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O português – génese, variação

e mudança
A língua portuguesa tem cerca de 244 392 milhões de
falantes.1
Língua oficial

Portugal
Brasil
Guiné-Bissau
Cabo Verde
São Tomé e Príncipe
Angola
Moçambique
Timor-Leste
e… Comunidade dos Países
de Língua Portuguesa,
Guiné Equatorial (desde
criada em 1996.
2014)
Macau

1 http://observatorio-lp.sapo.pt/pt/dados-estatisticos/falantes-de-portugues-literacia
paaço
paacio
palácio paço

Como começou?

parábola sanum
parabola sanctum são
m palavra
sunt
Principais etapas da
formação
e da evolução do português

Do latim Do português
ao antigo
galego-português ao português
contemporâneo
1. Do latim ao galego-português
Indo-europeu,
uma protolíngua

Língua «de raiz»


Língua-mãe

Os vários ramos
de línguas indo-europeias.
ramo
lati línguas românicas
itálico
m
ramo
grego grego moderno Indo-europeu,
helénico
clássico uma protolíngua
bretão

ramo galês
celta escocês
irlandês
Língua «de raiz»
inglês
alemão
Língua-mãe
Indo-europeu neerlandês
ramo
sueco
germânico
dinamarquês
dinamarquês
norueguês
islandês

búlgaro
macedóni
o
servo-croata
esloveno
checo
ramo
eslavo eslovaco
polaco
russo
bielorusso
ucraniano
O latim é uma língua itálica, de origem indo-europeia.

Era a língua falada no Lácio, região em que se situa a cidade de Rom

Roma
O latim é uma língua itálica, de origem indo-europeia.

Era a língua falada no Lácio, região em que se situa a cidade de Rom

A língua latina não era utilizada da mesma forma por todos


os estratos sociais, em todas as ocasiões.

Latim

Latim Latim vulgar


clássico

Escrito, Oral
culto

Têm características diferentes


Romanização: conquista e colonização de territórios pelos Romanos

Adoção das leis romanas, da administração romana e da língua latina

Mapa do apogeu
do Império
Romano.
Línguas
românicas
ou novilatinas

Línguas que derivam do latim vulgar

Línguas
românicas
ou
novilatinas.
Línguas românicas ou
novilatinas
português

galego

castelhano

catalão

francês

provençal

sardo

italiano

reto-romano

romeno
Península Ibérica conquistada a partir de 218
a. C.

Populações pré-
romanas
Substrato do Línguas de origem
português celta

(o que está por baixo) Vestígios de língua


fenícia
Desaparecem
devido ao contacto com o

Estrato do português
Latim
(base vocabular da língua)

Populações pré-
romanas
da Península Ibérica.
Línguas românicas ou neolatinas

A evolução linguística é diferente nos vários territórios


conquistados.

Latim Italiano Castelhano Catalão Galego Português

populum popolo pueblo poble pobo povo

panem pane pan pa pan pão

scholam scuola escuela escola escola escola


Península Ibérica invadida a partir do século V
d. C.
Suevos: 411 d. C.
Povos
Visigodos: 418 d. C.
germânicos

Não restam muitos Superstrato do


Línguas
vestígios; português
germânicas
a variante do latim (o que está por cima)
falado no noroeste da
Península Ibérica já
estava consolidada
Romance galego-
português

Invasões dos povos Suevos Império Romano do Ocidente


bárbaros no século V. Visigodos Império Romano do Oriente
Superstrato germânico

Léxico relacionado
com

a elmo, estribo, guerra, roubar


guerra

a jardim
agricultur
a
a vida agasalhar, britar, broa,
quotidiana espeto, fato, ganso, luva,
roca, roupa, sopa
Afonso, Ermesinde, Gonçalves,
Nomes
Ramiro, Ricardo, Rodrigues, Soares
próprios

Pontos norte, sul, este, oeste


cardeais
Península Ibérica invadida a partir do século
VIII d. C.
Início da conquista da Península: 711
Árabes
d. C.
Domínio da Lusitânia e da Galiza: 714-
716 d. C.
Superstrato do
Vocábulos
português
árabes
(o que está por cima)

Vão integrar
os

Vários romances — línguas


de base latina

Romance moçárabe
predomina
no sul da Península
A conquista
muçulmana
na Península Ibérica.
Superstrato árabe Artigo al junto a nomes de origem
latina

Léxico relacionado
com
alcaide, alferes, algoz, almedina,
a
almirante, algazarra, arsenal, atalaia,
guerra
azagaia, xerife
açoteia, alfarroba, alqueire,
a
almofariz, açafrão, açúcar,
agricultur
arrátel, azenha
a
a ciência álcool, álgebra, alfinete,
/ vida alambique, azulejo, enxaqueca,
quotidiana xadrez, xarope, zénite

Topónim Alcácer, Alcântara, Alcoentre, Algarve, Aljezur,


os Almada, Alpiarça

Core azul, carmesim


s
Em síntese:

Substrato Estrato Superstrato

Vestígios de uma Língua que está na Vestígios de uma


língua indígena base do léxico e da língua de um povo
desaparecida devido gramática invasor
ao contacto e que sobreviveu e desaparecida
e sobreposição da ao contacto com no contacto com a
língua dos invasores outras línguas língua do povo

• Línguas celtas — • Latim vulgar — •invadido


Línguas
até ao século do século III a. C. germânicas —
III a. C. ao século V d. C. século VIII d. C.
• Árabe —
século VIII d. C.
Passagem do latim vulgar para o galego-português

Queda do /n/ e do /l/ intervocálicos:

• luna  lua

• malu  mau

Transformação de /pl/, /cl/ e /fl/ em [ ]:

• pluvia  chuva

• clave  chave

• flagrare  cheirar
Resultado do cruzamento das línguas

A partir dos séculos


VIII e IX

Vai-se desenvolvendo
o romance da Galiza e
norte
de Portugal

Expande-se para sul seguindo


o movimento da Reconquista cristã
Galego-
português No Sul, sofre influências do
moçárabe
Línguas
Línguas
faladas na
faladas na
Península
Península
no século
no século X
X
(avanço da
(avanço da
Reconquista)
Reconquista)
..
Línguas
Línguas
faladas na
faladas na
Península
Península
no século
no século XI
XI
(avanço da
(avanço da
Reconquista)
Reconquista)
..
Línguas
Línguas
faladas na
faladas na
Península no
Península no
fim do
fim do século
século
XII (avanço
XII (avanço
da
da
Reconquista)
Reconquista)
.
Línguas
Línguas
faladas na
faladas na
Península
Península
no fim
no fim do
do
século XIII
século XIII
(avanço da
(avanço da
Reconquista)
Reconquista)
.
2. Do português antigo
ao português contemporâneo
Português Português Português
antigo clássico contemporâneo

Do século XII Do século XVI A partir


ao século XV ao XVIII do século XIX
Português antigo

Do século
XII
ao século
XV
Português
antigo
Galego-português

Galaico-português
Outras
designações Português arcaico

Português da Idade

Média
Português antigo

Primeiros textos
escritos

1173-1175 — Pacto de Gomes Pais e Ramiro Pais. Torre do


Tombo, Mira de Braga, mç. 1, doc. 26/A

1175 — Notícia de fiadores. Torre do Tombo, Ordem de São


Bento, Mosteiro de São Cristóvão de Rio Tinto, mç. 2, doc.
10

1214 — Testamento de D. Afonso II. Torre do Tombo, Mitra


Arquiepiscopal de Braga, mç. 1, n.º 48; Arquivo da
Catedral de Toledo, 2.4, B.6

c. 1214 — Notícia de Torto. Torre do Tombo, Ordem de


São Bento, Mosteiro do Salvador de Vairão, mç. 2, doc.
40
Português antigo

Notícia de fiadores (1175). 


Português antigo

Testamento de D. Afonso II (1214), cópia de Lisboa. 


Português antigo

Notícia de Torto (c. 1214).


Português antigo

Traços
distintivos
do português
antigo Existência de hiatos por causa da queda de consoantes
entre duas vogais
• lat. dolorem  door
• lat. sanam  sãa

Ocorrência de «d» na segunda pessoa do plural (vós)

• amades
• queredes
• partides

Ocorrência de «-udo» nos particípios passados da 2.ª


conjugação
• temudo — temido
• sabudo — sabido
• vençudo — vencido
Português clássico

Do século XVI
ao século XVIII

Português
clássico

Valorização da língua materna

Edição de gramáticas e dicionários

Expansão para fora da Europa

Empréstimos de línguas
diversas

João de Barros (481-1570),


pioneiro da gramática da língua portuguesa.
Português clássico

Renascimen
to

Vai conduzir a

um ambiente cultural propício à reflexão


sobre a língua
importação de latinismos

proliferação de livros impressos

Expansão
a entrada de empréstimos africanos,
marítima
asiáticos e sul-americanos
Propicia
a afirmação do português como língua franca
na costa ocidental africana
Português clássico

Primeiras
publicações Preocupação com as normas da língua
sobre o estudo
da língua
portuguesa

1536 — Grammatica da lingoagem portuguesa de Fernão de


Oliveira
Primeira gramática publicada sobre a língua portuguesa

1539 — Gramática da Lingua Portuguesa de João de Barros

1576 — Orthographia da lingoa portuguesa de Duarte Nunes


de Leão
Português clássico

Grammatica da lingoagem
portuguesa, Fernão de Oliveira,
1536.
Português clássico

Grammatica da Lingua Portuguesa, João de Barros, 1539.


Português clássico

Orthographia da lingoa portuguesa, Duarte Nunes de Leão, 1576. 


Português clássico

Traços distintivos
do português
clássico
Estabelecimento definitivo de três conjugações verbais

Substituição do verbo «haver» pelo verbo «ter» para indicar


posse

Uniformização das terminações nasais que tinham diferentes origens


etimológicas
(-ane/-anu/-one  -ão):
• cane  cão
• manu  mão
• coratione  coração
Língua literária:
• Sintaxe latina (verbo no final da frase)
• Empréstimos latinos (horrendo, indómito)
• Superlativos em -érrimo e -ílimo
Português contemporâneo

A partir
do século XIX

Português
contemporâ
neo

Desenvolvimento da instrução pública

Maior acesso à escolarização básica

Fundação de institutos de ensino superior em vários


locais do País
Incremento da indústria livreira

Maior diferenciação das variantes geográficas da


língua
Português contemporâneo

F. Adolfo Coelho, A Lingua Portugueza.


Phonologia, Etymologia, Morphologia e
Syntaxe, 1868.

O primeiro trabalho de linguística,


em bases científicas
Português contemporâneo

Outros linguistas:

Carolina José Leite de


Michäelis de Vasconcelos
Vasconcelos (1858-1941).
(1851-1925).
Português contemporâneo

Traços distintivos
do português
contemporâneo

Recurso a neologismos ou estrangeirismos para


referenciar novas realidades científicas e
tecnológicas

Queda em desuso da 2.ª pessoa do plural (vós)

Utilização da forma composta do pretérito mais-que-perfeito


(eu tinha estudado em vez de eu estudara)
Bibliografia

AMORIM, Clara; SOUSA, Catarina (2013) – Gramática da Língua Portuguesa. Porto:


Areal Editores.

CARDEIRA, Esperança (2006) – O Essencial sobre a História da Língua Portuguesa.


Lisboa: Caminho.

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