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1ª Edição

2023

Copyright © 2023 Scarlett Castello

Revisão: Paula Domingues

Diagramação Digital: Paula Domingues

Copidesque: Isadora Almeida e Jessica Lindoso

Capa: TTenório

Esta é uma obra ficcional.

Qualquer semelhança entre nomes, locais ou fatos da vida real


é mera coincidência.

Todos os direitos são reservados. Nenhuma parte deste livro


pode ser utilizada ou reproduzida em quaisquer meios existentes
sem a autorização por escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº


9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Valentino Martinelli, foi criado para ser o maior e mais impiedoso
Dom que a Máfia já teve, se vê obrigado pelo conselho de anciãos a
casar-se novamente, 2 anos depois do da morte de Francesca, sua
primeira esposa. Agora o casamento será com a irmã mais nova,
Giuliana que, ao contrário da irmã, não tem nada de doce.

Valentino não estava disposto a se curvar às vontades dos anciões,


mas quando seu poder é colocado a prova e quando surgem novas
evidências que contradizem o que ele achava saber sobre a morte da
esposa, ele sabe que precisará ceder e se casar novamente.

Giuliana Romanno nunca se encaixou no mundo da máfia.


Debochada e de boca esperta, ela viu seu mundo virar de cabeça para
baixo após a morte de seu pai. Agora ela se vê noiva do Dom e não está
disposta a baixar a cabeça e ceder a esse casamento, nem mesmo para
o homem mais temido da máfia, seu futuro marido.

Contudo, à medida que Valentino e Giuliana começam a conviver,


uma conexão inesperada se forma entre eles. Giuliana, contra todas as
suas convicções, acaba se apaixonando pelo homem que seria seu
futuro marido. Valentino, por sua vez, percebe que o coração também
pode encontrar abrigo em meio às sombras e desconfianças da máfia.
Enquanto o relacionamento entre eles floresce, um antigo inimigo
retorna do passado, revelando segredos obscuros que mudarão
completamente a visão de Valentino sobre os eventos que levaram a
desconfiar do seu próprio sangue. Aquele que Valentino acreditava ser o
culpado, na verdade, era inocente.

Agora, Valentino e Giuliana se veem envolvidos em uma perigosa


trama, em que a vida de todos que amam está em jogo. Unidos contra
um inimigo em comum, eles precisam enfrentar o passado sombrio e
descobrir a verdade por trás de uma teia de mentiras.
O livro se trata de um romance hot que tem como pano de fundo
máfia, se você espera encontrar cenas de detalhes sobre as negociações
dentro da máfia e burocracias, este livro NÃO corresponderá às suas
expectativas.

A autora não apoia e nem tolera as ações ilegais e comportamento


de alguns personagens retratados neste livro. A atenção do leitor é
aconselhada. Não leia se não se sente confortável.

 LIVRO RECOMENDADO PARA MAIORES DE 18 ANOS.


NOTA DA AUTORA
SUMÁRIO
PRÓLOGO
Valentino
01
Giuliana
02
Valentino
03
Giuliana
04
Giuliana
05
Valentino
06
Valentino
07
Giuliana
08
Valentino
09
Giuliana
10
Valentino
11
Giuliana
12
Valentino
13
Valentino
14
Giuliana
15
Giuliana
16
Valentino
17
Valentino
18
Giuliana
19
Valentino
20
Valentino
21
Giuliana
22
Valentino
23
Valentino
24
Giuliana
25
Valentino
26
Giuliana
27
Valentino
28
Giuliana
29
Valentino
30
Giuliana
EPÍLOGO
Giuliana
REDES SOCIAIS
— Você ouviu o que eu disse cara? — Fellipo, meu irmão caçula
pergunta, colocando as pastas que segurava em cima da mesa. O som
chama minha atenção, e o encaro.

Eu estava distraído, estava lidando com problemas de desvios de


mercadorias, e isso estava me deixando puto, pois ao que tudo indicava,
era alguém de dentro, e eu não fazia ideia de quem eram os ratos, ou a
ratazana em questão.

O idiota ousou roubar de mim, sabe que não terá perdão e quando
eu o pegar vou esfolá-lo vivo, mostrando a ele e a todos, mais uma vez, o
motivo de eu ser o Dom mais cruel que a máfia já viu.

— Pode repetir? — Pergunto me sentando, e acendendo um


cigarro, esperando relaxar.

— As filhas do velho Romanno estão chegando hoje, quer que eu


vá buscá-las?

— Me recorde... por que mesmo elas estão vindo?

— Porque quando você se casou com Francesca assinou um


documento, onde na falta do pai ou responsável pelas garotas, “você”
assumiria a tutela de suas cunhadas.
Olho para meu irmão, com uma careta de desagrado, preferia ter
esquecido esse acordo, me lembro bem dessa merda, mas na época não
tive escolha, ainda não era o capo, e para assumir meu posto tive que
me casar com minha prometida desde o berço. Por mais que eu fosse o
próximo capo, não tive alternativa, além de seguir o que o meu capo
decidiu para mim.

A menina havia acabado de fazer dezoito anos quando nos


casamos, era a mais velha das três irmãs, eu tinha vinte e oito, já era dez
anos mais velho que minha noiva. Apesar da diferença de idade,
Francesca era encantadora e compreendia o seu papel, assim como eu o
meu, tivemos um casamento tranquilo, éramos bons juntos.

E hoje... dois anos após o trágico falecimento de minha Francesca,


e aniversário de cinco anos de casados, as pequenas Giuliana e Alina
estão chegando para ficar, e pior, ficar debaixo do meu teto, pois eu
assinei na época do casamento, um contrato onde caso o velho
Romanno morresse, a tutela das meninas ficariam comigo, assim como a
responsabilidade de lhes arrumar um bom casamento, caso ainda não
fossem desposadas.

Cuidar das garotas para mim é o de menos, o que está me


deixando puto com toda essa história, é que aquele velho bastardo
resolveu infartar a uns quinze dias mais ou menos, deixando duas
crianças na minha porta, uma de quinze, e a outra de dezoito recém
completados. E para piorar a situação, o conselho da nossa organização,
quer que eu me case com a mais velha, já que faz dois anos que sou
viúvo, e pai solo de um garoto de dois anos.

Meu filho precisa de uma mãe e eu de uma esposa, mas desagrada


que tenha de ser uma das irmãs da Francesca. Elas sempre foram muito
grudadas e quando Francesca se separou das irmãs, vivia contando
história delas e de como a Giuliana era difícil de lidar, com a boca
desbocada e cheia de opiniões.

Eu tenho de focar em eliminar os ratos que rastejam na minha


organização e não lidar com outro casamento com uma mulher que deve
me detestar.

Ela tem de ser boa para o meu filho, não consigo passar tanto
tempo com ele como gostaria, o trabalho como capo e advogado não
permite que eu dê a atenção que ele merece. Ao menos ser cuidado pela
tia poderá fazer meu filho ficar perto das lembranças da mãe.

Minha Francesca morreu de forma duvidosa, o assassinato dela


não faz sentido para mim. Muitos acreditam que foi Matthew meu irmão
que a matou, mas algo em mim não acredita nisso, tenho ressalvas e
muitas dúvidas, também uma mágoa e ressentimento gigantes no peito,
meu irmão era meu melhor amigo, dói pensar que ele me traiu dessa
forma.

Na época, para não ter de matá-lo, que seria esperado conforme as


leis de nossa máfia, eu o bani de nossas vidas, e do meu território. Sei o
que faz e como está, através do nosso irmão caçula, Fellipo, que fica
com o pé nos dois mundos, e acha que não sei que o visita escondido.

Mas, na verdade, eu gosto que ele continue o vendo e o mantendo


em segurança, quando eu descobrir quem matou a minha Francesca,
quero Matthew ao meu lado para podermos nos vingar juntos da
armadilha que me colocou contra meu sangue. Pensar na possibilidade
de o Matthew ser o verdadeiro assassino me dilacera por dentro.

Agora, dois anos após tudo o que aconteceu, eu consigo ver com
mais clareza, e a cada dia é mais improvável que Matthew tenha
assassinado minha esposa, mas, ao mesmo tempo, uma raiva sobre-
humana me vem à superfície, pois ele foi pego em flagrante ao lado do
corpo.

E sua história de como parou na cena do crime não foi convincente,


o sangue nas mãos, o olhar assustado, se eu não o conhecesse o
suficiente, o teria matado na mesma hora.

Algo se esconde por trás da verdade naquela noite e ele se recusa


a me contar tudo o que aconteceu.

É uma mancha que nunca vou conseguir apagar, a morte de


Francesca e seu verdadeiro assassino continuar a solta, meu pequeno
Raffaello não conhece a mãe. E quando eu puser as mãos no miserável
vou fazer com que toda a linhagem dele se ressinta por seus crimes.

— Planeta terra chamando — Fellipo fala estalando os dedos na


frente do meu rosto — distraído é pouco para você hoje, tudo isso é
emoção porque vai conhecer sua futura noiva?

— Vai se foder, idiota! — Respondo me levantando e indo em


direção às garrafas de bebidas que mantenho em meu escritório. — A
que horas as meninas chegam?

— Sabe que não são mais tão meninas né? Pelo menos não a
Giuliana, que acabou de completar dezoito.

Abano a mão no ar, demonstrando que para mim tanto faz.

— Mandou a senhora Rubi preparar os quartos de hóspedes para


elas? — Pergunto entregando um copo para meu irmão, e me recostando
na beira da mesa, de frente para ele.

Rubi era nossa governanta, ela praticamente nos criou desde


moleques, já que nossa mãe nunca foi dada a criação de filhos e cuidar
da casa, ela sempre foi uma mulher da sociedade, sempre em festas,
eventos beneficentes e essas merdas que as socialites fazem com suas
vidinhas miseráveis.

— Claro, se dependesse de esperar você a mandar fazer isso, elas


teriam de dormir em um hotel hoje.

— Não seja dramático, tenho problemas mais importantes para


resolver, que a chegada de duas pirralhas que nem conheço — falo
voltando a me sentar em minha poltrona — a última vez que as vi foi no
meu casamento, eram duas crianças.

— Eram, meu caro... eram... — meu irmão ironiza — você vai se


surpreender quando vir sua noiva.

— Não me fode Fellipo, eu não aceitei essa merda para taxarem a


menina como minha noiva.

A raiva borbulha dentro do meu peito, por mim, continuaria solteiro,


mas o conselho exige que seu capo seja casado com uma mulher
tradicional da nossa máfia, e que meu filho seja criado como um
verdadeiro homem de honra.

— Você é o capo, mas para o bem de nossa organização, você


acredita mesmo que tem escolha?

— Não! — falo cansado, passando as mãos com força no rosto.


Dando por encerrado o tópico do meu casamento e focando nos
negócios.

Estamos debatendo sobre outros assuntos, principalmente de uma


mercadoria que está para desembarcar amanhã, quando o telefone da
minha mesa toca, e Lavínia, minha secretária, fala assim que atendo:
— Senhor, tem duas meninas aqui fora querendo lhe falar. Mando-
as voltar outro dia?

Ouço um bufo de fundo, seguido de uma espécie de grasnar.

— Elas se apresentaram?

— Disseram ser a senhoritas Romanno — Lavínia diz com


indiferença.

— Mas que porra... — praguejo olhando o relógio, em seguida para


meu irmão, que me olha com as sobrancelhas arqueadas, curioso. —
Mande-as entrar.

— O que foi? — Fellipo pergunta apontando o telefone.

Mal tenho tempo de responder, quando minha porta se escancara,


e uma moça com expressão quase homicida nos olhos, entra, seguida de
uma menina, que nitidamente tenta segurar a impulsividade da irmã.

Meus olhos percorrem cada detalhe de seu corpo e rosto.

Cabelos compridos, castanho escuro, pele alva, olhos azuis vivos,


apesar de que agora estão um pouco vermelhos e injetados do mais puro
ódio, cintura fina, pernas longas e torneadas, seios não muito grandes, e
lábios cheios. Meu pau responde a sua sensualidade na mesma hora,
mesmo não querendo, não tem como ser indiferente a sua presença.

Aquela pirralha sardenta se tornou uma mulher linda, e bocuda pelo


pouco que posso constatar. Sorrio de lado ansioso para saber o que
causou a sua explosão na minha sala. Parte da raiva que eu estava com
o casamento começando a brotar sobre a pele, se ela quer briga, terá.
— Elas não esperaram, simplesmente foram entrando como duas
selvagens — Lavínia tenta se explicar, entrando logo atrás das duas
garotas.

— Está tudo bem, saia e feche a porta — mando minha secretária


sair, ela acena deixando a sala, sabe que não pode me contestar. Os
olhos irados ao perceber como a irmã mais velha chama a minha
atenção com o corpo gostoso.

Já tem quase um ano que estou comendo, minha secretária. Ela


começou a se oferecer para me fazer companhia quando ficava mais
tempo trabalhando, os decotes ousados, as saias subindo e mostrando a
bunda. Era uma transa gostosa, rápida, mas não passa disso, e já tem
algumas semanas que venho notando que anda achando muitas coisas,
como, por exemplo, que temos algo além de sexo casual.

— Senhoritas! — Fellipo cumprimenta, levantando-se e beijando a


mão de cada uma.

Um perfeito cavaleiro da era vitoriana... um safado, isso, sim,


conheço meu irmão, galanteador, sim, mas só até estar enterrado entre
as pernas de seu alvo, depois não lembra nem do nome das coitadas.

— Vocês chegariam somente amanhã — acuso, ainda sentado na


minha poltrona, sem me dar ao trabalho de fazer uma média como
Fellipo.

— Que porra de história é essa de casamento? — A garota, que


suponho ser a mais velha, Giuliana, se não me engano, pergunta ainda
me encarando.

— Giu, calma, por favor! — a mais nova pede, segurando sua mão,
me olhando de meio rosto, já que está parcialmente escondida atrás da
irmã.

— Sente-se — aponto as poltronas de frente a minha mesa.

— Estou ótima assim, agora, que conversa é essa? — bate o pé


impaciente.

— Primeiro, senta a porra do seu traseiro nessa poltrona, antes que


eu tenha de te dar uma lição de como se fala com o seu capo! Não
esqueça onde você está e na frente de quem, sua malcriada. Você me
deve respeito e obediência, então se senta, caralho.

Falo irritado, nem tanto com a impertinência dela, mas foi


instantâneo, no momento que a vi, meu pau ficou duro como rocha, faz
tempo que não transo com uma mulher que desperta meu lado
selvagem, querendo me libertar sem ressalvas em uma foda explosiva.

Ela faz uma careta de desagrado, e se senta na pontinha, pronta


para sair correndo dali. Vejo meu irmão sentado no sofá que tem na sala,
só olhando a cena e rindo.

— Pode me responder? Por favor... Senhor! — A atrevida ainda


tem coragem de me provocar, fingindo um comportamento totalmente
oposto do que demonstrou há segundos atrás.

— Em primeiro lugar, meus pêsames pelo pai de vocês, em


segundo, eu quero esse casamento tanto quanto você. Acha mesmo que
quero me casar com uma criança? — Respondo olhando-a nos olhos —
Ainda mais uma criança sem modos, não serve para ser a esposa de um
Capo como eu.

— Espera! — Ela me interrompe, fechando os olhos e respirando


fundo, antes de falar; — você está me rejeitando como pretendente
porque acha que sou muito nova?
— E mal-educada também — acrescento.

— Ora seu... — Rosna me desafiando com os olhos.

— Vamos! — Fellipo interrompe o que ela ia falar, antes que faça


uma merda que não possa voltar atrás.

— Vamos para um hotel — ela se levanta, puxando a irmã, sem se


dignar a me olhar.

— Leve-as para casa, hoje chegarei mais cedo — peço para o


Fellipo, fingindo que ela não falou nada.

— Não precisa, ficaremos bem no hotel até nossos bens serem


liberados — ela fala indo e puxando a irmã logo atrás.

— Vocês são minha responsabilidade até os vinte e um anos,


quando poderão usufruir da herança de vocês, ou até se casarem. —
Falo rindo, quando a vejo estacar na frente da porta e se virar lentamente
para mim.

— Então, até o jantar... Capo! — Diz fazendo uma reverência antes


de sair pisando duro da minha sala.

— Ainda acha que são duas crianças? — Fellipo pergunta rindo, e


saindo logo atrás delas.

Não, se antes eu tinha receio com o casamento e dores de cabeça


imaginando a merda que seria a minha vida com a Giuliana, agora eu
quero encarar o desafio, pronto para a domar e a fazer me respeitar.
Garota atrevida, vai aprender a se comportar. Penso virando meu whisky.
— Porque você foi tão agressiva com o senhor Valentino, Giu? —
Alina me pergunta curiosa, pois não costumo ser assim.

Suspiro fundo, e olho para a janela do carro, observando a


paisagem, pensando no que responder, eu fiquei possessa quando
soube que seria a esposa do ex da minha irmã. Isso é errado, não
deveria acontecer, e sempre que penso sobre eu me revolto, não
conseguindo me controlar.

Não sei se devo falar a verdade para Alina e a fazer pensar mal do
homem que cuidará de nós, por isso me perco em pensamentos.

Cheguei a Chicago disposta a conversar, principalmente sobre


nosso futuro, meu e da minha irmã. Mas assim que fiquei sabendo que
ele não seria só meu tutor, e sim, que me obrigariam a me casar com ele,
eu explodi. Não tenho sangue-frio para essas situações, fui pega
totalmente desprevenida.

Nunca fui conhecida por ser doce e passiva, essas são


características da minha irmãzinha, não minha. E saber que, talvez, eu
tenha de colocar meus sonhos de lado por um casamento, me deixou
puta, e olhar para cara de sínico que aquele miserável fez quando
entramos, tirou o pior de mim.
Foi um choque quando o reencontrei, depois de tantos anos, eu
mal lembrava do rosto do esposo da minha falecida irmã. O quanto ele
era lindo, e gostoso, como uma tentação viva, bem ali, na minha frente.

Desde que se casaram, ela veio morar em Chicago, e nem quando


ela deu à luz a seu primeiro filho, fomos autorizadas a vir visitá-la. Dois
meses depois, ela foi assassinada, nosso pai nos manteve quase
trancafiadas dentro de casa. Pior foi descobrir só após sua morte, que ele
havia deixado nossa tutela para o Dom, caso morresse antes de
completarmos vinte e um anos.

Eu não faço ideia de quem é Valentino e o que ele será capaz de


fazer comigo e minha irmã. Não sei se ele foi um bom marido, ou se
minha falecida irmã gostava dele. Sinto que a estou traindo por ser
prometida em casamento ao homem que a desposou e tiveram um filho
juntos. Como uma intrusa tomando o lugar da verdadeira esposa.

— Chegamos! — Ouço a voz do Fellipo anunciar, me tirando dos


meus devaneios.

Passamos a viagem até aqui em silêncio, após a pergunta de Alina,


que eu não soube o que responder. Já que nem eu mesma sabia a
resposta.

Quando desci do carro, senti meu queixo cair um pouco. Eu sabia


que a casa onde minha irmã morou deveria ser uma bela mansão, assim
como era a que morávamos em Nova Orleans, mas isso aqui é um
palácio, não uma simples mansão.

Olho embasbacada para a estrutura imponente a minha frente.

Uma arquitetura moderna de três andares, com os níveis


superiores, todos avarandados, tendo as sacadas ligadas uma à outra,
formando um extenso corredor externo. Toda em vidro, dando uma ótima
panorâmica para os jardins.

Na entrada, vi uma moça que aparentava ser da idade da minha


irmã mais nova, ao seu lado uma senhora rechonchuda com semblante
bondoso, e um menininho lindo, um pacotinho de calça social,
suspensórios e bochechas rosadas, que era a coisa mais fofa que já vi.

— Senhora Davis, essas são as irmãs Romanno, Giuliana e Alina


— Fellipo fala nos apresentando a senhora que nos aguardava na porta
de entrada — Meninas, essa é nossa governanta, Senhora Davis, a
moça é Chloe, nossa protegida e Analista de Tecnologia.

A criança começa a chorar esticando os braços na direção do


Fellipo. As bochechas vermelhas e os cabelos pretos o deixam a coisa
mais linda e fofinha do mundo. Os olhos pidões de quem está
acostumado a ter suas vontades atendidas desde bebê. Tenho vontade
de segurar o pequeno nos braços, totalmente apaixonada pela fofura.

— E essa coisa fofa do tio, é o pequeno Raffaello, dono e senhor


da casa e dos nossos corações. — Ele diz pegando o sobrinho no colo, o
menino se acalma no mesmo instante e eu me derreto com o sorriso
banguela dele, os dentinhos começando a nascer.

— Ahh eu quero para mim — Alina fala já esticando os braços, na


intensão de pegar o pequeno.

— Tome cuidado — Fellipo fala entregando o Rafaello nos braços


da Alina.

Minha irmãzinha o segurando no colo e o menino é simplesmente


ainda mais fofo ao segurar as bochechas dela e beijar seu nariz,
babando o rosto da tia. Eu sorrio sentindo um calor no coração ao ver a
interação dos dois, Francesca teria ficado feliz em ver nossa família se
dando bem com seu filho.

Chego perto, estendo os braços para Rafaello que me olha


desconfiado, parando de sorrir e encolhendo as mãos. Ele encara a
governanta desconfiado como se pedisse permissão para vir aos meus
braços.

— Vem com a titia fofinho — peço fazendo voz de criança.

— Pode ir Raffaello — Fellipo diz — ela veio de longe te conhecer.

Obedecendo ao tio Rafaello estica os braços para mim e o pego


com delicadeza. O corpo gordinho e pesado, o cheiro de bebê invade
meus sentidos, e lágrimas despontas em meus olhos ao me dar conta de
que a Francesca nunca poderá segurar o filho novamente ou sentir seu
cheirinho de bebê, rir vendo-o fazer gracinha.

Raffaello segura meu nariz me puxando para ele, e baba meu


queixo, esfregando os dentinhos na minha pele. Rio controlando a
vontade de chorar o balançando no colo, o bebezinho faz sons adoráveis
dando risada e me encara feliz. Os olhos negros como os do pai.

— Ele é muito simpático — digo a Alina — igual a nossa irmã.

— Verdade — ela estende novamente os braços para ele o


chamando, batendo palminhas. Rafaello se joga nos braços dela sem
pensar duas vezes.

— Prazer senhora! — Cumprimento a governanta, em seguida a


menina, que nos olhava, com os olhos brilhando, e curiosa.

— É um prazer conhecê-las, e ter mais garotas na casa, para me


fazer companhia — a moça fala me puxando para um abraço.
— Vamos entrar, vocês devem estar cansadas — a senhora Davis
nos chama, e ordena que levem nossas malas para os quartos que nos
foram destinados.

****

Virando de um lado para o outro na cama, assim que estou, sem


conseguir pegar no sono.

A senhora Davis nos mostrou a casa, fez de tudo para nos deixar a
vontade, e para nos sentirmos confortáveis, mas eu estou agitada
demais, ansiosa demais, por tudo que está acontecendo, e pelo que vai
acontecer.

Meu futuro noivo não se dignou a aparecer no jantar, não o vi


desde o episódio que sai de seu escritório na sede dos Martinelli.

— Você está tão quieta o dia todo — minha irmã comenta, entrando
no quarto, e subindo na minha cama, como fazia quando éramos
crianças e não conseguíamos dormir.

— São muitas mudanças para processar em um espaço tão curto


de tempo Lina — comento me aconchegando no travesseiro, enquanto
minha irmã se deita ao meu lado.

— Mas nossa única opção é tentar nos adaptar Giu, não é questão
de escolha — ela sussurra, deitada ao meu lado.

— Será que ele vai me permitir cursar a Universidade? — Olho


para ela, louca para dizer que sim, que ficará tudo bem.

Nossa mãe faleceu alguns anos antes da Francesca se casar,


ainda éramos muito novas, e foi aí, que quando ela mal completou
dezoito anos, nosso pai a deu em casamento para o Dom, e desde
então, que somos nós duas, eu e Alina, contra o mundo.

Nosso pai não era amoroso, acho que ele nunca soube como
demonstrar emoções, ele sempre foi fechado e na dele, não nos tratava
mal e permitia que tivéssemos muitas coisas que outras meninas da
máfia não podem. Éramos as suas princesas, cuidava da gente do seu
jeito, sem expressar amor, mas demonstrando que se preocupava.

Prova de seu distanciamento, é que minha irmã mais velha teve um


filho depois que se casou, e só conheci o menino hoje, dois anos após
sua morte. Ele não conseguia entender como é importante fazer visita
aos familiares, para ele cada um ficava no seu canto e pronto.

— Você só terá uma resposta para essa pergunta se falar com ele,
não é mesmo? — Minha irmã responde as minhas dúvidas.

— Amanhã vou falar com o senhor Valentino, antes dele sair para o
trabalho — falo decidida.

— Se o Dom será seu futuro marido, não creio que ficar chamando-
o de senhor, seja muito sexy, fica parecendo que está falando com um
velho. Ou é como aquela coisa de chamar de senhor quem é seu dono?
— Alina brinca com um risinho safado.

Olho para ela indignada, mas também segurando o riso.

— Ele não me deu liberdade para chamá-lo pelo nome Lina — digo
me virando de lado, enfiando os braços por debaixo do travesseiro.

— E como ele daria, se você chegou como um furacão na sala do


homem? Não deu tempo dele nem abrir a boca.
— Pensando bem, acho que poderia ter esperado ele chegar em
casa, mas... em minha defesa, não aguentei quando soube que teria de
me casar, sem ao menos ser consultada — bufo de raiva — como esse
bando de idiotas decidem meu futuro sem ao menos me perguntar o que
quero? — Pergunto indignada.

— Esse bando de idiotas, são os anciãos, e o conselho da


organização que nosso pai pertence desde que nascemos Giu, sabíamos
que seria assim.

— Você é muito permissiva, Lina — reclamo, me virando de barriga


para cima, na cama.

— Só aceito o que já me foi reservado desde que nasci, e tento


fazer do meu destino pelo menos agradável — ela responde suspirando.

Não consigo ser como a Alina, é impossível calar a voz no meu


interior que me diz que é errado ser dessa forma, aceitar que me
dominem e tirem meu direito de escolha.

— Tem horas, que nem parece que você só tem quinze anos,
sabia?

— Às vezes não me sinto com quinze — ela ri.

Demorou, mas após um tempo de conversa jogada fora, nós


pegamos no sono, e quando acordei, minha irmãzinha não estava mais
no meu quarto.

Nem vi em que momento ela saiu, mas agradeci mentalmente, ter


ficado comigo até eu adormecer, mesmo os papéis tendo sido trocados,
já que o normal seria eu confortá-la.

****
— Bom dia! — Cumprimento todos, assim que entro na sala de
jantar, onde a mesa do café está posta.

Minha irmã está toda derretida, brincando com o pequeno Rafaello,


nosso sobrinho, e conversando com a Chloe, enquanto toma seu café.
Vejo duas xícaras ainda na mesa, sinal de que o Dom Valentino e seu
irmão já saíram.

Me sento, e me sirvo de um suco, e disfarçadamente, não


querendo aparentar tanto interesse, pergunto sobre o Dom, preciso me
desculpar de ontem, e tentar convencê-lo de me deixar cursar a
Universidade, que é meu sonho. Se vamos nos casar, não posso iniciar a
união com uma guerra.

— Alina, você por acaso viu o Dom Valentino hoje? — Pergunto a


minha irmã.

— Ele ainda, está no escritório Giu — ela responde sem nem me


olhar, e continua se divertindo de fazer aviãozinho para dar o cereal do
pequeno Rafaello.

Rafaello abre a boca, as bochechas cheias de cereal colorido com


leite o manchando. Acho graça quando ele se irrita com a Alina, e bate
no braço dela exigindo o seu cereal. A colher entra na boquinha que
fecha e mastiga fazendo sons enquanto me encara com os olhos
brilhantes.

Levanto me curvando sobre a mesa e limpo sua boca suja,


Raffaello começa a falar em bebênes, não entendo o que ele diz, mas
respondo reproduzindo os mesmos sons. No final estou tendo um diálogo
mega interessante com meu sobrinho enquanto Alina dá risada da gente.
Raffaello me deixa de lado para comer mais do seu cereal com
leite, sem ele para me distrair, olho para meu suco, indecisa se corro até
o escritório para levantar a bandeira da paz, ou se devo fazer mais um
social na mesa, até que a Chloe fala, me olhando compreensiva:

— Se eu fosse você corria até lá, se precisa falar com o Valentino


— ela diz enchendo um copo de suco de laranja — pois eles estão com a
agenda cheia hoje, e se não falar com ele agora, acredito que só final de
semana que vai conseguir vê-lo novamente.

— Obrigada — respondo com um sorriso fraco, mas me levantando


e seguindo em passos rápidos para o escritório, quando me recordo de
que não sei onde fica.

Droga!

Volto para sala de jantar, perguntar onde fica a sala, e sou


agraciada com um riso zombeteiro da minha irmã e nossa provável nova
amiga.

— Você saiu quase correndo, fiquei esperando você voltar para


dizer onde fica — Chloe fala rindo e me explica o caminho para a morte.

Pois é assim que me sinto, uma ovelha assustada indo para o


corredor da morte. Não sei como ele me tratará depois de ontem, e
conheço meu gênio, se ele falar qualquer coisa que eu não concorde,
não vou conseguir manter a língua dentro da boca. Engulo a ansiedade e
bato na porta que a Chloe me indicou sendo o escritório do Dom.

— Entre — ouço sua voz grossa e imponente falar.


— O bastardo do mexicano, já avisou quando mandará o lote da
mercadoria que encomendamos? — Pergunto ao meu irmão, enquanto
analiso uns papéis antes de saímos para a empresa.

— Disse que nos avisa assim que embarcar os contêineres — ele


responde sem tirar os olhos dos papéis que está analisando.

Quando uma batida fraca na porta nos chama a atenção.

— Entre — falo ainda checando meus e-mails, e apagando uns


sem importância.

Não escuto a porta abrindo, desvio a atenção do notebook,


encontrando minha ex-cunhada, futura noiva, tutelada, sei lá que rótulo
dar a ela, está parada na entrada, em dúvida se entra de vez, ou se sai
correndo dali.

— Deseja algo? Ou veio somente me ver? — Provoco, pois pelo


que vi ontem, ela tem um gênio bem forte e quero ver suas garras
novamente. — Sentiu saudades “noiva” — falo rindo de sua expressão.

Só observo, o momento em que ela engole todos os xingamentos,


que obviamente tinha na ponta da língua, mordendo os lábios e trocando
o peso do corpo de um pé para o outro. E com um sorriso de escárnio
pergunto:

— Quer me dizer algo querida?

— Gostaria de dizer muitas coisas Dom, mas não sei se receberia


bem minhas opiniões — a descarada atrevida responde, sem nem ficar
vermelha.

— Bom... essa é minha deixa para tomar mais um café antes de


sairmos — Fellipo comenta se levantando.

Assim que ele fecha a porta e nos deixa a sós, olho para a garota
na minha frente, curioso, pois agora percebo um leve rubor em suas
bochechas.

— Me desculpe pela explosão de ontem — ela começa falar,


esfregando uma mão na outra, em seu colo — mas, é que fui pega
totalmente de surpresa com a história do casamento.

— História? — Pergunto levantando somente uma sobrancelha,


com a forma que ela se referiu ao fato de ter de casar comigo.

— Notícia — ela se corrige com um suspiro — enfim... eu queria


pedir desculpas por invadir seu escritório ontem.

— Está perdoada — falo acendendo um cigarro, esperando o que


vem por detrás daquele pedido de desculpas, pois não sou idiota, e sei
que quer algo. Posso sentir que está protelando para falar o que quer de
fato.

— Eu gostaria de fazer um pedido — ela sussurra baixando a vista


para os pés, antes de erguer o queixo decidida.
Sabia!

— Continue... — sinalizo para continuar falando.

— Antes de nos mudarmos..., na verdade, antes do papai falecer,


eu planejava começar na Universidade, já até tinha visto algumas em
Nova Orleans mesmo — ela fala sem me olhar — e com todas essas
mudanças em nossas vidas, eu queria saber se ainda poderei frequentar
o curso — deixa escapar um suspiro, como se tivesse com aquilo
entalado, e deixasse sair.

— Eu jamais atrapalharia seus estudos Giuliana — falo recostando


na minha poltrona — somos da máfia, não medievais sem cultura.

— Sério? — arregala os olhos, a boquinha vermelha aberta em um


perfeito “O”, imagino como seria a sensação de meter entre seus lábios.

Ela me olha com espanto, aqueles lindos e enormes olhos azuis,


encarando os meus. E por um instante, minha mente me trai, e a vejo
sentada na minha frente, nessa mesa, abrindo suas pernas, afastando a
calcinha para o lado e tocando as dobras molhadas enquanto degusto do
seu sabor antes de me enfiar entre suas pernas. As bochechas ficariam
ainda mais rubras.

Balanço a cabeça para afastar tais pensamentos, e me endireito na


poltrona, ajeitando meu pau na calça para que Giuliana não se assuste
com o meu membro duro como pedra, só com a visão que idealizei. Dou
um longo trago no cigarro para despistar os reais motivos do meu
desconforto, e falo em seguida:

— Lógico que você poderá frequentar a Universidade, mas com


ressalvas. Que não serão em nada diferidas da sua irmã no colégio.

— Que seriam? — Ela pergunta receosa.


— Vocês terão no mínimo quatro seguranças pessoais, dois
grudados em vocês, e dois cobrindo a retaguarda.

— Para que isso? Não é um pouco demais? — Pergunta ainda me


olhando com aquela tentação de olhar penetrante, como se pudesse ver
minha alma. — Em casa, tínhamos apenas um segurança para nós duas,
e ele dava conta do trabalho — comenta com tom de deboche e rebeldia.

— Na sua casa, o grau de importância se vocês viviam ou morriam


não era considerável — respondo, e vejo como fica vermelha, chispando
faíscas de ódio dos olhos — agora, além de minhas tuteladas, você,
senhorita Giuliana, é minha noiva, e qualquer desafeto meu, que não são
poucos, podem querer usá-las para me atingir — respondo olhando-a
com a mesma intensidade — entendeu?

Ela morde o lábio inferior, pronta para uma resposta, mas vejo que
novamente engole em seco, imagino que as palavras que gostaria de
dizer. Então, após olhar para o lado, e suspirar profundamente, ela volta
sua atenção para mim e fala:

— O senhor disse no mínimo quatro seguranças? O que significa?

— Que em primeiro lugar..., para de me chamar de senhor, já que


dentro de alguns meses, você irá compartilhar minha cama — e lá está, a
vermelhidão tomando todo seu rosto novamente — em segundo lugar,
minha concessão para frequentar uma Universidade presencial, são seis
seguranças, dois com você, até dentro da sala de aula, e quatro do lado
de fora.

— Não acha que seria muito estranho eu andar com seis


seguranças? As pessoas iriam comentar e chamar mais atenção.
— Meus homens são discretos — aliso o botão do paletó,
controlando a vontade de apertar a carne de seus quadris largos.

— Podemos negociar? — Ela pergunta torcendo o narizinho


arrebitado. — Não quero parecer uma estrela, é incomodo chamar
atenção.

— Fala o que quer, e eu respondo se tem negociação ou não —


respondo decidido, mas adorando aquele joguinho.

A safada percebeu minha vontade de a foder e como escondo o


pau debaixo da mesa. Posso ver em seus olhos que sabe bem o motivo,
dando a volta na mesa e vindo em minha direção, para ao meu lado, e
encosta no tampo, quase se sentando, o que perturba um pouco meu
raciocínio, atiçando minha imaginação para os pensamentos de ainda a
pouco. A pele da coxa exposta, grossa, perfeita para levar umas
palmadas.

— Dois seguranças, e eles me esperam no corredor durante as


aulas — diz como uma boa negociante, então percebo que seu gesto de
se aproximar, foi espontâneo, sem segundas intensões, sem a tentativa
de me seduzir para conseguir o que quer.

— Você já beijou alguém? — A pergunta sai antes que eu consiga


raciocinar. E pela vermelhidão que agora não centraliza somente nas
bochechas, mas cobre todo seu rosto, eu tenho minha resposta.

— O-o quê? Onde essa pergunta descabida tem a ver com o


assunto? — Ela quase pula para longe de mim, como se tivesse levado
um choque.

— Não precisa responder pequena — falo me levantando — quatro


seguranças na sua cola, 24 h por dia, e não tem discussão, dois no
corredor da sala de aula, e dois fora do prédio, é pegar ou largar — digo
enquanto coloco o blazer do terno. Não me importando mais em
esconder o quanto a desejo.

— O que acontece se eu não concordar? — Engole em seco, a


vista brigando entre olhar para as minhas calças ou meu rosto. A
vermelhidão se espalhando pelo pescoço e busto, descendo pelo decote
discreto.

— Sem aulas presenciais, e fará o curso online, de dentro de casa


— respondo seco.

— Não é muita opção que está me dando não é mesmo? —


Pergunta fazendo um biquinho até que fofo, que leva tudo de mim para
ignorar, e fingir que essa criaturinha atrevida não me deixou no mínimo
interessado. Já que agora, por exemplo, estou fingindo não reparar,
porque se olhar para ela, sei que vou morder esse beicinho pidão, e não
vou parar por aí.

— Hoje chegarei mais cedo em casa, já tem alguma Universidade


em mente? — Pergunto mudando o rumo da conversa, antes que acabe
fazendo merda.

— Ainda não, mas vou pesquisar, e... posso te esperar a noite? Te


mostro as opções durante o jantar — ela fala toda empolgada, com os
olhos brilhando. Fixa o olhar no meu, respirando pesado.

— Gosto quando você cede — Paro o que estou fazendo e a olho,


quando percebo que retomei meu autocontrole e não corro mais o risco
de agarrar essa maldita menina atrevida.

— Fazer o que né! — Ela responde malcriada, me fazendo estreitar


os olhos em sua direção, e lá vai ela, morder os lábios novamente.
Caralho.

— A noite nos falamos — digo, e saio sem olhar para trás.

Deixando meu futuro tormento parada no meio do meu escritório.


Meu Deus! O que foi isso?

Me sento no sofá, que fica no canto do escritório, logo após ele sair.
Estou com as pernas bambas. Não esperava esse turbilhão de
sensações, muito menos que ele permitiria que eu fosse para a
universidade, com a única exigência dos seguranças me acompanharem.

Vim preparada para uma guerra, estava armada até os dentes, e fui
totalmente despida de ações.

Isso, sem falar a forma que ele me olhava, em alguns momentos,


que me esquentaram o corpo todinho, causando uma fricção deliciosa
entre as pernas.

Não sou estúpida, sei bem o que é sentir tesão por alguém, mesmo
nunca tendo sentido nada, sequer parecido com isso. E sei quando
alguém me deseja, Valentino tinha fogo nos olhos, mordia os lábios
discretamente e quando se levantou, achei que fosse cair para trás ao
perceber o volume na sua calça social. Ele nem mesmo tentou esconder!

Os garotos do meu colégio, eram no máximo bonitinhos, e


beijáveis, apesar de que eu nunca senti vontade de beijar nenhum deles.
Ao menos..., não esse desejo insano que me deu, de me sentar no colo
do meu pretensioso noivo, e descobrir o gosto de seus lábios.

— O que está fazendo sozinha aqui? — Minha irmã pergunta,


entrando no escritório — estava te procurando.

— O que foi? Aconteceu algo?

— Nada, mas com você parece que sim — ela comenta me


olhando com um risinho safado, de quem me conhece muito bem e sabe
que algo se passa na minha mente.

— Ele me permitiu frequentar a faculdade — digo com um sorriso


meio bobo no rosto — lógico, que desde que eu aceite quatro armários
atrás de mim — torço o nariz, quando lembro dessa condição.

— Mas você não está com cara de que conversaram só isso — ela
acusa, ainda me olhando — pode contar tudo — belisca minha barriga de
leve.

— Para de ser curiosa que é feio — digo rindo alto com a cócegas
que ela me faz — e não tenho nada para contar.

— Te conheço Giu, mas se não quer contar... tudo bem — fala,


olhando em volta — poxa, aqui é tão lindo e sofisticado — comenta
admirando o lugar.

O escritório dele é muito sóbrio, moderno, todo em madeira de


ébano, cheio de prateleiras abarrotadas de livros nas paredes, e ao fundo
de onde fica a mesa dele, tem uma parede de vidro de ponta a ponta,
dando uma vista magnífica dos jardins.

— Aqui é tudo tão moderno e elegante — Alina comenta — em


casa era quase “a lá museu da era vitoriana” — me olha com um brilho
diferente, uma aura mais triste.

— Vamos, não é porque fui deixada aqui, que devemos ficar,


duvido que sequer seja permitido — comento puxando minha irmã para
fora dali — lembra que o papai não permitia nem que entrássemos no
escritório dele?

— Sim, e depois que ele faleceu foi a primeira coisa que fiz — ela
fala como um robozinho, sendo puxada pela mão para fora do local —
revirei tudo lá, e tinha umas coisas que guardei em caixas e escondi, não
achei que nosso pai gostaria que alguém visse — ela comenta fazendo
uma careta fofa.

— Que coisas Alina?

— Não sei se são importantes sabe, mas principalmente o que


estava no computador do papai, eu fiz um backup para minha nuvem, e
apaguei tudo que estava lá. — Fala me olhando, como se esperasse
repreensão.

— E por que fez isso? — Pergunto sem entender seus motivos.

— Não sei — dá de ombros — achei que precisava.

— Vamos, quero sua ajuda para procurar uma boa Universidade —


falo mudando de assunto, já que falar da morte do nosso pai não me
agrada muito.

Pelo menos essa conversa com minha irmã me tirou do caminho de


pensamentos perigosos, onde envolviam a mim, e o Valentino, sentados
naquela poltrona... balanço a cabeça rindo com o rumo de meus
pensamentos de novo.
— Estavam sumidas, como o Fellipo diria, estavam aprontando... —
Chloe comenta assim que aparecemos na cozinha, ela está recostada na
bancada tomando um suco, e com roupas de academia, o que me chama
muito atenção, e me leva a perguntar:

— Tem uma academia aqui?

— Tem, sim, fica no subsolo, tudo para que nem eu, nem o Fellipo,
inventemos de sair da mansão — ri de canto, e vejo seus olhos brilharem
ao falar do caçula dos Martinelli.

— Eles também treinam? — Pergunto com minha mente, que só


pode estar possuída hoje, imaginando o Valentino todo malhado e suado,
treinando... como será por debaixo daquela roupa social? Já que mesmo
através da camisa, seus músculos são evidentes.

É impressionante como a quebra de perspectiva funciona. Quando


cheguei aqui eu tinha certeza de que odiaria o Valentino e que seria um
inferno a minha vida como a sua noiva, mas agora, após conseguir o que
eu mais queria com um simples pedido, a possibilidade de um casamento
pacífico é real.

O homem é lindo de diversas formas, o queixo angulado, o maxilar


firme com uma fina camada de barba, os olhos castanhos que penetram
a minha alma. Os cabelos negros arrumados com perfeição, o terno
sobre medida, tudo em Valentino grita sensualidade e eu não consigo
resistir a ele.

Espero que Francesca não me odeie por estar desejando seu ex-
marido. Eu não pedi por esse destino, não tive escolhas, e se, me manter
presa a imagem da minha amada irmã morta, não terei um futuro feliz ou
serei capaz de proteger Alina.
Ter uma boa relação com Valentino, também pode beneficiar a
minha irmãzinha e agora o meu sobrinho, ele também precisa de mim.

— Ouviu o que falei Giuliana? — Chloe pergunta me encarando.

— Quê? Hã... não... pode repetir? — Respondo sem graça, por ser
pega em flagrante. E já ficando muito irritada com esses pensamentos
intrusos. Nunca fiquei distraída por um homem, e Valentino tem causado
esse efeito em mim mais do que deveria. Merda! Eu nunca fui dessa
forma, nem mesmo quando estava com os hormônios a flor da pele na
adolescência.

— Quando você aterrissar no planeta terra novamente, eu repito o


que disse — Chloe responde segurando um sorriso compreensível — sei
que as coisas mudaram de repente na vida de vocês duas, se precisarem
de uma amiga, estou aqui.

Estende a mão para mim e a aperto aliviada. Talvez quando a Alina


não estiver por perto, eu possa conversar com alguém que me ajude a
entender o turbilhão que passa pela minha mente.

— Me mostra onde fica? — Pergunto para tentar distrair o clima.

— Gosta de treinar?

— Não vou dizer que sou fã número um, mas tento me manter em
forma — respondo sem graça, pois odeio malhar.

— Eu adoro — Alina diz empolgada.

— Vem, eu mostro onde fica, só parei para assaltar um suco


geladinho — ela brinca com uma jarra e um copo gigante de suco na
mão.
****

Ficamos um tempão conversando, ao invés de fazer exercícios, a


Chloe ficou de me ajudar com a escolha da Universidade, mas o que
mais prendeu a atenção dela, foi a história da minha irmã, de limpar o
computador do papai.

Nem eu consigo entender o motivo da Alina ter feito isso, quando


ele morreu, fiquei tão submersa na dor que não pensei na possibilidade
de termos de limpar a casa excluindo arquivos ou informações
importantes.

Não consigo acompanhar o ritmo da conversa delas, a cabeça


cheia com as coisas que aconteceram nos últimos dias me perturba a
cada série de exercícios.

Vim decidida a impor minhas vontades, não quero me casar, acabei


de fazer dezoito anos, mas se não aceitar, o que não é uma opção no
meu caso. Dom Valentino pode muito bem arrumar um casamento
horroroso para mim, só para se vingar. E fazer algo contra a Alina, não
posso permitir que minha irmã se machuque por minha causa.

Não existe a opção de não aceitar, e para quem achava que ele era
alguma espécie de monstro, ele até que é um monstro muito gato. Mas
decididamente, não gosto de me sentir obrigada a fazer nada, então...
Dom Valentino vai ter que merecer minha confiança e conquistar meu
amor, para ter uma esposa devotada, como somos ensinadas a ser.

— Vou subir, tomar um banho, e descansar um pouco, nos vemos


no jantar? — Pergunto para minha irmã, já me levantando.

— Claro! Logo vou também, só quero terminar essa série de


exercícios.
Olho para ela tentando entender de onde ela tira força e coragem
para isso, é sério, eu prefiro fazer dieta a ter que me matar com
exercícios físicos.

— Até mais então — me despeço e saio dali, seguindo para meu


quarto.

Valentino disse que viria mais cedo hoje, e quero já ter o nome da
faculdade que pretendo me inscrever, para quando, ou se, perguntar.
— Posso entrar? — Chloe pergunta, enfiando meia-cara na porta
do meu quarto. O pequeno Raffaello baba em cima da cama, estava
fazendo cócegas em sua barriguinha lisinha, amo ouvir o som da sua
risada inocente.

— Claro! — respondo, faz pouco tempo que estava perdida na


pesquisa que estou fazendo com minha irmã, de faculdades e seus
receptivos cursos.

Meu sobrinho chegou com a Senhora Davis, todo arrumadinho,


com a calça social e a camisa polo bem passada. Não levamos nem três
minutos para o sujar e esquecer de que estávamos pesquisando as
faculdades.

— Já decidiu qual curso vai fazer? — pergunta beijando as


bochechas do Rafaello.

— Ainda não — respondo olhando os montes de papéis e opções a


minha frente — sempre quis ser veterinária, como toda criança — sorrio
— mas olhando as opções, estou em dúvida.

— Sobre qual? — Chloe pergunta sentando-se ao meu lado, na


beirada da cama.
— Direito, ou arquitetura — respondo.

— E o que te fez mudar de veterinária para dois cursos tão


diferentes? — Pergunta olhando as opções de universidade que eu
estava analisando.

— Tirando que o amadurecimento nos faz olhar outras


probabilidades? — Brinco. — Direito me atrai, pois gosto desse lance de
entender sobre leis e fazer justiça para os injustiçados, e arquitetura me
atraí, porque adoro criar, construir, inventar e reinventar — respondo
empolgada.

— Faz arquitetura — ela comenta rindo.

— Já falei isso para ela — minha irmã comenta, entrando no quarto


com uma bandeja cheia de biscoitos e chocolate quente. Raffaello grita
ao ver os cookies, pego um, dando a ele um pedaço por vez, para que
não se engasgue, o coração aquece ao ver o sorriso banguela me
agradecendo.

— Iadu — fala de boca cheia, acredito que ele queria dizer


“obrigado” e eu só sei rir da sua fofura.

— Sério Giuliana, você fala com paixão sobre criar e recriar, e na


minha opinião, tem que amar o que faz, para ser bem-feito.

— Você fará algo envolvido com TI né? — Pergunto sorrindo, e


pegando um dos biscoitos que Raffaello me oferece, meu sobrinho é um
menino muito educado, com ótima coordenação motora.

— Não acredito que ele já sabe beber com um copo — Alina fala,
encantada.
Raffaello pega o copo de vidro com as mãos e o leva a boca com
perfeição, tomando seu leite com chocolate sem derramar uma gota na
camisa. Com as perninhas abertas coloca o copo em cima da bandeja,
pegando outro biscoito.

— A Senhora Daves o ensinou desde pequeno, antes ele usava


somente copos de plástico. — Chloe explica — é um mini prodígio o
pequenino. E Sim! Vou fazer Engenharia da Computação — ela sorri
aberto — Adoro inventar, e criar também, mas minha paixão é em
tecnologia.

— E como você veio parar aqui? — Alina pergunta curiosa. —


Fellipo disse que você é protegida deles.

— Na verdade, meu pai era segurança pessoal do antigo capo, e


como minha mãe nos chutou dois meses após meu nascimento, ele me
criou sozinho, e quando era pequena, ele me trazia junto, e me criou
entre cabos, fios, e muitas câmeras da sala de segurança — sorri com as
lembranças — mas no dia que a senhora Francesca morreu, ele foi
assassinado também — diz tristonha — ele foi encontrado na sala de
segurança, degolado, e desde então, os irmãos Martinelli me acolheram.
Hoje me tratam como da família.

— Que bom que cuidaram de você — comento me sentindo


solidária, já que em qualquer outro caso, ela teria sido mandada para um
orfanato. Saber isso de Valentino amolece meu coração quanto a ele.

Assim como acolheu a mim e a Alina, ele deu um lar a Chloe,


alguém que não pertence a uma grande família e não traria nenhum
benefício para ele. E mesmo assim, aqui está ela, cheia de vida como
Alina, duas adolescentes que eu vou cuidar com a minha vida.
— E como você descobriu que tinha o dom para ser hacker? —
Alina pergunta, devorando os biscoitos junto do Rafaello, que escuta a
conversa com curiosidade.

— Não sei responder, aconteceu, e quando vi, já estava


trabalhando com isso — ela responde.

— Quantos anos você tem? — Pergunto.

— Dezesseis..., na verdade, vou fazer semana que vem, mas já me


considero com essa idade.

— E você estuda onde? — Alina pergunta, pois elas têm


praticamente a mesma idade, então poderiam frequentar as aulas juntas.

— No mesmo colégio que você vai começar — ela responde


animada — por sinal, fui designada a te apresentar tudo, mas já aviso,
não conheço ninguém e nem faço questão — torce o nariz.

Com isso todas rimos, pois eu e minha irmã, também somos um


tanto introspectivas, e nem é porque queremos, mas por vivermos
cercadas por seguranças, os outros alunos nunca se aproximaram, e
ainda nos chamavam de metidas.

— Aaaaaaah — Raffaello grita participando animado da conversa.


Rio do seu jeitinho e beijo suas bochechas ganhando mais gritinhos dele.
Suas mãos gordinhas seguram meu rosto afastando dele —
xaaaaaaaaaaaaaaai — fala fazendo careta.

— Atrapalho? — Valentino pergunta, entrando sem bater. O encaro


soltando o Raffaello, que ao ver o pai, estende os braços para o homem.

— Já ouviu falar em bater antes de entrar em algum lugar?


Principalmente no quarto de alguém? — Pergunto com uma sobrancelha
levantada, irritada com sua invasão.

— A porta estava aberta — ele responde como se fosse óbvio —


vim avisar que amanhã você tem entrevista com a diretoria da
Universidade de um velho amigo da família.

Pega o Raffaello no colo, beija a bochecha do filho antes de o jogar


para cima. Estou a ponto de gritar com medo do menino cair no chão,
quando Valentino o pega entre as mãos, a gargalhada de Raffaello
reverbera pelo quarto.

— Aaaaais papai — pede batendo as mãos nas bochechas do pai.

— Você adora uma farra — fala com o filho me ignorando. Ele o


joga mais duas vezes antes de o pegar no colo, parando a brincadeira.

— Como assim tenho entrevista? Eu ainda não escolhi a


Universidade, nem o curso — falo ficando ainda mais irritada a cada
instante.

E como se fosse dono do mundo e das vontades alheias, ele sai


levando o Raffaello, sem ao menos se dignar a me responder.

— Espera! — Chamo me levantando num pulo, e noto os olhares


assustados da minha irmã e da Chloe em minha direção. — Onde você
vai? Você não pode entrar aqui como se fosse meu dono, me comunicar
que escolheu o local onde vou estudar, e sair como se fosse uma coisa
normal, só falta escolher o curso que farei também — levanto os braços
em sinal de indignação.

Ele para perto da porta, já pronto para sair, mas olha para mim de
canto, virando a cabeça de lado, sem me olhar direito, Raffaello imita a
expressão do pai, e se eu não estivesse puta de raiva com o Valentino,
teria achado graça do pequeno, e responde:
— Quer cursar a porra da Universidade não, quer?

— Claro que quero, mas...

— Não tem “mas” garota, ou é essa, ou nenhuma, você escolhe —


ele diz, e sai, me deixando plantada ali, sem me dar tempo de responder.

Olho para porta por onde ele saiu, incrédula, com a situação.

— Veja o lado bom, Giuliana — Chloe comenta vindo na minha


direção — ele te permitiu frequentar o curso de forma presencial, o que,
como noiva dele, fica bem difícil — ela me olha como se o que falou
fosse a coisa mais comum.

Eu sei que esse mundo do qual vivo desde que nasci tem muitas
coisas que apesar de simples, para nós, é quase impossível, sei dos
perigos que nos cercam, e principalmente no caso dele, que é o Dom.
Mas o que me irritou profundamente, foi o fato dele decidir coisas por
mim sem me consultar, como se eu não tivesse opinião própria.

— Sei dos perigos que nos cerca Chloe, mas esse jeito arrogante
dele, e o fato de achar que manda em mim ao ponto de tomar esse tipo
de decisão a meu respeito, me irritou muito — respondo com um suspiro.
— E ele ainda levou o Raffaello!

****

Após Valentino me “informar” onde eu ia estudar, eu fui pesquisar o


local, conhecer e saber mais sobre o lugar. Sei que não vou ficar no
campus, mas pesquisei tudo que pude, também me decidi pelo curso que
faria, essa decisão ele não tiraria de mim.

Já era tarde quando desliguei o notebook, e desci na cozinha a fim


de tomar um leite, e chegando lá, me deparei com uma Chloe distraída,
pensativa...

— Tudo bem? — Pergunto pegando o leite na geladeira.

— Tudo... só estou preocupada — ela responde olhando a caneca


fumegante de chá em sua mão.

— Posso saber com o quê?

Ela me olha por alguns segundos, ainda com os pensamentos


distantes.

— Decidiu para qual curso vai se inscrever? — Pergunta mudando


totalmente de assunto. Percebo que ela não está muito a fim de
responder, então não insisto.

— Direito — respondo enquanto coloco meu leite para esquentar


no micro-ondas.

— Achei que faria arquitetura, você descreveu esse curso com


tanta paixão — ela questiona me olhando sem entender minha decisão.

— Optei por direito, pela pesquisa que fiz da Universidade que meu
noivo escolheu — torço o nariz para a palavra noivo... — esse é um dos
melhores cursos que eles oferecem.

— Ele é bem autoritário, mas com o tempo você se acostuma, ele é


assim com todos — ela comenta bebericando seu chá.

— Eu sei, e prometo tentar me acostumar — suspiro — só não


garanto que isso se dará com tanta facilidade — olho para ela vendo um
pequeno sorriso em seus lábios.

— Eu desconfiaria se você chegasse permissiva demais,


concordando com tudo — ela responde rindo aberto.
— Olá meninas — Fellipo nos cumprimenta entrando na cozinha e
indo direto na geladeira, pegando uma jarra de suco.

Olho meu futuro cunhado de cima a baixo, e noto que ele está com
roupas de quem acabou de chegar, e pelo perfume que exala, estava na
farra. Também vejo a careta que a Chloe faz quando ele passa por nós
indo até o armário pegar um copo.

— Posso sentir seu olhar de reprovação Chloe — ela fala ainda de


costas para nós.

— Estou de costas para você idiota, como poderia estar te olhando


— ela responde revirando os olhos, mas virando rápido de costas para
ele, já que mentiu, pois estava realmente fuzilando-o ainda a pouco.

— Mentirosa! — Ele acusa se aproximando, tomando seu suco.

— Boa noite Giuliana, boa sorte amanhã — ela diz levantando-se e


saindo da cozinha, ignorando o Fellipo totalmente, fingindo que ele não
está ali.

— Perdi alguma coisa? — Pergunto levantando uma sobrancelha


para ele, que fica encarando por onde minha nova amiga saiu.

— Decidiu que curso pretende fazer? — Ele pergunta fugindo da


resposta a minha pergunta.

— Você não respondeu! — Insisto.

Ele suspira, toma um bom gole do seu suco, e me responde:

— Longa história, cunhadinha — sorri descontraído, colocando o


copo dentro da pia.
É estranho ser chamada de cunhadinha, ainda não me acostumei
com a novidade de que meu ex-cunhado, marido da minha falecida irmã,
agora é meu noivo.
— Está quieto demais hoje, aconteceu algo? — Lavínia pergunta,
não a olho, ela coloca a pasta que havia trazido para revisão, em cima da
mesa.

Já faz uma hora mais ou menos que meu irmão foi embora, e como
eu queria fechar algumas pontas do trabalho antes de sair, fiquei no
escritório um pouco mais, e minha secretária sabendo que quando fico
até um pouco mais tarde que o normal, sempre acabamos a noite em um
hotel ou na sala adjacente a minha, ela também ficou além do seu
horário.

Não respondo sua pergunta, não é da conta dela se estou quieto


ou não, muito menos o porquê.

— Marcou o evento que mandei? Enviou todos os convites? —


Pergunto, finalizando umas notas no notebook, quando ela se ajoelha ao
meu lado, me virando para si.

Estava distraído, na verdade, não presto atenção no que não


considero interessante o suficiente, então não vi quando ela entrou na
minha sala usando somente lingerie, e meias, presas em uma liga.
— Não acha que já trabalhou demais por hoje? — A safada
pergunta, abrindo a braguilha da minha calça, tirando meu pau e
masturbando-o, enquanto me olha com gula.

Apenas observo seus movimentos, sei onde isso vai terminar, e é


exatamente desse tipo de alívio que preciso agora.

Ela passa os lábios na glande, rolando a língua em volta da coroa,


e começa engolir todo meu comprimento, me fazendo fechar os olhos e
jogar a cabeça para trás. Um dos talentos da minha secretária, e motivos
para ser contratada, mesmo não pertencendo à máfia, foi sua experiência
num boquete perfeito.

No dia que ela fez a entrevista para a vaga de emprego, pude


comprovar sua garganta profunda, gozando mais de uma vez na sua
boca. Lógico que nem perdi meu tempo entrevistando as outras mulheres
que aguardavam, a contratei de imediato. Só é uma pena que essa será
a última vez que faremos isso, não sou apaixonado pela minha noiva,
mas não sou infiel, é mais uma questão de princípios.

Mas nada me impede de aproveitar só mais hoje.

Seguro sua cabeça, forçando para dentro de sua boca, fazendo-a


babar em volta do meu comprimento, e antes de gozar, faço-a parar, se
levantar e montar meu colo.

Visto uma camisinha que peguei da gaveta da minha escrivaninha,


enquanto ela tira a calcinha, ávida, sentando-se com força, me engolindo
com sua boceta.

Fodo seu corpo com força, ela morde o dedo que coloco em seus
lábios, e morde meu ombro
— Só um beijo — ela pede beijando meu pescoço, com a bunda
arqueada, enquanto meto com força, aliviando minha tensão em seu
corpo.

Finjo que não ouvi seu pedido, eu não beijo minhas fodas, não é
nada sentimental, é só que não confio em suas bocas nojentas para
encostarem na minha, afinal, da mesma forma que ela estava com a
mesma boca no meu pau há instantes, o que me faz acreditar que não
esteve em outro, antes de vir para cá.

Ela percebe que não vou responder e nem a beijar, então tenta me
roubar o tal beijo, fazendo com que, com uma mão, eu segure seu
queixo, e a mantenha longe do meu rosto, enquanto soco com força,
perto de gozar.

Sempre fui e sou recíproco no sexo, não existe nada mais


prazeroso que fazer minha parceira gozar primeiro, várias e várias vezes,
quanto ao beijo, adoro sentir a macies dos lábios da minha mulher, e
principalmente, a macies e o gosto de uma boceta na minha boca, mas
isso, com a pessoa que chamo de minha, somente minha, não com uma
foda que uso somente para me aliviar e extravasar.

A Lavínia sempre soube que não passava disso para mim, sexo,
nada além.

Todas às vezes que ficamos juntos, foi somente o ato, eu gozava e


saia, ou a mandava se trocar e sair da sala em seguida, era sempre a
rapidinha, acho que ela nunca sequer chegou a gozar comigo, já que no
momento que eu chegava ao meu ápice, eu simplesmente me vestia e ia
embora.

Vazio? Sim! Egoísta? Até a última gota. Mas não me importo com
nada disso, quero somente gozar e aliviar o estresse do dia na boceta
quente que me receber, independente de quem seja.

Desde que Francesca morreu, nunca senti interesse ou vontade de


agradar nada nem ninguém, Lavínia trepava comigo consciente que seus
desejos e suas necessidades pouco me importavam.

Quando terminei, como sempre, a retirei do meu colo, fui para o


banheiro, retirei a camisinha jogando na lixeira.

— Isso não vai mais acontecer — falo me limpando, e arrumando


minha calça, fechando o zíper.

— O quê? Como assim? Do que você está falando? — Ela


disparou várias perguntas seguidas.

— Isso! — Aponto seu corpo, me referindo ao que acabamos de


fazer — não vou mais trepar com você, e a partir de hoje, você será
transferida para um dos membros da diretoria.

— Por que Val? O que eu fiz?

— Em primeiro lugar... não te dei liberdade para me chamar assim


— digo seco, não gostando dessa mania das mulheres acharem que só
porque a fodemos temos intimidade — e depois, porque estou noivo, vou
me casar em breve e você não terá mais serventia.

— Serventia? — ela repete o que falei, baixo, em tom indignado. —


Seu filho da puta, o que você pensa que sou para me usar e jogar fora
como lixo?

Agarro seu pescoço a prendendo contra a parede. Não vou admitir


que me faltem com respeito. Seja homem ou mulher, todos que falarem
comigo devem lembrar do lugar a qual pertencem e quem eu sou!
— Nada! Não estou jogando nada fora, porque você nunca
significou nada para mim, e quanto a usá-la, você trepava comigo ciente
de que nunca teria nada, além disso, nem orgasmos eu nunca te dei —
respondo com indiferença.

Ela se descontrola de punhos fechados tentando me acertar.


Aperto seu pescoço contendo sua ira, não vou aceitar que me bata.

— Seu bastardo maldito, eu trepei com você como você diz, porque
pensei que um dia você veria que éramos muito mais que isso — ela
grita descontrolada e chorando.

Não tenho paciência, e sendo mulher ou não, se ela me acertar, ela


vai levar o troco.

— Eu disse que você seria transferida para outro setor, mas vejo
que nem isso será possível, passe no RH amanhã, para acertar seus
dias trabalhados — digo empurrando-a sentada no sofá, mas ela se
desequilibra e cai no chão, ainda nua, e lastimavelmente, ela agarra
minhas pernas quando vou sair da sala, implorando para não a deixar.

— Você não pode fazer isso, não pode me deixar, eu amo você —
ela diz ainda jogada no chão, sendo arrastada enquanto tento puxar a
perna — nunca, entendeu? Nunca ninguém irá te amar como eu — ela
fala tentando me segurar.

Não tenho alternativa a não ser empurrá-la, fazendo com que se


esborrache ainda mais no chão.

Deprimente.

— Tenha o mínimo de dignidade, mulher, e saia daqui, se


recomponha, e vá embora — falo com asco, odeio esse tipo de cena
deplorável.
— VOCÊ NUNCA SERÁ FELIZ COM OUTRA, OUVIU
VALENTINO? NUNCA! — Ela grita ainda jogada no chão, agora em
posição fetal, chorando escandalosamente.

Saio da minha sala, puto, esse tipo de coisa só serviu para me


irritar, e a trepada até que boa que acabamos de ter, foi como se não
tivesse existido.

— Retire a senhorita Lavínia da minha sala, a força se precisar —


dou a ordem para o segurança do prédio assim que passo pela porta da
entrada do edifício.

— Sim senhor! Para onde a levo?

— Para o quinto dos infernos, e se ela ainda não estiver


recomposta, tire ela de lá do jeito que estiver, dane-se se ela não tem
amor-próprio, isso já passou dos limites — falo estressado, pois pela
câmera que tem na sala, e que acompanho pelo meu celular, vejo que do
jeito que ela ficou quando sai, deitada nua no chão e chorando, ela
continua.

— Sim senhor! — O segurança responde, indo em direção ao


elevador para tirar aquela coisa da minha sala.

Ligo para meu irmão quando entro no carro, e mando, que ele
transfira uma boa quantia de indenização para conta da Lavínia, explico o
que aconteceu, e lógico que aquele filho da mãe caçoa de mim.

— Eu te disse que ela ia dar trabalho quando esse dia chegasse —


ele responde rindo alto — ela achava que seria a próxima primeira-dama.

Bufo impaciente.

— Eu nunca me casaria com uma prostituta.


— Ela não era prostituta, Val, você não pode afirmar isso.

— Uma mulher, que na entrevista se presta a chupar o pau do seu


contratante para conseguir o emprego, seria chamada de que Fellipo? —
Pergunto com ironia.

— Ok, você ganhou — ele responde — transfiro quanto?

— O que achar suficiente para ela não passar necessidade até


arrumar outro pau para chupar achando que irá se casar — respondo
rindo.

— Você não vale nada, seu cuzão — meu irmãozinho fala ainda
rindo, e desliga o telefone.

Não acredito que a Lavínia vá me dar trabalho depois de uma boa


quantia na conta, afinal, era óbvio que era isso que ela queria.

E dinheiro cala a boca de qualquer um.


— Merda! — Xingo pela milésima vez olhando as pastas que estão
na minha mão.

Pretendo enviar uma grande quantidade de heroína para nosso


cliente, mas, como tivemos problemas na última entrega, tive que mudar
a rota desta vez. No entanto, o mais difícil e seguro caminho é pelo
território dos Hell Hounds, moto clube presidido pelo meu irmão. O
problema de usar o território deles, é que não falo com o Matthew desde
quando a minha Francesca foi assassinada.

Há dois anos, encontrei minha esposa morta na minha sala, com


ele ainda na cena do crime, todo sujo de sangue, o sangue dela. Minha
ira e decepção chegaram ao extremo, e após sua negação sobre o crime,
mesmo eu o tendo apanhado na cena, para não matar meu próprio
irmão, como manda as leis da nossa organização, eu o bani da nossa
máfia, deserdando-o, proibindo-o de pisar em nosso território.

E com isso ele se instalou do outro lado da cidade de Chicago,


onde nossos limites terminavam, e lá, criou um clube de motoqueiros, um
bando de arruaceiros na minha opinião.

Ainda me lembro daquele dia como se tivesse sido ontem.


Não é todos os dias que vemos a mulher que amamos morta, com
seu irmão ainda segurando a faca na mão e todo lambuzado do sangue
dela. E para piorar, tendo o descaramento de negar o óbvio que todos
presenciaram.

Passei dias interrogando meu irmão, Matthew, assim como eu e


Fellipo, recebeu treinamento para tortura. Mas eu sabia como fazê-lo
falar, quebrei a sua alma, enquanto partia a minha, ao causar dor ao meu
próprio sangue com a suspeita dele ter matado a única mulher que fui
capaz de amar.

Após dias, e quase o levando a morte, cheguei à conclusão de que


o Matthew não poderia ser o culpado, mas as coisas que ele falou, como
ele foi parar naquela sala com a faca e o sangue nas mãos, sem rastro
de outros invasores, ainda perturbam a minha mente.

Ao mesmo tempo, em que percebi que Matthew poderia não ter me


traído, a dúvida ficou plantada no meu cérebro.

Seria meu irmão um traidor ou alguém que foi incriminado? Pagar


para descobrir, me custou tudo e eu não poderia me perdoar se o
matasse, ele sendo inocente. Por isso o bani, arranquei de nossa família
enquanto investigava para encontrar o verdadeiro assassino, e aquele
que incriminou o meu irmão, retirando a chance dele de viver com a
família.

— Mandou me chamar? — Fellipo pergunta entrando na minha


sala.

— Sim, preciso que faça uma coisa...

— Manda!
— Preciso que fale com seu irmão se podemos passar com uma
carga pelo território dele, aquela encomenda grande que o Xavier fez,
não tenho uma rota mais segura para passar, o único caminho direto e
rápido, entra por dentro do leste de Chicago, onde sei que são os cães
do Matteo que cuidam — falo sem olhar para o Fellipo, e quando levanto
a cabeça dos papéis que ainda analiso, vejo que me olha com as
sobrancelhas levantadas — o que foi?

— O que te faz pensar que eu ainda converso com o Matteo?

— Eu não penso que você ainda conversa com ele... eu sei... —


digo me recostando na cadeira, encarando meu irmão caçula, e seu
desconforto com minhas palavras.

Desde que tudo aconteceu, eu sei que o Fellipo nunca deixou de ir


até a sede do clube, que frequenta aquele canil achando que ninguém
sabe. Sei até que algumas vezes ele levou a Chloe com ele, aquela
ratinha de computador era sua cúmplice, sua parceira no crime.

Ele suspira profundamente apertando a ponte do nariz.

— O que espera que eu diga para nosso irmão? — Ele pergunta.

— Seu... irmão — corrijo — meu irmão morreu no dia que decidiu


me trair da pior maneira.

— Valen...

— Não! — Corto o que ele ia argumentar — só ofereça um


trabalho, de certa forma, só preciso passar com a mercadoria, mais nada,
diga-lhe que daremos uma porcentagem se ele concordar. Em momento
algum pense que isso é uma trégua, porque não é.
— Você conhece o Matt, ele vai querer que você vá falar com ele,
ele consegue ser tão teimoso quanto você — Fellipo comenta fazendo
uma careta de desgosto.

— Então mande-o para puta que pariu, pois só não o matei aquele
dia, porque prometi a nossa mãe no seu leito de morte que cuidaria de
vocês, mas também deixei claro que se ele aparecesse na minha frente
novamente, eu o mataria sem pestanejar.

Não saber quem é o verdadeiro assassino me torna mais cauteloso


com as palavras. Nem mesmo para o Fellipo posso ser sincero, todos
precisam acreditar que eu tenho certeza de que foi o Matthew e que o
poupei devido à nossa mãe. Mesmo que eu não tenha me convencido
com 100% de certeza da sua inocência, não vou matar outra vítima sem
ter absoluta confiança da minha decisão.

— Ok! Vou falar com ele, mas não garanto nada — ele responde
saindo da sala.

Fico sentado, olhando vários papéis a minha frente, sem enxergá-


los de fato. Aquele maldito dia voltando minunciosamente a minha mente.
Lembranças dolorosas, não só pela perda da minha esposa, mas pela
perda do meu irmão também.

****

Atendo a ligação da minha esposa com um sorriso, ela é a única


mulher que consegue balançar minhas emoções e despertar meu desejo
sexual como um louco.

— Acabei de chegar na sede, comprei seu almoço naquele


restaurante que adora — Francesca fala toda alegre.
— Por que na sede? Podemos comer no restaurante mesmo, amor.
— Respondo entrando no carro, saindo do banco onde passei horas em
reunião com o gerente.

— Na sua sala, só eu e você — ela responde rindo de forma


insinuativa.

O que me faz mandar o motorista dirigir rápido, minha deliciosa


esposa estava me aguardando na sala, com meu almoço, e nem falo
sobre a comida — sorrio maliciosamente ao imaginar seu corpo gostoso,
que eu ia comer e me lambuzar de cada pedacinho dele.

— Boa tarde, senhor Valentino! — A recepcionista me cumprimenta


assim que entro no prédio, seguindo para o elevador.

Como sempre só aceno com a cabeça, sem me dar ao trabalho de


responder.

Estou ansioso para estar logo com Francesca, olho impaciente para
os botões do elevador, que parece se arrastar e não subir conforme tem
de ser.

A viagem de carro do banco até aqui demorou mais do que eu


queria, o trânsito estava infernal hoje, e juntando a minha ansiedade, fez
tudo parecer muito mais demorado que o normal.

Após conhecer Francesca, eu parei de me importar que quando me


casei, fui praticamente arrastado até a igreja, eu não a conhecia, ela me
foi prometida desde que nasceu, então nunca vi motivos para
proximidade antes do casamento, já que esse era inevitável.

Mas quando a vi entrando de braço dado com o pai na igreja, foi


paixão à primeira vista, ela era linda, um anjo, toda de branco, e minha...
só minha. O instinto de dominação gritou como uma besta dentro de
mim, ansioso para tê-la em meus braços e desfrutar de seu corpo. Eu só
não imaginava que a companhia dela seria o meu maior presente.

E até hoje, cinco anos depois, ainda sinto o mesmo impacto a cada
vez que a vejo.

Assim que o elevador para, vou direto para minha sala,


estranhando não ter ninguém ali, onde minha secretária está? Abro a
porta ansioso para ver a surpresa de Francesca.

— Espero que tenha comida na sua bocetinha, vou te devorar —


digo, já que sei que ela me espera ali, a porta se abre por completo me
dando uma cena de horror. Esqueço como se respira, ao ter os pulmões
golpeados pela dor.

Matthew, meu irmão, é o primeiro que vejo, ele tem um punhal na


mão, o sangue em seus dedos pingam no chão, seus braços aparando o
meu mundo.

Vou ao chão com um baque, desnorteado, caminho até eles, pego


o corpo mole e frio da Francesca em meus braços. Aliso seu rosto,
tentando fazê-la acordar, não é possível, não tem como ser verdade. O
sangue jorra pela ferida aberta em seu estômago.

— Amor? — falo com a voz embargada, pela primeira em anos eu


choro abraçado ao corpo da mulher que eu amo.

— Irmão — ouço uma voz me chamando.

Abro os olhos, anestesiado, o culpado na minha frente, o punhal


em sua mão, somente eles no meu escritório e minha doce Francesca
morta em meus braços. A deito no chão com cuidado, aceitando que meu
amor morreu e não poderei fazer nada para tê-la de volta.
Eu não consigo raciocinar, não consigo pensar, ele tenta falar
comigo, mas não consigo ouvir nada, além de um zunido irritante dentro
da cabeça.

Não penso, quando vejo estou em cima dele, socando sua cara, um
golpe atrás do outro.

— DESGRAÇADO — Grito na sua cara.

— Não fui eu — responde entre um soco e outro — por favor,


irmão...

Meu soco fica preso no ar ao ser segurado por um segurança. Me


viro socando sua cara também por ter me interrompido. Mais dois
homens tentam me segurar e nos próximos segundos eu luto com todos
eles, descarregando a dor que arde no meu corpo, tirando meu chão e
me impossibilitando de pensar.

Quando todos vão ao chão, eu cambaleio até a minha amada e


seguro seu corpo.

Mais seguranças chegam, aponto para o Matthew com a cabeça.

— O levem para a sala de interrogatório no subsolo. — Ordeno.

Obedecem a minha ordem sem questionar, ao contrário dos outros


idiotas que tentaram conter minha fúria contra o Matthew. Aperto
Francesca contra meu corpo sentindo seu cheiro pela última vez, e
tocando a pele gelada que nunca mais vai me acariciar com calor e amor.

Morta... ela está morta...

****
Ouço meu celular tocar, me tirando daquelas lembranças
dolorosas.

— Fala — digo atendendo quando vejo ser uma chamada do


segurança que designei para cuidar da minha noiva.

— Senhor, estamos em um shopping, pois a senhorita Giuliana, a


irmã, e a senhorita Chloe queriam vir — diz com uma breve pausa —
mas acredito que deva vir até aqui, as meninas estão na sala de
segurança do shopping, o problema, é que o gerente daqui não está
querendo colaborar, e está ameaçando chamar a polícia — ele diz me
passando o endereço do shopping por mensagem.

— O que elas estão fazendo na sala da segurança? — Pergunto


sem entender nada.

— Senhor...

— Estou a caminho — respondo cortando o que ele ia falar e


encerro a ligação.

Coloco o blazer do meu terno, pego a chave do meu carro, gosto


de dirigir, só uso o motorista quando acho necessário, mas do contrário,
eu mesmo dirijo meu carro, e curioso para saber o que aquelas três
meliantes aprontaram dessa vez, sigo rumo ao endereço que o
segurança me passou.
— Olha esse — Alina me chama, mostrando um cropped preto com
vários cristais bordados, lindo.

— Não curto muito esse estilo de roupas — Chloe comenta


torcendo o nariz para a escolha da minha irmã — sou mais meu jeans e
camiseta.

— Nerd! — Alina mostra a língua para ela em tom de brincadeira.

— Isso porque você não viu minha fantasia para a Comic-Com


desse ano.

— E como você pretende ir para San Diego com esses armários te


vigiando 24 h por dia? — Pergunto curiosa.

— O Fellipo prometeu me levar — ela responde dando de ombros.

— E ele vai fantasiado de Dom Corleone? — Pergunto rindo alto —


os ternos ele já tem.

Com esse comentário, nós três caímos na risada entre os cabides


de roupas que estamos olhando. Uma gargalhada infantil chama a minha
atenção e viro encontrando o pequeno Raffaello com a mão na boca,
dando risada das roupas que Alina mostra a ele.
— É incrível como ele gosta de sair — Chloe fala — desde que a
Francesca morreu, o Raffaello tem ficado muito em casa.

— Pois ele vai comigo para onde eu for — digo me agachando na


frente do meu sobrinho e colocando uma blusa de mangas nele com
estampas de ursinhos — ficou perfeito em você — beijo sua bochecha
gordinha.

— Xiiiiiiiiiiiim — ele responde agarrando meu pescoço e babando


minha bochecha — golto[1] — fala animado me mostrando as covinhas
nas bochechas.

— Você é muito gostoso — falo com voz de criança fazendo


cócegas nele. Me deliciando com sua gargalhada.

— E você vai se fantasiar de que afinal? — Alina pergunta pegando


um vestido de tafetás bem espalhafatoso, estilo fada.

— Vou de mulher maravilha — Chloe fala toda orgulhosa.

— Com aquele maiô? O Fellipo sabe que você vai quase pelada?
— Pergunto, imaginando meu futuro cunhado tendo um ataque, quando
vê-la fantasiada. Eu percebo o clima entre os dois como, água cristalina.

— E por que ele tem que saber?

— Por que ele nunca deixaria você sair nem do quarto vestida
assim? — Alina ri, assim como eu, imaginando a cena que não vou
perder por nada. Rafaello zomba da Chloe dando risada enquanto eu
visto uma calça de moletom branca nele.

Já percebi os suspiros e olhares que a Chloe dá quando vê o


Fellipo, mas também percebi que ele a trata como uma irmã caçula,
assim como o Valentino a trata também, apesar... que a última cena que
presenciei, de uma discussão do Fellipo com minha amiga, aquilo não
tinha nada de ciúme fraterno.

Espero que ela não acabe se machucando, homens da máfia como


o Fellipo, só se casam com as suas prometidas.

— Vou levar esse — falo mostrando um vestido azul-claro, bem


bonito.

— Você poderia se vestir de ouro que continuaria a putinha sem


graça, cheirando a leite, que se enfiou na casa do meu homem. — Uma
voz esganiçada, gralha atrás de mim.

Me levanto, deixando Raffaello com Alina e giro nos calcanhares


encontrando a pessoa que me ofende. A mulher tem sangue nos olhos e
os punhos fechados, me encarando com ódio. Acho que a conheço de
algum lugar, busco na memória e recordo de que se trata da secretária
do meu noivo.

Meu homem? Quem porra essa vadia pensa que é para me


ofender, e ainda querer marcar território em cima do Valentino.

Ela agora vai saber como eu fico quando estou realmente irritada, o
show que dei no escritório do Valentino vai parecer brincadeira de
criança.

— Estão ouvindo meninas? — levo o dedo ao ouvido fingindo


escutar algo — tem uma vaca rejeitada mugindo.

Recalcada dos infernos, é nítido que está indignada porque devo


ter acabado com sua festinha, desde que fiquei noiva do Dom.

— Você ouviu muito bem sua ridícula, por sua causa, Valentino teve
que me afastar do meu cargo, já que não cairia bem para a posição dele
se soubessem do nosso amor.

— Amor? — Repito a palavra com deboche — não sabia que trepar


havia mudado de nome, porque pelo que conheço do meu noivo — dou
ênfase a palavra me divertindo com o bufar dela — ele, no mínimo, só te
comia para passar o tempo. — Falo irritada, quero socar a cara da vadia
por interromper meu momento com as meninas e meu sobrinho. E o
maldito do Valentino por não saber controlar as cadelas que ele come.

Esse desgraçado vai aprender que quando estiver casado comigo,


não vai ficar pulando a cerca ou eu o mato e a vadia. Vou usar essa puta
como exemplo.

— Seu noivo? Se enxerga garota, ele só vai se casar com você


porque está sendo obrigado — ela ri alto, parecendo bruxa — afinal,
quem seria louco de se casar com você por livre e espontânea vontade?

— Você já viu alguém mandando no Valentino? — Cruzo os braços


me aproximando dela — já presenciou alguma vez em que ele fez algo
que não queria? — Fico a dois centímetros de distância dela — viver na
ilusão de que ele te dispensou por que cansou da sua boceta te
conforta?

— Ao menos ele me comia — fala com orgulho. — Ao contrário de


você que fica se rastejando atrás dele.

— Até mesmo porque fui eu que fui atrás dele — toco seu ombro —
eu que o tirei da vida dele e o obriguei a um casamento. — Rio com
escárnio a empurrando — O homem que te rejeitou, eu o rejeito, ao
contrário de você, não preciso mendigar para o ter atrás de mim.

— Ele vai te colocar chifre igual como fez com a vadia da sua irmã
— sorri orgulhosa.
Foi a gota d’água.

Estapeio sua cara com tanta força que a minha mão lateja e ela cai
no chão com o impacto. Antes que diga algo, subo em cima do seu
tronco, agarro seus cabelos desferindo mais três tapas contra seu rosto,
arrancando sangue de seus lábios.

— Para sua louca! — Ela fala erguendo o braço para defender o


rosto do meu ataque.

— Fala da Francesca de novo — rosno.

Seguro seus cabelos, encarando seu rosto ensanguentado, os


olhos virando para trás. A raiva me consome como um vulcão a
segundos de explodir, ela sorri com sangue escorrendo dos lábios.

— Eu vou te matar — ela agarra meu pescoço.

Fecho o punho acertando sua cara com vários socos, ela prende as
unhas na minha pele, arde onde ela arranha. Ensandecida, aperto mais
seus cabelos e jogo sua cabeça contra o chão, ouvindo um grito
assustado. Olho para o lado e Raffaello me encara chorando, assustado
pela violência.

— Parem já! — um segurança fala.

Abalada por causar um susto em Raffaello, eu me levanto indo até


ele. É quando vejo o sangue na minha mão, o limpo no vestido com
vergonha de encarar meu sobrinho dessa forma.

— Sua cadela maldita — ela xinga sendo arrastada pelo


segurança, acho que do shopping.

— Senhorita me acompanhe — o segurança me pede.


— Eu resolvo isso — meu segurança fala.

Deixo que ele cuide da situação, com a mão limpa, chamo Rafaello
para o meu colo. Ele chora se retraindo nos braços de Alina, antes de
ceder e vir a mim. Embalo seu corpinho pequeno, tentando o fazer
esquecer o que viu. Eu não deveria ter me descontrolado na frente do
meu sobrinho.

— Desculpe por isso anjinho.

— Num poude bliga — ele fala entre fungados.

— Eu sei, meu amor — balanço seu corpinho — prometo que isso


nunca mais vai acontecer.

— Poumete? — me olha com os olhinhos castanho como o do pai,


brilhando pelas lágrimas.

— Sim — beijo sua bochecha.

Olho para minha irmã e para Chloe, conhecendo a Alina como


conheço, ela está apavorada, ela é toda medrosa e odeia brigas, já eu
sempre tive pavio curto, e essa cadela mexeu com a irmã errada, se bem
que se fosse com a Alina, daria no mesmo, quantas vezes me meti em
brigas e sai no soco por causa dela.

Vejo meu segurança ligando para o Valentino, comunicando o que


aconteceu aqui, e passando o endereço do shopping que estamos.

Dedo-duro.

— Vamos por aqui — meu segurança diz.

Embalando Rafaello no colo, sigo o armário pelos corredores do


shopping. Entramos em uma sala cheia de telas e monitores, fomos
colocadas sentadas em cadeiras, bem longe uma da outra, e após um
tempão esperando sei lá o que, vejo dois policiais entrarem na sala,
mandando os seguranças acompanharem o carro deles até a delegacia,
pois a loja registrou ocorrência pelos danos causados.

— Por que ela vai de carro atrás, e eu não posso ir com o meu?
Tenho de ir no carro da polícia com vocês? — A ridícula pergunta
indignada, como se fosse alguém importante.

— Porque você é só mais uma qualquer, como as prostitutas que


arrumam encrenca na rua — debocho passando por ela, recebendo um
cutucão da minha irmã, que está vindo logo atrás de mim.

— Ah... sua...

— Quieta! — O policial fala irritado — ou serei obrigado a te


algemar.

Foi o que faltava para a infeliz perder as estribeiras novamente, e


tentar avançar em mim enquanto nós saíamos dali.

— Senhor, estamos a caminho da delegacia, acho melhor o senhor


ir direto para lá — ouço o segurança falar na ligação que acaba de fazer
para o Valentino, e posso ouvi-lo berrar uns palavrões de fundo.

É a primeira vez que piso em uma delegacia, nunca imaginei que


um dia isso aconteceria, mas ao contrário da puta que foi fichada por
agressão e arruaça, eu continuo sentada entre dois armários, enquanto
minha irmã e minha amiga foram levadas para casa junto do Raffaello,
não queria que elas e ele presenciassem o ambiente violento de uma
delegacia.

Bem, quando ela está saindo de dentro, de uma sala para onde a
levaram, Valentino chega, puto, pelo que posso ver.
— Val, meu amor, você veio me tirar daqui? — Ela fala toda
manhosa e chorosa, ameaçando ir em sua direção.

Eu não falo nada, só observo a cena na minha frente.

— Nem mais um passo Lavínia, se não quiser apodrecer aqui


dentro por se atrever a encostar essa mão imunda na minha noiva.

— O-o quê? Mas foi essa vagabunda quem me agrediu primeiro —


ela fala indignada.

— CALE-SE! — Ele grita e até eu me encolho onde estou — se


você chegar a cem metros perto da minha noiva novamente, pode ter
certeza de que não serei tão compreensivo e generoso como agora, eu
falei para você sumir Lavínia.

— EI — grito, não vou deixar a ofensa que a vadia fez a minha irmã
passar impune — sua putinha disse que você traia a Francesca com ela.

Valentino infla de ódio, encara a mulher como se pudesse a matar,


e faz um sinal para seu segurança que responde em positivo. Eu sou
uma pessoa estressada e valente, mas nunca mexam com a minha
família, ou meu lado vingativo aflora mais forte que um terremoto.

Pelos olhos dele eu consigo ver que a raiva não é por ser
descoberto, mas pela mentira dita, ofendendo minha querida irmã. Nesse
segundo, um pouco da raiva que senti acalma, talvez o Valentino não
seja um cafajeste total.

Ele sussurra algo e Lavínia treme de medo, se recusando a sair da


delegacia. Mas o policial a enxota do lugar como uma cadela. Ela nunca
mais vai dormir tranquila depois de hoje.
Ele entra falar com o delegado, e pelo jeito a conversa fluiu, pois
saem rindo como velhos amigos.

Levanto uma sobrancelha olhando tamanha falsidade, pois é nítido


que se o delegado pudesse, Valentino estaria mofando atrás das grades,
e que se ele tentasse ou pensasse em voz alta, estaria morto num piscar
de olhos.

— Vamos querida? — Ele me chama, esticando a mão para me


ajudar a levantar.

Olho sua mão como se fosse uma cobra pronta para me picar, mas
coloco minha mão sobre a palma da sua, e o sinto apertar de leve, me
deixando a par de que nada disso passará impune.
Estou dirigindo para o shopping quando o segurança das meninas
liga, avisando que elas estão indo para delegacia porque a loja deu
queixa pelos danos causados.

Como assim danos?

Estou puto com tudo, não dei tempo do Mathias se explicar, mas
agora eu fiquei realmente curioso, mudei meu destino, vou até a
delegacia ver o que aquelas delinquentes aprontaram para chegar a esse
ponto.

Dirijo como louco pelas ruas de Chicago, essa moleca mal chegou
e já estou na porta de uma delegacia, eu mereço...

Entro buscando meu alvo com os olhos, e a vejo sentada, como


uma pobre menina inocente, no meio de dois dos seguranças que
designei para tomarem conta dela.

O único machucado que encontro, é o pescoço fino e delicado,


todo arranhado, parecendo que saiu na unha com algum gato. Percebo
um pano em sua mão estancando um sangramento.

Sangue?
Minha retina chega tremer de ódio quando percebo que ela está
machucada ao ponto de estar sangrando, para que esses bostas são
pagos?

Ela ainda não me viu, de onde está não dá para me ver através do
vidro. É claro para mim que ela se meteu em uma briga, mas com quem?
Por quê?

Então decido entrar e descobrir o que aconteceu com minha noiva,


ou melhor, gata selvagem, pois já percebi que ela não faz o tipo domável.

— Val, meu amor, você veio me tirar daqui? — Ouço a Lavínia falar,
brotando do chão na minha frente, saindo de alguma sala.

Quando vejo que ela vem em minha direção toda sorridente, com
sangue manchando o rosto, um olho inchado quase fechado, corte na
sobrancelha, e os lábios sangrando, eu tenho orgulho da minha gata
selvagem.

Pelo visto já sei quem levou a melhor na briga. A intensidade de


Giuliana me atiça como um louco para a foder.

Como se o motivo de eu estar aqui fosse por Lavínia, que por sinal,
eu nem sabia que estava envolvida. Então, eu falo colocando-a em seu
devido lugar:

— Nem mais um passo Lavínia, se não quiser apodrecer aqui


dentro por se atrever a encostar essa mão imunda na minha noiva —
digo mesmo sem saber se foi ela quem bateu na Giuliana, mas pelo fato
dela estar machucada e ambas na delegacia, é fácil de deduzir que elas
brigaram.

— O-o quê? Mas foi essa vagabunda quem me agrediu primeiro —


ela responde sem entender minha atitude, e ainda tem a audácia de se
referir a Giuliana como vagabunda, sendo que para mim é óbvio o que
aconteceu.

Elas se encontraram na loja, sem conter o despeito, a Lavínia


provocou minha noiva, e a garota esquentada como é, e de um pavio
curtíssimo pelo que já notei, partiu para cima dela.

— CALE-SE! — Mando, vejo que ela se retrai um pouco, dando um


passo para trás. — Se você chegar a cem metros perto da minha noiva
novamente, pode ter certeza de que não serei tão compreensivo e
generoso como agora — ameaço — eu falei para você sumir Lavínia —
aponto o dedo perto do seu rosto.

— EI — minha noiva grita chamando a minha atenção — sua


putinha disse que você traía a Francesca com ela.

Inflo em ódio pungente. Eu nunca toquei em outra mulher enquanto


estava com Francesca, e mesmo depois da sua morte a respeitei, como
o marido que a amava e lamentava ela ter sido retirada de mim.

Aperto os punhos contendo a vontade de estapear a desgraçada,


se fosse em uma das delegacias que tenho homens pagos trabalhando
para mim, eu poderia matá-la e ninguém faria nada. Mas tinha de ser em
uma que não tenho poder. Me aproximo dois passos dela que recua um.

— Quando você sair daqui será morta — sussurro — mas antes


vou te torturar até você implorar para nunca ter me conhecido.

Lavínia treme de medo, ela se recusa a sair da delegacia sabendo


o que a espera do lado de fora.

Logo após Lavínia ser liberada e ir embora, consigo convencer o


delegado que a passagem da Giuliana aqui não precisa ser datada, nem
registrada, então me viro para ela, dando-lhe a mão para sairmos dali.
— Vamos querida? — Sorrio internamente quando ela olha para
minha mão desconfiada, mesmo assim coloca sua mãozinha pequena e
delicada contra minha palma, e fico imaginando como aquela coisinha
conseguiu fazer aquele estrago no rosto da outra mulher.

Saímos da delegacia e fomos direto para meu carro, e assim que


ela fecha o sinto, ainda evitando me encarar, dou a partida.

— Vai me contar o que de fato aconteceu? — Pergunto olhando-a


de lado.

— Tirando a parte que sua amante achou que seria interessante


me provocar?

— Como assim te provocar? E... ela não é minha amante, não que
seja da sua conta, mas sim, tivemos um caso, porém hoje em dia não
mais — falo azedo, pois odeio explicar algo ou dar satisfações da minha
vida a alguém.

— Você tem razão, não é da minha conta — ela diz irritada —


quantas mais irão aparecer?

Apenas olho em seus olhos, um pouco divertido, pois mesmo


tentando me deixar irritado, ela não consegue esconder que, na verdade,
o que sentiu e continua sentindo, é o mais puro ciúme.

— E isso tem importância? — Pergunto calculando sua reação.

— A partir do momento que termino em uma delegacia... sim! Tem


e muita — responde malcriada — quero saber para me preparar e me
defender da próxima vez.

— Não terá próxima vez, e pelo que me foi passado e que vi dos
vídeos da segurança na delegacia, quem agrediu primeiro foi você —
digo, desviando a atenção da estrada por um instante, para olhá-la.

Ela me encara com a boca levemente aberta.

— Você não pode estar falando sério...

— O quê? Estou errado?

— Está defendo aquela vadia?

— Não! Só estou dizendo, ou melhor, lembrando, que foi você que


agrediu a Lavínia primeiro.

Estou segurando o riso, mas está difícil, ela é geniosa, mas ainda
crua, verde no sentido esconder as emoções e está mais do que óbvio
que essa irritação toda é ciúme.

— Só a agredi porque aquela coisa começou a ofender a


Francesca. Você pode dizer o que quiser, mas eu só bati na vadia para
ela aprender a respeitar a minha irmã.

Fico calado, eu também não teria deixado alguém sair impune se


ofendesse a minha amada.

Assim que chegamos em frente à entrada da casa, ela não me deu


tempo sequer de estacionar direito, pulando do carro, e seguindo para
dentro da casa.

Desci com a maior calma do mundo, entreguei a chave para meu


segurança levar o carro para a garagem, e entrei, indo direto para meu
escritório.

— Valentino? Posso entrar? — Chloe pergunta encostada na porta.


Faço sinal para entrar, mas continuo servindo uma generosa dose
de whisky para mim.

— Sobre o que aconteceu hoje...

— Não precisa defender sua amiga — corto seu discurso antes


mesmo que comece — eu vi as filmagens de segurança da loja, e o
delegado concordou em deixar esse assunto para lá.

— Está bem... — diz dando a volta e saindo, mas quando chega na


porta, se vira e fala; — sei que você não quer o casamento, mas ela é
legal, só está se sentindo sufocada com tantas mudanças em um espaço
tão curto de tempo.

— Vou me lembrar disso — respondo, e ela sai.

Passado um bom tempo desde que chegamos, continuo no


escritório, analisando uns e-mails, buscando um plano B para caso o
Matthew não aceite minha proposta, quando ouço leves batidas na porta.

— Entre — falo sem tirar os olhos do monitor do computador.

— Está aqui desde que chegamos? — Ouço uma voz melodiosa


perguntar, e levanto os olhos em direção do som — isso não é saudável
— Giuliana fala sentando-se no sofá a uma certa distância de mim, mas
nítido que quer falar algo.

— Diga, o que quer — falo voltando a atenção para o computador.

— Não enquanto você não estiver sequer prestando atenção — a


atrevida, rebate, mas olhando para as mãos em seu colo.

Cansado, suspiro profundamente, e fecho o notebook, olhando-a


atentamente agora.
— Pronto garota! — Respondo cruzando minha perna, deixando o
pé descansar sob o joelho.

— Já escolhi o curso que farei, e queria saber quando posso


começar — diz rápido, sem olhar para mim, ainda encarando as mãos
em seu colo.

— E pelo que se decidiu? — Pergunto curioso.

— Direito, vi que lá eles têm uma ótima influência nesse ramo.

— Vou agendar uma entrevista e sua matrícula — falo dando o


assunto por encerrado.

— Posso te fazer uma pergunta? — Ela se aproxima, parando em


pé em frente minha mesa.

— Vai adiantar dizer que não? — pergunto com as sobrancelhas


arqueadas.

Ela morde o lábio inferior, mas com um suspiro, toma coragem, me


olha novamente e pergunta:

— Eu sei que você deseja esse casamento tanto quanto eu, mas...

— Mas? — Estímulo que continue.

— Posso contar que será pelo menos fiel a mim? Não quero, e não
é seguro ter um marido, “do qual, nem fui eu que escolhi” — faz aspas —
que além de mim, tenha mais dúzias de mulheres na rua — diz olhando
para porta, e pela vermelhidão de seu rosto, imagino onde quer chegar,
mas está envergonhada.

— Tendo sido criada dentro desse mundo, você deve saber quais
são nossos conceitos, menina — digo analisando sua postura.
Ela vira o rosto para me olhar, e posso ver um brilho diferente em
seus olhos.

— Eu conheço, mas depois da cena de hoje, não sei o que pensar


— responde como se fosse óbvio.

— Giuliana... — me levanto indo em sua direção, mas ela se afasta


um pouco, tanto quanto pode sem parecer desrespeitosa — um dos
princípios dentro da máfia, é nunca trair a esposa, pois: se você é capaz
de trair, quem confia em fechar os olhos e dormir ao seu lado, você não é
digno de confiança de ninguém — falo as palavras que meu pai me disse
uma vez, e que carrego como um mantra.

Seus olhos varrem o escritório, antes de cravar no meu rosto, e lá


está, aquele brilho que não consigo identificar.

— Está me dizendo para confiar em você?

— Estou dizendo que sou um homem de princípios, e que o fato de


uma antiga parceira sexual te importunar por pura inveja, não te dá o
direito de concluir que serei um marido sem caráter. Fui fiel à sua irmã
mesmo depois da morte dela, te darei o mesmo respeito e
comprometimento.

— Desculpe — ela sussurra as palavras quase inaudível.

Estou louco para sentir a textura daquele lábio que ela tanto morde,
quero morder em seu lugar.

Quando ela chegou, desbocada, briguenta, eu realmente fiquei


mais irritado do que quando me comunicaram que eu teria de me casar
com uma pirralha de dezoito anos, mas não sei o porquê, desde que a vi
na delegacia, com o narizinho em pé, culpada, pois dava para perceber
pela tensão de seu corpo que estava nervosa, mas sem baixar a cabeça.
Isso fez algo dentro de mim despertar, e enxergar a mulher, não mais a
menina.

— Nunca se desculpe por dizer o que pensa Giuliana — digo me


aproximando, tocando seu rosto com a ponta dos dedos.

Ela, sem perceber, involuntariamente, fecha os olhos e deita o rosto


na palma da minha mão. Me aproximo mais, trazendo seu pequeno corpo
para mais perto, e roubo-lhe um beijo, mordendo seu lábio inferior como
tive vontade de fazer o dia todo, principalmente quando estávamos
dentro do carro.

Ela solta um gemido baixo, mas parecendo o miado de uma


gatinha, passa os braços em meu pescoço, abrindo os lábios só um
pouco, mas o suficiente para que eu invada sua boca com minha língua,
explorando, sugando.

Posso sentir que ela está perdida, sem saber o que fazer, mas imita
tudo que faço, puxando a gola da minha camisa, apertando os seios
contra meu peito, ficando na ponta dos pés.

O beijo que lhe dou tem muito mais que desejo, é faminto,
luxurioso.

— Hummm... — ela geme em minha boca, me causando uma


descarga de tensão direto no meu pau.

A levanto, colocando-a sentada na minha escrivaninha, cruzando


suas pernas em volta da minha cintura.

— Valentino!...

— Oi... — falo, beijando seu pescoço, apertando sua cintura,


apertando-a contra meu corpo, então sussurro em seu ouvido, mordendo
o lóbulo de sua orelha pequenina; — Eu nunca tive intensão de admitir,
Giuliana, mas desde que entrou na minha sala aquele dia, que eu quis
beijá-la — ela geme de novo, se apertando contra mim, levando a mão a
minha nuca...

— Val! — Meu irmão me chama entrando sem bater, fazendo a


Giuliana pular da mesa, me olhar assustada, levando três dedos aos
lábios, e sair quase correndo do escritório.

— Ninguém te ensinou a bater? — Falo ríspido.

— Meus olhos não querem acreditar no que acabei de ver — o


desgraçado fala rindo, enquanto serve uma dose de whisky.

— Falou com o Matthew? — Pergunto, mas minha mente está no


andar de cima, com ela.

— Falei, e como previ, ele disse que pode até fazer negócio, mas
que só se ele for fechado direto com o Dom — faz uma careta para
responder.

— Maldito arrogante, ele devia dar graças a deus por eu não o ter
matado.

— Eu disse que duvidava que você aceitasse ir até lá, mas ele
deixou claro que só assim conversaria sobre o assunto.

— Então marque uma reunião na sede, eu não vou naquele


pardieiro que ele chama de clube.

— Aceita conversar com ele? — Meu irmão pergunta levantando as


sobrancelhas.
— Tentei achar outras rotas, mas não encontrei nada. Infelizmente
essa é a única opção — falo cansado — vou me deitar, qualquer
novidade me chama.

— A essa hora? Que novidade poderia ter?

— Eu sei que você frequenta aquele lugar Fellipo, então se for até
lá, farrear e conversar com seu irmão, me mantenha informado de
qualquer novidade — digo olhando feio para cara de falsa inocência do
meu irmão caçula, e saio do escritório.
Meu deus, o que eu fiz? O que me deu? E o que não consigo
entender... Por que eu gostei?

Eu quis aquele beijo — penso levando os dedos aos lábios.

Desde que ele foi me buscar na delegacia, depois dentro do carro,


não sei por que, mas eu quis muito aquele beijo, não era para me sentir
assim, né?

Meus sentimentos por Valentino sempre foram complexos.

Como parentes por consideração do casamento dele com minha


falecida irmã, ele nos apoiou, a mim e Alina, nos aceitando em sua casa,
com a promessa de cuidar de nós duas. No entanto, além dessa única
conexão, eu senti que houve algo mais profundo entre nós, no momento
que invadi sua sala na sede da organização, algo que eu estava relutante
em admitir.

Agora, com aquele beijo, tudo se tornou mais complicado.

Enquanto meu coração ainda palpita e minha pele arrepia com a


lembrança de seus lábios nos meus, minha mente está cheia de dúvidas.
Será que Valentino sente o mesmo por mim? Que aquele beijo foi apenas
um impulso no calor do momento, ou algo mais significativo? E, o mais
importante, o que isso significa para nós?

Sento-me em minha cama, tentando processar tudo o que


aconteceu. O quarto está silencioso, com exceção do som distante das
vozes da minha irmã e da Chloe que conversam em outro cômodo. A
essa hora Raffaello já deve ter adormecido e nem posso contar com o
seu cheirinho de bebê para me acalmar.

As palavras de Valentino ecoam em minha mente: “Eu nunca tive


intensão de admitir, Giuliana, mas desde que entrou na minha sala
aquele dia, que eu quis beijá-la”. Sua sinceridade e vulnerabilidade me
pegaram de surpresa, e eu me pergunto se eu também teria sido capaz
de confessar meus verdadeiros sentimentos, se o Fellipo não tivesse
entrado no escritório naquela hora.

Enquanto reflito sobre isso, sinto o peso da responsabilidade em


minhas costas.

Como a irmã mais velha, prometi cuidar de Alina, e nos nossos


planos, não estava incluso eu me apaixonar, ou sequer gostar do meu
futuro noivo, tenho que considerar não apenas meus próprios desejos e
necessidades, mas também o impacto que isso pode ter sobre mim,
sobre nós duas, pois se tudo der errado, não sou a única que sofrerá as
consequências.

E Raffaello, ele já perdeu a mãe e agora que estamos


desenvolvendo um vínculo, não posso arriscar entrar na vida do pequeno
como uma figura materna e o magoar devido à minha relação com o pai
que ele tanto adora.

Ver como o Valentino age com o filho é mais um dos fatores que
bagunça a minha mente, o homem ao mesmo tempo que é duro como
pedra, é carinhoso e atencioso com o filho.

A voz suave de Valentino ecoa em minha lembrança. Seu beijo


ardente e como ele me olhou nos olhos, como se pudesse enxergar
minha alma, fazem com que minha determinação de o odiar vacile. Eu
me convenci de que deveria o odiar, mas até agora ele não fez nada que
sustentasse essa ideia absurda.

Será que eu poderia negar o que sinto quando estou perto dele?
Que poderia ignorar a possibilidade de que ele pode ser meu amor
verdadeiro?

Enquanto luto com essas questões internas, sei que preciso tomar
uma decisão. Não posso continuar neste estado de confusão
indefinidamente. Mas, por agora, deixo-me saborear o gosto do beijo, o
calor do momento compartilhado. Permito-me sonhar com um futuro em
que a linha entre o certo e o errado se torna mais borrada, onde eu e
Valentino possamos explorar essa conexão que existe entre nós.

Com esses pensamentos tumultuados, levanto-me da cama e vou


para o banheiro, a fim de tomar um banho, para esfriar a mente, sabendo
que o destino de nossa história ainda está por ser escrito. Enquanto
caminho até a ducha, sinto um misto de excitação, curiosidade e
confusão.

— Giu? Tô entrando — Ouço Alina me chamar.

— Estou no banho — grito de volta, e vejo ela entrando no


banheiro com um iPad na mão.

— Giu, o que houve? Você parece preocupada. — Ela pergunta


com uma expressão curiosa no rosto, enquanto observa a água
escorrendo pelo meu corpo.
— Ah, Alina! Aconteceu algo tão inesperado hoje. Eu não sei como
lidar com essas sensações diferentes — respondo, desligando o chuveiro
e envolvendo-me em uma toalha macia.

Alina se senta na beirada da banheira que tem ao lado do box,


inclinando-se em minha direção com um olhar de expectativa. Acomodo-
me ao seu lado e começo a desabafar:

— Fui até o escritório do Valentino, avisar que escolhi o curso que


quero fazer, e perguntar quando poderíamos ajeitar tudo... — deixo
minha mente divagar e voar para aquele momento — então, algo bem
diferente aconteceu... — digo olhando minhas mãos em meu colo — ele
me beijou. E não foi um beijo qualquer, Alina, foi intenso e cheio de
sentimentos confusos.

Os olhos de Alina se arregalam de surpresa. Ela parece chocada


com a revelação.

— Giuliana, você está falando sério? O Valentino te beijou? Mas...


mesmo após tudo que aconteceu hoje? Com todo lance da delegacia e
da louca no shopping? E como você se sente em relação a isso? Digo...
ao beijo? — Dispara as perguntas sem tomar fôlego.

Suspiro profundamente, sentindo a confusão e o peso da situação.

— Não sei o que te responder. E eu estou sentindo algo muito forte


por ele, Alina, só não estou sabendo diferir se é amor ou ódio, ele me
irrita e me atrai na mesma medida, mas com certeza, sinto uma
sensação de eletricidade correndo nas veias toda vez que ele está perto.
Mas agora estou me questionando sobretudo... sobre meus próprios
sentimentos e sobre o que fazer a partir daqui.

Ela apoia sua mão no meu ombro, oferecendo conforto.


— Giu, essas coisas são complicadas. É normal se sentir confusa
quando sentimentos tão intensos surgem de repente. Mas o que importa
é o que você realmente quer. Você acha que pode amar o Valentino?

Apoiando a cabeça nas mãos, eu reflito sobre suas palavras.

— Foi só um beijo, mesmo com a eminência do casamento, foi só


um simples beijo, isso eu tenho certeza. Mas esse beijo que Valentino me
deu, mexeu comigo de uma maneira que eu não consigo explicar. Estou
sentindo algo que nunca senti antes — olho para ela tentando explicar
através do olhar toda confusão que estou no momento.

Ela me olha com empatia e compreensão.

— Giuliana, acho que é importante ser honesta consigo mesma e


com ele. Converse com Valentino, explique como está se sentindo após
ele ter te beijado. Talvez assim, você consiga entender melhor o que
realmente quer e o que está disposta a fazer. Eu sei que a Francesca
ficaria feliz em saber que o Valentino e o Raffaello têm você — segura a
minha mão com lágrimas nos olhos — eu sei que eu ficaria.

Eu assinto, sentindo um misto de gratidão e apreensão pela


jornada que me espera.

— Obrigada, Alina. Você sempre sabe exatamente o que dizer, nem


parece que sou eu a mais velha de nós duas. Eu vou seguir seu conselho
e tentar esclarecer tudo. Só espero que, no final, eu possa tomar a
decisão certa e não me machucar no processo.

Alina sorri suavemente, demonstrando confiança em mim.

— Tenho certeza de que você vai encontrar o caminho, e eu estarei


aqui para te apoiar, não importa qual seja o final disso. Você é forte e
corajosa, tenho certeza de que encontrará a solução que trará sua
felicidade.

****

Vou até a cozinha pegar um copo de água, decidindo como falar


com Valentino, ele vai me achar uma boba por estar mexida com um
simples beijo, mas eu estou, primeiro que foi meu primeiro beijo, e não
sei o que fazer agora, como agir perto dele.

Estou perdida em pensamentos, recostada na bancada, e distraída,


quando ouço sua voz logo atrás de mim.

— Sem sono?

Levanto a cabeça abruptamente, e tento salvar minha dignidade


com um sorriso amarelo no rosto.

— Um pouco.

Ele me olha atentamente, seus olhos castanhos intensos


parecendo desvendar meus pensamentos mais profundos. Ele se
aproxima e apoia os braços na bancada, ficando bem próximo a mim.
Seu perfume amadeirado invade meu espaço, deixando-me ainda mais
inquieta.

— Giuliana, precisamos conversar. Sobre o que aconteceu... o


beijo. — Ele parece um pouco hesitante, mas determinado a resolver
essa questão entre nós.

Eu engulo em seco, sentindo o coração acelerar dentro do peito.


Meus lábios ainda sentem a doçura daquele beijo, e o toque forte dos
seus dedos na minha pele. A verdade é que aquele momento mexeu
comigo de uma forma que eu não esperava.
— Valentino, eu... eu não sei o que fazer — olho para baixo,
disfarçando o rubor em meu rosto — foi meu primeiro beijo, e... eu me
sinto perdida — desabafo, desviando o olhar, incapaz de encará-lo
diretamente.

Ele coloca uma mão em meu ombro, transmitindo um calor


reconfortante. Seu toque parece trazer uma segurança que eu nunca
experimentei antes, mas também uma sensação estranha.

— Eu entendo como você se sente. Também foi diferente para mim,


mas não podemos ignorar que desde que você e sua irmã chegaram,
que vivemos brigando o tempo todo. Talvez isso seja um sinal de que
precisamos repensar o que aconteceu.

Aquelas palavras atingem meu coração como uma flecha. É


verdade, nossa relação tem sido repleta de altos e baixos, e essas
constantes brigas — minha culpa, não nego — têm nos desgastado
emocionalmente. Mas há algo entre nós, uma conexão que eu não
consigo negar.

Ele me irrita e me atraí na mesma proporção.

— Eu sei que brigamos muito, mas também existe algo entre nós,
algo que ainda não sei nomear — olho para o lado, tentando esconder a
confusão que está meu olhar — eu sinto isso quando estamos juntos,
mesmo que nossas diferenças sejam evidentes. Talvez..., talvez
devêssemos tentar entender o que realmente queremos, e como
podemos fazer isso funcionar — torço o nariz — até porque vamos nos
casar em breve, isso é uma eminência, não é um “se”, mas um “quando”.

Ele me olha com uma mistura de surpresa e esperança nos olhos.


Sua mão desliza do meu ombro até segurar minha cintura, e a sensação
do contato físico é como um choque elétrico percorrendo meu corpo.
— Giuliana — levanta meu queixo com a ponta do dedo — eu
também sinto algo diferente quando estou com você. Apesar das brigas,
há uma química entre nós que é difícil de ignorar. Eu não queria, não
estou pronto para um novo relacionamento, mas como você disse, vamos
nos casar em breve, e devemos a nós mesmos tentarmos fazer dar certo.
— Ele fala com tanta intensidade, que suas palavras me faz engolir em
seco — Talvez seja hora de darmos uma chance para nós mesmos,
aprender a lidar com nossas diferenças e construir uma relação mais
saudável, não só por nós, mas pelas pessoas que estão a nossa volta.

Um sorriso tímido surge em meus lábios, enquanto eu percebo que


talvez não seja uma boba por estar mexida com aquele beijo. Talvez haja
algo mais profundo em nós dois, algo que valha a pena explorar.

— Eu concordo. Vamos tentar. Vamos nos esforçar para entender


um ao outro e superar nossos obstáculos juntos, mas já aviso; se
aparecer outra ex louca, a coisa vai ficar feia para você — sorrio de
canto.

— A única ex que poderia me fazer vacilar é a Francesca — tem


dor em seus olhos — não precisa se preocupar.

— Você sente muito a falta dela?

— Todos os dias — seu polegar toca a minha bochecha — não vou


te usar para tampar o lugar dela ou coisa do tipo, serei sincero quanto
aos meus sentimentos por você, espero que faça o mesmo.

— Prometo.

Nossos olhares se encontram, percebo que mesmo com todas as


incertezas e desafios que virão pela frente, estamos dispostos a lutar por
esse sentimento que nos une. E com esse pensamento, tomo coragem e
me inclino para um segundo beijo, sabendo que é o começo de uma
jornada cheia de altos e baixos.
Sempre fui um respeitado membro da máfia, e como Dom, sempre
trouxe meus interesses em rédeas curtas, hoje, junto do Fellipo, meu
irmão, estava sentado em minha imponente sala de estar, contemplando
o próximo passo que darei em minha vida. O casamento com Giuliana
estava marcado para breve, eu esperava que o contrato sobre o
casamento e a guarda da pequena Alina fosse acertado sem problemas.

De repente, a porta se abriu, revelando os membros do Conselho


da minha organização, mesmo sendo o chefe, tenho de respeitar as
decisões do conselho, importantes famílias se unem e são lideradas por
mim, em troca, eu os escuto e atendo a suas tradições e regras. E dentro
dessas regras, dizia que o Dom, não poderia ser um pai solteiro, mesmo
que viúvo, e que eu teria de me casar.

Eles eram homens de aparência severa e terno preto, com olhares


afiados e poderosos. Eu sabia que essa reunião era de extrema
importância.

Salvatore, um dos homens que compõem o conselho e o mais


importante dentre os senhores presentes, me cumprimentou com um
sorriso sutil, contido e falso.
— Valentino, meu amigo, espero que esteja pronto para discutir os
termos finais do contrato do casamento e a questão da tutela da jovem
Alina.

Acenei com a cabeça, sinalizando que estava preparado para a


discussão.

— Claro, Salvatore. Estou ansioso para resolver esses detalhes


antes do grande dia. — Sorrio sem emoção, um sorriso vago.

Então, outro membro do Conselho, o velho asqueroso do Vincenzo,


entra na conversa.

— Valentino, tivemos uma ideia de que pode beneficiar a todos.


Meu filho. Luca, seria um excelente partido para a jovem Alina. Ele tem
todas as qualidades necessárias para cuidar da menina e garantir a
segurança da família — diz como se me contasse que ganhou na loteria.

Olho para Vincenzo, com uma expressão séria.

— Eu agradeço a consideração, Vincenzo, mas conheço Luca


muito bem. Ele não é o homem certo para Alina — falo de forma direta,
fazendo o velho arregalar os olhos, e meu irmão se engasgar com o
whisky que estava tomando. — Ele tem um histórico de comportamento
instável e não é confiável. Eu não posso permitir que ela esteja sob os
cuidados de alguém assim.

Os outros membros do Conselho olharam uns para os outros,


surpresos com minha rejeição. O ambiente da sala ficou tenso, enquanto
a discussão ganhava força.

Vejo o velho Salvatore se aproximar, com a audácia de adquirir um


tom mais duro em sua voz.
— Valentino, entendo que você tenha suas preocupações, mas a
futura escolha de Alina é um assunto importante para todos nós.
Precisamos garantir sua segurança e o futuro da família.

Mantive minha postura firme.

— Eu entendo sua preocupação, Salvatore. Mas sei o que é melhor


para Alina. Eu prometi ao pai dela e agora a irmã, minha futura esposa,
que irei protegê-la e cuidar dela, e não posso permitir que ela seja
entregue nas mãos de alguém que não merece sua confiança — falo em
definitivo — não precisam fingir que se importam com a segurança dela,
vocês só querem ficar responsáveis pelas empresas do pai dela, cujo,
metade serão minhas e a outra parte, do noivo da Alina. Como seu tutor,
decidirei quem se casará com ela no momento certo.

Houve um momento de silêncio tenso na sala, enquanto os


membros do Conselho avaliavam minhas palavras. Eventualmente,
Salvatore suspirou e fez um gesto de rendição.

— Está bem, Valentino. Respeitamos sua decisão, mas você será o


único responsável por Alina. Certifique-se de que ela esteja segura e
protegida.

— Como se vocês se importassem com a menina, além dos


benefícios que um casamento pode trazer para família — respondo
trincando o maxilar — mas não precisam se preocupar Salvatore,
prometo que Alina estará segura sob minha tutela. Não deixarei nada
acontecer a ela.

Continuamos acertando os detalhes da minha união com Giuliana e


o que será feito com as empresas. O pai das meninas, tinha importantes
casas noturnas, que serviam para sonegação de impostos e lavagem de
dinheiro das nossas atividades ilegais. É preciso ter cuidado com quem
administrará agora, não podemos correr o risco de uma batida da polícia
causar danos a todos nós.

Os membros do Conselho se levantaram, indicando que a reunião


havia terminado. Os acompanhei até a porta, observando-os sair.
Embora a tensão ainda pairasse no ar, eu me sentia confiante de que
tomara a decisão certa para o bem de Alina.

Meu casamento com a Giuliana era certo, mas o futuro de sua irmã
ainda estava em aberto, sob minha responsabilidade. E nunca, sob
hipótese alguma, eu deixaria que o bastardo do Luca desposasse minha
cunhada.

Agora, terei que redobrar meus esforços para garantir a segurança


de Alina e protegê-la das ameaças que sempre rondam a vida de uma
família mafiosa.

Sei que não será nada fácil, principalmente sabendo que esse
bando de abutres querem fazê-la se casar com o safado do filho do
Vincenzo, mas estou determinado a cumprir minha promessa, e construir
um futuro seguro para minha cunhada ao lado de Giuliana.

Eu sabia que em relação ao contrato do nosso casamento já estava


tudo acertado, e que o assunto seria a tutela da mais nova das irmãs,
mas me incomodou esse bando de velhos decrépitos chegarem com
conceito e decisões tomadas.

— Teve um momento que pude jurar que você iria pular na


garganta do velho Vincenzo — meu irmão debocha.

— Vontade não me faltou. Quem aquele bastardo pensa que é


quem para chegar aqui tomando decisões com relação a minha família?
— Ele é interesseiro, Alina, além de ser linda, é herdeira de um
montante financeiro bem elevado, qualquer um em sã consciência vai te
oferecer a mesma proposta, irmão.

— Posso casá-la com você — ironizo minhas palavras, e seguro


para não rir alto com a expressão de pavor em seu rosto. — Que cara é
essa? Não é um homem de sã consciência?

— Não fode caralho — responde, levantando-se irritado, e servindo


mais uma dose de whisky em seu copo.

— Relaxa, Fellipo. Estou apenas brincando contigo. Não tenho a


intenção te obrigar a se casar com Alina ou qualquer outra mulher neste
momento. Você sabe que meu foco está nos negócios da família, e mais
um casamento, fora o meu, seria um fardo desnecessário, até porque, a
menina ainda não tem idade para se casar.

Fellipo suspira aliviado e se senta novamente, olhando para o copo


de whisky em suas mãos. Seu semblante revela um misto de alívio e
preocupação.

— Sinceramente, não sei como lidar com essa situação. Alina é


uma garota encantadora, e eu estou aprendendo a gostar muito dela,
assim como da Giuliana, a vê-las como minhas irmãs, mais novas. Mas
pensar que já estão de olho na garota, em um futuro casamento por
dinheiro... é algo que não consigo engolir.

Compreendo a hesitação de Fellipo. Ele sempre foi o mais


romântico entre os irmãos, perigoso, e até cruel, mas quando o assunto é
mulheres, ele é um sonhador incorrigível que acredita no amor
verdadeiro, apesar de mulherengo até o fio do cabelo. Eu, por outro lado,
aprendi desde cedo que no mundo dos negócios, sentimentos não têm
lugar.
— Eu entendo seus sentimentos, irmão. Mas precisamos pensar
friamente. A família do Vincenzo enfrenta problemas financeiros, e uma
união com Alina seria a solução perfeita para os problemas deles. Ela é
herdeira de uma fortuna considerável, e se o velho conseguir fazê-la
casar com o filho, terão acesso a todo esse dinheiro.

Fellipo olha para mim com incredulidade.

— Como soube do declínio da família Carbone?

— Não existe nada na minha organização que eu não saiba, meu


irmão.

Ele me encara por alguns segundos, então pergunta indignado:

— Eu ouvi bem sua resposta para o conselho, mas você não


pretende sequer cogitar esse absurdo né?

Suspiro profundamente, compreendendo a preocupação de Fellipo.


Ainda que eu tenha uma mentalidade mais pragmática, reconheço que
ele tem razão. Eu continuo digerindo a cara de pau do velho Vincenzo.

— Eu entendo seu ponto de vista, Fellipo. E não pretendo nem nos


sonhos deles permitir que Luca se aproxime dela. Ela é família, assim
como a Chloe, e cuidamos da família.

Fellipo olha para o copo de whisky vazio, pensativo. Já percebi que


de uns meses para cá, falar da Chloe é um ponto fraco para meu irmão
mais novo.

— Eu só queria que houvesse outra opção. Que as meninas


pudessem se casar só quando se sentissem prontas. Não acho justo
arranjos desse tipo. E não quero que Alina nem a Chloe, quando chegar
o momento, sintam-se usadas, ou se casem com algum oportunista.
Precisamos pensar nisso com cuidado, meu irmão.

Eu concordo com ele, mesmo que relutantemente. A proposta de


casamento de Vincenzo só me fez abrir os olhos que tenho duas moças
dentro de casa, quase em idade para se casar, e que propostas ridículas
como essa irão aparecer. Preciso encontrar uma solução que beneficie a
todos, incluindo as garotas.

— Você está certo, precisamos conversar com Alina e expor


nossas preocupações, e a proposta que o Vincenzo fez. Talvez ela esteja
disposta a encontrar uma saída que não envolva um casamento por
interesse no futuro. Vamos abordar esse assunto com delicadeza e
honestidade, mostrando que estamos dispostos a considerar suas
opiniões e sentimentos. — Falo virando o restante do líquido em meu
copo.

Fellipo assente, parecendo mais tranquilo com essa possibilidade.

— Sim, acho que é o melhor a se fazer. Se conseguirmos encontrar


uma solução que não prejudique nossos valores e os sentimentos das
garotas, talvez possamos conciliar os interesses da organização com os
dela.

Assim, concordamos em seguir essa abordagem e procurar uma


forma de lidar com a proposta de casamento de uma maneira mais justa
e equilibrada. Enfrentaríamos juntos os desafios que estavam por vir,
buscando uma solução que não comprometesse a integridade e o amor-
próprio de ninguém.
— Alina, que tal saímos para um passeio hoje? — Pergunto
animada — O sol está brilhando e seria ótimo aproveitar o dia com o
Raffaello. O que você acha?

— Essa é uma excelente ideia! Tenho certeza de que Raffaello vai


adorar — minha irmã responde, guardando o kindle que estava em sua
mão debaixo do travesseiro — Além disso, poderíamos passar pelo meu
novo colégio, e pegar a Chloe para esse passeio, assim aproveito para
conhecer o lugar.

— Ele é tão espertinho que é capaz de querer ficar na escola,


imagina? Mal o acostumamos a gente e ele já querer nos trocar pela
creche.

Alina dá risada e a deixo para ir organizar uma bolsa para Raffaello,


não tenho certeza do que levar além das fraudas e peço ajuda a
governanta.

****

Ao chegarmos no colégio, coloco Raffaello no carrinho e entrego a


bolsa dele a um dos armários que nos seguem. Se vou ter de sair com
eles para qualquer lugar, então prefiro que sirvam de alguma coisa. Alina
sorri animada ao avistar o prédio escolar. Ela sempre gostou de estudar,
ao contrário de mim, que só gostava de algumas matérias.

A inspetora vem nos atender com um sorriso ao informamos na


portaria que somos parentes da Chloe, e que a Alina vai estudar lá e
gostaria de conhecer o colégio. A mulher é uma ótima guia, enquanto
empurro o carrinho pelos corredores, a inspetora mostra primeiro os
jardins e a cantina vazia. Imagino que Chloe ainda esteja em aula, a
inspetora nos leva até sua sala, enquanto Alina fala animada:

— Estava me lembrando do meu antigo colégio. Os professores


eram incríveis e fiz amizades que duram até hoje. Sinto-me grata por ter
a oportunidade de estudar em um lugar tão especial como aquele.

— É realmente encantador essa sua paixão pelos estudos, eu


nunca me liguei tanto a isso, gostava de estudar, mas essa paixão, até a
facilidade de fazer novos amigos que você tem, eu nunca tive — falo
torcendo o nariz — Tenho certeza de que Raffaello também será assim,
como você. Dinâmico. Um dia ele seguirá os nossos passos e terá suas
próprias aventuras no colégio.

Alina sorriu carinhosamente para mim, acariciando os cachos de


Rafaello enquanto ele brincava com um brinquedo colorido em suas
mãos.

— Giuliana, cada um tem seu próprio jeito de se conectar com o


mundo. Tenho certeza de que Rafaello encontrará seu próprio caminho e
terá suas próprias experiências no colégio. O importante é que ele seja
feliz e possa descobrir suas paixões, assim como você e eu fizemos.

Concordei com um aceno de cabeça, admirando a confiança e o


amor que Alina transmitia em suas palavras. Enquanto caminhávamos
pelo corredor do ginásio, avistamos Chloe no canto das arquibancadas,
imersa em seu notebook.

— Chloe! Como você está? — Alina exclamou animadamente,


chamando sua atenção.

Chloe ergueu a cabeça, seus olhos brilhando ao nos ver. Ela


fechou rapidamente o notebook e sorriu.

— Ah, oi Alina, Giuliana! Eu estava meio distraída aqui, revendo


algumas anotações para a prova de história. Parece que tenho muita
coisa para revisar.

— Sempre estudiosa, Chloe! Aposto que vai mandar muito bem na


prova. Aliás, você está se adaptando bem ao novo horário? — perguntei
curiosa.

Ela nos disse que antes, estudava a tarde, mas que tem uns
meses, mudou para manhã, assim a tarde podia usar para ajudar o
Valentino e o Fellipo em umas coisas da organização.

Chloe suspirou, balançando a cabeça levemente.

— É um pouco estranho ainda, você sabe. Mudar de horário,


assim, é sempre desafiador, e muito cansativo, especialmente quando
deixamos para trás amigos e professores que gostávamos. Mas estou
tentando me ajustar. As pessoas desse turno são legais, mas continuo
me acostumando com a dinâmica.

— Você mesma disse que não era de muitos amigos — comento


levantando uma sobrancelha, ela ri do meu comentário com uma careta.

Alina coloca uma mão reconfortante no ombro de Chloe, mas um


pouco sarcástica e brincalhona também, e com um suspiro dramático
fala:

— Tenho certeza de que você vai se encaixar perfeitamente. Você


é incrível e vai encontrar novas amizades aqui. E lembre-se, estamos
sempre aqui para você, não importa o quê.

— Ixooooooooooooo — Raffaello interage na conversa e dou


risada.

— É sim meu bebê, a tia Chloe com certeza será popular — me


abaixo pegando o Rafaello no colo.

Vesti nele a roupinha de camisa de girafa com a calça de moletom


branca e um tênis preto, deixando o pequeno mais estiloso do que
qualquer uma de nós. Sento-me na arquibancada com a Chloe e Alina,
Raffaello no meu colo estende os braços para a Chloe que o pega
sorrindo genuinamente.

— Agradeço o apoio, mas na internet eu tenho 200 amigos —


debocha.

— Só nos jogos — Alina acusa.

— Você não saíria com nenhum deles para tomar um café —


aponto, apertando as bochechas do Raffaello que não para de falar
“xiiiim”.

— Eu tenho vocês — ela dá de ombros sorrindo — e o Fellipo, e


Valentino, não preciso de mais nada.

— Doce garota ingênua — Alina debocha.

— Doce garota solteira — ela sorri me encarando com os olhos


brilhantes — próximo verão quero estar viajando para a Disney e você
vai estar casada.

— Posso ir também — dou de ombros, sabendo que não é


verdade.

— Só se o Valentino for também — Alina diz — ele não me parece


do tipo que vai a Disney.

— Com certeza ele não é — Chloe comenta.

— Eu dou! — Raffaello fala levantando os braços.

— Você sabe o que é Disney, meu amor? — pergunto o puxando


para meu colo.

— Xiiim, atetata — responde fazendo bolhinhas com a boca e eu


me desmancho.

— Raffaello adora assistir desenhos com o pateta e os looney


tunes. — Chloe diz brincando com o pé dele — estou supressa de você
não ter trazido a pelúcia dele do pateta e do pluto.

— Alina não achou — digo — ele deve ter perdido.

— Pois digo que compremos outra hoje mesmo, ou de noite o


choro dele vai ser grande sem as pelúcias.

— atetata — Raffaello diz estendendo os braços, quase pedindo


pela pelúcia.

— Bom, já sabemos onde passar agora — me levanto — você já


pode sair? — pergunto a Chloe.

— Sim, a prova de história será somente amanhã e estou em


horário livre para estudo.
— Adoro prova de história — Alina fala quando se levanta.

— Você adora tudo — Chloe aponta e dou risada.

Raffaello entra no embalo rindo também. Ele se recusa a voltar ao


carrinho, peço ao armário 1 levar o carrinho, enquanto fico com meu
bebê, com cheiro de talco e doce nos braços. A inspetora libera a saída
da Chloe sem problemas e Alina se enfia na sala de aula distribuindo
sorrisos para todos.

Lembro do meu tempo de escola, sempre fui esquentada e tinha


poucas amizades, mas Alina era o raio de sol que atraia as pessoas para
o seu calor encantador. Não tenho dúvidas de que ela se dará muito
bem, e com a Chloe aqui, fico mais tranquila quanto aos dias da minha
irmã estudando.

— Você será como a tia Alina ou eu? — pergunto ao Raffaello. —


Se for como a sua mãe será o rei do baile no primeiro ano.

Ele sorri banguelinha com os dentes nascendo. Só de imaginar as


dores que o Raffaello deve sentir, e como será daqui para a frente, penso
em pedir socorro a governanta. Agora sou eu quem irá cuidar do meu
sobrinho e não posso fraquejar, Raffaello tem a mim e eu a ele.

Valentino é um ótimo pai, sempre fala com o filho quando chega em


casa e está de saída. Raffaello o adora e sempre que os vejo interagindo
meu coração fica do tamanho de uma ameixa, imaginando Francesca
vendo aquela cena e fazendo parte dela.

Meu pequeno príncipe precisa de alguém ao lado dele também, por


isso vou fazer o que puder para, que ele, nunca se sinta sozinho, que
ame a mãe que teve, mas que saiba que estou aqui por ele a qualquer
momento e instante. Beijo sua bochecha e quando as meninas voltam,
seguimos para uma loja atrás do pateta dele.

— AAAAAAAAAH — Raffaello grita descendo do meu colo ao ver


as pelúcias pelo ambiente. — Eloooooooooooooooo — abre os bracinhos
apertando uma pelúcia de 2 metros do pateta.

— Gostou dessa, meu amor? — pergunto ficando agachada na sua


frente.

— Xiiiiiiim — responde sorrindo lindamente, meu coração aquece


ao ver a felicidade em seu rosto.

— Vamos escolher uma menor também — digo — para você


abraçar dormindo.

— Elto! — acena em positivo e sai correndo pegando todos os


ursos dos personagens da Disney.

Viro para o armário 2 perto de mim.

— Espero que você consiga levar tudo.

— Farei o meu melhor, senhora — ele sorri.

No final precisamos pagar a entrega de 10 pelúcias dos looney


tunes que não couberam no carro. Rafaello se agarrou ao pateta de 2
metros, e foi um sufoco voltar com o bicho apertando a nós quatro no
banco detrás do carro.

****

Estamos chegando em casa, quando avisto um Valentino furioso


me esperando na entrada da casa. Não entendo o motivo de tanto
drama, só saímos dar uma volta e comprar ursinhos, mas parece que fugi
para Vegas levando o filho dele junto.

Desço do carro com o menino no colo, e minha irmã e Chloe ao


meu lado segurando o pateta enorme. Raffaello tenta pegar o urso, mas
eu não conseguiria o carregar junto do pateta.

Quando elas avistam o Valentino, e o semblante de quem vai matar


um, nos aguardando, as duas safadas pegam o menino do meu colo e
literalmente correm para dentro, me deixando sozinha com ele.

— Onde vocês estavam Giuliana? E por que diabos você não levou
a porra dos seguranças com vocês?

— Eu... — começo sem saber o que responder.

Valentino cruza os braços em minha frente, seu rosto contorcido


pela raiva e preocupação. Seus olhos fixam-se em mim, exigindo uma
resposta imediata. Sinto um misto de medo e irritação se misturando
dentro de mim, tentando entender de onde ele tirou que não levamos os
seguranças.

— Você não viu aqueles armários? — aponto os seguranças


retirando os ursos do carro. — Valentino, não precisa fazer tanto alarde.
Fomos apenas ao colégio que Alina vai estudar e depois decidimos
comprar uns ursos para Raffaello. — Tento manter a calma em minha
voz, mas a tensão no ar é quase palpável.

Ele respira fundo, visivelmente frustrado com a minha resposta,


passa a mão pelos cabelos escuros, desgrenhando-os ainda mais. Sua
voz sai áspera e cheia de desapontamento.

— Giuliana, você sabe que nossa família está constantemente sob


ameaça. Não podemos ignorar os perigos que rondam nossas vidas. Eu
esperava mais responsabilidade de você, especialmente quando se trata
do meu filho.

Eu o encaro, sentindo-me indignada por ser acusada de algo que


não fiz.

— Valentino, eu saí com os seguranças, não consigo entender o


motivo de você dizer que fui sem eles!

— Eu recebi a ligação de que vocês saíram desacompanhadas —


finalmente ele olha para os seguranças carregando as pelúcias, e seu
rosto se enche de arrependimento. — Pelo visto foi um equívoco.

As palavras dele atingem em cheio o meu orgulho. Valentino


sempre se mostrou zeloso em relação à segurança, não só da nossa
família, como de todos que gozam de sua proteção, mas às vezes sua
preocupação beira a paranoia. No entanto, ele não tinha motivos para
agir assim, considerando que tomei cuidado.

— Eu sei — suspiro profundamente. — Eu só queria passar um


tempo com Alina, Chloe e Raffaello, achei que poderíamos desfrutar de
um momento de normalidade. — As palavras escapam de meus lábios
num sussurro. — Não sei quem te disse que estávamos sozinhas, mas
não é justo você brigar comigo sem motivos.

Olho para baixo, sentindo-me envergonhada. Valentino se aproxima


de mim, seu olhar agora mais suave, mas ainda repleto de preocupação.
Vejo que ele está tentando se acalmar, mas que está bem difícil.

— Giuliana, eu entendo que você precise de momentos assim, mas


precisamos encontrar um equilíbrio. A segurança dessa família é
fundamental, e não podemos deixar de lado as medidas que nos mantêm
protegidos — fala olhando para meus lábios, e engolindo em seco.
Provavelmente se lembrando do nosso beijo no outro dia. — Desculpe
por te acusar, obrigado por sair com os seguranças. Vou tomar
providências para saber o motivo de terem me informado errado, mas,
por favor, me prometa que nunca sairá desacompanhada.

Suspiro aliviada, eu não deveria gostar tanto de ver o Valentino


arrependido, mas isso mostra o quanto ele se importa em ter uma boa
relação comigo. Por isso decido deixar de lado a discussão, não quero
acabar com o clima.

— Está bem. Prometo que não sairei sem os seguranças. Eu só...


às vezes me sinto sufocada por toda essa proteção. Preciso de
momentos simples e comuns para me lembrar de quem eu sou, além
disso tudo. — Desabafo.

Ele segura meu rosto com as mãos, acariciando minhas bochechas


suavemente. Seu olhar reflete uma mistura de ternura e cuidado.

— Eu entendo, Giuliana. E você sabe que também preciso me


esforçar para encontrar um equilíbrio. Essa vida que levamos é
complicada, mas podemos superar esses desafios. Vamos aprender a
conciliar a segurança com momentos de normalidade. Não quero que
você, nem sua irmã se sintam sufocadas, apenas quero manter todos da
família a salvo.

Eu assinto lentamente, sentindo um peso sendo retirado dos meus


ombros. Apesar do momento de tensão, sei que Valentino está apenas
preocupado com nosso bem-estar. Ele é muito protetor e dedicado, e isso
é algo que não tem como se negar.

— Eu entendo, vamos encontrar uma maneira de equilibrar tudo


isso. Sei que você só quer o melhor para todos nós.
Ele sorri, aliviado. Seus lábios encontram minha testa em um beijo
suave, e um pouco demorado, transmitindo compreensão, e todo seu
zelo pela minha segurança.

Juntos, caminhamos para dentro de casa, prontos para enfrentar os


desafios que a vida nos reserva, encontrando o equilíbrio entre
segurança e momentos de normalidade.
— Como ele ousa? — Pergunto indignado, e Fellipo responde o
óbvio:

— Eu te disse que ele iria fazer isso. Assim como você, ele é
teimoso, e disse que em questão de negócios, se o Dom da máfia
Matinelli quer negociar com o Clube, terá de ser pessoalmente — suspira
com um meio sorriso no rosto — ele falou que se você não for, pode
começar a cavar túneis e dar a volta no estado, porque pelo território dele
você não passa.

Estou a ponto de mandá-lo a merda, mas sei que especificamente


nessa carga, terei de engolir meu orgulho e marcar uma reunião com o
maldito, mas naquele chiqueiro eu não vou.

— Marque uma reunião aqui na sede, aí converso com ele.

— Valentino, da mesma forma que você está relutando falar com


ele e disse que lá você não vai, ele também deixou claro que só aceita
falar com você porque eu pedi, mas que nem aqui, nem na nossa casa
ele vai.

— Merda! — Reclamo com raiva — Isso está se tornando um


verdadeiro jogo de poder, Fellipo. Eu entendo que Matthew queira impor
suas condições, mas é irritante lidar com sua teimosia — suspiro
exasperado — precisamos resolver isso de uma vez por todas. Diga a ele
que concordo em me encontrar, mas em um local neutro, onde ambos
possamos nos sentir confortáveis. Sugira um restaurante, ou até mesmo
um hotel, podemos nos encontrar no bar do lugar.

Fellipo coça o queixo, pensativo, enquanto considera minha


proposta. Ele sabe que não podemos nos dar ao luxo de perder essa
negociação, mas também entende minha aversão em pisar naquele
"chiqueiro" que chamam de Clube, os MC Hell Hounds.

Finalmente, ele suspira e acena com a cabeça.

— Certo, vou transmitir sua sugestão ao Matthew e ver o que ele


diz. Tenho certeza de que ele também quer resolver essa questão, afinal,
é do interesse de ambas as partes, mais da nossa, mas o lucro financeiro
que ele terá é irrecusável — ele diz levantado de onde estava sentado —
vou insistir na importância de encontrarmos um lugar neutro e seguro
para a reunião.

Agradeço a compreensão de Fellipo e observo enquanto ele pega


seu telefone para fazer a ligação. Meu irmão do meio pode ser difícil,
mas ele sempre teve uma queda por Fellipo, nosso caçula, e, se alguém
pode persuadi-lo, é ele.

Enquanto espero ansiosamente pela resposta, minha mente


começa a divagar sobre a complexidade da situação em que estamos
envolvidos. Não gosto, mas tenho que admitir que o Moto-Clube é uma
das organizações mais perigosas e influentes daquele lado da cidade, e
nós, a Máfia Martinelli, não estamos muito atrás. Essa negociação pode
definir o futuro dos negócios da nossa organização, e não posso permitir
que Matthew nos enfraqueça com suas exigências ridículas.
Fellipo desliga o telefone e me olha com uma expressão de alívio.

— Ele concordou. Aceitou nos encontrar em um bar no centro da


cidade, me passou o endereço por mensagem — me mantém informado
— acredito que tenhamos feito um avanço importante — sorri ao dizer.

Não sei se ele se refere a mercadoria e aos negócios, ou acha que


só porque no momento preciso da colaboração do Matthew, nós iremos
voltar a nos falar.

Um sorriso sutil e intrigado surge em meus lábios. Parece que o


confronto iminente será em um ambiente mais civilizado. Isso me dá a
sensação de que tenho alguma vantagem.

— Ótimo trabalho, Fellipo. Agradeço por sua ajuda nessa questão.


Agora, precisamos nos preparar para a reunião. Vamos reunir nossa
equipe de confiança em estratégia, e traçar um plano sólido. Não vou
deixar que Matthew me subestime.

Me levanto e caminho em direção à porta, determinado a enfrentar


essa situação de frente. Sabemos que essa reunião não será apenas
uma simples conversa, mas sim, um teste de poder e controle. Não só
controle por negócios, encarar o homem que matou minha ex esposa, e
não poder fazer nada a respeito, me destrói por dentro. Mas dessa vez,
vou garantir que sairemos por cima.

— Val? Posso entrar? — Chloe pede colocando só a cabeça na


porta do meu escritório.

— Lógico.

— Soube que você vai conversar com o Matt.


Olho para ela com os olhos estreitos, sei que o Fellipo não ia
esconder isso, deu para perceber as intensões dele, mas não vai rolar.

— Não estou levantando bandeira de trégua Chloe, não se anima


— falo impaciente, suspiro passando a mão pelo cabelo, estou cansado e
tenso.

Então caminho até a janela, observando o movimento do lado de


fora por um momento, antes de responder à Chloe.

— Não sei por que Fellipo achou que isso seria uma boa ideia. Pedi
para ele convencer o Matthew, já para não ter de vê-lo novamente, não
sei se conseguirei me controlar — olho para ela com todos meus
tormentos no olhar, às vezes esqueço que ela é apenas uma menina de
dezesseis anos. — Ele não entende a magnitude do que aconteceu,
Chloe. Matthew tirou a vida da mulher que eu amava, da mãe do meu
filho. Não é algo que possa ser simplesmente esquecido ou perdoado.

Apesar de ainda ter dúvidas quanto a culpa do meu irmão, não


posso demonstrar as pessoas, os meus reais sentimentos. Para todos, o
Matthew é um traidor que fugiu da morte, criando uma organização para
o proteger de mim. Até descobrir a verdade por trás do assassinato da
Francesca, terei de me manter firme na aparência sobre a culpa do meu
irmão.

Chloe se aproxima lentamente e coloca a mão no meu ombro, em


um gesto de apoio silencioso.

— Eu entendo, Val. Sei o quanto você sofreu com a perda da


Francesca, eu era um pouco nova, e quase não ficava aqui na mansão,
mas me lembro. Mas talvez seja uma oportunidade para expressar tudo o
que você sente, colocar as cartas na mesa. Talvez seja a chance de
vocês se entenderem de alguma forma.
Olho para Chloe, meus olhos mostrando uma mistura de dor, raiva
e tristeza.

— Eu não sei se sou capaz de perdoá-lo, Chloe. O que ele fez foi
imperdoável. Eu tentei seguir em frente, criar meu filho da melhor forma
possível, mas a cicatriz nunca desapareceu. E eu temo que, se eu
permitir que ele entre de volta em minha vida, essa ferida seja aberta
novamente. Cada vez que olho para ele, a cena de Francesca morta,
ensanguentada em seus braços, vem nítida em minha mente.

Chloe mantém o olhar fixo em mim, compreendendo minha dor,


mas também sabendo que guardar rancor e ódio só me causará mais
sofrimento, eu sei disso, mas é mais forte que eu, não sei como, e nem
sei se quero perdoar meu irmão pelo que fez. Eu só preciso da verdade,
nada mais do que isso.

— Eu entendo sua hesitação, Val. E não estou dizendo que você


precisa perdoá-lo. Mas talvez, ao menos, ouvi-lo e deixar que ele saiba
como você se sente, possa ser um passo importante para sua própria
cura. Não precisa ser um perdão imediato, apenas uma conversa
honesta.

Olho novamente para a janela, pensativo. Sei que Chloe está certa,
no dia que tudo aconteceu, não deixei que ele falasse nada, e quando o
torturei por dias, ainda assim, não consegui acreditar em uma única
palavra que saia de sua boca. Mesmo que a ideia de encarar Matthew
seja extremamente difícil.

— Tudo bem, Chloe. Vou conversar com ele. Mas será sobre
negócios, e não prometo nada. Não sei se algum dia serei capaz de
perdoá-lo, mas, pelo menos darei uma chance para que ele entenda a
dor que me causou.
Chloe sorri suavemente, orgulhosa por eu estar disposto a
enfrentar essa conversa tão difícil.

— Tenho certeza de que isso é um grande passo para você, Val.


Estou aqui para apoiá-lo, não importa qual seja a sua decisão no final.
Você é um homem forte e corajoso.

Retorno seu sorriso sincero, sei que foi o desgraçado do Fellipo


que mandou ela vir aqui, mas me sinto agradecido por ter uma amiga tão
compreensiva ao nosso lado. Mesmo que ela não tenha idade para ser
tão madura assim, e me pergunto, quando que aquela pirralha de maria
chicas cresceu que não percebi?

— Obrigado, Chloe. Sua amizade significa muito para mim. E


obrigado por estar aqui para nos ajudar a enfrentar isso.

Dou-lhe um abraço breve, compartilhando um momento de apoio


mútuo. Enquanto me preparo psicologicamente para encontrar meu
irmão e confrontar o passado doloroso, sei que a jornada à minha frente
será desafiadora, mas também necessária para minha própria cura.
Desço do carro olhando tudo a minha volta.

O desgraçado não foi no bar que combinamos, e estou com a carga


entrando hoje à tarde no país, então, mesmo puto com isso, eu venho
com o Fellipo, no Clube de motoqueiros que o Matthew fundou quando
eu o expulsei da nossa família.

A atmosfera estava carregada de tensão, e as paredes de tijolos


escuros pareciam exalar uma energia palpável. Mas eu estava
determinado a confrontar meu irmão mais novo sobre a recente falta de
comunicação entre nós. Não que eu fizesse questão, mas era um
assunto importante.

Ao avistar Matthew, com sua jaqueta de couro repleta de distintivos


do moto clube, eu senti um aperto no peito. Não nos víamos
pessoalmente há anos, desde que Matthew foi culpado de assassinar
minha esposa e o expulsei. E agora, pelo fato dele não comparecer ao
encontro de negócios, crucial, que havíamos marcado, estou aqui, nesse
lugar estranho e fétido, isso cheira a um misto de tabaco, perfume de
vagabunda e sexo.

Sua ausência durante esses anos, abriu uma fenda profunda entre
nós, abalando a dinâmica que antes tínhamos para conversar um com o
outro.

Me aproximei, encarando o olhar desafiador de Matthew.

— Há quanto tempo, irmão — disse ele, sua voz carregada de uma


mistura de raiva, sarcasmo e tristeza. — Não imaginei que o assunto
fosse tão importante para trazer o poderoso Dom Valentino aqui —
debocha com uma garrafa de whisky na mão.

Matthew estava com uma sobrancelha erguida, suas feições


endurecidas.

— Eu cumpro com minha palavra ao contrário de você — respondi


com a voz áspera — que adora enganar as pessoas — respondo
sabendo que ele não falava do encontro que havíamos marcado para
momentos antes. — Agora que estou aqui, haja como homem e vamos
tratar de negócios.

Fellipo observava a tensão entre nós, com preocupação estampada


no rosto. Ele sabia que algo precisava ser feito para apaziguar a situação
antes que escalasse para algo irreversível. Com uma voz calma, ele
interveio:

— Val, Matt, por favor, escutem. Não precisamos nos afastar uns
dos outros. Matthew, entendo que o moto clube seja importante para
você, mas precisamos encontrar uma maneira de equilibrar nossas
responsabilidades familiares e profissionais.

Eu, assim como Matthew, olhamos para Fellipo, soltando labaredas


dos olhos, e depois nossos olhares se encontraram novamente, faíscas
de emoção pairando no ar. Eu não estava pronto para encarar Matthew
novamente, depois de todo esse tempo. Ele ainda tem as respostas que
eu preciso, a verdade que busco desde que a Francesca morreu, mas se
recusa a me dar, o que fará responder ao mistério sobre a morte dela.

Mesmo após anos, não consegui decifrar como o Matthew acabou


na cena do crime, tudo que ele falava enquanto o torturava era “eu não
sei”. Mas eu o vi com a arma e a minha esposa morta, se não fosse a
maldita dor me dizendo para não matar meu irmão, e que ele poderia ser
inocente, eu o teria destroçado.

Suspirei, deixando um pouco da minha guarda baixar. Mas


preparado para qualquer confronto imediato.

— Você está certo, Fellipo. Não podemos permitir que nossas


diferenças atrapalhem essa negociação.

— Não foi exatamente isso que eu quis dizer — ele responde com
uma careta de desagrado.

Matthew assentiu, seu semblante mais suavizado.

— Talvez possamos encontrar um acordo temporário. Posso me


esforçar mais para equilibrar minhas obrigações e estar presente nos
momentos importantes. Mas tenho minhas condições...

Fellipo sorriu, percebo que ele sentiu um alívio se espalhar, mesmo


não sendo exatamente o que ele esperava, mas era alguma coisa. Pelo
menos não nos matamos, ainda.

— Ótimo. Acho que é um bom começo. Afinal, somos uma família,


e como tal, devemos estar sempre aqui um para o outro,
independentemente dos desafios que enfrentamos.

— Família não mata um ao outro — respondo com sangue nos


olhos.
— Não força Fellipo — Matthew fala desconfortável, ignorando a
minha alfinetada.

Olho para o Fellipo com semblante de que concordo com o


Matthew. É impossível apagar o que aconteceu naquele dia sem que a
verdade venha à tona, e enquanto o Matthew, a única testemunha, não
falar a verdade, por mais que eu queria acreditar na sua inocência, não
poderei deixar de duvidar dele.

Concordamos em abandonar o passado por um tempo, pelo menos


até tudo isso acabar, a tensão entre nós, começou a se dissipar,
substituída por uma longa conversa sobre rotas e estratégias. Sabíamos
que seria um processo longo, mas estávamos dispostos a trabalhar
juntos nesse caso, porém, para restaurar a confiança perdida e fortalecer
os laços familiares como meu irmão caçula queria, aí seria outra
conversa, assunto para outro dia, ou outra encarnação.

Sai do moto clube com a cabeça a mil, vários pensamentos sobre o


que estava por vir, diante dos desafios que ainda enfrentaríamos.

****

— Tudo bem? — Ouço a voz doce e melodiosa da Giuliana ao meu


lado.

Mesmo de olhos fechados, sei que está parada na minha frente.

Abro os olhos lentamente e encontro o rosto suave de Giuliana


iluminado pelos raios do sol que adentram pela janela da sala de estar.
Seu sorriso acolhedor traz uma sensação de calma instantânea, apesar
das turbulências que nos cercam.

— Tudo bem — respondo, tomando sua mão delicada na minha. —


Apenas algumas preocupações rondam minha mente ultimamente —
tento disfarçar a tensão e preocupação que estou.

Giuliana se senta ao meu lado, seus olhos curiosos buscando os


meus.

— O que te preocupa, Valentino? Posso te ajudar? Podemos tentar


enfrentar qualquer coisa se estivermos todos juntos, passar por
dificuldades e problemas sozinho nunca é bom, muito menos saudável.

Respiro fundo, buscando coragem para compartilhar com ela meus


pensamentos mais profundos, não sou de compartilhar, muito menos
sentimental, mas rever o Matthew mexeu comigo mais do que eu gostaria
de admitir, afinal, ele fez o que fez, mas ainda é meu irmão.

— Sabe, Giuliana, nunca conversamos sobre o futuro e o


casamento que nos foi imposto, e às vezes sinto-me dividido. Por um
lado, sei que o amor pode ser genuíno um dia, e que até podemos
construir uma vida juntos, se tentarmos. Por outro lado, ainda tenho
dificuldade em aceitar essa imposição e tudo o que ela representa. —
Giuliana aperta minha mão com ternura, mostrando compreensão.

— Eu entendo. Não foi uma escolha fácil para nenhum de nós, se


bem que para mim, nem chegou a ser uma escolha e sim uma
informação. Mas..., lembre-se de que o amor, o companheirismo pode
florescer, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Se estivermos
dispostos a lutar por nós, podemos encontrar a felicidade, ao invés de
ficarmos presos a ilusão do “será”.

Sorrio ao sentir o apoio dela, mas há algo mais que preciso


compartilhar. Suspiro e começo a contar sobre meu encontro com
Matthew, meu irmão, no dia anterior.
— Giuliana..., eu encontrei Matthew ontem. Conversamos sobre
negócios, mas o passado, tudo o que ele fez, e... — Fecho os olhos
soltando o ar sentindo um peso enorme no peito — eu não consigo
perdoá-lo. Suas ações trouxeram tanta dor para mim e nossa família, e
eu ainda carrego essa cicatriz.

Giuliana mantém o olhar firme em mim, seus olhos transbordando


compaixão.

— Entendo sua dor. O que Matthew fez foi terrível, e as feridas


podem demorar a cicatrizar. Mas você precisa encontrar uma maneira de
seguir em frente. Guardar rancor só nos prende ao passado, e não
podemos permitir que isso atrapalhe nosso futuro — diz circulando o
polegar em cima da minha mão, sem me olhar nos olhos — ela era
minha irmã, eu também a amava, mas ficar com isso preso e guardado
no peito, não a trará de volta.

Aceno com a cabeça em concordância, deixando suas palavras


penetrarem em meu sistema. Sei que Giuliana está certa. A dor e a
mágoa só nos enfraquecem, e não quero permitir que o passado dite o
curso do meu futuro e da minha felicidade.

— Você está certa, preciso encontrar a força dentro de mim para


perdoar Matthew, mesmo que seja um processo difícil. Impossível eu
diria. Eu mereço uma vida livre dessas correntes do passado, nós
merecemos, e estou disposto a fazer o que for preciso para alcançá-la.

Giuliana sorri suavemente, seus olhos brilhando de orgulho.

— Eu sei que você é capaz, Valentino. E estarei aqui a cada passo


do caminho se me deixar entrar — morde o lábio inferior, um ato que
notei que ela faz quando está nervosa — Posso ter sido um animal
irracional a princípio, mas é que costumo agir por impulso, e só paro para
pensar nas consequências depois — suspira apertando as mãos em seu
colo — mas juntos, podemos superar qualquer obstáculo, e construir um
futuro que seja verdadeiramente nosso, já que temos de nos casar, e não
existe outra saída, podemos fazer disso uma coisa boa, ou podemos
passar o resto dos nossos dias infernizando o outro — sorri travessa.

Não resisto ao impulso e envolvo Giuliana em um abraço apertado,


sentindo sua presença reconfortante. O futuro pode ser incerto, e os
desafios podem ser muitos, mas com ela aqui, ao meu lado, tenho a
certeza de que encontrarei a felicidade que tanto desejo. Juntos,
podemos ser mais fortes, prontos para enfrentar o desconhecido e
construir nosso próprio destino.

Enquanto permanecemos abraçados, Giuliana coloca sua cabeça


no meu peito, ouvindo as batidas do meu coração. A tranquilidade que
ela traz e transmite nesse instante, é incomparável, e percebo que,
mesmo com todas as nossas diferenças e desafios, nossa conexão é
profunda e genuína.

Passamos algum tempo em silêncio, apenas desfrutando da


presença um do outro. Aquele momento é um lembrete de como, é
importante nos apoiarmos mutuamente, mesmo nos momentos mais
difíceis.

Acredito que podemos encontrar um equilíbrio entre nossas


personalidades e lutar pelos nossos sonhos, construindo um casamento
sólido e duradouro.

Finalmente, Giuliana quebra o silêncio com um suspiro suave.

— Valentino, prometo que farei o meu melhor para ser uma esposa
amorosa e compreensiva, não garanto que conseguirei ser assim o
tempo todo, não é da minha natureza — sorri — não podemos mudar o
passado, mas podemos moldar nosso futuro. Vamos aprender a superar
nossas diferenças e cultivar um amor que transcenda todas as
adversidades, somente assim poderemos seguir em frente.

Acarinho seus cabelos suavemente e respondo com sinceridade:

— Já que estamos fazendo promessas... prometo que irei trabalhar


para perdoar Matthew — fecho os olhos trincando o maxilar — não será
fácil, só a ideia me dá um nó no peito, mas sei que é necessário, para
nossa própria felicidade. E, acima de tudo, prometo me dedicar a você
incondicionalmente, com todo o meu coração. Vou aprender a te amar
como você merece menina — beijo o alto de sua cabeça, que está
recostada em meu peito. — Não sou um homem bom ou generoso, tenho
um apelido nada amável no meio que vivemos, mas família para mim é
sagrado, e vou honrar a que tenho todos os dias.

Ela ergue o rosto, seus olhos brilhando de emoção e esperança.

— Sabe Valentino, eu acredito em nós, que podemos dar certo, a


princípio eu fiquei tão irritada por saber que seria forçada a me casar que
não aceitei tudo muito bem, como se espera de uma moça bem-educada.
Mas estamos juntos nessa jornada, e sei que podemos enfrentar
qualquer desafio que a vida nos apresentar. Seja lutando contra nossos
próprios demônios, ou construindo um futuro sólido, estarei ao seu lado,
agora e sempre.

Não resisti ao peso de suas palavras, e a puxei para mais perto,


beijando de leve seus lábios, mordiscando o inferior, assim como ela faz
quando está ansiosa ou nervosa. Selamos nossas promessas nesse
beijo, carregado de desejo e determinação, comecei manso, calmo, mas
como aconteceu da primeira vez que a toquei, o desejo fala mais alto, e
devoro sua boca com fome, engolindo seus suspiros e gemidos.
Minha garota aprende rápido, e segue direitinho tudo que faço,
respondendo aos impulsos de seu corpo perfeito. Apertando os seios
contra meu corpo, buscando mais do beijo. Sinto sua língua tímida
explorar minha boca, e quase urro de tesão com esse movimento tão
singelo.

Naquele instante, percebo que, embora possamos ter nossas


diferenças e brigas, nosso compromisso um com o outro é maior do que
qualquer obstáculo. Juntos, estamos dispostos a lutar pelo amor que um
dia poderemos sentir de verdade, e criar um casamento que supere
todas as expectativas.

Com Giuliana ao meu lado, sinto-me fortalecido e confiante de que


podemos transformar nossa história em algo extraordinário. O amor
verdadeiro exige trabalho, sacrifícios e paciência, mas sei que vale a
pena lutar por ele.

Enquanto enfrentamos os desafios que estão por vir, sei que, com
Giuliana ao meu lado, teremos a coragem necessária para enfrentar
qualquer coisa. Nossos caminhos estão entrelaçados de uma maneira
única, e estou grato por alguém tão especial ter invadido minha vida
desse jeito, ter com quem compartilhar essa jornada não tem preço.

Juntos, caminharemos em direção ao futuro, abertos para todas as


possibilidades que ele pode nos oferecer. E, independentemente do que
nos aguarda, sei que nossa determinação é forte o suficiente para
superar qualquer obstáculo e nos guiar para uma vida plena e feliz
juntos.
Estava ansiosa, hoje foi meu primeiro dia de aula, e estou muito
animada, os professores são ótimos, e conheci pessoas bem legais, o dia
foi produtivo, e arrisco dizer que me darei muito bem no semestre que
terei pela frente.

Quando saio do prédio, congelo no lugar ao ver meu motivo


particular de tortura.

Cheguei a Chicago decidida a enfrentar o Dom, a não me casar se


conseguisse convencer a todos, mas desde que eu e Alina chegamos,
que meus pensamentos mudaram, na verdade, não sendo hipócrita, eu
não me lembrava do Valentino, nem de quando ele se casou com
Francesca, mas quando o vi em sua sala na sede da organização, senti
minhas mãos suarem frio e uma dança vertiginosa de borboletas
invadirem meu estômago.

E tudo só se intensificou depois que ele me beijou pela primeira


vez. Como estava vulnerável, e me deixando presenciar isso naquele dia
em que me contou sobre a conversa com Matthew, seu irmão, me fez
repensar tudo até agora.

Ele tem fama de ser cruel, insensível, arrogante e indiferente. E sei


que ele é tudo isso e um pouco mais. Mas pelo que notei, isso, é com
pessoas de fora da família, e nem me refiro a máfia, e sim seus parentes
biológicos.

— Me vigiando? Ou sentiu saudade mesmo? — Pergunto


brincando, para aliviar o susto inicial.

— Não posso vir buscar minha noiva? — Ele pergunta com um


sorriso zombeteiro no rosto.

— Buscar, ou marcar território?

Ele finge pensar, sobre minha pergunta, e abrindo um sorriso lindo,


mas assustador responde:

— Os dois. Entra, vamos almoçar — diz abrindo a porta do carro.

Olhei para ele, depois para o carro que ele mantinha a porta aberta
para eu entrar, um misto de curiosidade e nervosismo estampava meu
olhar. Eu sabia que um encontro com ele poderia ser perigoso, arriscado
até, digo... para minha sanidade..., mas algo dentro de mim, me impeliu a
aceitar o convite para almoçar.

Talvez fosse o magnetismo irresistível que esse homem exerce


sobre mim, ou talvez fosse a vontade de explorar essa conexão intensa
que surgiu entre nós dois. Sem pensar duas vezes, entro no carro,
sorrindo aberto, e ansiosa por esse almoço.

Curiosa pelo que está por vir, o que ele pode querer conversar que
não pode ser em casa?

Enquanto ele dirige pelas movimentadas ruas de Chicago, sinto


meu coração bater acelerado. Tento me recompor, puxando assunto para
quebrar o silêncio incômodo que se instalou entre nós:
— Além de estudar, você sabe o que pretende fazer da vida? Já
que ao que parece você sabe de tudo, sempre —ele me observa
intercalando com a estrada, mas demonstrando curiosidade.

— Confesso que ainda não parei para pensar nisso — suspiro


cansada — estava tão focada em escapar do casamento e em sobreviver
nesse mundo perigoso, que acabei deixando de lado meus próprios
sonhos e desejos.

Ele me olha por um momento, um olhar profundo e pensativo.


Parece ponderar minhas palavras antes de responder:

— Giuliana, acredito que todos nós enfrentamos momentos em que


precisamos reavaliar nossas vidas e descobrir o que realmente
queremos. O importante, é que você tenha coragem para explorar novos
caminhos e não se prenda a um destino que não deseja, apesar que o
casamento não é algo que possamos simplesmente ignorar e recusar.
Mas em outros assuntos, a vida é cheia de possibilidades, e estarei aqui
para te apoiar, seja qual for a sua escolha.

A sinceridade nas palavras de Valentino me faz sentir confortada.


Olho pela janela, admirando a paisagem da cidade, pensando em todas
as oportunidades que estão à minha frente. Apesar das incertezas, uma
chama de esperança começa a queimar dentro de mim.

Esse casamento com Dom Valentino pode não ser de todo ruim
como imaginei a princípio.

Finalmente, chegamos a um charmoso restaurante italiano,


conhecido por suas deliciosas massas e ambiente acolhedor. Valentino
estaciona o carro e entramos. O aroma de alho e ervas flutua no ar,
despertando meu apetite.
Nos sentamos à mesa, e fazemos nossos pedidos, e a conversa flui
naturalmente. Me sinto bem com ele, estranhamente, me sinto segura e a
vontade, conto para ele como foi meu primeiro dia de aula, sobre os
professores inspiradores e as amizades que comecei a fazer.

Percebo que, aos poucos, estou me descobrindo, e descobrindo


mais sobre meu futuro noivo, além das camadas que ele se impõe, e
sinto que podemos ser muito mais que as amarras, regras e expectativas
impostas sobre nós.

Ele escuta atentamente cada palavra que falo, com seus olhos fixos
em meu rosto, e em cada gesto meu. Ele parece genuinamente
interessado em conhecer e saber mais sobre mim.

Enquanto Valentino me ouve atentamente, percebo uma mudança


em sua expressão. Seus olhos, que costumavam ser tão intensos e
controlados, agora exibem um brilho suave de admiração. É como se ele
estivesse verdadeiramente conectado comigo, interessado em mergulhar
nas profundezas da minha alma.

À medida que a conversa avança, compartilhamos histórias e


experiências, revelando nossos desejos e planos, ele fala com imenso
carinho sobre Raffaello, é nítida a adoração que ele tem pelo filho.
Descubro que, por trás da fachada fria e implacável que ele projeta,
existe um homem complexo, alguém que busca um propósito além dos
limites da máfia.

Valentino me conta sobre seus próprios desafios e dilemas, as


pressões que enfrenta como Dom, responsável pela família, e os
conflitos que isso gera dentro dele. Suas palavras carregam uma mistura
de tristeza e determinação, revelando um anseio genuíno por uma vida
mais significativa.
— Confesso que não esperava que fosse me buscar, muito menos
que pudéssemos conversar assim... — Comento admirada com o dia
agradável que estou tendo em sua companhia.

— Eu também não esperava que fosse ser tão agradável — ele


responde tomando um bom gole de seu vinho.

— Sei ser agradável, noivo — ironizo, mordendo um pedaço de um


pãozinho que, foi posto na mesa.

Ele se inclina para falar algo, mas o garçom chega bem na hora, e
ele volta a sua postura rígida, observando tudo colocado na mesa, e
pedindo outra garrafa de vinho.

À medida que a comida é servida, desfrutamos das iguarias


italianas, mergulhando em sabores deliciosos e explorando a arte
culinária. Há um senso de cumplicidade que se estabelece entre nós,
como se estivéssemos compartilhando um segredo só nosso.

— Sou apaixonada por macarrão com cogumelos ao molho branco


— falo me deliciando com meu prato, fechando os olhos para sentir a
textura e o prazer do sabor.

— Italiana de araque — ele brinca descontraído.

— Minha mama estaria me excomungando agora — digo rindo


também — gosto de molho vermelho, mas não se comparar com o
branco.

Enquanto saboreio cada garfada, uma pergunta começa a tomar


forma em minha mente, ganhando coragem para escapar dos limites dos
meus pensamentos. Decido finalmente expressar o que venho
guardando dentro de mim:
— Valentino, a princípio tentei escapar do casamento e encontrar
meu caminho, mas literalmente mudei de opinião — sorrio limpando a
boca com o guardanapo, e recolocando-o em meu colo — mas há algo
que desejo, mas preciso de você para tornar realidade. Quero que nosso
casamento seja mais do que uma mera união de conveniência. Quero
que seja uma parceria baseada no respeito, amor, e compreensão
mútua. Eu quero que possamos construir uma vida juntos, onde
possamos perseguir nossos próprios sonhos e, ao mesmo tempo, apoiar
e inspirar um ao outro — suspiro olhando para meu prato, sem coragem
de encará-lo — eu mereço isso, quero um casamento de verdade.

Enquanto pronuncio essas palavras, meu coração bate forte dentro


do peito. Me atrevo e olho em seus olhos, buscando sinais de aceitação
ou rejeição. Seus lábios se curvam em um sorriso suave, e um brilho
intenso toma conta de seus olhos escuros.

— Giuliana, desde o momento em que pus os olhos em você, algo


mudou dentro de mim. No momento que invadiu minha sala na sede,
exigindo e impondo, eu tive vontade de estrangulá-la pela ousadia e
audácia. Mas eu gostei da atitude, não quero uma pessoa anulada ao
meu lado, não quero uma esposa vitrine, eu também desejo um
casamento que vá além das aparências, um casamento baseado em
amor e respeito mútuos, como o que tive com Francesca. Quero estar ao
seu lado enquanto perseguimos nossos sonhos, e prometo que farei tudo
o que estiver ao meu alcance para te apoiar e te proteger — fala
suspirando profundamente — não sou dado a me abrir, ou a
sentimentalismos, mas não sei o que você tem que me aflora esse lado
sentimental — torce o nariz em desagrado — acho que por ser sincera
consigo, e expor sem camadas o que sente, me sinto livre para fazer o
mesmo.
As palavras de Valentino ressoam em meu coração, e a esperança
queimando dentro de mim se intensifica. Em meio a essa conexão cada
vez mais profunda, percebo que, talvez, nosso casamento não seja uma
sentença, mas sim uma oportunidade de construir algo especial e único.

— E quanto ao Raffaello — eu hesito — tenho me apegado muito a


meu sobrinho, e ainda não sei se me apresento a ele como tia ou...

— Tudo bem — Valentino sorri caloroso — quando tivermos nossos


filhos eles vão te chamar de mãe, é natural que o Raffaello faça o
mesmo. Não vai me incomodar que ele te veja assim, na verdade, eu
espero que você possa ser uma mãe para ele.

— Farei o meu melhor — sorrio com as bochechas em chamas por


pensar que um dia terei meus filhos com o Valentino, e aliviada por saber
que Rafaello pode ser meu, vou amá-lo como a minha irmã fazia, e
garantir que, apesar dele poder sentir a falta dela, nunca sentirá a
ausência de uma mãe.

Enquanto a tarde avança, continuamos nosso almoço, rindo,


conversando e compartilhando planos para o futuro. Há um senso de
empolgação e antecipação no ar, uma sensação de que estamos no
limiar de algo extraordinário.

Saímos do restaurante de mãos dadas, caminhando pelas ruas


movimentadas de Chicago. Embora o futuro ainda seja incerto e a máfia
esconda perigos desconhecidos, sinto uma coragem renovada.

Com Valentino ao meu lado, sinto que posso enfrentar qualquer


desafio que a vida coloque em nosso caminho.

Enquanto a cidade se ilumina ao anoitecer, nossos passos seguem


firmes em direção ao que está por vir.
Juntos, estamos prontos para enfrentar o desconhecido, construir
um futuro cheio de possibilidades e, quem sabe, encontrar a felicidade
que sempre desejamos.
Estamos todos reunidos na sala de estar, eu, Alina, Chloe, o
pequeno Raffaello que está no colo do pai, e o Fellipo. É uma noite
aconchegante de sábado, e decidimos assistir a um filme juntos. A sala
está decorada com luzes suaves, e o cheiro de pipoca recém-estourada
paira no ar.

Enquanto o filme começa a rolar na tela, estamos todos envolvidos


na trama, rindo e comentando as cenas. As risadas de Alina e Chloe são
contagiantes, enchendo o ambiente com uma alegria efervescente.
Raffaello segue o embalo das risadas, batendo palminhas, quando a
comédia acontece.

Não sei se ele entende, mas ele aproveita o colo do pai, deitado,
preguiçoso no peito, batendo as pernas em sua coxa. Valentino tem a
mão na barriga do filho garantindo que ele não caia. Eu seguro a
mãozinha de Rafaello não conseguindo resistir a fofura, os cabelos
cacheados bagunçados de tanto que ele coça a cabeça.

Por vezes, olho para o Fellipo, que está sentado ao meu lado, e
percebo um olhar preocupado em seus olhos. Parece que algo está
incomodando-o, só não faço ideia do que possa ser.
De repente, o celular do Valentino toca. Sua expressão muda para
tensa, o rosto marcado por linhas de preocupação. Ele me entrega o
Raffaello que reclama da ausência do pai. Ele passa por nós sem dizer
uma palavra e vai direto para o escritório, fechando a porta com um
baque surdo. Todos nós ficamos surpresos com o comportamento
incomum, ele é estourado, nervoso, mas não dentro de casa, para estar
assim, algo aconteceu.

Fellipo diz em voz baixa, levantando-se da poltrona em que estava


esparramado assistindo ao filme conosco:

— Eu vou lá conversar com ele. Algo deve estar acontecendo —


ele está visivelmente preocupado com o irmão e parece decidido a
descobrir o que está errado.

Mas antes que ele possa dar um passo em direção à porta, eu o


seguro pelo braço suavemente, dizendo:

— Deixe comigo, Fellipo. Eu vou falar com ele.

Ele me olha um pouco hesitante, mas com um aceno afirmativo me


deixa passar, beijo a bochecha do Raffaello entregando-o ao tio,
confiando em minha determinação.

Suspirando, ele se senta novamente, fixando os olhos na porta do


escritório.

Alina e Chloe olham para mim com curiosidade e apoio. Sinto uma
mistura de apreensão e coragem enquanto me levanto e me dirijo à porta
do escritório.

Respiro fundo antes de bater levemente na porta, esperando por


uma resposta. Há um momento de silêncio tenso antes de Valentino dizer
em voz baixa e abatida:
— Entre! — Empurro a porta devagar e entro no escritório.

Ele está sentado em sua cadeira, olhando para o horizonte com um


olhar distante. Seus ombros estão curvados, como se estivesse
carregando um peso invisível sobre eles. Observo-o por um instante,
antes de me aproximar silenciosamente e sentar-me na cadeira em frente
à sua mesa.

— Valentino, o que está acontecendo? Você saiu bruscamente da


sala, parecia estar muito nervoso — pergunto suavemente, e muito
preocupada com ele.

Ele suspira profundamente antes de responder, sua voz carregada


de angústia.

— Recebi uma ligação recentemente... a carga que chegaria e que


faríamos a rota pelo leste de Chicago foi interceptada, e como os
membros do Hell Hounds, moto clube do Matthew estavam fazendo a
escolta, eles partiram para cima.

Percebo que ele está falando no automático, que mal se deu conta
que está desabafando comigo. Então me levanto e caminho em sua
direção, segurando seu braço em um gesto de apoio.

— Matthew foi ferido... — fala baixo, preocupado, mas sinto o


turbilhão em seu interior, posso ver que também está confuso. — Ele foi
levado em estado crítico no hospital, a carga foi entregue conforme o
combinado, sem baixas fatais, mas muitos feridos, de ambos os lados,
tanto nosso quanto do Clube.

— Você vai ao hospital? — Pergunto ainda segurando seu braço


com as duas mãos, louca para abraçá-lo, mas respeitando seu desabafo.
— Preciso ir — Sua voz vacila, revelando a profunda dor que ele
está sentindo — mas não sei se devo.

Meu coração se aperta com compaixão. Compreendo a dor de


Valentino e sua necessidade de estar no controle de suas emoções, mas
também a angústia e culpa por se preocupar com Matthew.

Em memória e respeito a morte da minha irmã, sua falecida


esposa, ele cultiva até hoje esse ódio, mas senti, desde que ele me
contou sobre sua conversa com seu irmão mais novo, que aquele
momento, não teve mais tanto impacto assim, e que isso o machuca
profundamente, pois ele sente que está traindo a memória da Francesca.

Eu coloco minha mão em cima da sua, transmitindo meu apoio


silencioso.

— Valentino, eu sinto muito. É claro que você deve ir para o


hospital. Vá com o Fellipo, nós, eu, Alina e a Chloe, vamos cuidar das
coisas por aqui e ficar para apoiar você quando voltar — digo, tentando
oferecer algum conforto — Tenho certeza de que quando Matthew tiver
alta, ele precisará de cuidados.

— Ele não virá para cá, aí já é pedir demais Giuliana.

— Não disse para trazê-lo para cá, mas que ele precisará do apoio
da família, dos irmãos dele.

Ele olha para mim com gratidão e tristeza nos olhos.

— Obrigado. Como você consegue ser tão boa? Ele foi o


responsável pela morte da sua irmã. — Tem uma dor profunda em sua
íris.
— Francesca sempre ensinou o perdão a mim e a Alina, pode não
parecer, mas eu era muito briguenta — ele ri sarcástico e sento em seu
colo, abraçando seu pescoço — quando eu brigava com alguém,
Francesca me fazia refletir por horas sobre meu erro e depois pedir
desculpas e perdoar, pois o passado só tem força para nos machucar,
enquanto o remoemos. Nada vai trazer minha irmã de volta, mas o
Matthew continua vivo e eu suspeito que você teve motivos para o deixar
viver, uma traição como a dele seria imperdoável.

— Não tenho certeza se ele foi o assassino — Valentino confessa,


é a primeira vez que escuto isso — as coisas naquele dia apontam para
o Matthew, mas eu sinto bem aqui — toca o coração — que ele é
inocente, por isso não consegui fazer nada. Mas não posso admitir a
verdade, e tenho procurado sozinho pelas peças do que aconteceu
naquela noite.

— Você tem a mim — toco seus lábios de leve — converse comigo


sempre que sentir que é demais, e vamos descobrir o que realmente
aconteceu. Talvez ter outra conversa com o Matthew seja importante.

— Eu realmente aprecio isso. Eu preciso ir, mas prometo voltar o


mais rápido possível — me dá um beijo casto e suave nos lábios, e com
um último olhar triste e confuso, ele sai apressadamente do escritório.

Eu fico sentada lá, refletindo sobre a fragilidade da vida e o quanto


é importante estar presente para aqueles que amamos nos momentos
difíceis, mesmo que guardemos tanto rancor em nossos corações. Quem
sabe isso não sirva para reaproximar os irmãos? Não sei explicar nem
para mim mesma, mas não consigo acreditar que meu futuro cunhado
tenha assassinado minha irmã no passado.
Mas se não foi ele, quem é o verdadeiro assassino e os motivos por
trás do que ele fez? Se alguém se aproximou da Francesca a ponto de
matá-la, com o Valentino sendo um paranoico por segurança, talvez eu e
minha irmã não estejamos seguras, o pequeno Rafaello e a Chloe
também podem correr perigo. Preciso ficar mais atenta de hoje em
diante.

Volto para a sala de estar, onde Alina, e Chloe estão esperando,


ansiosas para saber o que aconteceu. Compartilho a notícia com elas, e
todas nós sentimos uma mistura de tristeza e preocupação pelo Matthew.

O Fellipo saiu com o irmão, lógico, ele é muito apegado nos dois
irmãos mais velhos, ele claramente tem no Valentino a imagem de um
pai, e no Matthew o irmão mais velho que sempre está ali por ele.

Decidimos adiar o filme e passamos o resto da noite unidas,


confortando umas às outras e enviando pensamentos positivos para meu
cunhado. A Chloe está inconsolável, ela, assim como o Fellipo, adoram o
Matthew, sei que ela sempre vai ao Clube, com o Fellipo, é quase
impossível ela sair sem seguranças.

Suspiro profundamente, sentindo uma profunda sensação de


gratidão por ter uma família e amigos tão próximos e solidários.

E assim, a noite que começou com risadas e diversão, transforma-


se em um momento de reflexão e empatia, enquanto aguardamos o
retorno de Valentino, e mesmo sabendo que isso não vai acontecer,
torcendo para que o Matthew venha para casa, para ser cuidado como
precisa.

O som do relógio na parede ecoa na sala, pontuando a quietude e


a tensão palpável. Enquanto aguardamos notícias, nossos pensamentos
se entrelaçam em uma mistura de preocupação, esperança e
questionamentos sobre o passado.

Ninguém melhor que a Chloe para falar de perdão, afinal, ela


perdeu o pai no mesmo dia que minha irmã foi morta, e ela nem por um
segundo acredita que a culpa tenha sido do Matthew.

Fellipo retorna em algum momento da noite. Seu olhar revela a


tristeza que ele compartilha com o irmão mais velho, e a maneira como
ele mantém os lábios apertados sugere que não há boas notícias para
relatar.

Ele se aproxima de nós, seu rosto exibindo uma mistura de


cansaço e determinação.

— O Matthew está estável, mas em coma induzido — Fellipo


murmura, sua voz fraca, incapaz de esconder o turbilhão de emoções. —
Ele sofreu graves ferimentos, mas os médicos estão fazendo tudo o que
podem para ajudá-lo. Valentino está lá, junto dele, lutando contra suas
próprias batalhas internas. O pessoal do clube também estão acampados
nos corredores do hospital.

— Mas ele ainda corre risco de vida? — Alina pergunta, triste,


mesmo sem conhecer o irmão do meu futuro noivo.

— O médico disse que teremos de esperar para ver a reação dele


para com os remédios, e que assim que puder diagnosticar com
precisão, nos informa — Fellipo fala cansado — só nos resta esperar.

Enquanto absorvemos as palavras de Fellipo, um sentimento


coletivo de tristeza e preocupação nos envolve. A incerteza sobre o
futuro do Matteo nos pesa, mas também sentimos compaixão por
Valentino, que está enfrentando um conflito interno tão doloroso.
Sabemos que o ressentimento que ele carrega em relação ao
passado é complexo e profundo, e agora ele precisa lidar com essa
avalanche de sentimentos.

Decidimos que, além de apoiar Valentino quando ele voltar,


também faremos o nosso melhor para estar ao lado do Matthew, quando
ele se recuperar. Mesmo que ele vá para o clube, e não venha para cá.

Entendemos a importância de estarmos presentes para aqueles


que amamos, mesmo que isso signifique superar mágoas antigas. Até a
cura é mais rápida.

— Podemos ir ao clube, ajuda a cuidar dele, se ele não vier para cá


quando tiver alta? — Chloe pede, segurando a mão do Fellipo com
olhinhos pidões.

— Sabe que o Valentino não vai permitir Chloe.

— Por favor, Fellipo...

— Vou falar com meu irmão, mas não prometo nada.

Enquanto a madrugada chega, trocamos histórias sobre o Matthew,


tanto o Fellipo, como a Chloe, nos contam coisas, feitos, nos
apresentando um Matthew que não conhecemos, mas que em nada se
parece com alguém que mataria um membro da própria família, pois pelo
que o Fellipo contou, ele adorava o irmão mais velho, jamais uma pessoa
assim, faria algo tão horrendo.

Quando a manhã começa a clarear, ainda estamos todas reunidas


na sala de estar, esperando ansiosamente pelo retorno de Valentino. Os
primeiros raios de sol atravessam as janelas, iluminando a sala com uma
suave luminosidade.
Nossos olhares se encontram, e embora exista uma sombra de
preocupação em nossos rostos, também há uma determinação em
nossos corações. Sabemos que as próximas horas, dias ou semanas,
serão difíceis, mas permaneceremos unidas como uma família,
enfrentando os desafios que surgirem.

****

À medida que o tempo passa, continuamos a aguardar notícias do


hospital com uma mistura de apreensão e esperança, Alina se levanta
saindo em direção à cozinha.

— Onde você vai? — Pergunto curiosa, mas também cansada pela


noite em claro.

— Vou preparar um bolo para comermos agora no café, já volto —


ela sorri saindo da sala.

— Por que o Val não liga? — Chloe reclama, olhando para o lado
de fora das janelas que dão para o imenso jardim que tem na entrada.

— Quando ele tiver notícias ele ligará Chloe — Falo tentando


reconfortá-la.

Ela me olha com um sorriso fraco, que não chega aos olhos, e em
meio a conversas e risadas suaves, ouvimos o som do carro de Valentino
se aproximando. Nos levantamos com expectativa, ansiosas para ouvir
as notícias.

A porta se abre e Valentino entra, seus ombros curvados, mas com


um olhar de determinação em seu rosto.

— Matthew está lutando bravamente pela vida, mas continua em


estado crítico — diz entrando, e indo direto para um aparador no canto,
onde ficam as garrafas de bebidas alcoólicas. — Os médicos estão
fazendo tudo o que podem, mas o prognóstico é incerto, tudo depende
dele agora.

Sentimos o peso dessas palavras, mas também percebemos a


força que Valentino encontrou para estar presente pelo irmão.

— Você está bem? — Pergunto me aproximando, espalmando a


mão em suas costas, já que ele está de costas para todos, tomando a
segunda dose de whisky em um só gole.

— Não! — Ele fala tão baixo que mal posso ouvir.

Abraço sua cintura ao seu lado, e com minha atitude, vejo quando
a Chloe faz o mesmo do outro lado, e juntas, nós nos apoiamos em
Valentino, envolvendo-o em abraços reconfortantes e palavras de
encorajamento

Sabemos que há um longo caminho pela frente, cheio de desafios


e incertezas, mas como uma família, enfrentaremos cada obstáculo com
coragem e união.

****

Nos próximos dias, nos revezamos para visitar o hospital, levando


palavras de conforto e esperança para Matthew. Cada visita é marcada
por um misto de emoções, desde o alívio ao ver seu corpo lutando contra
as adversidades até a tristeza de vê-lo em estado tão frágil.

Todos os membros do Clube de motoqueiros dele fazem vigília no


hospital, quando um sai outro fica. A princípio o Valentino não queria nos
deixar vir visitar o Matthew, mas após muitos “por favor” da Chloe, ele
permitiu, e desde então, eu vim umas duas vezes somente, mas minha
irmã e a Chloe vem todos os dias.
Alina acompanha a Chloe quando ela vem, também me disse que
olhando o irmão de Valentino naquela cama, ela não consegue acreditar
que ele cometeu a barbaridade de matar nossa irmã no passado.

Enquanto as meninas se mantém ao lado de Matthew, eu sigo


apoiando Valentino em sua jornada emocional e cuidando do Raffaello,
que fica impaciente pela ausência das tias e do pai, quando Valentino
está em casa, levo o Raffaello comigo, ajudando-o a encontrar a paz
interior e a reconciliação com seu passado, e a superar os sentimentos
conflitantes que ele está experimentando.

A cada dia, testemunhamos pequenos sinais de melhora em


Matthew. Seu corpo começa a responder ao tratamento e sua força
interior se manifesta. Celebramos cada pequeno progresso, encontrando
esperança mesmo nos momentos mais difíceis.

— Quando ele acordar o traremos para casa? — Fellipo pergunta


para o Valentino, que está sentado lendo algo em seu notebook, que está
ao seu lado na mesa.

— Não! Até mesmo porque eu duvido que ele venha. Você viu a
escolta que ele tem preparada para tirá-lo de lá assim que tiver alta.

— Poderemos ir até o clube cuidar dele? — Chloe pergunta, mas


encarando o prato de cereal que está comendo.

— Neste caso vai adiantar eu proibir? — Valentino pergunta com


uma sobrancelha levantada.

Ela sorri contido, seguido do mesmo sorriso vindo do Fellipo.

— Posso ir com a Chloe? — Aline pede, me fazendo arquear as


sobrancelhas.
— Por que você quer ir? — Pergunto curiosa.

— Para acompanhar a Chloe — Alina dá de ombros com


indiferença.

Vejo o Fellipo e o Valentino olhando para minha irmã com a mesma


curiosidade que eu. Raffaello mete a mão na sua tigela de cereais
fazendo uma bagunça e levanto para limpá-lo.

Hoje coloquei uma camisa de elefantes com uma calça cinza nele,
adoro o vestir com roupinhas de bichinhos, embora o Valentino me olhe
de rabo de olho por enfeitar tanto seu filho.

— Veremos quando ele acordar, ok? — Valentino responde


fechando o computador e se levantando. — Vou para sede, você vem?
— pergunta para o Fellipo.

— Sim — Fellipo se levanta.

— Até mais tarde meu pequeno — beija a cabeça do Raffaello que


agarra o pescoço do pai. — Eu tenho de mandar trocarem suas roupas
ou daqui a pouco vão te confundir com um animal do zoológico!

— Ele fica uma gracinha com roupa de animais — falo apertando


as bochechas do pequeno — tenha um bom dia de trabalho — me estico
beijando a bochecha do Valentino. Ele segura minha cintura me puxando
para um beijo apaixonado.

— Até mais — sussurra nos meus lábios, beija a cabeça do filho e


me entrega ele.

Ambos saem me deixando sozinha com as meninas. Elas têm


sorrisinhos espertos no rosto, e dou de ombros. Desde que tivemos as
longas conversas sobre o que queremos para nosso futuro, ficou mais
fácil beijar o Valentino e receber o seu carinho. Não temo mais nosso
casamento, estou ansiosa pelos dias que virão, e espero que
continuemos assim para sempre, o período em que nos apaixonamos um
pelo outro é completamente gostoso de ser vivido.

— Pode começar a falar — falo me virando para Alina.

— O quê?

— Por que quer ir com a Chloe no clube cuidar do Matteo?

— Não é nada Giu, credo — ela fala levantando-se também —


desde quando você faz esse interrogatório?

Só observo minha irmã sair. Conheço Alina, tem alguma coisa que
ela não está me contando.

À medida que os dias se transformam em semanas, Matthew


finalmente acordou do coma, e como esperado, ele praticamente fugiu do
hospital, voltando para o clube, disse que dentro daquele lugar ele ficaria
ainda mais doente.

Ele sabe que o caminho para a total recuperação ainda será longo,
mas está preparado para enfrentar o futuro com otimismo.
Estou sentado em meu escritório, na minha casa, bem no coração
do território da minha máfia. A fumaça do charuto dança no ar enquanto
seguro um copo de whisky na mão. Estou puto, furioso com as merdas
que estão acontecendo na minha organização. Traições, disputas
internas, tudo isso me deixa à beira da loucura.

Decido afogar minha raiva em whisky, tomando uma dose atrás da


outra. Cada gole queima minha garganta, mas é uma dor que prefiro
acreditar que alivia meu espírito atormentado.

Eu observo o âmbar líquido se movendo dentro do copo, minha


mente perdida em pensamentos sombrios.

Desde que meu irmão teve alta do hospital há algumas semanas,


que algo estranho está acontecendo dentro da organização. Semana
passada o Salvatore e o Vincenzo vieram me confrontar sobre meu
contato com Matthew. Tiveram a audácia de me cobrar sobre a morte de
Francesca.

Mas não sou idiota, senti uma tensão diferente neles, pareciam
assustados. E isso está me deixando louco, porque quero saber o que
está acontecendo. Nem mesmo quando a Francesca morreu eles se
mostraram interessados no assassinato dela, só exigiram a cabeça do
Matthew como se fosse um troféu que eles teriam o direito de exibir.

Estou perdido em meus pensamentos, quando de repente, a porta


se abre com um estrondo e Giuliana, minha noiva impulsiva, entra na
sala sem bater.

Eu levanto o olhar, confuso com sua presença inesperada. Ela está


ali, parada diante de mim, com aqueles olhos grandes cheios de mistério.
Um brilho de desafio, ela entrou decidida a fazer alguma coisa, como
uma chave, a raiva que me consumia, desliga por um momento.

— O que você faz aqui? — Pergunto, cruzando os braços, ainda


com meu copo na mão, parando de frente para ela.

Giuliana se aproxima, seus passos firmes ecoando no carpete


macio. Ela estende a mão, segura o copo que mantenho entre os dedos,
e com a mão trêmula, vira o conteúdo com um movimento rápido. O
líquido escorre pelo canto de seus lábios, enquanto ela me encara com
uma careta com o ardor da bebida queimando a garganta, mas com um
sorriso desafiador nos lábios.

Eu solto uma risada irônica, admirando a coragem dela.

— Giuliana, desde quando você bebê álcool? — digo, limpando o


whisky que escorre pelo seu queixo, passando o polegar bem devagar.

— Aprendi te observando — passa os braços ao redor do meu


pescoço.

— E o que mais você aprendeu comigo? — arqueio a sobrancelha


agarrando sua bunda.
— Isso. — Ela sorri de forma provocante, aproximando-se ainda
mais de mim, segura minha mão, chupando meu dedo que está perto de
sua boca.

Me fazendo travar no lugar, sentindo o efeito de seu ato direto no


meu pau. Seu perfume doce envolve meu corpo, criando uma mistura
intoxicante com o aroma do charuto que eu fumava um pouco antes.
Então, ela toma coragem e, sem dizer uma palavra, inclina-se e me beija.

Por um momento, a raiva e a frustração se dissipam. O gosto do


whisky em seus lábios mistura-se com o sabor adocicado de seu beijo.
Fecho os olhos, permitindo, me perder naquele momento de paixão e
esquecer, mesmo que temporariamente, as turbulências do mundo do
crime que me cercam.

Pego-a no colo, cruzando suas pernas em minha cintura,


explorando seus lábios macios, beijando seu pescoço.

Desço a mão pelo seu corpo mordendo seu queixo, aperto seu
seio, enchendo minha mão com o volume redondo, macio e quente. Seus
bicos estão turgidos, duros, ela está muito excitada.

— Posso tocar sua boceta? — Pergunto com a voz rouca,


implorando para ela dizer que sim.

Não vou tocá-la sem que permita. É minha noiva, mas apesar
desse tempo morando em minha casa, da intimidade que construímos,
nos abrindo um para o outro, e o acordo de nos esforçamos para uma
boa relação, nunca passei dos limites sexuais com ela. Mas nesse
segundo eu preciso da Giuliana, como necessito de ar.

E ela nunca me decepciona. Agarra a mão na sua bunda, trazendo


pela coxa grossa e pousando na bocetinha, que está pegando fogo. Enfio
os dedos entre o tecido do vestido puxando-o para cima, tocando a
calcinha de renda enquanto a devoro com a boca, louco de excitação e
desejo pela minha noiva.

Enquanto nos beijamos, sinto um leve arrepio percorrer minha


espinha. Giuliana é um mistério em si, uma mulher corajosa e
apaixonada, e a cada dia, sinto que ela se entrega mais e mais, e quanto
mais ela me dá, mais eu quero.

Nós entregamos ao calor do momento, deixando as preocupações


de lado e nos perdendo um no outro. O beijo dela é como uma chama
ardente, capaz de aquecer até mesmo as partes mais congeladas da
minha alma. Enquanto nossos lábios se movem em perfeita sincronia,
sinto uma energia renovada pulsar dentro de mim.

Mordo, chupo seus lábios, enfiando a mão dentro da sua calcinha,


sentindo sua carne encharcada de sua excitação. Constatar o quanto ela
me quer, causa efeito direto no meu membro, pesado dentro da calça,
exigindo ser liberto. Tenho de me lembrar que Giuliana ainda é virgem e
merece uma noite de núpcias adequada quando nos casarmos.

O melado de sua bocetinha facilita que eu separe suas dobras,


tocando o feixe de nervos necessitado por atenção, com movimentos
circulares, Giuliana agarra meu pescoço mais forte, geme baixo,
parecendo uma gata ronronando, minha gatinha.

Engulo seus gemidos com o beijo, me empenhando cada vez mais


em fazê-la gemer nos meus dedos. Aperto sua cintura a suspendendo no
ar, colocando-a em cima da minha mesa.

Encaro seus olhos nublados pelo prazer se revirando na órbita, a


boca inchada dos meus beijos, aberta, escapando gemidos nada
discretos. Mordo seus lábios, descendo pelo pescoço e busto avantajado,
acelerando os movimentos de meus dedos.

— Preciso meter em você — rosno no ouvido dela.

— Aqui? — fala esganiçado, me olhando com receio.

Pauso os movimentos dos meus dedos, segurando seu rosto com a


mão livre, me ponho entre suas pernas a deixando sentir a grossura do
meu membro na sua coxa farta.

— Não, sua primeira vez será na minha cama, aonde vou te


desfrutar a noite toda — dou um selinho nela — mas vou meter meu
dedo na sua bocetinha, isso vai ajudar a te preparar para a nossa noite
de núpcias.

— Vai doer? — franze as sobrancelhas.

— O dedo? — sorrio achando fofo sua inexperiência — não, minha


gatinha, você vai gostar.

— Certo, vem — segura meus ombros ansiosa novamente. Capturo


seus lábios com os meus, bolinando sua entrada com o dedo do meio,
quando a vejo relaxando novamente, eu introduzo no seu interior.

Macio, molhado e quente. Uma onda de desejo se espalhando por


todo o meu corpo. Meto com velocidade enquanto acaricio o clitóris
inchado com o polegar.

— Eu quero chupar sua bocetinha como um louco — murmuro em


seu ouvido me deliciando com os gemidos quentes dela — mas no
segundo em que a tocar, vou ter de te foder com meu pau — pressiono
na sua coxa — você aguenta Giuliana?
— Siiiiiiim — responde ensandecida pela eminência do orgasmo.

— Minha garota — beijo sua bochecha.

Giuliana grita enfiando os dedos em meus braços quando atinge o


pico de sua crise. Tiro meu dedo do seu interior, chupando, sentindo seu
gosto, e louco para provar diretamente da fonte. Ela é o meu ponto de
calmaria, a pessoa que me entende como ninguém mais.

Enquanto nos separamos para recuperar o fôlego, nossos olhares


se encontram. No fundo daqueles olhos grandes e brilhantes, vejo uma
mistura de paixão, lealdade e determinação. Giuliana não é apenas
minha noiva, ela é minha parceira, minha aliada nas batalhas que
enfrentaremos, minha mulher.

— Valentino...

— Também quero o mesmo que você — falo colando nossas testas


— mas não hoje, não assim.

— Não sabe o que eu ia falar — ela diz fazendo um biquinho lindo.


Mordo sua boca, e ela sorri, cruzando ainda mais as pernas em torno da
minha cintura, e me beijando de novo.

Ela coloca a mão em meu rosto, acariciando-o suavemente.

— Acho melhor eu sair, não sou tão forte como você — ela sorri
travessa, descendo da mesa onde a coloquei sentada.

— O que te trouxe aqui minha linda? — Pergunto beijando seu


ombro, mantendo-a cativa, presa entre mim e a mesa.

— Você chegou muito tenso, e se fechou aqui. Fiquei preocupada.


— São problemas nos negócios. Obrigado por se preocupar e me
ajudar a desestressar — respondo, enquanto a mantenho presa contra
meu corpo.

— É injusto, parece que só eu ganhei algo — fala travessa e mordo


seu sorriso.

Sinto meu coração acelerar diante da proximidade de Giuliana.


Seus lábios roçam suavemente em meu pescoço, enviando arrepios
deliciosos por todo o meu corpo. Apesar do fogo ardente que queima
dentro de mim, sei que é importante controlar nossos desejos neste
momento.

Deslizo minhas mãos pelo seu corpo, sentindo sua pele macia e
quente sob meus dedos. Ela suspira suavemente, rendendo-se ao toque,
mas também consciente da necessidade de adiar nossos impulsos.
Nossos olhos continuam conectados, comunicando-se silenciosamente,
como se entendessem a batalha que travamos contra nossos próprios
desejos.

— Eu sei que você não disse o que estava pensando, Giuliana,


mas os olhos nunca mentem — murmuro, mantendo meu tom de voz
baixo e íntimo. — Sinto a atração que há entre nós, tão forte e pulsante,
mas também sei que precisamos nos controlar, não quero..., mas
precisamos.

Ela solta um suspiro trêmulo, e um sorriso brincalhão brilha em


seus lábios enquanto se afasta um pouco, mas permanece próxima o
suficiente para podermos sentir o calor um do outro.

— Eu não disse o que estava pensando, Valentino, porque queria


guardar esse momento só para nós dois — ela responde com voz suave,
cheia de desejo contido. — Queria que soubesse que estou aqui para
você, não importa o que aconteça nos negócios ou na vida. Somos
parceiros, lembra? Sou sua noiva, nos casaremos em breve.

A ternura em suas palavras toca meu coração, reforçando a


profunda conexão que compartilhamos. Ela compreende minha
necessidade de manter o controle e me apoia nessa decisão. Giuliana é
minha rocha, a força que equilibra minhas emoções turbulentas.

Acaricio seu rosto com cuidado, deslizando meus dedos


suavemente sobre sua pele macia.

— Você está sendo a minha força, minha âncora. Quero que saiba
disso, e sou grato por tê-la ao meu lado. No início eu não queria — digo
levando uma mordida no ombro, e rindo — sou grato por terem me
obrigado a aceitar esse casamento — gargalho quando ela faz uma
careta fofa.

Seus lábios encontrando os meus em um beijo suave e cheio de


promessas. É um beijo repleto de desejo contido e uma determinação
mútua de esperar o momento certo.

Nos separamos lentamente, nossas testas ainda coladas, e


olhamos nos olhos um do outro. Há uma compreensão profunda entre
nós, um compromisso mútuo.

— Nós conseguiremos — ela sussurra, segurando minha mão com


firmeza. — Juntos, somos imbatíveis.

Sorrio para ela, sentindo-me abençoado por tê-la ao meu lado.


Nossa união é muito mais do que apenas a paixão física, do que
somente sexo; é um laço profundo que nos fortalece nos momentos mais
desafiadores.
Com um último beijo carregado de promessas, nos afastamos um
do outro, sabendo que nossa relação é construída em bases sólidas, e
que, quando chegar o momento certo, nossa paixão será liberada, com
uma intensidade avassaladora capaz de incendiar o mundo ao nosso
redor.

Até lá, seguiremos juntos, enfrentando os desafios da vida com


amor, lealdade e determinação inabaláveis.
Semanas depois
Continuo queimando a cabeça para entender a razão dos membros
do conselho ficarem me cercando, e me cobrando atitudes sobre o
Matthew. Eles literalmente falam sobre o código de honra da máfia, em
que traidores que matam um membro da família devem ser mortos.

A regra se aplicaria ao Matthew se eu tivesse certeza de que foi ele


quem matou a minha esposa, a única coisa que me impede de inocentar
meu irmão, é que não consigo achar o verdadeiro culpado, todas as
imagens de segurança foram apagadas das câmeras, os guardas
estavam desacordados e não sabem quem fez isso com eles, a
secretária tinha recebido uma ligação, fazendo-a deixar seu posto
quando a Francesca chegou.

Foi tudo perfeitamente armado para que minha esposa fosse morta,
eu só ainda não descobri como o Matthew foi parar na cena do crime
com a arma em suas mãos, ele repetiu incontáveis vezes que tinha
recebido uma ligação da Francesca pedindo para encontrá-lo e quando
chegou lá, minha amada já estava morta.

Apesar de que não tenha achado nenhuma ligação da Francesca


para o celular do Matthew, o que não colaborou com a sua versão, mas
ele se mantém preso a essa verdade, como se a vida dele dependesse
disso. Por isso que não o mato, pois quando pegar o verdadeiro culpado,
vou torturá-lo por matar minha esposa e destruir a vida do meu braço
direito, o irmão que cuidei com a minha vida.

A cobrança deles, e o medo de que o Matthew retorne à


organização, tem me feito montar uma equipe especial, de total
confiança, para investigar cada um desses homens e saber o que eles
faziam no ano da morte da Francesca. Eles nunca foram suspeitos aos
meus olhos, mas suas cobranças me deixaram alerta.

Estou distraído em meus pensamentos, sozinho na minha sala na


sede, já há alguns minutos, quando a nova secretária contratada me
avisa que minha noiva está aqui com o meu filho.

— Mande-a entrar — falo pelo fone acima da minha mesa.

Aguardo a porta se abrir, e minha garota entra, ela olha tudo em


volta, tímida e com algumas sacolas na mão. E o Rafaello agarrando
forte sua mão-cheia de sacolas.

Sorrio contrariado com a ideia da Giuliana em vestir meu filho como


um animal do zoológico. Hoje ele usa uma camisa com macacos, e um
capuz com as orelhas do animal.

Pelo cheiro, aposto que é comida que ela trouxe nas sacolas.
Rafaello abre os braços, animado ao me ver, e solta da mão da Giuliana
correndo até mim. O pego no colo beijando suas bochechas.

— Aacco — ele fala em bebenes, como diria Giuliana, mostrando


as orelhas do animal na sua cabeça.

— Eu vou ter de ensinar uma lição a sua mãe sobre te vestir como
animais.
A palavra me escapa com tamanha naturalidade que me assusto.
Encaro Giuliana, com os olhos arregalados, com as sacolas quase
caindo de sua mão, surpresa. Dou de ombros, não me arrependo pelo
que fiz. Meu filho precisa de uma mãe, durante todo o tempo que ela
esteve aqui, tem sido isso para ele.

— Mãe? — ela pergunta hesitante com os olhos cheios de


lágrimas.

— Sim, a mãe do Rafaello — levanto com ele no colo indo até ela
— a minha esposa.

— Você tem certeza? — sussurra, quase não contendo a emoção


no rosto.

— Absoluta.

— Mama! — Rafaello fala se esticando para ela, sorrindo com os


dentes que estão crescendo e rendendo noites em claro para a Giuliana,
que fica com ele pesquisando mil formas de aliviar o desconforto devido
aos dentes.

— Eu, meu amor — ela solta as sacolas pegando o filho no colo —


pode me chamar de mamãe sempre, tá? — fala com uma lágrima
escorrendo.

— Mamãe — ele beija a bochecha dela, meu filho também sente


liberdade ao ter uma mãe o segurando e o amando.

— O que os trazem aqui? — pergunto segurando as sacolas.

— Trouxe seu almoço, pensei em comermos juntos, como uma


família — sorri tímida e tenho vontade de beijá-la — já tem dias que você
não anda se alimentando direito.
— Gostei da ideia — coloco o almoço na mesa de centro.

Giuliana senta a minha frente e senta o Rafaello ao seu lado que


balança as pernas, só agora percebi que ele tem sapatos que são patas
de um macaco.

— Você precisa parar de vestir meu filho como um animal — digo


abrindo a sacola e pegando meu prato.

— Nosso filho — fala orgulhosa — ele adora as roupas de bichinho,


e não vou mudar — abre a marmita dela e do Rafaello — diga ao papai
que você gosta das roupinhas, meu fofinho.

— Totototo — ele balbucia segurando o copo de água e bebendo,


antes de Giuliana lhe dar uma colher para comer.

Feliz e aliviado, eu como observando a minha família. Preciso de


mais dias almoçando em casa para poder fazer parte dessa cena. Desde
que Francesca morreu e Matthew teve de ser exilado, eu não tive mais
um lar, somente uma casa para voltar e conversar com Fellipo e Chloe,
agora eu tenho uma família de novo, e farei de tudo para garantir que ela
não se parta.

****

Uma Giuliana linda trajando um sobretudo enorme, passa pelas


portas do meu escritório, já passa das 22 horas da noite. Estive ocupado
lendo relatórios sobre as atividades dos homens que mandei investigar, e
acabei esquecendo que não vou para casa já tem dois dias, imerso no
trabalho.

— Boa noite, meu bem — ela entra sensual, rebolando o quadril —


faz tempo que não te vejo, esqueci até que tinha um noivo.
— Desculpe por isso — peço.

Me levanto indo em sua direção, o cansaço se dissipando ao ver


minha noiva com o batom vermelho e os cabelos revoltos. Tenho
trabalhado demais nos últimos dias, e mal temos nos vistos. Porém, a
imagem da minha noiva deliciosa, gemendo em meus braços no
escritório da nossa casa, não me sai da cabeça.

Tranco a porta antes de ir até ela, pego o telefone, avisando a


secretária que não quero ser incomodado. Vejo a Giuliana olhando e
prestando atenção em tudo, mas sem me encarar diretamente.

— Sei que está frio lá fora, mas porque o casaco grande dessa
forma? Cabem duas de você aí — pergunto me aproximando.

— Andei pensando muito sobre aquele dia no seu escritório — ela


fala levando as mãos aos botões do sobretudo que está usando — vi
num livro, que a mocinha faz uma surpresa para o namorado no trabalho
dele, e decidi tentar — diz com carinha de quem vai aprontar, eu adoro.

— E o que essa mocinha do livro fez? — Entro no seu jogo, quero


ver até onde ela vai.

Nada me preparou para a cena em minha frente, minha noiva


deliciosa tirou o casaco, e por debaixo, ela usava somente um conjunto
de lingerie com meias e espartilho, e mesmo tentando ser sexy e ousada,
vejo o rubor em suas bochechas, e sua insegurança.

— Vem aqui, baby — puxo-a pela cintura — você está linda, mas
tem certeza disso? — não deixo de perguntar, pois sei que quando
começar eu não vou conseguir, nem querer parar.

— Tenho certeza Valentino, quero que você seja meu primeiro tudo,
assim como foi meu primeiro beijo, quero meu primeiro momento de
prazer em suas mãos — ela diz levando os braços em volta do meu
pescoço.

Suas palavras têm o poder de me deixar quase louco, meu lado


primitivo, e ainda mais possessivo, aflora como uma doença, gritando
que ela é minha, e sim, serei o único tudo na vida dela.

— Orgasmo meu anjo, seu momento de prazer é seu gozo, que


quero sentir na minha boca. — Suas bochechas ficam extremamente
vermelhas com minhas palavras.

Pego minha garota no colo, levando-a até o sofá que tem no meio
da minha sala.

— Hoje vou te fazer gozar baby, mas não vamos transar, sua
primeira vez não será em um sofá, no meu escritório.

Ela me olha ansiosa, cheia de curiosidade.

— Abra as pernas para mim, minha linda! Eu quero vê-la — peço


me colocando em sua frente, louco para sentir seu gosto, e para vê-la
assim... entregue — sorri ao ver seu corpo perfeito, a pele branquinha,
acetinada, baixei a cabeça, mordendo seu lábio inferior, descendo para
seu pescoço, e puxando o bojo do sutiã para baixo, libertando um seio de
sua prisão.

Seus mamilos rosados, eriçados, clamam minha boca, e sem


conseguir me segurar, começo a chupar e lamber seu peito, mordendo o
mamilo, prendendo o bico no dente e fazendo-a gritar meu nome,
segurando meu cabelo.

Revezo de um para o outro, dando atenção para os dois, redondos


e lindos, cabem perfeitamente na minha mão, enquanto chupo um,
belisco o bico do outro, e me posiciono de joelhos entre suas pernas,
afastando a calcinha para o lado, sentindo a textura de sua carne, quente
e molhada. Espalho seu próprio fluido por suas dobras, pressionando o
dedo médio contra o seu clitóris inchado.

Sua boceta estava tão melada, tão necessitada, que eu podia ver o
brilho da sua excitação na ponta do meu dedo.

Meu pau latejou dentro da cueca, lutando contra o tecido como um


louco; pulsando...

— Valent... — ela mal conseguia falar uma palavra completa, e com


coerência.

— Eu vou cuidar de você — digo descendo os beijos para sua


bocetinha deliciosa.

— Eu quero... — engasga com um gemido.

— Eu sei — a acalmo com um beijo.

Minha atenção estava naquela flor rosada, deliciosa, que brilhava


sua excitação para mim, implorando minha boca. Cheguei a salivar
admirando sua boceta.

Assopro seu nervinho necessitado, fazendo-a soltar um gritinho


abafado, então passo a língua até chegar em seu canal virgem.

Ela é muito sensível ao toque, segurando suas coxas, com a


cabeça enterrada entre suas pernas, sinto seu corpo tremer e
convulsionar, conforme como sua boceta com a boca, devorando,
enchendo minha boca com a carne de suas dobras deliciosas.

— Oh... Deus!... — Ela grita, agarrando meu cabelo e empurrando


minha cabeça para seu interior — isso é...
Sorrio com seu descontrole, mordendo seu clítoris de leve, levando-
a ao ápice do prazer.

— Isso, baby, goza para mim, me alimente Giuliana — digo ainda


devorando e bebendo todo seu néctar.

Seu corpo ainda tem espasmos do prazer e gozo recentes. Minha


noiva está toda molinha em meus braços.

— Isso foi... — ela começa a falar, e levanta a cabeça para me


olhar.

Continuo ajoelhado entre suas pernas, brincando e espalhando


seus fluidos pela sua vagina, que está toda vermelha de arranhões da
minha barba, e inchada devido ao orgasmo recente.

— Pergunta Giuliana — falo notando que ela até morde o canto do


rosto, louca para falar algo enquanto encara minha virilha.

— Eu queria... sabe... — diz apontando meu pau, que está duro, e


bem visível na minha calça — você também precisa...

Sorrio com seu jeito todo tímido e encabulado.

— Sim, preciso, mas não hoje, não agora — respondo levantando e


deixando um beijo na ponta do seu narizinho, depois um selinho suave
em seus lábios, fazendo-a sentir o próprio gosto na minha boca. —
Vamos querida, hora de ir para casa.

— Eu posso ir sozinha, o motorista me leva.

— Nem em sonho você sair vestida só com esse casaco — digo


indignado e puto de imaginar que ela veio assim — já basta ter vindo
sem nada por debaixo dele, não vai sair daqui sem mim.
A safada sorri travessa, colocando o sobretudo.

Saímos da sede e seguimos direto para casa, nem em sonho que


eu iria permitir que ela ficasse andando por aí sabendo que estava
pelada por debaixo daquele casaco.
Uma semana depois...
Finalmente minha aula acaba, olho ao redor observando os alunos
saindo e estranho que os dois armários que assistem aula comigo não
estão presentes. Pego o celular verificando se tem mensagens deles e
nada, é estranho, eles nunca sairiam sem uma ordem minha. Até para ir
ao banheiro eu preciso que eles me sigam e verifiquem antes se ninguém
vai me matar no ressinto.

Valentino foi generoso com a minha mensalidade e conseguiu um


banheiro de uso exclusivo meu, para os armários poderem inspecionar.
Dessa parte não reclamo, sempre está cheiroso e confortável de usar.

Observo a sala ficando vazia e uma apreensão me toma, talvez


eles estejam do lado de fora. Guardo minhas coisas e me levanto pronta
para sair.

Quando coloco o pé para fora da sala e giro para a direita, um pano


é pressionado em meu nariz e uma mão agarra minha cintura, tento
gritar, mas a dormência me toma, apago.

Desperto, observo ao redor meio grogue, percebendo que estou em


uma sala de aula vazia e sombria. A luz fraca das lâmpadas
fluorescentes ilumina o ambiente. Confusa e atordoada, tento entender o
que está acontecendo. É então que a vejo, uma figura familiar, porém
desgrenhada e com um olhar enlouquecido. É Lavínia, a ex-secretária do
Valentino.

A mesma cadela que me provocou no shopping.

Levanto-me rapidamente, instintivamente colocando uma distância


segura entre nós. Minhas mãos tremem enquanto tento processar a
situação. O que diabos está acontecendo? Por que estou aqui com ela?
O olhar selvagem nos olhos dela me faz estremecer.

Onde diabos foram parar os quatro armários que deveriam me


proteger? Nunca quis tanto a presença deles como nesse momento,
Valentino tinha razão, deveria ter contratado seis seguranças em vez de
quatro.

É a mesma mulher, mas não parece em nada com a mesma


pessoa que conheci aquele dia. Lavínia tem uma mão faltando, e manca
ao se aproximar de mim.

— Lavínia, o que está acontecendo? — pergunto, com a voz firme,


não a deixando notar minha apreensão. — Por que você me trouxe aqui?

Ela sorri, um sorriso torto e malévolo.

— Você roubou Valentino de mim! — ela sibila, a voz carregada de


raiva e loucura. — Eu sei o que você fez. Ele é meu, Giuliana. Você não
pode tê-lo!

As palavras dela ecoam em meus ouvidos, e a raiva começa a se


misturar com o medo.
— Eu não o roubei Lavínia, ele nunca foi seu. — Digo borbulhando
em ódio.

— Por sua culpa o meu Val me machucou — ela me mostra a mão


amputada — eu quase morri, se não fosse por aquela pessoa eu nunca
teria me libertado e poderia me vingar de você, sua vadia desgraçada.

Lavínia está machucada e visivelmente instável.

Talvez eu consiga sair daqui se a acertar com uma cadeira. Não


acho que ela vá conseguir me fazer mal nesse estado, mas com certeza,
não foi ela quem me trouxe aqui. A vagabunda tem um cúmplice e
preciso tomar cuidado com ele, a pessoa forte que me agarrou e
conseguiu despistar meus seguranças.

Antes que eu possa dizer uma palavra, Lavínia avança em minha


direção. Meu corpo reage instintivamente, buscando uma forma de me
defender. Minhas mãos apalpam a sala em busca de um objeto útil e
encontram o encosto de uma cadeira de madeira. Eu a agarro com força
e, em um movimento rápido, a ergo acima da minha cabeça.

— Não ouse encostar em mim! — grito, minha voz ecoando pela


sala de aula. A fúria me cega por um segundo.

Com toda a força que tenho, desabo a cadeira na cabeça de


Lavínia. Um baque ressoa pelo ambiente e, por um instante, tudo fica em
suspenso. Ela cai no chão, inconsciente, enquanto meu corpo ainda
pulsa com adrenalina.

O pânico toma conta de mim novamente, e sei que não posso ficar
ali. Corro em direção à porta da sala de aula e me jogo para fora,
desesperada para encontrar ajuda. Lá fora, eu vejo um homem
encapuzado correr no corredor, ele observava o que acontecia na sala de
aula, e o medo de que me pegue novamente congela minha espinha.

O embrulho no estômago vem forte, e vomito colocando para fora a


refeição que fiz no dia, caio no chão tremendo de medo e ainda sobre
efeito da droga para dormir. Eu preciso sair daqui ou serei morta.
Desesperada, eu corro cambaleando pelo campus, não faço ideia de
onde estou. Ao longe, avisto um dos armários que deveria me proteger.

— AQUI — Grito forte desabando no chão, sem forças nas pernas.

— Senhora! — ele chega perto, noto um corte profundo em sua


testa, enquanto tenta me segurar em pé — o que aconteceu?

Aponto na direção da sala e relato a ele o ocorrido. Ele fala no


rádio e mais dois seguranças aparecem. Um vai direto para a sala, e o
outro segue na direção do homem encapuzado.

Tremendo pelo que aconteceu, sou levada até o tronco de uma


árvore, onde ele coloca o paletó nos meus ombros tentando me aquecer.

— O que aconteceu? — pergunto entre dentes.

— Os seguranças que ficam na sala de aula, receberam uma


mensagem do Dom, avisando que bandidos estavam vindo te atacar e
ordenando que ambos fossem até a entrada. Eles saíram do posto, mas
um ficou na porta da sala. Por ser horário de aula não tinha ninguém nos
corredores e ele foi um alvo fácil, o atingiram pelas cortas, morreu na
hora.

— E você, como se machucou?

— Eu e o Josiel fomos atacados no carro, estávamos estacionados


quando uma picape bateu na nossa traseira, retardando nosso
movimento. Quando saímos do carro, balas foram disparadas com
silenciadores, não chamando a atenção de quem estava dentro do prédio
devido ao som abafado. Durou cerca de dez minutos até eles fugirem. O
Alfred, que estava indo até nós para nos socorrer por receber a
mensagem do Dom, também foi atacado na entrada da faculdade.

— E depois?

— Nos separamos para te procurar, já chamamos reforços e


avisamos ao Dom sobre o acontecido. Ainda vamos ter de investigar
como eles conseguiram usar o número do Dom para enviar mensagem
aos seguranças e quem eram essas pessoas.

— Um homem e Lavínia.

— Não senhora, eram 9, um atacou o segurança no lado de fora da


sala, dois atacaram o Alfred, quatro a mim, e o Josoel, um fugiu quando
você o viu, e com a Lavínia, soma nove.

— Não quero voltar naquele lugar — digo olhando na direção da


sala de aula, onde Alfred sai pelas portas.

— Não precisa.

Agora, aguardo ansiosamente pela chegada dos reforços, com


certeza as autoridades foram acionadas. Minha mente está repleta de
perguntas sem resposta, mas uma coisa é certa: minha vida mudou
drasticamente em apenas alguns instantes.

E a batalha que se inicia, pode ser muito mais perigosa do que


jamais imaginei.

Como Lavínia pôde se tornar tão obsessiva, a ponto de me atacar e


afirmar que roubei Valentino dela? Como ela conseguiu ajuda, e se for
verdade que o Valentino a torturou, ele não a teria deixado escapar com
facilidade.

Quem eram seus cúmplices? A mulher era somente uma


secretária, ela não poderia planejar um ataque dessa magnitude sozinha.

Enquanto esses pensamentos tumultuam minha mente, carros de


polícia soam pelo campus. Eles veem a mim com cautela, seus olhares
sérios e profissionais, contrastando com o caos que se instalou no
ambiente. Pelo visto, chegaram antes dos nossos reforços.

Explico a eles o ocorrido, detalhando cada momento desde que fui


surpreendida pelo pano, até minha fuga desesperada, e o confronto com
Lavínia. Os policiais escutam atentamente, fazendo anotações em seus
cadernos e trocando olhares de preocupação.

Meus seguranças estão calmos, afinal, pertencemos à máfia mais


importante do Estado, eles não temem a lei, o segurança responsável por
mim, me garantiu que aqueles oficiais estavam na folha de pagamento do
“chefe”.

Enquanto isso, Lavínia é retirada da sala, gemendo de dor. Os


policiais segurando-a, prestando os primeiros socorros enquanto a
questionam sobre seus atos. Seu olhar vago e desorientado reflete a
confusão que deve estar ocorrendo em sua mente. É evidente que algo
muito além da minha presença a perturba.

Sou liberada pelos policiais e meus seguranças me levam para um


carro trazido pelos reforços. Valentino estava longe, quase saindo do
Estado a trabalho, mas me informaram que ele está voltando e me
encontrará em casa. O caminho é feito com um milhão de pensamentos
nublando a minha mente sobre o acontecido.
Estou determinada a enfrentar qualquer desafio que surgir no
caminho, seja ele físico ou emocional, para garantir a segurança
daqueles que amo e recuperar a paz que tentaram roubar de mim. Me
atacaram na faculdade onde fico mais vulnerável, rezo para que o
Valentino não tente me impedir de estudar me trancando em casa como
uma prisioneira.

Chegamos à mansão e vou direto para o meu quarto, tomo um


longo banho, tentando apagar da mente as cenas que se repetem sem
parar. Quando termino, me deito na cama de roupão. Caio no sono
rapidamente.

— Giuliana! — Ouço a voz do meu noivo me chamar. — Você está


bem? — Ele pergunta se aproximando, segurando meu rosto com as
duas mãos.

— Estou com medo — o abraço liberando o estresse da manhã,


finalmente me sinto segura novamente.

— Me perdoa, foi culpa minha — ele beija meus cabelos com


pesar, nunca vi Valentino demonstrando tamanha tristeza e
arrependimento — só de pensar que quase te perdi, eu quero matar
aquela desgraçada — ele rosna me apertando ao ponto de quase ficar
sem ar.

Não ligo para a falta de oxigênio, eu só preciso dele. Capturo seus


lábios em um beijo intenso, passo as pernas por cima do seu quadril
segurando seu rosto. Desesperada, eu o devoro para me sentir segura
novamente. Valentino gira me deitando na cama e pressionando o meu
centro. Sua mão vai a minha cabeça e ele separa nossos lábios
encarando meus olhos.
— Eu estou aqui, prometo que nunca mais você passará por isso
— beija a minha testa e eu choro, liberando os sentimentos ruins que me
tomaram.

Valentino me embala em seu corpo até eu apagar me sentindo


protegida.
Giuliana treme dormindo, preciso ir resolver a situação e descobrir
o que diabos aconteceu. Apesar de já ter recebido um relatório detalhado
dos seguranças, contando a versão deles e o que Giuliana falou, não
consigo ficar calmo.

Quando recebi a ligação avisando do ataque, eu entrei em


desespero, lembrando de quando Francesca morreu, está se repetindo o
mesmo que naquela época, mas dessa vez Giuliana conseguiu ver quem
era o verdadeiro mandante. Lavínia seria culpada igual como o meu
irmão foi acusado, embora essa realmente quisesse matar a minha
noiva.

A existência de outras pessoas poderosas, com capacidade de um


grande ataque na universidade, esclarece o quebra-cabeça de anos
atrás. Meu irmão foi a vítima por trás de alguém que queria matar
Francesca, e dois anos depois, a pessoa retornou querendo matar a
Giuliana.

A conexão entre as irmãs, pode ser um inimigo do pai delas ou


meu, alguém querendo me destruir uma segunda vez.

É o mesmo modus operandi.


Matthew recebeu uma mensagem do celular de Francesca, pedindo
para o encontrar. As imagens das câmeras de segurança apagadas e os
seguranças da Francesca recebendo ordens de irem a outro lugar.
Exatamente, o mesmo aconteceu hoje, os seguranças em sala
recebendo mensagens do meu número, as imagens de segurança do
campus por onde os bandidos passaram apagados. Mas dessa vez eles
lutaram contra os seguranças e usaram alguém que queria matar a
minha noiva.

Se Lavínia tivesse conseguido machucar a Giuliana, dessa vez não


existiriam dúvidas quanto ao verdadeiro assassino. A pessoa por trás
disso, pensou em tudo, usou a marionete perfeita dessa vez. Aquela
vadia desgraçada, eu deveria ter me assegurado da sua morte enquanto
a torturava, mas depois da parada cardíaca, sai e a deixei na sala,
quando retornei, seu corpo já tinha sido enterrado, ao menos foi o que
me disseram.

Preciso achar o soldado responsável pelo enterro dela, saber o


motivo pelo qual mentiu para mim, e quem cuidou de seus ferimentos.
Arranquei a mão da maldita, e estava quase fazendo o mesmo com sua
perna quando ela teve uma parada cardíaca.

Aperto Giuliana não querendo a deixar sozinha, mas sabendo que


preciso resolver toda a merda ao meu redor e principalmente, como
conseguiram clonar meu número. Para fazerem isso deve ter sido
alguém de confiança o bastante para ficar perto do meu celular sem
levantar suspeitas.

Preciso ser mais esperto que meus inimigos ou perderei novamente


a mulher que estou apaixonado.

****
Quando entro no galpão que usamos para interrogatório, um dia
depois do incidente. Foi difícil acalmar Giuliana, mas quando ela me
contou tudo, eu soube que precisava entrar em ação o mais rápido
possível.

Vejo Lavínia sentada em uma cadeira, amarrada e amordaçada.

Paro em sua frente, olhando seu estado de decadência. Não existe


nenhum resquício da mulher que conheci, de quando trabalhava para
mim. Essa Lavínia a minha frente, estava suja, fedendo, descabelada,
com o olhar um tanto desvairado.

— Imaginei que os insetos estavam comendo seu corpo, mas pelo


visto você está ainda pior — zombo.

Ela levanta a cabeça me olhando, e quando em sua loucura me


reconhece, começa a chorar e sorrir, e assim que retiro a fita que
amordaça sua boca, ela pergunta:

— Você veio mandar esses animais me tirarem daqui meu amor?

— Não! E você sabe muito bem por que está aí — respondo seco
— eu só preciso de respostas para algumas dúvidas.

— Dúvidas? Que dúvidas? — Pergunta com ar inocente, como se


mal entendesse por que está ali.

— Você invadiu a Universidade onde minha noiva estuda, e


ameaçou contra a vida dela, por que Lavínia? Quem te mandou? — Ela
me olha com uma expressão totalmente confusa.

— Ninguém me mandou, e você sabe muito bem por que fui ter
uma palavrinha com aquela vadia sonsa. — Tem insanidade em seus
olhos.
Quando ela chama a Giuliana de vadia, não consigo me segurar,
eu meto-lhe um tapa bem-dado na cara. Fazendo-a virar o rosto. Não
bato em mulheres, mas nesse momento, Lavínia é uma inimiga que
tentou matar a mulher que eu amo, na primeira vez em que a torturei, ela
ofendeu a Francesca, só isso era o suficiente para dar um fim em sua
vida, mas agora a quero ver sofrer duas vezes mais.

— Nunca mais ouse falar assim da minha mulher, porra! A única


vadia aqui é você. — Falo em frente ao seu rosto, um tom mais alto que
o normal, segurando seu queixo com força — agora me diga, por que fez
isso?

— P-porque... eu te amo Valentino — sussurra, ainda tendo meus


dedos apertando a carne de sua bochecha.

Solto seu rosto com um supetão, quase fazendo-a cair com o


balanço que a cadeira deu.

— Quem eram os homens que participaram do ataque? — começo


a falar, mas ela me interrompe, chorando compulsivamente.

— É pecado amar alguém? É errado? — Pergunta magoada — EU


SEMPRE TE AMEI, DESDE O MOMENTO QUE ENTREI EM SUA SALA
PELA PRIMEIRA VEZ, EU TE AMEI — ela grita, tentando se soltar, mas
seu gesto só faz com que acabe caindo no chão, ainda amarrada à
cadeira.

Olho a cena com nojo, nem um pouco interessado, ou comovido


com suas palavras ridículas. O caso que tivemos nunca passou de sexo,
eu jamais me envolveria sentimentalmente com uma mulher como ela.

Me afasto, enquanto um dos meus homens levanta a cadeira que


continua caída com a mulher amarrada.
Quando chego na porta do galpão, ouço seus gritos, me
chamando, pedindo para não a deixar lá.

— Vocês sabem o que fazer — digo aos meus homens antes de


sair dali — arranquem tudo o que puderem dela sobre os compassas,
depois a matem e certifiquem-se de que sua cabeça está longe do corpo,
sem rastros, como sempre.

Eles acenam em concordância e entram. Não fico para ver o que


farão com ela, como a matarão, simplesmente entro no meu carro e sigo
para casa, com a mente perturbada por não conseguir informações sobre
seus cúmplices. A loucura nos olhos de Lavínia foi plantada ali com
cuidado para que ela não se tornasse uma delatora, em sua mente
insana ela acredita que fez tudo sozinha e por amor.
Após um longo dia exaustivo no trabalho, assim que chego em
casa, após sair do galpão, decido surpreender Giuliana com uma
escapada para uma ilha distante. Ela precisa descansar e se recuperar,
um tempo somente nós dois fará bem a ela.

Em geral, a semana havia sido intensa e cansativa para nós dois,


especialmente, após o atentado que ela sofreu em sua faculdade com a
invasão da Lavínia. Sentia que precisávamos de um refúgio, um
momento de paz para recarregar as energias e tentar colocar as coisas
em ordem.

A bordo da lancha, sigo atentamente o trajeto pelo mar. Observo


Giuliana sentada ao meu lado, com os cabelos ao vento e os olhos
brilhantes. Seu sorriso encantado revela o deslumbramento com a beleza
do lugar. O sol poente reflete nas águas cristalinas, criando um cenário
mágico. A areia branca e fina convida a explorar cada pedacinho daquela
ilha paradisíaca.

Enquanto Giuliana se perde naquela atmosfera encantadora, eu me


pego observando-a com um misto de admiração e confusão. Meu
coração se enche de alegria ao vê-la tão radiante, tão livre. Seus olhos
brilham como estrelas, no céu noturno, refletindo a inocência e a
esperança que carrega dentro de si. Ela é forte, corajosa e, ao mesmo
tempo, tão vulnerável.

Sinto meu peito apertar enquanto o barulho das ondas preenche o


ar. O vento traz consigo uma sensação de renovação, mas também traz
à tona as inquietações que habitam meu coração. Enquanto navegamos
em direção à ilha, meu olhar se perde no horizonte, perdido em
pensamentos e questionamentos.

Estou apaixonado, diferente de quando foi com Francesca à


primeira vista, com Giuliana fomos construindo nossos laços com calma
e conversa, confiando aos poucos um no outro e depois do medo de
perdê-la, não me restam mais dúvidas quanto a isso.

Enlouquecido para que ela se sinta bem novamente, eu deixei tudo,


a organização sobre o comando do Fellipo enquanto tiro algumas horas
de paz e normalidade.

Eu também preciso acalmar a fúria em meu peito para poder


perseguir aqueles que atentam contra a minha noiva, a pequena gata
arisca que conseguiu fincar suas garras em meu coração.

Enquanto navegamos cada vez mais perto da ilha, o som das


gaivotas que sobrevoam o céu chama nossa atenção. Vejo Giuliana
estender os braços, como se quisesse abraçar toda a beleza do mundo.
Ela é uma alma livre, cheia de vida, que me faz querer pausar a matança,
a vingança, e poder mergulhar na bolha de calmaria e carinho que me
oferece.

Para mim é nítido que ela tem sentimentos, embora não os tenha
expressado ainda, talvez tenha o mesmo receio que eu, de ser o primeiro
a falar e mostrar vulnerabilidade. Aos poucos começo a não me importar
com isso e as palavras dançam na minha língua, querendo que ela saiba
exatamente como me sinto.

Aportamos na ilha, uma equipe de segurança chegou antes


varrendo o lugar e outra nos acompanhou até aqui. Ordenei que
mantivessem distância, dando a ideia de que estou sozinho com
Giuliana, mas sei que me observam com cuidado. Todos possuem
ordens para somente aceitar novas instruções minha caso eu faça
chamada de vídeo, minhas mensagens não estão mais seguras, e o
técnico em TI da organização trabalha para descobrir como me
hackearam.

À medida que exploramos o lugar, o cenário revela-se ainda mais


deslumbrante. Caminhamos pela areia macia, com as mãos
entrelaçadas, sentindo a energia daquele lugar especial. Giuliana sorri
constantemente, seus olhos brilhantes capturando cada detalhe da
paisagem, enquanto eu a observo em silêncio, perdido em meus
pensamentos.

— Você sempre vem para cá? — Ela pergunta deslumbrada com


tudo a nossa volta.

— Não..., na verdade, faz um bom tempo que não venho — sorrio


sem graça — o trabalho não me dá tempo, nem folga Giuliana.

— Então por que hoje? Por que me trouxe? — Pergunta se


aproximando, espalmando as mãos pequeninas em meu peito.

— Precisávamos — foi só o que consegui responder.

Ela sorriu, e deixando uma mordidinha suave no meu queixo,


correu pelo lugar, feito uma criança travessa.
Passamos por uma trilha rodeada por densa vegetação tropical, a
melodia dos pássaros ecoa ao nosso redor. A luz do sol penetra através
das folhas, criando um jogo de sombras e cores, que dançam ao ritmo da
natureza. Giuliana parece estar em comunhão com tudo isso,
absorvendo cada sensação como se estivesse se fundindo com o próprio
ambiente.

De repente ela para, com os olhos arregalados e o sorriso que


parece não abandonar mais seu rosto.

— O que foi? — Pergunto me aproximando, para ver o que prende


a atenção dela dessa forma.

Observo uma cascata cristalina que deságua em uma piscina


natural, Giuliana não consegue resistir ao chamado da água. Ela corre
em direção à queda d'água, deixando escapar risadas de pura alegria.
Seus cabelos molhados colam-se à pele, realçando sua beleza natural.
Eu a observo enquanto ela se entrega ao momento, sentindo a água
refrescante tocar seu corpo.

Uma mistura de emoções tumultua meu interior. A alegria de vê-la


tão feliz e radiante, é inegável. Sinto-me atraído por sua presença
magnética. Já aceitei que não tenho mais escapatória aos sentimentos
que me tomam, a proteção e o desejo de a ter para mim 24 horas por dia,
de construir um futuro ao seu lado, queimam como fogo em meu peito.

Enquanto Giuliana mergulha na piscina natural, suas mãos


levantam água em direção ao céu, como se estivesse abraçando a vida
em toda a sua plenitude. Se há algo que aprendi com a adversidade, é
que a vida é curta e imprevisível.

Me aproximo da margem da piscina natural, onde Giuliana está, e


um sorriso tímido brota em meus lábios. Ela me olha, com os olhos
brilhantes, esperando. É como se ela soubesse que há um turbilhão de
pensamentos em minha mente, mas ainda assim me dá espaço para
descobrir a resposta por mim mesmo.

Ela já achou a resposta dela em seu coração.

— Vem? A água está uma delícia — ela fala afundando e


emergindo novamente.

Olho sua espontaneidade com um sorriso no canto dos lábios,


tirando minha roupa para aproveitar o momento junto da minha noiva. Ela
entrou de roupa e sapatos.

Fica com metade do rosto submerso, somente observando meus


movimentos.

Entro na água, que a princípio está bem gelada, mas em pouco


tempo, se torna refrescante, e vou em direção a Giuliana, e... com as
gotas d'água escorrendo pelo meu rosto, tomo sua boca delicadamente,
num beijo calmo, cheio de promessas.

Em um instante, todas as dúvidas e questionamentos


desaparecem. Percebo que o amor é uma jornada de descobertas e que,
mesmo com as adversidades e os desafios, vale a pena arriscar e
entregar-se à conexão que existe entre nós.

Giuliana sorri contra meus lábios, seus olhos transbordando


felicidade, e eu me deixo levar por esse sentimento que se fortalece a
cada momento.

Neste refúgio paradisíaco, sob o céu estrelado da ilha, abraço


minha noiva, minha Giuliana, com ternura, e sussurro em seu ouvido as
palavras que se tornaram tão claras em meu coração:
— Eu amo você — falo segurando seu corpo contra o meu, suas
pernas entrelaçadas em minha cintura. Seus olhos brilham como
diamantes.

— Eu te amo — beija meus lábios com ternura — muito.

E em seu sorriso radiante, encontro a certeza de que a jornada que


iniciamos nesta ilha será repleta de aventuras, superações, e um amor
que transcende qualquer dúvida ou hesitação.

Juntos, seguimos explorando o desconhecido, confiantes no poder


dessa conexão que nos une.

Nos afastamos um pouco do centro da piscina natural, onde as


águas calmas acariciavam nossos corpos, criando uma sensação
reconfortante. As estrelas brilhavam intensamente no céu noturno,
lançando seu brilho suave sobre nós, enquanto as ondas distantes
quebravam suavemente na praia próxima.

Cada detalhe desse refúgio paradisíaco parecia conspirar a favor


de nós dois.

Enquanto abraço Giuliana, sinto sua pele macia contra a minha, e


nossos corações batem em uníssono, rápido e forte, como se fossem
uma só entidade. Ela se inclina um pouco para trás, olhando
profundamente em meus olhos, e uma expressão determinada brilha em
seu rosto.

— Valentino... — baixa os olhos para falar, me fazendo erguer seu


queixo com a ponta dos dedos.

Meu peito transborda uma emoção que a muito não sinto, e uma
grande admiração por essa mulher incrível diante de mim. Um sorriso se
forma em meus lábios, refletindo a confiança e a felicidade que sinto.
— Giuliana... — engulo em seco.

Ao ouvir seu nome, Giuliana me beija suavemente, como se


selasse um acordo sagrado entre nós. Suas mãos acariciam meu rosto e
meu peito nu, com tanta ternura, e cada toque faz meu coração bater
mais rápido. Nesse momento, sei que estamos dispostos a lutar por nós,
a superar todos os obstáculos que possam surgir.

No entanto, a paixão começa a incendiar nossos corpos, e uma


sensação ardente toma conta de nós. Com um sorriso maroto, eu a
encaro.

— Acho melhor irmos para dentro da casa antes que percamos


completamente o controle e nos entreguemos ao desejo aqui mesmo —
digo com um tom brincalhão — você é gostosa demais, e não sei se
consigo me controlar — digo esfregando meu pau que está duro como
rocha, entre suas pernas, que estão presas na minha cintura...

Ela sorri, um brilho travesso nos olhos, e concorda com um aceno


de cabeça. Juntos, nadamos em direção à margem da piscina natural,
nossos corpos ainda se tocando com uma intimidade eletrizante. Saímos
da água sorrindo um para o outro, e caminhamos de mãos dadas,
deixando pegadas molhadas no chão de pedra até chegarmos à casa
que se ergue imponente diante de nós.

— Quanto tempo ficaremos aqui? — Ela pergunta olhando a


imponência da casa.

— Até amanhã — respondo olhando as expressões que seu rosto


apresenta. — Não posso me afastar muito tempo, mas não falaremos
disso agora.

— Vamos aproveitar o momento.


Enquanto entramos na residência, sinto uma mistura de excitação e
paz. A medida em que nos aproximamos do limiar da porta, nossos
corpos se encontram mais uma vez, e a puxo para mim, dando-lhe um
beijo apaixonado, carregado de promessas e desejo. Agora, dentro
daquelas paredes, teremos a oportunidade de nos conhecermos mais
profundamente, de nutrir esse sentimento que está florescendo entre
nós.

Com um sorriso cúmplice, Giuliana e eu nos afastamos, olhando


um para o outro com uma mistura de ansiedade e antecipação. Afinal,
essa é apenas a primeira etapa de uma jornada que promete transformar
nossas vidas para sempre.
Uma semana depois
A ilha foi tão perfeita que Valentino atendeu ao meu pequeno
capricho de voltar aqui, dessa vez com menos coisas nas nossas
cabeças, já que o incidente com a Lavínia parece ter sido resolvido de
uma vez, embora meu noivo ainda não tenha encontrado quem foi o
mandante do crime.

Decidimos que uma vez por mês iriamos relaxar na ilha, por isso
viemos para cá na sexta, e hoje aproveitamos um ótimo sábado na
varanda com a brisa do mar banhando nossos corpos.

Eu entendo agora o motivo da Francesca ter amado esse homem.


Valentino tem tudo misturado em si; amor, cuidado, carinho, brusquidão,
e acima de tudo, um olhar apaixonado que arde meu corpo sempre que
ele me olha. É um inferno não poder o ter para mim por completo,
mesmo depois das nossas declarações e semanas apaixonados.

Enquanto observo Valentino sentado na varanda da casa, imerso


em seu trabalho através do notebook, sinto uma mistura de sentimentos
se formando dentro de mim. Ele está ali, vestindo uma roupa leve de
praia, tomando um whisky e concentrado em sua tarefa, exalando uma
aura de masculinidade e poder, que me atraem cada vez mais, não só
mexendo com minha mente, mas também com meu corpo.

Cada vez que o olho assim, sinto cada pedacinho do meu corpo se
arrepiar, e um atrito entre as pernas, que só consigo sentir quando olho
para esse homem gostoso, que está apanhando para si, cada dia mais,
um pedacinho do meu coração.

Nunca imaginei que isso pudesse acontecer, mas a ideia de me


trazer para cá, e ficarmos uns dias só nós dois, foi a aposta mais certa
que ele fez para me ganhar de vez, ganhar minha confiança, meu
coração, sem ressalvas, eu sou dele e ele é meu e nada mais importa.

O sol se põe lentamente, tingindo o céu de tons alaranjados e


rosados, enquanto me aproximo sorrateiramente da varanda. Meus
passos são leves, mas meu coração está acelerado, transbordando de
uma mistura de nervosismo e desejo.

Paro ao lado de Valentino e admiro seu perfil, como ele franze a


testa em concentração enquanto digita rapidamente no teclado, e como
morde a lateral dos lábios.

Meus dedos roçam suavemente em seu ombro, causando um leve


arrepio em sua pele. Ele vira o rosto na minha direção, os olhos
surpresos, refletindo a luz suave do entardecer, quando percebe que
estou muito próxima, com nossas bocas quase se tocando.

Sorrindo, eu me inclino para mais perto, permitindo que meus


lábios rocem de forma provocante o lóbulo do seu ouvido enquanto
sussurro:

— Sabe, Valentino, cheguei à conclusão, de que lutar contra os


próprios desejos pode ser uma batalha perdida... — olho sua boca
entreaberta, conseguindo sentir o cheiro de whisky em seus lábios.
Mordisco seu lábio inferior, tentando parecer sensual — precisamos
mesmo esperar até depois do casamento? — retiro o notebook de seu
colo e me sento, prendendo seu olhar ao meu — me faça sua Val.

Valentino me encara, seus olhos percorrendo cada traço do meu


rosto. Sua expressão, uma chama intensa de desejo. Me puxa
segurando-me firmemente pela cintura.

— Giuliana, eu sou um homem que segue as tradições, mas você


me faz querer jogar tudo para o alto.

Morde meu ombro desnudo pelas alças da blusa fina. Seus lábios
encontram os meus num beijo ardente, e naquela noite, sob o manto
estrelado do céu, a batalha interna se transforma em um maravilhoso e
intenso encontro de almas, onde nós nos entregamos completamente à
paixão que nasceu entre nós.

Nossos corpos se entrelaçam com uma urgência há muito tempo


contida. Cada toque, cada carícia, é uma explosão de desejo e entrega.

Sem parar de me beijar, desce a mão entre minhas pernas, me


tocando no ponto onde mais preciso de sua atenção. Estou latejando,
sinto uma ardência, uma necessidade absurda, de... nem eu mesma sei
o que.

— Hummm... — gemo contra seus lábios, enquanto me contorço


em seu colo.

Ele pressiona o polegar em meu nervinho inchado de tesão, e enfia


dois dedos em minha vagina, tirando e circulando. Ao entrar novamente
com seus dedos hábeis.
— Valen... — sinto meu corpo estremecer, e uma espécie de puxão
no meu baixo ventre. Sei o que é, da outra vez que estávamos em seu
escritório na sede, e tive sua boca em mim, senti o mesmo.

— Não goza ainda — ele manda, retirando seus dedos de mim, me


fazendo gemer em protesto. — Calma, meu anjo, quero sentir seu gosto
novamente, estou louco de saudade do sabor do seu mel...

Ele se levanta comigo no colo, me colocando sentada na poltrona,


tira minha calcinha, puxando com o short que eu usava, planta meus pés
no acento, dobrando meus joelhos e abrindo minhas pernas, me
deixando totalmente exposta para ele.

Ele se ajoelha de frente para mim, abraçando cada perna, me


segurando pelas coxas, lambendo minha boceta de boca aberta,
enfiando a língua em meu canal, onde antes estavam seus dedos.

Começa a me chupar, mamar meu clítoris com fome, e coloca


primeiro um dedo em meu canal, movimentando com agilidade, em
seguida coloca mais dois dedos, mantendo três dedos dentro de mim.

Me agarro nos braços da poltrona, gemendo alto, gritando seu


nome, sentindo aquele puxão novamente, e convulsionando o corpo,
enquanto ele não para de sugar meu clitóris, bebendo todos os fluidos
que meu corpo lhe entrega.

— Sei que não toma contraceptivo nenhum, mas nunca transei sem
camisinha, estou limpo, e não quero quebrar o momento indo até o
quarto pegar uma — ele diz rouco, beijando meu corpo, libertando meus
seios da blusa que os cobria.

Olho em seus olhos com o mais puro tesão e desejo que sinto, e
falo:
— Só me faça sua – Valentino — puxo seu rosto, buscando seus
lábios em um beijo ofegante.

Ele tira sua calça em tempo recorde, libertando seu pau enorme,
grosso, com algumas veias e a cabeça rosada e inchada. Olho seu
comprimento, assustada, e acredito que meu olhar diz tudo, porque ele
comenta baixo, rindo da minha reação:

— Vai caber, linda, não se preocupe.

Noto que sai um líquido transparente da cabeça do seu pau, e sem


perceber, passo a língua nos lábios, desejosa para sentir seu gosto.

— Quer me chupar Giuliana?

Olho para ele de olhos arregalados, depois olho novamente seu


pau, que ele masturba lentamente, e está em pleno ápice do seu prazer.
Engulo em seco, e olhando aquela delícia, afirmo com a cabeça, fazendo
o Valentino se aproximar com um sorriso safado, e passar a cabeça
aveludada como se fosse batom, em meus lábios.

— Abra a boca, meu anjo, relaxe, e cubra os dentes.

Faço o que ele manda, olhando em seus olhos, esperando suas


instruções.

— Segure assim... — Cobre minha mão com a sua em seu


comprimento, agora chupe como se fosse um pirulito.

Mais uma vez faço o que ele manda, e me sinto vitoriosa quando o
vejo jogar a cabeça para trás, urrando de tesão. E me segurando pelo
cabelo, vai ditando os movimentos do seu pau dentro da minha boca.
Quando estou quase gozando novamente, rebolando contra o
estofado da poltrona, de desejo avassalador por senti-lo na minha boca,
ele tira seu pau, me puxando em seus braços e me beijando. Um beijo
guloso, faminto.

— Eu vou te comer agora Giuliana, vou meter fundo dentro de


você, e te marcar como minha, só minha... — fala possessivo, me
levando para sala, e me deitando nas almofadas gigantes e macias que
tem espalhadas pelo chão.

Olho para ele em expectativa, ansiosa, enquanto ele se encaixa no


meio das minhas pernas, passando a glande entre minhas dobras,
melando e me lubrificando com meus próprios fluidos.

Travo, quando sinto que ele se encaixa no meu canal intocado, e


entra um pouco, empurrando devagar. Solto um gemido dolorido,
desconfortável, então ele mete a mão entre nós, circulando meu nervo
que implora sua atenção, me fazendo relaxar, enquanto invade meu
interior, me abrindo, reivindicando meu corpo como dele.

Grito de dor, mordendo seu ombro, quando sinto que ele


ultrapassou e quebrou a barreira da minha inocência, ele para, e começa
beijar meus lábios, me distraindo, e após uns segundos, começa se
mexer novamente, lento, calmo. Numa dança sensual, entrando e saindo
de dentro de mim.

— Mais rápido — peço me mexendo debaixo dele, tentando


acompanhar seus movimentos, rebolando no seu pau.

Ele acelera, e começa estocar com mais força também, sem parar
de circular meu clítoris com o polegar, sinto nossas pélvis baterem uma
na outra. Me levando ao paraíso.
E naquela sala, naquelas almofadas, em uma noite estrelada,
quente, nossos suspiros se misturam com a brisa marinha do lugar, e o
som das ondas quebrando na praia se tornam a trilha sonora dessa noite
de paixão incontrolável.

O mundo ao nosso redor desaparece, deixando apenas o eu e ele,


unidos em uma dança sensual e transcendente.

Valentino me segura com firmeza, revelando sua força e ternura em


cada movimento. Cada estocada é um gemido que soltamos, formando
uma cadência única entre nós.

Seus lábios percorrem minha pele, deixando um rastro de beijos


quentes e famintos. Sinto meu corpo se incendiar com cada toque,
enquanto me entrego completamente a essa conexão avassaladora.

Todas as barreiras que um dia nos separaram desmoronam, e


somos apenas dois seres humanos em busca da plenitude do nosso
êxtase. Os gemidos escapam de nossos lábios em uma sinfonia de
prazer, enquanto nos entregamos ao tesão que nos consome.

— Perfeita — ele beija a lateral do meu rosto quando goza dentro


de mim, me enchendo de uma parte só dele, misturada a uma só minha.

— Sim — murmuro mole, sem forças depois de um sexo


maravilhoso.

As horas se passam como um borrão, e o cansaço se mistura com


a satisfação em nossos corpos entrelaçados. Percebemos que
encontramos algo especial um no outro, algo além das convenções e das
expectativas. A chama que nos uniu é intensa demais para ser negada.

Enquanto repousamos nas almofadas, na escuridão da sala, tendo


somente a luz suave da lua iluminando o lugar, nossos olhares se
encontram. Valentino acaricia meu rosto com carinho, e seu gesto,
dispensa palavras. Eu sorrio, feliz pelo que encontrei.

Ali, naquela noite mágica, eu percebo que o amor não segue regras
nem convenções. Às vezes, é preciso se render ao inesperado,
permitindo-se ser levado por uma paixão que desafia todas as
expectativas. E é nessa entrega que encontramos a verdadeira
felicidade.

Envolvida nos braços de Valentino, adormeço com a certeza de


que, apesar de todas as diferenças e obstáculos, encontramos um ao
outro. E, juntos, escreveremos nossa própria história de amor, onde a
força do nosso desejo e a rendição aos nossos sentimentos se tornam a
essência de uma união inesquecível.
Voltamos para casa depois de um final de semana incrível naquela
ilha paradisíaca. Giuliana e eu estávamos sorrindo e rindo, relembrando
os momentos mágicos que tivemos juntos.

Sentimos uma conexão ainda mais profunda, como se tivéssemos


descoberto um novo capítulo em nossa futura história de amor.

— Vocês demoraram — Chloe comenta vindo em nossa direção


com meu filho no colo — o Raffaello ficou com um pouco de febre no
meio da noite, nada sério, ele chamou muito por você Valentino.

Meu filho esticou os bracinhos quando me viu. Os olhos cansados


de quem passou a noite em claro sentindo dor. Odeio a ideia de ter
estado ausente enquanto o Raffaello estava doente.

— Papa...

— Ei, garotão... papai chegou — falo beijando sua cabecinha,


sentindo se ele ainda tem o corpo quente, por sorte está com a
temperatura normal.

Todo manhoso, ele deita a cabeça no meu ombro, enquanto entro


na casa com a Giuliana e a Chloe.
— Foi ao médico? — Pergunto para Chloe, enquanto deixo as
malas na entrada, para o mordomo levar para os quartos.

— Sim, o doutor disse que era uma virose, nada de mais, mas se a
febre persistisse era para levá-lo de volta.

— E a febre persistiu?

— Não, graças a Deus de manhã ele estava bem.

— Como você se sente garotão? — pergunto o balançando no


colo.

— Dodói — ele fala com a voz manhosa. — Faz calilho — pede


com um bico que me faz sorrir.

— O quanto você quiser — sento-me no sofá e aliso seus cabelos,


a cabeça descansando no meu peito.

Ele leva o dedo a boca e começa a chupar enquanto fecha os olhos


se deixando nanar. Igual com quando ele era bebê, eu me levanto e fico
andando de um lado para o outro, embalando seu corpo em um sono
tranquilo. Raffaello não demora para ressoar respirando suave, indicando
que dormiu.

— Cadê Fellipo e Alina? — Pergunto baixo estranhando a ausência


de ambos, já tem uns bons minutos que chegamos e eles não
apareceram.

Vejo que a Chloe encara o teto, chão, e mexe nos dedos evitando
meu olhar, ficando com as bochechas vermelhas que parece que quem
está com febre agora é ela.
— Eles estão no moto clube né? — Pergunto com as sobrancelhas
arqueadas.

— Sim — sussurra a resposta.

— Por que minha irmã está no clube do Matthew? — Giuliana


pergunta sentando-se e estendendo os braços pedindo o Raffaello para
ela.

Minha mulher e agora mãe do meu pequeno, ele nunca mais terá
de chorar chamando pela mamãe, agora que a Giuliana está aqui. Vamos
manter viva a lembrança da Francesca, mas também dar ao meu menino
um colo quente para ele receber carinho, e uma voz suave conversando
com ele. O calor do amor de uma mãe e de um pai, a família que meu
menino merece.

Sento entregando o Raffaello a ela, que se aninha no peito da


Giuliana, ainda chupando o dedo. Ele parou de chupar a chupeta quando
tinha 8 meses e colocou o dedo no lugar, Giuliana precisa tirar esse
costume dele ou vai crescer com os dentes tortos.

— Não sei, eles só saíram apressados — Chloe responde com


carinha de quem sabe muito mais do que está revelando.

— Mas Alina nem conhece o Matthew — Giuliana observa — não


faz sentido ela ser levada.

— Esperava isso de você — digo a Chloe que olha para baixo


envergonhada.

— Eu realmente não sei — suspira frustrada, sua resposta não me


convence.
— Quando eles chegarem, terão de se explicar — digo, dando um
basta ao assunto. — Estamos cansados da viagem, quando meu irmão
chegar pode me avisar?

— Sim — ela sai correndo como se estivesse fugindo da forca.

— Isso foi muito estranho — Giuliana comenta.

— Sim, tem algo de errado e vou descobrir.

Levanto, com cuidado, pego o Raffaello para que Giuliana possa


levantar sem o acordar. Caminhamos juntos para o quarto dele e o
coloco dentro do berço, ligo a babá eletrônica e pego a câmera, a
levando ao nosso quarto.

Sim, nosso quarto, não a quero longe de mim.

— Querida, coloque suas coisas no meu quarto. A partir de agora,


será o seu quarto também, dei um beijo suave em seus lábios.

Ela assentiu sorrindo, e foi para seus aposentos, pegar suas


coisas, antes de sair, me olhou com admiração e gratidão, seus olhos
brilhando.

— Obrigada por me fazer sentir tão especial e amada —


respondeu, segurando minha mão com carinho, deixando um beijo na
cabeça do meu filho que dormia tranquilo no berço e nos meus lábios,
indo para o seu.

****

À noite, após um longo dia de trabalho, entrei em casa e fui direto


para o meu escritório, minha mente repleta de preocupações, várias
merdas impostas que eu não estou inclinado a aceitar.
O conselho está com alguma fixação muito grande em casar a
Alina com Luca. Todos aqueles velhos, tem filhas em idade para casar e
não falam delas, mas não conseguem esquecer a menina Alina. Não vou
permitir que ela case com qualquer um. Sou o seu tutor legal, e somente
eu decidirei com quem ela vai ficar, quero dar a Alina a escolha que
Giuliana não teve. Terminar os estudos e decidir com quem casar.

Meu telefone toca, e pego o aparelho começando uma discussão,


bem acalorada com Vincenzo do outro lado da linha. Meu tom de voz
aumentava a cada palavra dita, o bastardo que a todo custo, quer eu
concorde com o arranjo de casamento entre Alina e o vagabundo do seu
filho Luca.

Discutíamos feio, e o proibi de me ligar novamente, não havia o que


ser falado, nem conversa sobre o assunto.

Eu andava como um leão enjaulado, puto com tudo, quando a


Giuliana entrou no escritório devagar, sua expressão preocupada e
compassiva.

Ela fechou a porta suavemente e se aproximou de mim,


preocupada com os gritos que eu estava dando minutos antes.

— Valentino, está tudo bem? — Pergunta se aproximando — Posso


fazer alguma coisa para ajudar? Quer conversar sobre o assunto? —
Perguntou, colocando a mão em meu ombro.

Olhei para ela, meus olhos refletindo a tormenta emocional que eu


estava vivendo. Respirei fundo e soltei um suspiro pesado.

— Estou passando por uma situação complicada no trabalho. O


maldito conselho está me pressionando a fazer algo que não estou
disposto — comento apertando a ponte do nariz. — Eles acham que
mandam em mim, e todos os velhos se unirão para conseguirem o que
querem. Estou a ponto de matar a todos e colocar seus filhos no lugar, se
os bastardos não fossem me dar tanta dor de cabeça também.

Ela acariciou meu rosto com doçura, oferecendo-me seu apoio


incondicional.

— Você não está sozinho. Somos uma equipe, lembra? Se quiser


desabafar, estou aqui para ouvir. Se quiser que eu faça algo para aliviar o
seu fardo, farei o possível para ajudar. Você não precisa enfrentar isso
sozinho — disse, sua voz cheia de compreensão.

Meu coração se encheu de gratidão por ter Giuliana ao meu lado.


Ultimamente ela está sendo minha rocha, meu porto seguro nos
momentos difíceis. Eu a abracei com força, sentindo-me amparado por
seu amor e apoio inabaláveis.

— Obrigado, meu anjo, sua presença e apoio significam tudo para


mim. Vamos superar esses obstáculos juntos. Você é uma fortaleza
menina — murmurei, encostando minha testa na dela.

— Vai me contar o que te tirou do sério desse jeito? — Ela


perguntou, me puxando para nos sentarmos no sofá.

Me sentei e a coloquei no meu colo.

— O conselho quer que eu concorde com um noivado entre o


Lucas, filho do Vincenzo, com a Alina — falo olhando sua reação.

Minha garota virava uma onça quando se tratava da irmã caçula.

— Aposto que ela, que é a mais interessada, não foi informada. —


Revira os olhos bufando.
— Não, porque eu não concordei com nada.

— E pretende concordar?

— Não, Giuliana, esse rapaz não vale o que come, eu jamais


permitiria tamanho absurdo. Eu quero dar a sua irmã a escolha tirada de
você.

— Obrigada — ela sussurra com os olhos banhados em lágrimas.

— Nossa união resultou no amor que temos um pelo outro — aliso


seu rosto — mas não podemos esquecer que eu sempre soube quem eu
era, e que nunca a machucaria — beijo seus lábios — desde o início
estava disposto a ter um casamento pacifico. Mas não posso confiar no
Luca para ser assim com a Alina, ela é uma garota especial e não
merece sofrer, assim como Chloe.

— Eu amo tanto você — ela murmura com os olhos brilhando como


diamantes.

Colo nossos lábios encontrando a calma que precisava em meio a


tormenta. Eu sou o Dom, e aqueles velhos vão ter de me obedecer.
Quando a proposta de Giuliana para casar comigo foi feita, eu não podia
recusar, ser um Dom sem uma família me enfraquecia e ainda sofria
pelas acusações da morte da Francesca e ter deixado meu irmão vivo.

Mas agora as coisas são diferentes, novas suspeitas surgiram, um


novo atentado, e a certeza de que tem outra pessoa por trás
manipulando tudo como em um jogo de xadrez. Eu estou mais forte do
que nunca e pronto para derrubar todas as peças, vou matar o rei do
inimigo e firmar de uma por todas que o único Dom dessa máfia sou eu,
aquele que comanda e deve ser obedecido.
Os dias do conselho se acharem superiores a mim estão chegando
ao final, e quando isso acontecer, vou promover um banho de sangue
maior do que os gregos faziam com os traidores.

— Estou cansado, e tudo que quero agora é um longo banho e o


corpo da minha mulher — falo beijando seu pescoço, tirando sua atenção
sobre esse problema.

— Então... — começa falar, desabotoando minha camisa — vem, te


faço esquecer esse assunto por hora.

Sorrio, pegando minha garota no colo, e levando-a para a suíte do


nosso quarto, louco para me enterrar no seu corpo.
Dias depois
— Hoje uma cerimonialista virá conversar com você sobre a festa
de oficialização do nosso noivado — falo para Giuliana, na mesa do café
da manhã, enquanto todos ainda comemos.

Com o silêncio que se formou em seguida, levanto a cabeça para


olhar minha noiva, que está paralisada me encarando, assim como todos
em volta.

— O que foi? Falei algo errado? — pergunto sem entender a


reação deles.

— Não, mas eu pensei que não teria nada disso, de festa para
oficializar o noivado. Já faz tanto tempo que estou aqui — desvia o olhar
e entendo que ela quer falar sobre termos feito sexo — que achei que
seria somente o casamento.

— Bem que eu gostaria de fazer somente um jantar para a família e


alguns amigos próximos, mas infelizmente, sendo quem sou, não escapo
das formalidades, meu amor — respondo, arqueando a sobrancelha para
que ela tenha certeza de que usei “meu amor” intencionalmente.
Suas bochechas ficam rubras e ela sorri tímida, não sabendo como
reagir à demonstração de afeto na frente de outras pessoas. Eu estou
pouco me lixando, na minha casa, faço o que eu quiser.

— Ainda preciso saber o motivo de vocês terem ido ao Hell Hounds


— encaro Fellipo e Alina, que desviam os olhos.

— Não acha natural eu querer conhecer seu irmão? — Alina


pergunta, as bochechas rubras.

— Não — respondo seco.

— Pega leve Valentino — Fellipo fala colocando o guardanapo na


mesa — a Alina também ficou fazendo vigília para o Matthew, é natural
que ela queira o conhecer depois de tudo o que passamos. Você pode
renegar o Matthew, mas somos uma família.

— Não te incomoda saber que ele é acusado de matar sua irmã?


— pergunto a ela, testando suas emoções.

— Você disse certo; acusado, e não culpado — ela ergue o queixo


— eu queria ouvir da boca do Matthew o que aconteceu naquele dia
quando a Francesca morreu — encara o prato triste — você não é o
único que quer respostas.

— E o que você descobriu? — pergunto curioso, talvez o Matthew


tenha falado mais a ela do que para mim.

— Que o Matthew com certeza foi vítima de uma armadilha, não


tem como ele ter matado a Francesca. Quando uma pessoa mente, ela
não tem expressão nos olhos e o Matthew tinha uma dor pungente dentro
dele.
Eu também vi isso em todos os dias que torturei meu irmão, e
quando o encontrei para tratar de negócios.

— Eu só queria saber — suspira — sei que com o passar dos anos


é mais difícil descobrir a verdade, mas...

— Eu nunca parei de tentar encontrar o verdadeiro assassino —


digo a ela, dando por encerrado o assunto.

— Obrigada — Giuliana e Alina falam, ambas com dor no olhar por


perderem a irmã querida.

— Fellipo, depois vou até o Hell Hounds conversar com o Matthew


sobre a mercadoria que negociamos a rota, também. Quero que você
venha comigo.

— E nós vamos ao shopping — minha cunhada falou animada —


precisamos de vestidos.

Deixando tudo acertado, seguimos para o MC Hell Hounds.

Estou animado com o noivado, nunca pensei que diria isso, mais
estou contando os dias para esse casamento, já que será só oficializar
de fato, pois eu e a Giuliana já somos um casal, e estamos dividindo o
mesmo quarto.

Finalmente tive um tempo de respiro nos negócios, e marquei uma


data, para oficializar meu noivado com Giuliana. Ela é a mulher dos meus
sonhos, aquela que eu nem sabia que buscava, e estou ansioso para
compartilhar esse momento especial com todos os nossos amigos e
familiares.

Mas antes de tudo, até porque pretendo viajar e ficar no mínimo um


mês fora, decidi fazer uma visita ao moto clube do Matthew.
Nós, eu e Matteo, tivemos nossas diferenças ao longo desses dois
anos, mas ele é meu irmão do meio e, apesar de tudo, ainda há um
vínculo entre nós. Quero aproveitar esse momento para conversar com
ele, propor uma trégua provisória e resolver alguns problemas
pendentes.

Com as novas evidências aparecendo sobre o atentado a Giuliana,


e as semelhanças com a morte da Francesca, talvez meu irmão possa
ser útil me ajudando a montar o quebra-cabeça e pegar o verdadeiro
assassino, o impedindo de tentar matar a minha esposa.

Enquanto dirijo meu carro até o moto clube, Fellipo me segue em


seu carro, já que pretende ir a outro lugar ao invés da sede de nossa
organização, depois daqui.

Lembro-me da última vez que nos encontramos, quando propus


uma trégua para poder passar com uma mercadoria grande, em troca de
uma porcentagem dos lucros, e no dia da entrega, a situação ficou tensa
e acabou com Matthew no hospital. Agora, sinto-me culpado e
determinado a fazer o que é certo.

Chegando ao clube, logo o Fellipo está ao meu lado, pronto para


entrarmos no lugar, o ambiente está carregado com o som de motores
roncando e a música alta. Procuro por Matthew e o encontro sentado em
um canto escuro, conversando com alguns membros do clube. Respiro
fundo e me aproximo dele com firmeza.

— Matthew... — chamo com a voz carregada de seriedade. —


Precisamos conversar.

Ele levanta os olhos para mim, seus olhos escuros revelando uma
mistura de surpresa e cautela.
— Valentino, Fellipo, — nos cumprimenta com um aceno de cabeça
— pensei que não fossemos nos ver novamente — comenta me olhando
com seus olhos de águia.

— Vim acertar as contas pelo acordo que fechamos.

— Vamos entrar, na minha sala é mais calmo — ele diz entrando, e


acenando com a cabeça para seguirmos.

— Você está melhor? — Pergunto assim que entramos.

— Sim, demorou um pouco a recuperação, mas já me sinto 100%


— ele responde, nos servindo um copo de whisky para cada.

Estamos conversando sobre o dia da entrega, e sobre suas


desconfianças, porque o pessoal dele, e ele mesmo, acharam que os
homens que os atacaram, sabiam que eles estariam ali. Como se alguma
informação houvesse vazado.

— Isso é estranho — Fellipo fala coçando a barba — só eu que


estou notando a teia em que nossa família foi envolvida?

— Não é estranho, é uma armadilha — levanto encaixando as


peças na minha cabeça — desde o início o alvo nunca foi a carga ou um
de vocês, minha esposa e noiva foram somente meios para o que ele
queria.

— Ele? — Matthew pergunta franzindo a sobrancelha.

— O que você faz para transformar um Dom em fraco e poder


contestar o seu poder diante do conselho, conseguindo uma
substituição? — pergunto a ambos, já sabendo a resposta.
— Só tem dois meios — Matthew fala ficando em pé e
acompanhando meu raciocínio — mata o antigo e toda a sua linhagem
ou...

— Transforma o sucessor em um fraco, incapaz de cuidar da


família — Fellipo continua.

— Atacaram a minha esposa pouco depois do nosso pai morrer, o


Matthew foi considerado culpado e exigiram a cabeça dele — digo —
meu reinado começou com uma traição e a quebra da minha família.
Após ceder a pressão para me casar novamente, em menos de seis
meses, minha noiva sofre um atentado, e a carga que passaria pelo
território do irmão que eu deveria ter matado é atacada, com informações
que somente alguém da organização poderia saber. PORRA!

Grito chutando a cadeira, que desliza batendo na parede, a ira me


consumindo de dentro para fora ao perceber o que aconteceu.

— O pai das meninas morreu em um período curto de tempo, se


comparado ao do nosso e a morte da Francesca, e nunca recuperaram
arquivos importantes que deveria estar no computador dele — Fellipo
fala — tanto elas quanto a nossa família, possuem aquisições que
servem para legitimar e dar base a nossa força, mas se perdemos tudo,
não temos como manter a legitimidade da nossa liderança.

— E agora a pressão para Luca casar com Alina, se eu e Giuliana


morrermos, ele fica com tudo de ambas as famílias. Caso o casamento
fosse aprovado — junto o que faltava.

— Porra — Matthew fala — eles conseguiram o que queriam,


quebraram a nossa família e te deixaram fraco.
— Não enquanto eu ainda estiver vivo — pego minha arma
engatilhando — eu vou matar os ratos, as provas encontro depois.

— Estou junto — Matthew diz engatilhando sua arma — esses


bostas me tiraram da minha família, eu também mereço vingança.

— Não vamos deixar nenhum deles vivos — Fellipo fala.

Meu celular toca, vejo que é o segurança designado a cuidar da


minha noiva, e como hoje elas iam ao shopping.

— Fala Norberto — atendo o celular levantando um dedo, pedindo


licença da conversa.

— Senhor... a senhorita Giuliana e a irmã desapareceram, não


conseguimos encontrá-las em lugar nenhum — o homem fala nervoso.

— Como assim desapareceram, porra? Onde vocês estavam? No


inferno?

— Elas entraram em um provador da loja de roupas íntimas,


demoraram muito para sair, então entrei atrás das duas, mas elas não
estavam lá — fala, e pela respiração ofegante, sei que está andando,
senão correndo.

— O que foi Valentino? — Fellipo pergunta me olhando


preocupado, então coloco o celular no viva-voz.

— Onde você está agora Norberto? — Pergunto me controlando


para não esmagar o aparelho.

— A atendente da loja disse que existe uma saída de emergência


nos fundos da loja, que dá para vários corredores de serviço, estou no
rastro das irmãs.
— Espera, que irmãs? O que aconteceu? — Matthew pergunta sem
entender a ligação.

— Giuliana, você a conheceu no hospital — falo gesticulando com


a mão — saiu com a irmã, Alina — noto que ganho sua total atenção ao
mencionar o nome da minha cunhada — elas foram ao shopping comprar
vestidos, mas Norberto acabou de dizer que elas sumiram de dentro da
loja, e não saíram pela porta da frente.

— Isso mesmo senhor, estou indo na sala da segurança, quero ver


as câmeras do local — Norberto comenta do outro lado da linha.

— Estou indo. — Digo encerrando a ligação.

— Vou com vocês — Matthew diz, já pegando as chaves de sua


moto. — Se o que falamos agora for a verdade por trás de tudo que tem
acontecido com a nossa família, você precisa de pessoas de confiança.

— Vamos salvar minha noiva e cunhada e matar o desgraçado que


quer a nossa destruição. — Falo acenando a cabeça, concordando, e
saímos do seu escritório.

Quando entramos no salão, onde fica o bar do clube, Matthew


explica aos seus homens e amigos, sobre o possível sequestro de
Giuliana e Alina, dando ordens para patrulharem perto do shopping e
atirarem em qualquer um que esteja com as meninas.

Nesse segundo, meus homens não são de confiança, não sei quem
é o traidor e não posso confiar em alguém de dentro, tudo o que me resta
é o Matthew e o seu pessoal.

— Valentino, eu não sei quem fez isso, mas juro que iremos
encontrá-las e trazer sua garota para casa — Matthew coloca a mão no
meu ombro em apoio, antes que eu vá para meu carro.
Olho para ele, certo de que tomei a decisão correta em não o
matar. Meu irmão também foi uma vítima da pessoa que tenta destruir a
nossa família, e quando tudo estiver acabado, eu vou o trazer de volta
para casa, seu lar, onde pertence.

— Sei que tenho sido duro com você, Matthew. Talvez tenha sido
injusto em várias ocasiões — confesso, a voz suavizando, e baixando,
para só ele ouvir. — Mas agora preciso da sua ajuda para encontrar
Giuliana e Alina, meu irmão.

Ele respira fundo e olha para mim por um momento antes de


assentir.

— Valentino, nós somos, família. Vou fazer tudo o que estiver ao


meu alcance para ajudar você a encontrar as garotas.

Sinto um peso ir embora dos meus ombros. Embora não tenhamos


resolvido todas as nossas diferenças, é bom saber que posso contar com
ele em momentos difíceis como este. Juntos, podemos fazer a diferença
e trazer Giuliana e Alina de volta para casa em segurança. E matar o
desgraçado que nos arruinou.

— Obrigado, Matthew — digo sinceramente. — A hora de descobrir


a verdade por trás da morte de Francesca, chegou. Precisamos superar
isso também.

Ele olha para mim, seus olhos cheios de tristeza e mágoa.

— Eu juro, Valentino, que não tive nada a ver com aquilo. Nunca
quis causar dor a você — coloca o capacete e sobe em sua moto,
arrancando, seguido de um verdadeiro comboio de motocicletas atrás
dele.
Acredito nas palavras de Matthew, pois vejo a sinceridade em seu
rosto. Agora, com nossa trégua temporária e a promessa de sua ajuda,
nós nos preparamos para enfrentar o desafio que está diante de nós.
Enquanto entro em meu carro e seguimos para buscar Giuliana e Alina,
uma nova esperança nasce dentro de mim.

Juntos, irmãos de sangue, podemos superar as adversidades e


restaurar nossa relação.
— NÃO — Grito com toda a força.

Uma mão agarra forte meu corpo, me impedindo de me mover,


enquanto choro desesperada tentando alcançar Alina, o homem a puxa,
enquanto minha irmã tenta segurar as minhas mãos, a retirando do carro
e jogando seu corpo na calçada. Ele bate na cabeça dela, fazendo-a
desmaiar.

Senti o mundo desmoronar ao meu redor.

O terror se infiltrou em cada célula do meu corpo, enquanto o


desespero e a raiva se misturavam em meu peito.

— EU VOU MATAR VOCÊ — gritei, encarando o homem que havia


nos, sequestrado de dentro da loja de lingerie. Quando entrei na cabine
com Alina para provar as peças, ele nos segurou com um pano no nariz.
Antes de desmaiar, vi abrirem uma passagem entre os provadores e nos
jogando em um carro de limpeza saindo da loja.

O homem sorriu de forma doentia, seus olhos brilhando com um


prazer sádico.

— Essa irmã pouco me importa, fedelha nojenta — ela fala


cuspindo ao lado.
— Essa irmã? — Repito suas palavras sem entender.

— Sim, essa irmã... essa coisinha insignificante. Ela se parece com


minha Francesca, mas não chega aos pés dela.

Olho para esse doente sem entender, como ele pode machucar a
Alina dessa forma e ainda falar da minha irmã como se ela pertencesse a
ele.

— Você conheceu Francesca?

— Era tão linda — responde ignorando meu espanto — eu tentei


diversas vezes negociar com o seu pai um acordo de casamento, mas
ele sempre recusava. A minha Francesca tinha sido prometida ao filho do
Dom, e isso nunca mudaria, então eu mudei as regras — ele sorri
asqueroso — você sabe o que precisa para colocar o mundo aos seus
pés?

— Não — respondo com o medo paralisando meu corpo. O homem


que me segura, ri atrás de mim, enquanto o velho asqueroso se aproxima
tocando meu rosto.

— Você mata a todos que estão no seu caminho — alisa meu rosto
— o maldito do Valentino conseguiu se tornar o Dom e casar, antes do
veneno fazer efeito no pai dele, e depois no seu, matei ambos como
vingança por darem a minha Francesca a outro homem.

— Isso — falo atônita — não faz sentido, meu pai morreu de ataque
cardíaco.

— É o que todos pensam, uma das vantagens de não termos


médico legista, um simples ataque do coração pode ser um
envenenamento disfarçado — sorri — eu estava pronto para fazer a
Francesca minha, preparei o cenário perfeito — ele leva a mão a minha
coxa e puxo a perna contra o peito.

— O que você fez? — Rosno.

— Um plano longo e detalhado, hackeei o celular do Valentino,


sabia onde ela estaria, me livrei dos seguranças e secretárias, iria fugir
com a minha amada e culpar o Matthew, por isso o chamei a sede.

— Você é doente — as peças começam a se encaixar na minha


mente e tenho vontade de vomitar.

— Não, sou apaixonado — alisa o interior da minha coxa e eu


tenho ânsia — declarei meu amor a Francesca e disse que poderíamos
fugir sem deixar rastros, mas ela me rejeitou — aperta minha carne com
fúria — A VADIA ME REJEITOU DEPOIS DE TUDO QUE FIZ POR ELA
— Grita cuspindo no meu rosto — não tive outra alternativa além de
matá-la.

— Você é um monstro — choro, o peito partido em dois ao imaginar


o medo que minha irmã sentiu.

— Eu a amava, Giuliana. Mas ela me rejeitou. Ela queria pertencer


a outro, e isso me enlouquecia. Então, eu a matei. Se ela não podia ser
minha, ela não seria de mais ninguém.

— Como o Matthew acabou sendo o culpado? — pergunto,


tentando entender o que aconteceu, quando o Valentino me salvar e
espero que seja logo, ele precisa saber a verdade.

— Ele chegou na sala, eu já tinha saído e observava tudo pela


passagem secreta. A Francesca ainda tinha o punhal dentro dela,
Matthew segurou a arma para a ajudar, mas quando puxou e tentou
estancar o sangramento, ela morreu. Valentino chegou logo em seguida e
partiu para cima do irmão como uma besta, o que me deu tempo para
fugir.

O choque e a tristeza inundaram meu peito de forma avassaladora.


Eu nunca poderia ter imaginado que o homem diante de mim, carregasse
consigo um coração tão cheio de escuridão. Lágrimas escorreram pelo
meu rosto, mas minha determinação a sair daqui, e meu ódio, só
aumentam.

— Você é um monstro — sussurro, com a voz trêmula. — Você não


vai escapar impune por isso. Eu juro.

O homem riu, um som frio e arrepiante.

— Você não tem escolha, Giuliana. Você será minha agora. Se eu


não posso ter a sua irmã, você será minha consolação. Eu te farei pagar
pela rejeição de Francesca. Tracei um plano perfeito dessa vez, para que
o Valentino caísse, a família dele desmoronou, aquela ratinha se casará
com o Luca e ele será o próximo Dom, Raffaello não tem idade para
assumir a cadeira do pai, com o Matthew exilado, e o Fellipo sem poder
algum, você vai ser minha e ninguém poderá contestar.

— Mas quem é você? — Pergunto sentindo uma fúria ardente se


acender dentro de mim. Eu não podia permitir que esse homem
continuasse a destruir a vida das pessoas que amava. Não era só minha
segurança em jogo, mas a de Alina também.

Ele tem a certeza de que venceu, vou usar a sua confiança para
conseguir escapar desse miserável, e salvar a mim e minha família.

— Eu nunca vou ser sua — disse com determinação, meus olhos


faiscando de coragem. — Eu irei lutar até o último fôlego para proteger
minha família e buscar justiça. Você não pode nos quebrar, porque o
amor que temos um pelo outro é mais forte do que todo o mal que você
representa.

O homem me encarou divertido com a minha recusa, ele não quer


que eu ceda, ele quer me quebrar. Temendo o futuro que me aguarda, eu
fico quieta. Com um gesto de cabeça do desgraçado, o carro para, e o
homem que me mantinha presa me solta, descendo.

A porta abre e eu não penso duas vezes antes de aproveitar que


estou perto dela para fugir.

O homem é uns bons centímetros mais alto que eu, por isso, assim
que meu pé toca no asfalto, eu me jogo no chão rolando por baixo do
carro e saindo do outro lado. Corro mata adentro, pela minha vida e da
minha família. Se eu conseguir escapar, posso achar a estrada depois e
encontrar uma forma de me comunicar com o Valentino, mas por
enquanto, eu inflo minhas coxas correndo como nunca.

O pulmão queima pelo ar escasso, as pernas estão prestes a


serem arrancadas pela dor dos galhos batendo na pele desnuda devido
ao short. Deslizo em uma inclinação ouvindo as vozes dos meus
perseguidores, aproveito a queda para me esconder atrás de uma rocha.

Ouço quando eles passam por cima da minha cabeça, fico quieta
sem fazer som algum, quando eles estão longe o suficiente para eu não
ser pega, saio do meu esconderijo e faço o caminho reverso, me
afastando o máximo de onde ficou o carro deles.

A batalha estava apenas começando, mas eu estava determinada


a vencer, Valentino precisava saber que não foi o Matthew que matou
minha irmã.
Da trama para acabar com a nossa família, e do destino horrível
que esperava pela Alina e Fellipo, ninguém vai tocar no meu filho,
Raffaello vai crescer com uma mãe, um pai, tia e tios, e a tragédia que se
iniciou com a morte do antigo Dom e do meu pai, terá um fim, posso não
saber o nome daquele homem, mas ele é da organização, e se eu ver
uma foto do seu rosto o reconheço com facilidade.

Corri com todas as minhas forças, sentindo o ar cortar meu rosto


enquanto buscava desesperadamente um meio para chamar o Valentino.
Minhas pernas doíam, mas a adrenalina pulsava em meu corpo,
impulsionando-me adiante. Eu não podia olhar para trás, temendo
encontrar o homem diabólico em minha cola.

O medo e a raiva impulsionavam cada passo que eu dava.

Encontrei uma pequena cabana abandonada à beira da estrada e


por não fazer a mínima ideia de onde eu estava, sabia que precisava me
esconder e conseguir recuperar as forças para continuar fugindo do meu
perseguidor. Adentrei o local rapidamente, observando a escuridão ao
redor. Meus sentidos estavam aguçados, cada som ecoando de forma
assustadora na minha mente.

Eu mal conseguia respirar, meus pensamentos se atropelando


enquanto lutava contra o pânico. A essa altura Valentino já devia estar
me procurando, estou em pânico por mim, e muito preocupada com
minha irmã.

Procurei um telefone ou radio de comunicação desesperadamente,


mas o interior da cabana estava vazio e abandonado. A frustração tomou
conta de mim, mas sabia que precisava manter a calma e pensar em
uma solução. Meu coração batia freneticamente, como se estivesse
prestes a explodir em meu peito.
Desabo no chão me tremendo, sem forças para continuar em pé.
Uso um armário velho para me esconder dentro dele, e quando fecho a
porta, eu apago, mesmo contra a minha vontade, meu corpo não
consegue mais lutar.

Por favor, Valentino, venha me achar. — Imploro silenciosamente.

De repente acordo, ouvindo passos se aproximando da cabana. O


pavor secou minha garganta, e minha respiração parou, meu corpo todo
se enrijeceu. O medo tomou conta de mim, mas uma fagulha de
esperança se acendeu em meu interior. Talvez eu pudesse encontrar
ajuda com algum campista.

A porta da cabana se abriu abruptamente, e por uma fresta no


armário eu vi o homem assustador, um tanto insano e com um olhar
selvagem, irrompeu no local. Era ele, o desgraçado que sequestrou a
mim e minha irmã, meu algoz.

Pensar em Alina me deixava angustiada e me atormentava com


suas palavras cruéis. Senti o ódio queimar em meu peito, mas sabia que
precisava manter a cabeça fria para continuar escondida, eu não tinha
chances contra ele, com meu corpo fraco, mas lutaria pela minha vida até
a morte.

— Você não pode escapar de mim, Giuliana. Eu sou mais forte do


que você imagina. — Ele rosnou, seus olhos injetados de raiva buscando
por mim na cabana.

Me encolho mais, tampando a minha boca, os passos dele vem


certos contra o armário. Me levanto sabendo que preciso lutar, reúno
todas as minhas forças e quando a porta se abre, eu soco a sua cara
fazendo a cabeça dele pender para o lado.
— Você subestima a força do amor e da determinação, seu filho da
puta — falei entre os dentes — eu não permitirei que você destrua tudo o
que amo. Lutarei até o fim para proteger minha família. O Valentino vai te
matar.

— Valentino... — ele soltou uma risada amarga, seus lábios se


curvando em um sorriso sádico. — Aquele arrogante, bastardo, só
enxerga o que quer ver.

— Oh, você realmente acredita nisso? Você é tão ingênuo, eu


esperava mais de alguém que conseguiu driblar meus seguranças e
pegar a mim e minha irmã.

Ele me olha com escárnio, e encosta na parede como se


estivéssemos tendo a conversa mais normal do mundo.

— Eu já matei a Francesca, acusei o Matthew, sequestrei você, e


deixei sua irmã morrendo em uma calçada. Ninguém suspeita de mim,
acha mesmo que tem alguma chance do meu plano falhar?

Minha mente fervilhava com suas palavras. Sem hesitar, dei um


passo à frente, encarando o homem nos olhos.

— Você pode tentar me destruir, tentar destruir minhas convicções


com suas palavras, mas nunca me quebrará. Eu não sou apenas uma
vítima, sou uma guerreira. E guerreiras não se rendem facilmente.

Com essas palavras ecoando em minha mente, lancei-me em


direção aquele ser asqueroso, determinada a lutar pela minha vida e pela
verdade. A batalha estava apenas começando, mas eu estava pronta
para enfrentar as trevas que ameaçavam minha família.

Em minha tentativa vã de acertar o homem, a minha frente, ele


simplesmente me deu um tapa tão forte, que me fez cair no chão, fico
tonta, tudo escureceu, e me vi perdida no inconsciente.

Quando recuperei a consciência, meu corpo estava pesado e


desorientado. Abri os olhos lentamente, sentindo uma dor latejante na
minha cabeça. Olhei ao redor e percebi que estava em uma sala. As
paredes frias e úmidas pareciam se fechar sobre mim, e a sensação de
estar amarrada me causava uma angústia profunda.

Olhei para o lado e vi o homem parado diante de mim, um sorriso


diabólico estampado em seu rosto. Seus olhos brilhavam com uma
mistura doentia de prazer e maldade. Minha respiração acelerou, e o
pânico voltou a me consumir. Eu estava de volta às garras desse
monstro, sem esperança de escapar.

— Vejo que decidiu me desafiar, Giuliana. Achou que poderia


escapar? Achou que poderia lutar contra mim? — Ele riu, uma risada
cheia de escárnio que ecoou pela sala vazia.

Minhas mãos tremiam atrás das costas, presas a cadeira, meu


coração batendo descompassadamente. Eu precisava encontrar uma
maneira de sair dali, de voltar para casa e buscar a justiça que tanto
ansiava.

— Por favor — imploro — por que continuar com essa insanidade?


— perguntei, minha voz trêmula, mas carregada de determinação. —
Você já destruiu a minha família.

O homem deu um passo em minha direção, seus olhos penetrando


em minha alma. Senti um calafrio percorrer minha espinha, mas me
forcei a encará-lo sem demonstrar fraqueza.

— Eu quero vingança, Giuliana. Eu quero que aquele maldito do


Valentino, sinta a mesma dor que senti quando perdi minha Francesca.
Você será minha consolação, meu instrumento para trazer a justiça que
tanto desejo.

— Mas foi você quem a matou... — sussurro indignada.

— ELA ME OBRIGOU — ele grita descontrolado — quando


declarei meu amor, ela disse que era impossível, pois amava o maldito
do marido.

Engoli em seco, tentando controlar o medo que ameaçava me


dominar. Eu não podia permitir que ele quebrasse minha determinação,
minha vontade de lutar.

— Você pode tentar me quebrar, mas eu nunca irei me render a


você. Eu lutarei até o fim, não apenas por mim, mas por todos que amo,
por Matthew, provando sua inocência, e por todas as vítimas inocentes
que você destruiu. A verdade prevalecerá e você morrerá nas mãos do
Valentino.

O homem soltou uma gargalhada sinistra, se aproximando ainda


mais. Eu sentia sua presença me sufocando, sua maldade me
envolvendo como uma névoa tóxica. Mas eu não cedi. Eu estava
decidida a resistir.

— Sua coragem é admirável, Giuliana, mas você está


subestimando o poder que tenho sobre você. Eu sou implacável, e não
irei descansar até tê-la completamente sob meu controle.

Seus dedos percorreram lentamente meu rosto, deixando uma


sensação de nojo e repulsa. Tentei me afastar, mas as amarras me
mantinham imobilizada. O desespero crescia dentro de mim, mas eu
sabia que precisava encontrar uma brecha, uma oportunidade para
escapar.
Enquanto ele se aproximava, sussurrei para mim mesma palavras
de coragem e esperança. Eu não iria desistir, não importava o quão
impossível parecesse. Eu lutaria com todas as minhas forças, pelo bem
da minha família, pela memória de Francesca, e por mim mesma.

A batalha estava apenas começando, e eu estava pronta para


enfrentar todos os desafios que viessem pela frente. Eu não seria apenas
uma vítima indefesa nas mãos desse monstro. Eu seria a heroína da
minha própria história, e eu faria de tudo para que a justiça fosse feita.
Não tenho um segundo para hesitar, minha noiva e cunhada foram
levadas. Piso fundo no freio, puxando o freio de mão e curvando a
esquerda, sem capotar o carro, troco o pedal pressionando forte o
acelerador, puxando o motor do carro ao seu limite.

Norberto, chefe dos seguranças que cuidavam da Giuliana, me


passou filmagens de segurança de uma câmera de rua, mostrando a
Alina sendo jogada na calçada, machucada e muito debilitada. Estamos
indo atrás dela feito loucos, espero que ela tenha noticias sobre a
Giuliana e quem a sequestrou.

— Valentino, você vai acabar morrendo se continuar dirigindo


dessa forma. Já causou três acidentes de carro, a polícia vai ficar a
nossa cola — Fellipo avisa.

— Quero ver algum guardinha de merda tentar me parar —


respondo.

— Não temos tempo para nos preocupar com essa merda, meus
homens vão cuidar de qualquer policial que vier atrás da gente —
Matthew comenta através da escuta que estamos usando para nos
manter conectados. É um alívio poder contar com o meu irmão, quando
não sei quem na minha organização é confiável.
A estrada sinuosa serpenteia pelas colinas à minha frente, os
pneus do carro agarrando o asfalto, enquanto acelero cada vez mais. A
adrenalina corre pelas minhas veias, misturada com uma fúria
incontrolável. Ninguém toca na minha Giuliana e sai impune.

— Atenção — digo para todos — chegamos ao local que a Alina foi


vista pelas câmeras, prestem atenção em qualquer movimento na mata
ou estrada, não matem minha cunhada.

— Não se preocupa — Matthew responde — eu cuido dela.

Estranho a proteção do Matthew com a Alina, até onde tenho


conhecimento, eles mal conhecem um ao outro. A única vez que tiveram
contato foi quando ele estava no hospital e quando o Fellipo a levou ao
MC.

Na beira da estrada, mancando enquanto anda para a frente, eu


vejo um corpo pequeno de mulher. É Alina, acho que ela escuta o som
dos veículos, pois vira para trás e me parte ver a dor nos olhos
vermelhos de choro, um semblante desolado, e pelo pouco que consigo
ver, está muito machucada também.

Paro o carro no acostamento. Salto para fora, correndo na direção


dela. Seus olhos aliviam ao perceber que sou eu, e ela cai de joelhos
como se carregar o peso do corpo fosse demais. Os cantos da boca
sangrando e o olho inchado, ela segura o cotovelo esquerdo, com um
roxo no antebraço. Meu sangue ferve ao imaginar como a machucaram.

— Alina! — Seguro seu corpo pequeno, ela chora nos meus braços
— está tudo bem, não vão mais te machucar.

— Eles a levaram, Valentino. — Explode em um soluço. — Um


homem estranho que nunca vimos, invadiu a loja que estávamos, ele
estava armado, e nos drogou, colocando em carros de limpeza —
balbucia no automático — quando acordei dentro do carro, eu tentei lutar,
mas ele era muito forte — diz baixinho com um soluço doído. — Eu não
consegui salvar a Giuliana — seu choro sofrido infla a minha raiva — Por
favor, traz ela de volta.

— Você viu em qual direção eles foram?

— Para lá — aponta com a cabeça. — Eu estava seguindo-os.

— Alina! — Matthew a chama descendo da moto num pulo.

Fellipo também vem em nossa direção nervoso, olhando o estado


da menina.

— Matt! — Ela chama o apelido do meu irmão com uma certa


intensidade na voz. E a julgar pelo olhar ensandecido, e o urro irado que
ele dá, quando a ver toda machucada, mal conseguindo manter o olho
aberto. Agora faz sentido os encontros e o interesse dela… Nele. Alina
gosta do Matthew e a julgar como o Matthew fica preocupado, deve ter
sentimentos por ela.

— Por favor, Val — ela choraminga segurando meu paletó — você


precisa trazer a Giuliana de volta.

E a dor em suas palavras ecoa em meu peito, me fazendo sentir


uma raiva indescritível se misturar com minha determinação. Olho para
Alina, segurando sua mão com firmeza.

— Eu prometo a você, Alina, vou trazê-la de volta. Nada vai nos


impedir. Agora, me diga tudo o que sabe, qualquer outra informação que
possa me ajudar.

Alina respira fundo, controlando suas emoções.


— Ele levou Giuliana em uma van preta. Eu o ouvi falar no celular
com alguém, algo sobre um antigo galpão abandonado nos arredores da
cidade. É tudo o que sei.

A informação é vaga, mas é o suficiente para começar.

— Mantenha ela segura — digo ao Matthew entregando minha


cunhada em seus braços.

— Sempre — ele responde beijando o topo de sua cabeça.

Alina é só uma adolescente de 15 anos, que com certeza se


apaixonou por meu irmão. Mas o Matthew tem carinho por ela, talvez
uma amizade forte, seu gesto me diz isso. Igual como o Fellipo protege a
Chloe, mas não tenho certeza se eles são apaixonados pelas meninas,
eles nunca demonstraram interesse por menores, e acredito que isso não
vai mudar.

Talvez quando elas crescerem e estiverem prontas para se


casarem, uma relação seja possível, mas por hora vou manter minhas
protegidas a salvo de qualquer um que possa as machucar. Deixo os
dois, indo até Fellipo que me olha apreensível, dê certo, pensando o
mesmo que eu sobre Matthew e Alina.

— Temos uma pista. Um galpão abandonado nos arredores da


cidade. Vamos encontrá-la, custe o que custar. — Digo a ele.

— Meus irmãos do clube irão com vocês, vou levar Alina para um
hospital — Matthew fala, com minha cunhada agarrada nele, como se ele
pudesse desaparecer a qualquer momento.

— Diga que foi um acidente de moto, não chamem a atenção da


polícia — o lembro do nosso protocolo de quando precisamos ir a um
hospital. Uma adolescente toda machucada vai chamar bastante
atenção.

— Eu ainda lembro do protocolo — ele diz e com um aceno de


cabeça vai embora.

Sem perder tempo, entro no carro ligando o motor e acelero


novamente pela estrada, com a única informação que tenho sobre o
paradeiro da minha amada. O vento sopra em meu rosto, misturando-se
com a raiva e a angústia que me consomem. Giuliana se tornou minha
vida, ela e meu filho, e vou fazer qualquer coisa para tê-la de volta.

Continuo acelerando pela estrada, sentindo a tensão se intensificar


a cada quilômetro percorrido. O galpão abandonado nos arredores da
cidade é a única pista que tenho para encontrar Giuliana, e é lá que meu
ódio e minha determinação se concentrarão.

O silêncio toma conta do carro enquanto sigo em alta velocidade.


Fellipo está seguindo com seu automóvel ao meu lado, vejo em rápidas
olhadas, seu rosto sério e focado, compartilhando minha determinação
em resgatar Giuliana. Atrás de nós, as motos do pessoal do clube
avançam rapidamente, suas luzes traseiras cortando a escuridão da
noite.

Minha mente repassa cada detalhe, cada estratégia possível para


enfrentar o sequestrador. Meus punhos estão cerrados, as mãos firmes
no volante, prontas para qualquer coisa. Nada vai me deter.

— Valentino — um dos homens de Matthew fala comigo pelo fone.

— Diga.

— Conheço essa área, costumamos fazer festas por aqui. Tem uma
estrutura a dois quilômetros adentro da mata que possa ser o que a Alina
se referiu.

— Vai à frente guiando.

— Certo.

A moto passa, ficando à frente do meu carro, ele liga o pisca antes
de entrar em uma rota escondida para quem não conhece. Os arbustos
arranham o carro, os troncos pequenos de árvores me fazendo diminuir a
velocidade. Não é uma rota feita para carros, as motos se movem
livremente pela passagem.

Mas aos poucos e no meio da escuridão, iluminada pela luz dos


veículos, eu começo a ver uma trilha de pneus de carros mata adentro.
Se Alina estiver certa e o subordinado do Matthew, conseguiremos achar
o esconderijo de onde levaram a minha mulher. É um pouco distante de
onde deixaram a Alina e totalmente rodeado pela mata, um local perfeito
para festas, ou torturar alguém sequestrado.

Aperto o volante não me permitindo pensar no que estão fazendo


com a Giuliana. Ela é minha, e quem ousar tocar na sua pele de
porcelana, deixar o mínimo arranhão nela, eu vou matar, estripar,
arrancar as tripas e fazer uma coleira com elas. Vou matar o infeliz com
dor, que ele nunca esquecerá, e se arrependerá eternamente de ter
mexido comigo. Agora mais do que nunca eu tenho certeza, foi ele quem
mexeu com a minha família 2 anos atrás.

Finalmente, avistamos o galpão à distância. É uma estrutura


sombria, escondida entre árvores e mato alto. Reduzo a velocidade e
estaciono o carro um pouco afastado, querendo evitar qualquer suspeita.
Os membros do moto clube se espalham, cercando a área com uma
eficiência militar.
Saímos do carro e nos reunimos em frente ao galpão. A tensão é
palpável no ar, e a escuridão ao nosso redor parece conspirar com o
nosso objetivo. Respiro fundo, enchendo meus pulmões com ar puro e
renovado. Olho para Fellipo, compartilhando uma breve troca de olhares
cheia de determinação.

— Matem qualquer um que ameaçar a Giuliana, a salvar é


prioridade. Quero o desgraçado que a sequestrou vivo, mas se não
tiverem escolha, podem matar — digo a eles que acenam em positivo.

Engatilhamos nossas armas nos preparando para a invasão. Sem


perder tempo, avançamos em direção à porta do galpão. Eu, com toda a
fúria que queima dentro de mim, e Fellipo, com sua coragem e lealdade
inabaláveis. Juntos, vamos enfrentar qualquer obstáculo.

Para manter a Giuliana segura, a cautela será a nossa arma


secreta. Me encosto na porta girando a maçaneta e entrando com a arma
em punho. Vejo os homens ao redor do galpão observando algo no
centro, meus olhos se chocam com a figura pálida da minha esposa com
uma faca apontada para a sua garganta.

— PARADOS — Grito chamando a atenção deles, no momento o


que preciso é que todos foquem em mim e não machuquem minha
Giuliana.

Em questão de segundos o galpão é invadido pelos MC que entram


pelas janelas e portas que eles conheciam, apontando as armas para a
cabeça dos poucos homens espalhados. O desgraçado de frente a
Giuliana se vira para mim, e o choque ao perceber quem é me enfurece,
se eu tivesse notado antes, nada disso teria acontecido.

Eu sabia que o desgraçado do Luca não valia nada, mas nunca


pensei que ele tivesse coragem de mexer com a minha esposa. Em suas
mãos, uma faca, no rosto um sorriso cruel.

— Calma, Valentino, não é nada disso que você está pensando —


ele fala levantando as mãos e aponta com a cabeça para o lado. Sigo
com o olhar e me choco ao ver o corpo do Vicenzo morto no chão. — Eu
salvei a sua mulher.

— O que aconteceu aqui? — Avanço, incerto sobre a história do


Luca.

Luca é filho do Vincenzo, conselheiro da minha máfia. Por meses


aturei a insistência deles pelo casamento com a Alina, a situação que se
desenrola diante dos meus olhos não faz sentido. O Vincenzo sequestrou
a Giuliana e Alina, deixou a outra jogada na estrada como uma qualquer,
toda machucada, após me enlouquecer por um casamento, as peças não
estão encaixadas corretamente.

— Abaixa a arma Valentino — Luca dá um passo para trás e atiro


no seu pé, o desgraçado pula conseguindo escapar — eu vim salvar a
sua esposa.

— MENTIRA — Giuliana grita — ele e o pai armaram tudo!

— Cala a boca — ele bate no rosto dela e o meu controle vai para o
inferno.

Atiro no Luca acertando seu ombro, o desgraçado se esconde atrás


da Giuliana, colocando a faca em seu pescoço. Flashs de quando
encontrei o Matthew com uma faca na mão e a minha Francesca morta
povoam a minha mente. Um gemido chama a atenção vindo do corpo do
Vincenzo, o desgraçado ainda não morreu.

— Vamos acabar com isso, Valentino — ele fala, os olhos brilhando


em ódio — igual a dois anos atrás, você vai perder novamente quem
ama, e eu vou assumir o lugar que mereço.

— Eu vou te matar, desgraçado! — avanço mais passos, ficando a


menos de um metro dele.

Luca pressiona a faca no pescoço da Giuliana arrancando um filete


de sangue. Uma veia pulsa na minha cabeça e a vontade de o matar
aumenta ao ponto de não me deixar pensar racionalmente.

— Baixa a arma — ele manda.

— Vamos resolver como homens — digo a ele, jogando a arma no


chão e mostrando as mãos desarmadas.

— Eu vou te matar — ele diz.

Luca avança para cima de mim com a faca. Um rugido de raiva


escapa dos meus lábios, ecoando pelo galpão. Todos os pensamentos
racionais são deixados de lado. Apenas a fúria toma conta de mim,
impulsionando-me a agir. Avanço na direção de Luca, com um único
objetivo, matá-lo.

— Seu maldito — grito me jogando em cima do desgraçado.

Seguro sua cintura o levando ao chão. Luca crava a faca no meu


ombro esquerdo, ignoro a dor ardente, sento em cima de sua cintura
prendendo seu braço bom a perna, o imobilizando rapidamente. Com o
punho direito eu soco a sua cara.

Cada golpe que acerto em Luca é uma liberação de toda a dor e


angústia que me atormentam, desde a perda de Francesca. Cada soco é
uma vingança em nome dela, de Giuliana, e do meu irmão, que foi
julgado e injustiçado. Nada mais importa além de proteger as pessoas
que amo e fazer justiça.
— Você nunca mais vai tocar na minha família — digo, seguro sua
cabeça a jogando contra o chão com força, o sangue jorra em jatos
quentes manchando ao redor.

Repito mais três vezes o movimento. Eu tinha planos de o torturar,


mas agora nada disso importa, quero expurgar o mal causado a minha
família essa noite.

— Não mata esse — Fellipo diz, sua fala chama minha atenção e
vejo que um dos homens do Matthew estava prestes a atirar no Vincenzo
— essa vingança pertence ao Matthew.

— Tem razão — o homem responde.

Olho ao redor, vendo que os membros do moto clube e meu irmão,


conseguiram dar conta com facilidade dos homens que acompanhavam o
Luca e Vincenzo. Agora que sei quem são os traidores, será fácil me
livrar os homens da minha máfia que não são leais.

— Val — a voz dela acalma meus demônios. Deixo o corpo morto


do Luca no chão, as mãos repletas de sangue eu limpo no paletó.

— Meu amor — vou até ela.

Giuliana tem um corte na boca e no supercílio, os olhos banhados


em lagrimas. Fico de joelhos apertando seu corpo contra o meu, inspiro
seu cheiro tendo a certeza de que ela respira, de que está viva e comigo.

— Me perdoa — peço baixinho.

— Não foi sua culpa, Val — ela beija minha bochecha — agora eu
sei toda a verdade.

— Depois falamos sobre isso — a desamarro.


Mesmo com um ombro machucado, eu pego minha mulher no colo,
dando conforto a seu corpo. Tão pequena, encolhida com a cabeça no
meu ombro bom, os braços ao redor do meu pescoço enquanto ela chora
baixinho, aliviada. Ignoro a dor e caminho com Giuliana para fora daquele
lugar.

Escuto Fellipo falando no celular, com o serviço de limpeza que


temos na nossa organização, informando sobre a localização do galpão e
solicitando a presença particular no hospital em que nosso médico
atende para a minha noiva.

— Minha irmã? — Giuliana pergunta soluçando.

— Bem, o Matthew a levou ao hospital.

— Graças a Deus. — Responde aliviada.

Levo Giuliana para o meu carro a tirando a podridão do galpão.


Ainda não acabou, Matthew terá sua vingança contra o Vincenzo e vou
eliminar a maldita família da história da minha máfia, não sobrará
ninguém. Todos vão pagar pela morte da minha Francesca, o sequestro
da minha Giuliana, e a expulsão do meu irmão.
Eu estou sentada no banco do passageiro, tentando recuperar o
fôlego após o resgate tenso do sequestro. Minhas mãos tremem e meu
coração ainda bate acelerado, enquanto meu Valentino, dirige
rapidamente em direção ao hospital.

A sensação de alívio por estar a salvo é quase avassaladora, mas


também há um medo persistente de que tudo isso tenha sido apenas um
sonho.

A cada segundo, meu olhar se fixa no rosto de Valentino. Seus


olhos tentam permanecer focados na estrada, se distrai a cada segundo,
para me encontrar e ter certeza de que estou bem, posso ver a
preocupação em seu semblante.

Ele segura minha mão com firmeza, beijando os nós dos meus
dedos, como se quisesse garantir que eu não desapareça novamente.

Minha mente está inundada com as informações e o que vi depois


que o Luca chegou ao galpão. Quero contar tudo ao Valentino, mas
também ao Matthew e Fellipo, eles precisam saber o motivo da sua
família ter sido destruída e que o Vincenzo não era o único inimigo. Ainda
tem outro que precisa ser eliminado.
Finalmente, o carro para em frente ao hospital. Valentino sai
rapidamente e corre para abrir a porta para mim. Ele me ajuda a sair me
segurando no colo. Seu ombro também sangra, mas ele nem parece
sentir o machucado, determinado a me manter segura em seus braços.

— Agora está tudo bem, meu amor — ele fala, deixando um beijo
no alto da minha cabeça.

Entrou, e sou atendida rapidamente, sendo colocada em uma


maca. A enfermeira faz menção de cuidar do Valentino, mas ele a
dispensa. Sou levada para um quarto onde o médico faz exames e
curativos nos meus machucados. Uma bolsa de soro no braço e
medicamentos para a dor ingeridos.

— Agora é sua vez de se cuidar — digo a ele.

— Certo.

Valentino deixa que façam um curativo em seu ombro. Meu coração


aperta ao lembrar de quando ele foi atingido pelo Luca, graças aos céus
meu noivo conseguiu lidar com facilidade e destruir o desgraçado que me
amedrontava.

— Alina? — pergunto. A enfermeira sorri para mim.

— Está sendo cuidada no quarto ao lado, um rapaz a acompanha


fazendo sua segurança.

— Eu posso vê-la?

— Sim.

Um sorriso de alívio escapa dos meus lábios, e um peso enorme


parece ser retirado dos meus ombros.
A enfermeira nos leva até o quarto onde Alina está sendo cuidada.
Ao entrarmos, vejo-a deitada na cama, pálida, mas com um sorriso fraco
no rosto. Corro em sua direção, soltando a mão de Valentino, e a abraço
com força. Lágrimas de alegria rolam pelo meu rosto enquanto sussurro
palavras de gratidão e alívio.

— Eu fiquei com tanto medo — falo para minha irmãzinha, beijando


suas bochechas.

Ela sorri de volta, e mesmo toda machucada por culpa daquele


maldito, espero que ele apodreça no inferno.

— Eu estou bem Giu — ela responde, segurando minhas mãos em


seu rosto — agora estou bem.

Após um momento emocionante com Alina, Valentino me leva para


o corredor, onde Matthew, irmão dele e líder do moto clube, está
esperando. Soube que foi ele quem trouxe minha irmã para cá, e está
feito um pitbull na porta do quarto dela. Seus companheiros estão por
perto, mostrando sinais de exaustão, mas também de alívio pôr no final,
ter corrido tudo bem.

Valentino me apresenta a eles, e agradeço sinceramente por terem


me ajudado, e principalmente por cuidar da minha irmãzinha.

— Alina é família praticamente, ela é muito querida por todos lá no


clube — uma loira deslumbrante, cheia de tatuagens e com roupas de
couro, fala sorrindo.

— Mesmo assim... obrigada — sussurro em reposta, agradecendo


a, mulher.

Eu olho diretamente para Matthew, Fellipo, que acaba de entrar no


corredor e Valentino, sabendo que eles e minha irmã precisam de um
encerramento sobre o que aconteceu com a Francesca. Peço para
retornamos ao quarto da Alina.

— Agora vocês precisam saber a verdade sobre a morte da


Francesca e a conspiração para destruir a família de vocês — digo, sento
na cadeira encarando os homens com pesar. Relato tudo que o Vincenzo
me contou sobre a morte da minha irmã e os planos dele para o Luca
casar com a Alina.

— Mas como o Luca acabou atacando o pai? — Valentino


pergunta.

— O Luca não queria casar com a Alina — revelo — ele chegou no


galpão pouco depois do pai, Vincenzo o chamou para que pudesse ver
que tinha conseguido me capturar. Quando Luca ficou sabendo que o
Vincenzo ficaria comigo — inspiro fundo, contendo o nojo — ele disse
que não aceitava o acordo. Ele me queria para ele — aperto o punho.

— Ele nunca a teria — Valentino fica de joelhos tocando meu rosto.


— Você é só minha.

— Eu sei — sussurro.

— Luca e Vincenzo brigaram, pois o Luca sempre quis tudo o que


era seu. Por isso ele planejava te atrair ao galpão e te matar, assumir seu
lugar como o Dom da organização, e se casar comigo, aquela que seria
sua esposa. Quando Vincenzo discordou dizendo que ele deveria ficar
com a Alina, que o plano era ele salvar a Alina da beira da estrada, e
fazer a minha irmã se apaixonar por ele com o gesto, ambos começaram
a brigar.

— Malditos lunáticos — Matthew explode.


— O plano de ambos sempre foi destruir a família de vocês,
culpando o Matthew, fazendo o Valentino ser um Dom fraco, e matar o
Fellipo. Vincenzo ficaria comigo e o Luca com a Alina, mas eles
discordaram da última parte, e quando Luca percebeu que o pai não iria
mudar de ideia o matou. Decidindo que não precisava dele, pois tinha o
apoio da família, e com isso seria legitimado como Dom.

— Todo esse tempo dançamos a música que eles queriam —


Valentino fala caindo sentado, o arrependimento nublando seus olhos.

— Não se culpe, irmão — Matthew fala — na época até eu fiquei


em choque, nunca consegui te contar direito o que aconteceu naquele
dia, pois as lembranças ficaram trancadas na minha mente. Eu amava a
Francesca como uma irmã e a ver morta doeu tanto quanto, quando
nossa mãe morreu.

— Nossos pais foram mortos por eles — Fellipo fala — os


desgraçados estavam planejando tudo com cuidado e eficiência.
Precisamos descobrir quem mais fez parte dessa trama.

— O Salvatore pode estar envolvido — Valentino diz — como


subchefe ele deve aprovar, junto do conselho, o próximo Dom. Vamos
cavar a fundo todos os inimigos da nossa família. — olha para o irmão —
Matthew — Valentino se levanta — me perdoe por o exilar, eu sempre
suspeitei da sua inocência, pois sentia a verdade em suas palavras, sei
que não é desculpa, mas como o Dom eu nunca poderia perdoar o
assassino da minha família e na época...

— Chega Valentino — Matthew puxa o irmão para um abraço que


faz meu coração chorar feliz por eles — todos fomos vítimas de uma
trama, e nem mesmo eu, consegui me explicar direito na época. Vamos
caçar a todos que machucaram a nossa família, eu construí algo que
realmente quero proteger e agora posso ter vocês de volta.

— Juntos ninguém poderá escapar de nós — Fellipo fala se


juntando ao abraço dos irmãos.

Choro feliz por ver o desfecho que esses três tiveram. Querendo
que a Francesca estivesse aqui. Levanto levando comigo o soro, e
abraço a Alina, podemos ter perdido nossa irmã, mas ainda temos uma a
outra e nunca mais ficaremos separadas.

Pela primeira vez em muito tempo, sinto uma centelha de


esperança. Olho para Valentino, que me encara sobre o ombro do
Matthew e percebo que estamos juntos nessa jornada que a vida nos
reserva. Não será nada fácil, mas juntos podemos tudo.

Meu coração está repleto de gratidão por estar cercada de pessoas


que me amam e estão dispostas a enfrentar qualquer desafio ao meu
lado. A vida pode ser difícil e cheia de obstáculos, mas com a força do
amor e da verdade, estou pronta para enfrentar qualquer coisa que
venha pelo meu caminho.

Passamos algum tempo juntos no quarto, compartilhando histórias


e risadas, mas também momentos de silêncio reconfortante. Valentino
me abraça, e sua presença me envolve como um escudo protetor, me
fazendo sentir segura e amada.

No dia seguinte, meu noivo sai decidido a fazer justiça com os


irmãos. Os detalhes do que eles farão não me interessa, prefiro ficar de
fora do lado sangrento da vida deles. Por isso fico com a minha irmã, nos
recuperando pelos próximos dias no hospital, com a escolta dos MCs,
que não deixam Alina um segundo sozinha, quando não é Matthew que a
visita trazendo flores ou chocolates.
Matthew enfia a faca abrindo o estômago do Vincenzo, puxando as
tripas do desgraçado para fora e as enrola em seu pescoço. Ele respira
com dificuldade, meu irmão segura as tripas as puxando e estrangulando
Vincenzo até que o ar pare de entrar em seus pulmões, e ele morra.

Agora sabemos tudo o que realmente aconteceu naquela noite e o


envolvimento do Luca. Pai e filho planejaram tudo com cuidado, mas o
que Vincenzo não imaginava, era que Luca o trairia para ficar com a
Giuliana. Eu matei o Luca e queria degolar o Vincenzo, mas sabia que a
sua morte pertencia ao Matthew.

Depois de Vincenzo, eliminamos toda a sua família, aqueles que


colaboraram ajudando a hackear meu celular, envolver Lavínia na briga,
e incriminar Matthew. Não sobrou nem um único rato. Ao contrário do que
eu pensava, o Salvatore não estava envolvido no esquema, apesar da
sua amizade com o Vincenzo, meu subchefe era leal.

Agora Fellipo foi nomeado como meu consigliere e deixei um


recado a todos que ousarem mexer com a minha família. Não importa
quanto tempo leve, sempre iremos descobrir a verdade e erradicar da
terra, todos os envolvidos e seus familiares. Não perdoamos, não temos
misericórdia, faremos o mundo sangrar para nos manter no poder e
continuar o nosso legado.
— Agora acabou — Matthew diz limpando as mãos.

— Joguem o corpo dele para os cachorros comerem — ordeno aos


meus homens — não quero que o desgraçado descanse em paz.

— Sim senhor.

— Te encontro mais tarde no clube — Digo ao Matthew.

— Certo.

Nos despedimos, as coisas aos poucos vão se ajeitando entre nós.


No hospital, colocamos todo o ressentimento e mágoa de lado, um prego
em cima do passado triste da nossa família, e agora estamos prontos
para recomeçar.

Me despeço dos meus irmãos indo para casa, onde minha noiva
me espera. Ela está ansiosa para ir ao moto clube. Meu ombro ainda dói
um pouco, o que tem feito a Giuliana ser uma excelente enfermeira, me
animando de diferentes formas. Adoro quando ela senta na minha cara
esfregando a bocetinha na minha boca.

****

Giuliana
Chega o dia em que Valentino me leva para acompanhá-lo ao moto
clube de Matthew. Sinto uma mistura de nervosismo e determinação
enquanto me preparo para esse encontro. O passado, uma ferida que vai
sendo fechada lentamente entre os irmãos.

— Você quer mesmo ir? — Ele pergunta, certificando-se


— Sim, precisamos disso — digo apertando sua mão contra a
minha. Por sorte seu ombro tem melhorado bastante ao longo dos dias, e
meus machucados já estão todos curados.

Entramos no moto clube e somos recebidos por uma atmosfera


calorosa e amigável. As pessoas se aproximam de nós,
cumprimentando-nos com sorrisos afetuosos. Eu olho ao redor,
procurando por Matthew, e finalmente o encontro no meio da multidão.

Seus olhos encontram os meus saudosos, Matthew e Valentino


estão construindo aos poucos a relação entre eles, embora eu saiba que
ambos discordam bastante, e ficam com os egos enormes por serem
líderes de organizações poderosas. Acho que eles ainda vão demorar a
encontrar um ritmo que funcione para ambos.

Alina é que tem se feito bastante da aproximação de ambos,


sempre pedindo para ver o Matthew, e quando ele ia a nossa casa,
arrumando motivos para conversar por horas com ela. É inegável que
minha irmã se apaixonou por um cara mais velho, só tenho dúvidas se o
que ele sente é paixão ou amizade. Assim como o Fellipo e a Chloe, que
estão mais próximos nos últimos dias.

Matthew vem a nós com um sorriso no rosto e abre os braços, me


envolvendo com carinho.

— Como a minha cunhadinha é linda, qualquer dia posso te roubar


— ele brinca.

— Só se quiser morrer — Valentino rosna.

— Ou machucar minha irmã — digo, e Matthew pisca um olho


arteiro.

— Posso ter as duas.


— E um caixão de prego — Valentino puxa o irmão pelo pescoço.
O mesmo responde passando um braço ao redor de seu pescoço, e eles
ficam disputando quem dá uma chave de braço no outro. Dou risada
gostando de os ver assim.

— Podemos conversar em um lugar mais calmo? — Valentino


pergunta sorrindo, quando consegue imobilizar o Matthew.

— Vamos para minha sala — Matthew responde se soltando.

Entramos em uma sala reservada, afastando-nos da agitação do


moto clube. O ambiente é mais tranquilo. Sentamo-nos em cadeiras
próximas, formando um pequeno círculo íntimo. Sei que o Valentino tem
algo sério para conversar com o irmão e quero fazer parte, quem sabe
para impedir que se matem.

Olho para Valentino, cujo semblante reflete a mistura de


sentimentos que nos envolve. Há alívio em seus olhos, agora que a
verdade sobre a morte de Francesca foi revelada, ele não enfrenta mais
pressão para matar o irmão. Ao mesmo tempo, percebo uma sombra de
dor profunda em seu rosto, uma lembrança constante do tempo perdido e
das acusações injustas lançadas contra seu próprio irmão.

Matthew, por sua vez, está sério e concentrado. Ele parece ter
amadurecido desde a última vez em que nos vimos. Seu olhar é
determinado e cheio de resolução, como se estivesse disposto a
enfrentar qualquer obstáculo para recuperar o tempo perdido, agora que
fizeram justiça pela Francesca.

Respiro fundo e começo a falar, minhas palavras fluindo com uma


mistura de emoção e convicção:
— Matthew, Valentino e eu decidimos que precisamos que você
seja mais presente na nossa família. O que aconteceu há dois anos,
colocou uma lacuna enorme entre vocês e não consigo imaginar como
cada um deve ter sofrido de forma diferente. Francesca era minha irmã, e
me doeu na alma perdê-la, não sei como foi para vocês — Valentino
aperta a minha mão — sempre duvidei que você seria capaz de
machucar a Francesca, mas sinto que preciso dizer isso: perdão por você
ser acusado.

— Não foi sua culpa Giuliana — ele alisa meu rosto — estou bem
agora que vinguei o que fizeram a mim e que Francesca teve vingança
pelas mãos do Valentino. Meu irmão é meio babaca — Valentino o fuzila,
e Matthew ri — mas não vou ficar longe de vocês, nunca mais. A partir de
hoje, meu território sempre estará aberto a vocês e meus homens vão
protegê-las de tudo.

— Acho que você tem mais interesse na Alina — brinco.

— Sempre que quiserem vir podem pedir que vamos buscar vocês
— ele pisca, ignorando minha alfinetada.

— Há algo a mais — Valentino diz — eu queria que você fosse meu


subchefe, mas para isso, teria de deixar o club ou o integrar a
organização. Assuma o seu lugar de direito, Matthew.

— O que você me pede agora é muito Valentino, eu construí algo


importante aqui, não posso abandoná-los.

— Mas pode os integrar a minha máfia.

— Eu sei, mas preciso pensar, se fizer isso, estaremos sobre o seu


comando, não sobre o meu.
— Não vamos brigar por comando — intervenho percebendo que a
veia saltando na testa do Valentino — o convite foi feito, resta a vocês se
acertarem depois.

— Eu poderia assumir como o Dom — Matthew provoca.

— Só quando eu morrer — Valentino responde.

— Que isso não aconteça tão cedo — digo.

— Vou viver para sempre — ele puxa meu rosto para si beijando
meus lábios.

— Se querem um quarto é só pedir — Matthew provoca.

— Na verdade — digo — eu quero que você venha ver o Raffaello,


ele não para de chamar pelo tio da motoca — rio ao lembrar do meu
menino.

— Ele adorou quando o coloquei na moto, acho que já tenho um


sucessor para o clube — provoca o Valentino.

— Raffaello será o meu sucessor.

— Não se ele continuar amando motos.

— Parem já — peço não aguentando a briga de macho alfa desses


dois.

Eles riem e vamos para o clube, o que acaba sendo outra disputa
entre os dois na sinuca. Quando me canso ao ponto de não manter os
olhos abertos, Valentino me leva para casa, onde vou até o meu bebê
precisando sentir o seu cheirinho. Sem acordar Raffaello, o levo para a
cama, comigo e o Valentino, temos dormido assim desde que voltamos
para casa, em família.
****

Valentino
— Por que continua aqui? — Fellipo pergunta, entrando no meu
escritório, e fechando a porta.

Hoje é a festa do meu noivado com minha garota, a casa está


cheia, e por isso fugi um pouco de toda aquela agitação.

— Acho que adquiri fobia de lugares fechados — respondo rindo e


torcendo o nariz.

Ele serve dois copos de whisky, me entrega um e se senta na


minha frente. Meu irmão sempre esteve do meu lado, mesmo na época
em que eu não conversava com o Matthew, e ele frequentava o clube de
motoqueiros do nosso irmão. E ainda levava a Chloe junto. No fim foi
importante eles terem mantido o laço. Aos poucos vou me acertando com
o Matthew e planejo o trazer para a organização.

— Que tanto olha esse computador?

— Estou conferindo se os rastreadores das meninas estão


funcionando.

Depois do sequestro coloquei um rastreador em cada uma das


meninas, e em Raffaello. Nunca mais vão tocar na minha família e saírem
impunes, sempre vou saber onde cada uma delas estão.

— Nós somos os Martinelli, os irmãos mais temidos da máfia. As


meninas estão seguras e hoje é o seu noivado. Sua noiva está
deslumbrante. Ninguém vai atrapalhar vocês.

— A festa pode esperar um pouco.


— Não!... não pode — diz balançando a cabeça em negação —
agora vamos.

— A festa mudou de lugar? — Matthew pergunta, recostado na


porta, que nem percebemos ter sido aberta.

— De onde você saiu, porra? — Pergunto incomodado com seu


jeito silencioso.

— A noiva me pediu para ver se por acaso você tinha fugido —


brinca debochado, mas sem entrar na sala.

Percebo que ele não vai entrar, não sem um convite direto.
Voltamos a nos falar, mas ele ainda não se sente confortável nessa casa.
Aqui ele é mais contido, retraído, não tem nem um resquício do Matthew
que é dentro do seu clube, ou quando está perto da Alina.

Notei que meu irmão orbita em volta da garota, como uma


mariposa em volta da luz. E pelo brilho no olhar da menina, o sentimento
é recíproco. Só ainda não perceberam o que estão sentindo pelo visto.

Vejo minha noiva conversando com alguns convidados pela janela,


ela está radiante, seus cabelos soltos, caindo em cascatas por seu
ombro, um vestido perolado, que marca cada curva de seu delicioso
corpo. Balanço a cabeça, dispersando a linha que meus pensamentos
estavam rumando.

— Vamos voltar — digo a eles.

No jardim vejo Chloe segurando Raffaello pela mão enquanto


dançam. Fellipo vai atrás dela e Matthew não se contém ao puxar a Alina
para dançar. Minha esposa radiante vem a mim.

— Vamos dançar? — Pergunta enlaçando meu braço com o seu.


Sinto o toque suave de Giuliana ao enlaçar seu braço com o meu.
Seus olhos brilham de felicidade e seu sorriso ilumina toda a festa.

Giuliana me guia em direção à pista de dança, onde casais giram e


se movem em harmonia com a música que preenche o salão. Sinto-me
atraído por Giuliana de uma maneira que ultrapassa qualquer
entendimento racional. Ela é minha força, minha inspiração, e o
pensamento de alguém machucá-la me assombra.

Enquanto nossos corpos se encaixam perfeitamente, dançamos ao


som de uma música romântica que embala nossos passos. Giuliana
parece sentir minha inquietação e, num gesto gentil, inclina a cabeça em
direção ao meu ouvido.

— Você está bem? — Sussurra ela, sua voz doce e preocupada.

Respiro fundo, inspirando o perfume floral que emana de seus


cabelos. É difícil esconder minha apreensão, mas sei que Giuliana é forte
e corajosa, assim como eu. Ainda assim, a responsabilidade que carrego
como o Dom, da máfia Martinelli, torna tudo mais complicado.

— Estou um pouco preocupado, meu amor — confesso,


acariciando de leve sua cintura com as mãos. — Agora que somos
noivos, o perigo aumentou. Meus inimigos podem tentar me atingir
através, de você. Vincenzo e Luca eram membros internos e de
confiança, as coisas continuam abaladas com os membros do conselho,
não posso realmente confiar neles.

Giuliana aperta sua mão sobre a minha, transmitindo seu apoio e


confiança. Seus olhos encontram os meus e vejo determinação e amor
refletidos neles.
— Eu sei, Valentino — ela responde com serenidade. — Mas não
podemos permitir que o medo nos paralise. Juntos, somos mais fortes.
Confio em você para nos proteger, assim como confio em mim para
cuidar de nós mesmos.

Seu discurso me envolve e acalma meu coração. Giuliana sempre


foi minha parceira, minha igual. Sei que ela está certa. Precisamos
enfrentar os desafios juntos, unidos como uma fortaleza indestrutível.

Um sorriso safado, porém, tímido, escapa de meus lábios ao


concordar com sua proposta.

— Você está certa, meu tesouro. Vamos sair daqui e encontrar um


lugar mais calmo, onde possamos desfrutar um momento a sós — digo já
a puxando pela mão.

Com um brilho travesso nos olhos, Giuliana acena para meus


irmãos e amigos, indicando que estamos partindo. Eles respondem com
acenos e um sorriso de aprovação.

Enquanto nos afastamos da festa, em busca de um refúgio íntimo,


sinto um misto de emoções dentro de mim. O amor que compartilhamos
é uma força poderosa que me dá coragem para enfrentar qualquer
desafio que a vida possa lançar em nosso caminho. Juntos, somos
imparáveis, e pensar que até poucos meses, quase atirei o senhor
Salvatore pela janela da minha sala na sede, por sugerir esse
casamento.

E hoje estou aqui, refém dessa menina mulher, que chegou virando
minha vida de cabeça para baixo.

Enquanto nos afastamos da agitação da festa do nosso noivado,


guiados pelo som suave da música que ainda ecoa ao longe, Giuliana e
eu nos perdemos em um corredor silencioso. A luz suave que adornam
as paredes, cria uma atmosfera íntima, realçando os detalhes do seu
rosto angelical.

Giuliana segura minha mão com firmeza, transmitindo confiança e


amor. Cada passo que damos juntos é um lembrete de que somos
aliados nesta jornada, enfrentando os desafios de cabeça erguida. Sinto
o calor reconfortante de sua palma contra a minha, enquanto
encontramos um refúgio tranquilo, longe dos olhares curiosos.

Entramos um pequeno pátio interno, que faz parte do jardim de


inverno da casa, adornado com uma fonte de água serena e cercado por
uma vegetação exuberante. Estão todos absortos na festa do lado de
fora, por isso sei que ninguém virá até aqui.

Nos sentamos em um banco de madeira, mantendo nossas mãos


entrelaçadas. Giuliana olha nos meus olhos, expressando uma mistura
de serenidade e desejo. Sinto-me abençoado por tê-la ao meu lado, não
apenas como minha noiva, mas como minha companheira de vida.

— Valentino — ela começa, sua voz suave ecoando pelo ar calmo.


— Eu sei que o mundo em que você vive é perigoso, cheio de inimigos e
incertezas. Mas quero que saiba que estou aqui com você, para nós...
em todos os momentos. Juntos, podemos enfrentar qualquer desafio —
diz com certeza e intensidade.

Um sorriso se forma em meus lábios enquanto acaricio a bochecha


macia de Giuliana.

— Você é a minha força, Giuliana. Sua coragem e amor, são como


um escudo que protege meu coração. Eu farei tudo o que estiver ao meu
alcance, para garantir a sua segurança e felicidade — digo puxando-a
para meu colo, e apertando a carne de sua bunda por debaixo do
vestido, moendo seu centro no meu pau, por cima da calça.

Enquanto as palavras se desvanecem, e ela fecha os olhos,


rebolando suavemente no meu colo, para aliviar a pressão entre suas
pernas, a envolvo em um abraço carinhoso. Nossos corpos se encontram
em perfeita sintonia, compartilhando o conforto e a confiança que apenas
o amor pode proporcionar.

Eu a amo, não esperava por esse sentimento em minha vida, não


tão cedo depois de Francesca, mas eu a amo com todas as minhas
forças. Ela é minha.

O tempo parece desacelerar enquanto nos perdemos naquele


momento, selando nossa conexão ainda mais profundamente, com um
beijo apaixonado, faminto.

Através do silêncio que nos envolve, sinto um renovado senso de


propósito e determinação. Giuliana é a minha luz em meio à escuridão, a
razão pela qual luto com todas as minhas forças. Juntos, somos capazes
de enfrentar qualquer adversidade, desafiando as expectativas e
superando todas as probabilidades.

Enquanto o mundo lá fora continua a girar em caos, prometo a mim


mesmo proteger Giuliana acima de tudo. Nenhum obstáculo será grande
demais, nenhum inimigo será forte o suficiente para nos separar.

O amor que compartilhamos é nosso escudo mais poderoso, e


juntos, enfrentaremos o que quer que o destino reserve para nós.
Nos braços do Valentino me sinto protegida, amada, como se
ninguém pudesse me tocar. O terror de semanas atrás esquecido
conforme os beijos dele me lembram o que é real, os momentos em que
estamos juntos, as juras de amor, e o quanto nossa paixão foi capaz de
curar o que foi quebrado. Não foi fácil, mas conseguimos chegar aqui
juntos, e nada poderá nos parar.

Valentino se tornou fundamental para mim, nele encontrei tudo que


sempre sonhei em um relacionamento, sempre que me imaginava
casada com alguém, era assim que eu queria que fosse. Conforto, amor,
carinho e confiança inabaláveis, a certeza de que no fim do dia
estaríamos juntos.

Tivemos nossos momentos difíceis, mas chegamos até aqui, e


hoje, na minha festa de noivado, me sinto a mulher mais amada e
desejada desse mundo. Ele não expõe muito em palavras o que sente,
mas posso ver em seus olhos quando me olha, em suas atitudes. E na
paixão que seu corpo me entrega sempre que me toca.

— Val... — Começo falar, mas ele me cala com um beijo, sugando


minha língua, chupando meus lábios.
— Vou te foder aqui, meu amor — ele sussurra em meu ouvido,
enquanto desce a mão entre nossos corpos, e levanta um pouco meu
quadril.

— E se nos verem? — olho ao redor não encontrando nada além


da escuridão.

— Eu mato quem te olhar — beija meu ouvido e me desmancho na


mordida no pescoço.

Sua mão habilidosa empurra minha calcinha para o lado, ao


mesmo tempo, em que sem parar de me beijar, ele liberta seu pau da
calça, abrindo somente o zíper.

Desço lentamente em seu comprimento, sentindo cada centímetro


que ele invade, uma contração violenta em meu interior, que faz ele soltar
um gemido rouco, um tanto animalesco, e descer a boca para meu
pescoço, e as mãos apertarem meu seio por cima do tecido do vestido.

Enquanto subo e desço no seu colo, cavalgando, trotando seu pau,


ele liberta meus seios, descendo as alças do meu vestido, e começa
mamá-los com uma fome irracional. Morde e assopra meus mamilos,
fazendo com que eu me movimente, rebolando com mais intensidade.

— Fica quietinha — ele pede, segurando minha bunda suspensa, e


começar meter com força e profundamente dentro de mim.

Sinto suas bolas batendo na minha bunda quando entra até o talo,
empurrando em meu interior.

Olho em seus olhos, enquanto ele me fode gostoso, sinto todo meu
corpo se arrepiar, então ele fala ainda rouco, perdido em seu tesão.
— Fica de quatro para mim, meu amor — se levanta, me colocando
ajoelhada, de costas no banco que estávamos sentados, subindo a saia
do meu vestido, enrolando-a até a cintura.

Ele se abaixa, separando as bochechas da minha bunda e passa


sua língua ali, por toda extensão da minha intimidade.

— Um dia vou te comer aqui — diz enfiando a ponta do dedo no


meu buraquinho intocado.

Rebolo inconscientemente, estou com o corpo ardendo, em


chamas de vontade de sentir tudo que ele tem para me dar.

— Eu quero... — sussurro com a voz falhando.

— Quer o que Giuliana? — Ele pergunta ainda flexionando o dedo


na minha bunda, e chupando meu clítoris, enchendo a boca, literalmente
me comendo, sorvendo todos os fluidos que meu corpo entrega.

— Isso que falou... — respondo, envergonhada de externar em


palavras que quero que ele foda minha bunda, como faz com minha
boceta.

Ele me olha com lasciva, se levanta e roça a cabeça do seu pau no


líquido melado da minha intimidade, espalhando, me lubrificando com
meu próprio tesão.

— Seu desejo é uma ordem minha linda — ele diz encaixando o


pau no meu cuzinho.

Retraio o corpo, pela ansiedade da expectativa, mas ele para,


então olhando por cima do ombro, vejo quando ele abre um pacotinho
laminado da camisinha, e desliza o látex em seu pau, voltando a atenção
no que fazia há segundos antes.
— Humm...

— Calma amor, minha noiva está ansiosa para que eu foda sua
bundinha linda? — Ele brinca, encaixando e empurrando só a cabeça no
meu buraquinho apertado, o ardor me trava.

— Vai devagar amor — protesto em um choramingo impaciente.

Então ele lambuza dois dedos na minha vagina, espalha no meu


buraquinho antes de posicionar o pau e me invade, devagar, para que eu
me acostume com sua invasão e tamanho. A sensação é estranha, fora
do lugar, mas deliciosa, a dor misturada ao prazer se torna uma explosão
enlouquecida de prazeres, e saber que sou completamente dele, e que
ele é só meu, me leva a ruptura.

Ele me fode devagar a princípio, mas logo pega um ritmo


acelerado, uma cadência única entre nossos corpos.

Suados, gemendo, urrando, na verdade, os sons que saem de


nossas bocas se misturam ao barulho molhado de nossos corpos. Ele
segura apertado e com força em minha pélvis, metendo com força agora,
e estranhamente sinto aquele puxão delicioso que antecede meu gozo.

Nunca imaginei que o sexo anal pudesse ser tão prazeroso


também.

— Val... — Choramingo seu nome em um grito abafado. Valentino


leva os dedos ao meu clitóris em uma tortura enlouquecedora, misturado
a suas estocadas, deliro atingindo meu ápice com um grito por seu nome.

— Isso meu amor, grita o único nome que sairá dessa boquinha
linda quando estiver gozando gostoso assim — ele fala socando mais
fundo e com mais força, até que sinto-o tremer, e se esparramar dentro
de mim, enchendo a camisinha com seu gozo.
Estou ofegante, esse sexo foi foda, e levou cada milímetro das
forças que eu tinha.

Valentino dá um nó na ponta da camisinha usada, vestindo a calça,


e baixando meu vestido. Me pega no colo, já que minhas pernas estão
com a consistência de gelatina, e seguimos para nosso quarto.

— Eu te amo Valentino — digo deitando a cabeça em seu ombro,


sonolenta, com o corpo satisfeito.

— Eu também meu anjo... muito.

Sorrio internamente e me deixo levar pelo sono que me assola.

Acordo em nossa cama, me sentido dolorida, então as lembranças


do sexo maravilhoso do dia anterior me batem em cheio, e mesmo antes
de despertar de fato, sorrio com as lembranças.

Eu abro os olhos lentamente e sou recebida por um quarto


inundado de luz, o sol da manhã invadindo pelas cortinas entreabertas.
Meu sono é interrompido por uma movimentação animada ao meu redor,
me fazendo despertar assustada.

Alina, está sentada na beirada da cama, balançando os pés para


frente e para trás com impaciência. Chloe, que se tornou minha melhor
amiga, está ao lado dela, sorrindo de forma travessa, como se pudesse
ler meus pensamentos, e sinto as bochechas corarem.

Antes mesmo de me recuperar completamente do sono, sinto um


peso pulando em cima de mim. É Raffaello, com toda a energia de uma
criança de dois anos, pulando em cima de mim. Ele ri e chama
repetidamente, seu entusiasmo contagiante.
— Mama, mama! — ele exclama, em seu idioma bebezes, com um
sorriso radiante no rosto. — Códa... — pede ainda pulando, e tirando
risos das meninas.

Meus olhos se enchem de lágrimas ao ser chamada pela primeira


vez assim. Já faz tempo que o aceitei como meu menino, e o ter me
reconhecendo como sua mãe, preenche meu coração de uma forma
inigualável de felicidade e contemplação.

— Oi, meu amor! — Eu o abraço com carinho, retribuindo o sorriso.


— Já estou acordando, viu? — Raffaello enfia o rosto entre meus peitos
me abraçando apertado. Essa foi a primeira noite que dormimos
separados desde o incidente.

— Ele acordou chamando pela mãe — Chloe diz, com lágrimas nos
olhos — achava que pedia pela Francesca, mas quando a Alina falou seu
nome, ele acenou em positivo e tínhamos de o trazer aqui.

Enquanto os raios de sol iluminam o quarto, minha mente é


invadida por lembranças da noite anterior, a festa de noivado que
Valentino e eu organizamos para celebrar nosso compromisso.

Foi uma ocasião tão especial, cercada por amigos e familiares


queridos. A decoração era deslumbrante, com flores e luzes brilhantes
espalhadas pelo salão. Eu me senti como se estivesse vivendo em um
conto de fadas. Dancei, conversei, e fiquei com meu pequeno a noite
toda, mas me perdi quando sai com o Valentino, esquecendo de colocar
o Rafaello na cama.

O ápice da festa, foi o nosso momento, no jardim de inverno. Nunca


mais vou conseguir entrar naquele lugar, sem me lembrar do momento
que o Valentino me possuiu de todas as formas imagináveis.
— Vocês se divertiram na festa, meninas? — Pergunto, sabendo
que a resposta será positiva, e para disfarçar o rumo dos meus
pensamentos.

Alina balança a cabeça empolgada.

— Foi incrível, Giu! Toda a decoração estava deslumbrante, e a


comida... Ah, a comida estava divina! Eu comi até não poder mais — diz
rindo, mas noto seus pensamentos dispersos no momento que fala,
como se não estivesse falando tudo que queria.

Chloe concorda animada.

— E os discursos? Foi tão emocionante ouvir seus amigos e


familiares falando sobre o amor de vocês. Fiquei com lágrimas nos olhos!
Gravei tudo, já que os noivos, mesmo, haviam desaparecido — Chloe
acusa me olhando com olhos perspicazes.

Sorrio ao ouvir as palavras delas, gratidão enchendo meu coração.


A festa realmente foi uma celebração de amor e união, algo que
Valentino me deu de presente, pois comentei que era meu sonho, e ele
fez exatamente igual. Até o bônus do final, que a cada vez que lembro
não controlo o sorriso bobo que me escapa.

— Você deu trabalho para dormir, meu amorzinho? — Pergunto


alisando os cabelos cacheados do Rafaello. Ele sorri arteiro para mim.

— Titio levo assiar moto. — Sorri com os dentinhos banguelas que


eu amo.

— Como assim? — encaro a Chloe que olha para cima.

— Bom — Alina fala — Raffaello não queria dormir sem a mãe dele
— aperta as bochechas do sobrinho que ri sapeca — então eu e Matthew
o levamos para andar de moto. Ele pegou rapidinho no sono.

— BRUUUUUUUUUUU — Raffaello imita o som da moto e


gargalho. Se o Valentino souber disso, tem um infarto.

— Gostou, meu amorzinho?

— Sim, mama — fica em pé alcançando meu rosto — beijinho.

Eu beijo sua bochecha o jogando na cama. O movimento faz minha


bunda doer e contenho a careta. Raffaello gargalha enquanto brinco com
ele.

De repente, Alina solta um grito animado.

— Giuliana, você não vai acreditar! — Diz pegando minha mão —


Matthew, disse que vai me ensinar a pilotar uma moto! Vai ser meu
instrutor pessoal! — Bate as pestanas dos olhos de forma insinuativa, e
todas rimos.

— Te ensinar a pilotar é? — Chloe brinca, olhando-a com um


sorriso cumplice — sei...

Surpresa, olho para minha irmã.

— Sério? Matthew vai te ensinar a pilotar uma moto? Isso é


incrível, Alina! Tenho certeza de que você vai arrasar!

Chloe, então, decide compartilhar sua própria novidade.

— E eu preciso contar a vocês, Fellipo, me chamou para uma


viagem de negócios no final de semana, não sei quanto tempo ficaremos
fora! Vamos fechar um acordo importante para a organização. É uma
oportunidade única! E ele disse que precisa dos meus conhecimentos
técnicos. — Sorri animada.
Fico surpresa com a notícia de Chloe, consciente de que a Chloe
presta serviços para a organização às vezes, mas imaginar ela dentro
assim, me arrepia os pelos do braço, me preocupo com minha amiga.
Mesmo sabendo que o Fellipo nunca deixaria nada de ruim acontecer
com nossa pequena nerd.

— Tenha cuidado, Chloe — digo a ela com preocupação. — Eu sei


que você é inteligente e forte, mas fique atenta. Esse é um mundo
perigoso — torço o nariz.

Chloe assente, entendendo a gravidade da situação.

— Pode deixar, Giuliana. Eu vou tomar todas as precauções


necessárias. Não se preocupe, vou voltar sã e salva.

— E não esqueça de manter isso aqui fechado e trancado numa


caixinha amiga — Alina fala apontando seu coração.

Sabemos dos sentimentos da Chloe pelo caçula dos irmãos


Martinelli, desde que ela foi morar naquela casa, e uma oportunidade
dessa, pode ser maravilhosa, ou desastrosa.

— São só negócios, Alina, logo estarei de volta, e quero ver a


senhorita pilotando com perfeição.

Suspiro, sabendo que ela está fazendo o possível para proteger a


si mesma do que pode acontecer nessa viagem. Mas eu dou um do voto
de confiança, que o que tem de ser, será, quem sabe depois dessa
viagem ou ela se abre e se declara, ou segue em frente e esquece essa
paixão platônica pelo Fellipo.

Enquanto conversamos, Raffaello se aconchega em meus braços,


seus olhinhos curiosos examinando cada movimento. Eu seguro-o com
carinho, lembrando-me de como tudo isso começou, nosso amor, meu e
do pai dele, que superou obstáculos e provações.

Olho para Alina e Chloe, minhas pessoas mais importantes depois


do amor da minha vida, ao meu lado. Sinto uma gratidão imensa por tê-
las em minha vida, enfrentando os altos e baixos comigo.

Enquanto enfrentamos o desconhecido, sei que, juntas, somos


capazes de superar qualquer obstáculo que a vida colocar em nosso
caminho.
Quatro meses depois
Estou parado no altar, o coração batendo descompassado, ansioso
para ver Giuliana caminhar até mim. Olho para a multidão de rostos
sorridentes, mas meus olhos estão fixos na porta da igreja, esperando
ansiosamente por aquele momento mágico.

O sol brilha através dos vitrais, lançando cores suaves pelo chão de
mármore, e o aroma das flores frescas paira no ar. Os acordes de uma
melodia suave preenchem a igreja, e meu coração salta em antecipação.
A marcha nupcial começou.

Minhas mãos estão suadas, minhas pernas tremem levemente.


Não me lembrava de ter ficado desse jeito quando me casei com
Francesca, e me pergunto se Giuliana está tão nervosa quanto eu.
Espero que ela saiba o quanto a amo, o quanto este momento significa
para mim. Que começamos como um contrato, mas que o que temos,
transcende qualquer sentimento de obrigação.

Eu queria poder acalmar os batimentos acelerados do meu


coração, mas é impossível conter a emoção que transborda dentro de
mim.
Finalmente, a porta se abre. Eu prendo a respiração enquanto a
visão mais linda que já vi entra na igreja. Lá está ela, radiante e
deslumbrante em seu vestido branco, seu rosto irradiando alegria e amor.
Meus olhos se encontram com os dela, e um sorriso nervoso se forma
em seus lábios. Giuliana está aqui, vindo até mim.

Como minha linda noiva só tem a irmã caçula ao seu lado, já que
seus pais são falecidos, é Matthew, que a guia pelo corredor, com meu
menino vestido em um smoking igual ao que estou usando, de pajem a
frente, trazendo as alianças.

Matthew foi escolhido, quando Giuliana se viu presa ao meu irmão


de forma fraternal, o considerando mais do que um cunhado. Ela queria
mostrar a toda a organização que não ficou nenhum ressentimento
devido à morte da Francesca e da acusação contra Matthew. Hoje mais
forte do que nunca, reafirmamos os laços que unem a nossa família.

Caminhando em direção ao altar, Giuliana segura firme o buquê de


flores brancas, seu olhar nunca deixando o meu. Sinto uma mistura de
gratidão e, amor transbordar em meu peito. Ela está aqui comigo, pronta
para compartilhar o resto de nossas vidas juntos.

Enquanto Giuliana se aproxima, vejo lágrimas de alegria em seus


olhos. O coro de vozes suaves ressoa pela igreja, e todos os rostos estão
voltados para nós. O momento é mágico, como se o tempo estivesse
suspenso. Nada mais importa além de Giuliana e eu.

— Aqui papai — Rafaello fala me entregando as alianças, rio e me


abaixo ficando da sua altura.

— Agora não filho, fica aqui do lado e quando eu chamar você traz
as alianças.
— Para você e a mamãe casar — ele fala com pronúncia quase
perfeita. Giuliana tem se empenhado em ensiná-lo a falar corretamente e
eu amo como ele a reconhece como sua mãe.

— Isso filho — aliso sua bochecha e ele faz o que eu peço.

Quando ela finalmente chega ao meu lado, não consigo conter a


emoção. Seguro sua mão delicada na minha, e nossos olhares se
encontram novamente. Em meio a um mar de emoções, sussurro um
"você está linda" que escapa dos meus lábios.

O padre começa a cerimônia, mas tudo o que consigo fazer é


admirar Giuliana. Ela é a minha luz, a pessoa que me completa de todas
as maneiras possíveis. Enquanto ouço as palavras do padre, prometo a
mim mesmo ser o melhor marido que posso ser, sempre presente e
amoroso.

Este é o começo de nossa jornada juntos, um momento que vou


guardar para sempre em meu coração. Giuliana é minha noiva, minha
melhor amiga e agora, minha esposa. Enquanto trocamos nossos votos,
o amor transborda e envolve a todos que estão presentes.

Começo a falar meus votos, nervoso, com medo de esquecer o que


ensaiei, o que de fato aconteceu, então improvisei...

— Hoje, diante de todos vocês, sou abençoado com a oportunidade


de compartilhar as palavras mais importantes que já tive a honra de dizer
— suspiro, e continuo — hoje, eu me uno em sagrado matrimônio com a
mulher que escolhi para mim — sorrio olhando minha garota com as
bochechas coradas, diante minhas palavras.

Eu deveria me conter e não deixar que percebam o quanto a amo,


por isso falo baixinho para que somente a minha esposa escute, perto de
seu ouvido. Não quero manchar nosso momento me fazendo de durão
por uma convenção social e nem deixar que percebam o quanto ela é
importante para mim e colocar um alvo em suas costas.

— Minha Giuliana, em meio à sua raiva justificada, encontrei um


amor que transcendeu todas as obrigações impostas a nós. Lembro-me
como se fosse ontem, aquele momento em que nossos caminhos se
cruzaram — acarinho seu rosto, falando como se só existissem nós dois
dentro dessa igreja — Com sua determinação feroz, confrontou-me com
toda sua força e convicção. Enquanto eu estava enredado nas
complexidades da vida que nos foram impostas, você invadiu minha
existência, desafiando o destino que nos aguardava. E, em vez de
despertar ressentimento, você despertou em mim uma admiração sem
precedentes. Naquele instante, quando nossos olhares se encontraram,
algo mágico aconteceu. O mundo inteiro pareceu diminuir de importância,
enquanto nossas almas se reconheciam. Foi como se o destino tivesse
conspirado para nos juntar, superando todas as expectativas, todas as
obrigações, todos os obstáculos que poderiam nos separar.

Beijo a ponta do seu narizinho empinado, e vermelho devido ao


choro que ela não consegue segurar.

— Desde aquele dia, Giuliana, você tem sido meu porto seguro,
minha inspiração constante. Você me ensinou a importância da
verdadeira coragem, da compaixão incondicional e da determinação
incansável. Juntos, aprendemos a superar desafios, a enfrentar os
ventos tempestuosos da vida de mãos dadas. Com você ao meu lado,
descobri que o amor verdadeiro não conhece limites e não pode ser
definido por convenções sociais ou pressões externas.

— Ah, Val — ela soluça baixinho — você também me ensinou tudo


isso amor.
— Hoje, em nosso casamento, prometo a você, Giuliana, que meu
amor por você será eterno. Prometo ser seu apoio constante, seu
confidente e seu companheiro inabalável. Prometo valorizar cada
momento que compartilhamos, sabendo que cada riso, cada lágrima, e
cada desafio, moldarão nossa jornada e nos fortalecerão. Prometo amar
você de forma incondicional, reconhecendo que o amor verdadeiro não
se baseia em obrigações, mas em uma conexão de almas que
transcende qualquer limite. Prometo ser honesto e leal a você, honrando
o vínculo que estamos selando hoje e todos os dias que virão.

Não resisto e beijo sua testa, a garganta entalada pelo nó da


emoção. Baixo o rosto encontrando seu ouvido, alisando seu pescoço
pequeno ouvindo os pequenos soluços da minha esposa.

— Giuliana, meu amor por você é imensurável. Você ilumina minha


vida com sua presença, e sou grato todos os dias por ter você ao meu
lado. Sei que nossa jornada não será perfeita, mas tenho certeza de que,
com nosso amor e comprometimento, superaremos todas as
adversidades, e hoje, neste momento sagrado, faço meus votos a você,
Giuliana, diante de todos os que amamos.

Desgrudo nossos corpos deixando que as pessoas ouçam o final


dos meus votos que seguem a linha dos tradicionais votos de noivos.

— Prometo amar, honrar e respeitar você, por toda a eternidade. E


que nosso amor, verdadeiro e incondicional, seja uma inspiração para
todos que têm a sorte de testemunhar nossa união.

— Você acha que consegue terminar hoje? Ainda tem os votos da


noiva — Fellipo fala rindo, e o olho feio por me atrapalhar, mas com
carinho, pois sei que me empolguei, isso porque esqueci totalmente o
que ia falar antes.
— Giuliana, você é minha alma gêmea, meu verdadeiro amor. E é
com todo o meu coração que digo, hoje e para sempre, eu te amo.

— Só esse final já seria bonito — Matthew comenta, emendando a


brincadeira do Fellipo. Tenho vontade de bater nos dois. Por sorte
somente as pessoas no altar escutam. Meus irmãos e as meninas.

— Calem a boca! — Digo, sobre o olhar repreensivo do padre.

Minha garota sorri, um tanto tímida, beija os nós dos meus dedos
que seguram sua mão, e simplesmente diz pausadamente:

— Eu. Te. Amo, Valentino Martinelli, e faço minhas suas palavras,


porque o que eu havia pensado em dizer, ficaram até piegas perto de
tudo que me falou.

— Não acredito que você conseguiu tirar o brilho da noiva —


Fellipo fala rindo, fingindo descrença. E eu e a Giuliana mandos ele se
calar ao mesmo tempo, mas com o sorriso estampado em nosso rosto.

Assim, enquanto nós nos olhamos profundamente nos olhos,


selamos nossas promessas com um doce beijo. Aplausos ecoam na
igreja, e sei que este é o início de uma vida cheia de amor, aventuras e
felicidade ao lado de Giuliana.

Juntos, enfrentaremos qualquer desafio e criaremos memórias que


durarão para sempre.
Estou em êxtase. É o dia mais esperado para mim, o dia em que
me torno esposa do amor da minha vida, Valentino.

O salão de festas está decorado com flores brancas e rosas, a


iluminação suave cria uma atmosfera romântica e mágica. Os convidados
estão animados, celebrando conosco esse momento tão especial.

Ao meu lado, Valentino está radiante, com um sorriso que ilumina


todo o ambiente. Seus olhos encontram os meus e sinto meu coração
disparar. Estamos prestes a começar nossa vida juntos, e não poderia
estar mais feliz.

Nossos amigos próximos e familiares estão reunidos ao nosso


redor, e vejo que Fellipo e Matthew, meus cunhados, estão conversando
com Alina, Chloe, e alguns membros do moto clube. Com Rafaello no
colo, que se recusa a ficar longe dos pais, me aproximo da mesa deles.

Chego ao grupo e cumprimento a todos com um sorriso.

Fellipo, o mais extrovertido dos irmãos, brinca com Matthew, que é


um pouco mais reservado, mas igualmente encantador. Alina e Chloe
estão trocando risadas e histórias animadas com a loira exuberante que,
se não me engano, o Matthew disse que é sua Capitã de Estrada,
membro do Hell Hounds.

— Giuliana! Você está deslumbrante! — exclama Alina, admirando


meu vestido de festa, já que me troquei, tirando o vestido de noiva. —
Valentino realmente tem sorte de tê-la minha irmã.

— Ah, obrigada! Você também está linda. E você, Chloe — assovio


um fiu-fiu gesticulando as mãos para ela toda — está arrasando, com
esse vestido vermelho deslumbrante! — respondo, elogiando-as. Deve
ter muitos gatinhos se jogando aos seus pés — provoco, pois percebo o
olhar disfarçado e contido do Fellipo nela, e com o que falo, também
ouço uma espécie de rosnado.

Raffaello acha divertido o meu assobio e imita, babando no


processo. Acho graça, Matthew me entrega um guardanapo e limpo a
boca do meu menino. Ao ver o tio, se joga em seus braços, louco para
andar de moto.

— Concordo, Chloe, você passa longe da garotinha que trouxemos


sob nossa proteção — Matthew comenta, embarcando na minha
provocação sem perceber, ou de propósito, já que olha para seu irmão
com um sorriso perverso de canto. — E merece brilhar — diz com um
sorriso gentil.

Consigo perceber a tensão do Fellipo ao notar a atenção que a


Chloe recebe. Ela ainda é uma adolescente e ele um homem adulto.
Acho que no momento, meu cunhado tem um carinho e proteção extrema
com a sua protegida. Enquanto a Chloe não disfarça o olhar apaixonado,
espero que quando ela estiver mais velha não existam barreiras que
mantenham esses dois separados.

Fellipo ignora as brincadeiras e puxa um brinde.


— À Giuliana e Valentino, o casal mais incrível que conheço! Que
esta noite seja o início de uma vida cheia de amor, felicidade e aventuras.

Todos erguem suas taças e brindamos com entusiasmo. Enquanto


as taças se chocam, sinto uma onda de gratidão e amor me envolver.
Tenho tanta sorte de ter essas pessoas maravilhosas ao meu lado neste
dia especial.

— Estou tão feliz que vocês estejam aqui — digo, emocionada. —


Significa muito para mim ter a família e os amigos mais queridos
celebrando conosco.

— Você é parte da nossa família agora, Giuliana — afirma Matthew,


com um olhar afetuoso. — E estamos felizes em tê-la ao nosso lado.
Assim como esse garotão — alisa a cabeça do sobrinho — você com
certeza será o meu sucessor, seu pai vai enlouquecer, mas seu amor por
motos não mente.

— Você realmente quer uma briga — Valentino aparece segurando


minha cintura — se não fosse minha festa de casamento eu arrancava
suas bolas por querer roubar meu filho.

— Faça outros com a Giuliana, Raffaello já é completamente meu.

Como que concordando com o tio, Raffaello fica em pé e faz som


de moto, arrancando risadas da mesa, e uma carranca do Valentino. Meu
homem me solta pegando o filho no colo.

— Teremos muitos outros filhos, mas nenhum deles vai pisar no


seu clube como líder.

— Eu não teria tanta certeza — ele pisca bebendo.


Sinto uma mistura de emoções: alegria, amor, gratidão. Esses
momentos compartilhados com as pessoas que mais amo são
inestimáveis. Nada poderia estragar esse dia perfeito. Envolvo-me nas
conversas animadas e aproveito cada segundo dessa festa de
casamento dos sonhos.

Enquanto a música começa a tocar e as pessoas começam a


dançar, Valentino segura minha mão com carinho.

— Ei, minha linda esposa. Você está aproveitando a festa? — ele


pergunta, com os olhos brilhando de felicidade.

— Mais do que eu poderia imaginar, meu amor. Este é o melhor dia


da minha vida, e estou tão feliz por compartilhá-lo com você e as
pessoas que amamos.

Valentino sorri e me puxa para um abraço caloroso com o Rafaello


no nosso meio, em um sanduíche de proteção. Em seus braços, sinto-me
completa. Nada mais importa além desse amor que nos une.

Nossa festa de casamento continua, repleta de risos, danças e


memórias que iremos guardar para sempre.

Dançamos pela pista, girando suavemente ao som de uma música


romântica. Os sorrisos em nossos rostos são contagiantes, e vejo os
convidados ao redor nos observando com carinho.

Enquanto dançamos, nossos olhares se encontram e


compartilhamos um momento de intimidade, onde as palavras se tornam
desnecessárias. É como se nossas almas estivessem dançando juntas,
celebrando esse amor que nos une.

A energia positiva da festa se espalha por todo o salão, e percebo


que Fellipo, Matthew, Alina, Chloe e alguns membros do clube e outros
amigos, estão se divertindo tanto quanto nós. Eles se juntam a nós na
pista de dança, formando um círculo de amizade e cumplicidade.

Rafaello fica na mesa comendo docinhos com a governanta, que


está linda no vestido de festa e toda arrumada. Ela sempre cuida da
gente, e hoje sua presença é indispensável.

Enquanto dançamos, trocamos olhares e sorrisos, compartilhando


histórias e risadas. Fellipo mostra seus passos de dança extravagantes,
já um tanto embriagado, arrancando gargalhadas de todos nós, quando
inicia uma disputa de dança com a Chloe, tipo essas brigas de rua, mas
na dança. Matthew, e seu pessoal, agitam ainda mais a rinha que surge
do nada na dança, entre o Fellipo e a Chloe, fazendo apostas e rindo
alto.

Esses momentos são preciosos, pois representam a união não


apenas do meu casamento com Valentino, mas também de nossas
famílias e amigos. É reconfortante saber que, além do amor que temos
um pelo outro, também temos o apoio e a companhia de pessoas tão
especiais.

Enquanto a festa continua, percebo o brilho da felicidade nos olhos


de Valentino e sinto um calafrio percorrer minha espinha. Este é o
começo de uma nova jornada, uma vida inteira de aventuras, desafios e
amor.

A festa de casamento segue noite adentro, preenchida com música,


dança e amor. Cada momento é capturado por fotógrafos e eternizado
em nossas memórias. Agradecemos a todos por compartilharem conosco
esse dia inesquecível e prometemos guardar esse amor em nossos
corações para sempre.
Enquanto a noite chega ao fim e nos despedimos dos nossos
convidados, sinto-me abençoada por encontrar o verdadeiro amor em
Valentino. E, à medida que nos dirigimos para nossa nova vida juntos, sei
que estaremos cercados por pessoas maravilhosas que nos apoiarão em
todos os momentos.

Este é apenas o começo da nossa jornada como marido e mulher,


e mal posso esperar para ver o que o futuro nos reserva. Com Valentino
ao meu lado e nossos entes queridos ao redor, sei que tudo é possível.
Juntos, enfrentaremos qualquer desafio e construiremos um amor que
durará para sempre.

****

Os dias após a festa de casamento são preenchidos com um


sentimento de felicidade, calmaria e gratidão. Valentino e eu embarcamos
em nossa lua de mel, para a mesma ilha que ele me levou da outra vez,
quando despertei para o amor que sinto por ele.

E lá, desfrutamos de momentos de tranquilidade e romance em um


paraíso tropical. Entre passeios de mãos dadas na praia e jantares
românticos ao pôr do sol, aproveitamos cada segundo juntos, celebrando
o início da nossa vida como marido e mulher.

Enquanto mergulhamos nas águas cristalinas, compartilhamos


nossos sonhos e planos. Conversamos sobre a construção de uma
família, nossas metas profissionais e as aventuras que gostaríamos de
embarcar juntos. É um momento de intimidade e conexão que fortalece
ainda mais nossa união.

Fora que a todo tempo, não teve um só canto da ilha, que não
fizemos amor, como dois coelhos...
De volta à realidade, começamos a montar nosso novo lar juntos. E
enquanto nós nos estabelecemos em nossa vida cotidiana, Chloe e
Fellipo que estão em uma viagem, tratando de negócios, nos ligam todos
os dias; Fellipo para o irmão e a Chloe para mim e para Alina.

Já minha irmã, se já não é, está a um passo de se tornar membro


do moto clube, ela acabou de aprender a pilotar, e logo de começo,
quase mata meu cunhado infartado, pois pegou a moto dele e saiu dar
uma volta, deixando todos os cães, como eles se tratam, na cola dela.

Valentino baixou uma regra extremamente clara de que vai cortar


um dedo fora, de quem levar o Raffaello para andar de moto. Nosso
menino não gostou da proibição e fez greve de fome por 3 horas
seguidas, enquanto chorava e pedia ao pai pela moto. Meu amor acabou
cedendo e comprou uma moto para poder ficar andando com o Raffaello.

Valentino pode até tentar negar, mas nosso menino vai ser um MC
no futuro, só não sei se ficará pilotando e liderando a organização com o
pai, ou no clube do tio, que a cada dia finca mais na cabeça do Raffaello
sobre ser seu sucessor.

Matthew foi reconhecido oficialmente como membro novamente da


máfia e que seu clube estava sobre a nossa proteção e vice-versa, em
uma parceria de igualdade. Dois líderes poderosos que disputam a
atenção de uma criança de quase 3 anos, apaixonada por motos.

Com o pilar dos três irmãos mais forte do que nunca, os membros
do conselho se mantem calmos e obedientes. Nenhum deles tentam
desafiar o Valentino.

Os MC se tornaram uma extensão do nosso próprio núcleo familiar,


sempre presentes para nos apoiar nos momentos de alegria e desafios.
Frequentemente nos reunimos para jantares acolhedores, nos
quais compartilhamos risadas, histórias e conselhos. Alina, apesar de
meio louquinha às vezes, é a voz da razão, sempre presente para me
lembrar da importância de cuidar de mim mesma.

Chloe, a amiga leal, traz um toque de espontaneidade e diversão


para nossas vidas, e me faz quase morrer de saudades, contando os
dias para seu regresso, ela sempre nos lembra de nunca perdermos o
senso de aventura.

Fellipo e Matthew, são os pilares de apoio, sempre prontos para


nos oferecer conselhos e orientações. Suas presenças masculinas em
nossas vidas trazem uma sensação de segurança e conforto, sabendo
que sempre teremos alguém em quem confiar.

Isso sem contar que o Matthew quase matou minha irmã no dia que
ela roubou sua moto, que é sua paixão.

À medida que o tempo passa, celebramos aniversários, conquistas


profissionais, e marcos importantes juntos. Nossas vidas estão
entrelaçadas em uma teia de amor, amizade e companheirismo.

A festa de casamento foi apenas o começo de nossa jornada. O


amor que compartilhamos continua a florescer, nutrido por todos os que
fazem parte de nossas vidas. Somos gratos pela família e amigos que
nos apoiam incondicionalmente, ajudando-nos a construir uma vida cheia
de felicidade, amor e significado.

E, enquanto continuamos nossa caminhada juntos, tenho certeza


de que o futuro nos reserva muitas aventuras emocionantes. Com
Valentino ao meu lado e nossa amada família e amigos ao redor, sei que
a vida será uma jornada repleta de amor, risos e memórias preciosas.
Dois anos depois
Estou deitada na cama de hospital, com meu coração acelerado e
uma mistura de emoções tomando conta de mim. Sinto as contrações
ficarem mais intensas, indicando que Dante, nosso bebê, está prestes a
chegar. Ao meu lado, Valentino segura minha mão com firmeza, seus
olhos transbordando nervosismo e ansiedade.

Rafaello ficou louco quando soube que teria um irmão homem, já


planejou mil passeios de moto com ele. Meu marido agora conformado
com a inclinação do filho para ser um motoqueiro, tenta o persuadir a não
largar as tradições da família por causa de uma moto. Meu menino
espera do lado de fora com a tia, enquanto seu irmão nasce.

As luzes brancas e esterilizadas do quarto de hospital iluminam o


ambiente, enquanto os sons abafados de monitores e vozes distantes
ecoam pelos corredores. O ar cheira a desinfetante, mas também há uma
sensação de antecipação pairando no ar.

Olho para Valentino e percebo como ele está tenso. Seus dedos
entrelaçados nos meus, apertando com força enquanto tenta controlar
suas emoções.
— Tudo vai dar certo, meu amor — digo a Valentino, tentando
transmitir confiança em minhas palavras. — Dante está a caminho e você
será o pai mais incrível que ele poderia ter, assim como é para nosso
Rafaello — digo sorrindo meio chorosa.

Ele sorri para mim, um sorriso que tenta esconder sua insegurança,
mas eu conheço bem o meu marido. Seus olhos brilham com amor e
medo, mas sei que ele fará tudo em seu poder para proteger e cuidar de
nosso filho.

Enquanto as contrações continuam a me envolver, sinto uma onda


de gratidão por ter Valentino ao meu lado. Ele tem sido meu apoio
inabalável ao longo dessa jornada, me segurando nas noites de insônia e
compartilhando minhas preocupações e alegrias.

Uma enfermeira entra no quarto. Ela verifica meus sinais vitais e


me encoraja a respirar profundamente. Observo Valentino, e nossos
olhares se encontram, um momento de conexão profunda entre nós.

A sala de parto está pronta, e a equipe médica começa a se


preparar para a chegada de Dante. Valentino me beija na testa e
sussurra palavras de amor e encorajamento. Sinto-me fortalecida e
pronta para enfrentar o que está por vir.

Enquanto somos levados para a sala de parto, segurando a mão de


Valentino, sinto uma mistura de medo e felicidade inundar meu coração.

Mas uma coisa é certa: Dante é um presente que compartilhamos,


um símbolo do nosso amor e da nossa jornada. E não importa o que
aconteça, estaremos juntos, como uma família, prontos para acolher
esse pequeno milagre em nossas vidas.
Entro na sala de parto e me deito na maca, cercada pela equipe
médica, atenciosa e dedicada. O monitor fetal é colocado em meu ventre,
e posso ouvir o som do coração acelerado de Dante, batendo em perfeita
sincronia com o meu. A cada contração, sinto um misto de dor e
expectativa, mas sei que é um caminho necessário para trazer nosso
filho ao mundo.

Valentino permanece ao meu lado, segurando minha mão com


firmeza. Seus olhos não deixam o monitor, ansioso para acompanhar
cada sinal do progresso do trabalho de parto. A cada batida mais forte do
coraçãozinho de Dante, um sorriso surge em seu rosto, enchendo-me de
ainda mais coragem e determinação.

A equipe médica me orienta a fazer respirações profundas e a me


concentrar em relaxar. Valentino repete as palavras de encorajamento
que praticamos durante as aulas de preparação para o parto. Sua voz,
suave e reconfortante, guia-me através das ondas de dor, lembrando-me
do propósito sagrado deste momento.

As horas parecem se arrastar, mas, ao mesmo tempo, passam


rápido demais. Cada contração me aproxima um pouco mais do encontro
com Dante. Valentino está ali, inabalável em seu apoio. Enxuga o suor de
minha testa, acaricia meu rosto com ternura.

— Você está indo bem meu amor, você é a mulher mais forte que já
conheci — sorrio acreditando em suas palavras.

— Mais forte Giuliana, o bebê começou a coroar — o médico fala.

Com um último esforço, sinto uma explosão de alegria e alívio


enquanto Dante desliza para fora de mim, chorando em seus primeiros
momentos de vida. Lágrimas de felicidade escorrem pelo meu rosto
enquanto o bebê é colocado em meu peito, meu coração explodindo de
amor ao vê-lo pela primeira vez.

— Você conseguiu — Valentino beija meu cabelo. Alisando a mão


do nosso pequeno.

Enquanto seguramos nosso filho juntos, entrelaçados em um


abraço familiar, sinto-me completa. Dante é o elo que fortalece nosso
amor, a prova viva de tudo o que construímos juntos.

Valentino segura Dante com cuidado e admiração em seus braços.


Seus olhos estão fixos no rostinho do nosso filho, absorvendo cada
detalhe, cada pequena expressão. É um momento de profundo
encantamento e conexão entre os dois.

— Bem-vindo ao mundo meu pequeno — ele sussurra baixinho


com lágrimas contidas.

Enquanto a equipe médica continua a cuidar de mim, permito-me


observar a cena diante de mim. Valentino e Dante, pai e filho, formando
um vínculo que durará uma vida inteira. Meu coração transborda de amor
ao testemunhar esse momento tão especial.

Valentino acompanha Dante para fazer os exames de recém-


nascido, enquanto terminam de retirar a placenta de mim. Apago de
exaustão.

Acordo ouvindo meu bebê balbuciando e o Valentino falando com


ele, acomodo em uma cadeira ao lado da minha cama, segurando Dante
no colo. Com cuidado, ele acaricia a pequena bochecha do nosso bebê e
sorri de maneira radiante.

— Giuliana, nosso filho é perfeito — ele murmura, sua voz


embargada pela emoção. — Estou tão orgulhoso de você, meu amor.
Você foi incrível.

Sorrio. Meus olhos se enchem de lágrimas de felicidade e


realização. Com todo o amor que possuo, olho para Valentino e Dante.

Com Dante em nossos braços, nosso lar ganhou ainda mais brilho
e significado. Estamos cheios de esperança e sonhos para o futuro,
sabendo que, juntos, construiremos uma família repleta de amor,
cumplicidade e aventuras.

O nosso amor florescerá, e com ele, também florescerá o amor de


nossos pequenos, conectando-nos em um laço eterno de amor
incondicional.

À medida que os dias passam, a vida se desenrola em um ritmo


acelerado e envolvente. Valentino e eu nos ajustamos à nossa nova
rotina como pais de dois filhos, dedicando-nos a nutrir e cuidar de nossa
preciosa família.

Dante continua a crescer e se desenvolver rapidamente. Seus


olhinhos curiosos exploram o mundo ao seu redor, e suas risadas
contagiantes iluminam cada canto da nossa casa. Valentino é um pai
incrível, sempre presente e carinhoso, brincando e criando memórias
especiais com nossos filhos.

Raffaello, nosso primogênito, se tornou um irmão mais velho


amoroso e protetor. Ele acolhe Dante com carinho e está sempre
disposto a compartilhar seus brinquedos e histórias. Nossos momentos
em família são repletos de risadas, abraços apertados e momentos de
conexão profunda. Além de quando Valentino endoida com Raffaello
querendo levar Dante para andar de moto.
Em meio a essa jornada, nunca deixamos de lembrar do amor que
nos une. Encontramos momentos para nós dois, para nutrir nossa
conexão e manter vivo o fogo da paixão que nos uniu desde o início. É
importante nos lembrarmos de que, além de sermos pais, também somos
amantes e parceiros de vida.

Enquanto observo Dante brincar no chão, sinto-me preenchida de


uma felicidade indescritível. Cada momento compartilhado, cada riso,
cada abraço apertado, é uma confirmação de que tomamos a decisão
certa ao nos embarcar nesta jornada da paternidade.

Sei que a vida nos apresentará mais desafios e aventuras no


futuro. Mas com Valentino ao meu lado e nossos filhos como nossa maior
inspiração, enfrentaremos tudo de cabeça erguida, sabendo que o amor
que nos une é a força que nos guiará.

E assim, nossa história continua a se desdobrar, cheia de


momentos preciosos e um amor que cresce a cada dia.

Juntos, construiremos um futuro brilhante para nossa família,


repleto de risos, abraços apertados e alegrias compartilhadas. E nesse
ciclo infinito de amor e conexão, nossa família será um farol de amor
para o mundo.

FIM
[1]
gosto

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