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102 NEGOCIOS ELECTRONICOS E A NOVA ECONOMIA O e-capital e a valorizagao do mercado na Era da Internet A transformacao do mercado de capitais est4 na origem do desenvolvimento das empresas Internet, e da nova economia em geral. Sem o financiamento de startups inovadoras por parte das empresas de capitais de risco, nao se teria produzido o cres- cimento econdmico liderado pela Internet. Os capitalistas de alto risco aventuraram-se a financid-las com grande facilidade, apesar do elevado risco de mortalidade destes projectos (cerca de um tergo dos mesmos, nos EUA), devido aos elevados lucros proporcionados pela valorizagio da capitalizagio de mercado sem precedentes que os mercados financeiros concederam a muitos desses inovadores projectos de negocio. A forte queda dos valores tecnolégicos, que se iniciou em 10 de Marco de 2000, nao conseguiu abafar o extraordinario crescimento da va- A GALAXIA INTERNET 103 das empresas tecnolégicas, incluindo as dot.com so- breviventes, a0 longo da Ultima década. Apesar da liquidagio de numerosas start-ups por todo o mundo, cujos planos de negé- cio eram demasiado frageis para sobreviver as mudangas de hu- mor do mercado, 0 volume de capital atraido pelo alto rendi. mento do sector tecnolégico durante os anos 90 € seguintes foi © combustivel propulsor da nova economia. Se considerarmos um periodo que vai desde meados dos anos 90 a principios de 2001, no seio de um volatil mercado financeiro e mesmo depois de ter entrado num contexto recessivo em 2000-2001, compro- vamos que as principais empresas tecnolégicas, assim como um numero consideravel de start-ups da Internet, aumentaram subs- tancialmente 0 seu valor de mercado. Na verdade, mesmo de- pois do scu dramatico declinio em 2000-2001, 0 valor do indice Nasdaq, em Fevereiro de 2001, era trés vezes superior a0 de 1996. E bastante provavel que continue a baixar, pelas razdes que irei expor mais adiante, mas a verdade é que © longo pe- riodo de clevado crescimento experimentado na década de 90 ja transformou a economia norte-americana e 0 nucleo da eco- nomia global. Argumentarei que, na generalidade, este cresci mento nao foi especulativo nem «exuberante» ¢ que a alta valo- tizagio das acgSes tecnolégicas no se deyeu a uma bolha financeira, apesar da sobrevalorizaca4o Obvia de muitas empresas consideradas individualmente. Porém, quero também rejeitar a nocao de que estamos imersos numa economia que desafia as leis da gravidade. Os dados histéricos € a teoria econémica mos- tram que os valores que sobem acabam finalmente por baixar, como aconteceu em 2000-2001, embora seja possivel que voltem a subir. A verdadeira questao consiste em saber quando, quanto € porqué. Para responder a estas perguntas devemos considerar a transformacao dos mercados financeiros na ultima década, de- vido A desregulamentagio, 4 liberalizagio e A reestruturagio do mundo empresarial. Estamos a assistir a0 desenvolvimento gradual de um mer- cado financeiro global e interdependente, operado por redes in- formaticas, com uma nova série de regras para o investimento de capital ¢ para a valorizagdo das accGes € dos activos finan- ceiros em geral. A medida que as tecnologias de informagio so cada vez mais poderosas € flexiveis, os mercados financeiros 104 NEGOCIOS ELECTRONICOS E A NOVA ECONOMIA vao-se integrando © tém tendéncia a funcionar como uma uni- dade em tempo real em todo o planeta. Deste modo, a capaci- dade da ligacdo informatica em rede para mudar de sistemas de comércio est4 a transformar os mercados financeiros, ¢ as suas novas regras estio a proporcionar o capital necessfrio para fi- nanciar a economia da Internet no seu Conjunto. Sigamos, passo a passo, este fundamental, embora complexo, argumento. Para comecar, vou descrever 0 mecanismo através do qual os mercados de capital financiam a inovagdo nos negécios clec- trénicos. Nos anos 90, um caso tipico de financiamento em $ con Valley comcegava com um plano de negécios arriscado € com umas certas nogées relativamente a contribuicio que a tec- nologia Internet poderia dar a este plano, mas concentrando-se mais na inovagio empresarial do que na inovacio tecnolégica. Afinal, a maior parte da tecnologia actual é de fonte aberta ou pode comprar-se directamente: a questio € saber o que fazer com ela e para isso o mais importante é 0 talento. O talento pode ob- terse com dinheiro, muito dinheiro, ou, 0 que é mais habitual, com a promessa desse dinheiro. Depois disto, vende-se o plano de negécio a uma empresa de capital de risco. Os capitalistas de alto risco que alimentam Silicon Valley esto mesmo ali ao lado. De facto, um terco de todo 0 capital de risco disponivel nos EUA investe-se na area da Baia de Sao Francisco. Na maioria dos ca- S08 nao se trata de empresas puramente financciras, j4 que mi tas vezes estas empresas procedem das indiistrias de alta tecno- logia. Por vezes, os ricos empreendedores do sector da alta tecnologia (anjos) investem individualmente em promissores projectos empresariais. Na maior parte dos casos, os investido- res com um certo conhecimento do sector criam uma empresa de capital de risco ¢ pdem-se em contacto com empresas in- vestidoras de fora, ansiosas por se introduzirem num mercado Promissor As empresas de capital de risco trabalham de perto com as suas start-ups, guiando Os seus projectos empresariais ¢ sustentando a sua actividade enquanto clas forem consideradas como um investimento promissor. Apesar disto, muitos proje tos fracassam, ou porque nio alcangam ¢ nivel operativo ou por- que fracassam no mercado. Mas a compensacio que se obtém com as que triunfam é tal que os capitalistas de alto risco se veem compensados de sobra, muito acima daquilo que poderiam con-

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