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O SOPAPO E O CABOBU: ETNOGRAFIA

DE UMA PRÁTICA PERCUSSIVA NO


EXTREMO SUL DO BRASIL
Mario de Souza Maia
Mario de Souza Maia
2004 - 2008
Doutorado em Música
UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil

1996 - 1998
Mestrado em História
PUCRS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
Brasil

1985 - 1989
Graduação em Bacharel em Canto
UFPEL - Universidade Federal de Pelotas, Brasil
Experiências

 2004 e 2005 (ouvinte e observador das baterias de


escolas de samba em Pelotas)

 2006, 2007 e 2008 (ritmista em uma das baterias,


tocando sopapo.
Grupos observados

 Serrote Preto: grupo de músicos formados em


ambiente universitário de Porto Alegre, que usa
elementos da cultura popular e folclórica, o sopapo,
porém busca pelo reconhecimento do público e do
mercado musical.

 Odara: atuação voltada para a militância, através da


dança afro, junto a população local de Pelotas.
Objetivo: reconhecimento e respeito para a grande
população afro descendente local, dando
visibilidade para esta cultura.
Sopapo- Chegada dos negros no
sul do Brasil
 A partir de 1725: chegada dos negros ao Rio Grande
do Sul para trabalhar como escravos nas construções,
nas plantações, na lida doméstica, na extração de
couros, na lida com animais. Depois firmaram-se
como mão de obra principal nas charqueadas (abate).

 Charque (uma carne salgada e seca ao sol): atividade


econômica, o gado abatido era revestido com carne
de sal para sua conservação e posterior revenda,
sobretudo na mineração das Minas Gerais do Ouro.
Charqueados
 Região de Pelotas (segunda metade do século 18):
dezenas desses estabelecimentos,

 Em um lugar em que eram abatidos cerca de 300 a


600 cabeças de gado por dia em cada charqueada,
sendo que existiam 21 estabelecimentos, os negros
duravam, em média, de sete a oito anos de vida.
Lenda do Gafanhoto
 Sempre que havia a praga do gafanhoto na plantação, os
negros ligados ao plantio eram castigados pelos senhores
donos das fazendas.

 Certa vez, diante da iminência da chuva com seus trovões,


uma nuvem de gafanhotos que ia na direção da lavoura se
assustou e recuou.

 A partir disso, negros adotam o sopapo para afugentar os


gafanhotos, já que o grande tambor com seu timbre grave
inconfundível reproduz de certo modo o som do trovão, o
que acabava por afugentar os gafanhotos.
Sopapo: o tambor afrogaúcho
Tambor de grandes dimensões, originalmente
construído com troncos de árvore e couro de cavalo.

Encontrado em Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre

Inicialmente ligado ao contexto religioso, depois é


usado em ambientes profanos (carnaval)

Origem: tambor recriado nas charqueadas do Rio


Grande do Sul ,após a diáspora africana, o que
colaborou para o reconhecimento da contribuição
Dança de Negros , Aquarela de Herman Hudolf Wendroth, século XIX
Registro visual mais antigo da presença do tambor de sopapo no estado do Rio Grande do Sul.
Sopapo- Samba Gaúcho
“ Quando era criança, eu ouvia que Pelotas tinha o terceiro maior
carnaval do Brasil, só perdendo para o do Rio de Janeiro e de Recife.
Várias gerações cresceram ouvindo esta afirmativa. No meu
entendimento, na década de 1960,apesar de assistir ao vivo e ouvir
o som daquele tambor enorme, não podia me passar a cabeça que
ele fosse o responsável pelo caráter distintivo do samba que era
feito na cidade. E que nome estranho que ele tinha. Sopapo!
Sopapo era algo que ninguém desejava, - um tapa. Esse era o único
significado. Mas, não foi difícil entender o porquê do nome, pois era
tapeando que se tocava o instrumento”.
Sopapo
 O Sopapo fazia o papel do surdo de terceira, responsável pelo
“molho”, o “redobre” que conferia uma característica única ao
samba gaúcho em função do som grave e inconfundível do
instrumento.

 1928 e 1929 -o carnaval na forma moderna de desfiles é oficializado


no Rio de Janeiro .Em 1930 (governo de Getúlio Vargas,) a
identidade nacional se afirma, tendo o samba como matriz cultural
da brasilidade.

 Final da década de 1930 e durante a década de 1940: Sopapo


solidifica-se no carnaval gaúcho nas cidades de Rio Grande e Pelotas

 1950: chega a Porto Alegre através de grupo de pelotenses . Nasce


a Academia de Samba Praiana em Porto Alegre (escola de samba)
em 1960.
Desaparecimento do Sopapo

 Transformações do carnaval em todo o país (televisão divulga


para todo o país o desfile “oficial” das escolas de samba do Rio
de Janeiro (carioquização do samba gaúcho entre 1970 e
1980).

 Sambas de enredo cada vez mais acelerados, eletrificação da


harmonia (maior massa sonora das baterias) deixam pouco
espaço para as sutis intervenções do Sopapo e Cabobu (ritmo
mais cadenciado e em andamento moderado).

 Substituição pelo surdo (o sopapo perde espaço nas baterias


para os instrumentos industrializados)
Ressurgimento do Sopapo
 Final 1990: projeto Cabobu (Encontro dos Tambores do Sul), idealizado pelo
músico Giba Giba.

 Sigla CABOBU: em homenagem aos carnavalescos Cacaio, Boto e Bucha.

 Pesquisa dos ritmos usados nos antigos carnavais- Cabobu (ritmo mais
cadenciado e em andamento moderado).

 Oficinas (Mestre Baptista ): 40 instrumentos confeccionados e distribuídos para


músicos, entidades carnavalescas (escolas de samba), grupos de dança afro.

 Após o Cabobu: Migração de contexto ( do carnaval para a música popular e


dança afro)- garantiu a sobrevivência do instrumento.

 Tornou-se símbolo significativo da resistência negra no Rio Grande do Sul.


Conclusões
 A identidade negra gaúcha é caracterizada pela busca
da visibilidade cultural e luta pela superação de
preconceitos

 Escravos formaram quilombos e negros livres criaram


clubes sociais e associações carnavalescas, que se
tranformaram em locais de organizações e resistência
(criações de jornais porta-vozes das causas dos negros
à transformação do carnaval burguês europeu em
uma festa marcada pelos ritmos de origem africana).

 Ideia errônea de que no Rio Grande do Sul não tem


negro (sempre houve uma identidade forte e atuante )
Conclusões
 Sopapo: conferiu sonoridade própria ao samba gaúcho,
distinguindo-o assim do samba feito no Rio de Janeiro.
Papel central na afirmação da identidade negra gaúcha(link
direto com os ancestrais das charqueadas), traz o
reconhecimento da contribuição afrodescendente à
construção do estado do Rio Grande do Sul.

 O projeto Cabobou: um dos momentos de maior visibilidade


na trajetória de lutas do movimento negro no extremo sul do
Brasil.

 Grupos como Odara e Serrote Preto, que buscam ligações


com a África representam a expressão dessa identidade.
Video
 Documentário reduzido (O Grande Tambor) https://
www.youtube.com/watch?v=e58pQPThowQ
 Documentário completo (O Grande Tambor)
 https://www.youtube.com/watch?v=xIL6Hfq4ZTw
 Trilha Sonora do Documentário
 https://www.youtube.com/watch?v=8e-qhbqEGik

 https://www.youtube.com/watch?v=9RlT2oFZESA
com/watch?v=bq2iV8zIuME

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