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2 Amor e Destino Duologia Amor em Tempos de Guerra Juliana Dantas
2 Amor e Destino Duologia Amor em Tempos de Guerra Juliana Dantas
***
Lily voltou a si poucos dias depois. No quarto havia apenas
uma freira muito jovem, Lily tentou lembrar o nome da moça. Ellen?
Molly? Sua mente parecia embaralhada.
— Olha só, que bom que acordou! — A freira bateu palmas,
exultante.
Lily sentou-se atordoada, tentando lembrar o que estava se
passando.
Então tudo veio à mente, os feridos, o desmaio e depois... O
vazio.
Não. Não era apenas o vazio. Eram cenas fragmentadas.
— O que aconteceu?
— Não se recorda? Desmaiou a uma semana, lá no salão!
Nos deu um susto! A madre quase teve um troço! Ainda mais que o
doutor estava ocupado e...
— Fiquei desacordada todo este tempo?
— Sim, ficou, fora algumas horas que delirava, não falava
coisa com coisa...
Lily colocou a mão no rosto, sentindo-se culpada por ter dado
tanto trabalho.
— Eu não podia ficar doente! — censurou-se. — Tanto
trabalho a ser feito. Tantos feridos!
— Não se preocupe! Vou pedir para prepararem um banho.
E trazer-lhe algo para comer.
— Claro! Tenho mesmo que descer e ajudar!
— Não, tem que descansar, ordens médicas! Não saia daí!
A freira saiu do quarto e Lily recostou-se no travesseiro.
De repente, a mente foi invadida novamente por lampejos. E
ela arregalou os olhos ao se lembrar.
Anthony! Tinha sonhado que Anthony esteve ali.
Sorriu consigo mesma, tristemente. Só em sonho mesmo.
Anthony estava na guerra, sabe Deus onde. Fechou os olhos,
recordando exatamente como foi o sonho. Tinha sido tão real!
Deveria estar muito mal, para ter sonhos com o ex-noivo. Na
verdade, sempre sonhava com ele, mas nunca sonhos assim, tão
vívidos.
Foi tirada de seus devaneios por criados que entraram
trazendo a tina para seu banho.
Tempos depois, Lily desceu para o salão. O movimento ali
era bem menor, havia apenas poucos feridos. Avistou o Dr. Taylor
de longe e foi até ele.
— Olá, Doutor Taylor.
— Lily! — Ele se virou sorrindo. — Vejo que já se
restabeleceu completamente.
— Sim, graças ao senhor! Eu vim agradecer, por ter cuidado
de mim, mesmo tendo tantos feridos precisando mais que eu!
O médico a encarou, confuso.
— Eu não... — ele começou, mas um ferido o chamou e ele
foi ao seu encontro deixando Lily sem saber o que tinha falado de
errado.
Dando de ombros, ela foi ajudar nos afazeres e ao fim do dia
a mesma freira que havia estado no seu quarto quando acordara
veio ao seu encontro.
— Lily, a madre quer falar com você, na sala dela.
— Comigo? Será que ela vai me dar uma bronca por ter
caído doente?
— Claro que não! Por que faria isso?
— Talvez por ter monopolizado o nosso médico quando há
tantos...
— Mas não foi ele quem cuidou de você! Foi outro médico!
— Como? — Lily espantou-se, sentiu uma reviravolta no
estômago ao pensar em seu sonho. Não, aquilo fora delírio.
Simplesmente não era possível.
— Na mesma hora que você caiu doente, chegou outro
médico. Olha que sorte!
Lily sentiu o ar lhe faltar.
— Outro médico. — Ela passou os olhos pelo salão,
desorientada e ansiosa. — Onde ele está?
— Foi embora hoje cedo...
— Você sabe o nome desse médico? — Lily perguntou num
fio de voz.
— Hum, não me lembro direito. Mas ele era jovem, e bonito!
Pena não estar acordada para ver! — A noviça deu uma risadinha,
para em seguida perceber o que disse e fazer o sinal da cruz.
Lily sentiu falta de ar e palpitações no peito. Não podia ser.
Ou podia?
— Não esqueça que a madre está te chamando!
— Certo! Eu vou ver o que ela quer. — Lily virou-se em
direção à sala da madre, mas na porta do salão ouviu a moça
chamá-la.
— Lily! Lembrei! O nome do médico! É Anthony Crawford! —
afirmou, despreocupada, voltando aos seus afazeres.
Mas Lily permaneceu parada onde estava, chocada.
Não foi um sonho. Anthony esteve mesmo ali. Em carne e
osso.
Cuidou dela. E ela estava tão doente que nem fora capaz de
notar sua presença. Não do jeito que gostaria, que ansiava desde
que tinham se separado tão bruscamente meses atrás.
A moça levou a mão ao coração, desolada.
Ele esteve ali e partiu. Sem olhar para trás. Sem ao menos
esperar que ela se recuperasse.
Sentiu as lágrimas quentes nos olhos e respirou fundo para
não desabar ali mesmo no salão apinhado de gente. Engoliu um
soluço, a mente trabalhando rápido. Se fora embora há poucas
horas, talvez ainda estivesse perto. Ela podia fazer perguntas,
alguns daqueles homens na enfermaria poderiam ser da sua tropa.
Poderia se informar de sua localização.
E Lily iria atrás dele.
Sim, não podia deixá-lo ir. Iria atrás dele nem que fosse a
última coisa que fizesse na vida.
Mordeu os lábios, sorrindo consigo mesma, com o ânimo
renovado, o coração cheio de esperanças.
— Lily! — Ouviu a madre a chamá-la, ríspida, da porta de sua
sala e só então Lily lembrou-se que tinha requisitado sua presença.
Sua missão para encontrar Anthony podia esperar alguns
minutos. Caminhou até a sala da senhora e sentou-se à sua frente.
A mulher a encarou, soturna.
— Temo não ter boas notícias. Chegou uma missiva da sua
casa. Seu pai está muito doente.
Lily sentiu o coração congelar.
— Doente? Que doença?
— Muito grave e segundo a carta de sua mãe... — Ela
passou a carta para Lily. — Ele está morrendo, Lily.
Lily pegou a carta com as mãos trêmulas e a leu
rapidamente.
Sim, era verdade, Frank Bennet estava no leito de morte.
Começou a chorar, sem conseguir se conter.
— Eu sinto muito, querida — a madre a confortou. — Pedirei
uma carruagem para você partir o mais rápido possível.
— Sim, claro — Lily respondeu de pronto. — Eu vou voltar
para casa.
Capítulo 4
***
***
— Pare!
Mas ela não parou e adquirindo um ar sonhador, continuou.
— Eu nunca tinha sido beijada antes de você me beijar
naquele baile e eu pensei, Por que nunca me disseram que um beijo
podia ser tão bom? E ansiei que me beijasse de novo e de novo. E
quando me beijou novamente no celeiro foi... — Ela soltou um
suspiro profundo.
Lily deitou-se de costas novamente, olhando para o teto.
Deixando as lembranças tomarem sua mente, seu corpo, seu
coração.
— Você me fazia sentir... Tantas coisas novas. Coisas que eu
nem sabia que existiam e cada vez que me olhava, eu me sentia
derreter e ansiava por ter suas mãos em mim novamente, como
naquela noite, você lembra, Anthony?
Ela olhou para ele de novo. Mas Anthony continuava
impassível.
— Eu desejei por todos esses anos que estivéssemos juntos
novamente, sentir as mesmas sensações que me fez sentir naquela
noite. Desejei... — A voz dela não era mais que um sussurro e ela
ouviu Anthony respirar fundo e soube que ele não era tão indiferente
como estava tentando aparentar. — Sabe o que eu queria naquela
ocasião, Anthony? Queria que você mandasse as convenções às
favas e me possuísse, queria sentir seu toque em todos os lugares,
seus lábios...
— Chega Lily! — ele gritou e Lily decidiu que já era hora de
parar.
— Tudo bem! Boa noite, Anthony!
Ela virou de costas e abafou o riso no travesseiro. Tinha
ganhado uma batalha. Anthony não conseguiria resistir por muito
tempo.
E Lily iria lhe mostrar o que estava perdendo mantendo-se
longe dela.
Queria que ele a amasse de novo e lutaria por isso.
***
— Você vai embora hoje!
— Como assim, vou embora?
Lily andava pelas ruas de Savannah quase correndo atrás de
Anthony que lhe pedira esta manhã para acompanhá-lo até a base
do exército confederado na cidade.
— Eu avisei que não poderia ficar aqui.
— Mas não posso ir! Falei pra você que tinha uma missão...
— Mesmo que seu intuito de achar Jake tivesse ficado esquecido
desde que chegara ali.
Doía pensar que Jake estava condenado e ainda rezava para
que houvesse uma maneira dele se salvar, mas Lily já entendera
que havia pouco ou quase nada que ela mesma pudesse fazer.
Porém, agora que reencontrara Anthony, sua missão era
outra.
Era fazer com que ele se apaixonasse por ela de novo.
— Chega, Lily! — Ele continuou andando e a Lily não restou
alternativa a não ser acompanhá-lo, mas sua mente já trabalhava
tentando achar uma saída.
Não podia ir embora. Não ainda.
O oficial Hamilton cumprimentou Anthony e Lily efusivamente.
— Infelizmente a situação continua a mesma, Anthony.
— Mas preciso mandar a Lily de volta para Atlanta!
Lily bufou, cruzando os braços, o que chamou a atenção do
general.
— Por que tenho a impressão de que a senhora não quer
fazer essa viagem?
— Não, não quero. Eu falei para o Anthony, não é querido?
— ela enfatizou o “querido”, irônica, mas o general pareceu não
notar.
— Anthony, se me permite um conselho. Não é seguro viajar
pelas estradas neste período. Mesmo com escolta militar, sua
senhora corre perigo.
— Eu sei do perigo! Mas aqui também é perigoso e seria
melhor para ela que voltasse para Atlanta — Anthony respondeu
ignorando a carranca de Lily.
— Se é essa sua decisão, então assim que tiver alguém
disponível, eu o comunicarei.
Anthony levantou-se para sair.
— Vamos, Lily.
— Eu ainda preciso perguntar uma coisa ao oficial. — Lily
virou-se para o homem. — Será que teria como obter notícias do
homem do qual te falei, que está preso, o nome dele é...
Ela não conseguiu terminar a sentença, porque Anthony a
pegava pelo braço e a arrastava porta afora.
— Ei! Me solta!
Mas de nada adiantou, ele não a soltou até que estivessem
na rua.
— Quando foi que se tornou tão bruto?
— Acho bom parar de me irritar, Lily.
— Este seu comportamento de homem das cavernas é
ridículo! Eu ia aproveitar para perguntar a ele sobre o Jake!
— Eu quero que pense, pelo menos por um instante, como a
pessoa sensata que diz ser e não como a menina mimada que
ainda é — ele falou baixo num tom ameaçador.
— Como é que é?
— Ficar por aí perguntando sobre Jake Dawson só fará as
pessoas desconfiarem dessa nossa pequena farsa.
— Ah, entendi! Você não quer que a sua suposta esposa
fique por aí perguntando sobre outro, não é?
— Lily...
— Quer saber? Quem está cansada dessa sua atitude sou
eu! Se pelo menos me ouvisse...
— Aí estão os pombinhos!
Anthony e Lily viraram ao mesmo tempo ao ouvir a voz da
Senhora Delaney.
— Olá, Senhora Delaney. — Lily sorriu e deu uma cutucada
em Anthony.
— Bom dia — ele falou sério.
A mulher olhou de um para o outro, confusa.
— Vocês não estavam brigando, estavam?
— Nós? Claro que não! Quer dizer... — Lily passou o braço
pelo de Anthony. — Briguinha de casal. A senhora entende, não é?
— Lily sorriu e a mulher deu uma piscadinha maliciosa.
— Sim, sim! Eu queria mesmo encontrar com vocês, pois terá
um jantar hoje na minha casa e vocês estão convidados.
— Senhora Delaney, não podemos ir... — Anthony tentou
declinar do convite.
— Mas é claro que pode! Tem que apresentar a sua esposa à
sociedade! Coitadinha, presa o dia inteiro naquele hospital, uma
moça tão bonita! Não aceito um não como resposta! Vejo vocês hoje
à noite.
A mulher se afastou e Lily desfez o sorriso e encarou
Anthony.
— Onde estávamos mesmo?
— Eu não quero mais discutir. Agora vamos. Depois dessa
sua encenação, acho que temos um maldito jantar pela frente!
Capítulo 10
***
***
Lily respirou aliviada quando Anthony apareceu no quarto
finalmente.
— E então?
— Alice está radiante. Agora está dizendo que precisa dar
uma festa apropriada para o casamento!
Lily riu, mas então ficou séria.
— Me desculpe por Rosamund...
— A Rosamund apenas falou a verdade. E ela tem razão em
tantas coisas, o modo como a tratamos...
— Já passou, Anthony — Lily o interrompeu. — Chega de
falar de coisas do passado, por hoje! Estou exausta! Acho que
posso dormir uma semana!
Ele riu e a abraçou.
— Tem sido tudo muito rápido para você, não é?
— Tem sido incrível. — Ela suspirou e ficou na ponta dos pés
para beijá-lo e sentiu o corpo se aquecendo de encontro ao dele. —
Anthony?
— Hum? — ele sussurrou beijando sua garganta.
— Não estou tão cansada...
Ele riu em seu ouvido, empurrando-a em direção à grande
cama.
— Acho que vamos nos atrasar para o jantar e minha mãe
não gostaria nada disso — ele falou enquanto a depositava na cama
e cobria seu corpo com o dele, as mãos desabotoando a frente do
elegante vestido.
Mas ao ouvir suas palavras Lily segurou suas mãos.
— Então é melhor pararmos.
— Por quê?... — Ele abriu a parte frontal do vestido,
libertando os seios do corpete apertado para a exploração
pecaminosa de sua língua.
— Anthony, para com isso, não quero contrariar sua mãe —
Lily pediu com a voz fraca, mas em resposta ele tomou um mamilo
na boca e Lily gemeu perdida. Sentiu a mão dele se imiscuindo por
debaixo da saia do vestido, tocando as meias finas, a roupa íntima
de seda até chegar ao sexo, que ele acariciou com os dedos
experientes por cima do tecido e Lily reagiu erguendo os quadris de
encontro a sua mão, sentindo as coxas tremerem, enquanto pulsava
em seus dedos.
— Anthony por favor.
— Por favor, o quê?
Antes que Lily encontrasse as palavras em meio ao seu
enlevo, ouviram uma batida na porta. Anthony praguejou e saiu de
cima dela.
— Anthony, posso entrar? — Era a voz de Alice.
Lily pulou da cama, tentando desesperadamente ajeitar as
roupas no corpo e Anthony riu.
— Não é engraçado, Anthony! — ralhou lutando contra os
botões.
— Anthony? — Alice voltou a chamar e Anthony levantou
uma sobrancelha para Lily.
— Se abrir eu te mato! — Ela acabou de fechar os botões
com os dedos trêmulos. Olhou o reflexo no espelho na parede e fez
uma careta de desânimo.
Anthony abriu a porta e Alice entrou sem cerimônia.
— Papai quer falar com você. — Ela olhou de Lily para
Anthony e Lily corou ao ser medida da cabeça aos pés.
Era claro o que estavam fazendo antes dela aparecer.
— Eu já vou descer.
— Também quero avisar que o jantar será servido daqui a
uma hora. Não se atrasem, mamãe mandou preparar um jantar
especial de boas-vindas.
— Não nos atrasaremos — Lily respondeu rápido.
— Eu vou ver o que meu pai quer — Anthony beijou o topo
da sua cabeça —, mas ainda não terminamos o que começamos. —
Ele piscou e saiu do quarto.
Alice riu quando Anthony fechou a porta atrás de si
— Ah, a lua de mel! Sinto saudade dessa época! Enfim… —
Ela abraçou Lily. — Estou tão feliz que finalmente estejam juntos.
Acha que pode nos perdoar por tudo?
— Claro que sim.
— Você é muito generosa conosco. Ao contrário da sua
prima...
— Rosamund tem o jeito dela.
— Não sei como a suporta!
— Ela irá se casar em breve.
— Acho ótimo. Tenho pena do futuro marido. Pelo menos
Elliot se livrou de uma boa!
— Alice, o Elliot não agiu corretamente também.
Alice corou.
— Eu sei. Ele nem deveria ter chegado perto da sua prima
para começo de conversa. E pior que duvido que ele tivesse
assumido suas responsabilidades, se o filho fosse dele. Elliot é um
espírito livre! Tanto é que se cansou da guerra e fugiu! Mas enfim,
não falaremos mais de sua prima! Quero saber todos os detalhes do
seu casamento e também temos que começar a organizar uma
grande festa e...
— Alice, estamos em guerra. Não é cabível uma festa
agora...
— Mas temos que comemorar de algum jeito, eu tenho
algumas ideias e...
***
Lily olhou as colinas distantes, além da cidade, preocupada.
Como Anthony dissera, as notícias não eram nada boas.
Haviam chegado a Atlanta há um mês e as batalhas
aconteciam muito próximas da cidade. A estrada de ferro de Atlanta
para Tennessee estava nas mãos dos yankees, a cidade estava
apinhada de soldados e feridos.
— Lily, para de olhar para o nada e me ajuda! — Lily ouviu a
voz estridente de Rosamund e virou-se para a prima.
Hoje era o dia de casamento de Rosamund. A prima não
cabia em si de felicidade. Não porque nutrisse algum sentimento
pelo noivo, mas porque finalmente iria dar o golpe do baú que tanto
almejara.
— O que você quer, Rosamund? — Lily indagou desanimada.
— Mas que cara de enterro! Pode mudar essa cara de
velório! Hoje é o dia do meu casamento, o maior evento que esta
cidade já viu e...
Lily riu.
— Rosamund, que maior evento? Você vai se casar numa
cerimônia íntima só para a família!
— Isso porque aquela sua sogra horrorosa, meteu o bedelho
onde não foi chamada e convenceu o meu noivo deste casamento
chinfrim!
— Ela está certa. — Alice se intrometeu. — Não seria nada
adequado um casamento grandioso. Olhe a sua volta, estamos em
guerra!
— Você poderia deixar de ser intrometida, ninguém pediu
sua opinião.
Alice revirou os olhos, nem um pouco preocupada com a
farpa de Rosamund.
— Agora me ajuda a pôr o véu — pediu a Lily.
— Devo admitir que está bonita, Rosamund, mas ainda acho
um desperdício. Você que merecia um casamento adequado, Lily —
Alice comentou.
— Mas eu tive um casamento adequado.
Alice bufou.
— Sem mim pra ajudar? Duvido!
Lily riu e ouviram uma batida na porta e Beatrice entrou.
— Já está na hora, Rosamund.
— Obrigada, ela já vai descer — Lily respondeu e a moça se
afastou.
— Essa sonsa não vai nunca mais embora? — Rosamund
reclamou.
— Não fala assim, Rosamund. Sabe que ela não pode partir
por causa da guerra.
— Pois se eu fosse você, abria os olhos! Com essa carinha
de santinha, ela pode estar tramando roubar o seu marido!
— Nem todos são iguais a você! — Alice alfinetou, mas
Rosamund a ignorou.
— Depois não diga que eu não avisei. Agora vamos!
Lily se posicionou no banco da igreja entre Candy e o
pequeno Theo.
Josephine e Alice estavam com cara de poucos amigos.
Beatrice permanecia séria. E o noivo parecia desconfortável parado
ao pé do altar.
Anthony e o Doutor Theodore estavam no hospital.
Lily só esperava que este circo acabasse logo. Ainda bem
que Josephine tinha interferido nos planos estapafúrdios de
Rosamund de grande festa. Não estava com o menor pique para o
que quer que fosse.
Algumas vezes por semana ajudava no hospital da cidade
como voluntária, assim como Alice. Embora essa última sempre
passasse mal depois.
Beatrice tentara ajudar, mas a pobre não tinha estômago e
fora dispensada.
A prima de Anthony era uma moça séria, porém educada e
gentil quando se dirigia a Lily, embora as duas apenas mantivessem
uma relação cordata.
Às vezes Lily se perguntava se ela estava mesmo
conformada com o fim do noivado com Anthony. Será que fingia?
Lily torcia para a guerra acabar e Beatrice voltar para a
Filadélfia. Assim como tinha torcido para que os dias passassem
mais rápidos e chegasse logo o dia do casamento de Rosamund
que vivia trocando farpas com Alice e Josephine.
Lily tentava não se intrometer e não se dava ao trabalho de
tomar qualquer partido. Passava seus dias com a mãe, quando não
estava no hospital e as noites, com Anthony. Depois do jantar em
família, eles se retiravam e ela podia se esquecer da guerra e de
tudo que o cercavam para se entregar à paixão por seu marido.
Rezava para que a guerra findasse e que aquela nuvem
escura de incerteza e medo deixasse suas cabeças e eles
pudessem, enfim, serem felizes.
— Cadê minha mãe? — O pequeno Theo puxou seu vestido
ansioso e Lily sorriu para o menino.
— Ela já vai entrar.
Os primeiros acordes da marcha nupcial se fizeram ouvir e
Rosamund entrou triunfante na igreja. O padre começou a cerimônia
e Lily fechou os olhos.
Pensava em Anthony e em seu próprio casamento. Que fora
tão simples, mas tão verdadeiro.
— E se alguém tem algo a dizer contra este matrimônio que
fale agora ou cale-se para sempre — o padre proferiu as palavras
finais. Rosamund sorriu, triunfante, com certeza sabendo que este
era o grande momento de sua vida.
Mas a porta da igreja se abriu.
— Eu me oponho a este casamento, seu padre.
Todos viraram para onde vinha a voz e Lily surpreendeu-se
ao ver Jake parado à porta, com aquele sorriso malicioso que lhe
era característico no rosto. Por alguns instantes intermináveis reinou
apenas o silêncio. Lily fitou Rosamund que tinha no rosto uma
expressão de puro horror.
Capítulo 20
***
Poucos dias depois, Atlanta caiu.
Confederados não se limitaram a resistir e atacaram
ferozmente os yankees, que revidaram duramente.
As notícias eram incertas e assustadoras, trazidas dos
feridos e se estabeleceu um fluxo deles entrando na cidade em
busca de hospitais, manchados de pólvora, poeira, suor e sangue.
Mulheres, crianças e velhos começaram a sair da cidade.
Alice, que havia acabado de descobrir que estava grávida,
junto a Aidan e Beatrice partiram em direção ao norte, fugindo do
que estava prestes a se tornar um pesadelo. Lily queria que Candy
fosse com eles, mas a mãe insistiu em ficar em Atlanta, já que a
filha se recusava a partir. Por mais medo que tivesse, preferia ficar
em Atlanta ao lado de Anthony, ajudando nos hospitais como podia.
O cerco continuou pelos dias quentes de julho.
A cidade mudou de atitude se adaptando aos tempos
sombrios, com soldados derrotados chegando aos montes todos os
dias, contudo os yankees não recuaram. A vida continuava quase
normal, apesar do barulho dos bombardeios e canhões nas
proximidades, ambulâncias passando, regimentos convocados às
pressas, mensageiros correndo em direção aos quartéis.
Com os yankees forçando um recuo, Atlanta ardia de
incerteza em relação ao dia seguinte.
As noites traziam alguma calma, e Lily tentava dormir,
agarrada a Anthony, rezando para que o dia seguinte fosse melhor.
Nos últimos dias de agosto, o cerco parecia durar uma
eternidade, no entanto só começaram há trinta dias.
Lily chegou em casa no fim de tarde, depois de um dia
horrível no hospital, olhou para si mesma, o vestido que estava
imaculadamente limpo de manhã, agora estava coberto de sangue,
poeira e fuligem.
E encontrou Josephine correndo de um lado para o outro com
Candy, ajeitando baús em uma carroça.
— O que está acontecendo?
— Estamos indo embora — Candy informou.
— Como assim?
— Vamos tentar chegar à fazenda, os yankees estão se
aproximando...
— Falam isso há um mês... Mas a tropa está resistindo.
— Lily, recebemos uma mensagem, os confederados
perderam as últimas batalhas e o exército está em plena retirada —
Theodore comunicou grave.
— O exército irá evacuar Atlanta?
— Sim...
— Mas... Não podemos ir...
— Temos que fugir, chegou a hora de ir embora! — Candy
insistiu.
— Vá trocar de roupa, e prepare uma bagagem. — Theodore
segurou seu braço a fazendo entrar.
— O senhor também vai?
— Sim, não posso deixar vocês, mulheres viajando sozinhas.
Só há uma estrada que aconselharam a tomar e é por ela que o
exército está batendo em retirada. Não vai ficar aberta por muito
tempo.
— E Anthony?
Ele hesitou.
— Anthony vai ficar.
— Ficarei aqui também!
— Não vai não.
Lily se virou e viu Anthony entrando.
— Anthony, o que está acontecendo?
Ele a segurou pelo braço e a levou para cima.
— Precisam partir o mais rápido possível.
Lily se desvencilhou.
— Então você tem que vir também!
Anthony começou a desabotoar seu vestido, puxando-o para
baixo.
— Precisam de mim aqui, Lily. Não há ataduras, nem
pomadas, nem quinino, nem clorofórmio, mal temos morfina! Os
yankees estão chegando, as tropas estão saindo da cidade, e não
sei o que vão fazer com os feridos — ele dizia rápido enquanto
pegava outro vestido limpo e passava por sua cabeça.
— Então eu ficarei também!
— Não, você tem que ir.
Ele se afastou e começou a jogar suas coisas dentro de um
baú.
— Não, não pode me obrigar a ir a lugar nenhum, se você
não vai! Eu posso ajudar, posso cuidar dos feridos e...
Anthony segurou seus braços, a obrigando a fitá-lo.
— Lily, me escuta. Não sabemos o que vai acontecer. Atlanta
vai cair.
— Então cairemos juntos... — Uma lágrima rolou dos seus
olhos.
— Não vou permitir que fique. Precisa ir embora.
O destino estava sendo cruel com eles.
Agora que ela e Anthony finalmente estavam juntos, essa
maldita guerra os estava separando.
— Como pode me deixar sozinha de novo?...
— Não estará sozinha. — Ele tocou sua barriga. — Ainda não
sentiu, mas estará levando nosso filho com você.
Lily arregalou os olhos por um momento, não
compreendendo as palavras de Anthony.
— Está dizendo...
— Sim, está grávida.
— Mas... Como sabe?
— Você estava distraída demais para perceber os sinais, mas
eu notei há alguns dias.
Lily levou a mão à barriga, meio em choque.
Um filho.
Ela e Anthony teriam um filho.
— Por isso tem que ir, entende? Não posso permitir que fique
aqui, se colocando em risco.
— Deveria vir com a gente...
— É meu dever, Lily. Sinto muito.
Lily entendeu que nada faria Anthony mudar de ideia.
Ela o vira com os feridos, ele daria a vida por eles. E como
Lily poderia obrigá-lo a segui-la sendo que havia tanta gente que
precisava do Anthony ali?
Ela sacudiu a cabeça, finalmente concordando, porque não
tinha escolha.
Agora precisava proteger seu bebê.
FIM
Agradecimentos
Grande abraço!
Ju
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