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ConFERENCIA EM G ENEBRA SOBRE 0 SINTOMA JACQUES LACAN , ; icandlise. lém disso, a0 fim de der anos, fe ; jerencia de Jacques Lacan 1a psicandlis , ficou muito a oa “apisteresabelecido contente, nao por despedtme, porque fu eu que o dey Jobe emia polo. pedi, mas por me ver pair. so taxto,acedi ao seu pedido de autorizar a publicagao dele em sua revista, Le Bloc-Notes de la psychanalyse’. ‘segundo asindicagoesque me foram fornecidas,a.con- ‘a, anuunciada sob o titulo “O sintoma’, foi promun- ‘ciada no dia 4 de outubro de 1975, no Centro Raymond ‘de Saussure, num fim de semana de trabalho organtzado ‘pela Sociedade Suica de Psicandlise, perante uma audi- éncia composta por membros da dita Sociedade e de con- vidados; 0 Sr. Olivier Flournoy fez a abertura, Falta uma passagem, assinalada em nota de rodapé. Jacques-Alain Miller Nao comecarei sem agradecer a Olivier Flournoy por terme convidado, o que me dé o privilégio de falar thes. Pareceu-me que, devido 2o tempo em que pratico a psi- canilise,Ihes devia, a0 menos, uma palavra de explicacio, uma palavra de explicagio sobre o fato de que, primeiro, pratiquei ¢, depois, um dia, comecei a ensinar. ‘Nao tinha verdadeiramente necessidade alguma de en- sinar. Bu o fiz no momento em que se fundou o que, desde entéo, se chama o Instituto Psicanalitico de Paris, criado 0b 0 signo do monopdlio por parte de alguém que, sabe Deus, ndo tinha tanta habilitacSo para desempenhar esse peel Bu 0 fiz unicamente porque, nesse momento, que le crise - “ic : Sidi ga Sums de insauracio de uma espécie de Ty sa Parte daquetas pessoas, daquees psicana- ue safam da guerca -tinham, de todo oa , modo, demo- ‘NOs para sair dela, visto que essa fundacai aoe ssa fundacao data » Uma parte me pediu para Hayia, entio, em Sainte-Ant Se a Ne, um professor de psiquiae Nesse momento, declarava-se uma nova crise, que se devia, sabe Deus, 2 uma espécie de aspiracio, unida a uma espécie de ruido oco de fossa, que se fazia no ambito da Internacional, Isso é alguma coisa que Joyce, que est, atu almente, na ordem do dia de minhas preocupacées, sim- boliza com a palavra inglesa suck - que é 0 ruido que faza descarga de égua na hora em que é acionada e engolda pelo buraco do esgoto. Essa é uma metéfora bastante adequada da fungio dessa Internacional, tal como Freud a quis. E preciso recordarse que, ao pensar que, logo apés seu falecimento, nada poderia ‘garantir que suas idéias seriam salvaguardadas, cle as com fiou a ninguém menos que sua propria filha. Nao se pode dizer - nfo € mesmo? - que a dita filha esteja na linha do prdprio Freud. Os mecanismos ditos de defesa que ela pro- duziu no me parecem, de forma alguma, sero testemunho de que ela estava certa das coisas - bem longe disso. Aconteceu-me, entio, de comecar um semindrio em 1953, que, como me disse Olivier Flournoy, alguns de voces assistiram, Esse semindrio no é sendo uma coletinea que deixei em maos de alguém, que me é bastante proximo, que se chama Jacques-Alain Miller. Deixei esse semindrio em suas maos, porque ele estava um pouco distante de mim €, S¢ 0 tivesse relido, eu o teria reescrito ou, a0 menos, © teria, simplesmente, escrito. Escrever nao é, de modo algum, a mesma coisa, nfo s° parece em nada com o dizer, como ilustrarei mais adiante Sucede que, durante a época em que eu estava em Sainte Anne, desejei que algo do que eu dizia permanecesse. Nes sa €poca, eu editava uma revista para a qual, propriamente falando, escrevia. Recolhi um certo niimero de artigos Publicados nessa revista. Como eu também havia esct0 bastante coisas antes, a metade dessa coletanea constituls? esses escritos anteriores - que, estritamente falando, so escritos, ¢ é simplesmente a isso que se deve meu titulo, Escritos. Esse titulo escandalizou um pouco uma pessoa de minhas relagdes, uma charmosa moga japonesa, E provavel «que a ressonéincia da palavra Escritos nao seja a mesma em aponés e em francés. Por Escrifos, eu queria apenas assinae lar que era, de algum modo, o resfduo de meu ensino. Eu publicava, entdo, nessa revista, la Psychanalyse,apr0- ‘ximadamente uma vez por ano, um escrito destinado a con- servar algo do remoinho que minha palavra havia engen- dado, a guardar um instrumento a que se poderia repor tar, Eu o fazia coma intengio de que isso, afinal de contas, pudesse servir-me de referéncia junto a Internacional. Claro que esta titima, esta zomba bastante de todos os es- critos - e, no fundo, ela tem razo, porque a psicandlise & algo muito diferente de escritos. No entanto,talvez no seja {Zo mal o analista dar um certo testemunho de que sabe 0 que faz, Se ele faz algo, que diga, e, provavelmente, néo seria excessivo esperar que daquilo que faz, de gum modo, ele testemunhe. ‘Nao seria, tampouco, excessivo esperar que ele pense naquilo que faz, Pense de vez em quando. Pense as vezes, [sso nao é absolutamente obrigatério. Nao dou uma conota- Gio de valor ao termo pensar. Direi mais ainda: se ha algo em que avancei, sua natureza se presta a tranquilizar 0 ana- lista acerca daquilo que poderiamos chamar seu automatis- ‘mo. Suponho que o pensamento é, em tiltima andlise, um cenvolvimento. E os analistas sabem disso melhor do que nin- guém. £ um envolvimento em algo que especifiquei no que chamo o imagindrio € toda uma tradicio filos6fica deu-se conta disso muito bem. Se o homem - dizer isso parece uma banalidade - no tivesse o que se chama um corpo, no vou dizer que nao pensaria, pois isso ¢ dbvio, no entanto ele ndio seria profundamente captado pela imagem desse corpo. © homem € captado pela imagem de seu corpo. Esse onto explica muitas coisas €, em primeiro lugar, o privilé- gio que essa imagem tem para ele. Seu mundo, se é que ssa palavra tem algum sentido, seu Umwelt, aquilo que ele tem em tomo de si, ele 0 corpo-reifica, ele 0 faz coisa a imagem de seu corpo. Ele nao tem a menor idéia, é claro, do que acontece nesse corpo. Como sobrevive um corpo? Nao sei se isso toca voces, por pouco que seja - se vooés softem um arranhdo, pois bem, isso se resolve. &, assim, Go surpreendente, nem mais nem menos, quanto o fato de que a lagartixa que perde seu rabo 0 reconstitui. E exa- tamente da mesma ordem, bac £ pela via do olhar, & qual Olivier Floumoy, hi pouco, se referiu, que 0 corpo gana sua importéncia. A maior parte ~ mas nao tudo - do que o homem pensa enraiza-se af. f, de fato, muito dificil para um analista, visto 0 que ele tem a fazer, no ser aspirado - no mesmo sentido a que alu ago- ra mesmo - pelo glugl dessa fuga, dessa coisa que 0 capta, em tiltima insténcia, narcisicamente, no discurso daquele que Olivier Flournoy denominou, hd pouco - lamento - 0 analisado. Lamento, pois jé faz algum tempo que o termo analisante, que proferi, um dia, em meu seminério, adqui- riu o diteito de cidadania. NZo somente na minha Bscola - ‘eu s6 outorgaria a isso uma importincia relativa, relativa a ‘mim - mas também porque esse analisante produziu uma espécie de efeito relampago na mesma semana em que o articulei. O Instituto Psicanalitico de Paris, que est infor- mado de tudo que falo - ditia, inclusive mais, que 0 que digo € 0 principal do que ali se ensina, esse instituto delei- tou-se com esse analisante que Ihe servi como um anel no dedo, mesmo que fosse somente para desincumbir 0 analista de ser o responsavel, na ocasiao, pela andlise. Devo dizer que, quando me adiantei sobre isso, s6 pa- rodici- se me permitem a expressio, visto que hd toda uma tradigao que ¢ da ordem da parédia - 0 termo analysand, que € corrente na lingua inglesa. Com certeza, ele no & estritamente equivalente ao francés. Analysand evoca, de preferéncia, o devendo-ser-analisado € no ¢ isso, de for: ‘ma alguma, que eu queria dizer. O que eu queria dizer € que, na andlise, a pessoa que chega verdadeiramente a for: ‘ular uma demanda de andlise € quem trabalha. Biss0 na\, condigao de que voces nao a tenliam colocado, de imedia- to, no diva, caso em que tudo estaria perdido. £ indispen- savel que essa cemanda tenha verdadeiramente tomado forma, antes que voots facam essa pessoa deitar, Quando voeés Ihe dizem para comecar - € isso nao deve acontecer nem na primeira, nem na segunda vez, ao menos se voces querem se comportar dignamente -, a pessoa, entdo, que fez. essa demanda de andlise, quando ela comega 0 traba- Iho, é ela quem trabalha. Vocés nao devem consideré-a, de modo algum, como alguém que devem moldar. Pelo cor 4 \ trério, Que fazem voces com ela, entdo? ssa pergunta tudo aquilo que me faco desde que comecei. Comecei -meu Deus, eu diria~ muito bestamente. Que- ro dizer que nao sabia 0 que fazia, como foi comprovado pelo que se seguiu - comprovado diante dos meus olhos. Bu nfo teria olhado mais de uma vez se soubesse em que ‘me engajava? Isso me parece certo, Precisamente por essa razdo, em tltima ¢guel, no inicio do ano ssa coisa que consiste em seme como anal, s6 ele STO evidéncia. fy e como analista, ele é livre {que fi, entdo, e que deno- ja, no ponto a que che- Tetivo de 1967, em outubro: instil ‘com que, quando alguém ter cory posse S20. 180 instdincia, ou Sek se ass ‘me parece uma primeira Quando alguém se assumé ness esc ee, pode, amb, nao fa10 “Proposicio". pode, epic ae para si; mas ee € livre, Ls se submeter a esta prova de vir a confiflas, con! pessoas que escolhi expressamente, por estaremt exatamen- xesmo ponto que ele ee com fo, qe, se alge vi gee 8 um veterano, a um titulado ou, mesmo, a um didata, como se diz, pode estar certo de que seu testemunho estard com pletamente foradoalvo. Porque, em primeiro lugar, ele sabe muito bem que 0 pobre cretino @ quem se dirige jé tem tanta experiéncia que, certamente, nao sabe, como eu, por que se engajou nessa profisséo de analista. Lembro-me dis- so um pouco e arrependo-me. Para a maioria, porém, isso }i ficou totalmente esquecido, S6 enxergam sua posicdo de autoridade e, nessas condigoes, tenta-se chegar perto da- quele que tem a autoridade, quer dizer, que, muito sim- plesmente, mente-se a si mesmo. Entio, tentei que eles se dirigissem, sempre, & pessoas que, como eles, eram debu- tantes na funcio de analstas Apesar disso, conservei - sempre € necessério absterse de inovagées, esse nao é meu estilo, nunca inovei em nada - uma espécie de jtri constituido com 0 consentimento de todo mundo. Nao hé nada que chame mais atencio que o al “ é ara se eseolher um jtiri qualquer, se € para vota¢io mediante voto secreto, 0 que sai é 0 home de pessoas perfeitamente bem colocadas. A massa yaa que quer lderes, escolhe os que ja area icionamento das coisas. £ diante desse munho atic ae Sauces que receberam o teste Nocspitto oe cede analistas, ‘para aclararo que nine » ssa operagao é fei- to eal gn men Este d L Emuito femente Sh, IM Cas lise, sem que nos haver, a saber, a particularidade do cas dificil, porque o proprio da experiéncia € evideny, preparar categorias, £ muito dificil, para nés, anal mens ou mulheres, com experiencia, nio julgar que esté comecando 2 funcionare elaborar sua an tembrar, a propésito dele, de outros casos. Qualque seja nossa pretensa liberdade - pois & impossvel ee nessa liberdade 6 evidente que no podemos nox ee baragar do que € nossa experiéncia. Feud insste mugs byte esse ponto e, se isso fosse entendido, taver infin uma via, apontando para um outro modo de inte ‘mas isso niio pode ser assim. £, portanto, nesse espirito que desej vesse no mesmo nivel daquele ine frangua = se dar o testemunho. E, em resumo, para nos. scares Ane tece que, de tempos em tempos, alguém dé um testemunho que tem a caracteristica - pode-se reconhecer de toda forma da autenticidade. Entio, previ que essa pessoa seri indus no nivel em que esto aqueles em relacdo 20s quaisse supse que pensam no que fazem, de modo a fazer uma tiagem, Em que isso se transformou de imediato? £ ébvio que se transformou em outro modo de seleglo. A saber, uma pes- soa que testemunhou com toda honestidade sobre o que fez. em sua andlise, chamada, s6 depois, didética, sentese objetada, se, apés esse testemunho, ela nfo toma pane ne quilo, pelo qual tentei ampliar o grupo daqueles que io c pazes de refletir um pouco sobre o que fazem. Hes se sen tem depreciados, ainda que eu faca tudo para que ni sea esse 0 caso, ‘Tento explicarthes o que seu testemunho nos trouxe acerca de uma certa maneira de entrar em andlise, depois de se ter formado a si proprio mediante 0 que é exigivel. O exigivel é, evidentemente, ter passado por es experiéncia. Como transmiti-la, se nfo nos submetemos nés ‘mesmos a ela? Enfim, terminemos com isso por aqui Gostaria de evocar a f6rmula de Freud, do Sot icb Werden, & qual me dediquei mais de uma ver’. Que gut dizer Werden? muito dificil traduzio. Ble vai em direse0 a alguma coisa. ssa coisa & 0 den? O Werden & um verde jat? O que ha no devenir aleméo? Cada lingua tem seu 8 nio ¢ traduzir Werden por devenir s6 tem verdadelramen® algum alcance no que ja ha de den no devenit.E algo a ordem do despojamento, se vocés me permitem 3 50> séo. O despojamento néo é a mesma cosa que 0 ese* ce’. No entanto deixemos isso em suspenso- oe ‘Trata-se de mensurar o que Freud - coisa mullo surpre mee dente da parte de um homem to verdadeiamente ndicasse Vengo 86 valorizou em um primeiro tempo de sua obra, na primeira ‘etapa, que vai até por volta de 1914, antes da Primeira Guerra - ‘em sua Traumdeutung, em sua Psicopatologia da vida cha- ‘mada cotidiana e, muito particularmente, em seu Chiste. O que ele valorizou, ¢ o surpreendente é que nao tenha tocado nisso, é que a sua hip6tese do Unbewusstsein, do inconscien- te, se assim se pode dizer, ele mal a nomeou. inconsciente néo é simplesmente ser nao-sabido. O préprio Freud jé 0 formulou dizendo Bewnsst. Aproveito- me, aqui, da lingua alema, em que se pode estabelecer uma relacio entre Bewusst e Wissen. Na lingua alem&, 0 consci- cente da consciéncia formula-se como o que verdadeiramen- te é, a saber, 0 gozo de um saber. A contribuigio de Freud foi a seguinte: nfo hd necessidade de saber que se sabe para gozar de um saber. ‘Abordemos, enfim, essa experiéncia que vivemos todos 0s dias. Se 0 que dizemos é verdadeiro, se ¢, efetivamente, em uma etapa precoce que se cristaliza, para a crianga, 0 que se deve chamar por seu nome, a saber, os sintomas, se 2 €poca da infincia é, efetivamente, decisiva para isso, en- to, como néo relacionar esse fato 4 maneira como analisa- ‘mos 0s sonhos € 0s atos falhos? - nfo falo dos chistes’, com- pletamente fora do alcance dos analistas e que, naturalmen- te, nfo tém nada a ver com o espirito. Isso est4 em Freud, ‘mas, mesmo assim, prova que, a esse respeito, Freud se deu conta de que 0 enunciado de um ato falho s6 adquire valor pelas explicagdes de um sujeito. Como interpretar um ato falho? Estarfamos na mais completa escuridao, se 0 su- jeito no dissesse, a propésito, uma ou duas coisinhas, que permitem Ihe falar -Mas, enfim, quando vocé tirou do bol- so sua chave para entrar em minka casa, casa do analis- 1a, isso deve ter um sentido - e, de acordo com seu avango na andlise, lhe explicar esse sentido de varios modos - pelo fato de ele estar em sua casa, ou porque deseja estar em sua casa, ou, inclusive, indo mais longe, porque 0 ato de cenfiar uma chave na fechadura prova algo que diz.respeito 0 simbolismo da fechadura e da chave. O simbolismo da Traumdeutung & exatamente do mesmo tipo. Que sao es- ses sonhos, sendo sonhos relatados? £ no processo de sua narrativa que se Ié o que Freud chama o sentido deles. Como sustentar uma hipétese como a do inconsciente? - se no se vé que é a maneira que encontrou 0 sujeito, se é que existe algum sujeito que nio seja dividido, de estar impreg- nado, poder-se-fa assim dizer, pela linguagem? Sabemos muito bem, na andlise, a importéncia que teve para um sujeito, quero dizer, para aquele que, no momento ui em que ainda nfo era nada, 0 modo como foi desejado. Exis- tem pessoas que vivem sob esse peso, € iso se manterdlon- {go tempo em suas vidas, 0 peso do fato de que um dos dois pais - ndo preciso qual deles - nao as tenha desejado. E exata- mente esse 0 texto de nossa experién-cia cotidiana. 0s pais modelam o sujeito nessa fungéo que intitulei de simbolismo. O que quer dizer, estritamente, no que a cri- nga seja, dle algum modo, o principio de um simbolo, mas que a forma pela qual Ihe foi instilado um modo de falar s6 pod Tevara marca do modo como os pais a aceitaram. Sei muito bem que ha nisso toda uma espécie de variacdes e de aventuras, Mesmo uma crianga nao-desejada pode, em nome de um ndo-sei-qué, que surge dos seus primeiros movimentos, ser mais bem acolhida mais tarde. Isso ndo impede que algo conserve a marca do fato de que o desejo nfo existia antes de uma certa data. Como se pdde a tal ponto desconhecer, até Freud, que ssa gente que denominamos os homens, as mulheres even- tualmente, vive na tagarelice? B muito curioso para as pes- soas que crém que pensam nao perceber que pensam com palavras. Hi coisas a esse respeito com as quais é preciso acabar, nao € mesmo? A tese da Escola de Wiirzburgo sobre a suposta apercep¢ao, de nao sei qual pensamento sintéti- co, que nao se articularia é realmente a mais delirante que uma escola de pretensos psicdlogos j4 produziu. f sempre com a ajuda de palavras que o homem pensa. E é no en- contro dessas palavras com 0 seu corpo que alguma coisa se esboca, Aliés, eu ousaria, empregar a esse respeito, 0 termo inato - se ndo houvesse palavras, de que o homem poderia testemunhar? £ ai que ele coloca o sentido. Tentei como pude fazer reviver algo que ndo era meu, que jé tinha sido percebido pelos antigos est6icos. Nao ha nenhuma razdo para pensar que a filosofia sempre foi a ‘mesma coisa que € para nés. Naquela época, a filosofia era ‘uma maneira de viver - uma maneira de viver em relacio a qual se podia perceber, muito antes de Freud, que a lingua ‘gem, essa linguagem que ndo tem absolutamente nenhis aaeuiténcia teorica intervém sempre sob a forma do que Chamo, com uma palavra, que desejei que estivesse 0 mas proximo possivel da palavra falagao palingua. “—ps-antigas, desde a epoca de Esopo, tinham se aperce- bido muito bem de que a alingua era absolutamente cap tal Sobre isso, hd uma fébula muito conhecida, mas minx sguém se lembra disso. Nao & por acaso qué; na ating qualquer que seja ela, na qual alguém recebeu uma primei- oF marca, uma palavra é ambgua. Ndo é, certamente, PO* S- Falano ou beltrano, em sua particular Pouce, palavra nese pronuncia, de forma Nao é absolutamente por ‘qua, como a palavraoewd?. ; seas a palara pas, que, em frances, ae anes a contrariamente @ muitas outras lingua i i 2 no é por acaso. >, $e me interesso tanto pelo pas, : io (quer dizer que a alfngua no constitu de anal nenhuma, um patriménio. Fabsolutamente certo | a pel m rt foi flada e, também, entendida pot modo como a alingua one aaise Ear GUT, reaparecerd nos sonos, em todo tipo TeTropego, em todo tipo de formas de dizer. , se me per initem empregar, pela primeira ver, esse termo, nesse smotérialisme’ que reside a tomada do inconsciente - que- ro dizer que o que faz com que cada um no tenha encon- trado outros modos de se sustentar nao € sendo 0 que, ha iei de sintoma. —[giam um pouco, estou seguro que isso nao lhes acontece frequentemente, a “Introdugao a psicandlise”, a Vorlesungen, de Freud, Hi, nele, dois capftulos sobre o sintoma. O que se chama Wege zur Symptom Bildung € 0 capitulo 23 e, de- pois, vocés perceberéo que hi um capitulo 17 que se cha- ma Der Sinn, o sentido dos sintomas. Se Freud contribuiu com algo, foi com isso. Com o fato de os sintomas terem ‘um sentido e um sentido que sé se interpreta corretamen- te-corretamente querendo dizer qué o sujeito revela uma parte dele - em funcio de suas primeiras experiéncias, isto é,na medida em que encontro 0 que chamarei, hoje, na falta de ndo poder dizer nem mais, nem melhor, a realida- de sexual. Freud insistiu muito sobre isso. E ele acreditou poder enfatizar, notadamente, 0 termo auto-erotismo, tendo em vista que essa realidade sexual a crianca a descobre, inicial- mente, em seu préprio corpo, Permito-me - isso nao me corre todos os dias -ndo estar de acordo -eisso em nome da obra do préprio Freud, Heat eo gree Coates © 80 do “pescna “Tha seu Wiwtmacher - pois as on oy sane tse is ose como dein de camee race eto no seu creo, Em outos , an 7 ‘eve suas primeiras ereg6es, sse primeiro gozar man? festa-se, poderse-ia dizer, em quem quet que sea c mente, nio € assim, nfo é v area) Ho € verdadeiro, mas verificado todos. Porém, justamente af, esto ponto da contribuicaa de Freud - basta que isso seja verificado em alguns, py ue estejamos no direito de conser, sobre isso, eg acaso que, em frances, 2 «quilamente por seu nome, tem a mais estreita relacdo com 0 inconsciente, Pois, 7 de conas, é um fito = 0 inconsciente, oi Feud inventou. O inconsciente € uma invengio no seni, : que € uma descoberta associa 20 encontra que sy seres tém com sua propria erecio. tvs Chamamos isso, assim, ser, pois nao sabemos dizer g outro modo, Seria prefrivel prescindir da pala ser No passado, algumas pessoas foram sensiveis aisso. Um eng Sio Tomas de Aquino - ele préprio é um santo homeme, iambém, um sintoma-escreveu algo que sechamaDeone et essentia. Nao posso dizer que lhes recomendo a let id que vocts nao afario, mas ele é muito ast. e hi aly que se chama o inconsciente, isso significa que nao hi ne. cessidade de saber 0 que se faz para fazé-lo e para fart.g, sabendo-o muito bem. Haverd, talvez, uma pessoa que lea esse De ente et essentia e se aperceba do que esse santo homem, esse sintoma, fala muito bem - 0 ser nio se alan. ca tio facilmente nem, tampouco, a esséncia, Nao ha necessidade de saber tudo isso. $6 hé necessi- dade de saber que, em certos seres, assim chamados, 0 encontro com a propria erecao ndo é absolutamente auto- atiaslagantd acmalehdiern. leewe die -Masqua iss0? E se dizem isso tao bem, que esse pobre “pequeno Hans” s6 pensa nisso - encarné-la em objetos que sio 0 que hd de mais extemo, isto é, naquele cavalo que reincha, ue dé coices, que salta, que cai no chiio. Esse cavalo que vaie ‘vem, que tem um certo modo de deslizar ao longo do cais, arrastando sua charrete, é 0 que ha de mais exemplar pare ele daquilo que tem que enfrentar e sobre o qual no en tende exatamente nada, gracas ao fato, sem divida, de que ele tem um certo tipo de mae e um certo tipo de pai. Seu sintoma é a expresso, a significagdo, dessa recusa. Essa recusa nao merece, de modo nenhum, ser tachada como auto-erotismo, sob 0 tinico pretexto de que, afinal de contas, ele tem esse Wiwimacher, eleo tem enganchaco em-algum lugar abaixo do seu ventre. © gozo que resulta desse Wiwimacher élhe desconhecido a ponto de estat no prinefpio de sua fobia, Fobia quer dizer que ele em medo disso, A intervengao do professor Freud, mediatizada pelo ai, nao passa de uma artimanha, cujo tinico métito cons’ te em ter sido bem sucedida. Ele chegaré a suportat 0 P° queno pénis por meio de um outro alguém, asabes, na 0° sido, por sua irmazinha. Abrevio, aqui, 0 caso do “pequeno Hans”. Bu o intod 2is6 porque, sendo vocés de uma ignordncia absolutamer™ te total, ndo vejo por que nao teria improvisado hoje: N° vou dedicar-me ler todas as coisas que preparei cuidado- samente para voces. Quero, simplesmente, tentar passar algo do que aconteceu, por volta do fim do século passado, com alguém que nao era um génio, como se diz, mas um honesto imbecil, como eu. Freud percebeu que havia coisas das quais ninguém podia dizer que o sujeito falante as sabia sem saber, Eis af 0 relevante das coisas. I por isso que falei do significante e de seu efeito significado. Naturalmente, com o significan- te, nfo esgotei, de modo nenhum, a questo, O significan- te é algo que esta encarnado na linguagem. Acontece que hi uma espécie que soube gritar de uma tal maneira, que ‘um som, enquanto significante, é diferente de um outro, Olivier Flournoy disse-me ter publicado um texto de Spitz Leiam seu “Do nascimento a fala”, para ver, finalmente, ‘como se desperta a relagio como grito. Hé um abismo entre essa relacéo com 0 grito € 0 fato de que, no final, o ser humilhado, o ser hiimus, 0 ser humano, o ser que pode ser chamado como quiserem - trata-se de vocés, de vocés ¢ de ‘mim -,0 ser humano chega a poder dizer alguma coisa, Nao 86 poder dizé-lo, mas, ainda, esse cancro que defini como sendo a linguagem, porque nao sei de que outro modo chamé-lo, esse cancro que é a linguagem implica, desde o inicio, uma espécie de sensibilidade. ‘Tenho observado muitas criangas pequenas, a comecar elas minhas. O fato de que uma crianca dliga talvez, ainda ‘ndo, antes mesmo de ser capaz de construit verdadeitamente uma fase, prova que hé algo nela, uma peneira que se atra- vessa, por onde a gua da linguagem chega a deixar algo na bassagem, alguns detritos com os quais ela vai brincar, com as uais, necessariamente, ela terd que lidar. I isso que lhe deixa ‘oda essa atividade nao-refletida - restos aos quais, mais tarde, porque ela é prematura, se agregario as problemas do que a ‘al assustar, Gragas a isso, ela vai fazer a coalescéncia, por as- sim dizer, dessa realidade sexual e da linguagem, Permitam-me propor, aqui, algumas equagoes timidas a Fespeito do que avancei em meus Escrifos, como a signifi casio do falo, 0 que € uma péssima traducio para Die Bedeutung des Phallus, _ Esurpreendente que a psicandlise nfo se tenha consti- tuldlo,a esse respeito, o menor estimulo A psicologia. Freud tudo fez para isso, mas, obviamente, os psicdlogos s40 sur dos. ssa coisa s6 existe no voctbulo dos psicélogos - uma Psique, como tal, aderida a um corpo. Por que diabos, 6 0 20 de dizer, por que diabos o homem seria duplo? Que letenha um corpo j encobre suficientes mistéios ¢ Freud, a apoiado pela biologia, marcou bastante bem a diferencia- io do soma e do gérmen, Por que diabos no limpar nos- 80 espitito de toda essa psicologia defeituosa e tentar sole- trar 0 alcance da Bedeutung do falo? ive de traduzic por significacéo, pot nao achar um equivalente. Bedeutung € diferente de Sinn, do efeito de sentido, e designa a relacao ao real. Por que, depois que a psicandlise existe, as ques- {es néo foram formuladas nesse nivel? Por que é que esse dito set, por que € que esse se goza apareceu sobre isso que se chama a ‘Terra? Imaginamos que a Terra € um astro privilegiado, sob o pretexto de que, nela, existe 0 homem, €iss0, de certo modo, é verdad - com a tinica condigao de que nao haja outros mundos habitados. [Nao lhes passa pelo espirito que essa “realidade sexual", como eu me exprimia hé pouco, é especificada no homem pelo fato de que nao h4, entre o macho e fémea, nenhuma relacio instintiva? Que nada faga com que todo homem - para designar 0 homem mediante o que Ihe vai bastante bem, dado que se imagina naturalmente a idéia do todo - que todo homem néo esteja apto para satisfazer toda mu- Iher? O que, efetivamente, parece ser a regra no que conceme a outros animais. Na verdade, eles ndo satisfazem todas as fémeas, mas trata-se apenas de aptidio. O homem - pois se pode falar do homem, precedido pelo o -, é neces- sitio que ele se contente em sonhar com isso. E necessétio que ele se contente em sonhar com isso, porque é absolu- tamente certo que nao s6 ele nao satisfaz toda mulher, mas também que a mulher - peco perdao, pelo que segue, aos ‘membros do MLF talvez presentes aqui - A mulher nio exis- te, Hé mulheres, mas A mulher € um sonho do homem., ‘Nao € por acaso que ele se satisfaz com apenas uma ou, mesmo, com muitas mulheres. £ porque, pelas outras, ele nao sente vontade. E por que ele ndo sente desejo? Porque elas ndo consoam, se posso me exprimir assim, com seu inconsciente. ‘Nao somente néo héA mulher -A mulher definese por sero que etiquetei, hé muito tempo, e que thes repito - pelo nndo-toda. 1sso chega mais longe ainda e nao surge do ho- ‘mem, contrariamente ao que crém os membros do MLE mas delas mesmas. E nelas mesmas que elas si0 ndo-todas. A saber, elas no se prestam a generalizacdo, Inclusive, digo- thes aqui, entre parénteses, & generalizagio falocéntrica. Nao disse quea mulher é um objeto parao homem. Muito pelo contrrio, disse que era alguma coisa com 0 que ele nao sabe jamais lidar. Em outros termos, ele jamais deixa de meter os pés pelas més ao abordar qualquer uma delas - . ja porque era justamente essa que uese enganou, eja Porat : saa gm No entanto ee sb se dé conta cso posi ase € um dos sentido do sé-depols, de ue fie! 6 stag ocasi6es e que foi to mal transmitido no oa rs Sreeno Vocabuldrio da psicanditse, pelo qual Lagache a o & tio mal as- 00 inilise. Bem, enfim, nao che toda @ Paco velmente,ainica coisa que Ihe fio exageremos. aoe ace agacear™ oq ex dda. ial de cones por que ndo lagachearfamos? ‘Nao estou absolutamente seguro de ter razio em tudo. Nao s6 ndo estou seguro, como, certamente, assumo a ati- tude freudiana. A préxima coisa que me fard revisar, na oca- io, todo o meu sistema, nfo frei nada melhor que acolhé- la. "Tado 0 que posso dizer € que, sem diivida, gracas & nha estupider, isso ainda nao aconteceu, Eis af, Agora, passarei a palavra a vocés. Ficarei contente, depois dessa “falacio”, em saber o que voeés retiraram dela, Respostas J. L.- Para encorgjar qualquer um que tenha uma per gunta a formular, gostatia de dizer que alguém que tinha que tomar um trem, nao sei para onde... - Para Lausanne, = Vocés sabem quem é? - Or. Bovet. - Bum nome que no me é desconhecido. O Dr. Bovet {fez-me uma pergunta que acho muito boa, por assim dizer. Até que ponto, disse-me, vocé se leva a sério? Nao é nada mal e espero que isso encoraje vooks. Bsse & 0 tipo de per Sunta para a qual nfo estou nem a. Continuar a ponto de estar no vigésimo segundo ano de meu ensino implica que ‘me levo a sério. Se nfo respondi foi porque ele tinha de to. orém, jé respondia essa per ‘mar um trem. De todo modo, unt, implicitamente, identficando o sério coma série Série matemitica,seja ela convergente ou divergente, dizer algo. O que enuncio € absolutamente dessa orem ‘Tento delimitar cada ‘vez mais, tento fazer uma série Bente. Serd que consegui? Naturalmente, quando se’ tivado. Contudo, mesmo um : teresse, a sua mancira, ela tamt @S pessoas que teriam alguma_ twatar do Dr Bovet, que se lhe Dr. Cramer-0 Sr, disse, se. 7 © entendi corretamente, que é quer conver std cae ’ série divergente tem seu in- bém converge - digo isso para idéia das mateméticas, Por se mae quem fala ccrianga, mas também énecessni : criana a escute. Gostaria de Ibe fazer wna pergang 4 esse “também é necessario que a crianga q ‘escute” a - Sim! + Que faz com que uma crianga possa escutare ‘com que uma crianca sea receptiva a uma ordem ca que the ensina a mae, ou que a méde Ibe tra acaso, bd alguma coisa de imanente no filbote ~ Pareceme que iss0 estava implica no que eu die ¢ ser que chamei human é, essencalmente, um ser fama Eum ser que, também, deve poder escutar -No entanto, escutar faz parte da palavra. 0 que eoque com relagio ao tle, 0 ainda néio, podem caro, tros exemplos, prova que a ressonncia da pala é aly, constitucional. & evidente que isso esta vinculado i especie Cidade de minha experiéncia.A partic do momento em que alguém esti em andlise isso sempre prova que escutou, Que o senhor levante a questo de que hé seres que nunca escu. tam nada 6, certamente, sugestivo, mas dif de imaginaz.0 senhor me dir4 que h pessoas que podem talvez sé escutar © batulho, isto é, que tudo fala a seu redor, - Pensava nos autistas, por exemplo. Seria um casoem que 0 receptéculo ndo esté no lugar em que o ouvir ndo pode se produzir ~ Como 0 nome o indica, os autistas escutam a si mes- mos. Fles ouvem muitas coisas. Isso leva, normalmente, 4 alucinagio, ¢ a alucinagio sempre tem um caréter mais ou _ ‘menos vocal. Nem todos os autistas escutam vozes, mas eles © articulam muitas coisas e tratase, precisamente, de enten- let onde escutaram o que articulam. O Sr, trata de autistas? + Sina, - Entdo, o que 0 Sr. acha dos autistas? - Que, precisamente, ndo conseguem nos ouvir, que ermanecem acuados. - No entanto nao é nada disso. les no conseguem esclr taro que o Sr. tem para dizer-Ihes enquanto se ocupa dele. - Mas, também, Enos dificil escuté-los. A linguagen deles permanece como algo fechado. . - E muito precisamente o que faz. com que nao 0s temos. O fato de que eles no o escutam. Contudo, © hd, certamente, ago alhes dizer, por = Minka pergunta apontava wim pouco mais fae. caso, 0 simbélico - aqui utilizarei um cunt aprende? Existe algo em nd, desde 0 nascimento, aT com que estejamos preparados para o simbélico, ah sla? ber, precisamente, a mensagem simbilica, para in Que faz Sib. msrnte Pop umance escr| fim, Tudo 0 que dlisse implicava isso. Tatase de saber por que héalgo no autiste, ou no chamado esquizofrénico, que pode dizer qué éle ni fala. Que 0 senhor tenha dificulda- de para escuté-los, para dar seu entendimento ao que di zem, nfo impede que sejam, finalmente, personagens bas- tante verbosos. “Or. concebe que a linguagem ndo é somente verbal, que bd uma linguagem néo- verbal? A linguagem dos ges- tos, por exemplo. - E.uma questo que jf foi levantada, faz muito tempo, por um tal Jousse, a saber, que o gesto precederia a fala. Creio que hé algo espectfico na fala, A estrutura verbal é completamente especifica e temos um testemunho disso no fato de que aqueles que chamamos surdos-mudos so capazes de um tipo de gesto, muito diferente do gesto ex- pressivo enquanto tal.O caso dos surdos-mudos é demons- trativo de que hé uma predisposicio a linguagem, mesmo para aqueles que so afetados por essa enfermidade -a pa- lavra enfermidade parece-me, neste ponto, totalmente es- peciica. HA 0 discemnimento de que pode haver, a, algo significante como tal. A linguagem com os dedos nao se ‘concebe sem uma prediisposicZo para adquirir o significan- te, qualquer que seja a enfermidade corporal, De forme al- ‘guma fale’ hé pouco da diferenca entre significante e signo, 0. Flournoy -Creio que agradaria ao St. Auber se 0 Sr, eventualmente, pudesse elaborar um pouco a diferenca que acaba de mencionar. ° ~ Iso 10s leva muito longe, & especifcidade do signifi Gate. 0 tipo do signo deve ser encontrado no ciclo da mani- festacdo que se pode, mais ou menos, a justo titulo, quale ‘car de exterior. Nao hd fimaca sem fogo. O signo deve ser le imediato captado como nesse caso: se ha fogo, & porque hdalguém que o fez. Ainda que se perceba, s6 depois, que a Aloresta arde em chamas sem que haja um responsével. O Signo inclina-se ‘sempre, imediatamente, na direcao do su- Jeito e do significant. O signo é imediatamente captado. Como intencional. Esse no € 0 caso do significante. O sig- nifcante € percebido sem dificuldade como o signifcante. ~ Ao longo do que fot dito, 0 Sr. emitiu algumas frases sobrea mulber que me pareceram muito belas. Por exem. blo: ‘A mulber ndo existe, hd mulheres, A mulber 6 0 50. nbo do bomem ~ EB um sonho, porque ele néo pode fazer melhor ~ Ou ainda: ‘A mulber éaquilo como que 0 homem nun- a sabe lidar”. Parece-me que, no titulo de sua conferéncia, am fala-se de sintoma, e tive a impressdo de que, finalmente, a mulber é 0 sintoma do bomem. - Disse-o com todas as letras em meu semindtio. -Pode-se dizer, reciprocamente, que obomem 60 sinto- ‘ma da mulber? Isso significa que para a menina e para o ‘menino a mensagem que a mde vat transmitir, a mensa- gem simbélica, significante, sera recebida da mesma for ‘ma, ja que éa mde que a transmite, seja a menina, seja ao ‘menino? Hé uma reciprocidade ou uma diferenca é qual néo se escapa? - HA, certamente, uma diferenca, que se deve ao fato de que as mulheres compreendem muito bem que o homem é uma ave rara™®, Deve-se julgar isso entre as mulheres ana- {istas. As mulheres analistas sio as melhores. Sao melhores que o homem analista, - Qual 6, finalmente, essa relacao com o significante que parece ser alguma coisa de transexual, bissexual? Sr.X-Asmulberes sao melhores analistas melhores em. qué? Melhores como? ~ E claro que so muito mais ativas, Nao hé muitos ana- listas que tenham dado testemunho de que compreen am alguma coisa. As mulheres avancam, Basta ver Melanie Klein, As mulheres seguem adiante e fazem-no com um sentimento muito direto do que € 0 bebé no homem. Para 08 homens, é necessério um rude rompimento. ‘St. X- Os bomens também tém vontade de ter um bebé? ~ De vez, em quando, tém vontade de parir, é verdade. De vez em quando, hé homens que, por razbes que so sempre muito precisas, se identificam com a mae. Eles tém vontadle néo sé de ter um bebé, como também de carregar lum no ventre, 0 que acontece com frequéncia. Em minha experiéneia analitica, tenho cinco ou seis casos bastante claros, que chegaram a formulé-lo, ‘St Vautbier - Como analista, 0 St. teve a oportunidade de ver de perto pacientes psicossométicos importantes? Qual €4 posigao do significante em relacdo a eles? Qual éa po- sigdo deles em relacéo ao acesso ao simbélico? Tem-se a ‘impressio de que nao alcangaram o registro simbélico, ou néo se sabe como agarrar-se a ele. Gostaria de saber se, ent seu modo de colocar 0 problema, 0 St tem uma formula que possa aplicarse a esse género de paciente? = Certamente que se trata de um dominio muito pouco explorado. Enfim, de todo modo, ¢ algo da orciem do escrito. 1Em muitos casos, nfo sabemos lé1o, Seria preciso dizer, aqul, alguma coisa que introduzisse.a nogio do escrito. Tudo se passa como se algo estivesse escrito no corpo, alguma coisa que se B oferece como um enigma. sent dente que tenhamos esse - Como, porém, fazt-los falar: rte ui, parece-me, um CO’ am erect xs oque os isis cham 2 asia das coisas o que nas cosas nia ra ; fo quer dizer signunt, no €? ee = frequentemente, “boiamos”. te, eas «| podemos dizer, talvez, que 0 psicosso- miético se expressa por uma linguagem See inuantoo newdico ofa por uma linguagem a = Mas iso € de Vico. = Somos sempre o segundo. - Eobvio que sempre somos o segundo. Sempre hé al- -guém que jf disse. -Noentanto esse alguém no falou da psicossomdtica - Vico? Certamente que nao. Mas, enfim, tomemos as coisas por esse veio. Sim, 0 corpo considerado como in- v6lucro, como o que entrega o nome préprio. Seria prect $0 ter uma idéia do hier6glifo um pouco mais elaborada do quea de Vico. Quando ele diz hieroglifico, nao parece ter-eu lia Scienza nuova -idéias muito elaboradas para sua época 0. Flowmay - Bu gostaria que nossas companbeivas fomassem a palavra. Sra. Rossier. Que o dtdlogo interse- xual comece. Sra. Rossier - Queria dtzer que, quando 0 Sr falou, evocando os psicossomdticos, de algo a respeito do es. crito (écrit), eu entendi gritos (des cris), ogrito (le cri). Pergunto-me se a inscrigéo no corpo dos psicassoméit. £08 ndo se parece mais com um grito que com uma fala her iso, temos tanta dificuldade para compreend. ‘0..um grito repetitive, mas pouco elaborado. Néo pen- Saria, de modo algum, no bieréglifo, que jd , me demasiado complicado, maine Nao é de modo algum surpreen- timento como analistas. daguilo que esté escrito? Sra. ¥- Qual a diferenca entre q palavra falada? O Sr. parece pensar Ee {ra @ - Biverdade que, com efeito, hd, a, uma te impressionante. Como € que existe uma om * coisa mas estupefaiente do mundo eam gue tf festamente mediante o escrito que a plas ey sagem, pelo escrito © unicamente pelo esentg, com que se desgnam as as, pore nose gpg mers. Hidalgo, af que édaordem do guese ge a hi pouco, como questo - da ordem da imanéncn On ‘| o no significante faz taco, trago que € um Uns ada, einziger Zug que Freud enunciaem sevcscrio vine, ity tifleagto por irago undrio #0 redor do trao und ue siatodaa questo do escrito. esse espe, seo hinge Eegipcio ou chines, dé no mesmo, Tatase sempre den, confguraclo do trago. Nao é por acaso que a mune bing 6 se escreve com 1€0. A questo deveriaser ies, no nivel de - qual é a espécie de gozo que se encont n psicossomético? Se evoquei uma metéfora como a do¢on gelado, & porque existe, efetivamente, essa espécie defn fo. ambém ndo € por acaso que Freud emprega o temo Fixierung - & porque 0 corpo se deixa levar para escrevet algo da ordem do ntimero, St Vautbier - Hé algo paradoxal. Quando se emain- bressdo de que a palavra gozo toma um sentido com um Psicossomdtico, ele néo é mais um psicossomdtico, ~Totalmente de acordo. E por esse viés, pela revelagio do gozo especifico que h4 na sua fixacio, que sempre ¢ Preciso visar abordar 0 psicossomético. £ nisso que pode- ‘Mos esperar que 0 inconsciente, a invencdo do inconscie- te, Possa servir para alguma coisa. i! na medida em ques Peramos darlhe o sentido do que se trata. O psicossomét- C0 € algo que, de todo modo, no sew fundamento, est px0- fundamente arraigado no imaginatio. 5 Z- “Soll Ich werden’, vocé o transcreveu, mais ot menos, como a idéia de “ele é pensado”. Penso no disci 80 do obsessivo que pensa, que repensa, que cogita, me, em todo caso, também chega a “ele é pensado”. 0 ‘ele Pensado” pode ser entendido como “despendido, no se” tido de que o “des” quer dizer de cima em baixo, desmor ‘ar; desarticular e, finalmente, fazer cair a estdtua? Pode se ligar 0 “despendido” ao “ele é pensado”? . Isso tem a mais estreita relacio com a obsessio. Oobss Sto € essencelmente alguém que €penso. He é perso Mente, He & penso em circuito fechado, Be épen® Fa ‘mesmo, Essa f6rmula foi-me inspiracia pelos obsessivos. reconheceu muito bem a afinidade com o obsessivo, pois eu nfo o disse. Sra, Vergopoulo - Hd alguma coisa, em relacao ao tempo, que chamou a atengdo no seu semindrio. 0 con- ceito 6 0 tempo da coisa. Vocé diz que, no contexto da transferéncia, a palavra s6 tem valor de palavra, que ndo hd nem emocdo, nem projecao, nem deslocamen- to. Devo dizer que ndo entendi muito bem qual é0 sen- tido da palavra na transferéncia? - Sobre 0 que vocé visa obter uma resposta? Sobre a relagio do conceito com o tempo? - Sobre a relagdo entre a palavra antiga e a palavra tual. Na transferéncia, se a interpretagdo visa ao ponto certo, isso se deve a coincidéncia entre a palavra antiga ea palavra atual. - E preciso que, de vez em quando, eu me exercite em algo da ordem da tentativa. Que 0 conceito seja o tempo, isso é uma idéia hegeliana, Acontece, porém, que, em uma coisa que estd em meus Fscritos, a respeito de “O tempo logico e a assercao de certeza antecipada’, sublinhei a fun- ‘io da pressa na légica, a saber, nao se pode permanecerem suspenso, porque ¢ preciso, num determinado momento, conclu. Esforgo-me, entio, para ligar 0 tempo a propria 16- gica. Distingui trés tempos, mas isso jé est um pouco ultra- ppassado, pois escrevi isso hd muito tempo, logo apés a guer 1a, Até certo ponto, conclui-se sempre demasiadamente cedo, Contudo esse demasiadamente cedo é simplesmente a evitago de um demasiadamente tarde. Isso esté totalmente relacionado com o mais recdndito da logica. A idéia do todo, do universal, jé esta prefigurada, de alguma maneira, na lin- guagem. A recusa da universalidade esta esbocada por Arist6teles ¢ ele a rejeita, pois a universalidade é o essencial de seu pensamento, Pude avancar, com certa verossimilhan- , Que 0 fato de Arist6teles a rejeitar é o indice do carter, a final de contas, ndo-necessitado da logica. O fato é que s6 ha J6gica em um ser vivo humano. ‘Sr: Melo - Na sua primeira resposta, vocé partiu da palavra sério e chegou a nogdo de série. Fiquei ‘surpreso 0 ver como reagimos a essa palavra série, alinando uma série de doentes, uns apds os outros. Houve o autista, © obsessivo, o psicossomdtico e bouve a mulher. Isso me ‘evou a pensar no fato de que voce veio nos falar e de que 16s viemos escutd-lo, Kis minha pergunta: Vocé ndo acha ue, entre transferéncia e contratransferéncia, existe, re- almente, uma diferenca que se situa no nivel do poder? ~E, apesar de tudo, sumamente demonstrativo o fato de ee que 0 poder jamais repousa sobre a forca pura e simples. O poder é sempre um poder ligado a palavra. Acontece que depois de ter martelado certas coisas durante muito tempo, atraio muita gente pela minha “falacio”, que, evidentemen- te, nfo teria esse poder se nfo fosse seriado, se nfo conver gisse para algum ponto. E, de qualquer forma, um poder de ‘um tipo muito particular, Néo é um poder imperativo, Nao dou ordens a ninguém. No entanto a politica repousa sobre © fato de que todo mundo fica demasiado contente em ter alguém que Ihe diga ‘Bm frente, marche” -aliés sem se im- portar para onde. O princfpio mesmo da idéia de progresso consiste em que se acredite no imperativo. B 0 que hd de mais original na palavra € que tentei esquematizar - encon- ‘ardo isso num texto que se chama “Radiofonia” e que se encontra jé no lembro onde. ‘Tfata-se da estrutura do dis- curso do mestre, O discurso do mestre é caracterizado pelo fato de que, em determinado lugar, ha alguém que faz sem- blante de comandar, Esse cariter de semblante- “De um dis- curso que nao seria semblante” serviu como titulo de um de ‘meus semindrios - é absolutamente essencial, Haver alguém que queira, de bom grado, se encarregar dessa fungao de semblante, afinal de contas, encanta todo mundo. Se alguém no fizesse semblante de comandar, onde terminariamos? E, mediante um verdadeiro consentimento fundado sobre 0 saber de que é preciso que haja alguém que faca semblante, ‘05 que sabem marcham como os demais. O que vocé acaba de apreender com uma certa maneira de tomar distincia é0 que voce evoca a respeito de uma sombra de poder O. Flournoy - Ainda uma pergunta na série que o Dr. Melo mencionou. Vocé introduziu, a propésito da psico- Se, 0 termo forcluséio, que é empregado sem que se saiba muito bem o que ele abrange. Perguntei-me, ao escuté-lo, se, no psicotico, 0 que estd forcluido é 0 gozo. Porém ira- tar-se-ia de uma verdadeira forcluséio ou de um semblante de forcluséo? Em outros termos, a psicandlise pode, ou indo, cegar a um psicético? - £uma pergunta muito bonita, Forclusio do Nome-do- Pai, Isso nos leva a outro nivel, nivel em que estd nd0 so- mente 0 Nome-do-Pai mas também o Pai-do-Nome, Quero dizer que o pai € aquele que nomeia. Bstrnuito bem evo cado no Génese, em que se encontra toda essa macaquice de Deus que diz. a Adio para dar um nome aos animas. t houvesse ali dois niveis. Deus é su Tudo se passa como se Se ota aene posto saber que nomes cls tem, jé que flee aver criou e, porassim dizer, depois, tudose; TS ae imitélo. guisesse pér o homem a prova e verse le ri esse respeito historias em JOVee - Jacques Aubert et acmato ben aqui a ‘iio é mesmo? AqUE” ize, primeir0,gou ABOU, r er enn em uma grotesca, Bu me sentinia fat a oe ee ontraiamente a0 que choca multas pessoas, foram, de preferécia a mulheres que inventaram Finguagem. As, o Geese dé aentendet S05 Com a ser pene, ela fala -quer dizer, como 0 flo, las falam com 0 flo ainda mais que, para ela, se tata do hetero. "nda que esse sja wm. de meus sonhos, podese, de quidquer maneia formolar a queso - como uma mulher inventou iss0? Podese dizer que ela se interessa por i880. Contrariamente aquilo em que se actedita falocentrismo é a melhor garantia da mulher. Tratase somente disso. A Vir gem Maia com seu pé sobre a cabeca da serpente significa aque ela af se sustenta, Tad ss fo! imaginal, mas de wr) {WTAACAN], “Confrence 1 Genéve sur le symptime, Le Bloc Notes de ta ppchanabe, 5,195, p 543. — apne da ranscgo dete momento da confrénc ‘Ntsone ere snot dome ‘RT Chit, nets, exrerese mot desc trad r inant dttrictasocns. eran an ne INT: Lalatontaargue, A nfs rnd pono Un pas-um paso. Em Facts, anarracioexigeoexletvo ne antevedendo pa NT: Condesa de ¥ e "NE Gino al mati, sn” NE ‘Baca NT: Hooft ene Lagacee apache, “dsp a lack, "despediga "NI: Diledateay, tenet psa eta” modo esfalfante.Pode-se dizé- sem a menor sere ae, Poi preciso alguém to maluco como Joyce para Ble sabia muito bem que suas relagdes come i ‘eram to somente sua propria cangio, Ble ‘eat, Mlhergs ser humano de uma forma que s6 tem um meu t® tiferie de tudo 0 que foi enunciado a esse regen 2° dlentemente, Porém, afinal de contas, tudo ise er da repeticao, é sintoma. a Baisso que mais me sinto inclinado, ou seja, humana, estritamente falando, Por isso, filet de sinthoma, desse modo, de uma s6 vez, Joyce, Orden “Texto publicado com a amavel autorizagio de Jacques-Alain Miller Entra de e Bloc-Notes de la psychanalyse, m5, 1985, “Traduzido por MARIO ALMEIDA e revisado por ANA LYDIA SANTIAGO,

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