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Este estudo está disponível para download gratuita em plataformas digitais e autoriza sua utilização

para fins de estudo e divulgação dos postulados cristãos que esta carta de Paulo de Tarso nos
oferece.

Desautorizo qualquer utilização deste material com fins financeiros, para qualquer fim. (“Da gratis id
quod gratis receperunt.”)

Peço perdão por todas as incorreções que porventura encontrarem, certamente existem e procedem
de minha pequena estatura espiritual diante de tão elevada lição que esta carta nos oferece.

Espero que lhes seja útil, como a mim o foi.

Fraterno abraço.

Candice Günther
Carta aos Gálatas com Emmanuel

Introdução

Iniciamos novo estudo rogando a Jesus e aos bons espíritos que nos conduzam em nossas
reflexões e apontamentos sobre este magnífico texto deixado por Paulo.

As cartas de Paulo possuem algo diferente dos Evangelhos por seu próprio estilo literário.
Enquanto os Evangelhos nos trouxeram os relatos da vida de Jesus, e, depois, os Atos dos
Apóstolos, escrito por Lucas, nos deram notícias de como seguiu o cristianismo primitivo
após a morte e ressurreição do Cristo, as cartas paulians são mensagens direcionadas a uma
comunidade que, em geral, enfrentava problemas e necessitava de auxilio, de uma palavra
que lhes indicasse o melhor caminho.

Apesar de não termos as perguntas ou questionamentos dirigidos a Paulo e que ensejaram a


carta em forma de resposta, todos os textos de Paulo nos permitem refletir e avançar no
entendimento do cristianismo primitivo, que a doutrina espírita busca resgatar. Por estas
razões elas nos falam alto ao coração, em nossa jornada evolutiva cheia de tropeços e
desenganos.

Passados 2000 anos os problemas que os primeiros cristãos enfrentaram não destoam dos que
ora enfrentamos, superadas as diferenças culturais e de época, somos levados a perceber a
fragilidade humana diante dos preceitos do Cristo Jesus. Ainda hoje é perceptível a constante
intenção do homem em adaptar o evangelho ao seu pensamento, quando, em verdade, são
nossos pensamentos e sentimentos que precisam se adequar ao Evangelho.

Paulo compreendeu Jesus e soube transmitir os seus ensinamentos não apenas por palavras,
mas, sobretudo, por princípios, o que torna suas cartas profundamente atuais. Encontramos o
norte da caridade direcionando todas as suas ações e, por esta razão, estudar estes textos nos é
fonte de rico aprendizado.

Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier trouxe-nos comentários preciosos de alguns


trechos desta carta e com elas buscaremos extrair o espírito da letra, que educa e edifica.
Juntamente com Emmanuel, buscaremos em outras fontes o caminho para mais este estudo
que se nos apresenta como um grande desafio ante o nosso pequenino saber. Não obstante,
seguimos confiantes e bem acompanhados para mais esta empreitada.

Desde já pedimos a vossa indulgência quanto às imperfeições e equívocos que porventura


cometermos ao longo do estudo, como tenho dito, não se trata aqui de uma obra literária, mas
de uma busca pelo aprendizado que promove o conhecimento. Conhecer para melhor
compreender, compreender para melhor viver.

Sigamos, assim, com algumas informações introdutórias sobre a carta e a quem ela foi
dirigida, servimo-nos do esquema apresentado por Raymond Brown em suas notas
introdutórias sobre a carta.

1 – Autenticidade

Algumas cartas geram dúvidas e controvérsias quanto à autoria ser ou não de Paulo, não
obstante, a Carta aos Gálatas parece, atualmente, constar no rol das cartas que foram escritas
por Paulo.Em Gl 5:2, encontramos a expressão: “Eu, Paulo, vos digo”, também capítulo 6,
versículo 11 nos dá, a informação: “Vede com que letras grandes eu vos escrevo, de
próprio punho.”

Reconhece-se, também, o estilo de Paulo na escrita e nos postulados que apresenta. Adolf
Pohl afirma Gálatas é o mais genuíno do genuíno que temos de Paulo, parafraseando Feine-
Behm.

Alerta-nos Adolf Pohl que “a autoria de Paulo não significa que ele tenha escrito a carta de
próprio punho. O encerramento da carta, escrito expressamente pelo próprio autor, em Gl
6.11-18, pressupõe, para a maior parte, a colaboração de um secretário, como era usual da
Antigüidade5. Esse poderia ter sido um dos co-remetentes mencionados em Gl 1.2. Não é
possível esclarecer em que medida essas pessoas eram co-responsáveis pelo formato final do
escrito. A questão poderia ser mais complicada que nós atualmente presumimos6. Contudo,
pelo fato de sempre de novo lermos: ―Faço-vos‖; ―Irmãos, falo como homem‖; ―Digo‖;
―Sede qual eu sou‖; ―dou testemunho‖; ―Dizei-me‖; ―escrevi de meu próprio punho‖ (Gl
1.11; 3.15; 4.1,12,15,21; 5.16; 6.11), não se pode pôr em dúvida o papel decisivo do
apóstolo.”

2 – Destinatários
Mapa do livro Comentário Bíblico San Jeronimo – Raimond Brown

Segundo Beacon (Comentário- Volume 9):

“À primeira vista, o destinatário desta epístola está claramente definido, qual seja, “às
igrejas da Galácia” (1.2). Mas, tal conclusão logo cai por terra quando percebemos que o
termo “Galácia” era usado de duas maneiras diferentes nos dias de Paulo. No uso comum,
referia-se a uma região relativamente pequena no nordeste da Ásia Menor, comparável a
Licaônia, Pisídia e Frigia. O uso romano oficial do termo tinha em mira uma província
grande (ver Mapa 1) que incluía porções adjacentes das regiões supracitadas.

Os movimentos migratórios das tribos celtas compõem grande parte da história pré-cristã do
sul da Europa. No século IV a.C., depois de invasão repentina seguida de retirada
igualmente brusca, cujo ápice foi o saque de Roma, estes povos inquietos e rebeldes
invadiram a Grécia no século III a.C. Desta feita com propósitos permanentes. Em 279 a.C.,
quando foram repelidos em Delfos, os remanescentes do exército derrotado uniram-se,
formaram um grande grupo de parentes que não tinham tomado parte na invasão e
infestaram a Ásia Menor. Eles foram gradativamente repelidos pelos asiáticos nativos e, na
última metade do século, confinados a uma pequena área no interior. Em princípios do
século II a.C., estes celtas foram conquistados pelas legiões de Roma, mas, por mais de 150
anos, tiveram a permissão de ter governo próprio na qualidade de “reino dependente”.Em
25 a.C., este território relativamente pequeno foi incorporado a uma província romana
maior que recebeu o mesmo nome. O populacho, porém, ignorou em grande parte o título
oficial romano, fazendo com que o termo “Galácia” fosse usado com referência ao território
norte dos celtas. Onde ficavam as igrejas a quem esta carta foi enviada? Se estavam
situadas no território norte dominado pelos migrantes celtas, quando foi que estas igrejas
foram fundadas?Temos o registro claro de Paulo ter fundado igrejas nas cidades de Derbe,
Listra, Icônio e Antioquia durante sua primeira viagem missionária (At 13.13,14; 14.16,21-
24). Todas estas igrejas estão localizadas na província romana da Galácia, mas não no
território norte pertencente aos migrantes celtas. No começo da segunda viagem, Paulo
voltou a estas cidades “confirmando as igrejas” (cf. At 15.41—16.5). Lucas acrescenta que o
grupo missionário “percorreu a região frigia e gálata” (At 16.6, lit.). Há quem argumente
que esta não é referência sumária aos versículos precedentes, mas fala que Paulo viajou
para o norte e estabeleceu igrejas entre os migrantes celtas. Durante a terceira viagem
missionária de Paulo, Lucas observa que o grupo missionário “atravessou sucessivamente
a região gálata e a Frigia, confirmando os discípulos” (At 18.23, lit.), que pode ser
entendido como visita de retorno aos celtas.
Não é possível determinar com certeza onde estavam localizadas as igrejas gálatas. O fato
de Paulo ter usado com consistência as divisões políticas romanas, junto com a existência
conhecida de igrejas na região sul da província romana, sugere que Paulo escreveu para
estas igrejas conhecidas no sul. Na melhor das hipóteses, o argumento a favor da “Teoria da
Galácia do Norte” está baseada em suposição e conjectura. O fato importantíssimo é que a
questão não tem porte fundamental na interpretação da epístola.”

Importante asseverarmos que, segundo os estudiosos, não se trata da Região da Gália


(França), mas da Galácia (hoje Turquia).

Vejamos Adolf Pohl: “―Ó gálatas insensatos!‖ exclama Paulo em Gl 3.1. O termo grego
galatai é a forma mais recente de keltai (celtas) e significa em latim galli, a saber, gauleses.
Estranhamos. Estaria Paulo escrevendo para a Gália, ou seja, para a França? Em vista de que
em 2Tm 4.10 ele informa: ―Crescente foi para a Galácia‖, de fato não foram poucos os
copistas que mudaram para ―Gália‖. Considerando, porém, que Paulo no presente caso
escreveu a igrejas fundadas por ele próprio, entra em cogitação somente a Galácia na Ásia
Menor, pois na França ele nunca foi missionário.”

Também no livro Paulo e Estevão encontramos referência à região da Galácia, nas viagens de
Paulo. Cap. VI – Peregrinações e Sacrifícios:

De Tarso a Derbe, a Listra, a Frigia, a Galácia, Somatrácia, Neapolis


Noites ao relento, sacrifícios numerosos, ameaças de malfeitores, perigos sem conta foram
enfrentados pelos missionários que, todas as noites, entregavam ao Divino Mestre os
resultados da recolta e, pela manhã, rogavam à sua misericórdia não lhes faltasse com a
valiosa oportunidade de trabalho, por mais dura que fosse a tarefa diária.
Em Derbe obteve noticias de Timóteo.
Em Listra foi recebido por Lóide e encontrou Timóteo.
Estavam construindo uma igreja em Listra.
Lóide confidenciando a Paulo que iria se mudar e pediu que ele aceitasse Timóteo em sua
companhia. Paulo aceitou com sincero prazer.
Silas sugeriu a circuncisão de Timóteo, ao que Paulo concordou e Timóteo também. Essa
atitude tinha como objetivo evitar problemas com os judeus.
Daí a dias, despedindo-se dos irmãos e das generosas mulheres que ficavam a chorar nos
votos de paz em Deus, os missionários demandaram, cheios de coragem e do firme propósito
de servir a Jesus.
Dirigiu-se a Misia, a intuição lhe diz que não era ali, pensou em Bitínia, mas a voz de
Estevão induziu-o a descer para Trôade. Paulo em uma visão viu um homem da macedônia
exclamando: - Vem e ajuda-nos.
Paulo decidiu ir a Macedônea mas não havia recursos para a viagem por mar. Encontraram
Lucas, que ao saber dos planos de Paulo oferece-se para pagar a viagem. Paulo convida
Lucas a ir com ele para a Macedônia. Lucas concorda. Desembarcaram em Neapolis
descansaram dois dias indo então para Felipes.
Quase as portas de Felipes, Paulo sugeriu que Lucas e Timóteo se dirigissem, por outros
caminhos para Tessalônica, onde os quatro se reuniriam mais tarde.
(Fonte: site http://eade03.blogspot.com/2015/06/cap_20.html)
3 – Data e lugar onde foi escrita

Segundo estudiosos a Carta aos Gálatas teria sido escrita entre os anos 52 a 56,
provavelmente quando estava em Éfeso.

Como referência, citamos Beacon:

“Nenhuma evidência determina com certeza quando e onde Paulo escreveu esta epístola. Há,
porém, algumas referências na carta que ajudam a fixar claramente a data dentro de certos
limites.3 O relato do Concílio de Jerusalém (2.1-10; cf. At 15) e o conflito subseqüente com
Pedro em Antioquia (2.11-18) determinam que a data mais recuada possível seja durante a
permanência de Paulo em Antioquia, entre sua primeira e segunda viagens missionárias —
aproximadamente 48-50 d.C. A sugestão de duas visitas à Galácia antes que a carta fosse
escrita4, tornaria necessário a Paulo tê-la produzido depois da segunda estada na Galácia, em
seu segundo giro missionário5 (At 16.1-5). Esta estada teria sido antes de chegar a Corinto,
ou, quando ele voltou a Antioquia, antes da terceira viagem (At 18.23). Esta data seria
provavelmente 50-51 d.C.
Outra possibilidade é que Paulo escreveu a epístola na terceira viagem missionária, durante
esta permanência maior em Efeso (At 19.1-20), ou até mais tarde, enquanto estava na
Macedônia ou em Corinto (At 20.1,2). Isto fixaria a data em cerca de 54 ou 55 d.C.
A semelhança de conteúdo entre Gálatas e Romanos produz a indicação de que foram escritas
mais ou menos na mesma época,6 o que colocaria a data em torno de 56 d.C.7
Um argumento contra data tão avançada é a rapidez da apostasia dos gálatas8 e o fato de que,
por essa época, a controvérsia com os judaizantes já tivesse cessado — tornando obsoletos os
assuntos tratados em Gálatas.
Pelo visto, a Carta aos Gálatas foi escrita pouco depois da visita final de Paulo,
provavelmente de Efeso, em cerca de 54 ou 55 d.C.”

O livro Paulo e Estevão nos indica, porém, que a carta aos Gálatas foi escrita em Corinto e
deixamos o trecho do livro que nos dá este indício, sem contudo nos embrenharmos em
qualquer polêmica quanto ao assunto, eis que nos parece de menor relevância a data ou o
lugar, deixando nossas energias para os motivos e os ensinamentos deste valoroso texto.

Trecho do livro Paulo e Estevão, Cap. VII – As Epistolas:

“Com a presença de Paulo, a igreja de Corinto adquiria singular importância e quase


diariamente chegavam emissários das - regiões mais afastadas. Eram portadores da Galácia
a pedirem providências para as igrejas de Pisídia; companheiros de Icônio, de Listra, de
Tessalô nica, de Chipre, de Jerusalém. (...)
Sentindo-se incapaz de atender a todas as necessidades ao mesmo tempo, o abnegado
discípulo do Evangelho, valendo-se, um dia, do silêncio da noite, quando a igreja se
encontrava deserta, rogou a Jesus, com lágrimas nos olhos, não lhe faltasse com os socorros
necessários ao cumprimento integral da tarefa.
Terminada a oração, sentiu-se envolvido em branda claridade. Teve a impressão nítida de que
recebia a v isita do Senhor. Genuflexo, experimentando indizível comoção, ouviu uma
advertência serena e carinhosa:
—Não temas — dizia a voz —, prossegue ensinando a verdade e não te cales, porque estou
contigo.
O Apóstolo deu curso às lágrimas que lhe fluíam do coração. Aquele cuidado amoroso de
Jesus, aquela exortação em resposta ao seu apelo, penetravam-lhe a alma em ondas
cariciosas. A alegria do momento dava para compensar todas as dores e padecimentos do
caminho. Desejoso de aproveitar a sagrada inspiração do momento que fugia, pensou nas
dificuldades para atender às várias igrejas fraternas. Tanto bastou para que a voz dulcíssima
continuasse:
—Não te atormentes com as necessidades do serviço. É natural que não possas assistir
pessoalmente a todos, ao mesmo tempo. Mas é possível a todos satisfazeres,
simultaneamente, pelos poderes do espírito.
Procurou atinar com o sentido justo da frase, mas teve dificuldade de o conseguir.
Entretanto, a voz prosseguia com brandura:
- Poderás resolver o problema escrevendo a todos os irmãos em meu nome; os de boa-
vontade saberão compreender, porque o valor da tarefa não está na presença pessoal do
missionário, mas no conteúdo espiritual do seu verbo, da sua exemplificação e da sua
vida.
Doravante, Estevão permanecerá mais conchegado a ti, transmitindo-te meus pensamentos, e
o trabalho de evangelização poderá ampliar-se em benefício dos sofrimentos e das
necessidades do mundo.
O dedicado amigo dos gentios viu que a luz se extinguira; o silêncio voltara a reinar entre as
paredes singelas da igreja de Corinto; mas, como se houvera sorvido a água divina das
claridades eternas, conservava o Espírito mergulhado em júbilo intraduzível. Recome çaria o
labor com mais afinco, mandaria às comunidades mais distantes as notícias do Cristo. (...)
Assim começou o movimento dessas cartas imortais, cuja essência espiritual provinha
da esfera do Cristo, através da contribuição amorosa de Estevão — companheiro
abnegado e fiel daquele que se havia arvorado, na mocidade, em primeiro perseguidor do
Cristianismo.
Percebendo o elevado espírito de cooperação de todas as obras divinas, Paulo de Tarso
nunca procurava escrever só; buscava cercar-se, no momento, dos companheiros mais
dignos, socorria-se de suas inspirações, consciente de que o mensageiro de Jesus,
quando não encontrasse no seu tono sentimental as possibilidades precisas para
transmitir os desejos do Senhor, teria nos amigos instrumentos adequados.”

4 – Motivo e finalidade

Segundo Brown: “Fundamentalmente é uma exposição da justiça e do amor de Deus, que realiza a
justificação e santificação do homem, o processo da vida cristã que o homem deve iniciar com um ato
de fe. Este evangelho é o poder de Deus para salvar o homem »(Rom 1,16). En Gal, pelo contrario,
Paulo escrive uma carta polêmica, prevenindo as igrejas da Galacia contra o erro dos judaizantes.
Põe em evidência a nova liberdade outorgada pelo Cristo; O rechaço da Lei e a circuncisão ocupam
o lugar principal em sua mente.”

Paulo respondia uma carta ou várias cartas, não sabemos, e em suas palavras ele demonstrava
preocupação com o rumo que alguns assuntos estavam tomando dentro deste grupo, ao ponto de
desvirtuar a essência do próprio evangelho.

O tema parece-nos tão atual , afinal, qual o rumo que o cristianismo tem tomado no mundo¿ Qual o
rumo que o espiritismo está tomando¿ Será que se a carta fosse de Kardec para os espíritas teria
advertências similares¿

Estas e outras são indagações que faremos ao texto, a fim de nos atentarmos aos erros que são tão
humanos e dos quais não estamos isentos, mesmo decorridos 2000 anos.
Abordaremos, também, a interpretação que se deu a alguns trechos desta carta buscando, através do
contexto histórico uma abordagem um pouco diferente da encontrada em muito livros, notoriamente
evangélicos, que compreendem ser a fé a única fonte de salvação do homem, a dita teoria da graça.
Com alegria, sabe-se que já muitos autores, mesmo dentre os evangélicos, com honestidade, nos
oferecem uma nova perspectiva, reconhecendo que Paulo estava enfrentando os costumes judaizantes,
e não afirmando a fé como única salvadora, sem a transformação moral do homem.

Lutero escreveu um livro comentando a Carta aos Gálatas e, como reformador, interpretou-se seu
texto como uma afirmação da teoria da graça, não obstante, já no início do seu livro encontra-se os
dizeres: “Pois quem aprecia a graça de Deus faz o que agrada a Deus.”, palavras dele não
nossas e que corroboram o que tentamos questionar, será que ele foi interpretado
corretamente¿

5. Conteúdo

Brown nos oferece um esquema da Carta aos Gálatas e, não obstante estar em espanhol, nos
auxilia a olharmos a carta como um todo, para, mediante a visão geral, estarmos aptos a
iniciar os estudos.

VI. Contenido. El esquema de la carta a los Gálatas es el siguiente:


I. Introducción (1,1-9)
A) Fórmula introductoria (praescriptio) (1,1-5)
B) Asombro (1,6-7) y anatema (1,8-9)
II. Parte I (1,10-2,21), personal e histórica: Pablo defiende su evangelio
A) El evangelio de Pablo no es de origen humano, sino divino (1,10-24)
B) El evangelio de Pablo aprobado por los responsables de Jerusalén
(2,1-10)
C) El evangelio de Pablo puso de manifiesto la falta de consecuencia de
Pedro en Antioquía (2,11-14)
D) Pablo resume su evangelio (2,15-21)
I I I . Parte II (3,1-4,31), escriturística: la fe, y no la Ley, salva al hombre en el
plan divino
A) El reino de la fe (3,1-28)
B) El reino de la libertad cristiana (3,29-4,20)
C) La alegoría de Sara y Agar ilustra esta libertad (4,21-31)
IV. Parte III (5,1-6,10), exhortatoria: conservad esa libertad en Cristo
A) Advertencia para que no pierdan la libertad en Cristo (5,1-12)
B) Instrucciones sobre el recto uso de la libertad cristiana (5,13-6,10)
V. Conclusión (6,11-18). Epílogo y «firma» de Pablo

Encerramos, assim, estas notas introdutórias que nos permitem olhar para a Carta aos Gálatas
dentro de um contexto histórico e com uma visão geral, imbuídos em aprender com
Emmanuel e com os cristãos que se debruçaram sobre este textos tão valiosos.

Que Jesus nos auxilie e os bons espíritos nos conduzam.

Campo Grande – MS, maio de 2019.

Candice Gunther
Estudo das Cartas de Paulo sob as luzes da doutrina espírita

Pela psicografia de Chico Xavier, Emmanuel nos deixou um legado de comentários aos versículos do
novo testamento, reunidos em diversos livros. Através da tecnologia, hoje, acessamos com maior
facilidade estas lições, em especial no site Bíblia do Caminho, temos a disponibilidade da obra
organizada por tema, por livro bíblico, possibilitando, assim, diversas formas de estudo.

Depois de termos estuda os romances de Emmanuel, com grande ênfase para o livro Paulo e
Estevão, decidimos nos debruçar sobre as Cartas de Paulo, iniciando pela I Carta aos Coríntios.
Estudo já finalizado e disponível para download gratuito.

Quando realizamos o estudo da I Carta aos Coríntios com Emmanuel tivemos ao longo do ano de
estudo muitas surpresas com os dizeres de Paulo, quanta espiritualidade e quanta conexão com os
postulados espíritas.

Esta semana, preparando a palestra semanal que realizamos, deparamo-nos com o texto do Cardeal
Morlot, uma comunicação ao grupo espírita de Paris, em 1863, apenas um ano após ter
desencarnado, nos fala desta ligação das cartas de Paulo com o Espiritismo.

“Para nós os livros santos são celeiros inesgotáveis, e o grande apóstolo Paulo, que outrora tanto
contribuiu para o estabelecimento do Cristianismo, por sua poderosa predicação, vos deixou
monumentos escritos que servirão, não menos energicamente, à expansão do Espiritismo.

“Não ignoro que os vossos adversários religiosos invocam seu testemunho contra vós, mas isto não
impede que o ilustre iluminado de Damasco seja por vós e esteja convosco, ficai bem convencidos.

“O sopro que corre nas suas epístolas; a santa inspiração que anima os seus ensinos, longe de ser
hostil à vossa doutrina, está, ao contrário, cheio de singulares previsões em vista do que acontece
hoje. É assim que, na sua primeira epístola aos Coríntios, ele ensina que sem a caridade não existe
nenhum homem, ainda que fosse santo, ainda que fosse profeta e transportasse montanhas, que se
possa gabar de ser um verdadeiro discípulo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como os espíritas, e antes
dos espíritas, foi ele o primeiro a proclamar esta máxima que vos constitui uma glória: Fora da
caridade não há salvação!

“Mas não é apenas por este lado que ele se liga à doutrina que nós vos ensinamos e que hoje
propagais. Com aquela aguda inteligência que lhe era própria, ele havia previsto o que Deus
reservava para o futuro e, notadamente, esta transformação, esta regeneração da fé cristã que sois
chamados a assentar profundamente no espírito moderno, porquanto ele descreve, na citada epístola,
e de maneira indiscutível, as principais faculdades mediúnicas, que ele denomina: os dons
abençoados do Espírito Santo.

“Ah, meus filhos! Aquele santo doutor contempla com uma indissimulável amargura, o grau de
aviltamento em que caiu a maior parte daqueles que falam em seu nome e proclamam, urbi et
orbi, que outrora Deus deu à Terra toda a soma de verdades que ela era capaz de receber.

“Entretanto, o apóstolo tinha exclamado que em sua época não havia mais que uma uma ciência e
profecias imperfeitas. Ora, aquele que se lastimava de tal situação sabia, por isto mesmo, que essa
ciência e essas profecias um dia se aperfeiçoariam. Não está aí a condenação absoluta de todos os
que condenam o progresso? Não está aí o mais rude golpe para aqueles que pretendem que o Cristo
e os apóstolos, os Pais da Igreja e sobretudo os reverendos casuístas da Companhia de Jesus, teriam
dado à Terra toda a ciência religiosa e filosófica à qual ela tinha direito? Felizmente o próprio
apóstolo teve o cuidado de desmenti-los antecipadamente.
FRANÇOIS-NICOLAS MADEILEINE

E prossegue Kardec comentando estes sábios dizeres:

A esta notável comunicação juntaremos as seguintes palavras de São Paulo, tiradas da primeira
epístola aos Coríntios:

“Mas alguém me dirá: Como ressuscitarão os mortos, e qual será o corpo no qual eles voltarão?

“─ Como sois insensatos! Não percebeis que o que semeias não germina se primeiro não morre? E
quando semeais, não semeais o corpo da planta que há de nascer, mas apenas o grão, como o do
trigo ou de qualquer outra coisa. Depois disso, Deus lhe dá um corpo como lhe apraz, e dá a cada
semente o corpo que é próprio a cada planta.

“Nem toda carne é a mesma carne, mas uma é a carne dos homens, e outra a carne dos animais;
outra a das aves e outra a dos peixes.

“Também há corpos celestes e corpos terrestres, mas os corpos celestes têm um brilho diferente dos
corpos terrestres.

“O Sol tem seu brilho, diferente da claridade da lua, assim como o brilho da Lua difere do brilho das
estrelas, e entre as estrelas, uma é mais brilhante do que a outra.

“Assim será na ressurreição dos mortos. O corpo, como uma semente, está agora na Terra, pleno de
corrupção, e ressuscitará incorruptível. Ele é posto na Terra todo disforme, mas ressuscitará
glorioso. Ele é posto na Terra privado de movimento, mas ressuscitará em pleno vigor. Ele é posto na
Terra como um corpo animal, mas ressuscitará como um corpo espiritual. Como há um corpo
animal, também há um corpo espiritual.
“Eu quero dizer, meus irmãos, que a carne e o sangue não podem possuir o reino de Deus, e que a
corrupção não possuirá essa herança incorruptível. (São Paulo, 1ª Epístola aos Coríntios, Cap. XV,
versículos 35 a 44 e 50).

O que pode ser esse corpo espiritual, que não é o corpo animal, senão o corpo fluídico, cuja
existência é demonstrada pelo Espiritismo, o perispírito, de que a alma é revestida após a morte?
Com a morte do corpo, o Espírito entra em confusão; por um instante perde a consciência de si
mesmo, depois recupera o uso de suas faculdades e renasce para a vida inteligente. Numa
palavra, ele ressuscita com o seu corpo espiritual.

O último parágrafo, relativo ao juízo final, contradiz positivamente a doutrina da ressurreição da


carne, pois diz: “A carne e o sangue não podem possuir o reino de Deus.” Assim, os mortos não
ressuscitarão com sua carne e seu sangue, e não necessitarão reunir seus ossos dispersos, mas terão
seu corpo celeste, que não é o corpo animal.

Se o autor do Catéchisme philosophique (Catecismo filosófico, do Pe. Feller, tomo III, pg. 83) tivesse
meditado bem o sentido destas palavras, teria evitado fazer o notável cálculo matemático a que se
entregou para provar que todos os homens mortos desde Adão, ressuscitando em carne e osso, com
seus próprios corpos, poderiam caber perfeitamente no Vale de Josafá, sem muito incômodo.

Assim, São Paulo estabeleceu em princípio e em teoria o que hoje ensina o Espiritismo sobre o estado
do homem após a morte.

Mas São Paulo não foi o único a pressentir as verdades ensinadas pelo Espiritismo. A Bíblia, os
Evangelhos, os apóstolos e os Pais da Igreja dele estão cheios, de sorte que condenar o Espiritismo é
negar as próprias autoridades sobre as quais se apoia a religião. Atribuir todos os seus ensinamentos
ao demônio é lançar o mesmo anátema sobre a maioria dos autores sacros.

Assim, o Espiritismo não vem destruir, mas, ao contrário, restabelecer todas as coisas, isto é, restituir
a cada coisa o seu verdadeiro sentido.

Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1863 > Dezembro > São Paulo, precursor do
Espiritismo

Parece-nos que estes fortes argumentos de Kardec reforçam em nós o ensejo de estudar as Cartas
deixadas por Paulo aos cristãos dos primeiros tempos a fim de que seu profundo olhar e discernimento
nos alcançam e nos ensinam. Assim como Emmanuel, pelas mãos laborosas de Chico Xavier, deixou-
nos preciosos comentários sobre versículos e trechos destas cartas, instigando-nos a buscar o espírito
da letra, que eleva e vivifica.

Resta-nos, então, prosseguir em nossa jornada de estudo, abraçando outra carta de Paulo para novo
estudo.

Este texto, assim, além de nos fazer refletir é para anunciar que iremos iniciar o estudo da Carta aos
Gálatas com Emmanuel, rogando ao bom Jesus que nos conduza, ilumine e fortaleça para a jornada
que se inicia.

Como outrora, iremos compartilhar nossas singelas reflexões, esperando que lhes seja útil de alguma
forma.
Um fraterno abraço.

Candice
Texto para análise

Cap. 1:1-5

1Paulo, apóstolo — não da parte dos homens nem por intermédio de um homem, mas por Jesus Cristo
e Deus Pai que o ressuscitou dentre os mortos — 2e todos os irmãos que estão comigo, às Igrejas da
Galácia. 3Graça e paz a vós da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo, 4que se entregou a
si mesmo pelos nossos pecados a fim de nos livrar do presente mundo mau, segundo a vontade do
nosso Deus e Pai, 5ª quem a glória pelos séculos dos séculos! Amém.

Paulo apresenta-se como apóstolo e afirma que este título não lhe foi dado por nenhum homem, mas
por Jesus.

Nos tempos de Paulo o apóstolo era a figura que tinha autoridade para falar de Jesus, em geral, apenas
os 12 que com ele conviveram assim o eram chamados, no entanto, Paulo atribui a si mesmo este
título com um propósito.

Conhecemos Paulo o suficiente para saber que não era a vaidade do título que o movia a fazer tal
afirmação, mas ele necessitava apresentar-se com autoridade diante das pessoas que ensinava, não a
autoridade costumeira dos homens que se assenta no poder e na vaidade, mas a autoridade moral, que
chama para si o exemplo do que está dizendo.

Compreendemos melhor o que significa apóstolo com este texto de Emmanuel, no livro Fonte Viva.

Fonte viva — Emmanuel

Apóstolos

“Porque tenho para mim que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte;
pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens.” — PAULO (1 Coríntios, 4.9)
O apóstolo é o educador por excelência. Nele residem a improvisação de trabalho e o sacrifício de si
mesmo para que a mente dos discípulos se transforme e se ilumine, rumo à esfera superior.

O legislador formula decretos que determinam o equilíbrio e a justiça na zona externa do campo
social.

O administrador dispõe dos recursos materiais e humanos, acionando a máquina dos serviços
terrestres.

O sacerdote ensina ao povo as maneiras da fé, em manifestações primárias.

O artista embeleza o caminho da inteligência, acordando o coração para as mensagens edificantes


que o mundo encerra em seu conteúdo de espiritualidade.

O cientista surpreende as realidades da Sabedoria Divina criadas para a evolução da criatura e


revela-lhes a expressão visível ou perceptível ao conhecimento popular.

O pensador interroga, sondando os fenômenos passageiros.

O médico socorre a carne enfermiça.

O guerreiro disciplina a multidão e estabelece a ordem.

O operário é o ativo menestrel das formas, aperfeiçoando os vasos destinados à preservação da


vida.

Os apóstolos, porém, são os condutores do Espírito.

Em todas as grandes causas da Humanidade, são instituições vivas do exemplo revelador,


respirando no mundo das causas e dos efeitos, oferecendo em si mesmos a essência do que
ensinam, a verdade que demonstram e a claridade que acendem ao redor dos outros.

Interferem na elaboração dos pensamentos dos sábios e dos ignorantes, dos ricos e dos pobres, dos
grandes e dos humildes, renovando-lhes o modo de crer e de ser, a fim de que o mundo se
engrandeça e se santifique.

Neles surge a equação dos fatos e das ideias, de que se constituem pioneiros ou defensores, através
da doação total de si próprios a benefício de todos.

Por isso, passam na Terra trabalhando e lutando, sofrendo e crescendo sem descanso, com etapas
numerosas pelas cruzes da incompreensão e da dor.

Representando, em si, o fermento espiritual que leveda a massa do progresso e do aprimoramento,


transitam no mundo, conforme a definição de Paulo de Tarso, como se estivessem colocados pela
Providência Divina nos últimos lugares da experiência humana, à maneira de condenados a
incessante sofrimento, pois neles estão condensadas a demonstração positiva do bem para o
mundo, a possibilidade de atuação para os Espíritos Superiores e a fonte de benefícios imperecíveis
para a Humanidade inteira.
Eis, então, a causa de Paulo apresentar-se como apóstolo do Cristo, nas palavras de Emmanuel,
oferecia em si mesmo a essência do que ensinava, e o mundo se engrandeceu e se engrandece com os
ensinos deixados por Paulo, não apenas suas palavras, mas, essencialmente, pela sua vida.

Diante deste mais amplo conceito, onde o apóstolo ultrapassa um título temporal e material, para ser
outorgado a quem detenha estas qualidades, verificamos que ao longo da história poucos,
pouquíssimos homens puderam ser assim chamados.

Há um texto belíssimo de Emmanuel que fala do Apóstolo Kardec, que em sua essência de professor
trouxe ao mundo uma doutrina libertadora e consoladora.

O Mestre e o apóstolo

Luminosa, a coerência entre o Cristo e o Apóstolo que lhe restaurou a palavra.

Jesus, o Mestre.

Kardec, o Professor.

Jesus refere-se a Deus, junto da fé sem obras.

Kardec fala de Deus, rente às obras sem fé.

Jesus é combatido, desde a primeira hora do Evangelho, pelos que se acomodam na sombra.

Kardec é impugnado desde o primeiro dia do Espiritismo, pelos que fogem da luz.

Jesus caminha sem convenções.

Kardec age sem preconceitos.

Jesus exige coragem de atitudes.

Kardec reclama independência mental.

Jesus convida ao amor.

Kardec impele à caridade.

Jesus consola a multidão.

Kardec esclarece o povo.

Jesus acorda o sentimento.

Kardec desperta a razão.

Jesus constrói.

Kardec consolida.

Jesus revela.

Kardec descortina.
Jesus propõe.

Kardec expõe.

Jesus lança as bases do Cristianismo, entre fenômenos mediúnicos.

Kardec recebe os princípios da Doutrina Espírita, através da mediunidade.

Jesus afirma que é preciso nascer de novo.

Kardec explica a reencarnação.

Jesus reporta-se a outras moradas.

Kardec menciona outros mundos.

Jesus espera que a verdade emancipe os homens; ensina que a justiça atribui a cada um pela
próprias obras e anuncia que o Criador será adorado, na Terra, em espírito.

Kardec esculpe na consciência as leis do Universo.

Em suma, diante do acesso aos mais altos valores da vida, Jesus e Kardec estão perfeitamente
conjugados pela Sabedoria Divina.

Jesus, a porta.

Kardec, a chave.

Ampliando nossos horizontes em relação a esta simples palavra, percebendo o seu profundo valor e o
quanto Paulo dedicou-se pelo evangelho na vida dos que o cercavam, prossigamos com o texto.

Afirma Paulo em sua saudação inicial “Graça e paz a vós da parte de Deus nosso Pai e do Senhor
Jesus Cristo...”

A vinda do Cristo ao mundo trouxe-nos uma oportunidade de um novo viver ao aderirmos aos seus
postulados de amor e perdão, nisto reside a nossa salvação. Não apenas um ato de fé, mas uma adesão
integral aos ensinos deixados pelo Mestre, razão e sentimentos unidos para que um novo homem se
faça presente, em constante evolução e melhoria.

Para alguns o termo “graça”, representa literalmente gratuidade, como algo que recebemos e temos
apenas que aceitar. Assim, a salvação seria apenas um ato de aceitação, de recebimento.

No entanto, sob a luz da doutrina espírita somos chamados a avançar neste conceito, recebendo com
alegria e gratidão o amor de Jesus por nós e a misericórdia divina que permitiu que ele viesse a nós
para exemplificar o caminho.

Vejamos a questão 999 do Livro dos Espíritos:

999. Basta o arrependimento sincero durante a vida para que as faltas do Espírito se apaguem e ele
ache graça diante de Deus?
“O arrependimento concorre para a melhoria do Espírito, mas ele tem que expiar o seu passado.”

a) – Se, diante disto, um criminoso dissesse que, cumprindo-lhe, em todo caso, expiar o seu passado,
nenhuma necessidade tem de se arrepender, que é o que daí lhe resultaria?

“Tornar-se mais longa e mais penosa a sua expiação, desde que ele se torne obstinado no mal.”

Deus nos permitiu o livre-arbítrio e, também, nos tornou responsáveis pelo nosso agir e nosso pensar,
assim, o mal que causamos fica em nossa “conta” e necessitará ser reparado no momento oportuno,
ainda que depois de muitas vidas.

Vejamos o comentário de Barclay sobre a palavra graça utilizada por Paulo em sua saudação:

“Deseja-lhes graça. Na palavra graça se encerram duas idéias principais. A primeira é a de


beleza pura. A palavra grega caris significa graça no sentido teológico, embora retendo sempre o
sentido de beleza e encanto. E mesmo quando usada em teologia a idéia de encanto jamais fica de
lado. Se a vida cristã possui graça deverá ser algo belo. Com muita freqüência existe a bondade sem
encanto e o encanto sem bondade. A obra da graça está na união da bondade e do encanto. A
segunda idéia é a de uma generosidade pura, imerecida. Trata-se de um dom que o homem jamais
mereceu nem pôde haver ganho, e que recebe da bondade pródiga e do amor do coração de Deus.
Trata-se de uma palavra que contém todo o amor de Deus. Quando Paulo pede graça para seus
amigos é como se dissesse: "Que a beleza maravilhosa do amor imerecido de Deus esteja em vós a
fim de que torne amáveis suas vidas também". (Comentário Carta aos Gálatas – Wiliam Barclay).

Quando nos sentimos amados, estamos aptos a amar. A criança que foi abandonada e nunca se sentiu
amada terá sérios problemas ao longo da vida. Eis o que Paulo estava desejando, sintam-se amados
por Deus para estarem aptos ao amor, amar e ser amado, eis o profundo sentido da palavra graça.

Algo que recebemos, mesmo que imerecidamente, e que alcança nosso mais íntimo e profundo
sentido de vida, repercutindo em nosso mundo interior de tal forma que queremos espalhar essa
alegria e essa boa nova que agora habita em nós.

Barclay também comenta sobre a paz que Paulo oferece aos Gálatas em sua saudação.

“O apóstolo lhes deseja paz. Paulo era judeu, e a palavra hebraica shalom deve ter estado presente
em sua mente quando escrevia o termo grego eirene. Agora, shalom significa muito mais que a mera
ausência de tribulação. Significa tudo aquilo que é para o bem supremo do homem: tudo aquilo que
torna pura sua mente, resolvida sua vontade e prazeroso seu coração. É esse sentido do amor e do
cuidado de Deus que, ainda que o corpo seja torturado, mantém o coração do homem em paz e
alegria.” (Comentário Carta aos Gálatas – Wiliam Barclay).

Encerrando este trecho inicial, temos Paulo dizendo: “Senhor Jesus Cristo, 4que se entregou a si
mesmo pelos nossos pecados a fim de nos livrar do presente mundo mau, segundo a vontade do nosso
Deus e Pai, 5 a quem a glória pelos séculos dos séculos! Amém.”

Jesus viveu de acordo com os postulados de amor e caridade que pregava, não deixou nenhuma
palavra escrita, porém, sua vida trouxe à humanidade um novo tempo.
O pecado não é apenas a atitude do homem que erra, mas é, também, a atitude do homem que
desconhece, que é ignorante e que necessita evoluir, aprender um novo proceder.

Jesus não condena a nenhum homem por seus erros, ensina-os a andar livremente, assim, ele nos salva
dos nossos pecados, não por um perdão oferecido gratuitamente e que não nos modifica, mas pelo
exemplo de vida, morte e ressurreição.

Nâo foi apenas na cruz que Jesus lavou nossos pecados, ele o fez com sua vida, com seu exemplo,
com sua luz.

Andávamos nas trevas da ignorância, perpetuando ciclos de ódio e vingança, e eis o amor oferecido
como novo paradigma para romper definitivamente estes ciclos que não nos permitiam evoluir.

Deus o envia como seu mensageiro, como o único ser que caminhou pela Terra e que possui perfeita
harmonia com a vontade do nosso Pai Celestial. Eis Jesus, nosso modelo e guia, nosso norte, nosso
caminho, nossa verdade e nossa vida, salvando-nos das sombras da ignorância para nos conduzir à luz
do entendimento do amor.

Certa feita foi perguntado a Chico Xavier sobre a salvação, com sua sábia resposta, encerramos o
estudo de hoje.

“Há tempos uma senhora nos procurou e alegou que o esposo não tinha religião, que era um homem
reto e bom, mas na condição de companheira dele ela sentia falta da religião no marido e pedia ao
nosso Emmanuel que se externasse com respeito ao assunto, já que ela desejava fosse o marido
portador da fé cristã. Então disse o nosso Emmanuel que a Providência Divina tem pressa de que o
homem seja bom, mas acreditar, isso fica para quando o homem possa realizar em si mesmo o campo
da sua própria fé. Deus é pai de misericórdia. Não deserda filho algum e nós precisamos adaptar a
nossa fé cristã às dimensões do mundo de hoje, em que nós todos nos aceitamos como filhos de Deus,
para termos uma vida de respeito recíproco. Temos as nossas ideias dispares, os nossos pontos-de-
vista diferentes, mas no fundo somos todos filhos de Deus e o conceito de salvação, também, sem
qualquer ofensa aos nossos pontos-de-vista tradicionais em religião, o conceito de salvação sofre no
mundo de hoje uma certa diferença. Quando nós dizemos: O navio foi salvo. Foi socorrido e foi
salvo. A casa foi salva do incêndio pelo Corpo de Bombeiros. A casa foi salva para ser novamente
habitada. O navio foi salvo para trabalhar. A salvação quer dizer reequilíbrio, reestruturação da
nossa vida em Cristo Jesus, para que nós possamos servir a Cristo, servindo-nos uns aos outros.
Agora, o Senhor naturalmente que não tem os pensamentos de crítica nem de vingança contra nós,
quando nós não possamos ter uma fé. Se nós nos amarmos nós teremos realizado o prodígio da
felicidade humana, com a benção dele. E amando-nos nós vamos descobri-lo em nós mesmos.”

(Chico Xavier, dos hippies aos problemas do mundo — Entrevistas — Emmanuel)

Um fraterno abraço e até o próximo estudo.

Campo Grande – MS, junho de 2019.

Candice Günther
Carta aos Gálatas com Emmanuel

Estudo 02

Texto para análise

6Admiro-me que tão depressa abandoneis aquele que vos chamou pela graça de Cristo, e
passeis a outro evangelho.7Não que haja outro, mas há alguns que vos estão perturbando e
querendo corromper o Evangelho de Cristo. 8Entretanto, se alguém — ainda que nós mesmos
ou um anjo do céu — vos anunciar um evangelho diferente do que vos anunciamos, seja
anátema. 9Como já vo-lo dissemos, volto a dizê-lo agora: se alguém vos anunciar um
evangelho diferente do que recebestes, seja anátema. 10É porventura o favor dos homens que
agora eu busco, ou o favor de Deus? Ou procuro agradar aos homens? Se eu quisesse ainda
agradar aos homens, não seria servo de Cristo.
Carta aos Gálatas 1:6-10

Paulo alertava à comunidade cristã dos primeiros tempos sobre os desenganos e os perigos de
desvirtuar o evangelho. Deixou-lhes sementes e reparou que, não obstante o crescimento,
haviam ervas daninhas em meio a planta do Evangelho que crescia entre eles.

Ao longo dos séculos verificou-se, tantas e tantas vezes, o homem corrompendo o Evangelho
de Cristo e, ainda hoje, buscamos o compreender sem, no entanto, encontrar na Terra quem o
represente com fidedignidade.

Até mesmo a doutrina espírita, enviada como o consolador prometido, enfrenta sérios
problemas e riscos que podem ensejar nesta perturbação da qual Paulo se admira e que,
talvez, se Kardec escrevesse uma carta aos espíritas contivesse teor parecido.
A vida nova que Cristo nos oferece requer de nós uma mudança íntima, profunda e nem de
longe fácil. O seu Evangelho distancia-se dos holofotes e das multidões e pede passagem em
nosso mundo íntimo mais profundo, em nossas dores milenárias e prontifica-se a trabalhar a
nossa cura se com ele mantivermos um estreito relacionamento.

Permitir que a semente do Evangelho germine em nossas vidas requer um grande esforço e
quando sentimos estas dificuldades da renovação pelo amor e pelo perdão, nos perdemos em
subterfúgios, cultos exteriores, tentando mostrar ao mundo que somos bons, sem contudo o
sermos.

Barclay comenta este trecho:

“Depois dele tinham aparecido alguns que pregavam uma versão judia do cristianismo. Estes
declaravam que se a pessoa queria agradar a Deus, acima de tudo devia ser circuncidado; e depois
devia procurar dedicar sua vida inteira ao cumprimento de todas as regras e prescrições da Lei. Cada
vez que alguém levava a cabo uma obra da Lei — diziam — isso lhe era anotado no crédito de sua
conta com Deus. Ensinavam a necessidade de que o homem ganhasse por si mesmo o amor e o favor
de Deus. Para Paulo isto era absolutamente impossível.

Agora, seus adversários declaravam que o apóstolo estava tornando muito fácil a religião com a
intenção de ganhar o favor dos homens e congraçar-se com eles. Esta afirmação era precisamente o
contrário da verdade. De toda maneira, se a religião consistir em receber a circuncisão e em cumprir
uma série de regras e prescrições, é possível, ao menos em teoria, satisfazer suas exigências. Mas
advirta-se que Paulo diz enquanto mantém no alto a cruz: "Deus os amou desta maneira". E assim a
religião já não é questão de satisfazer as exigências da Lei mas sim de enfrentar-se com as
obrigações do amor. O homem pode satisfazer as exigências da Lei porque esta tem limites legais e
estatutários; mas jamais poderá satisfazer as exigências do amor porque, se fosse capaz de entregar
à pessoa amada o Sol, a Lua e as estrelas, ficaria, entretanto, com a sensação de que sua entrega era
muito pequena. Mas tudo o que os adversários judeus podiam ver era que Paulo declarava que a
circuncisão já não era necessária e que a Lei em diante não tinha importância.” (Comentário a
Galatas – Wiliam Barclay)

Jesus sabia que viriam ao mundo os enganadores, ditos falsos profetas, que desvirtuariam seus
ensinos e deixou a recomendação aos seus discípulos para que reconhecessem a boa árvore por
seus frutos.

É pelo exemplo em nossa vida pessoal que referendamos o quanto Cristo já adentrou em nossos
corações, é em nossa vida diária e cotidiana que iremos demonstrar os princípios que já fomos
capazes de assimilar e o amor que já temos a oferecer.

Há quem ache que a palavra pode ser a grande propulsora da divulgação do cristianismo, seja a
palavra falada ou escrita, no entanto, a lição nos adverte que é preciso viver para estar apto a
ensinar.

Kardec deixou-nos sábios comentários sobre estas questões no Evangelho Segundo o Espiritismo ao
tratar sobre os falsos profetas no capítulo XXI. Vejamos um pequeno trecho, comentário do espírito
Erasto, que foi aprendiz de Paulo:
1. Desconfiai dos falsos profetas. É útil em todos os tempos essa recomendação, mas, sobretudo, nos
momentos de transição em que, como no atual, se elabora uma transformação da Humanidade,
porque, então, uma multidão de ambiciosos e intrigantes se arvoram em reformadores e Messias. É
contra esses impostores que se deve estar em guarda, correndo a todo homem honesto o dever de os
desmascarar. Perguntareis, sem dúvida, como reconhecê-los. Aqui tendes o que os assinala:

Somente a um hábil general, capaz de o dirigir, se confia o comando de um exército. Julgais que Deus
seja menos prudente do que os homens? Ficai certos de que só confia missões importantes aos que
ele sabe capazes de as cumprir, porquanto as grandes missões são fardos pesados que esmagariam o
homem carente de forças para carregá-los. Em todas as coisas, o mestre há de sempre saber mais do
que o discípulo; para fazer que a Humanidade avance moralmente e intelectualmente, são precisos
homens superiores em inteligência e em moralidade. Por isso, para essas missões são sempre
escolhidos Espíritos já adiantados, que fizeram suas provas noutras existências, visto que, se não
fossem superiores ao meio em que têm de atuar, nula lhes resultaria a ação.

Isto posto, haveis de concluir que o verdadeiro missionário de Deus tem de justificar, pela sua
superioridade, pelas suas virtudes, pela grandeza, pelo resultado e pela influência moralizadora de
suas obras, a missão de que se diz portador. Tirai também esta outra consequência: se, pelo seu
caráter, pelas suas virtudes, pela sua inteligência, ele se mostra abaixo do papel com que se
apresente, ou da personagem sob cujo nome se coloca, mais não é do que um histrião de baixo
estofo, que nem sequer sabe imitar o modelo que escolheu.

Outra consideração: os verdadeiros missionários de Deus ignoram-se a si mesmos, em sua maior


parte; desempenham a missão a que foram chamados pela força do gênio que possuem, secundado
pelo poder oculto que os inspira e dirige a seu mau grado, mas sem desígnio premeditado. Numa
palavra: os verdadeiros profetas se revelam por seus atos, são adivinhados, ao passo que os falsos
profetas se dão, eles próprios, como enviados de Deus. O primeiro é humilde e modesto; o
segundo, orgulhoso e cheio de si, fala com altivez e, como todos os mendazes, parece sempre
temeroso de que não lhe deem crédito.

Alguns desses impostores têm havido, pretendendo passar por apóstolos do Cristo, outros pelo
próprio Cristo, e, para vergonha da Humanidade, hão encontrado pessoas assaz crédulas que lhes
creem nas torpezas. Entretanto, uma ponderação bem simples seria bastante a abrir os olhos do
mais cego, a de que se o Cristo reencarnasse na Terra, viria com todo o seu poder e todas as suas
virtudes, a menos se admitisse, o que fora absurdo, que houvesse degenerado. Ora, do mesmo modo
que, se tirardes a Deus um só de seus atributos, já não tereis Deus, se tirardes uma só de suas
virtudes ao Cristo, já não mais o tereis. Possuem todas as suas virtudes os que se dão como sendo o
Cristo? Essa a questão. Observai-os, perscrutai-lhes as ideias e os atos e reconhecereis que, acima
de tudo, lhes faltam as qualidades distintivas do Cristo: a humildade e a caridade, sobejando-lhes
as que o Cristo não tinha: a cupidez e o orgulho. Notai, ao demais, que neste momento há, em
vários países, muitos pretensos Cristos, como há muitos pretensos Elias, muitos S. João ou S. Pedro e
que não é absolutamente possível sejam verdadeiros todos. Tende como certo que são apenas
criaturas que exploram a credulidade dos outros e acham cômodo viver à custa dos que lhes prestam
ouvidos.

Desconfiai, pois, dos falsos profetas, máxima numa época de renovação, qual a presente, porque
muitos impostores se dirão enviados de Deus. Eles procuram satisfazer na Terra à sua vaidade; mas
uma terrível justiça os espera, podeis estar certos. – Erasto. (Paris, 1862.) (O Evangelho segundo o
Espiritismo > Capítulo XXI - Haverá falsos cristos e falsos profetas > Instruções dos Espíritos >
Caracteres do verdadeiro profeta)
O espiritismo será para a humanidade o que nós dele fizermos, não depende de nós, mas espera de
nós a colaboração para que se expanda através de nossos exemplos, de nossa vida. Tarefa árdua,
difícil para aqueles que ainda se reconhecem pequeninos, pessoas que erram e que, não obstante a
busca em melhorar-se, percebem em si mesmos as imperfeições e fragilidades humanas.

Eu, de minha parte, me incluo neste grupo e, não obstante fazer o uso da palavra na divulgação da
doutrina espírita, reconheço que a cada dia sou convidada a viver o que aprendo nestas singelas
reflexões. Sou assim, a necessitada aprendiz que longe de poder algo ensinar, busca aprender com
Paulo, Emmanuel e, sobretudo, com Jesus, para ir, pouco a pouco, tornando-me uma pessoa melhor.

Não estamos aqui para agradar aos homens, para virarmos celebridades que são festejadas e
aplaudidas, Paulo o diz com todas as letras: “É porventura o favor dos homens que agora eu
busco, ou o favor de Deus? Ou procuro agradar aos homens? Se eu quisesse ainda
agradar aos homens, não seria servo de Cristo.”

Emmanuel comenta este trecho.

Pão nosso — Emmanuel

O problema de agradar

“Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo do Cristo.” — PAULO (Gálatas, 1.10)

Os sinceros discípulos do Evangelho devem estar muito preocupados com os deveres próprios e
com a aprovação isolada e tranquila da consciência, nos trabalhos que foram chamados a
executar, cada dia, aprendendo a prescindir das opiniões desarrazoadas do mundo.

A multidão não saberá dispensar carinho e admiração senão àqueles que lhe satisfazem as
exigências e caprichos; nos conflitos que lhe assinalam a marcha, o aprendiz fiel de Jesus será um
trabalhador diferente que, em seus impulsos instintivos, ela não poderá compreender.

Muita inexperiência e invigilância revelará o mensageiro da Boa Nova que manifeste inquietude,
com relação aos pareceres do mundo a seu respeito; quando se encontre na prosperidade material,
em que o Mestre lhe confere mais rigorosa mordomia, muitos vizinhos lhe perguntarão, maliciosos,
pela causa dos êxitos sucessivos em que se envolve, e, quando penetra o campo da pobreza e da
dificuldade, o povo lhe atribui as experiências difíceis a supostas defecções ante as sublimes ideias
esposadas.

É indispensável trabalhar para os homens, como quem sabe que a obra integral pertence a Jesus-
Cristo. O mundo compreenderá o esforço do servidor sincero, mas, em outra oportunidade, quando
lho permita a ascensão evolutiva.

Em muitas ocasiões, os pareceres populares equivalem à gritaria das assembleias infantis, que não
toleram os educadores mais altamente inspirados, nas linhas de ordem e elevação, trabalho e
aproveitamento.

Que o sincero trabalhador do Cristo, portanto, saiba operar sem a preocupação com os juízos
errôneos das criaturas. Jesus o conhece e isto basta.
Caminhemos com Jesus, queridos amigos, na simplicidade de nossas vidas diárias, buscando
florescer onde estamos. Vivamos a cada dia buscando a melhoria e a reforma íntima, sabendo que
Jesus nos guia e nos ilumina.

Cuidemos do Evangelho como quem guarda um tesouro de valor inestimável, asseguremos que sua
doutrina de luz tenha eco em nossas vidas e em nossos corações e que um dia possamos cumprir o
que Jesus disse aos seus discípulos, que um dia sejamos reconhecidos pelo muito que amamos.

Que a graça do Deus Pai, no belo sentido oferecido por Barclay, de amar e ser amado, nos
acompanhe.

Um fraterno abraço e até o próximo estudo.

Campo Grande – MS, junho de 2019.

Candice Günther.
Carta aos Gálatas com Emmanuel

Texto para análise

11Com efeito, eu vos faço saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o
homem, 12pois eu não o recebi nem aprendi de algum homem, mas por revelação de Jesus Cristo.
13Ouvistes certamente da minha conduta de outrora no judaísmo, de como perseguia sobremaneira e
devastava a Igreja de Deus 14e como progredia no judaísmo mais do que muitos compatriotas da
minha idade, distinguindo- me no zelo pelas tradições paternas. 15Quando, porém, aquele que me
separou desde o seio materno e me chamou por sua graça, houve por bem 16revelar em mim o seu
Filho, para que eu o evangelizasse entre os gentios, não consultei carne nem sangue, 17nem subi a
Jerusalém aos que eram apóstolos antes de mim, mas fui à Arábia, e voltei novamente a Damasco.
18Em seguida, após três anos, subi a Jerusalém para avistar-me com Cefas e fiquei com ele quinze
dias. 19Não vi nenhum apóstolo, mas somente Tiago, o irmão do Senhor. 20Isto vos escrevo e vos
asseguro diante de Deus que não minto. 21Em seguida, fui às regiões da Síria e da Cilícia. 22De
modo que, pessoalmente, eu era desconhecido às Igrejas da Judéia que estão em Cristo. 23Apenas
ouviam dizer: quem outrora nos perseguia agora evangeliza a fé que antes devastava, 24e por minha
causa glorificavam a Deus.
Carta aos Gálatas 1:11-24

Paulo foi um grande evangelizador, a sua história de vida nos mostra um homem que, diante de uma
experiência com o Cristo, tornou-se um novo homem, como ele mesmo diz, uma nova criatura em
Cristo.

E é justamente sobre esta transformação moral que ele fala aos Gálatas, apresentando-se com
autoridade moral para falar do Cristo. Ele não entrava nas comunidades apenas com o verbo, ele
oferecia a eles o seu coração, mostrando em sua vida o trabalho que o Cristo quer realizar na vida de
todos nós.
Tivemos a oportunidade de estudar o livro Paulo e Estevão e nele há uma possibilidade de comparar o
Saulo com o Paulo, o homem velho com o novo homem. Diante da perspectiva literária do
paralelismo, encontramos o perfil de Saulo no capítulo 4 da primeira parte e o perfil do novo homem,
Paulo, no capítulo 4 da segunda parte.

Vejamos um trecho:

SAULO – Cap. 4 (1ª parte) PAULO – Cap.4 (2ª parte)


(...) fisionomia cheia de virilidade e másculaTransformado em rude operário, Saulo de
beleza, os traços israelitas fixavam-se Tarso apresentava notável
particularmente nos olhos profundos e diferença fisionômica. Acentuara-se-lhe a
percucientes, próprios dos temperamentos feição de asceta. Os olhos, contudo,
apaixonados e indomáveis, ricos de agudeza denunciando o homem ponderado e
e resolução. resoluto, revelavam igualmente uma paz
profunda e indefinível.
—Mas como estás modificado!... Um carro à Compreendendo que a situação não lhe
romana, a conversação em permitia idealizar grandes projetos
grego e...Saulo, porém, não o deixou de trabalho, contentava-se em fazer o que
prosseguir e rematou: fosse possível.
—E no coração a Lei, sempre desejoso
de submeter Roma e Atenas aos
nossos princípios.
além de auferir atualmente ótima Orgulhava-se, quase, de viver do modesto
remuneração, independente da contribuição rendimento do seu árduo labor. Vezes várias,
que me vem de Tarso ele próprio atravessava as praças mais
periodicamente. frequentadas, carregando pesados fardos de
pelo caprino.
—Por isso mesmo, talvez — glosou Saulo —, Ele, por sua vez, vivia tranquilo e satisfeito.
ensinou-me a profissão, Levantava-se, todos os
quando menino, para que nunca me dias, procurando amar a tudo e a todos; para
esquecesse de que o progresso de um prosseguir nos caminhos retos,
homem depende do seu próprio esforço. trabalhava ativamente. (...)
Com ele tecia tapetes complicados, barracas e
tendas, exercitando-se na paciência
indispensável aos trabalhos outros que ainda o
esperavam nas encruzilhadas da vida.
— Mas os doentes? Onde ficam Saulo havia aprendido a esperar na
essesdoentes? —interrogou Saulo comunidade, preferia os labores mais
assombrado. simples. Sentia-se bem, atendendo aos
— Todos se agasalham junto desses homens doentes numerosos.
incompreensíveis.
— Estão todos malucos!
—Pois bem; depois de amanhã iremos juntos Saulo de Tarso limitava-se a cooperar. Ele
apreciar os sandeus. Caso mesmo notara que Jesus, por certo,
verifique o caráter inofensivo dos seus recomendara absoluto recomeço em suas
ensinamentos, haverá que os deixar em experiências. Certa feita, fez o possível por
paz com a sua logomania, ao lado das mazelas conduzir as pregações gerais, mas nada
do próximo; mas, caso conseguiu. A palavra, tão fácil noutros
contrário, pagarão muito caro a audácia de tempos, parecia retrair-se-lhe na garganta.
ofender nossos códigos religiosos, na própria Compreendeu que era justo padecer as
metrópole do judaísmo. torturas do reinício, em virtude da
oportunidade que não soubera valorizar.
Em geral, olhamos para Paulo e nos admiramos e o enaltecemos como um grande homem, que
ergueu-se de seus erros e seguiu em frente.

O convite, porém, é que tenhamos a coragem de ir um pouco além, permitindo que a admiração se
transforme em inspiração. Este é o convite que ele dirige ao povo da Galácia e a todos nós, que lemos
este trecho.

O seu exemplo de vida segue e atravessa os séculos como uma carta viva do Evangelho de Jesus.

Quando Paulo afirma que não recebeu o Evangelho de nenhum homem, mas por revelação divina, em
Cristo Jesus, ele nos está oferecendo algo novo, algo que o Pai Celestial trouxe ao seu coração e que
ele quer repartir conosco. Sentiu-se amado e, em decorrência desta experiência, sentiu, também, um
profundo amor por todos os que o cercavam.

Há quem ande na contramão e busque o amor dos pares a fim de sentir-se amado. Este caminho é
perigoso e tem promovido grandes quedas ao longo dos séculos, nele caminham a vaidade e o
orgulho.

O caminho que Paulo nos noticia é de alguém que teve um experiência verdadeira consigo mesmo,
uma profunda reflexão de sua conduta diante do mundo e diante de si mesmo e, constatando seus
equívocos, permite que Cristo o auxilie para um novo caminhar, cheio de pedras, dores e amarguras,
no entanto, pleno de amor e consolação, paz e esperança.

Qual a nossa experiência com o Cristo¿ Reconheço a transformação moral operando em minha vida a
cada dia, tornando-me uma pessoa melhor¿

Barclay fala um pouco sobre este texto:

“Cada homem é uma idéia de Deus; para cada homem Deus tem um plano; Deus envia a cada
homem ao mundo para desempenhar uma parte de seu propósito e desígnio. Pode ser uma parte
pequena como uma parte notável. Pode tratar-se de algo que todo mundo chegue a conhecer como de
algo que só chegue ao círculo dos mais amealhados.
Epicteto (2:16) diz-nos: "Tenha o ânimo de elevar seu olhar a Deus e exclamar: Desde agora em
diante me trate como quer. Sou um contigo, sou teu; não me amedronto perante nada enquanto você
pense que é bom. me conduza aonde queira; me revista da indumentária que queira. Quer me manter
na acusação ou me afastar dele, que fique quieto ou fuja, que seja rico ou pobre? Por tudo isto te
defenderei diante dos homens". Se um filósofo pagão pôde dar-se assim plenamente a um Deus ao
que conhecia tão vagamente, quanto mais nós!” (Comentário à Carta aos Gálatas – Wiliam Barclay)

Somos criaturas únicas e fantásticas, cheias de potencialidades, amorosamente criadas por Deus para
interagirmos no mundo da forma que escolhermos.

Esta autoridade que Paulo noticia para trazer ao mundo o Evangelho decorre de percepção de si
mesmo e da vontade de Deus em sua vida, da sua missão na Terra como homem.

Cada um de nós tem algo a realizar. Estamos cientes de nossa tarefa¿

Nem sempre temos a clareza que Paulo tem. Muitos não sabem o que fazer e como fazer e isto jamais
deve servir de obstáculo ao trabalho no bem, pois, como diz André Luiz, quando o trabalhador está
pronto a tarefa aparece.
Importante observar que o chamado se estende a muitos, a todos nós, cabe um quinhão de serviço na
Terra, serviço no bem. Poucos, porém, se tornam aptos a realizar a tarefa. Jesus o disse, quando esteve
entre nós, muitos são os chamados, poucos os escolhidos.

Emmanuel nos oferece preciosa reflexão sobre chamados e escolhidos.

Chamados e escolhidos

Estejamos convictos de que ainda nos achamos a longa distância do convívio com os eleitos da Vida
Celeste; entretanto, pelo chamamento da fé viva que hoje nos traz ao conhecimento superior,
guardemos a certeza de que já somos os escolhidos:

para a regeneração de nós mesmos;

para o cultivo sistemático diário e intensivo do bem;

para o esquecimento de todas as faltas do próximo, de modo a recapitular com rigor as nossas
próprias imperfeições, redimindo-as;

para o perdão incondicional, em todas as circunstâncias da vida;

para a atividade infatigável na confraternização verdadeira;

para auxiliar aos que erram;

para ensinar aos mais ignorantes que nós mesmos;

para suportar o sacrifício, no amparo aos que sofrem sem a graça da fé renovadora que já nos
robustece o espírito;

para servir, além de nossas próprias obrigações, sem direito à recompensa;

para compreender os nossos irmãos de jornada evolutiva, sem exigir que nos entendam;

para apagar as fogueiras da maledicência e do ódio, da discórdia e da incompreensão, ao preço de


nossa própria renúncia;

para estender a caridade sem ruído, como quem sabe que ajudar aos outros é enriquecer a própria
existência;

para persistir nas boas obras sem reclamações e sem desfalecimentos, em todos os ângulos do
caminho;

para negar a nossa antiga vaidade e tomar, sobre os próprios ombros, cada dia, a cruz abençoada e
redentora de nossos deveres, marchando, com humildade e alegria, ao encontro da vida sublime…

A indicação honrosa nos felicita.

Nossa presença nos estudos do Evangelho expressa o apelo que flui do Céu no rumo de nossas
consciências.

Chamados para a luz e escolhidos para o trabalho. Eis a nossa posição real nas bênçãos do “hoje”. E
se quisermos aceitar a escolha com que fomos distinguidos, estejamos certos igualmente de que em
breve “amanhã” comungaremos felizes com o nosso Mestre e Senhor.
(Reformador, outubro de 1956, página 232)

Todos dias podemos escolher a vida com Jesus, levando-o em nossos corações como o exemplo maior
de amor e caridade que a Terra conheceu. Somos todos tarefeiros do bem, cada um representa uma
peça deste intrincado motor que move a humanidade. Cada peça importa, cada falha repercute.

Que Paulo nos inspire, que sua vida nos seja exemplo de conduta e de perseverança e que saibamos
nos perdoar e seguir em frente, permitindo que o amor de Deus nos alcance e, assim, sentindo este
profundo Amor que rege o mundo, saberemos o que Paulo experimentou em sua vida e o sentiremos
também.

Cada passo de Paulo demonstra sua experiência com Jesus e sua vida iluminou-se, não tornou-se
chama intensa de uma vez, mas aos poucos, ao longo da vida, assim, se hoje sentimo-nos chama
pequenina, trabalhemos para que a luz do Mestre nos alcance e possamos elevar-nos, deixando que
brilha a nossa luz.

Encerramos com o comentário de Emmanuel.

Vinha de luz — Emmanuel

Brilhe vossa luz

Meu amigo, no vasto caminho da Terra, cada criatura procura o alimento espiritual que lhe
corresponde à posição evolutiva.

A abelha suga a flor, o abutre reclama despojos, o homem busca emoções. Mas ainda mesmo no
terreno das emoções, cada Espírito exige tipos especiais.

Há sofredores inveterados que outra coisa não demandam além do sofrimento, pessimistas que se
enclausuram em nuvens negras, atendendo a propósito deliberado, durante séculos. Suprem a mente
de torturas contínuas e não pretendem construir senão a piedade alheia, sob a qual se comprazem.

Temos os ironistas e caçadores de gargalhadas que apenas solicitam motivos para o sarcasmo de que
se alimentam.

Observamos os discutidores que devoram páginas respeitáveis, com o único objetivo de recolher
contradições para sustentarem polêmicas infindáveis.

Reparamos os temperamentos enfermiços que sorvem tóxicos intelectuais, através de livros menos
dignos, com a incompreensível alegria de quem traga envenenado licor.

Nos variados climas do mundo, há quem se nutra de tristeza, de insulamento, de prazer barato, de
revolta, de conflitos, de cálculos, de aflições, de mentiras…

O discípulo de Jesus, porém — aquele homem que já se entediou das substâncias deterioradas da
experiência transitória —, pede a luz da sabedoria, a fim de aprender a semear o amor em companhia
do Mestre…
Para os companheiros que esperam a vida renovada em Cristo, famintos de claridade eterna, foram
escritas as páginas deste livro despretensioso.

Dentro dele, não há palavras de revelação sibilina.

Traduz, simplesmente, um esforço para que nos integremos no Evangelho, celeiro divino do nosso
pão de imortalidade.

Não é exortação, nem profecia. É apenas convite.

Convite ao trabalho santificante, planificado no Código do Amor Divino.

Se a candeia ilumina, queimando o próprio óleo, se a lâmpada resplende, consumindo a energia que a
usina lhe fornece, ofereçamos a instrumentalidade de nossa vida aos imperativos da perfeição, para
que o ensinamento do Senhor se revele, por nosso intermédio, aclarando a senda de nossos
semelhantes.

O Evangelho é o Sol da Imortalidade que o Espiritismo reflete, com sabedoria, para a atualidade do
mundo.

Brilhe vossa luz! — proclamou o Mestre. Procuremos brilhar! — repetimos nós.

Um fraterno abraço e até o próximo estudo.

Campo Grande – MS, junho de 2019.

Candice Günther
Carta aos Gálatas com Emmanuel

Assembléia de Jerusalém

Texto para análise

1Em seguida, quatorze anos mais tarde, subi novamente a Jerusalém com Barnabé, tendo
tomado comigo também Tito. 2Subi em virtude de uma revelação e expus-lhes — em forma
reservada aos notáveis — o evangelho que prego entre os gentios, a fim de não correr, nem
ter corrido em vão. 3Ora, nem Tito, que estava comigo, e que era grego, foi obrigado a
circuncidar-se. 4Mas por causa dos intrusos, esses falsos irmãos que se infiltraram para espiar
a liberdade que temos em Cristo Jesus, a fim de nos reduzir à escravidão, 5aos quais não
cedemos sequer um instante, por deferência, para que a verdade do evangelho fosse
preservada para vós... 6E por parte dos que eram tidos por notáveis — o que na realidade eles
fossem não me interessa; Deus não faz acepção de pessoas — de qualquer forma, os notáveis
nada me acrescentaram.7Pelo contrário, vendo que a mim fora confiado o evangelho dos
incircuncisos como a Pedro o dos circuncisos — 8pois aquele que estava operando em
Pedro para a missão dos circuncisos operou também em mim em favor dos gentios — 9e
conhecendo a graça em mim concedida, Tiago, Cefas e João, os notáveis tidos como
colunas, estenderam-nos a mão, a mim e a Barnabé, em sinal de comunhão: nós
pregaríamos aos gentios e eles para a Circuncisão. 10Nós só nos devíamos lembrar dos
pobres, o que, aliás, tenho procurado fazer com solicitude. Cap. 2:1-10

Se você já esteve absolutamente certo sobre uma questão e a teve que defender diante de
pessoas que, também, sentiam-se absolutamente certas sobre o que estavam dizendo, será
capaz de compreender este texto de Paulo e mais que isso, terá uma oportunidade, ou melhor,
teremos juntos, uma rica oportunidade de refletir sobre a forma como nos posicionamos
diante de nossas certezas.

Havia um impasse na comunidade cristã primitiva em relação a necessidade de uma pessoa


ser circuncidada ou não, quando se tornava cristã. Para os judeus tratava-se de um costume e
já nos primeiros dias era feita a circuncisão. Porém, para os gentios isso não era praticado
nem era considerando em seus costumes e em sua forma de relacionar-se com Deus.

No cap. 5 do livro Paulo e Estevão temos o relato deste impasse na comunidade de


Antioquia: “as lutas da circuncisão estavam acesas; divididos pelas afirmativas dogmáticas;
vozes do Espírito Santo não mais se manifestavam; discussões estéreis e venenosas;
Tentando estabelecer a harmonia geral em torno dos ensinamentos do Divino Mestre, Paulo
tomava inutilmente a palavra, explicando que o Evangelho era livre e que a circuncisão era,
tão somente, uma característica convencional da intolerância judaica.”

Temos, então, a primeira reflexão que este texto nos oferece. Quando temos uma idéia
contrária a alguém, precisamos compreender a sua perspectiva, entender suas razões e, com
muito respeito ao outro e ao seu entendimento, oferecermos a nossa idéia.

A circuncisão era algo importante para os judeus, um costume que representava sua aliança
com Deus, um sinal externo de algo muito profundo e interno. Trata-se de um símbolo que
até hoje permanece entre o povo judeu.

J.D. Douglas nos esclarece: “a circuncisão simbolizada a purificação, indispensável para a


comunhão com Deus, comunhão essa que era a benção central da aliança.”

Paulo era acusava não apenas de afastar-se deste costume e da Lei de Moisés, mas para
alguns, ao romper com esta tradição, ele afastava-se, também, de Deus.

Esta era a perspectiva dos judeus em relação a este culto exterior.

Pensemos, agora, qual era a motivação de Paulo. Quais os motivos que ensejaram reuniões
em Antioquia e em Jerusalém¿ Porque isto lhe parecia tão importante ao ponto de provocar
discussões apaixonadas até mesmo com a possibilidade de um rompimento na comunidade
primitiva¿

O versículo 4 nos oferece um caminho: “4Mas por causa dos intrusos, esses falsos irmãos que
se infiltraram para espiar a liberdade que temos em Cristo Jesus, a fim de nos reduzir à
escravidão, 5aos quais não cedemos sequer um instante, por deferência, para que a verdade
do evangelho fosse preservada para vós.”

Algumas idéias nos parecem inofensivas, no entanto, em sua essência elas desvirtuam o
Evangelho deixado por Jesus, e o ato da circuncisão era uma destas circunstâncias. A
essência do que Paulo nos diz é que os atos exteriores não podem referendar nosso
relacionamento com Deus, apenas nosso mundo íntimo e o reflexo disto em nossas ações.

Emmanuel, na lição 107 do livro Caminho, Verdade e Vida, nos trás valorosa reflexão:
“Afirma Jesus que o Reino de Deus não vem com aparência exterior. É sempre ruinosa a
preocupação por demonstrar pompas e números vaidosamente, nos grupos da fé. Expressões
transitórias de poder humano não atestam o Reino de Deus. A realização divina começará
do íntimo das criaturas, constituindo gloriosa luz do templo interno. Não surge à comum
apreciação, porque a maioria dos homens transitam semicegos, através do túnel da carne,
sepultando os erros do passado culposo.”

O livro dos espíritos, questão 793, quando Kardec pergunta aos espíritos “por que indícios se
pode reconhecer uma civilização completa”, nos oferta, também, ensino importante:
“Reconhecê-la-eis pelo desenvolvimento moral. Credes que estais muito adiantados, porque
tendes feito grandes descobertas e obtidas maravilhosas invenções; porque vos alojais e
vestis melhor do que os selvagens. Todavia, não tereis verdadeiramente o direito de dizer-vos
civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes banido os vícios que a desonram e
quando viverdes, como irmãos, praticando a caridade cristã. Até então, sereis apenas povos
esclarecidos, que hão percorrido a primeira fase da civilização.”

No livro Paulo e Estevão, Emmanuel nos oferece relatos de quanto esta questão foi relevante
para a comunidade primitiva, informando, inclusive que houve um risco muito grande de uma
ruptura que seria catastrófica para a cristianismo que nascia entre nós.

Em meio as discussões acaloradas de Paulo e Tiago, houve a humildade de Pedro que soube
manter-se firme nos princípios que o Mestre lhe ensinara, de acima de qualquer razão, manter
a caridade.

“A atitude ponderada de Simão Pedro salvara a igreja nascente. Considerando os esforços


de Paulo e de Tiago, no seu justo valor, evitara o escândalo e o tumulto no recinto do
santuário. À custa de sua abnegação fraternal, o incidente passou quase inapercebido na
história da cristandade primitiva, e nem mesmo a referência leve de Paulo na epístola aos
Gálatas, a despeito da forma rígida, expressional do tempo, pode dar ideia do perigo
iminente de escândalo que pairou sobre a instituição cristã, naquele dia memorável.”
(Trecho do livro Paulo e Estevão)

A lição nos alcança e precisamos refletir sobre questões que hoje defendemos de forma
apaixonada e que podem nos distanciar do Evangelho de Jesus.

Defender um ponto de vista é importante e oportuno, mas respeitar quem de nós discorda é de
igual importância. Permitir que o outro, a seu tempo, aprenda e descubra a verdade, assim
como nós, ouvirmos e tentarmos compreender perspectivas e pontos de vista, parece ser um
caminho razoável, tão bem ensinado por Pedro.

Até mesmo Paulo, decorridos muitos anos depois destas discussões, mais maduro, consegue
compreender a perspectiva de Tiago, que defendia a circuncisão.

Recordemos a fala de Tiago:


“Sim, Paulo, compreendo tua justa aversão. O Sinédrio, com isso, pretende achincalhar
nossas convicções. Sei que a tortura na praça pública te doeria menos; entretanto, supões
que isso não represente, para mim uma dor de muitos anos?... Acreditarias, acaso, que
minhas atitudes nascessem de um fanatismo inconsciente e criminoso? Compreendi, muito
cedo, desde a primeira perseguição, que a tarefa de harmonização da igreja, com os judeus,
estava mais particularmente em minhas mãos. Como sabes, o farisaísmo sempre viveu numa
exuberante ostentação de hipocrisia; mas, con venhamos, também, que é o partido
dominante, tradicio nal, das nossas autoridades religiosas. Desde o primeiro dia, tenho sido
obrigado a caminhar com os fariseus muitas milhas para conseguir alguma coisa na
manutenção da igreja do Cristo. Fingimento? Não julgues tal. Muitas vezes o Mestre nos
ensinou, na Galiléia, que o melhor testemunho está em morrer devagarinho, diariamente,
pela vitória da sua causa; por isso mesmo, afiançava que Deus não deseja a morte do
pecador, porque é na extinção de nossos caprichos de cada dia que encontramos a escada
luminosa para ascender ao seu infinito amor. A atenção que tenho dedicado aos judeus é
gêmea do carinho que consagras aos gentios. A cada um de nós confiou Jesus uma tarefa
diferente na forma, mas idêntica no fundo. Se muitas vezes tenho provocado falsas
interpretações das minhas atitudes, tudo isso é mágoa para meu Espírito habituado à
simplicidade do ambiente galileu. De que nos valeria o conflito destruidor, quando temos
grandiosos deveres a cuidar? Importa-nos saber morrer, para que nossas idéias se
transmitam e floresçam nos outros. As lutas pessoais, ao contrário, estiolam as melhores
esperanças. Criar separações e proclamar seus prejuízos, dentro da igreja do Cristo, não
seria exterminarmos a planta sagrada do Evangelho por nossas próprias mãos?” (Trecho
do livro Paulo e Estevão)

E eis a magnífica compreensão que Paulo alcança:

“O convertido de Damasco entreviu o filho de Alfeu por um novo prisma. Seus cabelos
grisalhos, o rugoso e macilento rosto, falavam de trabalhos árduos e incessantes. Agora,
percebia que a vida exige mais compreensão que conhecimento. Presumia conhecer o
Apóstolo galileu com o seu cabedal psicológico, e, no entanto, chegava à conclusão de que
apenas naquele instante pudera compreendê-lo no título que lhe competia.” (Trecho do livro
Paulo e Estevão)

Vivemos em tempos controvertidos, em que verdades são disseminadas com muita paixão,
usando até mesmo o Cristo como justificativa para atitudes de imposição de ideias e
argumentos questionáveis.

O que realmente nos é importante nesta vida¿

Quantas brigas já presenciamos por motivos vários, seja a política, a crença religiosa, a forma
de exercer a sua fé e sua comunhão com Deus, até mesmo a forma como se aplica o passe em
casas espíritas é motivo de discussões, reuniões e brigas, sendo que o assunto, aliás, todos os
assuntos, poderiam ser tratados com maior maturidade, usando sempre do respeito e da
caridade para conciliar e não disputar.

A vida exige mais compreensão que conhecimento, palavras de Paulo que precisamos,
definitivamente, trazer para a nossa vida cotidiana.

Emmanuel comenta o versículo 8 do capítulo 2 da Carta aos Gálatas e é com seu texto que
encerramos o estudo de hoje.
Pão nosso — Emmanuel

O Cristo operante

“Porque aquele que o gerou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão, esse
operou também em mim com eficácia para com os gentios.” — PAULO (Gálatas, 2.8)

A vaidade humana sempre guardou a pretensão de manter o Cristo nos círculos do


sectarismo religioso, mas Jesus prossegue operando em toda parte onde medre o princípio
do bem.

Dentro de todas as linhas de evolução terrestre, entre santuários e academias, movimentam-


se os adventícios inquietos, os falsos crentes e os fanáticos infelizes que acendem a fogueira
da opinião e sustentam-na. Entre eles, todavia, surgem os homens da fé viva, que se
convertem nos sagrados veículos de Cristo operante.

Simão Pedro centralizou todos os trabalhos do Evangelho nascente, reajustando aspirações


do povo escolhido.

Paulo de Tarso foi poderoso ímã para a renovação da gentilidade.

Através de ambos expressava-se o mesmo Mestre, com um só objetivo — o aperfeiçoamento


do homem para o Reino Divino.

É tempo de reconhecer-se a luz dessas eternas verdades.

Jesus permanece trabalhando e sua bondade infinita se revela em todos os setores em que o
amor esteja erguido à conta de supremo ideal.

Ninguém se prenda ao domínio das queixas injustas, encarando os discípulos sinceros e


devotados por detentores de privilégios divinos. Cada aprendiz se esforce por criar no
coração a atmosfera propícia às manifestações do Senhor e de seus emissários. Trabalha,
estuda, serve e ajuda sempre, em busca das Esferas superiores, e sentirás o Cristo operante
ao teu lado, nas relações de cada dia.

Que sejamos trabalhadores ativos no bem e no amor, respeitando o livre arbítrio dos que nos
cercam, permitindo-nos não compactuar com o que discordamos sem ofender quem quer que
seja. Recordemos a oração de Francisco de Assis:

“Ó mestre, fazei que eu procure mais consolar do que ser consolado


Compreender do que ser compreendido
Amar que ser amado...”

Só assim seremos instrumentos de paz.

Um fraterno abraço e até o próximo estudo.

Campo Grande-MS, junho de 2019.


Candice Günther
Carta aos Gálatas com Emmanuel

Texto para Análise

Pedro e Paulo em Antioquia — 11Mas quando Cefas veio a Antioquia, eu o enfrentei


abertamente, porque ele se tinha tornado digno de censura.12Com efeito, antes de
chegarem alguns vindos da parte de Tiago, ele comia com os gentios, mas, quando
chegaram, ele se subtraía e andava retraído, com medo dos circuncisos. 13Os outros
judeus começaram também a fingir junto com ele, a tal ponto que até Barnabé se deixou
levar pela sua hipocrisia. 14Mas quando vi que não andavam retamente segundo a
verdade do evangelho, eu disse a Pedro diante de todos: se tu, sendo judeu, vives à
maneira dos gentios e não dos judeus, por que forças os gentios a viverem como judeus?

Cap. 2:11-14

Qual a diferença entre prudência e covardia¿ Aguardemos quanto a este questionamento.

Vemos neste trecho da carta aos Gálatas que, para Paulo, Pedro estava se esquivando de uma
responsabilidade, estava agindo de forma incorreta e o confrontou diante de uma assembleia,
apontando a sua incorreção.

O livro Paulo e Estevão nos dá o relato deste acontecimento:

“A comunidade antioquiana regozijava -se. Os gentios não ocultavam o júbilo que lhes ia
nalma. O gene roso Apóstolo a todos visitava pessoalmente, sem distinção ou preferência.
Antepunha sempre um bom sorriso às apreensões dos amigos que receavam a alimentação
“impura” e costumava perguntar onde estavam as substâncias que não fossem
abençoadas por Deus. Paulo acompanhava -lhe os passos sem dissimular íntima satisfação.
Num louvável esforço de congraçamento, o Apóstolo dos gentios fazia questão de levá-lo a
todos os lugares onde houvesse irmãos perturbados pelas idéias da circuncisão obrigatória.
Estabeleceu -se, rapidamente, notável movimento de confiança e uniformidade de opinião.
Todos os confrades exultavam de contentamento. Eis, porém, que chegam de Jerusalém três
emissários de Tiago. Trazem cartas para Simão, que os recebe com muitas demonstrações de
estima. Daí por diante, modifica-se o ambiente. O ex-pescador de Cafarnaum, tão dado à
simplicidade e à independência em Cristo Jesus, retrai-se imediatamente. Não mais atende
aos convites dos incircuncisos. As festividades íntimas e carinhosas, organizadas em sua
honra, já não contam com a sua presença alegre e amiga. Na igreja, modificou as mínimas
atitudes. Sempre em companhia dos mensageiros de Jerusalém, que nunca o deixavam,
parecia austero e triste, jamais se referindo à liberdade que o Evangelho outorgara à
consciência humana. Paulo observou a transformação, tomado de profundo desgosto. Para o
seu espírito habituado, de modo irrestrito, à liberdade de opinião, o fato era chocante e
doloroso.” (trecho do livro Paulo e Estevão)
Além da circuncisão, outro ponto era controverso entre judeus e gentios: a questão da
alimentação.

Para os judeus, alguns alimentos eram impuros e não deveriam ser consumidos, e este
costume havia se entranhado no cristianismo primitivo. No entanto, para os gentios, tais
regras não faziam sentido, não era seu costume nem compreendiam que o alimento lhes
maculava a alma ou a fé.

Parecia que Pedro também não se importava com o alimento, conforme vemos no livro Paulo
e Estevão: “Antepunha sempre um bom sorriso às apreensões dos amigos que receavam
a alimentação “impura” e costumava perguntar onde estavam as substâncias que não
fossem abençoadas por Deus.”

No entanto, quando chegaram os judeus, vindo de Jerusalém, Pedro retrai-se e muda sua
postura.

Barclay nos auxilia a compreender o contexto história em que tal fato se dá:

“Na Igreja primitiva uma parte da vida era a comida em comum que chamavam agape:
festa do amor. Toda a comunidade se congregava nesta festa para desfrutar de uma comida
para o qual todos contribuíam com o que tinham. Para muitos que eram escravos devia
tratar-se da única comida decente da semana; e de uma maneira muito especial assinalava o
companheirismo e a participação comunitária dos cristãos.
À primeira vista, isto parece algo encantado. Mas devemos lembrar o rígido
exclusivismo do judeu curto de idéias. A rigidez do judeu fazia considerar seu povo como o
escolhido e em tal medida que implicava o rechaço das outras nações. (...) Este exclusivismo
era parte da vida diária. Um judeu rígido até tinha proibido negociar com um pagão; não
podia viajar com ele; não podia lhe brindar hospitalidade nem aceitar sua hospitalidade. Em
Antioquia pois, surgiu um problema tremendo. Sendo assim as coisas, podiam judeus e
pagãos sentar-se juntos numa comida comunitária? Se tinham que observar as leis e
costumes antigos, era completamente impossível.
Pedro chegou a Antioquía e, esquecendo em princípio os tabus antigos pela glória da nova
fé, participou das comidas comunitárias com judeus e gentios. Mas então chegaram alguns
de Jerusalém pertencentes ao partido judeu. Invocavam o nome de Tiago ainda que com toda
segurança não representavam as opiniões do apóstolo. Estes influíram tanto sobre Pedro que
conseguiram separá-lo das comidas em comum. Os outros judeus se retiraram junto com ele
e finalmente o próprio Barnabé participou desta separação. Foi então quando Paulo falou
com toda a força de que era capaz sua natureza apaixonada. Ele via certos pontos com
clareza meridiana.” (Comentário à Carta aos Gálatas – William Barclay).

A questão, então, se apresenta mais complexa que num primeiro momento. O costume de um
povo estava interferindo na forma como outros povos deveriam se portar, o culto externo
estava se sobrepondo ao que realmente importa que é a fé, o amor e a caridade.

Questão antiga, no entanto, atualíssima, eis que fala do homem e de seus desenganos.
Talvez tenhamos na postura de Paulo o norte para nos guiar, achando que o confronto, a
exposição do erro é sempre a melhor saída. Sem dúvida, Paulo agiu conforme seu coração e
se não tivesse reagido ao erro, o cristianismo teria em sucumbido a essas demonstrações
exteriores.

Consideremos, no entanto, que a postura de Pedro não pode simplesmente ser tratada como
equivocada. Ele tinha suas razões para temer um escândalo diante da Igreja de Jerusalém, e
ao recuar, buscada evitar maiores contendas.

Paulo e Pedro, tinham suas razões de agir, seus motivos e suas justificativas. E não iremos
entrar na seara do certo e do errado, mas olharemos a ambos como aprendizes do Evangelho
sabendo que ora deveremos usar toda a nossa energia para defender um ponto de vista e
outras tantas vezes, deveremos silenciar, evitando maiores conflitos e dores.

Eis o que significa a palavra prudência, Emmanuel nos auxilia nesta questão.

Livro Companheiro — Emmanuel (psicografia de Chico Xavier)

Na visão do mundo

Não diga que o mundo é perverso, quando é justamente do chão do mundo que se recolhe a
bênção do pão.

O charco é uma queixa da gleba contra o descaso do lavrador.

Compara a Terra à uma universidade e notarás que todo Espírito encarnado é um aluno em
formação.

Aquilo que plantares nos corações alheios é o que colherás nas manifestações dos outros.

Quem aplique lentes enfumaçadas nos olhos, não notará senão tristeza onde o mundo está
ostentando as cores da esperança e da alegria.

A existência para cada um de nós é o que estivermos fazendo.

Cada pessoa vê no mundo a própria imagem.

A melhor crítica é aquela que se expressa mostrando como se deve fazer.

A utilidade é a força real que assegura a situação de cada um.

A proteção mais segura que possas desfrutar é a de teu próprio serviço.

Não perguntes além do necessário, para que os teus encargos não surjam atrasados.

De quando a quando, para efeito de valorização do tempo, relaciona quantas palavras terás
pronunciado, no transcurso do dia, sem qualquer significação para o bem.
A sabedoria da vida te colocou no lugar onde possas aprender com eficiência e servir
melhor.

Quando alguém condena o mundo, é porque se sente condenado em si mesmo.

O trabalho que executes é a tua certidão de identidade do ponto de vista espiritual.

Faze e terás certamente aquilo que esperas seja feito.

O que estiveres realizando para os outros é justamente o que estás realizando por ti mesmo.

As leis do mundo não se enganam: o que deres de ti, ser-te-á dado.

A Terra é a nossa escola benemérita: lembra-te de que o relógio não para.”

Importante se faz trazermos a lição para a nossa vida cotidiana.

Conhecemos o Evangelho e desejamos que o mundo o conheça para que possamos viver em
paz. A lição, porém, requer de nós o testemunho pessoal e, por isso, ainda é tão difícil para o
mundo reconhecer no Evangelho do Cristo a salvação para suas vidas: não somos o reflexo
fidedigno dos seus ensinamentos.

Ao longo dos séculos, em nossas diversas vidas, modificamos os ensinos deixados por Jesus,
esquecendo-nos dos postulados maiores que são o amor a Deus e ao próximo. Nada está
acima do amor, e apenas quando pautarmos nossas vidas desta forma, seremos o exemplo que
arrasta, a vida que inspira.

É fácil falar, belos discursos são proferidos há milênios, no entanto, é a vida que referenda a
palavra e neste quesitos, poucos são os homens que podem usar a sua vida como exemplo de
transformação moral operada pelo Evangelho.

Paulo foi um exemplo e Pedro também. Ambos deixaram-se transformar, reconhecendo,


porém, com humildade, suas falhas e desenganos.

A verdade é algo que ainda está distante de nós, ante a nossa imperfeição. No entanto,
quantos não usam as vestes de que sabem, de que o que dizem é verdadeiro e deixam de ouvir
opiniões diversas¿ Como aprender se já sabem tudo¿ Como discernir se estão sempre certos¿

Paulo chamou Pedro para o confronto e este, com toda humildade, apenas lhe pediu perdão e
seguiu em frente, sem contendas, sem justificativas.

São posturas de vida que muito nos ensinam e nos inspiram a buscar um melhor viver. Saber
a hora de agir e a hora de silenciar é um grande desafio, mas se nossas intenções estiverem
alicerçadas nos postulados do Cristo, de amor e paz, saberemos como agir.

Presenciamos, hoje, com grande tristeza, muitas brigas e disputas dentro do movimento
espírita. A lição de Paulo e Pedro, no entanto, nos convida à conciliarmos nossas idéias, não
atribuindo a fatos exteriores a importância que promova dissenções, o momento requer
paciência, amor, compaixão. Sigamos com Jesus.

Encerramos com o texto de Emmanuel que trata desta postura diante do “suposto” erro
alheio.

Fonte viva — Emmanuel

Busquemos o melhor

“Por que reparas o argueiro no olho de teu irmão?” — JESUS (Mateus, 7.3)

A pergunta do Mestre, ainda agora, é clara e oportuna. Muitas vezes, o homem que traz o
argueiro num dos olhos traz igualmente consigo os pés sangrando. Depois de laboriosa
jornada na virtude, ele revela as mãos calejadas no trabalho e tem o coração ferido por mil
golpes da ignorância e da inexperiência.

É imprescindível habituar a visão na procura do melhor, a fim de que não sejamos


ludibriados pela malícia que nos é própria.

Comumente, pelo vezo de buscar bagatelas, perdemos o ensejo das grandes realizações.

Colaboradores valiosos e respeitáveis são relegados à margem por nossa irreflexão, em


muitas circunstâncias simplesmente porque são portadores de leves defeitos ou de sombras
insignificantes do pretérito, que o movimento em serviço poderia sanar ou dissipar.

Nódulos na madeira não impedem a obra do artífice e certos trechos empedrados do campo
não conseguem frustrar o esforço do lavrador na produção da semente nobre.

Aproveitemos o irmão de boa vontade, na plantação do bem, olvidando as nugas que lhe
cercam a vida.

Que seria de nós se Jesus não nos desculpasse os erros e as defecções de cada dia? E, se
esperamos alcançar a nossa melhoria, contando com a benemerência do Senhor, por que
negar ao próximo a confiança no futuro?

Consagremo-nos à tarefa que o Senhor nos reservou na edificação do bem e da luz e


estejamos convictos de que, assim agindo, o argueiro que incomoda o olho do vizinho, tanto
quanto a trave que nos obscurece o olhar, se desfarão espontaneamente, restituindo-nos a
felicidade e o equilíbrio, através da incessante renovação.

Um fraterno abraço e até o próximo estudo.

Campo Grande – MS, junho de 2019.

Candice Günther
Carta aos Gálatas com Emmanuel

Texto para Análise

15Nós somos judeus de nascimento e não pecadores da gentilidade; 16sabendo, entretanto,


que o homem não se justifica pelas obras da Lei, mas pela fé em Jesus Cristo, nós também
cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo e não pelas obras da Lei,
porque pelas obras da Lei ninguém será justificado. 17E se, procurando ser justificados em
Cristo, nós também nos revelamos pecadores, não seria então Cristo ministro do pecado? De
modo algum! 18Se volto a edificar o que destruí, então sim eu me demonstro um
transgressor. 19De fato, pela Lei eu morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Fui
crucificado junto com Cristo. 20Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim.
Minha vida presente na carne, eu a
vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim. 21Não
invalido a graça de Deus; porque, se é pela Lei que vem a justiça, então Cristo morreu
em vão. Cap. 2:15-21

No princípio do cristianismo, apenas judeus o conheciam. Jesus nascera em berço judeu e


caminhou com eles durante o seu tempo entre nós.

Misturou-se, assim, os ensinos do Cristo aos costumes de um povo, povo este que
considerava-se eleito de Deus, que possuía sua forma de relacionar-se com Deus e diversos
rituais para demonstrar sua fé, e aos outros, os que não eram judeus, chamavam gentios.

No entanto, a doutrina do cristo compreendida por muitos, estava alicerçada no amor e,


portanto, não estava adstrita a um povo, mas a toda humanidade.
Desta forma, Paulo de Tarso, que era judeu de nascimento, não se restringiu a levar o
cristianismo apenas aos judeus, mas caminhou entre os gentios e a eles ensinou o Evangelho
do Nosso Senhor Jesus Cristo. Não fazia distinção entre gregos, romanos, judeus ou quem
quer que fosse, a todos levava a palavra da ressurreição, levava o conhecimento de que a vida
prossegue após a morte e que o Cristo ressurgiu para nos ensinar a libertação através do
amor.

Como vimos em estudos anteriores, nem todos pensavam como Paulo, houve, então, uma
crise dentro da comunidade primitiva, em que Paulo defendia o direito dos gentios de
permanecerem com seus costumes desde que não entrassem em conflito com os postulados
de amor e caridade, no entanto, outros cristãos, dito judaizantes não aceitavam o abandono de
costumes, acreditando que por eles, pelas demonstrações exteriores, seriam reconhecidos
como cristãos.

Como já trouxemos em estudo anterior, o livro Paulo e Estevão de Emmanuel nos oferece um
panorama de como se deu toda esta controvérsia e de como isto impactou o movimento
cristão do primeiro século causando certa tensão cristãos judeus e cristãos gentios, que era
combatida por Paulo, acreditando ele que sendo Cristo um, também os cristãos precisam ser
um só corpo, uma só fé.

Em nosso entendimento este texto de Paulo aos Gálatas trata sobre este questão, sobre a
forma como judeus entendiam e a forma como Paulo entendia os ensinos do Cristo. Defendia
que não eram os sinais exteriores que demonstrariam a adesão ao cristianismo, não era algo
que se conquistava ou merecia, mas algo que nos era dado por Deus e que deveríamos aceitar
ou não.

Não obstante muitos estudiosos abraçarem estes versículos como a base da teoria da graça,
mesmo no meio evangélico onde é mais difundida, há teólogos que compartilham do nosso
entendimento em relação a este texto, trata-se na nova perspectiva de Paulo, que cada vez
mais ganha adeptos dentre os estudiosos das cartas de Paulo.

Sobre a Nova Perspectiva de Paulo:

“O termo foi cunhado por James Dunn[1], em 1983, mas vários escritores motivaram estudos
para discutir e debater as questões sobre a Nova Perspectiva, sem necessariamente a
utilização do termo, antes mesmo de Dunn.
James Dunn havia proferido palestra em 1982 onde sustentava suas posições inovadoras no
teólogo Albert Schweitzer (início do sec. XX), no teólogo luterano Krister Stendahl (final da
II Guerra Mundial), e refinando as percepções de E. P. Sanders e sua obra intitulada Paulo
e o Judaísmo Palestino, 1977[2]
Em 1963, o teólogo luterano Krister Stendahl publicou um artigo, The Apostle Paul and the
Introspective Conscience of the West, afirmando que a visão luterana relacionada a teologia
do apóstolo Paulo não se encaixava com as declarações do escritos de Paulo, e na verdade
teria sido baseada mais em pressupostos equivocados do que sobre a opinião de Paulo e
interpretação cuidadosa de seus escritos. [3]
Em 1977, E. P. Sanders publicou Paul and Palestinian Judaism.[4], realizando um amplo
estudo da literatura judaica e uma análise dos escritos de Paulo, onde ele argumentou que a
compreensão luterana tradicional da teologia do judaísmo e Paulo teriam sido
fundamentalmente incorreta.” (Wikipedia)

Paulo defende a gratuidade do que está sendo oferecido por Jesus, eis a graça.

No entanto, a interpretação deste texto alcançou outros profundos significados e deram


origem a um entendimento de que apenas a fé pode salvar o homem, basta crer, pedir perdão,
e tudo mais se resolve.

É preciso refletir sobre a diferença entre aceitar algo que nos é oferecido gratuitamente e a
partir disto promover uma mudança íntima que possa refletir esta nova vida e algo totalmente
contrário a isso que é simplesmente aceitar a Cristo como salvador e não mudar em nada a
própria vida, permanecendo no mesmo ciclo de egoísmo e orgulho, sem nenhuma alteração
que reflita a nova vida alicerçada no amor e na caridade.

Basta crer¿

Não está, também na Bíblia, que a fé sem obras é morta¿ (“A fé, se não tiver obras, é morta
em si mesma.” — (TIAGO, 2.17)

Não se trata de fazer algo para adquirir um direito, como se tivéssemos o direito de exigir
algo de Deus. As obras decorrentes da fé significam que compreendo a vida de Jesus e seus
ensinamentos e passo a seguir-lhe os passos, acreditando que a vida não se restringe a este
momento material, mas prossegue após a morte, que ele venceu, demonstrando de forma
inequívoca que prosseguimos após deixarmos o invólucro material.

Emmanuel comenta sobre a Fé e as Obras, vejamos o texto:

Palavras de vida eterna — Emmanuel

Fé e obras

“A fé, se não tiver obras, é morta em si mesma.” — (TIAGO, 2.17)

Imaginemos o mundo transformado num templo vasto, respeitável sem dúvida, mas
plenamente superlotado de criaturas em perene adoração ao Céu.

Por dentro, a fé reinando sublime:

Orações primorosas…

Discursos admiráveis…

Louvores e cânticos…

Mas, por fora, o trabalho esquecido:


Campos ao desamparo…

Enxadas ao abandono…

Lareiras em cinza…

De que teria valido a exaltação exclusiva da fé, senão para estender a morte no mundo que o
Senhor nos confiou para a glória da vida?

Não te creias, desse modo, em comunhão com a Divina Majestade, simplesmente porque te
faças cuidadoso no culto externo da religião a que te afeiçoas.

Conhecimento nobre exige atividade nobre.

Elevação espiritual é também dever de servir ao Eterno Pai na pessoa dos semelhantes.

É por isso que fé e obras se completam no sistema de nossas relações com a Vida Superior.

Prece e trabalho.

Santuário e oficina.

Cultura e caridade.

Ideal e realização.

Nesse sentido, Jesus é o nosso exemplo indiscutível.

Não se limitou o Senhor a simples glorificação de Deus nos Paços Divinos, quanto à
edificação dos homens. Por amor infinitamente a Deus, na sublime tarefa que lhe foi
cometida, desceu à esfera dos homens e entregou-se à obra do amor infatigável, levantando-
nos da sombra terrestre para a Luz Espiritual.

A interpretação dada por muitos estudiosos a este texto de Paulo é algo que foge ao mero
raciocínio lógico e mais que isso, não se coaduna com os ensinamentos deixados pelo próprio
Cristo, que nos chamou a um novo viver.

Ele nos disse para auxiliar aos fracos e oprimidos. (Em verdade vos digo que quando o
fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Mateus 25:40)

Também no Sermão do Monte, disse Jesus: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos
homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.
Mateus 5:16

É preciso, no entanto, que não avancemos para o outro lado, pensando que pelas obras iremos
demonstrar a fé e adquirir a salvação, ou o direito a viver em mundos melhores.

Dentro da doutrina espírita muito se fala sobre a questão do merecimento. Se algo de bom
nos acontece é dito que a pessoa teve merecimento, de igual forma, se algo dito ruim lhe
acontece, muitos pensam em resgate de faltas passadas e provas. Certamente tudo isso é
verdadeiro, porém, dentro da lei de causa e efeito que rege o mundo há um ingrediente que
jamais pode ser esquecido, trata-se da misericórdia divina. Quando Deus atua em nosso favor
sem que tenhamos nenhum merecimento, apenas nos oferece algo por que é para o nosso
bem, para a nossa melhoria.

A vinda de Jesus a Terra foi um ato de misericórdia divina, não o merecíamos, nem fomos
capazes de compreendê-lo, tanto que o colocamos na cruz para a morte, no entanto, Deus no-
lo ofereceu, em sacrifício de amor para que pudéssemos avançar.

A verdadeira caridade é reflexo do amor que se tem do coração e não da intenção de ganhar
algo em troca. Dou algo de mim sem esperar nada em troca e sem nenhum interesse pessoal
em ser beneficiado por aquela ação. Dou algo de mim porque acredito no amor como o
verdadeiro alicerce para a humanidade e o pratico sempre que consigo, dentro de minhas
possibilidades evolutivas. Percebe-se, assim, o quão diferente é compreender o que Paulo
estava ensinando aos Gálatas, rejeitando o culto exterior, mas alicerçando a fé na
transformação íntima de cada um, a fé que brilha e promove luz neste mundo de provas e
expiações.

Emmanuel nos oferece oportuna reflexão sobre a questão.

Palavras de vida eterna — Emmanuel

Boas obras

“Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e
glorifiquem a vosso Pai que está nos Céus.” — JESUS (Mateus, 5.16)

“Brilhe vossa luz” — disse-nos o Mestre e muitas vezes julgamo-nos unicamente no dever
de buscar as alturas mentais.

E suspiramos inquietos pela dominação do cérebro.

Contudo, o Cristo foi claro e simples no ensinamento. “Brilhe também a vossa luz diante dos
homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos Céus.”

Não apenas pela cultura intelectual.

Não somente pela frase correta.

Nem só pelo verbo flamejante.

Não apenas pela interpretação eficiente das Leis Divinas.

Não somente pela prece labial, apurada e comovedora.

Nem só pelas palavras e pelos votos brilhantes.

É indiscutível que não podemos menosprezar a educação da inteligência, mesmo porque a


escola, em todos os planos, é obra sublime com que nos cabe honrar o Senhor, mas Jesus,
com a referência, convidava-nos ao exercício constante das boas obras, seja onde for, pois
somente o coração tem o poder de tocar o coração, e, somente aperfeiçoando os nossos
sentimentos, conseguiremos nutrir a chama espiritual em nós, consoante o divino apelo.

Com o amor estimularemos o amor…

Com a humildade geraremos a humildade…

Com a paz em nós ajudaremos a construir a paz dos outros…

Com a nossa paciência edificaremos a paciência alheia.

Com a caridade em nosso passo, semearemos a caridade nos passos do próximo.

Com a nossa fé garantiremos a fé ao redor de nós mesmos.

Atendamos, pois, ao nosso próprio burilamento, porquanto apenas contemplando a luz das
boas obras em nós é que os outros entrarão no caminho das boas obras, glorificando a
Bondade e a Sabedoria de Deus.

Quando Paulo afirma que já não é ele quem vive, mas o Cristo, está justamente falando desta
entrega pessoal que fez em sua vida e em seu coração, de aceitar o exemplo divino do Mestre
Jesus para guiar seus passos, conduzir sua vida e, sobretudo, adentrar em seus mais profundos
sentimentos, promovendo a mudança que todos conhecemos de um homem rígido e
orgulhoso para um dos maiores trabalhadores do Cristianismo.

A própria vida de Paulo é um testemunho de que a interpretação de que basta a fé, basta crer,
ir na igreja e pedir perdão, sem preocupar-se em ser bom e fazer o bem a todos
indistintamente, é mais um equívoco aos muitos que se somam ao longo dos séculos que
deturpam os ensinos de Jesus e nos afastam de suas lições de paz e esperança.

Cristo espera por nós, pelo nosso trabalho e nossa dedicação, será através de nossas vidas que
as pessoas terão a oportunidade de conhecer o seu evangelho que transcende a letras e a
palavras , eis que é luz, consolo e caridade.

Encerramos, assim, mas este singelo estudo, com gratidão a Jesus pela oportunidade de
refletir e aprender.

Fraterno abraço.

Campo Grande – MS, julho de 2019.

Candice Günther.
Carta aos Gálatas com Emmanuel

Texto para Análise

1Ó gálatas insensatos, quem vos fascinou, a vós ante cujos olhos foi desenhada a imagem de
Jesus Cristo crucificado? 2Só isto quero saber de vós: foi pelas obras da Lei que recebestes
o Espírito ou pela adesão à fé? 3Sois tão insensatos que, tendo começado com o espírito,
agora acabais na carne?4Foi em vão que experimentastes tão grandes coisas? Se é que foi
em vão! 5Aquele que vos concede o Espírito e opera milagres entre vós o faz pelas obras da
Lei ou pela adesão à fé?
Cap. 3:1-5

Este trecho da Carta de Paulo aos Gálatas traz uma série de perguntas diretas e duras que
Paulo faz à comunidade cristã, deixando-nos clara a idéia de que eles estavam se afastando
dos ensinamentos do Cristo que o Apóstolo dos Gentios havia sido semeado entre eles.

Se olharmos para a história do cristianismo teremos inúmeros exemplos de comunidades que,


também, foram se distanciando dos postulados de amor e perdão deixados por Nosso Senhor
Jesus Cristo. Até mesmo segmentos religiosos estruturados,como a Igreja Católica,
Anglicana, Luterana e tantas outras, cometeram erros seja ao interpretar, seja ao aplicar os
postulados cristãos.

Forçoso pensar que a doutrina espírita não está isenta destes equívocos decorrentes de nosso
momento evolutivo ainda tão pequenino, tão frágil, que não encontra forças para atuar e
servir, levando a caridade como alicerce para toda e qualquer ação e pensamento.
São Luis encaminha uma comunicação, ainda nos tempos de Kardec, alertando-nos quanto à
questão:

“Zombaram das mesas girantes, porém jamais zombarão da filosofia, da sabedoria e da


caridade que brilham nas comunicações sérias. Elas foram o vestíbulo da ciência. É aí que ao
entrar devem ser deixados os preconceitos, como se deixa um manto. Não é demais insistir
para que façais de vossas reuniões um centro sério. Que alhures façam demonstrações físicas;
que alhures vejam; que alhures ouçam, mas que entre vós se compreenda e se ame. Que
pensais ser aos olhos dos Espíritos superiores, quando fazeis girar ou erguer-se uma mesa?
Escolares. Passará o sábio o seu tempo a recordar o á-bê-cê da Ciência? Ao contrário, vendo
que buscais as comunicações sérias, vos consideram como homens sérios em busca da
verdade.” (Revista Espírita de 1869)

“ Que entre vós se compreenda e se ame”, eis a máxima que deve nortear a nossa conduta e o
nosso propósito dentro da vivência cristã, seja na igreja, na comunidade, no lar, no trabalho.

A compreensão requer de nós humildade, pois só busca compreender algo aquele que sabe-se
aprendiz, que não tenta ser o detentor da verdade, nem a busca desvirtuar para interesses
próprios, antes, tudo busca compreender com empatia a fim de buscar nas diversas
perspectivas o que mais se aproxima da verdade.

Os Gálatas receberam ensinamentos valiosos e novos, somando-se a quem eram e a como


viviam. E junto com os ensinamentos novos, vieram também as questões dos judeus dentro
do cristianismo. Novos rituais em detrimento dos seus rituais, nova conduta em detrimento de
sua forma de viver e agir, nova oportunidade de compreender a vida com novas lentes.

No comentário de Chaplin encontramos um texto de Sanday que reproduz o texto de Paulo,


dando-lhe interpretação e nos auxiliando a refletir:

≪De onde se derivava esse estranho desvio? Não é como se fosseis ignorantes de coisas
mais excelentes. O Salvador crucificado, o grande objeto da fé, já vos foi anunciado de
maneira clara por demais para estardes equivocados. Como que foi escrito com grandes
letras perante os vossos olhos. Só pode ser alguma forma de encantamento ou fascínio que
tem impedido que olheis para ele. Tendes desistido de Cristo e tendes retomado a lei. Não
obstante deixai-me perguntar-vos - e certamente nenhuma outra prova se faz necessária —
todo esse derramamento de manifestações espirituais, que vindes desfrutando desde que vos
tomastes cristãos, ao que deveis isso? Isso se deve a lei e as obras, ou se deve a Cristo e a
confianca nele? Este sistema é espiritual, mas aquele outro é carnal e material. Haveríeis de
começar com aquilo que é elevado e descereis para o que e inferior? Mediante tal declínio
haveríeis de admitir, para todos os efeitos práticos, que todas as perseguições que tendes
sofrido foram passadas por engano? (Dificilmente poderei acreditar nisso). (...)≫ (Sanday,
in loc.). Comentário de Champlin ao Novo Testamento – Vol. IV.

Emmanuel comenta um dos versículos deste trecho, caminhemos com ele também:

“Pão nosso — Emmanuel


Contra a insensatez

“Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?” —
PAULO (Gálatas, 3.3)

Um dos maiores desastres no caminho dos discípulos é a falsa compreensão com que
iniciam o esforço na região superior, marchando em sentido inverso para os círculos da
inferioridade. Dão, assim, a ideia de homens que partissem à procura de ouro, contentando-
se, em seguida, com a lama do charco.

Semelhantes fracassos se fazem comuns, nos vários setores do pensamento religioso.

Observamos enfermos que se dirigem à espiritualidade elevada, alimentando nobres


impulsos e tomados de preciosas intenções; conseguida a cura, porém, refletem na melhor
maneira de aplicarem as vantagens obtidas na aquisição do dinheiro fácil. Alguns, depois de
auxiliados por amigos das Esferas sublimadas, em transcendentes questões da vida eterna,
pretendem atribuir a esses mesmos benfeitores a função de policiais humanos, na pesquisa
de objetivos menos dignos.

Numerosos aprendizes persistem nos trabalhos do bem; contudo, eis que aparecem horas
menos favoráveis e se entregam, inertes, ao desalento, reclamando prêmio aos minguados
anos terrestres em que tentaram servir na lavoura do Mestre Divino e plenamente
despreocupados dos períodos multimilenários em que temos sido servidos pelo Senhor.

Tais anomalias espirituais que perturbam consideravelmente o esforço dos discípulos


procedem dos filtros venenosos compostos pelos pruridos de recompensa.

Trabalhemos, pois, contra a expectativa de retribuição, a fim de que prossigamos na tarefa


começada, em companhia da humildade, portadora de luz imperecível.

Nossa “expectativa de retribuição”, ou seja, a nossa incapacidade de realizar algo


desinteressadamente nos aponta um caminho para compreendermos quais as razões tem
levado a humanidade a se afastar dos postulados cristãos desde os primórdios.

Não nos basta perceber o erro de outrora e os erros de hoje, criticar e apontar falhas é fácil,
fazemos isso com certa facilidade.

A questão que se apresenta para quem quer aprender e melhorar é descobrir quais as razões
que nos levam a tropeçar ao longo do caminho.

Para os Gálatas, a influência dos cristãos judaizantes que estavam lhes impondo regras e
rituais, como a circuncisão e hábitos alimentares, como vimos anteriormente, foi a pedra no
caminho que Paulo estava apontando, advertindo-os do engano. Mas qual o sentimento por
trás desta ação¿ Por que os judeus ainda se apegavam a rituais se tinham no Cristo a nova
vida, a liberdade de não mais necessitar de atos exteriores para manifestar sua fé¿
O que dizer, então, do espiritismo¿ Se Paulo nos escrevesse uma carta, teríamos também que
ouvir estes questionamentos¿ Estaríamos nós preocupados mais em parecer do que ser¿
Estaríamos envoltos em discussões sobre formas de proceder, atentos às questões exteriores,
mas esquecidos da caridade¿

Recebemos um tesouro que é a doutrina espírita, vinda das esferas superiores ela nos convida
a retomarmos a marcha cristã do início, do cristianismo primitivo, reconhecendo-nos, ainda,
frágeis e passíveis de equívocos, porém, diligentes na busca pelos verdadeiros postulados
cristãos. Temos, assim, um compromisso e uma tarefa com estes ensinos.

Emmanuel nos oferece importante reflexão sobre a questão.

Seara dos médiuns — Emmanuel

Dever espírita

Reunião pública de 23 de Maio de 1960

Item n.° 137 de “O Livro dos Médiuns”

Com muita propriedade, afirmou Allan Kardec que os Espíritos elevados se ligam de
preferência aos que procuram instruir-se.

E quem busca instruir-se, escolhe o caminho do esforço máximo.

Todo educandário é instituto de disciplina.

Entretanto, aqui e ali, aparecem alunos viciados em recreio e preguiça, suborno e cola.

Estes, contudo, podem obter as mais brilhantes situações, no jogo das aparências, mas nunca
o respeito e a confiança dos professores dignos do título que conquistaram.

Na Doutrina Espírita, escola maternal de nossas almas, há mais de um século surgem


aprendizes de todas as condições.

Aos que pediam fenômenos para alicerçar a convicção, foi concedida pelos instrutores da
Humanidade a mais alta cópia de francas demonstrações da sobrevivência.

As pesquisas rigorosamente científicas de William Crookes e as respostas positivas do Plano


Espiritual valeram por insofismável testemunho da verdade, a benefício de todo o orbe, e,
porque os discípulos da Nova Revelação se espalhassem por toda parte, as experiências
foram examinadas e são, até hoje, reexaminadas, sob variada nomenclatura, em todas as
direções.

Os tarefeiros do ensinamento espírita, por isso, não podem esquecer a obrigação de


preservá-lo a cavaleiro de todas as investidas dos alunos ociosos, que nada procuram senão
divertir e polemizar.

Vê-los-emos, em todos os lugares, sempre dispostos a pentear as ocorrências e expor de


público as caspas recolhidas, para o espetáculo das discussões sem proveito.
Resguardemos a mensagem edificante do Espiritismo contra aqueles que tomam o fruto da
lição, perdendo tempo em repetidas e inúteis perquirições sobre a casca, com deliberado
abandono da substância.

Há dois milênios se agita a opinião da Terra em torno do Cristo, organizando-se, em nome


dele, guerras e conchavos, disputas e controvérsias, dietas e conselhos, interpretações e
perseguições, mas o que permanece firme, através do tempo, é a palavra do Evangelho.

Armem-se os caçadores de fenômenos como desejem, e detenham, como puderem, os


elementos que a vida endereça à necessária renovação.

Todo fenômeno edifica, se recebido para enriquecer o campo da essência.

Quanto a nós, porém, estejamos fiéis à instrução, desmaterializando o espírito, quanto


possível, para que o Espírito se conheça e se disponha a brilhar.

Aquele que busca instrução sabe-se um aprendiz, sabe-se imperfeito e necessitado de


esclarecimento. Busca no estudo não uma forma de elevar-se perante os demais, mas de
elevar-se perante a si mesmo, tornando-se uma pessoa melhor, um homem de bem.

Penso que muitas falhas e equívocos decorrem da ausência de humildade e de empatia. Não
somos capazes de dizer “eu não sei”, arvoramo-nos em dar soluções para assuntos que
desconhecemos, levando muitos a acreditar em nosso parco e deficiente saber. Se desconheço
algo, devo me abster de opinar, ao menos, até ter o conhecimento suficiente para emitir um
parecer alicerçado. Outro aspecto que nos leva a desenganos é a ausência de empatia pelo
saber do outro, sabendo que já percorremos diversos caminhos, somos convidados a ouvir e
buscar compreender o pensamento alheio mesmo quando ele diverge do nosso. Se estamos
certos, nada temos a aprender, porém, se sabemos que somos seres em evolução, tudo nos é
oportunidade de reflexão. Ouvir o outro, compreender o seu ponto de vista e refletir sobre
isso nos é um caminho que precisamos aprender, mas, infelizmente, o que se vê é muito
intransigência e muita pseudo-sabedoria.

Aprendamos, caros amigos, a reconhecer a árvore por seus frutos. Se alguém lhe quer falar
sobre a caridade, olhemos se a sua vida referenda o ensinamento que está propondo. Se
alguém lhe quer falar sobre a família, olhemos para a sua vida para ver qual a prioridade que
a família ocupa em seu coração. Se alguém que lhe ensinar algo, vejamos que sua vida
demonstra o conhecimento que ele nos dirige.

Paulo agia assim, buscava viver o que dizia com todas as suas forças e reconhecia-se
imperfeito. Sua palavra era sábia, mas sua postura era humilde.

Encerramos o estudo de hoje com este texto da codificação que nos faz avançar na valorosa
reflexão que Paulo convidou os Gálatas a fazerem e que, hoje, convida a todos nós.
1. “É assim, meus irmãos, que deveis julgar; são as obras que deveis examinar. Se os que se
dizem investidos de poder divino revelam sinais de uma missão de natureza elevada, isto é,
se possuem no mais alto grau as virtudes cristãs e eternas: a caridade, o amor, a
indulgência, a bondade que concilia os corações; se, em apoio das palavras, apresentam os
atos, podereis então dizer: Estes são realmente enviados de Deus.

Desconfiai, porém, das palavras melífluas, desconfiai dos escribas e dos fariseus que oram
nas praças públicas, vestidos de longas túnicas. Desconfiai dos que pretendem ter o
monopólio da verdade!

Não, não, o Cristo não está entre esses, porquanto os que ele envia para propagar a sua
santa doutrina e regenerar o seu povo serão, acima de tudo, seguindo-lhe o exemplo,
brandos e humildes de coração; os que hajam, com os exemplos e conselhos que
prodigalizem, de salvar a Humanidade, que corre para a perdição e pervaga por caminhos
tortuosos, serão essencialmente modestos e humildes. De tudo o que revele um átomo de
orgulho, fugi, como de uma lepra contagiosa, que corrompe tudo em que toca. Lembrai-vos
de que cada criatura traz na fronte, mas principalmente nos atos, o cunho da sua grandeza
ou da sua inferioridade.

Ide, portanto, meus filhos bem-amados, caminhai sem tergiversações, sem pensamentos
ocultos, na rota bendita que tomastes. Ide, ide sempre, sem temor; afastai, cuidadosamente,
tudo o que vos possa entravar a marcha para o objetivo eterno. Viajores, só por pouco tempo
mais estareis nas trevas e nas dores da provação, se abrirdes o vosso coração a essa suave
doutrina que vos vem revelar as leis eternas e satisfazer a todas as aspirações de vossa alma
acerca do desconhecido. Já podeis dar corpo a esses silfos ligeiros que vedes passar nos
vossos sonhos e que, efêmeros, apenas vos encantavam o espírito, sem coisa alguma dizerem
ao vosso coração. Agora, meus amados, a morte desapareceu, dando lugar ao anjo radioso
que conheceis, o anjo do novo encontro e da reunião! Agora, vós que bem desempenhado
haveis a tarefa que o Criador confia às suas criaturas, nada mais tendes de temer da sua
justiça, pois ele é pai e perdoa sempre aos filhos transviados que clamam por misericórdia.
Continuai, portanto, avançai incessantemente. Seja vossa divisa a do progresso, do
progresso contínuo em todas as coisas, até que, finalmente, chegueis ao termo feliz da
jornada, onde vos esperam todos os que vos precederam. – Luís. (Bordéus, 1861.) (O
Evangelho segundo o Espiritismo > Capítulo XXI - Haverá falsos cristos e falsos profetas >
Instruções dos Espíritos)

Um fraterno abraço e até o próximo estudo.

Campo Grande – MS, julho de 2019.

Candice Günther
Carta aos Gálatas com Emmanuel
8

Texto para análise

Testemunho da Escritura: a fé e a Lei — 6Foi assim que Abraão creu em Deus e isto
lhe foi levado em conta de justiça. 7Sabei, portanto, que os que são pela fé são filhos de
Abraão. 8Prevendo que Deus justificaria os gentios pela fé, a Escritura preanunciou a
Abraão esta boa nova: Em ti serão abençoadas todas as nações. 9De modo que os que
são pela fé são abençoados juntamente com Abraão, que teve fé. 10E os que são pelas
obras da Lei, esses estão debaixo de maldição, pois está escrito: Maldito todo aquele
que não se atém a todas as prescrições que estão no livro da Lei para serem praticadas.
11E que pela Lei ninguém se justifica diante de Deus é evidente, pois o justo viverá pela
fé. 12Ora, a Lei não é pela fé, mas: quem pratica essas coisas por elas viverá. 13Cristo
nos remiu da maldição da Lei tornando-se maldição por nós, porque está escrito:
Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro, 14a fim de que a bênção de Abraão em
Cristo Jesus se estenda aos gentios, e para que, pela fé, recebamos o Espírito prometido.

Cap. 3:6-14

Neste trecho Paulo oferece um argumento a questão que gerada controvérsia entre os Gálatas,
que perante a influência dos judaizantes, retomava a observância da Lei como condição para
ser considerado cristão, quando Paulo defende que é apenas a fé que justifica alguém estar ou
não com o Cristo.

Vai, então, ao início de tudo para o povo judeu, citando o livro de Gênesis e a história de
Abraão, para dizer que ele teve fé. Não havia lei alguma, entretanto, Abraão foi acolhido e
abençoado por Deus. Ao trazer-lhes esta referência, recria o valor e o significado da ligação
co Abraão e analisaremos o texto para compreender este argumento de Paulo.
Abraão é citado no livro de Genesis como o pai da nação judaica e em exemplo de fé e
comunhã com Deus.

“Descendente de Sem, e filho de Tera, que se tornou ancestral da nação hebraica e de outras
(Gn 17:5). Viveu uma vida de notável fé e foi conhecido como o “Amigo de Deus” (2Cr
20:7). A história de sua vida é registrada em Gn 11:26;26:10 e sumarizada em At. 7:2-8.
Uma lista de seus descendentes imediatos, por meio de seus filhos Isaque e Ismael, é dada em
Gn 25:11-19. Abraão declarou sua fé em Deus como o Todo-poderoso (Gn 17:1), Eterno
(21:33), Altíssimo (14:22), Possuidor (Senhor) do céu e da terra (14:22 e 24:3), e jsuto juiz
das nações (15:14) e de toda a humanidade (18:25). Para ele, Javé era justo, sábio, reto,
bom e misericordioso. Abraão possuía íntima comunhão com Deus (18:33, 24:40;48:15) e
recebeu revelações especiais da parte dele por meio de visões e visitas em forma humana
(18:1) ou angélica (22:11,15). (...) Israel era considerado “semente de Abraão” e a ação de
Javé, suscitando tanta gente de um único homem era considerada um cumprimento
particularmente significativo de sua palavra.(...) Sua obediência pela fé ao chamado para
deixar UR e vier como “forasteiro e peregrino” numa vida nômade e sua oferta de Isaque
são registradas como exemplos notáveis de fé em ação (Hb 11:8-19, Tg 2:21)” (J.D.
Douglas – Novo Dicionário da Bíblia)

Paulo não apenas traz a referência de Abraão como um homem de fé para fazê-los ver que a
Lei em si não é suficiente para transformar a vida de um homem, para torná-lo cristão. Ele o
usa o próprio Abraão, pai dos hebreus, como a ponte para que todos os gentios também
adentrassem nesta “nação escolhida” por Deus: “8Prevendo que Deus justificaria os gentios
pela fé, a Escritura preanunciou a Abraão esta boa nova: Em ti serão abençoadas todas as
nações. 9De modo que os que são pela fé são abençoados juntamente com Abraão, que teve
fé.”

O judeu argumentava que a mera descendência física de Abraão o colocava na condição de


eleito de Deus, em detrimento do resto da humanidade. Paulo, no entanto, muda todo este
raciocínio para dizer que o verdadeiro descendente é o que assemelha-se a Abraão, que tem a
sua fé e caminha em comunhão com Deus.

O que Paulo está dizendo aos Gálatas é muito profundo e nos alcança, chamando-nos a
refletir sobre o Cristo em nossas vidas.

Muitas vezes permanecemos na religião acolhida por nossos pais e, conforme fomos criados,
realizamos os atos desta ou daquela religião, como ir ao templo religioso, praticar seus ritos e
estar inserido naquela comunidade.

Com o espiritismo não é diferente, ao adentrarmos no espiritismo, seja através de nossos pais
ou por opção em tempo posterior, em geral, passamos a frequentar alguma casa de oração ou
a um determinado grupo, partilhando de seus costumes. Isto é humano, trata-se de nossa
busca de estar com Deus e entrar em sintonia com o Amor que rege o mundo.

O que Paulo nos está ensinando, é que nenhuma pessoa, nenhum lugar, nenhuma
descendência, nada físico, podem nos conectar ao Pai, mas, como Abraão, é a fé em ação que
irá promover esta desejada comunhão.
Emmanuel nos oferece precioso comentário sobre este caminhar com Deus, tão bem
simbolizado na pessoa de Abraão.

Fonte viva — Emmanuel

Na grande romagem

“Pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por
herança; e saiu, sem saber para onde ia.” — PAULO (Hebreus, 11.8)

Pela fé, o aprendiz do Evangelho é chamado, como Abraão, à sublime herança que lhe é
destinada. A conscrição atinge a todos.

O grande patriarca hebreu saiu sem saber para onde ia… E nós, por nossa vez, devemos
erguer o coração e partir igualmente.

Ignoramos as estações de contato na romagem enorme, mas estamos informados de que o


nosso objetivo é Cristo Jesus.

Quantas vezes seremos constrangidos a pisar sobre espinheiros da calúnia? Quantas vezes
transitaremos pelo trilho escabroso da incompreensão? Quantos aguaceiros de lágrimas nos
alcançarão o espírito? Quantas nuvens estarão interpostas, entre o nosso pensamento e o
Céu, em largos trechos da senda?

Insolúvel a resposta. Importa, contudo, marchar sempre, no caminho interior da própria


redenção, sem esmorecimento.

Hoje, é o suor intensivo; amanhã, é a responsabilidade; depois, é o sofrimento e, em seguida,


é a solidão… Ainda assim, é indispensável seguir sem desânimo.

Quando não seja possível avançar dois passos por dia, desloquemo-nos para diante, pelo
menos, alguns milímetros…

Abre-se a vanguarda em horizontes novos de entendimento e bondade, iluminação espiritual


e progresso na virtude. Subamos, sem repouso, pela montanha escarpada:

Vencendo desertos…

Superando dificuldades…

Varando nevoeiros…

Eliminando obstáculos…

Abraão obedeceu, sem saber para onde ia, e encontrou a realização da sua felicidade.

Obedeçamos, por nossa vez, conscientes de nossa destinação e convictos de que o Senhor
nos espera, além da nossa cruz, nos cimos resplandecentes da eterna ressurreição.
Vivemos num mundo em que a exposição pública é uma constante, as redes sociais oferecem
cenas diárias da vida pessoal e muitas vezes oferecem uma imagem enganosa de uma
felicidade sem fim ou de uma fé sem igual.

Não nos cabe julgar quem quer que seja e, em verdade, ficaria imensamente feliz se todos os
que parecem ter alegria e fé em seus corações nas redes sociais também o tivessem em suas
vidas particulares.

O que nos importa, diante deste estudo, é perceber que cada um de nós é responsável por seu
próprio caminhar e que “Importa, contudo, marchar sempre, no caminho interior da própria
redenção, sem esmorecimento. Hoje, é o suor intensivo; amanhã, é a responsabilidade;
depois, é o sofrimento e, em seguida, é a solidão… Ainda assim, é indispensável seguir sem
desânimo.”, como nos ensina Emmanuel.

Há um outro aspecto que Paulo ressalta neste trecho que é importante analisarmos.
Recordemos que ele dá Abraão como exemplo de homem de fé e comunhão com Deus e
amplia o alcance da promessa divina de que todos os seus filhos seriam abençoados para
dizer que isto não se aplicava apenas aos judeus, mas, também, aos gentios, mediante a sua
fé. E isto se tornou possível com a ação do Cristo, com sua vida, morte e ressurreição.

Como, então, compreender os versículo 13 e 14: “13Cristo nos remiu da maldição da Lei
tornando-se maldição por nós, porque está escrito: Maldito todo aquele que é suspenso no
madeiro, 14a fim de que a bênção de Abraão em Cristo Jesus se estenda aos gentios, e para
que, pela fé, recebamos o Espírito prometido.”

A pior morte nos tempos de Jesus era a crucificação, não apenas por ser profundamente
sofrida, lenta, dolorosa, mas porque havia a prescrição em lei de que “todo aquele que é
suspenso no madeiro é maldito”.

“A lei acarreta benção para o cumprimento, maldição para a transgressão (Dt 27:28).
Cristo, embora inocente, submete-se a urna “maldição” especifica da lei (Dt 2 1, 23), ser
suspenso de um madeiro, para invalidar o regime da lei. Uma lei, segundo a qual um
inocente e condenado (Jo 19,7), não ficara em vigor. Cristo morre para restaurar o regime
de benção e promessa, que só exige aceitação e acolhida com fé (Is 7,7; 28,16 30,15).
Regime inaugurado, antes da lei em Abraão (Gn 15,6) e e confirmado em Hab 2,4 (texto
favorito de Paulo).” Bíblia do Peregrino.

Não houve justiça na sentença que determinou a morte de Jesus, a lei humana falhou e,
conforme a própria tradição judaica, uma lei que condena um inocente não ficará em vigor.

Retornamos, então, ao princípio, a Abraão, que confiava em Deus e seguia-lhe as


determinações, com fé de que acima da justiça dos homens, que é falha, há a justiça de Deus
que nos alcança no tempo oportuno.

Wiliam Barclay comenta esta questão: “ (...) (Deuteronômio 27:26) diz que o homem
que não observa toda a Lei é maldito. Por este caminho a maldição é o fim lógico e
inevitável de tentar justificar-se perante Deus fazendo da Lei o princípio de vida. Mas a
Escritura tem outra afirmação: "O justo por sua fé viverá" (Habacuque 2:4). Desta maneira
o único caminho para uma correta relação com Deus e, portanto, o único caminho para
conseguir a paz, é o da fé, o da aceitação, o da entrega. Mas o princípio da Lei e o da fé são
totalmente antitéticos; não se pode dirigir a vida por ambos ao mesmo tempo; terá que
escolher; e em conseqüência a única escolha lógica é a de abandonar a via do legalismo e
aventurar-se pela da fé tomando a Deus pela palavra e confiando em seu amor.”

Avança o homem em sua trajetória evolutiva, não basta mais parecer bom, o Cristo nos
convida a sermos bons. A Lei e seus costumes davam ao homem a vestimenta para parecer
um homem de Deus, no entanto, o seu coração permanecia enjaulado no egoísmo e no
orgulho, tão próprios da humanidade. O Cristo de Deus vem ao mundo para educar nossos
sentimentos, para nos ensinar que a comunhão com o Pai nos fará retornar ao amor, a paz e a
esperança. A fé não mais será demonstrada através do cumprimento de normas humanas que
são falhas, mas será auferida pela justiça divina que é a única capaz de conhecer o que
realmente vai no mais fundo de cada ser.

Emmanuel nos traz precioso comentário sobre a questão da justiça em nós e com ele
encerramos o estudo de hoje.

Semeador em tempos novos — Emmanuel

Justiça em nós mesmos

Não nos esqueçamos do mundo vasto de nós mesmos, onde a consciência amparada pela razão, nos
adverte, serena e incorruptível, quanto às normas que nos cabe esposar, em favor de nossa
segurança e alegria.

Muitas vezes, recorremos ao parecer dos outros nos assuntos que nos dizem de perto à paz
espiritual, com receio do parecer de nossa própria alma e, quase sempre, apelamos para a
orientação de muitos encarnados e desencarnados, por nos sentirmos incapazes de escutar os avisos
de nossos templo interior, em cujo altar, a Bondade Divina nos concita às obrigações que a vida nos
delegou.

Em muitas ocasiões, queixamo-nos dos companheiros que nos partilham a luta, cegos para com a
nossa posição reprovável diante deles; declaramo-nos desditosos e perseguidos, sem perceber os
calhaus de amargura que lançamos, desassisados, no caminho dos outros e arrojamo-nos a
reivindicações descabidas, sem observar que nós próprios fomos os autores da desconsideração que
nos arrasa ou desprestigia…

Em várias circunstâncias, reclamamos o trabalho do próximo sem dar a mínima parte da quota de
serviço que lhe devemos, exigimos que a tranquilidade nos favoreça, alimentando a guerra silenciosa
e tenaz contra os nossos vizinhos e bradamos contra as perturbações que nos visitam a casa,
cultivando a leviandade e a calúnia, a destruição e a maledicência…

Tenhamos, desta maneira, a coragem de examinar a nós mesmos, ouvindo a própria consciência que
jamais nos engana quanto ao rumo que nos compete seguir.
Decerto, é muito fácil julgar a conduta alheia e repetir a famosa frase: — “Se fosse comigo faria
assim”.

Mas, é sempre difícil atender à justiça em nós mesmos para retificar as próprias atitudes e corrigir os
próprios atos.

Acendamos, cada dia, por alguns instantes, a luz da prece em nosso próprio íntimo e roguemos a
Jesus nos ensine a ver e a discernir para que, através da oração, possamos aprender e servir sem
compromissos escuros nos laços da tentação.

Um fraterno abraço e até o próximo estudo.

Campo Grande – MS, julho de 2019.

Candice Günther
Carta aos Gálatas com Emmanuel

Texto para análise

15Irmãos, falo como homem: mesmo um testamento humano, legitimamente feito, ninguém o
pode invalidar nem modificar. 16Ora, as promessas foram asseguradas a Abraão e à sua
descendência. Não diz: "e aos descendentes", como referindo-se a muitos, mas como a um só:
e à tua descendência, que é Cristo. 17Ora, eu digo: uma Lei vinda quatrocentos e trinta anos
depois não invalida um testamento anterior, legitimamente feito por Deus, de modo a tornar
nula a promessa. 18Porque se a herança vem pela Lei, já não é pela promessa. Ora, é pela
promessa que Deus agraciou a Abraão. 19Por que, então, a Lei? Foi acrescentada em vista
das transgressões — até que viesse a descendência, a quem fora feita a promessa —
promulgada por anjos, pela mão de um mediador. 20Ora, não existe mediador quando se trata
de um só, e Deus é um só. 21Então a Lei é contra as promessas de Deus? De modo algum!
Se tivesse sido dada uma lei capaz de comunicar a vida, então sim, realmente a justiça viria
da Lei. 22Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, a fim de que a promessa, pela fé
em Jesus Cristo, fosse concedida aos que crêem.
Cap. 3:15-22

Neste trecho Paulo prossegue usando toda a sua capacidade de argumentar, verifica-se o
mesmo método que os rabinos usavam, centralizando em uma figura, no caso Abraão, como a
palavra chave para demonstrar a validade e veracidade do que estão tentando ensinar.
Na lição anterior vimos Paulo demonstrando que nos tempos de Abraão não existia a lei, no
entanto, ele foi um homem de fé, que confiava em Deus e, por isso, Deus fez com ele a
aliança, a promessa de que todos os seus descendentes estariam com Ele.

Agora, Paulo prossegue falando desta promessa, sob o argumento de que um compromisso
uma vez assumido não pode ser derrogado, se um testamento, que é humano, deve ser
cumprido, que se dirá de um compromisso com Deus e de Deus para com o homem.

“Segundo argumento. Está apoiado no duplo valor da palavra grega diallicke, aliança ou
testamento. Paulo toma o segundo como equivalente de “promessa" que dá direito de
herdar. No AT se distinguem: urna aliança que equivale a um compromisso unilateral que
Deus assume (construção heqim berit, própria da escola sacerdotal) e outra que significa um
pacto bilateral, embora proposto por iniciativa de Deus (construção karat berit). A primeira
não se distingue apenas da promessa ou juramento. Pois bem, uma herança devidamente
outorgada nao é anulada por urna legislação posterior. A aliança do Sinai chega séculos
depois da promessa feita a Abraão, e não pode anula-la (Ex 12,40; Rm 4,14).” Bíblia do
Peregrino

Paulo constrói um alicerce para demonstrar que o Cristo não está rompendo ou destruindo o
que Deus fez, mas cumprindo a lei divina e nos dando o seu exato sentido. O próprio Cristo o
disse, quando esteve entre nós:

“Não penseis que eu tenha vindo destruir a lei ou os profetas: não os vim destruir, mas
cumpri-los: – porquanto, em verdade vos digo que o céu e a Terra não passarão, sem que
tudo o que se acha na lei esteja perfeitamente cumprido, enquanto reste um único iota e um
único ponto.”
(S. MATEUS, 5:17 e 18.)

Há, então, algumas reflexões e conclusões que podemos extrair dos dizeres de Paulo.

- Deus não muda!

O que Deus faz é bom e perfeito e não mudará, passe o tempo que for. Se Ele fez uma
promessa com Abraão, ela será mantida, se ofereceu uma lei a Moisés, ela será cumprida e se
nos enviou o Cristo, ele vindo de Deus não irá se contrapor às suas promessas e à sua Lei,
mas cumpri-las integralmente.

O que muda, então¿

A nossa forma de compreender a ação de Deus em nossas vidas e sua natureza imutável e
perfeita.

Necessário se faz, então, aprendermos a separar o que é humano do que é divino. O que é
imutável daquilo que não compreendemos, e que interpretamos de forma equivocada,
alterando o significado ou o cumprimento.
Ainda hoje, em nosso estágio evolutivo, somos passíveis de incompreensões ou de
compreensões limitadas do todo. O que percebemos, no entanto, é que aos poucos vamos
expandindo nossa visão e a compreensão do nosso Criador e da forma como Ele age.

O Deus dos Exércitos deixa de ser um Deus tribal, que age quase como humano, para ser o
Deus das Estrelas, que rege os mundos por suas leis imutáveis e perfeitas. Outrora, fazíamos
de Deus algo humano, hoje, no entanto, olhamos para o céu e temos a profunda certeza de
que estamos muito distantes de compreendê-lo verdadeiramente, mas que estamos
caminhando em sua direção. Olhamos para o céu e compreendemos a imensidão do Universo
e ao olharmos para a obra, temos um noção do criador.

E é neste caminhar que podemos encontrar o elo entre os profetas, a lei e o Cristo, pois todos
eles foram e são um convite para a humanidade evoluir, seguir em frente, não sem rumo, mas
em direção ao Amor Maior, à compreensão do todo.

Abraão foi chamado para sair do lugar onde vivia e ir para uma terra onde teria uma vida
melhor, mais abundante em alimentos. E ele o fez, seguiu em busca de uma vida melhor.

Com Moisés o povo saiu da escravidão e caminhou para a terra prometida, para o lugar onde
não haveria dor e sofrimento, mas o alimento para o corpo e para a alma.

O homem, no entanto, só podia compreender isto de forma material, achando que nas coisas
perenes deste mundo encontraria a paz e a felicidade para a qual foi destinado desde a sua
criação.

Cristo vem nos falar do homem imortal, de uma terra prometida que não se restringe à
matéria, mas que transcende a esta vida e aos prazeres dos sentidos.

A cada passo, a cada etapa, fomos convidados a ampliar nossos horizontes. Nada foi errado,
nada foi inválido, tudo foi uma construção para que chegássemos hoje e para que tivéssemos
condições de seguir em frente, neste processo evolutivo infinito e maravilhoso.

Kardec compreendeu este processo evolutivo e iniciou o Evangelho Segundo o Espiritismo


intitulando o primeiro capítulo justamente com a máxima: “Não vim destruir a lei.”

Não podemos destruir o que vem de Deus, apenas precisamos avançar para compreender. O
que é humano se perderá com o tempo, evoluirá, porém, o que vem de Deus, Nosso Pai
Celestial, ficará conosco desde os primeiros tempos até a eternidade.

“Jesus não veio destruir a lei, isto é, a lei de Deus; veio cumpri-la, isto é, desenvolvê-la, dar-
lhe o verdadeiro sentido e adaptá-la ao grau de adiantamento dos homens. Por isso, é que se
nos depara, nessa lei, o princípio dos deveres para com Deus e para com o próximo, base da
sua doutrina. Quanto às leis de Moisés, propriamente ditas, ele, ao contrário, as modificou
profundamente, quer na substância, quer na forma. Combatendo constantemente o abuso das
práticas exteriores e as falsas interpretações, por mais radical reforma não podia fazê-las
passar, do que as reduzindo a esta única prescrição: “Amar a Deus acima de todas as coisas
e o próximo como a si mesmo”, e acrescentando: aí estão a lei toda e os profetas.
Por estas palavras: “O céu e a Terra não passarão sem que tudo esteja cumprido até o
último iota”, quis dizer Jesus ser necessário que a lei de Deus tivesse cumprimento integral,
isto é, fosse praticada na Terra inteira, em toda a sua pureza, com todas as suas ampliações
e consequências. Efetivamente, de que serviria haver sido promulgada aquela lei, se ela
devesse constituir privilégio de alguns homens, ou, sequer, de um único povo? Sendo filhos
de Deus todos os homens, todos, sem distinção nenhuma, são objeto da mesma solicitude.”
(Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 1)

Onde estamos, hoje¿

Há quem pense que tudo foi revelado e que o saber atingiu seu ápice. Ora, basta olharmos
para os 100 anos que se passaram que teremos a firme certeza que estamos evoluindo, seja na
área científica, social, cognitiva e até mesmo emocional, avançamos sempre. Andamos,
lentamente, no entanto, na questão moral. Enquanto a ciência caminha a passos largos, a
moralidade humana carece urgentemente avançar, dar passos em direção a si mesma, ao seu
mundo íntimo e a forma como se relaciona com o que o cerca. Ainda estamos nos debatendo
em nosso orgulho e em nosso egoísmo e necessitamos do Cristo e do seu exemplo de luz para
discernir e caminhar para o Pai.

Paulo sabia que não é no culto exterior, no cumprimento de regras e demonstrações de fé que
encontramos o Cristo, mas é em nosso mundo íntimo, em nossa estrada de Damasco quando
vislumbramos a sua luz e nos percebemos humildemente carecedores do seu amor e seu
perdão, dispostos, finalmente, a perguntar a vontade do Pai para as nossas vidas e não mais
sobrepor o nosso desejo a tudo e a todos.

No livro da Esperança, Emmanuel comenta estas questões em nossa vida cotidiana:

Culto Espírita
“Não penseis que eu tenha vindo destruir a lei ou os profetas: não os vim destruir,
mas cumpri-los.”JESUS - MATEUS, 5: 11

“Assim corno o Cristo disse: “Não vim destruir a lei, porém cumpri-la”, também o
espiritismo diz: “Não venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução.”Cap. 1, 7. *

O Culto Espírita,expressando veneração aos princípios evangélicos que ele mesmo


restaura, apela para o íntimo de cada um, a fim de patentear-se.
Ninguém precisa inquirir o modo de nobilita-lo com mais grandeza, porque
reverenciá-lo é conferir-lhe força e substância na própria vida.
Mãe, aceitarás os encargos e os sacrifícios do lar amando e auxiliando a Humanidade,
no esposo e nos filhos que a Sabedoria Divina te confiou.
Dirigente, honrarás os dirigidos.Legislador, não farás da autoridade instrumento de
opressão.
Administrador, respeitarás a posse e o dinheiro, empregando-lhes os recursos no bem. de
todos, com o devido discernimento.
Mestre, ensinarás construindo.
Pensador, não torcerás as convicções que te enobrecem.
Cientista, descortinarás caminhos novos, sem degradar a inteligência.
Médico, viverás na dignidade da profissão sem negociar com. as dores dos semelhantes.
Magistrado, sustentarás a justiça.
Advogado, preservarás o direito.
Escritor, não molharás a pena no lodo da viciado, nem no veneno da injúria.
Poeta, converterás a inspiração em fonte de luz.
Orador, cultivarás a verdade.
Artista, exaltarás o gênio e a sensibilidade sem corrompê-los.
Chefe, serás humano e generoso, sem fugir à imparcialidade e à razão.
Operário, não furtarás o tempo, envilecendo a tarefa.
Lavrador, protegerás a terra.
Comerciante, não incentivarás a fome ou o desconforto, a pretexto de lucro.
Cobrador de impostos, aplicarás os regulamentos com eqüidade.
Médium, serás sincero, e leal aos compromissos que abraças, evitando perverter os
talentos do plano espiritual no profissionalismo, religioso. 0 culto espírita possui um
templo, vivo em. cada, consciência na, esfera de todos aqueles que lhe esposam as
instruções, de conformidade com o ensino de Jesus: “0 reino de Deus está dentro de
vós” e toda a sua teologia se resume na definição do Evangelho: “a cada um por suas
obras”.
A vista disso, prescindindo de convenção pragmática, temos nele o caminho libertador alma,
educando-nos raciocínio e sentimento, para que possamos servir na construção do mundo
melhor.

Paulo percebeu que estávamos em trajetória evolutiva, reconheceu no Cristo o caminho, a


verdade e a vida para si mesmo e noticiou isso a todos, não apenas com palavras, mas com
sua vida, acima de tudo Paulo foi um homem que viveu com Cristo e nos convida para que
hoje, cada um nós, encontre o seu caminhar com ele.

Não somos criaturas perfeitas, somos criaturas em construção, cada um a seu tempo,
encontrará sua estrada de Damasco e compreenderá que estamos aqui para aprender,
melhorar, evoluir.

Encerramos com o texto do próprio Paulo, referendando o teor de suas cartas, porém, agora
em espírito, como um dos participantes da codificação, deixando-nos valorosa mensagem no
Livro dos Espíritos.

“Gravitar para a unidade divina, eis o fim da Humanidade. Para atingi-lo, três coisas são
necessárias: a justiça, o amor e a ciência. Três coisas lhe são opostas e contrárias: a
ignorância, o ódio e a injustiça. Pois bem: digo-vos, em verdade, que mentis a esses
princípios fundamentais, comprometendo a ideia de Deus, com o Lhe exagerardes a
severidade. Duplamente a comprometeis, deixando que no Espírito da criatura penetre a
suposição de que há nela mais clemência, mais mansuetude, amor e verdadeira justiça, do
que atribuis ao Ser Infinito. Destruís mesmo a ideia do inferno, tornando-o ridículo e
inadmissível às vossas crenças, como o é aos vossos corações o horrendo espetáculo das
execuções, das fogueiras e das torturas da Idade Média! Pois quê! Quando banida se acha
para sempre das legislações humanas a era das cegas represálias, é que esperais mantê-la
no ideal? Oh! Crede-me, crede-me, irmãos em Deus e em Jesus Cristo, crede-me: ou vos
resignais a deixar que pereçam nas vossas mãos todos os vossos dogmas, de preferência a
que se modifiquem, ou, então, revivificai-os, abrindo-os aos benfazejos eflúvios que os
Bons, neste momento, derramam neles. A ideia do inferno, com as suas fornalhas ardentes,
com as suas caldeiras a ferver, pôde ser tolerada, quer dizer, era perdoável num século de
ferro; porém no século dezenove não passa de vão fantasma, próprio, quando muito, para
amedrontar criancinhas; e mesmo estas, crescendo um pouco, logo deixam de crer nela. Se
persistirdes nessa mitologia aterradora, engendrareis a incredulidade, mãe de toda a
desorganização social. Tremo, entrevendo toda uma ordem social abalada e a ruir sobre os
seus fundamentos, por falta de sanção penal. Homens de fé ardente e viva, vanguardeiros
do dia da luz, mãos à obra, não para manter fábulas que envelheceram e se
desacreditaram, mas para reavivar, revivificar a verdadeira sanção penal, sob formas
condizentes com os vossos costumes, os vossos sentimentos e as luzes da vossa época.

“Quem é, com efeito, o culpado? É aquele que, por um desvio, por um falso movimento da
alma, se afasta do objetivo da criação, que consiste no culto harmonioso do belo, do bem,
idealizados pelo arquétipo humano, pelo Homem Deus, por Jesus Cristo.

“Que é o castigo? A consequência natural, derivada desse falso movimento; uma certa soma
de dores necessária a desgostá-lo da sua deformidade, pela experimentação do sofrimento. O
castigo é o aguilhão que estimula a alma, pela amargura, a se dobrar sobre si mesma e a
buscar o porto de salvação. O castigo só tem por fim a reabilitação, a redenção. Querê-lo
eterno, por uma falta não eterna, é negar-lhe toda a razão de ser.

“Oh! Em verdade vos digo, cessai, cessai de pôr em paralelo, na sua eternidade, o Bem,
essência do Criador, com o Mal, essência da criatura. Seria criar uma penalidade
injustificável. Afirmai, ao contrário, o abrandamento gradual dos castigos e das penas pelas
trans migrações e consagrareis a unidade divina, por meio da razão unida ao sentimento.”

PAULO, APÓSTOLO. – Livro dos Espíritos – parte quarta – cap. II

Eis a nossa tarefa: unir razão e sentimento, não mais a lei que pune, ou a fé que não
muda, mas o amor e a justiça unidos, na construção de um mundo melhor. Caminhemos,
avancemos, Jesus nos aguarda.

Um fraterno abraço e até o próximo estudo.

Campo Grande – MS, julho de 2019.

Candice Günther
Carta aos Gálatas com Emmanuel

10

Texto para análise

23Antes que chegasse a fé, nós éramos guardados sob a tutela da Lei para a fé que haveria de
se revelar. 24Assim a Lei se tornou nosso pedagogo até Cristo, para que fôssemos justificados
pela fé. 25Chegada, porém, a fé, não estamos mais sob pedagogo; 26vós todos sois filhos de
Deus pela fé em Cristo Jesus, 27pois todos vós, que fostes batizados em Cristo, vos vestistes
de Cristo. 28Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher;
pois todos vós sois um só em Cristo Jesus. 29E se vós sois de Cristo, então sois descendência
de Abraão, herdeiros segundo a promessa.
Cap. 3:23-29 – Advento da Fé

Há quem olhe para o Velho Testamento e veja, em suas histórias de reis e profetas, apenas
barbárie, violência e uma incompreensão de Deus e do amor. Paulo, no entanto, reconhece a
Lei como o grande pedagogo até a vinda do Cristo, ou seja, um período que serviu para a
humanidade, que a educou e lhe preparou para o degrau seguinte.

O termo utilizado na Bíblia de Jerusalém “éramos guardados sob a tutela” é traduzido em


outras versões como prisioneiro, vejamos a versão da Bíblia do Peregrino:

“Antes que chegasse a fé, éramos prisioneiros, guardados pela lei até que se revelasse a fé
futura.”

Fica, assim, mais explícita a intenção de Paulo ao trazer o terceiro argumento deste capítulo
sobre a Fé sobrepor-se à Lei, o Apóstolo dos Gentios nos oferece importante reflexão: antes
escravos, agora filhos! O primeiro e o segundo argumento vimos nos estudos anteriores,
agora, porém, analisaremos o desfecho do capítulo com o terceiro argumento utilizado por
Paulo, chamando-nos a uma nova compreensão e um novo relacionamento com Deus nosso
Pai.

Paulo também aborda esta questão na carta aos Romanos e temos um excelente comentário
de Emmanuel sobre esta questão:

Vinha de luz — Emmanuel

Herdeiros

“E se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus e coerdeiros do
Cristo.” — PAULO (Romanos, 8.17)

Incompreensivelmente, muitas escolas religiosas, através de seus expositores, relegam o


homem à esfera de miserabilidade absoluta.

Púlpitos, tribunas, praças, livros e jornais estão repletos de tremendas acusações. Os filhos
da Terra são categorizados à conta de réus da pena última.

Ninguém contesta que o homem, na condição de aluno em crescimento na Sabedoria


Universal, tem errado em todos os tempos; ninguém ignora que o crime ainda obceca, muitas
vezes, o pensamento das criaturas terrestres; entretanto, é indispensável restabelecer a
verdade essencial. Se muitas almas permanecem caídas, Deus lhes renova, diariamente, a
oportunidade de reerguimento.

Além disso, o Evangelho é o roteiro do otimismo divino.

Paulo, em sua epístola aos romanos, confere aos homens, com justiça, o título de herdeiros
do Pai e co-herdeiros de Jesus.

Por que razão se dilataria a paciência do Céu para conosco, se nós, os trabalhadores
encarnados e desencarnados da Terra, não passássemos de seres desventurados e inúteis?
Seria justa a renovação do ensejo de aprimoramento a criaturas irremediavelmente
malditas?

É necessário fortalecer a fé sublime que elevamos ao Alto, sem nos esquecermos de que o
Alto deposita santificada fé em nós.

Que a Humanidade não menospreze a esperança.

Não somos fantasmas de penas eternas e sim herdeiros da Glória Celestial, não obstante
nossas antigas imperfeições. O imperativo de felicidade, porém, exige que nos eduquemos,
convenientemente, habilitando-nos à posse imorredoura da herança divina.

Olvidemos o desperdício da energia, os caprichos da infância espiritual e cresçamos, para


ser, com o Pai, os tutores de nós mesmos.”
A questão que o estudo nos apresenta, para o dia de hoje, para a nossa vida atual, é o
questionamento de como nos sentimos e de como agimos, somos escravos ou filhos¿

Há quem pratique a religião por culpa ou por medo de punições. Ainda no meio espírita,
muitos trabalhos são realizados na intenção de moeda de troca a fim de não sofrer punições
quando desencarnar. O Umbral recebe novo nome, novas roupas, mas mantém a essência de
outrora do que entendíamos como inferno, e isto é preocupante pois significa que ainda
compreendemos a dor e o sofrimento como algo punitivo, tal qual a prisão que castiga o
detento, quando o convite é para que compreendamos a dor como um educador e um aviso de
que é necessário mudar o caminho, corrigir a rota, ou mesmo, para provar o vigor de nossa fé
e de nossa vontade em permanecer no bem.

Paulo conhecia a sensação de caminhar na Lei, outrora andava como fariseu, no entanto,
conheceu a liberdade que o amor do Cristo ofereceu-lhe à alma e tentava demonstrar isto em
sua vida e em suas cartas. Não mais a punição, o rigor, a rigidez, mas o amor que educa,
ensina a disciplina, renova as oportunidades e reitera a lição.

Quando deixamos de nos sentir prisioneiros e passamos a nos sentir filhos de Deus, mudamos
a forma como nos relacionamos com o Nosso Criador, sentimo-nos parte de um todo e não
apartados do mundo, outrora separados do amor e da felicidade, hoje, herdeiros do Pai
Celestial, criador do Universo.

Comprometemo-nos, assim, de forma diferente com tudo e com todos. Enquanto prisioneiros,
fazemos tudo por medo e obrigação, quando, porém, passamos a perceber nossa condição de
filhos de Deus o mundo se torna nosso trabalho e compromisso, sentimo-nos
verdadeiramente integrados e reconhecemos a nossa tarefa na Terra.

Emmanuel diz que somos Filhos de Luz e nos esclarece sobre este novo viver:

Vinha de luz — Emmanuel

Filhos da luz

“Andai como filhos da luz.” — PAULO (Efésios, 5.8)

Cada criatura dá sempre notícias da própria origem espiritual.

Os atos, palavras e pensamentos constituem informações vivas da zona mental de que


procedemos.

Os filhos da inquietude costumam abafar quem os ouve, em mantos escuros de aflição.

Os rebentos da tristeza espalham o nevoeiro do desânimo.

Os cultivadores da irritação fulminam o espírito da gentileza com os raios da cólera.

Os portadores de interesses mesquinhos ensombram a estrada em que transitam,


estabelecendo escuro clima nas mentes alheias.

Os corações endurecidos geram nuvens de desconfiança, por onde passam.


Os afeiçoados à calúnia e à maledicência distribuem venenosos quinhões de trevas com que
se improvisam grandes males e grandes crimes.

Os cristãos, todavia, são filhos da luz. E a missão da luz é uniforme e insofismável.

Beneficia a todos sem distinção.

Não formula exigências para dar.

Afasta as sombras sem alarde.

Espalha alegria e revelação crescentes.

Semeia renovadas esperanças.

Esclarece, ensina, ampara e irradia-se.

Paulo nos oferece uma perspectiva nova em razão deste argumento.

Se somos filhos de Deus, somos todos irmãos, somos todos iguais: “Não há judeu nem
grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; pois todos vós sois um só em
Cristo Jesus.”

O Cristo de Deus vem ao mundo para nos libertar da escravidão e para nos dizer que todos
somos filhos do mesmo Pai, irmãos em caminho evolutivo, destinados a caminhar para o bem
e para a redenção.

Não há, assim, melhor ou pior, mas pessoas igualmente amadas que encontram-se em
percepções diferentes de si mesmas e do seu relacionamento com Deus.

Há muitos que caminham pela Terra sentindo-se qual prisioneiros, querem se libertar e não
raro se revoltam, agindo em desacordo com as leis divinas e provocando desequilíbrio em vez
de semear o bem.

Compreender isto nos permite ver o mundo que nos cerca com maior caridade e
paciência, atribuindo ao aparente caos de que se revestem muitas pessoas e ambientes
apenas como um momento passageiro, tal qual a criança que reluta em aprender a lição e
necessita repetir, estudar e realizar novas provas. Não mais o caos, mas a prova sendo
realizada e muitos conseguindo o êxito de seguir em frente, outros tantos, no entanto,
repetindo os desenganos de outrora e mantendo-se qual prisioneiros rebeldes.

Kardec comenta esta questão no Evangelho Segundo o Espiritismo:

“26. Nota – Uma comparação vulgar fará se compreenda melhor essa diferença. O escolar
não chega aos estudos superiores da Ciência, senão depois de haver percorrido a série das
classes que até lá o conduzirão. Essas classes, qualquer que seja o trabalho que exijam, são
um meio de o estudante alcançar o fim e não um castigo que se lhe inflige. Se ele é
esforçado, abrevia o caminho, no qual, então, menos espinhos encontra. Outro tanto não
sucede àquele a quem a negligência e a preguiça obrigam a passar duplamente por certas
classes. Não é o trabalho da classe que constitui a punição; esta se acha na obrigação de
recomeçar o mesmo trabalho.

Assim acontece com o homem na Terra. Para o Espírito do selvagem, que está apenas no
início da vida espiritual, a encarnação é um meio de ele desenvolver a sua inteligência;
contudo, para o homem esclarecido, em quem o senso moral se acha largamente
desenvolvido e que é obrigado a percorrer de novo as etapas de uma vida corpórea cheia de
angústias, quando já poderia ter chegado ao fim, é um castigo, pela necessidade em que se
vê de prolongar sua permanência em mundos inferiores e desgraçados. Aquele que, ao
contrário, trabalha ativamente pelo seu progresso moral, além de abreviar o tempo da
encarnação material, pode também transpor de uma só vez os degraus intermédios que o
separam dos mundos superiores.

Não poderiam os Espíritos encarnar uma única vez em determinado globo e preencher em
esferas diferentes suas diferentes existências? Semelhante modo de ver só seria admissível
se, na Terra, todos os homens estivessem exatamente no mesmo nível intelectual e moral. As
diferenças que há entre eles, desde o selvagem ao homem civilizado, mostram quais os
degraus que têm de subir. A encarnação, aliás, precisa ter um fim útil. Ora, qual seria o das
encarnações efêmeras das crianças que morrem em tenra idade? Teriam sofrido sem
proveito para si, nem para outrem. Deus, cujas leis todas são soberanamente sábias, nada
faz de inútil. Pela reencarnação no mesmo globo, quis ele que os mesmos Espíritos, pondo-se
novamente em contacto, tivessem ensejo de reparar seus danos recíprocos. Por meio das
suas relações anteriores, quis, além disso, estabelecer sobre base espiritual os laços de
família e apoiar numa lei natural os princípios da solidariedade, da fraternidade e da
igualdade.” (O Evangelho segundo o Espiritismo > Capítulo IV - Ninguém poderá ver o reino de Deus se
não nascer de novo > Instruções dos Espíritos > Necessidades da encarnação > 26)

A lição é oportuna e nos alcança, chamando-nos para que, primeiramente, sintamo-nos como
filhos de Deus, co-criadores do mundo e habilitados para o trabalho da construção de um
mundo melhor. Deixemos a percepção de outrora de que éramos prisioneiros, de que Deus
punia-nos, para compreender que somos aprendizes e muitas vezes a lição nos desafia a
alçarmos novos voos, compreendendo o mundo que nos cerca das alturas e não mais de um
forma tribal e restrita.

Recordemos que está em nossa vontade e ensejo de progredir e aprender a lição:

“1008. Depende sempre da vontade do Espírito a duração das penas? Algumas não haverá
que lhe sejam impostas por tempo determinado?

“Sim, ao Espírito podem ser impostas penas por determinado tempo; mas Deus, que só quer
o bem de Suas criaturas, acolhe sempre o arrependimento, e infrutífero jamais fica o desejo
que o Espírito manifeste de se melhorar.”
“Humanidade! Humanidade! Não mergulhes mais os teus tristes olhares nas profundezas da
Terra, procurando aí os castigos. Chora, espera, expia e refugia-te na ideia de um Deus
intrinsecamente bom, absolutamente poderoso, essencialmente justo.” PLATÃO (Livro dos
Espíritos – Parte Quatro – Cap. 2)

Que tenhamos a coragem de sondar os nossos mais íntimos sentimentos e verificar como
anda a nossa fé e a nossa percepção de Deus em nossas vidas. Que Jesus nos auxilie a
compreendermos o amor que nos cerca e que, finalmente, andemos pelo mundo como filhos
da Luz, espalhando o bem e semeando a paz.

Um fraterno abraço e até o próximo estudo.

Campo Grande – MS, agosto de 2019.

Candice Günther
Carta aos Gálatas com Emmanuel

11

Texto para análise

1Ora, eu digo: enquanto o herdeiro é menor, embora dono de tudo, em nada difere de um
escravo. 2Ele fica debaixo de tutores e curadores até a data estabelecida pelo pai. 3Assim
também nós, quando éramos menores, estávamos reduzidos à condição de escravos, debaixo
dos elementos do mundo. 4Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu
Filho, nascido de uma mulher, nascido sob a Lei, 5para remir os que estavam sob a Lei, a fim
de que recebêssemos a adoção filial. 6E porque sois filhos, enviou Deus aos nossos corações
o Espírito do seu Filho, que clama: Abba, Pai! 7De modo que já não és escravo, mas filho. E
se és filho, és também herdeiro, graças a Deus. 8Outrora, é verdade, não conhecendo a Deus,
servistes a deuses, que na realidade não o são. 9Mas agora, conhecendo a Deus, ou melhor,
sendo conhecidos por Deus, como é possível voltardes novamente a estes fracos e miseráveis
elementos aos quais vos quereis escravizar outra vez? 10Observais cuidadosamente dias,
meses, estações, anos! 11Receio ter-me afadigado em vão por vós.Cap. 4:1-10

Paulo, desde os textos anteriores, vai estabelecendo uma gradação para falar do
relacionamento nosso com Deus. No texto anterior fez uma comparação entre ser escravo e
ser filho e afirmou que, em Cristo, tornamo-nos filhos de Deus, herdeiros e co-partícipes da
criação.
O homem, então, deixa de ser alguém que obedece e segue regras, para tornar-se um ser
pensante, que aprende, que compreende o seu propósito no mundo e sente-se responsável por
ele, percebendo que tudo lhe é oferecido por Deus na condição de filho amado.

Agora, porém, Paulo irá nos levar a uma reflexão em relação à filiação, do momento em que
se deixa a infância para adentrar na vida adulta, não apenas para ter direitos, mas para
compreender e responsabilizar-se por si mesmo diante da sociedade e diante de Deus.

Wiliam Barclay nos oferece o contexto história de como se dava esta transição nas culturas
judaica, grego e romana. Vejamos:

“(1) No mundo judeu, quando um menino fazia doze anos, no seguinte sábado o pai o
levava à sinagoga, onde se convertia em filho da Lei. Nessa ocasião o pai pronunciava sobre
o filho uma bênção: "Bendito sejas, ó Deus, que me tiraste a responsabilidade sobre este
filho." O menino recitava uma oração em que dizia: "Meu deus e Deus de meus pais!, neste
dia solene e sagrado que assinala meu passo da infância à vida adulta, levanto
humildemente meus olhos em torno de ti e declaro com sinceridade e fidelidade que de agora
em diante observarei teus mandamentos e assumirei a responsabilidade de minhas ações
perante ti." Na vida do jovem existia uma clara linha divisória. Quase da noite para o dia o
menino se transformava em homem.
(2) Na Grécia o menino estava sob o cuidado paterno dos sete até os dezoito anos. Era
então quando se fazia um efebos que pode traduzir-se cadete, e por dois anos ficava sob a
direção do Estado. Os atenienses estavam divididos em dez fratriai ou clãs. Antes de que o
moço se fizesse efebos era recebido no clã num festival chamado Apatouria. Numa cerimônia
lhe cortavam os longos cabelos para oferecer-lhe aos deuses. Também neste caso, o
crescimento era um processo bem definido.
(3) Sob a lei romana não estava estabelecida definitivamente a idade em que um menino se
fazia maior, mas sempre tênia lugar entre os 14 e os 17 anos. Num festival sagrado da
família chamado Liberalia se tirava a toga praetexta, que era uma toga com uma estreita
banda púrpura no arena inferior, e se revestia da toga virillis que era a toga lisa própria dos
adultos. Então era conduzido por seus amigos e familiares ao fórum para ser introduzido
formalmente na vida pública. Tratava-se essencialmente de uma cerimônia religiosa. E mais
uma vez havia um dia bem definido em que o moço se fazia maior. Existia entre os romanos o
costume de que esse dia o menino ou a menina ofereciam sua bola ou sua boneca,
respectivamente, a Apolo para mostrar que tinham deixado de lado as coisas de menino.
Quando um menino era infante podia ser realmente proprietário de uma vasta fazenda mas
não podia tomar decisões legais; não tinha o domínio de sua própria vida; tudo era feito e
dirigido por ele, portanto na prática não possuía maior liberdade que um escravo. Mas
quando se tornava adulto começava a dispor plenamente de sua herdade e a desfrutar da
liberdade dos adultos.” (Comentário à Carta aos Gálatas – Wiliam Barclay)

Em momento anterior, Paulo compara a lei mosaica a um “oikónomoi”, o professor que os


conduzia na primeira infância, em geral um escravo que por seus conhecimentos era
destinado a cuidar e zelar pela educação das crianças.

Agora, Paulo nos diz que esta fase acabou, a vida adulta é anunciada e estamos aptos para um
novo relacionamento com Deus. Não mais conduzidos por um oikónomoi (lei), mas prontos
para um novo tipo de relacionamento com Deus por meio da vida do Cristo Jesus, que através
do seu exemplo de luz nos dá a direção a tomar.

Esta transição é importante e, ainda hoje, merece a nossa reflexão e questionamento interior,
por que decorridos quase 2000 anos, há quem se relacione com Deus de forma infantil,
vendo-o como provedor que lhe atende os caprichos e necessidades.

No livro A Caminho da Luz, Emmanuel nos oferece a trajetória humana desde os primeiros
tempos da Terra até os dias atuais, no último capítulo nos oferece uma releitura do que Paulo
está dizendo aos Gálatas:

“Nos primórdios da Humanidade, o homem terrestre foi naturalmente conduzido às


atividades exteriores, desbravando o caminho da natureza para a solução do problema vital,
mas houve um tempo em que a sua maioridade espiritual foi proclamada pela sabedoria da
Grécia e pelas organizações romanas.
Nessa época, a vinda do Cristo ao planeta assinalaria o maior acontecimento para o
mundo, de vez que o Evangelho seria a eterna mensagem do Céu, ligando a Terra ao reino
luminoso de Jesus, na hipótese da assimilação do homem espiritual, com respeito aos
ensinamentos divinos. Mas a pureza do Cristianismo não conseguiu manter-se intacta, tão
logo regressaram ao plano invisível os auxiliares do Senhor, reencarnados no globo
terrestre para a glorificação dos tempos apostólicos.
O assédio das trevas avassalou o coração das criaturas.”

Paulo compreendia que o Cristo assinalava novos tempos para a humanidade, que deixava a
sua infância para adentrar em nova era, nova fase, a da “assimilação do homem espiritual”.
Assim, como outrora, somos convidados a avançar novamente para um mundo regenerado.
Aquelas sementes deixadas há 2000 anos, lutam agora para florescer e frutificar.

Não obstante todo o conhecimento que temos do mundo que nos cerca, o nosso
relacionamento com o Criador ainda é algo precário, ora cremos, ora duvidamos, ora
portamo-nos como filhos, ora nos esquecemos de nossa essência e comportamo-nos em
desalinho com as leis divinas.

Também com os Gálatas aconteceu algo semelhante. Foi-lhes apresentada a boa nova e eles
aderiram aos ensinos de amor e perdão deixados pelo Cristo, inaugurando um novo viver,
profundamente belo e consolador, sabendo que estavam irmanados e que suas vidas não
cessavam com a morte material. Apesar disto, Paulo lhes adverte: “Outrora, é verdade, não
conhecendo a Deus, servistes a deuses, que na realidade não o são. Mas agora, conhecendo
a Deus, ou melhor, sendo conhecidos por Deus, como é possível voltardes novamente a
estes fracos e miseráveis elementos aos quais vos quereis escravizar outra vez?”

A pergunta de Paulo atravessa os séculos e nos alcança: como podemos nos deixar escravizar
outra vez¿

Tudo aquilo que diminui ou restringe a nossa liberdade nos encaminha para a escravidão, e
ela não acontece apenas quando um homem é algoz de outro homem, mas quando o próprio
homem se deixa dominar pelas paixões, pela satisfação dos sentidos, pela vida material em
detrimento da vida espiritual.

Recordemos da questão 908 do Livro dos Espíritos:

908. Como se poderá determinar o limite onde as paixões deixam de ser boas para se
tornarem más?

“As paixões são como um corcel, que só tem utilidade quando governado, e que se torna
perigoso quando passa a governar. Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em
que deixais de poder governá-la, e que dá em resultado um prejuízo qualquer para vós
mesmos ou para outrem.”

As paixões são alavancas que decuplicam as forças do homem e o auxiliam na execução dos
desígnios da Providência. Mas se, em vez de as dirigir, deixa que elas o dirijam, cai o
homem nos excessos e a própria força que, manejada pelas suas mãos, poderia produzir o
bem, contra ele se volta e o esmaga.

Todas as paixões têm seu princípio num sentimento ou necessidade natural. O princípio das
paixões não é, assim, um mal, pois que assenta numa das condições providenciais da nossa
existência. A paixão propriamente dita é a exageração de uma necessidade ou de um
sentimento. Está no excesso e não na causa, e este excesso se torna um mal quando tem como
consequência um mal qualquer.”

Não se trata de escolhermos viver tal qual monges em constante contemplação e oração. A
vida requer de nós ações, trabalho, e estarmos encarnados é uma rica escola de aprendizado.

A questão é que já não vivemos apenas para o hoje, mas sabemos que somos criaturas
imortais, com diversas experiências em outras vidas. Isto tem um reflexo em nosso modo de
viver e de ver tudo o que nos cerca.

Se outrora justificava-se a busca incessante pelos bens e alegrias materiais em razão do


homem desconhecer o seu futuro após a morte, permitindo-se, assim, atribuir às alegrias
passageiras da Terra todo o seu querer, hoje, não mais podemos retornar a estes “fracos e
miseráveis elementos”, por foi nos dado conhecer algo maior, mais sublime, que é a vida
espiritual.

Reconhecemos nossas fraquezas e sabemos que estamos aqui para crescermos, evoluirmos e
este deve ser sempre o nosso foco: construir um mundo melhor dentro de nós a fim de que
este novo mundo reflita no que se apresenta em nosso entorno. A mudança é sempre de
dentro para fora e é trabalho de cada um.

Emmanuel nos auxilia a refletir sobre a questão num texto que trata do aprimoramento a fim
de que a pergunta de Paulo ressoe em nossas vidas e corações: “...como é possível voltardes
novamente a estes fracos e miseráveis elementos aos quais vos quereis escravizar outra
vez?”

Rumo certo — Emmanuel

Autoaprimoramento
Tanto quanto sustentamos confidências menos felizes com os outros, alimentamos aquelas
do mesmo gênero de nós para nós mesmos.

Como vencer os nossos conflitos interiores? 3 De que modo eliminar as tendências menos
construtivas que ainda nos caracterizam a individualidade? — indagamo-nos.

De que modo esparzir a luz se muitas vezes ainda nos afinamos com a sombra?

E perdemos tempo longo na introspecção sem proveito, da qual nos afastamos insatisfeitos
ou tristes.

Ponderemos, entretanto, que se os doentes estivessem proibidos de trabalhar, segundo as


possibilidades que lhes são próprias, e se os benefícios da escola fossem vedados aos
ignorantes, não restaria à civilização outra alternativa que não a de se extinguir, deixando-
se invadir pelos atributos da selva.

Felicitemo-nos pelo fato de já conhecer as nossas fraquezas e defini-las. Isso constitui um


passo muito importante no progresso espiritual, porque, com isso, já não mais ignoramos
onde e como atuar em auxílio da própria cura e burilamento.

Que somos Espíritos endividados perante as Leis Divinas, em nos reportando a nós outros,
os companheiros em evolução na Terra, não padece dúvida.

Urge, porém, saber como facear construtivamente as necessidades e problemas do mundo


íntimo.

Reconhecemo-nos falhos, em nos referindo aos valores da alma, ante a Vida Superior, mas
abstenhamo-nos de chorar inutilmente no beco da autopiedade.

Ao invés disso, trabalhemos na edificação do bem de todos.

Cultura é a soma de lições infinitamente repetidas no tempo.

Virtude é o resultado de experiências incomensuravelmente recapituladas na vida.

Jesus, o Mestre dos mestres, apresenta uma chave simples para que se lhe identifiquem os
legítimos seguidores: “conhecê-los-eis pelos frutos”.

Observemos o que estamos realizando com o tesouro das horas e de que espécie são as
nossas ações, a benefício dos semelhantes. E, procurando aceitar-nos como somos, sem
subterfúgios ou escapatórias, evitemos estragar-nos com queixas e autocondenação,
diligenciando buscar, isto sim, agir, servir e melhorar-nos sempre.

Em tudo o que sentirmos, pensarmos, falarmos ou fizermos, doemos aos outros o melhor de
nós, reconhecendo que, se as árvores são valorizadas pelos próprios frutos, cada árvore
recebe e receberá invariavelmente atenção e auxílio do pomicultor, conforme os frutos que
venha a produzir.
Que possamos caminhar a cada dia rumo ao nosso crescimento espiritual e não mais como
crianças ou escravos, mas pessoas conscientes e responsáveis por si mesmas, que tomam para
si a grande tarefa de melhorar a cada dia.

Os versículos finais do trecho escolhido para estudo hoje nos fala do tempo: “10Observais
cuidadosamente dias, meses, estações, anos! 11Receio ter-me afadigado em vão por vós.”

Contamos os dias na Terra, muitas vezes celebramos datas sem, no entanto, dar a devida
importância ao que se está comemorando. Hoje, por exemplo, comemora-se o dia dos pais,
em que muitos irão ofertar presentes, festas, encontros, esquecendo-se, no entanto, que todos
os dias o mandamento “honrai pai e mãe” nos conclama a ofertarmos algo além de benesses
materiais. Outras vezes celebramos a data comemorativa de nascimento ou morte de alguém
que admiramos, renovando as homenagens muitas vezes, porém, esquecidos de seus
ensinamentos e exemplos de vida que deviam nos inspirar.

Observamos cuidadosamente dias, meses, estações e anos! É chegado o tempo de observamos


cuidadosamente pessoas e obras, idéias e pensamentos que nos inspirem e nos auxiliem em
nossa jornada.

Deixemos os autógrafos de lado para adentrar no livro e aprender com seus ensinamentos.
Esvaziemos as filas que celebram pessoas para encher as filas que auxiliam os necessitados,
observemos cuidadosamente o nosso tempo na Terra a fim de que não o desperdicemos
novamente, só assim, as palavras de Paulo nos terão alcançado e nada terá sido em vão.

Um fraterno abraço e até o próximo estudo.

Campo Grande – MS, 11.8.2019


Candice Günther
Carta aos Gálatas com Emmanuel

12

Texto para análise

12Eu vos suplico, irmãos, que vos torneis como eu, pois eu também me tornei como vós. Em
nada me ofendestes. 13Bem o sabeis, foi por causa de uma doença que eu vos evangelizei pela
primeira vez. 14E vós não mostrastes desprezo nem desgosto, em face da vossa provação na
minha carne; pelo contrário, me recebestes como um anjo de Deus, como Cristo Jesus.
15Onde estão agora as vossas felicitações? Pois eu vos testemunho que, se vos fosse possível,
teríeis arrancado os olhos para dá-los a mim. 16Então, dizendo-vos a verdade, eu me tornei
vosso inimigo? 17Não é para o bem que eles vos cortejam. O que querem é separar-vos de
mim para que vós os cortejeis a eles. 18É bom ser cortejado para o bem sempre, e não só
quando estou presente entre vós, 19meus filhos, por quem eu sofro de novo as dores do parto,
até que Cristo seja formado em vós. 20Quisera estar no meio de vós agora e mudar o tom da
voz, pois não sei que atitude tomar a vosso respeito. Cap. 4:12-20

Neste trecho Paulo rememora da primeira vez que esteve dentre eles, fazendo menção a estar
adoecido.

No livro Paulo e Estevão, encontramos a referência de quando Paulo esteve em Antioquia de


Pisídia, acreditando ser este o trecho a que se refere na Carta aos Gálatas. Há uma certa
controvérsia entre os estudiosos sobre qual região poderia ser considerada como alvo da carta
de Paulo, uma vez que a Galácia era uma região consideravelmente grande. Com as
informações do livro Paulo e Estevão, no entanto, fica claro tratar-se da Galácia do Sul, onde
encontrava-se a cidade de Antioquia de Pisídia.
Primeiramente, vejamos sobre Antioquia de Pisídia, conforme alguns trechos do livro de J.D.
Douglas (Novo Dicionário da Bíblia):

“Pisídia fazia parte do reino da Galácia entregue por Antonio a Amintas em 36 a.C. e foi em
guerra contra as tribos das colinas da Písídia que Amintas pereceu 25 a. C.
(...) Conforme a teoria da “Galácia do Sul” a epístola poderia ter sido escrita antes disso: as
palavras “tão depressa” (Gl 1.6) de fato deixa subentendido uma data não muito tempo
depois da primeira viagem missionária, enquanto que a expressão “a primeira vez” (Gl
4.13) poderia ser entendida à luz do fato que, no curso da primeira viagem, Paulo e
Barnabé visitaram o sul da Galácia por duas vezes, indo de Antioquia da Pisídia para
Derbe, e daí de volta para Antioquia da Pisídia ( At 14.21).”

Este mapa mostra as viagens de Paulo:

Vejamos, então, a referência no livro Paulo e Estevão:

“Vencendo obstáculos de toda sorte, chegaram a Antioquia fundamente abatidos. Paulo,


principalmente, a determinados momentos da noite, sentia-se cansado e febril. Barnabé tinha
freqüentes acessos de tosse. O primeiro contacto com a natureza hostil acarretara aos dois
mensageiros do Evangelho fortes desequilíbrios orgânicos. Não obstante a precária saúde, o
tecelão de Tarso procurou informar-se, logo na manhã da chegada, sobre as tendas de
artefatos de couro existentes na cidade. Antioquia de Pisídia contava grande número de
israelitas. Seu movimento comercial era mais que regular, As vias públicas ostentavam lojas
bem sortidas e pequenas indústrias variadas.
Confiando na Providência Divina, alugaram um quarto muito simples, e, enquanto Barnabé
repousava da fadiga extrema, Paulo procurou uma das tendas indicadas por um negociante
de frutas.
(...)
Embora doente, o emissário do Cristo atirou-se ao trabalho com afã. Um velho tear foi
instalado apressadamente, junto à banca cheia de facas, martelos e peças de couro.
Paulo entrou a trabalhar, tendo um olhar amigo e uma boa palavra para cada companheiro.
Longe de se impor pelos conhecimentos superiores que possuía, observava o sistema de
trabalho dos auxiliares de Ibraim e sugeria novas providências favoráveis ao serviço, com
bondade, sem afetação. Comovido pelas suas declarações sinceras, o dono da casa mandou
a refeição a Barnabé, enquanto o ex-rabino vencia galhardamente as primeiras dificuldades,
experimentando o júbilo de um grande triunfo.
(...)
No primeiro sábado de permanência em Antioquia, os arautos do Evangelho dirigiram-se à
sinagoga local. Ibraim, satisfeitíssimo com a cooperação do novo empregado, dera-lhe duas
túnicas usadas, que Paulo e Barnabé envergaram com alegria. Toda a população “temente a
Deus” comprimia-se no recinto. Sentaram-se os dois no local reservado aos visitantes ou
desconhecidos. Terminado o estudo e comentários da Lei e dos Profetas, o diretor dos
serviços religiosos perguntou-lhes, em voz alta, se desejariam dizer algumas palavras aos
presentes.
De pronto, Paulo levantou-se e aceitou o convite. Dirigiu-se à modesta tribuna em atitude
nobre e começou a discorrer sobre a Lei, tomado de eloqüência sublime. O auditório, não
afeito a raciocínios tão altos, seguia -lhe a palavra fluente como se houvera encontrado um
profeta autêntico, a espalhar maravilhas. Os israelitas não cabiam em si de contentes. Quem
era aquele homem de quem se poderia orgulhar o próprio Templo de Jerusalém? Em dado
momento, contudo, as palavras do orador passaram a ser quase incompreensíveis para
todos. Seu verbo sublime anunciava um Messias que já viera ao mundo. Alguns judeus
aguçaram os ouvidos. Tratava-se do Cristo Jesus, por intermédio de quem as criaturas
deveriam esperar a graça e a verdade da salvação. O ex-doutor observou que numerosas
fisionomias mostravam-se contrariadas, mas a maioria escutava-o com indefinível vibração
de simpatia. A relação dos feitos de Jesus, sua exemplificação divina, a morte na cruz,
arrancavam lágrimas do auditório. O próprio chefe da sinagoga estava profundamente
surpreendido... Terminada a longa oração, o novo missionário foi abraçado por grande
número de assistentes. Ibraim, que acabava de conhecê-lo sob novo aspecto, cumprimentou-
o radiante.
(...)
Não obstante a continuidade das pregações de Paulo, aumentava, entre os israelitas
poderosos, a perseguição, o apodo e a ironia. Os mensageiros da Boa Nova, entretanto, não
desanimaram. Confortados pelos mais sinceros, fundaram a igreja na casa de Ibraim.
Quando tudo ia bem, eis que o ex-rabino, ainda em consequência das vicissitudes
experimentadas na travessia dos pântanos da Panfília, cai gravemente enfermo,
preocupando a todos os irmãos. Durante um mês, esteve sob a influência maligna de uma
febre devoradora. Barnabé e os novos amigos foram inexcedíveis em cuidados.” (Trecho do
livro Paulo e Estevão – cap. 4 da segunda parte)
A vida de Paulo foi repleta de lutas e dificuldades, doente e perseguido, no entanto, jamais
deixou-se abater na lutas pelo Evangelho. Sentia-se profundamente tocado pela mensagem do
Cristo e sua missão lhe era clara e límpida: levar a todos os corações a boa nova que ele
também recebera.

Não havia desculpas, compromissos, intempéries que impediam Paulo e isto nos ensina algo
precioso: quando nossa vontade quer algo, nos esforçamos para alcançar êxito.

Muitos poderão admirar Paulo, exaltando-lhe as virtudes e reconhecendo que jamais teriam
tamanha força, tamanho desprendimento, sem dúvida, a tarefa atribuída a Paulo pelo Cristo é
para poucos. Forçoso observar, no entanto, que é na vontade do homem que reside a sua
grande força e que, talvez, estejamos dando prioridade a colocar a nossa energia em tarefas
outras que não o Evangelho do Nosso Senhor Jesus Cristo. Cabe a cada um a reflexão. Nosso
tempo na Terra é período precioso e requer de nós trabalho no bem, esforço contínuo para
que o aproveitemos bem.

Feitas essas consideração iniciais, podemos nos voltar para o tom amoroso deste trecho que
Paulo dirige aos Gálatas, comparando-os a filhos, recordando as dores do parto, para lhes
dizer de sua preocupação por sua conduta e do imenso amor que lhe fazia querer para eles o
melhor.

Paulo retorna ao primeiro amor, ao primeiro tempo em que esteve entre eles, em que foi
cuidado por eles amorosamente para lhes tocar e lembrar do amor do Cristo e da vivência
cristã: “15Onde estão agora as vossas felicitações? Pois eu vos testemunho que, se vos fosse
possível, teríeis arrancado os olhos para dá-los a mim. 16Então, dizendo-vos a verdade, eu
me tornei vosso inimigo?”

E segue sua carta com uma afirmação importante: “17Não é para o bem que eles vos
cortejam. O que querem é separar-vos de mim para que vós os cortejeis a eles. 18É bom ser
cortejado para o bem sempre, e não só quando estou presente entre vós, 19meus filhos, por
quem eu sofro de novo as dores do parto, até que Cristo seja formado em vós.”

Não é para o bem...

Muitas pessoas adentram no mundo cristão por motivos variados, vemos muitos trabalhos
sendo realizados, seja através de palavra, como palestras, estudos e congressos, seja através
da mediunidade, como as psicografias, os passes, os tratamentos para cura. Tudo isto ocorre
em nosso mundo nos dia de hoje, porém, quantas vezes nos dispomos a observar qual a
intenção de quem oferta o trabalho¿ Será para o bem¿ E para o bem de quem¿ Teriam alguns
ditos trabalhadores interesses outros que não a promoção do Evangelho e a divulgação da
doutrina espírita¿

É interessante como Paulo nos oferece uma chave para reconhecermos aqueles que trabalham
em nome do Cristo. Ao fazer uma referência ao primeiro contato que teve com eles, Paulo os
nomina como filhos espirituais, como amados do seu coração tal qual uma mãe ama seus
filhos.
Eis a chave: quando estamos diante de verdadeiros trabalhadores de Jesus nos sentimos
amados por eles.

Recordemos de Chico Xavier e de suas cartas às mãezinhas que perderam seus filhos, quanto
consolo naquelas noites mal dormidas em que Chico fazia todo esforço, em detrimento do seu
próprio bem estar, para levar um pouco de consolo e paz aos corações cansados e atribulados.

A pergunta que se faz e a reflexão que o texto nos oferece é para que verifiquemos como nos
sentimos diante de pessoas que se auto-afirmam como missionários do Cristo. Será para o
bem¿

Emmanuel nos convida a olharmos para o exemplo do Cristo:

Religião dos Espíritos — Emmanuel

Abnegação

No estudo da abnegação, fitemos em Cristo o exemplo máximo.

Emissário de Deus entre os homens, podia exigir um palácio para nascer, mas preferiu
asilar-se no abrigo dos animais.

Podia frequentar, na meninice, os mais altos grêmios filosóficos e religiosos da nação que o
contava entre os seus; todavia, preferiu as rudes experiências da carpintaria de Nazaré.

Podia aderir aos programas de dominação dos maiorais em Jerusalém, impondo-lhes a sua
própria condição de missionário excepcional; entretanto, preferiu incorporar-se ao trabalho
de pescadores humildes, revelando-se a eles sem violência.

Podia escolher as damas ilustres para entreter-se, com elas, acerca do Reino de Deus,
através de tertúlias afetivas no terraço de casas nobres; contudo, preferiu entender-se com
as mulheres simples do povo, sem esquecer a filha de Magdala, submetida aos flagelos da
humilhação.

Podia insinuar-se no ambiente mais íntimo de Caifás ou Pilatos e agradar-lhes a parentela


para ganhar influência; no entanto, preferiu aproximar-se dos enfermos esquecidos na via
pública.

Podia acumular ouro e prata, mobilizando os poderes de que dispunha, mas preferiu viver
entre os desfavorecidos do mundo, sem reter uma pedra onde repousar a cabeça.

Podia afastar Iscariotes do círculo doméstico, depois de perceber-lhe os primeiros sinais da


deserção; todavia, preferiu conservá-lo entre os aprendizes, para não lhe frustrar as
oportunidades de reajuste.

Podia agitar a multidão contra os detratores de sua causa; entretanto, preferiu que os
detratores a comandassem.
Podia recorrer à justiça de modo a defender-se contra a perseguição sem motivo; no
entanto, preferiu morrer perdoando aos algozes, alinhando-se entre os condenados à morte
sem culpa.

Não te despreocupes, assim, da abnegação dentro da própria vida, a fim de que possas
auxiliar as vidas que te rodeiam.

Supérfluo que nos enfeita é carência que aflige os outros.

O grande egoísmo da Humanidade é a soma dos pequenos egoísmos de cada um de nós.

Sofrer por obrigação é resgate humano, mas sofrer para que outros não sofram é renúncia
divina.

Ninguém sabe se existe virtude nos prisioneiros da expiação; entretanto, a virtude mostra-se
viva em todo aquele que, podendo acolher-se ao bem próprio, procura, acima de tudo, o bem
para todos.

Se podes exigir e não exiges, se podes pedir e não pedes, se podes complicar e não
complicas, se podes parar de servir e prossegues servindo, estarás conquistando o justo
merecimento.

Não vale, pois, reclamar a abnegação dos outros para a melhoria do mundo, porque o
próprio Cristo nos ensinou, à força de exemplos, que a melhoria do mundo começa de nós.”

A força da pregação de Paulo não estava no seu conhecimento ou na eloquência do seu


discurso, mas no profundo amor que dispensou a todos que cruzaram o seu caminho. Buscou
servir a Jesus seguindo-lhe o exemplo de abnegação, em renúncia divina que promove a
efetiva melhoria do mundo.

A lição, assim, é oportuna e nos conclama a refletirmos sobre a nossa postura diante do
Evangelho, a refletirmos como as pessoas se sentem em nossa presença, é o amor que nos
une¿

Como nos ensina Emmanuel, a melhoria do mundo começa em nós, assim, façamos a nossa
parte, trabalhemos no amor, no bem, no serviço desinteressado, busquemos a humildade, não
permitindo jamais que a vaidade nos encontra e nos faça resvalar em nossa estrada.

Sigamos com Jesus, tendo como norte seu exemplo de luz que nos permite reconhecer o
verdadeiro caminho para vida plena.

Um forte abraço e até o próximo estudo.

Campo Grande – MS, agosto de 2019.

Candice Günther.
Carta aos Gálatas com Emmanuel

13

Texto para análise

21Dizei-me, vós que quereis estar debaixo da Lei, não ouvis vós a Lei? 22Pois está escrito que
Abraão teve dois filhos, um da serva e outro da livre. 23Mas o da serva nasceu segundo a
carne; o da livre, em virtude da promessa. 24Isto foi dito em alegoria. Elas, com efeito, são as
duas alianças; uma, a do monte Sinai, gerando para a escravidão: é Agar 25(porque o Sinai
está na Arábia), e ela corresponde à Jerusalém de agora, que de fato é escrava com seus
filhos. 26Mas a Jerusalém do alto é livre e esta é a nossa mãe, 27segundo está escrito: Alegra-
te, estéril, que não davas à luz, Põe-te a gritar de alegria, tu que não conheceste as dores do
parto, porque mais numerosos são os filhos da abandonada do que os daquela que tem arido.
28Ora, vós, irmãos, como Isaac, sois filhos da promessa. 29Mas como então o nascido
segundo a carne perseguia o nascido segundo o espírito, assim também agora. 30Mas que diz
a escritura? Expulsa a serva e o filho dela, pois o filho da serva não herdará com o filho da
livre. 31Portanto, irmãos, não somos filhos de uma serva, mas da livre.
Gálatas 4:21-31

Neste trecho Paulo usa a história de Abraão e seus filhos para lhes explicar sobre a liberdade
e a escravidão, não apenas física, mas sobretudo a espiritual. Ressalta que a história narrada é
uma alegoria, ou seja, uma história que representa um pensamento e pode ter mais de uma
sentido que não apenas o literal. Assim, ele explica o que Abraão e seus filhos representam
não apenas como pessoas, mas como símbolos, nos chamando a refletir sobre e liberdade e a
escravidão.

Um texto com mais de um significado era algo inerente à cultura judaica e Wiliam Barclay
nos auxilia a compreender isto:

“Para os rabinos judeus toda passagem da Escritura possuía quatro significados.


(1) Peshat: o significado simples e literal.
(2) Remaz: o significado sugerido.
(3) Derush: o significado implícito, que se deduzia por meio da
investigação.
(4) Sod: o sentido alegórico.
As primeiras letras destas quatro palavras — P R D S — são as consoantes da palavra
paraíso (paradisus), e quando alguém conseguia penetrar estes quatro significados diferentes
alcançava a glória do paraíso. Agora, deve-se notar que a meta suprema e cúspide de todos os
significados era o alegórico. Por isso acontecia com freqüência que os rabinos tomavam uma
simples parte do relato histórico do Antigo Testamento e viam no mesmo sentidos ocultos,
que freqüentemente nos parecem fantásticos, mas que eram muito convincentes para o povo
de seus dias. Paulo era um experiente rabino, e aqui procede da mesma maneira. Toma o
relato que se refere a Abraão, Sara, Agar, Ismael e Isaque (Gen. 16, 17, 21) que no Antigo
Testamento se apresenta como uma narração continuada, e faz dele uma alegoria para ilustrar
seu argumento.”
Continua Barclay oferecendo-nos uma síntese da história usada por Paulo:

“As linhas gerais do relato são as seguintes — Abraão e Sara eram de idade provecta e não
tinham tido filhos. Sara recorreu ao que qualquer esposa teria feito naquela época patriarcal:
fez com que Abraão tivesse relações sexuais com sua jovem escrava, Agar, para ver se podia
ter um filho dela. Agar teve um filho chamado Ismael. Enquanto isso Deus se fez presente e
prometeu a Sara um filho. Isto era tão difícil de crer que lhes pareceu simplesmente
impossível, tanto a Abraão como a Sara. Mas no devido tempo nasceu Isaque. Isto significa
que enquanto Ismael tinha nascido por impulso natural e humano da carne, Isaque nasceu
pela promessa de Deus. Sara era uma mulher livre enquanto Agar era escrava. A princípio
Agar se sentiu inclinada a gabar-se sobre a Sara, porque a esterilidade constituía uma afronta
dolorosa para a mulher. A atmosfera estava recarregada de tensões. Mais tarde Sara chegou a
surpreender a Ismael "zombando" de Isaque — isto para Paulo significa perseguição — e
insistiu em que Agar fosse despedida, porque o filho da escrava não podia participar da
herança com o filho da livre. Posteriormente a Arábia era considerada como o país dos
escravos, onde continuavam habitando os descendentes de Agar.”

O significado alegórico deste trecho, uma de suas possibilidades interpretativas, é comparar


Agar à escravidão da Lei e Sara à liberdade da promessa, trata-se da forma como nos
relacionamos com Deus, se pela escravidão da Lei ou pela liberdade da fé.

Sara, em um momento de desespero pela ausência de filhos, recorre a um costume da época


que era oferecer ao marido uma escrava jovem para ele ter filho.

Este é um primeiro ponto que necessitamos analisar. A origem de Ismael não vem apenas do
fato de Agar ser escrava, mas de um ato de desespero, de ausência de fé, um momento em
que deixa-se de esperar pela resposta de Deus porque achamos ou que ela não virá ou que
está demorando muito e passamos agir por impulso, resolvendo o problema a nossa maneira.

Compreender a alegoria, então, nos permite refletir sobre a nossa fé e nossas ações diante das
dificuldades da vida. Nem sempre temos a força necessária para esperar, para não revidar,
para fazer o que é certo mesmo que isso signifique uma dor ou um prejuízo.
Assim, quando Sara tem um filho, mesmo já em idade avançada, isto simboliza a resposta de
Deus em nossas vidas, que não acontece no tempo em que queremos, mas no tempo em que é
necessário.

Poderíamos dizer que Sara ficou ansiosa diante da situação e esta palavra “ansiedade” nos
alcança e parece ser o grande mal de nossos tempos. Diante dos problemas, das dificuldades,
das lutas diárias, deixamos a paciência de lado e nos inquietamos, permitindo que a ansiedade
nos governe.

Emmanuel fala sobre a questão no livro Encontro Marcado:

Encontro marcado — Emmanuel

Aflição vazia

TEMA — O problema da ansiedade.

Ante as dificuldades do cotidiano, exerçamos a paciência, não apenas em auxílio aos outros,
mas igualmente a favor de nós mesmos.

Desejamos referir-nos, sobretudo, ao sofrimento inútil da tensão mental que nos inclina à
enfermidade e nos aniquila valiosas oportunidades de serviço.

No passado e no presente, instrutores do espírito e médicos do corpo combatem a ansiedade


como sendo um dos piores corrosivos da alma. De nossa parte, é justo colaboremos com
eles, a benefício próprio, imunizando-nos contra essa nuvem da imaginação que nos
atormenta sem proveito, ameaçando-nos a organização emotiva.

Aceitemos a hora difícil com a paz do aluno honesto, que deu o melhor de si, no estudo da
lição, de modo a comparecer diante da prova, evidenciando consciência tranquila.

Se o nosso caminho tem as marcas do dever cumprido, a inquietação nos visita a casa íntima
na condição do malfeitor decidido a subvertê-la ou dilapidá-la; e assim como é forçoso
defender a atmosfera do lar contra a invasão de agentes destrutivos, é indispensável policiar
o âmbito de nossos pensamentos, assegurando-lhes a serenidade necessária.

Tensão à face de possíveis acontecimentos lamentáveis é facilitar-lhes a eclosão, de vez que


a ideia voltada para o mal é contribuição para que o mal aconteça; e tensão à frente de
sucessos menos felizes é dificultar a ação regenerativa do bem, necessário ao reajuste das
energias que desastres ou erros hajam desperdiçado.

Analisemos desapaixonadamente os prejuízos que as nossas preocupações injustificáveis


causam aos outros e a nós mesmos, e evitemos semelhante desgaste empregando em trabalho
nobilitante os minutos ou as horas que, muita vez, inadvertidamente, reservamos à aflição
vazia.

Lembremo-nos de que as Leis Divinas, através dos processos de ação visível e invisível da
Natureza, a todos nos tratam em bases de equilíbrio, entregando-nos a elas, entre as
necessidades do aperfeiçoamento e os desafios do progresso, com a lógica de quem sabe que
tensão não substitui esforço construtivo, ante os problemas naturais do caminho. E façamos
isso, não apenas por amor aos que nos cercam, mas também a fim de proteger-nos contra a
hora da ansiedade que nasce e cresce de nossa invigilância para asfixiar-nos a alma ou
arrasar-nos o tempo sem qualquer razão de ser.

Entendemos, então, que o trecho que Paulo diz : “29Mas como então o nascido segundo a
carne perseguia o nascido segundo o espírito, assim também agora. 30Mas que diz a
escritura? Expulsa a serva e o filho dela, pois o filho da serva não herdará com o filho da
livre. 31Portanto, irmãos, não somos filhos de uma serva, mas da livre.”, trata desta questão,
da perseguição como as dores e lutas da vida, porém, a certeza de que tudo colabora para
nosso aprendizado, que se algo nos acontece, por pior que seja, Deus o permitiu e nos
concederá caminhos de superação.

Há quem confunda a fé com inércia, com passividade. Esperar que tudo se resolva sem nada
fazer a respeito.

Não se trata disso, a fé é a capacidade de passar pelas dores e lutas da vida em sintonia,
confiando em Deus e na espiritualidade que nos inspira a ações proativas, ações que
resultarão no deslinde do problema.

Buscando, através da prece, do estudo, da palavra amiga, caminhos para que tudo se resolva.

Sara tinha a promessa, o filho prometido que viria a tempo certo. Mas não soube se manter
conectada com a vontade de Deus, que lhe parecia tardia, e agiu por si mesma. No entanto,
quando seu filho nasce, ele revela que o tempo de Deus chegou e que a promessa foi
cumprida.

Segundo Beacon, no livro Comentário do Antigo Testamento no Novo Testamento: “Paulo


retrata a alegria e canção de Isaías concernentes ao dia do cumprimento: “Porque está
escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz, esforça-te e clama, tu que não estás de parto;
porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido. Neste versículo (54-1) o
profeta prevê o dia em que a mulher estéril e solitária terá muito mais filhos do que a mulher
que tem marido.”

Ora, quando compreendemos o significado por trás história estamos aptos, então, a perceber
que a paciência, a resignação, a confiança em Deus gerará muitos mais frutos que a
ansiedade, a ausência de fé, a ansiedade. Não apenas na vida de quem enfrenta o problema,
mas na vida dos que estão em seu entorno.

A escravidão consiste no afastamento de Deus, o homem pelo homem e não o homem com
seu Criador.

Jesus veio nos ensinar uma nova forma de relacionamento com Deus, não mais sob o jugo de
leis e regras exteriores, mas um relacionamento alicerçado no amor, na confiança, na fé.
Na sequência do texto aos Gálatas, Paulo, então, irá abordar sobre a liberdade que o Cristo
nos oferece, nos ensina.

Abordaremos o trecho no próximo estudo, no entanto, deixamos a lição inicial por ser o
desfecho desta história usada por Paulo de forma alegórica.
Palavras de vida eterna — Emmanuel

Liberdade em Cristo

“Estais pois firmes na liberdade com que o Cristo nos libertou e não vos submetais de novo
ao jugo da escravidão.” — PAULO (Gálatas, 5.1)

Meditemos na liberdade com que o Cristo nos libertou das algemas da ignorância e da
crueldade.

Não lhe enxergamos qualquer traço de rebeldia em momento algum.

Através de todas as circunstâncias, sem perder o dinamismo da própria fé, submete-se,


valoroso, ao arbítrio de nosso Pai.

Começa a Missão Divina, descendo da Glória Celestial para o estreito recinto da


manjedoura desconhecida.

Não exibe uma infância destacada no burgo em que se acolhe a sua equipe familiar; respira
o ambiente da vida simples, não obstante a Luz Sublime com que supera o nível intelectual
dos doutores de sua época.

Inicia o apostolado da Boa Nova, sem constranger as grandes inteligências a lhe aceitarem a
doutrina santificante, contentando-se com a adesão dos pescadores de existência singela.

Fascinando as multidões com a sua lógica irresistível, não lhes açula qualquer impulso de
reivindicação social, ensinando-as a despertar no próprio coração os valores do espírito.

Impondo-se pela grandeza única que lhe assinala a presença, acenam-lhe com uma coroa de
rei, que Ele não aceita.

Observando o povo jugulado por dominadores estrangeiros, não lhe aconselha qualquer
indisciplina, recomendando-lhe, ao invés disso, “dar a César o que é de César e a Deus o
que é de Deus.”

Sabe que Judas, o companheiro desditoso, surge repentinamente possuído por desvairada
ambição política, firmando conchavos com perseguidores da sua Causa Sublime, contudo,
não lhe promove a expulsão do círculo mais íntimo.

Não ignora que Simão Pedro traz no âmago da alma a fraqueza com que o negará diante do
mundo, mas não se exaspera, por isso, e ajuda-o cada vez mais.

Ele, que limpara leprosos e sarara loucos, que restituíra a visão aos cegos e o movimento
aos paralíticos, não se exime à prisão e ao escárnio público, à flagelação e à cruz da morte.

Reflitamos, pois, que a liberdade, segundo o Cristo, não é o abuso da faculdade de


raciocinar, empreender e fazer, mas sim a felicidade de obedecer a Deus, construindo o
bem de todos, ainda mesmo sobre o nosso próprio sacrifício, porque somente nessa base
estamos enfim livres para atender aos desígnios do Eterno Pai, sem necessidade de sofrer o
escuro domínio das arrasadoras paixões que nos encadeiam o espírito por tempo
indeterminado às trevas expiatórias.

Fomos criados para o bem, esta é a nossa essência e em fazer o bem consiste a nossa
liberdade. No mundo atual isto ainda tem um preço, requer sacrifícios, paciência,
perseverança. Mas resistir é apenas o presságio do nascimento de algo muito bom, que
frutificará e se espalhará pelo mundo.

Um fraterno abraço e até o próximo estudo.

Campo Grande-MS, setembro de 2019.


Candice Günther
Carta aos Gálatas com Emmanuel

14

Texto para análise

1É para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei firmes, portanto, e não vos deixeis prender
de novo ao jugo da escravidão. 2Atenção! Eu, Paulo, vos digo: se vos fizerdes circuncidar, Cristo de
nada vos servirá. 3Declaro de novo a todo homem que se faz circuncidar: ele está obrigado a
observar toda a Lei. 4Rompestes com Cristo, vós que buscais a justiça na Lei; caístes fora da graça.
5Nós, com efeito, aguardamos, no Espírito, a esperança da justiça que vem da fé. 6Pois, em Cristo
Jesus, nem a circuncisão tem valor, nem a incircuncisão, mas a fé agindo pela caridade. 7Corríeis
bem; quem vos pôs obstáculos para não obedecerdes à verdade? 8Esta sugestão não vem daquele que
vos chama. 9Um pouco de fermento leveda toda a massa. 10Eu confio em vós no Senhor que vós não
pensais diversamente. Aquele, porém, que vos perturba sofrerá a condenação, seja lá quem for.
11Quanto a mim, irmãos, se eu ainda prego a circuncisão, por que sou ainda perseguido? Pois
estaria eliminado o escândalo da cruz! 12Que se façam mutilar de uma vez aqueles que vos
inquietam!
Cap. 5:1-12

Paulo afirma ao Gálatas que andar com o Cristo significa andar com liberdade, não a liberdade em seu
termo vulgar que é permissiva, que propõe que tudo pode ser feito. Ele não afasta a lei divina da causa
e efeito, eis que para tudo o que fazemos há uma consequência.

A liberdade com o Cristo é muito mais profunda que atos, circunstâncias ou manifestações, ela
implica em um mundo interior voltado para a sua essência, a alma reconhecendo que foi criada pelo
amor e para o amor.

Nos afastamos de Deus, a história de Adão simboliza isto com maestria, demonstrando que o homem
deliberadamente quis afastar-se da presença de Deus, quis descumprir suas leis e escondeu-se.

Há, porém, lugar no mundo em que Deus não habite ou não se faça presente¿ E se o reino dEle está
dentro de nós, fugir de Deus não seria fugir de si mesmo e de sua mais profunda razão de ser¿
É nisto que reside a fala do Cristo afirmando-nos que é o caminho, a verdade e a vida. Ele vive em
comunhão plena com o Pai, em cumprimento as suas leis que regem o Universo, e veio nos mostrar e
nos relembrar deste viver. Não obstante, mesmo o conhecendo, não apenas os gálatas, mas ainda nós
outros, nos deixamos prender ao jugo da escravidão.

Paulo os alerta, não retornem a este estado, vocês são livres, não voltem a ser escravos.

Qual a razão de um homem livre querer voltar a ser escravo¿ Não é a liberdade o grande anseio da
humanidade¿ Não é por ela que guerras são travadas¿ Não é por ela que o homem tem se erguido em
manifestos por todos os séculos¿

Talvez ainda não tenhamos compreendido o que é a verdadeira liberdade.

Emmanuel nos auxilia a refletir.

Palavras de vida eterna — Emmanuel

Liberdade em Cristo

“Estais pois firmes na liberdade com que o Cristo nos libertou e não vos submetais de novo ao jugo
da escravidão.” — PAULO (Gálatas, 5.1)

Meditemos na liberdade com que o Cristo nos libertou das algemas da ignorância e da crueldade.

Não lhe enxergamos qualquer traço de rebeldia em momento algum.

Através de todas as circunstâncias, sem perder o dinamismo da própria fé, submete-se, valoroso, ao
arbítrio de nosso Pai.

Começa a Missão Divina, descendo da Glória Celestial para o estreito recinto da manjedoura
desconhecida.

Não exibe uma infância destacada no burgo em que se acolhe a sua equipe familiar; respira o
ambiente da vida simples, não obstante a Luz Sublime com que supera o nível intelectual dos
doutores de sua época.

Inicia o apostolado da Boa Nova, sem constranger as grandes inteligências a lhe aceitarem a
doutrina santificante, contentando-se com a adesão dos pescadores de existência singela.

Fascinando as multidões com a sua lógica irresistível, não lhes açula qualquer impulso de
reivindicação social, ensinando-as a despertar no próprio coração os valores do espírito.

Impondo-se pela grandeza única que lhe assinala a presença, acenam-lhe com uma coroa de rei, que
Ele não aceita.

Observando o povo jugulado por dominadores estrangeiros, não lhe aconselha qualquer indisciplina,
recomendando-lhe, ao invés disso, “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.”

Sabe que Judas, o companheiro desditoso, surge repentinamente possuído por desvairada ambição
política, firmando conchavos com perseguidores da sua Causa Sublime, contudo, não lhe promove a
expulsão do círculo mais íntimo.
Não ignora que Simão Pedro traz no âmago da alma a fraqueza com que o negará diante do mundo,
mas não se exaspera, por isso, e ajuda-o cada vez mais.

Ele, que limpara leprosos e sarara loucos, que restituíra a visão aos cegos e o movimento aos
paralíticos, não se exime à prisão e ao escárnio público, à flagelação e à cruz da morte.

Reflitamos, pois, que a liberdade, segundo o Cristo, não é o abuso da faculdade de raciocinar,
empreender e fazer, mas sim a felicidade de obedecer a Deus, construindo o bem de todos, ainda
mesmo sobre o nosso próprio sacrifício, porque somente nessa base estamos enfim livres para
atender aos desígnios do Eterno Pai, sem necessidade de sofrer o escuro domínio das arrasadoras
paixões que nos encadeiam o espírito por tempo indeterminado às trevas expiatórias.

A lição, então, nos convida a refletirmos sobre o que compreendemos por liberdade, se a
compreendemos como a “faculdade de raciocinar, empreender e fazer”, ou se já a conhecemos
como “a felicidade de obedecer a Deus, construindo o bem de todos”.

Poderíamos questionar se há algo errado em raciocinar, empreender e fazer¿ Certamente que não,
estes são os pilares do homem. A questão é onde o raciocínio nos leva¿ O que fazemos com nossa
liberdade¿ Nossa vida está voltada para o bem comum ou para o bem pessoal¿ Se só tivermos em
nosso querer nosso bem, não caminharemos com liberdade, poderemos até achar que somos livres,
mas o homem que vive para si mesmo, é escravo de suas paixões e vive sem preocupar-se com a
liberdade que também é direito do outro, de todos.

Apenas na caridade encontraremos o equilíbrio necessário para a vida em harmonia e Paulo o sabia,
vivia assim e tentada alertar aos Gálatas dizendo: “6Pois, em Cristo Jesus, nem a circuncisão tem
valor, nem a incircuncisão, mas a fé agindo pela caridade.”

A circuncisão representava a ligação do povo judeu com Deus, era é ato simbólico que lhes era por
tradição imposto deste a tenra idade.

Ser circuncidado ou não, porém, não nos faz pessoas melhores ou piores. Nenhum ato exterior pode
referendar o que vai em nosso coração, pode demonstrar o que realmente sentimos e de como nos
relacionamos com Deus e com nossa essência.

Podemos parecer bons, sem o sermos, podemos fazer grandes obras maculando-as com nosso
interesse pessoal, seja financeiro, seja por vaidade ou orgulho.

Emmanuel nos chama para olharmos o Cristo e nele reconhecermos a verdadeira liberdade.

Vejamos esta outra lição.

Palavras de vida eterna — Emmanuel

Liberdade em Jesus

“Para a liberdade Cristo nos libertou; permanecei, pois, firmes e não vos dobreis novamente a um
jugo de escravidão.” — PAULO (Gálatas, 5.1)

Disse o apóstolo Paulo, com indiscutível acerto, que “para a liberdade Cristo nos libertou”.

E não são poucos aqueles que na opinião terrestre definem o Senhor como sendo um revolucionário
comum.
Não raro, pintam-no à feição de petroleiro vulgar, ferindo instituições e derrubando princípios.

Entretanto, ninguém no mundo foi mais fiel cultor do respeito e da ordem.

Através de todas as circunstâncias, vemo-lo interessado, acima de tudo, na lealdade a Deus e no


serviço aos homens.

Não exige berço dourado para ingressar no mundo.

Aceita de bom grado a infância humilde e laboriosa.

Abraça os companheiros de ministério, quais se mostram, sem deles reclamar certidão de heroísmo e
de santidade.

Nunca se volta contra a autoridade estabelecida.

Trabalha na extinção da crueldade e da hipocrisia, do simonismo e da delinquência, mas em


momento algum persegue ou golpeia os homens que lhes sofrem o aviltante domínio.

Vai ao encontro dos enfermos e dos aflitos para ofertar-lhes o coração.

Serve indistintamente.

Sofre a incompreensão alheia, procurando compreender para ajudar com mais segurança.

Não espera recompensa, nem mesmo aquela que surge em forma de simpatia e entendimento nos
círculos afetivos.

Padece a ingratidão de beneficiados e seguidores, sem qualquer ideia de revide.

Recebe a condenação indébita e submete-se aos tormentos da cruz, sem recorrer à justiça. E ninguém
se fez mais livre que Ele — livre para continuar servindo e amando, através dos séculos renascentes.

Ensinou-nos, assim, não a liberdade que explode de nossas paixões indomesticadas, mas a que verte,
sublime, do cativeiro consciente às nossas obrigações, diante do Pai Excelso.

Nas sombras do “eu”, a liberdade do “faço o que quero” frequentemente cria a desordem e
favorece a loucura.

Na luz do Cristo, a liberdade do “devo servir” gera o progresso e a sublimação.

Assimilemos do Mestre o senso da disciplina.

Se quisermos ser livres, aprendamos a obedecer.

Apenas através do dever retamente cumprido, permaneceremos firmes, sem nos dobrarmos diante da
escravidão a que, muitas vezes, somos constrangidos pela inconsequência de nossos próprios desejos.

Há um alerta de Paulo que nos chama a atenção: “7Corríeis bem; quem vos pôs obstáculos para não
obedecerdes à verdade? 8Esta sugestão não vem daquele que vos chama. 9Um pouco de fermento
leveda toda a massa.”
No livro Fonte Viva há interessante lição que nos explica sobre o fermento que leveda a massa e o que
isso representa para nossas vidas.

Um Pouco de Fermento

"Não sabeis que um pouco de fermento leve da a massa toda?" - Paulo.


( I Coríntios, 5: 6).

Ninguém vive só.


Nossa alma é sempre núcleo de influência para os demais.
Nossos atos possuem linguagem positiva.
Nossas palavras atuam a distância.
Achamo-nos magneticamente associados uns aos outros.
Ações e reações caracterizam-nos a marcha.
É preciso saber, portanto, que espécie de forças projetamos naqueles que nos cercam.
Nossa conduta é um livro aberto.
Quantos de nossos gestos insignificantes alcançam o próximo, gerando inesperadas resoluções!
Quantas frases, aparentemente inexpressivas, arrojadas de nossa boca, estabelecem grandes
acontecimentos!
Cada dia, emitimos sugestões para o bem ou para o mal...
Dirigentes arrastam dirigidos.
Servos inspiram administradores.
Qual é o caminho que a nossa atitude está indicando?
Um pouco de fermento leveda a massa toda.
Não dispomos de recursos para analisar a extensão de nossa influência, mas podemos examinar-lhe a
qualidade essencial.
Acautela-te, pois, com o alimento invisível que forneces às vidas que te rodeiam.
Desdobra-se- nos o destino em correntes de fluxo e refluxo. As forças que hoje se exteriorizam de
nossa atividade voltarão ao centro de nossa atividade, amanhã.

Quando nascemos somos influenciados pelo núcleo familiar em que nos encontramos e este fluxo de
influenciar e ser influenciado vai se expandindo a medida que vamos nos desenvolvendo. A família, a
escola, o trabalho, os amigos, a sociedade. Deixamos a nossa marca na vida das pessoas, não com
nossas palavras, mas com nossas ações. Muito provável que alguém se esqueça das primeiras palavras
que trocaram, raro porém que se esqueça de como se sentiu diante de outra pessoa.

Como as pessoas se sentem diante de nós¿ Irradiamos paz¿ Há amor¿ Emmanuel nos diz que
“Desdobra-se- nos o destino em correntes de fluxo e refluxo. As forças que hoje se exteriorizam de
nossa atividade voltarão ao centro de nossa atividade, amanhã.”

É da lei que colheremos o que semearmos, e, por esta razão, a nossa liberdade está atrelada ao dever,
ao empenho em construir um mundo melhor. Semeando amor e paz, colheremos as alegrias de uma
vida em abundância, não dos bens que a Terra tem a oferecer, mas dos tesouros da alma que nos
acompanharão por toda a eternidade.

Que a lição nos auxilie a observar, doravante, a verdadeira liberdade em nossas vidas, que o sacrifício
em prol de um irmão não nos seja um fardo, mas a alegria de um coração que esqueceu de si mesmo
para dar ao outro um pouquinho de si.

Um fraterno abraço e até o próximo estudo.

Campo Grande-MS, setembro de 2019.

Candice Günther.
Carta aos Gálatas com Emmanuel

15

Texto para análise

13Vós fostes chamados à liberdade, irmãos. Entretanto, que a liberdade não sirva de pretexto para a
carne, mas, pela caridade, colocai-vos a serviço uns dos outros. 14Pois toda a Lei está contida numa
só palavra: Amarás a teu próximo como a ti mesmo. 15Mas se vos mordeis e vos devorais
reciprocamente, cuidado, não aconteça que vos elimineis uns aos outros. 16Ora, eu vos digo,
conduzi-vos pelo Espírito e não satisfareis os desejos da carne. 17Pois a carne tem aspirações
contrárias ao espírito e o espírito contrárias à carne. Eles se opõem reciprocamente, de sorte que
não fazeis o que quereis. 18Mas se vos deixais guiar pelo Espírito, não estais debaixo da lei. 19Ora,
as obras da carne são manifestas: fornicação, impureza, libertinagem, 20idolatria, feitiçaria, ódio,
rixas, ciúmes, ira, discussões, discórdia, divisões, 21invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes
a estas, a respeito das quais eu vos previno, como já vos preveni: os que tais coisas praticam não
herdarão o Reino de Deus. 22Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fidelidade, 23mansidão, autodomínio. Contra estas coisas não existe lei.
24Pois os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com suas paixões e seus desejos. 25Se
vivemos pelo Espírito, pelo Espírito pautemos também a nossa conduta. 26Não sejamos cobiçosos de
vanglória, provocando-nos uns aos outros e invejando-nos uns aos outros.
Cap. 5:13-26

Nos estudos anteriores vimos que Paulo explicou e fundamentou a tese de que com o Cristo estamos
livres, não mais presos aos preceitos da Lei antiga e seus rituais que faziam do homem não um
homem melhor, mais um homem que seguia regras que não necessariamente habitavam em seu
coração.

Não somos mais escravos das ações exteriores, não mais precisamos parecer, agora somos convidados
a sondarmos nosso mundo interior, educando sentimentos para efetivamente nos conectarmos ao Pai
Celestial.
Mas como fazê-lo¿

Eis, então, a beleza dos textos de Paulo, porque ele não se atém apenas a questões teológicas, ele não
apenas fundamenta seu pensamento, agora ele nos oferece um manual prático de como viver em
liberdade, do que ela representa em nossos atos e pensamentos cotidianos.

Para tanto Paulo resgata o ensinamento deixado por Jesus, o mandamento maior.

“Os fariseus, tendo sabido que ele tapara a boca aos saduceus, reuniram-se; — e um deles, que era
doutor da lei, para o tentar, propôs-lhe esta questão: — Mestre, qual o mandamento maior da lei? —
Jesus respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu
espírito; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante a esse: Amarás
o teu próximo, como a ti mesmo. — Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois
mandamentos.” (São Mateus, capítulo XXII, vv. 34 a 40)

E para iniciarmos a compreensão da contraposição que Paulo faz da carne e do espírito, recordemos as
instruções dos espíritos no Evangelho Segundo o Espiritismo sobre este trecho do Evangelho:

“O amor resume a doutrina de Jesus toda inteira, visto que esse é o sentimento por excelência, e os
sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso feito. Em sua origem, o homem só tem
instintos; quando mais avançado e corrompido, só tem sensações; quando instruído e depurado, tem
sentimentos; e o ponto delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas
esse sol interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as aspirações e todas as revelações
sobre-humanas. A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres; extingue as misérias
sociais. Ditoso aquele que, ultrapassando a sua humanidade, ama com amplo amor os seus irmãos
em sofrimento! ditoso aquele que ama, pois não conhece a miséria da alma, nem a do corpo. Tem
ligeiros os pés e vive como que transportado, fora de si mesmo. Quando Jesus pronunciou a divina
palavra amor, os povos sobressaltaram-se e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.

O Espiritismo a seu turno vem pronunciar uma segunda palavra do alfabeto divino. Estai atentos,
pois que essa palavra ergue a lápide dos túmulos vazios, e a reencarnação, triunfando da morte,
revela às criaturas deslumbradas o seu patrimônio intelectual. Já não é ao suplício que ela conduz o
homem: condu-lo à conquista do seu ser, elevado e transfigurado. O sangue resgatou o Espírito e o
Espírito tem hoje que resgatar da matéria o homem.

Disse eu que em seus começos o homem só instintos possuía. Mais próximo, portanto, ainda se acha
do ponto de partida, do que da meta, aquele em quem predominam os instintos. A fim de avançar
para a meta, tem a criatura que vencer os instintos, em proveito dos sentimentos, isto é, que
aperfeiçoar estes últimos, sufocando os germes latentes da matéria. Os instintos são a germinação e
os embriões do sentimento; trazem consigo o progresso, como a glande encerra em si o carvalho, e os
seres menos adiantados são os que, emergindo pouco a pouco de suas crisálidas, se conservam
escravizados aos instintos. O Espírito precisa ser cultivado, como um campo. Toda a riqueza futura
depende do labor atual, que vos granjeará, muito mais do que bens terrenos: a elevação gloriosa. É
então que, compreendendo a lei de amor que liga todos os seres, buscareis nela os gozos suavíssimos
da alma, prelúdios das alegrias celestes. — (LÁZARO. Paris, 1862.) – Evangelho Segundo o
Espiritismo – Cap. XI

O instinto e a educação dos sentimentos, duas condições inerentes ao nosso atual estágio evolutivo. O
instinto ainda nos impulsionando a satisfazer os sentidos, a atender aos impulsos materiais, no
entanto, a educação dos sentimentos a nos demonstrar os limites deste impulso, amparada no amor a
Deus e a todas as suas criaturas.

Paulo nos afirma que devemos nos deixar conduzir pelo espírito: “conduzi-vos pelo Espírito e não
satisfareis os desejos da carne” e Emmanuel nos auxilia a compreender o que isto representa.

Caminho, Verdade e Vida — Emmanuel

Que é a carne?

“Se vivemos em espírito, andemos também em espírito.” — PAULO (Gálatas, 5.25)

“Quase sempre, quando se fala de espiritualidade, apresentam-se muitas pessoas que se queixam das
exigências da carne.

É verdade que os apóstolos muitas vezes falaram de concupiscências da carne, de seus criminosos
impulsos e nocivos desejos. 3 Nós mesmos, frequentemente, nos sentimos na necessidade de
aproveitar o símbolo para tornar mais acessíveis as lições do Evangelho. 4 O próprio Mestre figurou
que o espírito, como elemento divino, é forte, mas que a carne, como expressão humana, é fraca. ( † )

Entretanto, que é a carne?

Cada personalidade espiritual tem o seu corpo fluídico e ainda não percebestes, porventura, que a
carne é um composto de fluidos condensados? Naturalmente, esses fluidos, em se reunindo,
obedecerão aos imperativos da existência terrestre, no que designais por lei de hereditariedade; mas,
esse conjunto é passivo e não determina por si. Podemos figurá-lo como casa terrestre, dentro da
qual o Espírito é dirigente, habitação essa que tomará as características boas ou más de seu
possuidor.

Quando falamos em pecados da carne, podemos traduzir a expressão por faltas devidas à condição
inferior do homem espiritual sobre o planeta.

Os desejos aviltantes, os impulsos deprimentes, a ingratidão, a má-fé, o traço do traidor, nunca


foram da carne.

É preciso se instale no homem a compreensão de sua necessidade de autodomínio, acordando-lhe as


faculdades de disciplinador e renovador de si mesmo, em Jesus-Cristo.

Um dos maiores absurdos de alguns discípulos é atribuir ao conjunto de células passivas, que servem
ao homem, a paternidade dos crimes e desvios da Terra, quando sabemos que tudo procede do
espírito.”

O pensamento organiza a matéria, nosso espírito rege nossa evolução, desde a formação do nosso
corpo até o fim dos nossos dias, será o nosso espírito que se manifestará em tudo, seja material ou
espiritual, e se a matéria ainda nos é um atrativo irresistível, se ter ainda se sobrepõe ao ser, somos
chamados a perceber que os instintos ainda nos governam, que as paixões ainda nos cegam e que,
ainda, não adquirimos a liberdade que o Cristo nos ensina e que Paulo vem nos explicar.

Paulo prossegue neste belíssimo texto aos Gálatas e enumera as paixões que ainda hoje se fazem
presentes: “fornicação, impureza, libertinagem, 20idolatria, feitiçaria, ódio, rixas, ciúmes, ira,
discussões, discórdia, divisões, 21invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas, a respeito
das quais eu vos previno”

Barclay explica cada um destes itens e em muitos deles nos oferece o significado do termo grego, pelo
que reproduzimos o seu comentário a fim de melhor alcançarmos o seu significado.

“Fornicação: tem-se dito com verdade que a única virtude completamente nova que o cristianismo
ofereceu ao mundo foi a castidade. O cristianismo veio a um mundo em que a imoralidade sexual
não só se perdoava, mas também que se considerava como normal e essencial à atividade ordinária
da vida.

Impureza: a palavra que usa Paulo (akatharsia) é de muito interesse. Pode empregar-se para o pus
de uma ferida não desinfetada, para uma árvore que nunca foi podada e para um material que nunca
foi peneirado. Em seu forma positiva (katharos, adjetivo que significa puro) usa-se ordinariamente
nos contratos de aluguel para descrever uma casa que se deixa limpa e em boas condições. Mas o uso
mais sugestivo do adjetivo katharos tem que ver com a purificação cerimonial que autoriza o homem
a aproximar-se dos seus deuses. A impureza é então o que torna um homem inepto para apresentar-
se perante Deus. É precisamente o contrário dessa pureza que pode ver a Deus. É o manchar a vida
com aquelas coisas que nos separam de Deus.

Lascívia: esta palavra (aselgeia), foi bem definida como "disposição para todo prazer". O homem
entregue a ela não conhece freio algum, ao contrário faz tudo o que o capricho e a insolência
luxuriosa sugerem. Josefo a atribui a Jezabel quando construiu em Jerusalém, a cidade Santa, um
templo a Baal. A idéia geral é a de alguém que chegou a tal extremo no gozo de seus prazeres e
desejos que já não se preocupa do que as pessoas digam ou pensem.

Idolatria: esta palavra refere-se à adoração de deuses feitos pela mão do homem. É o pecado no qual
as coisas materiais chegam a ocupar o lugar de Deus.

Feitiçarias: esta palavra significa literalmente o uso de drogas. Este uso pode ser benéfico, como no
caso da medicina; mas pode também significar envenenamento, e veio a estar muito especialmente
relacionada com o emprego de drogas nas bruxarias e sortilégios que enchiam o mundo antigo.

Inimizades: a idéia é a do homem que se caracteriza pela hostilidade para com seus semelhantes;
trata-se precisamente do oposto à virtude cristã do amor aos irmãos e a todo homem.

Contendas: originariamente esta palavra tinha que ver principalmente com a rivalidade pela
recompensa. Até com relação a isto também podia ter um bom sentido, mas de fato significava com
mais freqüência a rivalidade que encontra desafogo em contendas, rixas e discussões.

Ciúmes: esta palavra (zelos, de onde se origina a nossa), tinha originariamente um bom sentido:
significava emulação, o elevado desejo de participar do nobre e de obtê-lo uma vez descoberto. Mas
degenerou, e chegou a significar o desejo de possuir algo que outro tem; o mau desejo do que não é
nosso.

Iras: o termo que Paulo usa significa estalos e arrebatamentos do temperamento. Não descreve uma
irritação que perdura, mas sim a cólera que se inflama e morre no momento.

Discórdias (TB: "facções"): esta palavra tem uma história muito ilustrativa. É a palavra eritheia, que
significava nas origens o trabalho de um operário contratado (erithos). Chegou a significar o
trabalho remunerado. Logo passou a significar lutar por obter votos para uma acusação pública ou
política, e descreve o homem que busca a acusação não por motivos de serviço, mas pelo proveito
que pode lhe tirar. É a qualidade do homem essencialmente egoísta e que não tem nenhum conceito
ou idéia de servir a seus semelhantes.

Dissensões: literalmente a palavra significa manter-se separados. Nelson atribuía uma de suas
grandes vitórias à felicidade de ter estado à frente de um grupo de irmãos. A dissensão descreve uma
sociedade em que acontece justamente o contrário, onde seus membros se fogem mutuamente em vez
de partir ao uníssono.

Facções (RC: “heresias”; TB: “partidos”): poderiam descrever-se como dissensões cristalizadas. O
termo é hairesis de onde provém heresia. Hairesis originalmente não era um termo pejorativo.
Provém de uma raiz que significa escolher e se aplicava a uma escola de seguidores de um filósofo
ou a algum grupo ou banda de pessoas que participavam de uma crença comum. Mas o trágico da
vida está em que a pessoa que mantém diferentes pontos de vista termina com muita freqüência
aborrecendo não os pontos de vista dos outros, mas sim às próprias pessoas. Deveria ser possível
dissentir com alguém, sem deixar por isso de ser amigos. (Muito atual!!! - grifo nosso)

Invejas: esta palavra (fthónos) é uma palavra ruim. Eurípides a chamou: "a maior das enfermidades
entre os homens". Em essência não descreve o espírito que deseja — com nobreza ou sem ela —
possuir algo que outro possui; descreve o espírito que não suporta absolutamente o fato de que outro
possua essas coisas. Não é tanto que queira as coisas em si; simplesmente quer tirar do outro. Os
estóicos a definiam como "tristeza por motivo de algum bem alheio". Basílio a chamava "tristeza pela
boa sorte do próximo". Trata-se da condição nem tanto do ciumento quanto do amargurado.

Bebedices: no mundo antigo não se tratava de um vício comum. Os gregos bebiam mais vinho que
leite. Até os meninos bebiam vinho. Mas a proporção era de três partes de água com duas de vinho.
Tanto gregos como cristãos condenavam a embriaguez como algo que reduzia o homem à condição
de animal.

Glutonarias (TB: “orgias”): esta palavra (komos) tem uma história interessante. O komos era um
grupo de amigos que acompanhavam o vencedor nos jogos depois de sua vitória. Dançavam, riam e
cantavam seus louvores. Também descreve os grupos de devotos de Baco, o deus do vinho. O termo
significa rebeldia não refreada e incontrolada; diversão que degenera em libertinagem.

Quando chegamos realmente à raiz destas palavras nos damos conta que a vida não mudou tanto.”
(Comentário de Wiliam Barclay)

A busca pelo prazer nos encaminha para a satisfação dos sentidos, tocar, olhar, cheirar, degustar, nada
disso é contrário as leis que regem nossa vida material. Deus nos oferece os sentidos para que
possamos aprender e evoluir, porém, o equilíbrio destas forças naturais ainda nos é um desafio. A
cada item que Paulo enumera percebemos que é o exagero, o mau uso, o excesso que nos faz adentrar
neste mundo desregrado e, portanto, basta a cada um de nós, através das muitas experiências
reencarnatórias, aprender a lidar com estes impulsos através da educação dos sentimentos.

Como, então, refrear as paixões¿ Como educar sentimentos¿

Paulo nos diz que “Se vivemos pelo Espírito, pelo Espírito pautemos também a nossa conduta.”,
assim, é pelos frutos deste espírito que transcenderemos a matéria e aprenderemos a viver em
equilíbrio.
Temos, ao longo dos tempos, tentado combater o mal. O que Paulo nos está oferecendo é algo novo,
pois muda o foco de combater o mal para ressaltar o bem.

Estamos vivendo uma experiência na carne, mas nossa essência é espiritual e de posse deste
entendimento, passamos a buscar o alimento espiritual, encontrando nele a satisfação de nossos
anseios, a cura de nossas dores e a educação dos nossos sentimentos a fim de que finalmente
deixemos de ser governados pelos instintos, aprendendo a refrear nossos impulsos.

O foco, assim, é no bem e não no mal. O mal é como a criança que ainda não sabe portar-se, e o bem
é a criança sendo educada para tornar-se um adulto, que em termos espirituais representa o espírito
maduro, consciente de si mesmo e apto a viver em comunhão com o mundo e com Deus.

Paulo enumera os frutos do espírito: “22Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fidelidade, 23mansidão, autodomínio”

Servimo-nos novamente do comentário de Barclay para melhor compreender cada um destes termos.

“Amor: o termo do Novo Testamento para amor é agape. Não se trata de uma palavra de uso comum
no grego clássico. Em grego há quatro termos para amor.

(a) Eros é o amor de um homem a uma mulher; é o amor imbuído de paixão. O termo não se emprega
no Novo Testamento. Gálatas (William Barclay) 54

(b) Filia é o quente amor para com nossos próximos e familiares; é algo do coração e seus
sentimentos.

(c) Storge significa, antes, afeto, e se aplica particularmente ao amor de pais e filhos.

(d) Ágape é o termo cristão, e realmente significa benevolência invencível. Significa que nada que
alguém possa nos fazer por meio de insultos, injúrias ou humilhações nos forçará a buscar outra
coisa senão o maior bem do mesmo. Portanto, é um sentimento tanto da mente como do coração;
corresponde tanto à vontade como às emoções. O termo descreve o esforço deliberado — que só
podemos realizar com a ajuda de Deus — de não buscar jamais outra coisa senão o melhor, até para
aqueles que buscam o pior para nós.

Alegria: o termo grego é cara e sua característica está em que a maioria das vezes descreve a alegria
que tem sua base na religião e cujo fundamento real é Deus. (cf. Salmo 30:11; Romanos 14:17;
15:13; Filipenses 1:4,25). Não é a alegria que provém de coisas terrenas ou triunfos fúteis; muito
menos o que tem sua fonte no triunfo sobre alguém com quem se esteve em rivalidade ou competição.
É, antes, a alegria que tem Deus como fundamento.

Paz: no grego coloquial contemporâneo esta palavra (eirene) tem dois usos interessantes. Aplica-se à
tranqüilidade e serenidade que goza um país sob o governo justo e benéfico de um bom imperador. E
se usa para a boa ordem de um povoado ou uma aldeia. Nas aldeias havia um funcionário chamado
superintendente da eirene da aldeia; este era o guardião da paz pública. No Novo Testamento o
termo eirene ordinariamente representa o hebraico shalom, e não significa simplesmente liberdade
de dificuldades, mas sim tudo aquilo que faz o bem supremo do homem. Aqui significa essa tranqüila
serenidade do coração proveniente da plena consciência de que nosso tempo está nas mãos de Deus.
É interessante advertir que tanto cara como eirene chegaram a ser nomes muito comuns na Igreja.
Paciência (makrothymia), uma palavra de grande significado. O autor de 1 Macabeus (8:4) diz que
os romanos fizeram-se donos do mundo por makrothymia; alude-se aqui à tenacidade de Roma pela
que jamais fazia a paz com o inimigo, até na derrota; uma sorte de paciência que conquista. Falando
em geral, a palavra não se usa para a paciência com respeito a coisas ou acontecimentos, senão para
a paciência com respeito às pessoas. Crisóstomo diz que é a graça do homem que podendo-se vingar
não o faz; do que é lento para a ira. O que mais ilumina seu significado é seu uso muito comum no
Novo Testamento com respeito à atitude de Deus e de Jesus para com os homens (Romanos 2:4; 9:
22; 1 Timóteo 1:18; 1 Pedro 3:20). Se Deus tivesse sido homem, faz tempo que teria levantado sua
mão para destruir este mundo; mas tem tal paciência que suporta todos os nossos pecados e não nos
despreza. Em nossa vida, em nossa atitude e nossos entendimentos com nossos semelhantes devemos
reproduzir esta atitude de Deus para conosco, de amor, tolerância, perdão e paciência.

Benignidade e bondade são termos muito ligados entre si. Por benignidade é o termo crestotes. Com
muita freqüência se traduz também por bondade (Tito 3:4; Romanos 2:4; 2 Coríntios 6:6; Efésios
2:7; Colossenses 3:12; Gálatas 5:22). É um termo positivo. Plutarco diz que é muito mais difundido
que a justiça. Um vinho antigo se chama crestos, suave. O jugo de Cristo é crestos (Mateus 11:30),
quer dizer, não roça nem incomoda nem mortifica. A idéia geral é a de uma amável bondade. O
termo que Paulo usa para bondade (agathosyne) é peculiar da Bíblia; não ocorre no grego comum
(Romanos 15:14; Efésios 5:9; 2 Tessalonicenses 1:11). É a mais ampla expressão da bondade;
define-se como "a virtude equipada para cada momento". Qual é a diferença? A bondade poderia —
e pode — reprovar, corrigir e disciplinar; a crestotes só pode ajudar. Trench diz que Jesus mostrou
agathosyne quando purificou o templo e expulsou os que o transformavam num mercado, mas
manifestou crestotes quando foi amável com a mulher pecadora que lhe ungia os pés. O cristão
necessita de uma bondade que seja ao mesmo tempo amável e enérgica.

Fidelidade (RC., "fé"). No grego popular esta palavra é comum para confiança. É a característica do
homem digno de confiança.

Mansidão: praotes é a palavra que menos se presta à tradução. No Novo Testamento tem três
significados principais,

(a) Significa submisso à vontade de Deus (Mateus 5:5; 11:29; 21:5).

(b) Significa dócil: o homem que não é muito soberbo para aprender (Tiago 1:21).

(c) Com maior freqüência significa considerado (1 Coríntios 4:21; 2 Coríntios 10:1; Efésios 4:2).
Aristóteles definiu a praotes como o termo médio entre a ira excessiva e a mansidão excessiva; como
a qualidade do homem que está sempre irado mas só no momento devido. O que lança maior luz no
significado da palavra é que o adjetivo praus aplica-se a um animal domesticado e criado sob
controle; o termo fala do domínio próprio que só Cristo pode dar. Praotes refere-se ao espírito
submisso a Deus, dócil em todo o bom e considerado para com seu próximo.

Domínio próprio (RC: “temperança”): o termo é egkrateia. Platão a aplica ao domínio próprio. É o
espírito que dominou seus desejos e amor ao prazer. Aplica-se à disciplina que os atletas exercem
sobre o próprio corpo (1 Coríntios 9:25) e do domínio cristão do sexo (1 Coríntios 7:9). No grego
corrente aplica-se à virtude de um imperador que jamais permite que seus interesses privados
influam no governo do povo. É a virtude que faz ao homem tão dono de si, que é capaz de ser servo
de outros. (Comentário de Wiliam Barclay)
Que a cada dia busquemos alimentar o nosso espírito, a fim de que estes frutos possam se manifestar
em nossas vidas, e que percebamos, cada vez mais, que é nestas virtudes que reside a verdadeira
felicidade, a paz para nossas inquietações e a serenidade para nossas paixões.

Ao longo dos tempos, temos combatido o fogo com fogo, a violência com mais violência, com Jesus,
porém, somos convidados a compreender que para o fogo existe a água, para a violência existe a paz,
para o desespero existe a esperança e que para o homem ser feliz existe a caridade.

Sigamos nestes ensinamentos de luz, buscando em nossas experiências diárias e sua efetiva aplicação,
passo a passo iremos construir o homem de bem que já habita em nós e que quer eclodir.

Um fraterno abraço e até o próximo estudo.

Campo Grande – MS, setembro de 2019.

Candice Günther.
Carta aos Gálatas com Emmanuel

16

Texto para análise

1Irmãos, caso alguém seja apanhado em falta, vós, os espirituais, corrigi esse tal com espírito de
mansidão, cuidando de ti mesmo, para que também tu não sejas tentado.
2Carregai o peso uns dos outros e assim cumprireis a Lei de Cristo.
3Se alguém pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana a si mesmo.
4Cada um examine sua própria conduta, e então terá o de que se gloriar por si só e não por
referência ao outro.
5Porque cada qual carregará o seu próprio fardo.
6Quem está sendo instruído na palavra, torne participante em toda sorte de bens aquele que o instrui.
7Não vos iludais; de Deus não se zomba. O que o homem semear, isso colherá:
8quem semear na sua carne, da carne colherá corrupção; quem semear no espírito, do espírito
colherá a vida eterna.
9Não desanimemos na prática do bem, pois, se não desfalecermos, a seu tempo colheremos.
10Por conseguinte, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos,mas sobretudo para
com os irmãos na fé.
Cap. 6:1-10 – primeira parte

Estamos nos encaminhando para o fim da carta e este é o penúltimo trecho, que em breve leitura nos
faz perceber que Paulo dirige aos Gálatas vários conselhos. São máximas carregadas de
espiritualidade que atravessam os séculos e nos alcançam, nos convidam a reflexão e a um viver com
o Cristo, não mais através de rituais e cultos exteriores, mas o verdadeiro cristão, que demonstra em
sua vida, todos os dias, o esforço em melhorar-se e em fazer o bem.

Paulo sabia que ensinar o evangelho de Jesus requer não apenas palavras articuladas, mas sobretudo
uma vivência que demonstrasse em seu viver o seu falar. Assim, quando nos deparamos com estas 10
assertivas, lembramo-nos de que, também, o livro Paulo e Estevão foi escrito em 10 capítulos,
primeira parte e 10 capítulos na segunda parte. Perguntamo-nos, então, se estariam estes conselhos de
Paulo de algum modo relacionados à sua vida, aos dez passos fundamentais que deu em direção do
Cristo desde a estrada de Damasco até seu desencarne e o encontro com seus amados.

Este estudo é um breve esboço desta relação, referendando nossa tese de que os livros deixados pela
psicografia de Chico Xavier, possuem estreita ligação do o Novo Testamento, no caso, o livro Paulo
e Estevão, como já demonstramos em estudo anterior, com o Evangelho de Lucas.

Recordemos brevemente a estrutura literária do livro Paulo e Estevão sob a perspectiva do


paralelismo:

(Obs: O estudo da estrutura literária do livro Paulo e Estevão está disponível para download através
do link:
https://www.academia.edu/9055940/Estudo_do_livro_Paulo_e_Estev%C3%A3o_de_Emmanuel)

Passemos, assim, ao estudo comparativo das 10 máximas do início do capítulo 6 da Carta aos Galatas
e o livro Paulo e Estevão, segunda parte.

1 - Irmãos, caso alguém seja apanhado em falta, vós, os espirituais, corrigi esse tal com espírito de
mansidão, cuidando de ti mesmo, para que também tu não sejas tentado.

Após o encontro de Saulo com Jesus, na estrada de Damasco, Saulo segue para uma pensão, ainda
cego, e por lá fica em prece por 03 dias até que chega Ananias, enviado pelo Cristo, para auxiliá-lo.

Ananias ampara, cuida, ora. Percebe-se ali, como enviado do Cristo para auxiliar Saulo em seus
primeiros passos como cristão o “espírito de mansidão”.

Saulo perseguiu, acusou, maltratou, no entanto, Ananias de nada lhe acusou. Em seu momento de
fragilidade, amparou-o como a um irmão.

Desta forma, busquemos em nosso viver este caminhar sereno, que não acusa, mas ampara, que
relembra a paz de Jesus e ilumina o caminho.

Auxiliemos este momento de reflexão com o comentário de Emmanuel a este versículo, que, serve-
nos, também, como uma perfeita descrição da postura de Ananias diante de Saulo.

Fonte viva — Emmanuel


Na obra regenerativa

“Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais,
orientai-o com espírito de mansidão, velando por vós mesmos para que não sejais igualmente
tentados.” — PAULO (Gálatas, 6.1)

Se tentamos orientar o irmão perdido nos cipoais do erro, com aguilhões de cólera, nada mais
fazemos que lhe despertar a ira contra nós mesmos.

Se lhe impusermos golpes, revidará com outros tantos.

Se lhe destacamos as falhas, poderá salientar os nossos gestos menos felizes.

Se opinamos para que sofra o mesmo mal com que feriu a outrem, apenas aumentamos a
percentagem do mal, em derredor de nós.

Se lhe aplaudimos a conduta errônea, aprovamos o crime.

Se permanecemos indiferentes, sustentamos a perturbação.

Mas se tratarmos o erro do semelhante, como quem cogita de afastar a enfermidade de um amigo
doente, estamos, na realidade, concretizando a obra regenerativa.

Nas horas difíceis, em que vemos um companheiro despenhar-se nas sombras interiores, não
olvidemos que, para auxiliá-lo, é tão desaconselhável a condenação, quanto o elogio.

Se não é justo atirar petróleo às chamas, com o propósito de apagar a fogueira, ninguém cura
chagas com a projeção de perfume.

Sejamos humanos, antes de tudo. Abeiremo-nos do companheiro infeliz, com os valores da


compreensão e da fraternidade.

Ninguém perderá, exercendo o respeito que devemos a todas as criaturas e a todas as coisas.

Situemo-nos na posição do acusado e reflitamos se, nas condições dele, teríamos resistido às
sugestões do mal.

Relacionemos as nossas vantagens e os prejuízos do próximo, com imparcialidade e boa intenção.

Toda vez que assim procedermos, o quadro se modifica nos mínimos aspectos.

De outro modo será sempre fácil zurzir e condenar, para cairmos, com certeza, nos mesmos delitos,
quando formos, por nossa vez, visitados pela tentação.

2. Carregai o peso uns dos outros e assim cumprireis a Lei de Cristo.

Saulo inicia a sua trajetória como cristão e procura Gamaliel, já não era mais o fariseu que perseguira
os cristãos, mas retornava ao ofício de tecelão, com simplicidade e humildade, tirando o próprio
sustento com o esforço do seu trabalho. Vai ao deserto e lá passa três anos ao lado de Aquila e Prisca.
Em belíssimo momento do livro, Paulo confessa suas faltas passadas ao casal amigo, conta-lhes do
encontro com Jesus em Damasco e dos primeiros passos como novo homem.

Aquila manifesta-se diante da confissão do antigo verdugo:

“—Irmão Saulo — disse o tecelão sem ocultar seu júbilo —, regozijemo-nos no Senhor, porque,
como irmãos, estávamos separados e agora nos encontramos juntos novamente. Não falemos do
passado, comentemos o poder de Jesus, que nos transforma por seu amor.
Prisca, que também chorava, interveio com ternura:
—Se Jerusalém conhecesse esta vitória do Mestre, renderia graças a Deus!...” (Trecho do livro
Paulo e Estevão – cap 2 da segunda parte)

Aquila acolheu amorosamente Paulo, não lhe fez acusações, nem reprimendas, não lhe deu lições de
moral, mas demonstrou que com o Cristo somos convidados a “carregar o peso uns dos outros”.

3. Se alguém pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana a si mesmo.

Após o deserto, Paulo seguiu rumo a Jerusalém, antes retornou a Damasco e a outros lugares onde
outrora era festejado e bem recebido. Ninguém dos seus amigos enquanto era fariseu o recebeu, nem
mesmo sua família o acolheu. Paulo estava só.

A lição da humildade falou-lhe alto ao coração e foi na Casa do Caminho que encontrou finalmente
acolhimento, não obstante a desconfiança dos apóstolos ante o seu passado de perseguição aos
cristãos.

Paulo, antes do Cristo em sua vida, era um homem orgulhoso, achando-se merecedor de privilégios e
benesses. No entanto, seu novo caminhar lhe pediu uma nova perspectiva da vida, não pensava mais
“ser alguma coisa”. “Sempre humilde” é a expressão que Emmanuel usa para falar da postura de
Paulo diante dos apóstolos na Casa do Caminho.

E é Pedro quem lhe ensina a derradeira lição sobre a humildade:

“A obra é do Cristo. Se fosse nossa, falharia por certo, mas nós não passamos de simples e
imperfeitos cooperadores. Saulo guardou a lição e recolheu-se pensativo. Pedro parecia-lhe muito
maior agora, no seu foro íntimo. Aquela serenidade, aquele poder de compreensão dos fatos
mínimos, davam-lhe idéia da sua profunda iluminação
espiritual.” (Trecho do livro Paulo e Estevão – cap. 3 da segunda parte)

4.Cada um examine sua própria conduta, e então terá o de que se gloriar por si só e não por referência
ao outro.

Emmanuel descreve Paulo no quarto capítulo de ambas as partes, primeira e segunda. Na primeira
parte do livro, Saulo, orgulhoso, impetuoso, cheio de ambições e desenganos. Na segunda parte, o
homem transformado, o homem que havia examinado a própria conduta e refazia seus passos,
trabalhando a cada dia.

“Transformado em rude operário, Saulo de Tarso apresentava notável diferença fisionômica.


Acentuara--se-lhe a feição de asceta. Os olhos, contudo, denunciando o homem ponderado e resoluto,
revelavam igualmente uma paz profunda e indefinível. (...) Ele, por sua vez, vivia tranquilo e
satisfeito. O programa de Abigail constituía permanente mensagem ao seu coração. Levantava-se,
todos os dias, procurando amar a tudo e a todos; para prosseguir nos caminhos retos, trabalhava
ativamente. Se lhe chegavam desejos ansiosos, inquietações para intensificar suas atividades fora do
tempo apropriado, bastava esperar; se alguém dele se compadecia, se outros o apelidavam de louco,
desertor ou fantasista, procurava esquecer a incompreensão alheia com o perdão sincero, refletindo
nas vezes muitas que, também ele, ofendera os outros, por ignorância. Estava sem amigos, sem
afetos, suportando os desencantos da soledade que, se não tinha companheiros carinhosos, também
não necessitava temer os sofrimentos oriundos das amizades infiéis. Procurava encontrar no dia o
colaborador valioso que não lhe subtraia as oportunidades. Com ele tecia tapetes complicados,
barracas e tendas, exercitando-se na paciência indispensável aos trabalhos outros que ainda o
esperavam nas encruzilhadas da vida. (Trecho do capítulo 4 do livro Paulo e Estevão – segunda
parte).

Paulo trabalhou intensamente em sua reforma íntima, não mais se media ou se ocupava das falhas
alheis, não mais agia como o grande sensor que diz o que é certo e o que é errado, mas tentava a
cada dia melhorar-se, examinando a própria conduta.

Ele viveu e seus conselhos estão amparados, alicerçadas em sua vida. Eis a razão destes conselhos
atravessarem os séculos e ainda hoje serem objeto de estudos e reflexões, trata-se de vida e não de
teorias.

5. Porque cada qual carregará o seu próprio fardo.

As lutas se multiplicavam nos primeiros anos do cristianismo e é no capítulo5 do livro Paulo e


Estevão que encontramos um momento importantíssimo desta nova era.

Paulo não aceitava as imposições judaizantes, sentia no cristianismo a liberdade que vai além de
rituais e demonstrações exteriores. Sua luta era justa, bem o sabemos, não obstante, é Pedro que nos
ensina que cada um responderá por si mesmo, que na vida cristã é preciso paciência e perseverança
porque a mudança de cada um será sempre de dentro para fora, jamais a machadadas externas, em
tentativas de imposição.

Eis as palavras de Pedro:

— Irmãos! — disse nobremente — muito tenho errado neste mundo. Não é segredo para ninguém que
cheguei a negar o Mestre no instante mais doloroso do Evangelho. Tenho medido a misericórdia do
Senhor pela profundidade do abismo de minhas fraquezas. Se errei entre os irmãos muito amados de
Antioquia, peço perdão de minhas faltas. Submeto -me ao vosso julgamento e rogo a todos que se
submetam ao julgamento do Altíssimo. (...) A atitude ponderada de Simão Pedro salvara a igreja
nascente.Considerando os esforços de Paulo e de Tiago, no seu justo valor, evitara o escândalo e o
tumulto no recinto do santuário. À custa de sua abnegação fraternal, o incidente passou quase
inapercebido na história da cristandade primitiva, e nem mesmo a referência leve de Paulo na
epístola aos Gálatas, a despeito da forma rígida, expressional do tempo, pode dar idéia do perigo
iminente de escândalo que pairou sobre a instituição cristã, naquele dia memorável.” (Trecho do
capítulo 5 do livro Paulo e Estevão, segunda parte.

Emmanuel comenta este versículo:

Cartas do Coração — Autores diversos — 1ª Parte

O fardo

“Cada qual levará a sua própria carga”. — PAULO (Gálatas, 6:5)


Quando a ilusão te fizer sentir o peso do próprio sofrimento, como sendo excessivo e injusto, recorda
que não segues sozinho no grande roteiro.

Cada qual tolera a carga que lhe é própria.

Fardos existem de todos os tamanhos e de todos os feitios:

A responsabilidade do legislador.

A tortura do sacerdote.

A expectativa do coração materno.

A indigência do enfermo desamparado.

O pavor da criança sem ninguém.

As chagas do corpo abatido.

Aprende a entender o serviço e a luta dos semelhantes para que te não suponhas vítima ou herói
num campo onde todos somos irmãos uns dos outros, mutuamente identificados pelas mesmas
dificuldades, pelas mesmas dores e pelos mesmos sonhos.

Suporta o fardo de tuas obrigações valorosamente e caminha.

Do acervo de pedra bruta nasce o ouro puro.

Do cascalho pesado emerge o diamante.

Do fardo que transportamos de boa vontade procedem as lições de que necessitamos para a vida
maior.

Dirás, talvez, impulsivamente: — “É o ímpio vitorioso, o mau coroado de respeito, e o gozador


indiferente? Carregarão, porventura, alguma carga nos ombros?”

Responderemos, no entanto, que provavelmente viverão sob encargos mais pesados que os nossos,
de vez que a impunidade não existe.

Se o suor te alaga a fronte e se a lágrima te visita o coração, é que a tua carga já se faz menos densa,
convertendo-se, gradativamente, em luz para a tua ascensão.

Ainda que não possas marchar livremente com o teu fardo, avança com ele para a frente, mesmo que
seja um milímetro por dia…

Lembra-te do madeiro afrontoso que dobrou os ombros doridos do Mestre. Sob os braços duros do
lenho infamante, jaziam ocultas as asas divinas da ressurreição para a divina imortalidade.

As lições se multiplicam e por ora nos cabe meditar nelas, buscando em nosso viver o alcance destas
assertivas tão profundas que Paulo nos oferece.

Não próxima semana, continuaremos com este estudo.


Um fraterno abraço e até o próximo.

Campo Grande – MS, outubro de 2019.

Candice Günther
Carta aos Gálatas com Emmanuel

16

Texto para análise

1Irmãos, caso alguém seja apanhado em falta, vós, os espirituais, corrigi esse tal com espírito de
mansidão, cuidando de ti mesmo, para que também tu não sejas tentado.
2Carregai o peso uns dos outros e assim cumprireis a Lei de Cristo.
3Se alguém pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana a si mesmo.
4Cada um examine sua própria conduta, e então terá o de que se gloriar por si só e não por
referência ao outro.
5Porque cada qual carregará o seu próprio fardo.
6Quem está sendo instruído na palavra, torne participante em toda sorte de bens aquele que o instrui.
7Não vos iludais; de Deus não se zomba. O que o homem semear, isso colherá:
8quem semear na sua carne, da carne colherá corrupção; quem semear no espírito, do espírito
colherá a vida eterna.
9Não desanimemos na prática do bem, pois, se não desfalecermos, a seu tempo colheremos.
10Por conseguinte, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos,mas sobretudo para
com os irmãos na fé.
Cap. 6:1-10 – segunda parte

Caminhando para o término do estudo da Carta aos Gálatas deparamo-nos com estes dez conselhos de
Paulo de Tarso à comunidade. Não apenas conselhos, mas vivências de Paulo ao longo de sua vida,
que permitiram que a divulgação do cristianismo fosse tão eficaz. Paulo, sobretudo viveu o que falou,
buscava a cada dia melhorar-se e por esta razão, fizemos uma linha comparativa entre estes 10 sábios
dizeres e os 10 capítulos da segunda parte do livro Paulo e Estevão.
No estudo anterior, falamos sobre os 5 primeiros. Prossigamos, refletindo e sondando o aprendizado
que hoje nos é oferecido.

6 - Quem está sendo instruído na palavra, torne participante em toda sorte de bens aquele que o
instrui.

O capítulo sexto do livro Paulo e Estevão trata das peregrinações e sacrifícios de Paulo e seus amigos,
Lucas, Silas, Timóteo, levando o evangelho a muitos lugares. Emmanuel descreve o sentimento de
alegria: “O Evangelho continuava, a estender seu raio de ação em todos os setores.”

Foi neste capítulo que Paulo convidou Lucas a abandonar a medicina convencional e juntar-se a eles
na divulgação do Evangelho de Jesus,

“— Ora, Lucas, se te encontras sem compromissos imediatos, por que não te dedicas inteiramente
aos trabalhos do Mestre Divino?
A pergunta produziu certa emoção no médico, como se valesse por uma revelação. Passada a
surpresa, Lucas acrescentou, um tanto indeciso:
— Sim, mas há que considerar os deveres da profissão..
— Mas, quem foi Jesus senão o Divino Médico do mundo inteiro? Até agora tens curado corpos, que,
de qualquer modo, cedo ou tarde hão de perecer. Tratar do espírito não seria um esforço mais justo?
Com isso não quero dizer que se deva desprezar a medicina propriamente do mundo; no entanto, essa
tarefa ficaria para aqueles que ainda não possuem os valores espirituais que trazes contigo. Sempre
acreditei que a medicina do corpo é um conjunto de experiências sagradas, de que o homem não
poderá prescindir, até que se resolva a fazer a experiência divina e imutável, da cura espiritual.
Lucas meditou seriamente nessas palavras e replicou:
— Tens razão.” (Trecho do livro Paulo e Estevão – cap. VI da segunda parte)

Lucas não apenas integrou o grupo, mas ajudou nos custos da viagem para Macedônia, dando-nos o
exemplo do que o versículo 6 está a dizer: "Se um homem lhes ensina as verdades eternas então o
mínimo que podem fazer é compartilhar com ele as coisas materiais que possuem".

A vida material é importante, porém, não pode nos definir, nem limitar, nossos bens materiais e
intelectuais precisam ser compartilhados, precisam assumir um propósito maior que apenas satisfazer
os nossos sentidos. Lucas aproveitou a oportunidade de ir além do que já realizada, aceitando o
convite de Paulo. Deixou-nos um legado incalculável de tão precioso, que é o Evangelho de Lucas e
os Atos dos Apóstolos.

Ensina-nos, assim, que nada na vida é definitivo, nem mesmo nossa profissão ou a segurança
financeira e que devemos aproveitar as oportunidades que nos são oferecidas para o trabalho na
construção de um mundo melhor.

7 - Não vos iludais; de Deus não se zomba. O que o homem semear, isso colherá:

Paulo, outrora perseguidor dos cristãos, agora era perseguido, muitas vezes foi preso e torturado, no
entanto, permaneceu firme, superando todos os obstáculos. Deixando que a justiça divina operasse em
sua vida. Em nenhum momento ele se sente acuado ou ofendido diante da incompreensão humana,
prossegue, sabendo que cada um a seu tempo encontrará sua estrada de Damasco.
No capítulo sete da segunda parte do livro Paulo e Estevão encontramos uma cena belíssima que
demonstra muito bem a máxima deste versículo: “o que o homem semear, isso colherá...”

“Adquirindo em seguida um barco muito ordinário, Paulo e os discípulos prosseguiram a viagem


para Jerusalém, distribuindo consolações e socorros espirituais às comunidades humildes e obscuras.
Em todas as praias eram gestos comovedores, adeuses amargurosos. Em Éfeso, porém, a cena foi
muito mais triste, porque o Apóstolo solicitara o comparecimento dos anciães e dos amigos, para
falar -lhes particularmente ao coração. Não desejava desembarcar, no intuito de prevenir novos
conflitos que lhe retardassem a marcha; mas, em testemunho de amor e reconhecimento, a
comunidade em peso lhe foi ao encontro, sensibilizando-lhe a alma afetuosa. A própria Maria,
avançada em anos, acorrera de longe em companhia de João e outros discípulos, para levar uma
palavra de amor ao paladino intimorato do Evangelho de seu Filho. Os anciães receberam-no com
ardorosas demonstrações de amizade, as crianças ofereciam-lhe merendas e flores. Extremamente
comovido, Paulo de Tarso prelecionou em despedida e, quando afirmou o pressentimento de que não
mais ali voltaria em corpo mortal, houve grandes explosões de amargura entre os efésios. Como que
tocados pela grandeza espiritual daquele momento, quase todos se ajoelharam no tapete branco da
praia e pediram a Deus protegesse o devotado batalhador do Cristo.” (Trecho do livro Paulo e
Estevão – cap. VII)

Outrora os cristãos fugiam de Paulo, temiam as perseguições, decorrido o tempo, porém, eis o relato
de Paulo despedindo-se das comunidades que visitou, conviveu, pregou o Evangelho e criou laços
amorosos. A própria Maria, mãe de Jesus, vem ao seu encontro, rogando a Jesus que lhe proteja. Uma
imagem belíssima e que nos convida a semearmos sempre o bem, certos de que tudo valerá a pena.

Emmanuel comenta este versículo, trazendo a lição para a nossa vida cotidiana.

Palavras de vida eterna — Emmanuel

No campo do afeto

“…Tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” — PAULO (Gálatas, 6.7)

Quase sempre, anelamos trato diverso e melhor, por parte daqueles que nos rodeiam.

Ansiamos pela afeição que nos compreenda os intentos mais íntimos;

que se mantenha invariável, sejam quais sejam as circunstâncias;

que nos escute sem reclamar, nos momentos mais duros;

que nos releve todas as faltas;

que não nos exija tributações de carinho;

que não nos peça impostos de gratidão;

que nos encoraje e sustente nos dias tristes e nos partilhe o contentamento nas horas de céu azul…

Suspiramos pelo entendimento integral e pela amizade perfeita; entretanto, se rogamos afetos
marcados por semelhantes valores, é indispensável comecemos a ser para os outros esse amigo
ideal.

Se desejamos recolher amor e paciência, nas manifestações do próximo, saibamos distribuí-los com
todos aqueles que nos partilham a marcha.
Bondade forma bondade. Abnegação gera abnegação.

A palavra do apóstolo Paulo é clara e franca nesse sentido: “Tudo o que o homem semear, isto
também ceifará.”

8 - quem semear na sua carne, da carne colherá corrupção; quem semear no espírito, do espírito
colherá a vida eterna.

Diz-nos o ditado, que a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória. Assim foi com Paulo e assim
será com cada um de nós.

No capítulo 8 do livro Paulo e Estevão, vemos o reencontro de Paulo e Tiago, agora homens maduros
e capazes de compreender as lutas que enfrentaram, cada um a seu jeito. É belíssimo perceber que
Paulo compreende Tiago, percebe que existem vários caminhos para o bem e que o que vale é um
coração sincero, em outras palavras, Paulo percebe que Tiago semeara no espírito e não na carne,
como outrora pensara...

“Sim, Paulo, compreendo tua justa aversão. O Sinédrio, com isso, pretende achincalhar nossas
convicções. Sei que a tortura na praça pública te doeria menos; entretanto, supões que isso não
represente, para mim uma dor de muitos anos?... Acreditarias, acaso, que minhas atitudes nascessem
de um fanatismo inconsciente e criminoso? Compreendi, muito cedo, desde a primeira perseguição,
que a tarefa de harmonização da igreja, com os judeus, estava mais particularmente em minhas
mãos. Como sabes, o farisaísmo sempre viveu numa exuberante ostentação de hipocrisia; mas,
convenhamos, também, que é o partido dominante, tradicional, das nossas autoridades religiosas.
Desde o primeiro dia, tenho sido obrigado a caminhar com os fariseus muitas milhas para conseguir
alguma coisa na manutenção da igreja do Cristo. Fingimento? Não julgues tal. Muitas vezes o Mestre
nos ensinou, na Galiléia, que o melhor testemunho está em morrer devagarinho, diariamente, pela
vitória da sua causa; por isso mesmo, afiançava que Deus não deseja a morte do pecador, porque é
na extinção de nossos caprichos de cada dia que encontramos a escada luminosa para ascender ao
seu infinito amor. A atenção que tenho dedicado aos judeus é gêmea do carinho que consagras aos
gentios. A cada um de nós confiou Jesus uma tarefa diferente na forma, mas idêntica no fundo. Se
muitas vezes ten ho provocado falsas interpretações das minhas atitudes, tudo isso é mágoa para meu
Espírito habituado à simplicidade do ambiente galileu. De que nos valeria o conflito destruidor,
quando temos grandiosos deveres a cuidar? Importa -nos saber morrer, para que nossas idéias se
transmitam e floresçam nos outros. As lutas pessoais, ao contrário, estiolam as melhores esperanças.
Criar separações e proclamar seus prejuízos, dentro da igreja do Cristo, não seria exterminarmos a
planta sagrada do Evangelho por nossas próprias mãos?
A palavra de Tiago toava imantada de bondade e sabedoria e valia por consoladora revelação. Os
galileus eram muito mais sábios que qualquer dos rabinos mais cultos de Jerusalém. Ele, que
chegara ao mundo religioso através de escolas famosas, que tivera sempre na mocidade, a inspiração
de um Gamaliel, admirava agora aqueles homens aparentemente rústicos, vindos das choupanas de
pesca, que, em Jerusalém, alcançavam inesquecíveis vitórias intelectuais, somente porque sabiam
calar quando oportuno, aliando à experiência da vida uma enorme expressão de bondade e renúncia,
à feição do Divino Mestre.
O convertido de Damasco entreviu o filho de Alfeu por um novo prisma.
Seus cabelos grisalhos, o rugoso e macilento rosto, falavam de trabalhos árduos e incessantes.
Agora, percebia que a vida exige mais compreensão que conhecimento. Presumia conhecer o
Apóstolo galileu com o seu cabedal psicológico, e, no entanto, chegava à conclusão de que apenas
naquele instante pudera compreendê-lo no título que lhe competia.” (Trecho do livro Paulo e Estevão
– cap. VIII)
Muitas vezes, em nossa vida, nos apressamos em julgar atitudes alheias, a lição nos convida, no
entanto, a deixar que a colheita demonstre o que realmente ia no coração de cada um. Não precisamos
nos arvorar de juízes do comportamento alheio, apenas deixar que o tempo se encarregue de
demonstrar e separar o que é bom e o que é ruim, afinal “a vida exige mais compreensão que
conhecimento.”

9 - Não desanimemos na prática do bem, pois, se não desfalecermos, a seu tempo colheremos.

No capítulo 9 da segunda parte encontramos o relato de duras provas que Paulo enfrentou. Seu barco
naufragou, quase morreu. Na ilha em que conseguiram chegar, foi picado por uma cobra, quase
morreu. E Paulo é preso. No entanto, jamais desanimou, jamais se fez de vítima, mas manteve-se
firme e confiante nos propósitos divinos para sua vida.

A força moral de Paulo atravessa os séculos e nos convida a dar a correta dimensão para os nossos
problemas. É preciso que tenhamos a firme convicção de que todo mal é passageiro, apenas o bem
permanece.

Emmanuel comenta este versículo.

Fonte viva — Emmanuel

Não te canses

“Não nos desanimemos de fazer o bem, pois, a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos.” —
PAULO (Gálatas, 6.9)

Quando o buril começou a ferir o bloco de mármore embrutecido, a pedra, em desespero, clamou
contra o próprio destino, mas depois, ao se perceber admirada, encarnando uma das mais belas
concepções artísticas do mundo, louvou o cinzel que a dilacerara.

A lagarta arrastava-se com extrema dificuldade, e, vendo as flores tocadas de beleza e perfume,
revoltava-se contra o corpo disforme; contudo, um dia, a massa viscosa em que se amargurava
converteu-se nas asas de graciosa e ágil borboleta e, então, enalteceu o feio corpo com que a
Natureza lhe preparara o voo feliz.

O ferro rubro, colocado na bigorna, espantou-se e sofreu, inconformado; todavia, quando se viu
desempenhando importantes funções nas máquinas do progresso, sorriu reconhecidamente para o
fogo que o purificara e engrandecera.

A semente lançada à cova escura chorou, atormentada, e indagou por que motivo era confiada,
assim, ao extremo abandono; entretanto, em se vendo transformada em arbusto, avançou para o Sol e
fez-se árvore respeitada e generosa, abençoando a terra que a isolara no seu seio.

Não te canses de fazer o bem.

Quem hoje te não compreende a boa vontade, amanhã te louvará o devotamento e o esforço.

Jamais te desesperes, e auxilia sempre. A perseverança é a base da vitória.

Não olvides que ceifarás, mais tarde, em tua lavoura de amor e luz, mas só alcançarás a divina
colheita se caminhares para diante, entre o suor e a confiança, sem nunca desfaleceres.
10 - Por conseguinte, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos,mas sobretudo para
com os irmãos na fé.

O capítulo 10 do livro Paulo e Estevão nos dá a notícia dos momentos finais da vida de Paulo e sua
passagem para o mundo espiritual, quando finalmente retorna aos amados do seu coração, Abigail e
Estevão.

Em nossa vida, devemos amar a todos, desejar o bem a todos que atravessem o nosso caminho, mas,
pela lei da afinidade, estaremos atrelados ao corações que compartilham dos ideias maiores e
sintonizam conosco.

Até os últimos instantes de sua vida, mesmo diante dos seus algozes, Paulo testemunhou sua fé,
jamais sentiu-se só ou abandonado, sabia que no mundo há muita dor e sofrimento, mas ansiava
retornar aos braços amorosos do Cristo.

“Ao chegar no local indicado, o sequaz de Tigelino desembainhou a espada, mas, nesse instante,
tremeu-lhe a mão, fixando a vítima, e falou-lhe em tom quase imperceptível:
—Lastimo ter sido designado para este feito e íntimamente não posso deixar de lamentar-vos...
Paulo de Tarso, erguendo a fronte quanto lhe era possível, respondeu sem hesitar:
—Não sou digno de lástima. Tende antes compaixão de vós mesmo, porquanto morro cumprindo
deveres sagrados, em função de vida eterna; enquanto que vós ainda não podeis fugir às obrigações
grosseiras da vida transitória. Chorai por vós, sim, porque eu partirei buscando o Senhor da Paz e
da Verdade, que dá vida ao mundo; ao passo que vós, terminada vossa tarefa de sangue, tereis de
voltar à hedionda convivência dos mandantes de crimes tenebrosos da vossa época!...” (Trecho do
livro Paulo e Estevão – cap. 10)

Emmanuel comenta o versículo.

Palavras de vida eterna — Emmanuel

Enquanto temos tempo

“… Enquanto temos tempo, façamos bem a todos…” — PAULO (Gálatas, 6.10)

Às vezes, o ambiente surge tão perturbado que o único meio de auxiliar é fazer silêncio com a luz
íntima da prece.

Em muitas circunstâncias, o companheiro se mostra sob o domínio de enganos tão extensos que a
forma de ajudá-lo é esperar que a vida lhe renove o campo do espírito.

Aparecem ocasiões em que determinado acontecimento surge tão deturpado que não dispomos de
outro recurso senão contemporizar com a dificuldade, aguardando melhores dias para o trabalho
esclarecedor.

Repontam males na estrada com tanta força de expansão que, em muitos casos, não há remédio
senão entregar os que se acumpliciam com eles às consequências deploráveis que se lhes fazem
seguidas.

Entretanto, as ocasiões de construir o bem se destacam às dezenas, nas horas do dia a dia.

Uma indicação prestada com paciência…


Uma palavra que inspire bom ânimo…

Um gesto que dissipe a tristeza…

Um favor que remova a aflição…

Analisemos a trilha cotidiana.

A paz e o concurso fraterno, a explicação e o contentamento são obras morais que pedem serviço
edificante como as realizações da esfera física.

Ergue-se a casa, elemento a elemento.

Constrói-se a oportunidade para a vitória do bem, esforço a esforço.

E, tanto numa quanto noutra, a diligência é indispensável.

Não vale esperança com inércia. O tijolo serve na obra, mas nossas mãos devem buscá-lo.

A vida de Paulo atravessa os séculos e nos convida a, também nós, nos levantarmos e seguirmos
semeando o bem, buscando dar a cada dia o melhor de nós.

Que Jesus, em sua infinita bondade, permaneça com cada coração, guiando-nos em sua luz e que o
exemplo de Paulo sempre a inspiração que necessitamos em nossas lutas de cada dia.

Um fraterno abraço e até o próximo e último estudo da Carta aos Gálatas.

Campo Grande – MS, outubro de 2019.

Candice Günther
Carta aos Gálatas com Emmanuel

18

Texto para análise

11Vede com que letras grandes eu vos escrevo, de próprio punho.


12Os que querem fazer boa figura na carne são os que vos forçam a vos circuncidardes, só para não
sofrerem perseguição por causa da cruz de Cristo.
13Pois nem mesmo os que se fazem circuncidar observam a lei. Mas eles querem que vos circuncideis
para se gloriarem na vossa carne.
14Quanto a mim, não aconteça gloriar-me senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o
mundo está crucificado para mim e eu para o mundo
15De resto, nem a circuncisão é alguma coisa, nem a incircuncisão, mas a nova criatura.
16E a todos os que pautam sua conduta por esta norma, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel
de Deus.
17Doravante ninguém mais me moleste. Pois eu trago em meu corpo as marcas de Jesus.
18Irmãos, que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja com vosso espírito! Amém.
Cap. 6:11-18

Chegamos ao trecho final da Carta aos Gálatas de Paulo de Tarso.

Em tom de despedida, Paulo lhes endereça a conclusão dos seus argumentos e o faz de próprio punho.
Em geral, suas cartas eram ditadas, como era de costume. Neste trecho, porém, ele enfatiza: eu vos
escrevo! E com letras grandes! Seria como dizer em alto e bom tom: prestem atenção no que vou
dizer agora, isso é importante.

O que ele diz, então, que merece essa ênfase final, este alerta¿
Recordemos que Paulo, nesta carta tratou de o tema da circuncisão entre os que não eram judeus e
mesmo entre dos judeus, afirmando que o sinal milenar utilizado para simbolizar a aliança com Deus,
era apenas um ritual e não poderia ser obrigatório, nem definitivo. Que o realmente importa é o que
vai em nosso íntimo, em nosso mundo interior que reflete em nosso mundo exterior, ser passa a ser
mais importante do que parecer.

Mas o que Paulo afirma neste último trecho não pode ser visto apenas como uma repetição de tudo o
que já foi dito, não é um reforço, mas uma conclusão.

Ele nos dá o motivo, a razão das pessoas buscarem sinais exteriores para demonstrar sua fé: “12Os
que querem fazer boa figura na carne são os que vos forçam a vos circuncidardes, só para não
sofrerem perseguição por causa da cruz de Cristo.”

Assumir o Cristo em nossas vidas, ainda hoje, é buscar um caminho de luz, de retidão, de amor, de
perdão, de paz e isso trará consequências para as nossas vidas. Naqueles tempos os cristãos pagavam
com a própria vida, hoje, não mais existem os sacrifícios de martírio, não obstante, ser bom ou buscar
o ser, nem de longe é algo que a sociedade aplaude ou incentiva.

A vivência cristã impõe sacrifícios, renúncia e lutas diárias que ultrapassam atos exteriores como ir a
um templo religioso ou praticar a caridade material. Paulo sabia que o verdadeiro cristão é aquele que
busca melhorar-se a cada dia, que olha para o Cristo e busca seguir-lhe os passos, ainda que isto
represente um prejuízo material, ainda que isto represente um desajuste social uma vez que o mundo
ainda aplaude os que se fartam na busca das benesses materiais em detrimento das espirituais.

Perceber a motivação das pessoas para suas atitudes nos permite, então, adquirir um norte, uma luz,
em nossa jornada evolutiva. Outrora Paulo alertou os Gálatas de que os sinais exteriores não mais
bastavam para demonstrar uma vida digna, mas que em verdade espelhavam grande hipocrisia se
eram praticados apenas com o intuito de livrar-se de uma possível perseguição. Isto nos fala de uma
essência muito humana, pois ao vivermos em sociedade, muitas vezes achamos que devemos praticar
ou vivenciar algo apenas para nos sentirmos integrados ao grupo que pertencemos. Assim, os
costumes moldam os homens e os desenganos se perpetuam.

Cabe a nós, então, reflexões mais profundas sobre quais são os “sinais” que são exigidos nos tempos
atuais, mas que são apenas disfarces para evitar a reforma íntima, evitar a busca de uma melhoria que
é muito mais árdua e definitiva.

Talvez, se Paulo escrevesse a nós outros ele nos alertasse que não adianta ser bonzinho na casa
espírita, ser caridoso materialmente, e não abraçar na vida cotidiana os postulados cristãos. Não basta
parecer bom, o Cristo inaugurou nova era, demonstrou em sua própria vida, com sua própria vida, que
o bem requer sacrifícios e que a incompreensão humana ainda se faz presente.

Paulo afirma, então, que nem a circuncisão é importante, nem a incircuncisão, mas ser uma nova
criatura. Não são mais os autos exteriores que nos tornam cristãos, fazer ou não fazer algo torna-se
secundário, mas a motivação passa a ser o grande cerne, o nosso mundo íntimo assume um caráter
primordial.

Muitos dizem, criticando o espiritismo, que buscamos “comprar” um lugar melhor após o desencarne
praticando a caridade, como se através de atos de bondade para o próximo pudéssemos convencer a
Deus de que merecemos ser felizes após a morte. Até mesmo dentro do espiritismo há quem pratique
o bem como quem busca uma recompensa futura.

Pois é justamente isso que Paulo ensina aos Gálatas e que atravessa os séculos para também nos
ensinar. O bem, o verdadeiro bem, é um reflexo da nova criatura. Não é praticado por que se deseja
algo em troca, mas porque se acredita que o bem é o verdadeiro caminho, que o amor é a única
solução e que a paz deve ser praticada em cada ato.

É o bem pelo bem, sem intenções, sem recompensas, apenas porque em seu mundo íntimo houve a
decisão de mudar e de ser algo com o Cristo, de viver em seu caminho de luz, seguindo-lhe os passos.

Deixamos, então, de nos preocuparmos com as aparências, deixamos de nos preocupar com opiniões
alheias, voltando-nos para o trabalho intenso e diário de buscar o bem pelo bem, não porque se quer
algo em troca, mas porque se acredita que este é o caminho verdadeiro.

Esta é a razão de Paulo afirmar que as marcas do Cristo estão nele. Não são as marcas da morte de
Jesus como muitos afirmaram dizendo que Paulo traria em si marcas similares a da crucificação. As
marcas que Paulo traz são as da vida de Jesus, são as marcas do amor, do sacrifício, do perdão, da
fraternidade e de alguém que passou a dedicar-se ao bem integralmente.

Emmanuel comenta este versículo.

Vinha de luz — Emmanuel

Marcas

“Desde agora ninguém me moleste, porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus.” —
PAULO (Gálatas, 6.17)

Todas as realizações humanas possuem marca própria.

Casas, livros, artigos, medicamentos, tudo exibe um sinal de identificação aos olhos atentos. Se
medida semelhante é aproveitada na lei de uso dos objetos transitórios, não se poderia subtrair o
mesmo princípio, na catalogação de tudo o que se refira à vida eterna.

Jesus possui igualmente os sinais d’Ele. A imagem utilizada por Paulo de Tarso, em suas exortações
aos gálatas, pode ser mais extensa.

As marcas do Cristo não são apenas as da cruz, mas também as de sua atividade na experiência
comum.

Em cada situação, o homem pode revelar uma demonstração do Divino Mestre.

Jesus forneceu padrões educativos em todas as particularidades da sua passagem pelo mundo. O
Evangelho no-lo apresenta nos mais diversos quadros, junto ao trabalho, à simplicidade, ao pecado,
à pobreza, à alegria, à dor, à glorificação e ao martírio. Sua atitude, em cada posição da vida,
assinalou um traço novo de conduta para os aprendizes.

Todos os dias, portanto, o discípulo pode encontrar recursos de salientar suas ações mais comuns
com os registros de Jesus.

Quando termine cada dia, passa em revista as pequeninas experiências que partilhaste na estrada
vulgar. Observa os sinais com que assinalaste os teus atos, recordando que a marca do Cristo é,
fundamentalmente, aquela do sacrifício de si mesmo para o bem de todos.

Ainda hoje li nas redes sociais um ensinamento que vai ao encontro desta preciosa lição. Dizia o post
que o rio não bebe da própria água, que o sol não brilha pra si mesmo, que a árvore não come o
próprio fruto... tudo na natureza nos remete a essência divina que habita em nós e que Cristo
demonstrou quando viveu entre nós: viver para o bem de todos. Eis a marca que Paulo dizia que os
gálatas e todos os cristãos deveriam ter, não mais a circuncisão, mas o bem abnegado, a fraternidade
em sua mais bela e simples expressão.

Encerrando, assim, os estudos desta magnífica carta que Paulo dirigiu ao povo antigo da Galáxia,
somos convidados a observar quais as marcas que a nossa vida está deixando no mundo, qual a marca
que estamos deixando no coração das pessoas que nos cercam¿

Estudar esta carta permitiu-me conhecer um pouco mais do pensamento de Paulo e cada vez percebo
que não foram suas palavras ou seus escritos que impactaram o mundo de uma forma positiva,
percorrendo os séculos, mas a coerência entre o seu viver e o seu falar. Sua vida era um espelho do
que pregava, ele não usava da palavra como quem troca de roupa, vestindo um traje para cada
ocasião, mas mantinha a sua conduta em consonância com o seu dizer, humildemente reconhecendo
suas falhas, mas a cada dia buscando pautar no Cristo o seu caminhar.

No capítulo XVII do Evangelho Segundo o Espiritismo encontramos um verdadeiro roteiro para


sermos homens de bem e é com este texto que encerramos este estudo, rogando aos amigos que nos
perdoem as falhas e incorreções que porventura este estudo tenha apresentado, são palavras de uma
alma imperfeita.

“O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior
pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa
lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião
de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe
fizessem.

Deposita fé em Deus, na Sua bondade, na Sua justiça e na Sua sabedoria. Sabe que sem a Sua
permissão nada acontece e se Lhe submete à vontade em todas as coisas.

Tem fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.

Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou expiações e
as aceita sem murmurar.

Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar paga
alguma; retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte, e sacrifica sempre seus
interesses à justiça.

Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros,
nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos. Seu primeiro impulso é para
pensar nos outros, antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros antes do seu próprio
interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os proventos e as perdas decorrentes de toda ação
generosa.

O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de
crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus.

Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança anátema aos que como ele não pensam.
Em todas as circunstâncias, toma por guia a caridade, tendo como certo que aquele que prejudica a
outrem com palavras malévolas, que fere com o seu orgulho e o seu desprezo a suscetibilidade de
alguém, que não recua à idéia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira,
quando a pode evitar, falta ao dever de amar o próximo e não merece a clemência do Senhor.

Não alimenta ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as
ofensas e só dos benefícios se lembra, por saber que perdoado lhe será conforme houver perdoado.

É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem
presente esta sentença do Cristo: “Atire-lhe a primeira pedra aquele que se achar sem pecado.”

Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. Se a isso se vê


obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal.

Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os esforços


emprega para dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera.

Não procura dar valor ao seu espírito, nem aos seus talentos, a expensas de outrem; aproveita, ao
revés, todas as ocasiões para fazer ressaltar o que seja proveitoso aos outros.

Não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais, por saber que tudo o que lhe foi
dado pode ser-lhe tirado.

Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, sabe que é um depósito de que terá de
prestarcontas e que o mais prejudicial emprego que lhe pode dar é o de aplicá-lo à satisfação de suas
paixões.

Se a ordem social colocou sob o seu mando outros homens, trata-os com bondade e benevolência,
porque são seus iguais perante Deus; usa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os
esmagar com o seu orgulho. Evita tudo quanto lhes possa tornar mais penosa a posição subalterna
em que se encontram.

O subordinado, de sua parte, compreende os deveres da posição que ocupa e se empenha em cumpri-
los conscienciosamente. (Cap. XVII, nº 9.)

Finalmente, o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da
Natureza,como quer que sejam respeitados os seus.

Não ficam assim enumeradas todas as qualidades que distinguem o homem de bem; mas, aquele que
se esforce por possuir as que acabamos de mencionar, no caminho se acha que a todas as demais
conduz.”

Que Jesus ilumine o nosso caminhar e conduza nossa viver.

Um fraterno abraço, cheia de gratidão por mais este estudo finalizado.


Campo Grande – MS, outubro de 2019.

Candice Günther

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