Autor
JOSE CARLOS BARBOSA MOREIRA
Professor na Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Desembargador (aposentado) do Tribunal de Justica do Estado do Rio de Janeiro
Coordenadores
ALUISIO GONGALVES DE CASTRO MENDES
CARLOS ROBERTO BARBOSA MOREIRA
Luiz PAULO DA SILVA ARAUJO FILHO
TEMAS DE
DIREITO PROCESSUAL
(Primeira Série)
32 Edicgdo
Atualizadores
ANTONIO DO Passo CABRAL
CARLOS ROBERTO BARBOSA MOREIRA
EDITORA
Rio de Janeiro
2023
‘Scanned with CamScannerA RESPONSABILIDADE DAS
PARTES POR DANO PROCESSUAL
NO DIREITO BRASILEIRO?
1, Generalidades
E antiga, nos legisladores, a preocupacao de combater a incorre-
¢4o das partes no seu comportamento em juizo, Bem se compreende
a necessidade de tentar impedir que a falta consciente a verdade, o
uso de armas desleais, as manobras ardilosas tendentes a perturbar a
formagao de um reto convencimento do érgao judicial, ou a procras-
tinar o andamento do feito, embaracem a administracao da justi¢a e
desviem do rumo justo a atividade jurisdicional. Visto ao 4ngulo dos
litigantes e de seus interesses, 0 processo é sem diivida um prélio,
e como tal nao pode excluir o recurso a habilidade na escolha e na
realiza¢ao das taticas julgadas mais eficazes para a obtengdo de re-
sultado vantajoso; a isso, contudo, sobrepairam as exigéncias éticas
e sociais inerentes & significacao do processo como instrumento de
fungdo essencial do Estado.
Uma falsa concepgao “liberal’, de marca individualfstica, em
certa fase - talvez nao de todo superada - da evolugao histérica do
direito processual, ofereceu resisténcia a consagracao normativa de
imposigées que contenham os litigantes nas raias da lealdade e da
probidade, bem como a adogdo de expedientes id6neos a assegurar,
tanto quanto possivel, a efetividade do cumprimento desses deveres.
Tal resisténcia vai declinando, e tende a desaparecer, na medida em
que se firma e se acentua o carater publicfstico do processo (inclu-
sive do processo civil), e correlatamente se reforcam e ampliam os
poderes do 6rgao judicial na respectiva conducao, Jé nao se pretende
do juiz que assista, como espectador frio e distante, ao “duelo” das
partes; ao contrario, dele se espera atividade eficiente no sentido de
que a justica seja feita. Para tanto, procura a lei ministrar-lhe, entre
outros, meios enérgicos de combate a ma-fé, 4 improbidade, a chica-
na, em suas multiformes manifestacées.
1 Publicado na Revista Uruguaya de Derecho Procesal, v. 2/76.
Scanned with CamScanner?
~
ost CARLOS BARBOSA MOREIRy
ie ee
2.0 comportamento incorreto das partes e suas consequénclas:
visio esquematica
Antes de nos determos no exame do tema que constitui 0 objeto
especifico deste trabalho, convém delinear, em tragos intencionalmente
esquematicos, o panorama global em que ele se enquadra. Ha que foca.
lizar, de um lado, O problema atinente a caracterizagéo do “comporta.
mento incorreto” da parte - expresso que se usa aqui, de caso pensado,
justamente em razio de seu feitio genérico, para ndo antecipar especifi-
cages que subverteriam a ordem légica da exposi¢ao; de outro lado, as
consequéncias que a lei atribui a tal comportamento.
A propésito da conduta das partes, pode-se falar de “incorrecao” com
referéncia: a) ao contetido das alegagées por elas feitas em jutzo; b) forma
por que atuam no processo, pessoalmente ou através de: ‘seus procuradores,
0 primeiro aspecto relaciona-se de modo fundamental com 0 reconheci-
mento de um “dever de veracidade” (a parte deve declarar somente a ver-
dade, ou quando menos deixar de declarar o que saiba ndo ser verdade), ao
qual acede o “dever de completitude” (a parte deve declarar toda verdade,
isto 6 abster-se de omitir fatos relevantes que conhega, por suscetiveis de
favorecer o adversério). 0 segundo concerne & obrigagao de respeitar as
chamadas “regras do jogo’, e comporta numerosos desdobramentos, que se
‘traduzem em outros tantos preceitos, dificilmente redutiveis a uma enume-
ragio exaustiva, mas cujo denominador comum talvez se possa identificar
no respeito aos direitos processuais da parte contraria e na absten¢ao de
‘embaracar, perturbar ou frustrar a atividade do érgio judicial, ordenada a
apuracio da verdade e & realizaco concreta da justica.
E questio de direito positivo, que s6 admite solugio no ambito de
cada ordenamento, a de saber se tem deveras relevancia juridica (e nao
apenas ética) - bem como, no caso positivo, em que medida a tem - a
“incorregao” na primeira e na segunda das acepgées acima indicadas. O
exame do direito comparado revela, como é natural, extensa gama de po-
sigdes, Em termos bastante genéricos, pode afirmar-se que as leis mais
se tém preocupado coma corregao formal da conduta das partes do que
com a correspondéncia entre as suas alegacGes e a realidade objetiva.
Um “dever de veracidade” (e de “completitude”) consagrado expressis
verbis depara-se em reduzido numero de legislagdes?, Em contrapartida,
2 7PO austriaca, § 178: “Jede Partei hal in thren Vortraigen alle im einzelnen Falle
ur Begrundung ihrer Antrage erforderlichen tatsachlichen Umstande der Wahrheit
‘TEMAS DE DIREITO PROCESSUAL (Paiwetea Sénie
hd sempre um grupo de regras, poucas que sejam, destinadas a conter
em limites eticamente razoaveis 0 procedimento das partes (e dos pro-
curadores) a0 longo do itinerério processual, podendo encontrar-se ou
nao, a par dessas normas especificas, um dispositivo de corte genérico,
onde se enuncie, em formula sintética (e necessariamente eléstica), esse
outro aspecto da obrigacdo de atuar de maneira correta’.
No que tange as consequéncias, cabe identificar duas classes dis-
tintas. A primeira compde-se de expedientes através dos quais se abre
aoportunidade de eliminar os efeitos do comportamento incorreto, na
medida em que se tenham mostrado capazes de influir no desfecho do
processo: a técnica legal consiste af em considerar viciado 0 pronun-
ciamento judicial que haja resultado da incorregao e admitir contra ele
7) gemass volistindig und bestimmt anzugeben. die ur Fesstelung threr Anga-
bben nétigen Beweise anzubiete, sich uber die von ihrem Gegner vorgebrachten
tatsachlichen Angaben und angebotenen Beweise mit Bestimmtheit zu erklaren, die
Ergebnisse der gefuhrten Beweise darzulegen und sich auch uber die bezuglichen
‘Ausfuhrungen ihres Gegners mit Bestimmtheit austusprechen (Cada parte deve,em
‘suas exposigées, indicar segundo a verdade, de maneira completa e precisa, todas
"as circunstancias de fato indispensévels no caso concreto 3 fundamentacao de seus
pedidos, produzir as provas necessérias 4 verificacio de suas alegagSes, manifestar-
se com precisio sobre as alegaraes de fato formuladas e as provas produzidas pela
___parte contréria, expor os resultados das provas oferecidas e pronunciar-se de modo
"preciso sobre a correspondente exposicio do adversério)”.
PO da Alemanha Federal, § 138, | (na redagio dada pela Novela de 1933): “Die
Partelen haben ihre Erklarungen uber tatsichliche Umstinde vollstandi
‘Wahrheit gemass abzugeben (As partes devem formular de modo completo e con-
forme verdade as suas alegasSes sobre crcunstincias def
Codice di Procedura Civile do Estado do Vaticano, art. 20, § 18: “Le parti banno il
dovere di dire la veri e di non proporre pretese, difese o eccezioni consapevol-
mente prive di fondamento”
3. Codice di Procedura Civile italiano, art. 88: Le part ei loro difensori hanno il do-
‘vere di comportarsi in giudizio con lealta e probiti’. Parte da doutrina considera
mplicito nesse dever o de veracidade: CAPPELLETIL La Testimonianza della Parte
nel Sistema dell Oralita, Ml20, 1962, parte Ip. 378, nota 1 (Iniciada na p. 377);
MICHELI, LOnere della Prova, Pidua, 1966 (reimpressio), p. 170/1; MARCHETTI,
“Dolo revocatori e falsa allegazione’ in Riv. di Dir. Proc, v. XV (1960), p. 426 €
8, espec. 427, Em sentido contririo, ver, porém, na mais recente literatura MAN-
DRIOLI, in Commentario dei Codice di Procedura Civile dirigido por ALLORIO,
Turim, s/d (1973), v1, p. 959/60, cujo entendimento, segundo 0 autor, é “ormai
praticamente pacifico”.
Scanned with CamScanneros ost canos BARBOSA MOREIRA
8
urso’,
uum meio de impugnagao espectfico, ora concebido a ee
como aco impugnativa auténoma’. Na segunda oa a aoadtvere
‘sangdes de varia natureza, previstas na lei para . agbhahnks s.
acima aludidos, ou de algum (ou alguns) dentre eles ar eve se
trata de corrigir o erro causado pelo transgresson el s sae a
transgressdo pela ameaca de uma consequéncla desfvor a ‘i
pratique, ou eventualmente de reprimi-la mediante aapl a ew jan-
40 cominada. Essas medidas podem esquematicamenté distr!u
em quatro espécies fundamentais, que serao ilustradas com exemplos
do direito brasileiro:
14) restrigdo ou mesmo perda de direitos ou faculdades processu-
ais da parte que se conduziu incorretamente. Assim, vg, 0 devedor que
josamente” a esta, “empregando
Aexecusao", e apesar de advertido persevera em semelhantes praticas,
vé-se privado, por decisdo judicial, de “requerer, reclamar, recorrer, ou
praticar no processo quaisquer atos” (Céd, Proc. Civil, arts. 600 e 601,
caput); a parte que comete atentado - isto é, que, no curso do feito, “viola
penhora, arresto, sequestro ou imissdo na posse’, "prossegue em obra
embargada’ ou “pratica outra qualquer inova¢ao legal no estado de fato”
~ fica igualmente sujeita a proibigao de “falar nos autos até a purgacao
doatentado” (arts. 879 e 881, caput, fine);
24) multas processuais, sem cardter penal. Por exemplo, a parte
‘que, em grau superior de jurisdigao, oferece embargos de declaraco
“manifestamente protelatérios” - ou seja, desprovidos de qualquer fun-
damento e interpostos com 0 tinico objetivo de protelar o andamento
do processo, mercé da suspensdo do prazo de outros eventuais recursos
{art. 538, caput) - ser condenada pelo tribunal a pagar ao adversdrio
4 Bxemplos;arevocatione por “dol di una delle pati in danno del'altra’, no direito
ltaliano (Codice di Procedura Civile, art 395, n. 1; cf. art. 414,28, principio, do
Aigo do Estado do Vaticano}; orecours en revision cabivel ‘s'il se révele, apres le ju-
sgement,que la décisiona été surprise parla fraude dela partie au profit de laquelle
elle été rendue" (Code de Procédure Civile francés de 1975, art. 595, n. 1),
5 Exemplos: a Restitutionsklage alema e a Wiederaufnahmsklage austriaca, contra
sentenga obtida por meio de ato penalmente puntvel de uma das partes ou de seu
representante (Alemanha Federal; ZPO, § 580, n. 4; Austria; ZPO, § 530, n. 3); a a¢do
rescisbria do dreito brasileiro, contra sentenca que “resutar de dolo da parte ven-
cedora em detrimento da parte vencida” (Cbd. Proc. Civil, art. 485, Il, principio).
‘TEMAS DE DIREITO PROCESSUAL (Priweinn Sénie) a
TL
multa nao excedente de 1% (um por cento) do valor da causa (art. 538,
pardgrafo tinico);
34) penas propriamente ditas, como as previstas no art. 347 do
Cédigo Penal de 1940 para o crime de “fraude processua, assim defi
do: “Inovar artificiosamente, na pendéncia de processo civil ou admi
trativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a
erro o julz ou 0 pe
48) imposicdo, ao transgressor, da obrigac3o de reparar, com pres-
tagdo pecuniaria, os prejufzos causados pelo comportamento incorreto &
uta parte. Defrontamo-nos aqui, precisamente, com a responsabilidade
por dano processual’, que ¢ o tema especifico da presente exposicao, e de
que passamos a ocupar-nos, com exclusividade, nos itens subsequentes.
Antes, porém, é oportuno esclarecer que os diversos tipos de san-
des acima caracterizados nao se excluem reciprocamente de maneira
necessaria: bem se concebe que o transgressor incorra cumulativamen-
te em sangdes de mais de uma espécie, ou até de tod: 1B,
em relacdo ao litigante que cometa atentado, & proibigdo de “falar nos
tinico), e possivelmente a pena cominada para o delito de "fraude pro-
cessual’, desde que concorram os respectivos extremos.
3. Dados de direito comparado
Se é relativamente frequente, nas leis processuais modernas, 0 em-
prego da técnica consistente na cominagdo de multas por incorresio
processual®, nao o é tanto a responsabilizacdo expressa da parte pelos
danos causados ao adversdrio em razio de comportamento incorreto,
Afastamos de nossas cogitacdes, aqui, a questo do reembolso das cus-
tas processuais - a que se podem acrescentar, ou em que se podem in-
cluir, os honorarios de advogado -; a disciplina dessa matéria reveste
feigdo de particularismo, dispensando muitas vezes qualquer aprecia-
ao valorativa de conduta, para assentar pura e simplesmente no resul-
6 Vide, por exemplo, o art. 212, 2# alinea, da Ley de Enjuiciamiento Civil espanhola;
o art 252, 24 parte, do Cédigo de Procedimiento Civil venezuelana; 0 Cap. 9° do
digo Judicirio sueco; art. 45 do Cédigo Procesal Civil y Comercial argentino; 0
art. 20, § 2%, do Cédigo do Estado do Vaticano. Quanto ao vigente diploma br
ro, vide os ats. 233 e 538, parigrafo nic.
Scanned with CamScanner105 BARBOSA MOREIRg
See
tado do pleito (principio da “mera sucumbéncia’ em ei
impée & parte vencida, pelo s6fato da derrota, o deve! esmo €M Pais,
vencedora)’. Por outro lado, convém assinalar que, mi oeeasecess s
onde inexiste regra de dieltoprocessual aconsagré-la,nf® a:
riamente exclufdo o reconhecimento da responsabilidad’ PO ° 2 Te.
sultante de comportamento incorreto, com: a i. a
{eventualmente de drito civil) ou em algum principio Bote Mteen-
dente de texto expresso: assim vg, na AlemanhaFedera§ °° 0a tem
admitido, dentro de certo limites, uma pretensio 20 Fessah™ Mento de
prejlzos causados por alegagdo mentiosa ou por aso ProPosta cons,
Centemente em desacordo com a verdade’.
Dentre os Cédigos que contemplam em termos exPFeSSOS a res-
ponsabilidade por dano processual, merece realce, até Por sua con-
digo pioneira, a ZPO austriaca, Segundo o § 408, n. 1, Se 0 tribunal
vetficar que o litigante vencido se conduziu no processo de modo ma-
nifestamente malicioso (“offenbar mutwilig"), pode, a requerimento
do vencedor, condenar o primeiro a correspondente indeniza¢ao. Em
principio, a sango é impontvel na prépria sentenga que julgar a lide;
na opinido de alguns, todavia, seré licito a parte vitoriosa pleitear a
alinea, do Codice di Procedura Civile prevé a condenagao do
vencido, também a requerimento da outra parte, ao ressarcimento dos
danos (além das despesas processuais), caso tenha “agito 0
siudizio con mala fede o colpa grave’. A indenizagio deve ser liquidada,
inclusive de offcio, pelo juiz do processo em que se deu comportamen-
to incorreto, Decide-se tudo na mesma sentenga.
Assim é igualmente no sistema do C¢
7 Assi hoje, no dreto brasileiro (C64, Proc. Civil, art. 20, caput).
‘8 ROSENBERG SCHWAB, Zyilprozessrecht, 114 ed, Munique, 1974, p. 340; BAUR,
‘onlprozessrecht,Frankfurt-m-Main, 1976p. 48.
9 POLLAK, System des osterreichischen Zivilprozessrechtes, 2 ed, Viena, 1932, p.
386; HOLZHAMMER, Zivilprozessrecht-Erkenntnisverfahren, Viena-Nova lorque,
1970, p. 126, Conta, ASCHING, Kommentar 2u den Zvilprozessgesetzen, Viena,
1966,v.1 p.670 (com ressalva das hipdteses em que a pretensio ao ressarcimen-
tsb tena nascido quando jéndo era possive faz8-lavaler no primeiro processo).
‘TEMAS DE DIREITO PROCESSUAL (Puintina Staie)
28 do art. 20, pelas transgressdes ~ declaradas na motivagdo da senten-
ga dos deveres a que alude 0 § 1° (isto é, de dizer a verdade e de ndo
formular pretensGes, defesas ou excegdes sabidamente infundadas), po-
deré 0 julz, além de impor multa a qualquer das partes, condend-la, “se
for'0 caso’, a0 ressarcimento dos danos.
Abstraindo-se de cominacées especificas, que se deparam no esta-
tuto processual italiano, para hipéteses particulares de incorrecao de
comportamento, nas quais também surge a obrigacao de indenizar"®,
0s dois primeiros ordenamentos acima referidos t8m em comum a téc-
nica adotada para indicar o pressuposto da responsabilidade por dano
processual: empregam formulas genéricas, abstendo-se de proceder a
uma enumeragao casuistica das varias modalidades de incorreo: alei
austrfaca fala de “processo conduzido com manifesta malicia’,a italiana,
deter a parte “agido ou resistido em jutzo com mé-fé ou culpa grave’. A
do Estado do Vaticano, em termos algo mais especificos, e sem diivida
menos amplos, alude a transgressées do “dever de dizer a verdade ede
nio formular pretensGes, defesas e excegdes sabidamente infundadas’.
Outras legislagdes preferem técnica diversa: nao se limitam aenun-
ciar genericamente 0 conceito bésico da incorregao geradora do dever
de indenizar, mas vao além, procurando explicitar-Ihe a compreensio,
através da tipificagao das hipéteses que nele se subsumem. Assim, 0
Cédigo portugués, apés estatuir que “tendo litigado de mé-fé, a parte
serd condenada em multa e numa indenizagio 4 parte contréria, se esta
apedir” (art. 456, n. 1), acrescenta: "Diz-se litigante de mé-fé ndo s6.0
que tiver deduzido pretensao ou oposi¢ao cuja falta de fundamento nao
ignorava, como também o que tiver conscientemente alterado a verdade
0 que tiver feito do processo ou
|, com o fim de
conseguir um objetivo ilegal ou de entorpecer aacao da justica ou de im-
pedir a descoberta da verdade” (art. 456,n. 2). Namesma linha, o Cédigo
de Procedimiento Civil colombiano estabelece, no art. 72, 1* parte, 0
princ{pio geral da responsabilidade pelos prejuizos que as partes cau-
sem “con sus actuaciones procesales temerarias o de mala fe’, e no art. 74
arrola os casos em que se considera existente temeridade ou mé-fé: ca-
réncia manifesta de fundamento legal para a demanda, excegdo, recurso
‘0u oposigio (n. 1); alegagdo de fatos sabidamente contrérios a realidade
10 Assimas dos arts. 89 e 96, 2# alinea, do Codice di Procedura Civile.
Scanned with CamScannerost CARLOS BARBOSA MORE»,
wi nn
(n.2); utilizago do processo, incidente ou recurs? on
sgais ou com propésitos dolosos ou fraudulentos (a. a. od da
izagao de provas (n. 4); emprego de qualquer ai cobain ia en.
torpecer reiteradamente o desenvolvimento normal do P! Sari a 5),
Esses ordenamentos revestem-se, para ns, de malorinkeresSt ian
comparatistico, jé que ~ conforme oportunamente se i f ISticg
étambém a técnica do Cédigo brasileiro em vigor. Naturalmente, a des,
ctigdo dos “tipos” nunca pode ser feita com absoluto rigor, ion nado se
‘compadeceria com a indole da matéria: as hipéteses legais tem contor.
nos mais ou menos flexiveis, recorrendo-se com frequéncia, Na sua con.
figuragdo, a conceitos j indeterminados ("fatos essenciais’, “uso
manifestamente reprovavel’, “fins claramente ilegais’, “desenvolvimenty
‘normal do processo” etc.
E oportuno registrar que, de outros pontos de vista, divergem o
sistema portugués e o colombiano. Exige 0 primeiro, de modo expres.
0,0 requerimento da parte lesada, para a condenacao do transgressor
(Céd. Proc. Civil, art. 456, n. 1, fine: “se esta a pedir”), a0 passo que o
segundo a dispensa, conforme ressalta do teor do art. 72 ("Cuando en e]
proceso o incidente aparezca la prueba de tal conducta, el juiz, indepen.
dentemente de las costas a que haya lugar, impondré la correspondiente
condena...*)", Ademais, na Colémbia nenhuma distingdo textual se faz
centre parte vencida e parte vencedora, enquanto em Portugal o art. 456,
1.3, restringe expressis verbis a possibilidade de condenar-se a segun-
da como litigante de mé-fé & hipétese exclusiva de ter “procedido com
dolo instrumental’. Quanto a forma de efetivar-se a responsabilidade,
contudo, voltam a aproximar-se os dois ordenamentos, afeigoando-se a
orientacao que, a esta altura da pesquis
aobrigacao de ressarcir o dano impde-se no préprio processo em que se
verificou a incorreséo, independentemente de ado auténoma"
11 Oentendimentn indicad abona-se na interpreta que dé. 20 dispostvo o mals au-
terizao expostor do ireto processual colombiano:"Etexto Impone al uez el deber