressuposto de que é provavel que se aja conforme o sentido compartilhado (que pode ser um uso ou um costume). Estas relagdes sociais, segundo Weber, podem ser ainda de cariter comunitario (pessoais) ou societirias (impessoais). Finalmente, a relacio social deve ser legitimada por uma ordem legitima. A legitimacio da ordem pode se dar através da convencio ou do direito. De acordo com Weber, as ordens legitimas podem institucionalizar-se de diversas formas, tais como: © agrupamentos: agrupamentos os grupos coletivos possuem érgios administrativos: empresas: quando os grupos buscam dever- minados fins, estabelecidos racionalmente; e associagdes: as relagdes sio fechadas para as pessoas de fora; os regulamentos sio aceitos voluntariamente; © instituigées: as regulamentagdes so impostas para os seus membros O esquema analitico de Weber apresenta sempre uum caminko que vai do particular ao universal. Ele comega com a anslise da acio social, passando pela 112 Sosilogia Cia interacio entre os individuos, atéas instituigdes socias. Pode-se também tomar o caminho contririo. Uma nogio coletiva, como o Estado, por exemplo, pode ser analisada até se chegar a0 seu fundamento de origem, ouseja, aagio social. Quer se parta deum ou de outro ponto, o individuo é sempre o fundamento das instituigdes sociais.E semprea partir do individuo edo significado de sua conduta que Weber reconstréi as priticas sociais e fundamenta sua pesquisa sociolégica. Eo que demonstra, com um exemplo, o quadro abaixo: COLETIVIDADE Ordem legftima [Escola | Inpmviptio | GRUPO Agio Social Relagdes Sociais Professor x alunos b) Os tipos ideais Depois de apontar com clareza quais seriam os conceitos fundamentais da teoria sociolégica, Weber se preocupa também em esclarecer “qual & a funcio légica ea estrutura dos conceitos com os quais trabalha a nossa ciéncia, a semelhanca de qualquer outra” (1991, p. 100). Em outros termos, clese pergunta qual © papel dos conceitos sociolégicos enquanto instrumentos de interpretagio da realidade social. Qual a fungio que os conceitos desempenham no processo de pesquisa? Para Weber, estava muito claro que o socidlogo io pode tratar seus conceitos (¢ suas teorias) como se fossem uma reproducio da realidade, Este seria 0 erro das teorias positivistas. Adotando a filosofia kkantiana, Weber parte do principio de que o conhe- cimento humano nio ¢uma reproducio da esséncia da realidade. Pelo contrario, o conhecimento humano 113 Darkhcimy, Weber e Marx 36 captaas relagdes entre as coisas existemtes, de acordo com aestrutura da mente humana. Portanto, nunca de forma exaustiva eexata. Da mesma forma, a sociologia nio capta toda esséncia da realidade: a explicagio sociolégica s6 pode captar determinados elementos da realidade, que sio condicionados pela cultura no qual o sociélogo esta inserido. Como podemos inferir, para Weber, 0 sujeito tem. um papel ativo ma construcio do conhecimento socioldgico, na medida em que é o socidlogo que devermina que tragos ou aspectos da realidade serio analisados e qual relagio existe entre eles. F jus- tamente este aspecto que Weber quer ressaltar com © conceito de tipos ideais, que ele assim define: Obtémse um tipo ideal mediante a acentuacao unilateral deur ow wrios pontos de vista, emediante oencadeamento de grande quantidade de fonmenos isolados dados, difusose discretos, que se podem dar em maior ou menor niimero on mesmo faltar por completo, e que se ordenam segundo os pontos de vista unilateralmente acentuados, a firn de se formar um quadro bomogéneo de pensamento (1991, p. 106). Desta forma, fica claro que o conceito (que é um tipo ideal) nuncase acha de forma “pura” na realidade, pois ele é apenas uma construcio teérica elaborada pelo socidlogo. O tipo-ideal é construido a pantir de ‘uma “imensificagio” unilateral da realidade, ou seja, uma “exageracio” de alguns de seus elementos caracteristicos, a partir de um determinado ponto de vista, Podemos esclarecer isto através de um exemplo, ‘Vimos anteriormente que Max Weber distinguia quatio tipos de aco social: agio racional com relacio 14 Sociologia Cldsica a valores, acio racional com relagio a fins, agio tradicional e agio afetiva. Ora, sabemos agora que estes conceitos sio “tipos ideais”, logo, eles mio se acham de forma pura na realidade. No compor- tamento real das pessoas, estas formas de agio sempre aparecem juntas, O que permite a0 socidlogo dizer que se trata desta ou daquela forma de agio é um recorte da mesma, acentuando um dos aspectos que caracterizam a acio. E por isso que estes conceitos so chamados por Weber de “tipos ideais”. “Todavia, é importante no confundir a construsio de tipos ideais com um mero “subjetivismo”, como se eles fossem uma construgio arbitraria do pesqui- sador. Pelo contririo, o que Weber quer enfatizar & que o tipo ideal é um instrumento de pesquisa que permite ao socidlogo uma aproximacio mais objetiva da realidade. Além de ajudar a entender a realidade, que é diversa e heteroginea, organizando os dados ‘em conceitos homogéneos, 0 socidlogo deve sempre ancorar estes conceitos nos acontecimentos E justamente para isto que servem os tipos ideais: permitir ao pesquisador uma forma constante de comparar suas teorias com a realidade pesquisada, a partir de um aspecto da mesma. . ‘Além de conceitos jé citados, como os “tipos de asio”; termos como “capitalismo”, “ética protes- tante”, “feudalismo”, “burocracia”, “Estado” e muitos outros, aparecem em Weber sempre entendidos como tipos ideais, cuja funcio & pemitir is suas pes- {quisas clareza conceitual quanto aos objetos estu- dados, bem como um entendimento dos tragos tipicos que permitem entendéos. 11s Durkheim, Weber eMarx Il. MODERNIDADE E RACIONALIZACAO A sociologia dareligtio de Max Weber, embora tenha 0 fenémeno religioso como um de seus temas centrais, rio pode ser reduzica a um estudo que se restringe & interpretacio da rligiao em si mesma, Pelo contrario, & em sua sociologia da religitio que Max Weber traca 0 quadro de nascimento ¢ desenvolvimento da ‘modemidade. Para o pensador alemio, a modemnidade se caracteriza pelo processo de racionalizagio (que é uma conseqiiéncia do desencantamento do mundo). E embora a razio tenha tuazido para o homem a capacidade de dominar‘o mundo, especialmente através da ciéncia eda técnica, trouxe também conseqiiéncias negativas: aperda de sentido e a perda de liberdade. Para empreender seu estudo sobre a modernidade, primeito Weber se dedica a entender a relacio que existe entre 0 protestantismo e a conduta econdmiica capitalista. Depois, suas anilises se deslocam do Ocidente para o Oriente, para analisar a ligacio entre economia e religiio na India (hindu(smo e budisme) ena China (confucionismo e taoismo), sem esquecer ainda do judaismo e até do islamismo. E a partir destas miltiplas comparagées que Weber procura entender a cultura ocidental, sua originalidade e também os seus problemas. ‘A partir destas andlises comparativas entre os diferentes desenvolvimentos culturais do Ocidente e do Oriente, Weber conclui que: Racionalizagées tém existido em todas as culturas, nnos mais diversos setores e dos tipos mais diferentes, Para caracterizar sua diferenca do ponto de vista da bristéria da cultura, deve se ver primeiroem que eferae Areca elas ocorrem. Por iso, surge nowamenteo problema 116 Sovilogia Chin de reconbecer a peculiaridade especifica do racionalisino ocidental, ¢, dentro deste moderno racionalismo ocidental, o de esclarecer a sua origem (1996, p. 11) . O que teste “racionalismo” ocidental? Qual o seu cariter especifico diante dos povos do Oriente? Qual a sua origem? Qual o seu significado paraa vida do homem? Bis os temas de que trata a sociologia da rcligido de Max Weber e que o levam a apontar aquela tue 6 uma das caracteristicas mais importantes das sociedades modernas: 0 racionalismo. 3.1. A ética protestante eo espirito do capitalisme Olivro “A ética protestante ¢ 0 espirito do capitalis- mo” éum dos textos mais conhecidos de Max Weber. Por isso, 20 longo de nossa exposicio, vamos tentar acompanharbem de perto as dls conrides nesta ba. ‘Antes, um esclarecimento. E importante perceber que, neste livro, o autor alemio quer atingir dois objetivos. Em primero lugar, ratarse de uma investi- ga¢io sobre as “origens” do capitalismo. Junto com a ciéneia, a arte, aarquitetura, a nivel eo ion © capitalismo seria a grande marca da civilizacio ocidental. Portanto, pone sake? em verificar qual a influéncia da religido na origem: ‘modemo sistema econdmnico capitalistaindustrial. Mas, também é preciso olhar este estudo de forma mais ampla. Esta obra possui também um segundo objetivo importante, Como ja destacamos, a questio central da sociologia de Weber & mostrar como se dé o progresso da racionalizacio no Ocidente (da qual o capitalismo é 17 Darke, Webere Marx amaiorexpressio), fato que nio acontece no Oriente. Por que apenas no Ocidente moderno nés temos a viténia do racionalismo? Para Weber, a chave para responder a esta segunda pergunta também estava nas caracteristicas especificas da ética protestant Comecemos, pois, pela primeira questio: a origem do capitalismo. E importante relembrar que Weber esta longe de afirmar que a religiio Tuterana foi a “finica” causa do capitaismo. Na ver dade, 0 pensamento de Weber € bem mais sofis- ticado. Além de admitir que o problema da oxigem do capitalismo admite causas miliplase até infinitas (econdmicas, politicas, militares, técnicas, etc.) Weber nio trata de afirmar que a religido (ou a ética} seria propsiamente uma causa da origem do com- portamento econdmico capitalista, num sentido linear cedeterminista, Para Weber, aética luterana muito mais favoreceu (em vez de atrapalhar) do que gerou sozinha © capitalismo. Mesmo assim, ele conclu que a ética protestante “deve ter sido presumsivelmentea mais poderose «alawanca da expressio dessa concepcio de vida, que aqui ‘apontamoscomo espritodocapitalismo” (19%, p. 2 ™ Mas, afinal o que vem aser este “epirito do capita lismo” a0 qual Weber tanto se refere? Para esclarecer esta expressio, Weber nos dios exemplos de um conjuntg de mésimas de Benjamin Franklin, ue = lembra-te de que tempo é dinheiros = Tembra-te de que o crédito é dinheiro; * embrace de que diaheiro gee mis dnheiro ~ lembracte de que ob é Iembrase de que o bom pagador € dono da que estas miximas nos mostram é que o espitito do capitalismo é uma ética de vida, um modo de ver 118 Sovioogis Cfsica ce encarar a existéncia. Ser capitalista, antes de tudo, do é ser uma pessoa avara, mas ter uma vida disciplinada, ou ascética, de tal forma que as ages vatieadas sempre revertam em hucro. Tratase, como diz Weber, de uma ascese no mundo. Ascese, é bom Jembrar, 60 comportamento tipico dos monges, que Jevam uma vida dedicada & oracio ¢ & peniténcia © bom capitalista também & uma pessoa ascética. Mas a sua ascese é praticada no trabalho, ao qual ele sededica com rigor edisciplina. Entretanto, a grande ae gue nos ra eslrecer como ese modo apitalista de vera vida se generalizou e se propagou pelo Ocidente? ‘A primeira contribuigio para este processo,afirma “Weber, foi dada por Martinho Lutero esua concep¢io de “vocagio” (em alemio, beruf). Para Lutero, a Salvagio das pessoas nfo vinha do fato delas se teurarem do mundo para rezar, como faziam os monges catdlicos. Pelo contrario, quanto mais as pessoas aceitassem suas tarelas profissionais como pen chamado de Deus (vocagic) eas cumprissem com disciplina, mais aptas estariam para seren salvas ‘No entanto, 6 com as seitas protestantes que este processo iria ainda mais longe. No quarto capitulo gua obra, Weber analisa quatro seitas protestantes, que sio: calvinismo pietismo metodismo seitas batista. eee Dentre estas quatro seitas, diz Weber, & religido caleinista que melhor nos ajuda a explicar a relagio centre a ética protestante e a origem do capitalismo. De acordo com a doutrina calvinista, todos os 119 Durkheim, Webere Mare ———— homens sio pré-destinados por Deus para a salvacio ou para a condenacio. Somente Deus, na sua sabedoria e bondade eterna, sabe e escolhe quem seri salvo ow nio ( doutrina da pré-destinacio). Nada do queo homem fizer por esforgo proprio faz diferenca tudo depende de Deus! Naturalmente, uma concep¢io destas causa grande angiistia para as pessoas. Como saber se eu von ser salvo? Apesar de s6 Deus possuir esta resposta, 0s calvinistas acreditavam que havia uma forma de obter indicios para esta questio: trata-se do sucesso no trabalho, O cristo est no mundo para glorificar a Deus, e deve fazé-lo trabalhando, Ora, acontece que o cristio que estiver reservado para ser salvo, vai levar uma vida disciplinada e cristi: 0 resultado s6 pode ser um enriquecimento de seus bens materiais. Mas, como bom cristio, cle nfo vai esbanjé-los em prazeres e em outras condutas consideradas desonestas. Pelo contririo, ele vai continuar trabalhando e aplicando seus recursos para obter mais Iucratividade. O resultado é que, com 0 tempo, esta pessoa tornar-se-{ muito rica. Tudo o que ela gana é gasto somente com o necessirio, sendo o resto aplicado na prépria producio. Para Weber, esta ética do trabalho, embora tivesse motivagies religiosas, acabou dando suporte para um comportamento indispensivel para a origem do capitalismo: a busca do lucro, através do trabalho metédico e racional. Mesmo com o processo de secularizagio da vida (ou seja, 0 declinio da religiio na sociedade), a ética do trabalho se expandiu e se consolidou no Ocidente. Como tempo, a motivagio da busca do Incro se desligou da religiio ¢ ganhou vida propria: 120 Sociologia Cision Optaitino queria tormaseuem profisional,etodostivenim quesequito, Pos, quando ascetsmo foi lewulo parfora dos mosteiros etransferido para a vida profissional, f-lo contrlindopoderosamente paraaformagi da medderna rdem econémicae técnica ligada i produgio em sérieda ‘equi, queatualmente determina demaneiva violentao estilo de vida de todo individuo nascido sob esesiste mma (..), e quem sabe 0 determinard até que a tiltima tonelada de combustével tiver sido gasta. (1996, p. 131). Todavia, além da origem do capitalismo, existe outra questi important resalada por Max Weber que aponta para o segundo objetivo de sua obra: © problema da racionalizacio. Mais do que a origem do capitalismo, o protestantismo ascético favoreceu também a racionalizacio da vida. A partir deste processo, a vida das pessoas estaria movida pelo sistema econémico, como Weber deixou claro em sua citagio acima, e voltatia a enfatizar ainda mais: Os catdlicos nio levaram téo longe quanto os puritanos aracionalizacao do mundo, a diminagio da magica como meio de salvagao (..). A vida do santo era dirigida unicamente para um fim transcendental: « salacio. Precisamente por esta rand, entretanto, ela era completamente raciona- lizada do ponto de vista deste mundo e dominada inteiramente pela finalidade de aumentar « gloria de Deus [grifos nossos\(idem, p. 81-82). ‘Uma vida metodica, dedicada a0 trabalho, deforma disciplinada e ordenada: é neste semtido que 0 com portamento do protestante representa uma forma extremamente racionalizada de vida. Quando a maotivacio religiosa do trabalho em busca da riqueza 121 Durkin, Weber Mars clesaparece, mas esta forma ordenada de vida se perpetwa por forga propria, a sociedade atingju seu nivel maximo de racionalizacio. A origem do capitalismo, portanto, faz parte de um processo mais amplo, chamado por Weber de “desencantamento do mundo”. A raciona- lizagio da vida, representada pela influéncia do protestantismo e pela origem do capitalismo, é uma de suas etapas finals. Como destacamos anteriormente, a sociologia da religido de Weber nio ficou restrita apenas a0 estudo da realidade ocidental. Se no Ocidente a religiio foi tum fator que impulsionow o desenvolvimento de uma cultura racionalizada e, por conseqiéacia, a origem do capitalismo, restava saber porqueasreligides oriemtais nfo exerceram esta mesma influéncia em sua realidade. E_ neste contexto que devemos situar as anilises de Weber sobre o hinduismo e 0 budismo (eligides da india) e também sobre o confucionismo e 0 taoismo (religides da China) ‘Naandlise das grandes religides universais, Weber percebeu que elas se diferenciam, quanto a0 seu conterido e quamto a0 caminbo da salvagio que elas apresentam. As imagens de Deus ¢ do mundo ¢ que condicionam a ativude do crente para conseguir a salvacio. Ou, dito de uma forma bem mais simples: a teoria religiosa condiciona a pritica de vida das pessoas. Para entender a influéncia da religiio sobre a economia, énecessitio, entSo, verificar como as religides inspiram esta condua, a partir de dois cttérios: 122 Sociolopa Clissien GTrontRntiGiosa | PRATICARELIGIOSA Imagem de Deus ‘Caminho da salvagio Timagem do mundo a) Teoria religiosa e capitalismo 0 A imagem de Deus que as religides dee eas Weber dstingue dois tipos de rligi: asreligidesteocEntrcas eas religidescosmocéntnics. De acordo com a explicagio de Habermas, Weber identifica principalmente dois tipos de imagem d Deus: “A primeira, a acidental, se serve da concepcio dem Dens criador, supra-mundano e pessoal a ontr2, muito difundida no oriente, parte da idéia de wm cosmos mpessoal endo criado. Weber fala aqui de uma concep suprarmnndanaedenma concep imanante de Deus” (1987, p. 269). Logo, temos duas forms culturais diferentes de explicaro queseriaa divindade Nas religibes ocidentais, deus exia 0 mundo, estando fora e acima dele (deus supra-mundano). Deus sempre existiu ¢ umm dia resolveu criar o mundo. J& nas religides orientas, deus eo mundo sfo 2 mesma reilidade. Na concepsio oriental, deus e mundo se Confundem; sendo que deus esti na beleza Totalidade, além de sera forca que sustenta as coisas. Resumindo, temos que: IMAGEM DE DEUS Deus supra-mundano identai “Religi Religides orientais | Deus intra-mundano 123 Durkin, Weber e Mans ‘Umma segunda diferenca de contetido entreas religises consistenasuaimagem do mundo, Weber distingue,entio, entre as religides que promovem a “afirmacio do mundo” oa “negacio do mundo”. Ouseja,enquanto as primeiras religides véem o mundo de forma positiva, 6 segundo grupo desvaloriza a realidade mundana. Quando o mundo é visto de forma negativa, a salvacio pode ser obtida mediante duas formas, Em primeiro ugar, através de alguma forma de afastamento do mundo, soja através de uma profunda vida interior, seja através do isolamento nos mosteiros. A segunda possibilidade é superar os males do mundo, transformando-o pelo engajamento humano no mesmo. Quando o mundo é visto de forma positiva, nic h4uma tensio entre a realidade mundana eo homem. Este ipo deimagem do mundo levao homem a uma acomodacio a0 mesmo, normalmente na forma da contemplagio mistica, que representa uma atitude passiva diante da realidade mundana. Analisando as diversas religides a partir deste elemento, Weber constatou que nas religides ocidentais existe apenas uma desvalorizagio do mundo; nas religides oriemtais existem algumas que © valorizam (China) ¢ outro grupo que o desvaloriza (India). Graficamente, eis um resumo destas idéias: IMAGEMDOMUNDO | RELIGIOES Religdes | Negagiodomundo Cisianismo Ocitensis | Religides | Negagiodo mundo | India (budismo) Orientais., |}——____— Afirmaciodo mundo | China focane/ 124 Socologn Chic, Depois de estudarcada religiio (ocidental e oriental) apanirdestes elementos, nés podemos cruzarestes dois ‘ritétios (imagem de Deus edo mundo), obtendo assim: oseguinte esquema: Tmnagean de DA | Religibes Tecventieas | Religiées Cesmoctnn Afirmagio : Confucionismo do mundo Taoismo Negicio do |Judaismo Bodismo mundo [Cristianismo | Hinduismo Observando este quadro, logo se destaca 0 fato de que, quanto ao critério do contetido, ja podemos perceber que somente as teligides ocidentais eriaram Zima imagem de um deus transcendente, ou seja, que se encontra fora do mundo, combinando este fspecto com uma visio negativa do proprio mundo (o mundo € 0 lugar do pecado). Ja mas religides orientais (cujo deus é visto como intramundano), a jmagem de Deus se combina com duas diferentes visdes do mundo (positiva ¢ negativa). b) Pritica religiosa ¢ capitalismo © que tudo isto tem a ver com a influéncia das religides na sociedade, especialmente se quisermos compreender a agio social ea conduta econdmica dos individuos? De acordo coma teoria weberiana, ateoria religiosa inspirow diferentes formas do individuo se comportar. Vejamos como. a De acordo com o autor, estas teorias religiosas inspiram diferentes caminhos de salvasio. 125 askin, Weber Mars a © Nas religives teocéntricas (deus esté fora do mundo) existem dois caminhos de salvacio. Se houver uma imagem negativa da realidade mundana, as religides apresentam 0 caminho da dominagio ascética do mundo (como é caso da religiio protestante). Quanto a religides teocéntricas com uma imagem positiva do mundo, Weber nio encontrou nenhuma exemplo real deste tipo de religiio. O impor- tante é perceber que as religides teocéntricas com uma visio negativa do mundo favorecem uma atitude “ativa” diante da realidade mundana, © Nas religides cosmocéntricas (deus é 0 mundo), existem duas possibilidades. Se hi ‘uma imagem negativa da realidade mundana, © nico caminho da salvacio é a fuga do mundo (¢ 0 caso das religiées da india, 0 hindufsmo e o budismo). Mas, se houver uma imagem positiva do mundo, 0 caminko da salvacio ser’ uma acomodacio diante do mundo. Tedavia, em ambos os casos, trata-se de caminhos de salvacio que levam o homem aum atitude “passiva” diante da realidade mundana. Para finalizar, coloquemos estas idéias na forma de um quadro: 126 Sociologia Csi ‘Religio Teocfurica | Visiopostivadomundo |————— Rigi Tetra | Vso nqativa domundo [Dons domo FRéglio Cosmncnv'z | Vstopostivadomundo | Acomedaeoaomundo elgio CoE | Vio aeatvado mando Fopinicadoimnndo ‘A conchusio que se pode tirar deste complexo esquema de Weber é bastante dbvia. As religides orientais levam o crente a uma atitude contemplativa diante do mundo. J4 0 cariter especifico da religito ocidental consiste em levar o crentea uma atitude de engajamento diante do mundo. Foi por isso que a Gtica religiosa do protestantismo favoreceu a origem do capitalismo, enquanto as religides orientais nto inspiraram nenhum movimento neste sentido. 3:3, Racionlizagio da soccdade “Aanilise comparativa de Weber entreas religibes do Ocidente edo Oriente permitiu a0 autor alemio tragar ‘um quadro completo da evolucio cultural do ocidente. Em Webernds temos uma minuciosa andlise do “proceso eintclectualizagio a queestamossubmetidos desde milénios” (1967, p. 30), eque compreende as seguintes etapas: Religio—sDesencantamento do mundo—sRacionalizacio Mas 0 que seria este processo de “desen- cantamento do mundo”? De modo geral, pode-se dizer que se trata de um longo caminho no qual as concepcdes magicas ¢ religiosas do mundo vio sendo substituidas por uma concepgio racionalizada da 127 Durkin, Webere Mars 2xonunue oan wa arenf ru ougnap 0 ‘ opsor” aC], seowioy, © opuvuorsinde ereqoe seisturayea Sop sreprayeur suaq Sop kasng ep oprsses omment o anb Parupe soqe jh ‘,a1mesoi0sd wong Vy, OFAT] Op FEU, Om fonst 10g “JeID0s ORSEZITEUOIDES 2p waquIED reUTEYD sourspodanba ,ovsezmeposng, ap nour saqp A anb owpei9uay ‘eanyyod orSezrueio ep odune3 otr3 ert011099 ep odures ou wigqume nomouad owsreuores 0 anb nogaorad raqa ay ‘stuvasoaxd wang ep saenry TENSpHO apeprenopes ep orsuedxa ep soatmiou sopeynsar so 24 9qp Ah anb euny]N9 ep omyd ou aauDEHOS 9 OvU SEY 1 989 9aap Um EpeD ‘onb wap ‘sesnap so azn ean] Bun :ousopous opr OT soxopea sop eula|qord o wa saqa,j\ anb warsse w19 one} ACT (gird wap) ,aidivaso oporiod Yprayp tas 9 tuomquioras Sop augp tuoquon ze Spucpp nun vaDpfesarieny Pan ypsopra op Puuaxgordo ,aiuaturnyfiwuet, ssproop nerd 8g “enunsono Puapod sown 01013, “oqp x OBdgxd opd opep ‘ojdasoxo un wi09 oprone acy anno wads sojeas1s9anb ap ‘ajanbe anb somfaur9 osna(qo 9169 an ap oanatfap ozynf um zepmeEO} oMOD WAI OLE BP seuE foaraqo tum patssod opour soqpaur op sidune os ered sorsur so sviuode aqes onb ‘Tequaumsistr roqes tun 9 PIDUQID \y -Opniuas ap opunur o eaeiop vy anbxod os oprsyfar _reqjon 9 ogaes v seryumUy ap eae 9 OBE IEP NN BAP] - “Ged “To66T) _gonstxo aye anb 9 2 “opriuas pry ap steuns so asquonie P Sow erpni uaiopod no opuartu op optwues op onsndosd y ofp 0d soonugnb no sor oSojog SODHUOUOLE? 107 so anb ~ seastprrsadso so auua ancawevssrl ans sopaert srSucr.n SPU onyPs—APIypaoPP 1» womb, oxfSypx ep ppded o zednoo vuropod 1qo.ah xed ‘onb aa }uODy “SouREA 9puo aint eojon5 Scr ured 9 sourta apuo ap vada anb ozzes umn arstxo apepreuy eum op operop owoo opunt 0 wrepuait> seof@ypor sy ‘eougispa ep omy ,gnbuod,, op o1radsor eeisodsoz wun stauioy soe zep vinooad opisippx Epo y, “Dpeprpear y opnuas exiajtio9 anb opunut op oystaouso> vu ty9 oFi$ypre ‘9je opunag “enayno eu epunjosd rSurpnaa rusn vpren ‘ersugrs v9 opssordxa soremn vino ‘oyzes yped ovrSijar ep ovdmnanisqns jenpes3 vanb wiqes 492M ‘opnues ap epuad & ‘osu errounUd y o1mengy “pepraqy ap vpiad va opnuas ap upiod v opeprarapout ep oansouieyp nas o viusarde ape anb opnugs a1sou 3 “oan Sou, Opry nas o equiv eum ‘sagssoxdxo Sororeur sv me opeasyy op eanvII0INg oxSeztURr0 va wisteardes ogSezmueSi0 & [enb ep ‘opunux op ogsezeuorer ap ossanard 0 anb viges saga \ “[eOS vpta ap souradns orfeiso um v oqusueessan9u eAa] OLU OUEpoUT opunur op apepieuopes ap ness op oman © ‘orsdsar 2189 & eonED ovsysod vu EYER r9qaM\ ‘TeNprAIpUT apeprorp} ep ow 9 yeuateur ossoxZord ap ovauine woo ovze vp ossaxSord 0 wets anb ‘ows op ousats 2 seasiumunyt sofosopyy Sop ops u09 Oy “UzS °F £661), 2peatimoo.ng a pri a pro onsrzqurBo Pua 2p opiates ou tuacqondaap as oprperOS S7 0820 2 ‘sonw2tersuroua sossop opnfodsop opuniu assay “oxanzten oraronad wodenpsonazuasiadoanh uno spypuanip mpasonuesop ras ypu sorisodsp rsot x tod sucapod nb smn seofap oatunluon o1ad spuade souomroapypyyre4y.ic0.y angry SOU PDUDD P, “Bax PuOUITEY WO) OPIO" IC] Se] jus v vssed 2 apeparos va vzammven v ,ziuasp -Sp,, anb ‘ea1u99 vp a URI ep sqaene “woo (09 e108 woUIOY Op eprA v uIEArjosiuo anb s9snop so we ‘sary ‘wiotog oped ormrexop o224dH09 9p swaayssed owt09 apepanos va wzainren vav8soxtia svutatp 2 steossadun se5103 10d opearwop o8f YPLA 104 op exrop wam0y 0 ‘oss9208d 2189) Repseisie mens prisito de ferro (grifo nosso) (1996, Alimagem de Weberé bastante forte. A racionalidade ocidental representa para o homem uma “prisio de ferro”. E assim que Weber resume sua famosa tese da perda da liberdade. Embora tenha se libertado das forgas divinas e naturais, o homem tornou-se escravo de sua prdpria criacio. Longe de estar livre, a racio- nalidade dos meios (4 que o homem perdeua raciona- lidade dos fins, ou seja, a capacidade de determinar o sentido da vida) tomou conta da existéncia. Se 0 calvinista fez do trabalho um meio em busca da salvagio, 0 capitalismo fez do trabalho uma atividade cujo fim é ele mesmo. Trata-se de uma racionalidade que aumentou a produtividade, mas escravizou 0 Ao conttirio de Durkheim, quetinha uma imagem bastante positiva da modeznidade, Weber pode ser considerado um tedrico pessimista. O problema é que : forca sae conduzit o homem um passo adiante (@ razio), também trouxe conseqiiéncias negativas F diamedo problema, Weber nio via nenhmaslugio. IV. PROJETO POLITICO: NEUTRALIDADE Uma das caracteristicas marcantes do pensams de Weber éa radical separacio que ele promoveentie x figura do cientista edo politico, ou entre as esferas da ciéncia eda politica. Neste sentido, o texto mais famoso a respeito sio as conferéacias proferidas por Weber na Universidade de Viena, em 1919 (“A ciéncia como vocacio” e “A politica como vocacio”). No entanto, 130 Sociologia Clssicn isto no impediu o pensador alemio de se pronunci varias vezes, sobre problemas tebricos ligados & anilise da politica, ou sobre temas do debate politico des fpoca tralidade axiolégica ‘Weber tinha herdado de Henrich Rickert (fildsofo neo-kantiano), a conviegio de que as ciéncias humanas cram ciéncias relacionadas com os valores. Ou seja, sum socidlogo sempre faz suas pesquisas no quadro de ‘uma cultura determinada, com um conjunto de valores especificos, que movem seus interesses pessoais. (O queé significativo para um socidlogo brasileiro, por exemplo, pode nio sélo para um alemio, ou ainda wm cidadio da idade média. No entanto, admitir esta hipétese trazia um problema muito sério. Quer dizer, entio, que as ciéncias humanas slo ciéncias subjeti- vistas, em que tudo depende do “ponto de vista” adotado por todo autor? Se cada autor elege um ele- ‘mento da realidade para explicar, e tira dai suas proprias conclusdes, como fugir da armadilha do relativismo (que afirma que nio ha verdade objetiva, pois tudo & relativo)? E este problema que leva Weber a refletir sobre a questio da “objetividade” das ciéncias humanas ow sociais. Para resolver este dilema, Weber afirma que a ciéncia deve cuidar para distinguir rigorosamente entre 0s juizos de fato ¢ 0s juizos de valor. Isto implicava afirmar que, se 0 socidlogo era movido por seus valores na hora de definir seu objeto: na conducio da pesquisa, todas as consideragdes pessoas do autor (seus juizos de valor ou axiologicos) deveriam ser colocados de lado. Na pesquisa, 0 131 Durki, Webere Marx

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