Você está na página 1de 15

CONCEITOS

FUNDAMENTAIS EM
GESTALT-TERAPIA
Débora Lourenço
CRP 16/5256
■ Esse módulo se propõe a apresentar a conceituação teórica da Gestalt-
terapia, tarefa um tanto complexa, pois os conceitos são inter-relacionados e,
eventualmente, até se sobrepõem.

■ No entanto, por questões didáticas abordaremos alguns conceitos para


melhor entendimento. Em nosso entendimento, conceitos não são estruturas
fixas, mas um mapeamento da maneira como podem oferecer embasamento
teórico e prático àquele que adota a Gestalt-terapia como possibilidade de
orientação e compreensão existencial.

■ Sabemos que a Gestalt-terapia incorporou saberes de outras teorias, como a


psicanálise, a teoria reichiana e o Budismo, e que Perls de algum modo,
reaproveita e transforma em seu jeito peculiar de vê-Ias..
 TEORIAS DE BASE
 Psicologia da Gestalt: Figura e fundo; formação e destruição de figura; fronteira de contato;
parte, e todo; totalidade; Gestalt; experimento; bloqueio do contato; contato; ciclo do contato;
necessidade; polaridade.
 Teoria de Campo: Campo; fronteira de contato; parte e todo; totalidade; Gestalt; experimento;
figura e fundo; formação e destruição de figura; necessidade; polaridade; ciclo do contato;
contato; bloqueio do contato.
 Teoria Holística: Auto-regulação organísmica; totalidade; Gestalt; figura e fundo; formação e
destruição de figura; fronteira do contato; necessidade; contato; ciclo do contato; bloqueio do
contato; polaridade.
 FILOSOFIAS DE BASE
 Humanismo: Cuidado; diálogo; presença; corpo; ipseidade; self; contato; bloqueio do contato;
awareness; polaridade; Gestalt.
 Existencialismo: Essência e existência; corpo; ipseidade; self; contato; ciclo do contato;
bloqueio do contato; awareness; aqui e agora; agressividade; Gestalt.
 Fenomenologia: Essência e existência; fenômeno; corpo; aqui e agora; ipseidade; experimento;
Gestalt; self; contato; ciclo do contato; bloqueio do contato; agressividade
AGRESSIVIDADE
■ Agressividade é um processo humano, inato, que provoca na
pessoa uma complexa sensação de expansão, de ir além de si
mesma, de correr riscos, de ampliar limites, de terminar o
começado.
■ É um instinto a favor da vida que mora em cada um de nós,
trabalhando em dois níveis: um silencioso, interno, que cuida da
energia de autorrealização, provocando o organismo a atualizar-se
a cada instante; e outro, externo, atento a responder aos estímulos
que vêm de fora e possam ser ameaçadores do equilíbrio da
pessoa.
■ Adoecemos quando usamos mal o instinto de agressividade. A
depressão, por exemplo, é uma típica situação de perda da
agressividade diante das dificuldades que o mundo nos apresenta
e diante das quais perdemos a capacidade de reagir.
AQUI E AGORA
■ A realidade é aqui e agora, não é delegável nem ao passado e
nem ao futuro. O que está acontecendo, agora, é o que tinha
que acontecer, tanto que está acontecendo.
■ Tudo está contido no agora, apresenta uma concepção de
tempo, que não é a do tempo linear, trabalha com a ideia de
presente e passado presentificados. Todas as “gestalten
inacabadas” estão de certa forma “prontas” para emergir no
aqui-agora do momento vivido.
>>> NÃO VAMOS AO PASSADO, SE PRECISO O PASSADO
VEM NO MEU AQUI E AGORA <<<

A intervenção do psicólogo nesta abordagem também é centrada na


atualidade, no que emerge, no que está acontecendo – podemos perguntar
“o que se passa aqui-agora?”  e não porquê. Por isso se trabalha a partir de
uma atitude descritiva, por exemplo: solicitar que o paciente descreva o
que sente, como pensa, como vê e assim por diante, assim estaremos
ajudando-o a tornar-se mais consciente de si.
AJUSTAMENTO
CRIATIVO
■ Ajustamento criativo é o processo pelo qual o corpo-pessoa, usando sua
espontaneidade instintiva, encontra em si, no meio ambiente ou em
ambos soluções disponíveis, às vezes aparentemente não claras, de se
autorregular
■ Ajustar-se significa usar soluções antigas, presentes e disponíveis no
organismo, buscar novas ou permitir ao organismo encontrá-las no
contato corpo-meio ambiente, para que o viver seja funcional e viável.
■ Viver exige um ajustamento criativo permanente.
■ O ajustamento criativo é a mais importante função de prevenção
primária do organismo. Ajusta-se instintivamente, não espera para
funcionar. Ajustar-se é um instinto natural do organismo no meio e do
meio. Em sua prevenção secundária, o organismo interfere quando
alguma de suas partes está pedindo socorro. Em sua função terciária, o
organismo já está diante da doença, afinal sua capacidade de controle
sempre pode sair dos limites e ele não conseguir se ajustar a tempo (as
vezes necessário a utilização da intervenção medicamentosa)
AWARENESS
■ Uma palavra de difícil tradução, que pode ser entendida como consciência da própria consciência
ou como um processo pelo qual me torno consciente de minha própria consciência, aqui e agora,
no mundo.
■ Trata-se de uma consciência de apreensão de totalidades, como se todo meu serse resumisse em
um único ato de cognição emocional. Não é algo puramente cognitivo, é a expressão vivenciada e
consciente de que somos seres de relação, em um profundo dar-se conta por meio de uma sensação
de integração de todas as minhas partes em um único ato de percepção interna.
■ Awareness, o estar consciente de que se está consciente, não como um ato cognitivo apenas, mas
como algo integrador e transformador. É um momento de síntese emocional, no qual parte e todo,
figura e fundo se transformam em parte-todo, figura-fundo, desaparecendo o objeto na
subjetividade emocional do sujeito. Awareness é um momento de encontro com minha totalidade.
■ Awareness, portanto, é mais que estar atento, é mais
ou diferente de estar consciente. É um dar-se conta,
um olhar para dentro, final e conclusivo, a partir do
qual dificilmente passarei pelo mesmo lugar com a
mesma roupagem intelectiva e emocional

■ Awareness é um caminho de mudança, um processo


de integração harmoniosa pessoa-mundo de tal
modo que fica na pessoa a sensação de fim de linha,
de chegada de uma longa e difícil viagem, e,
sobretudo, uma sensação de completude, de um
chão fecundo em que as sementes já podem
germinar.
■ A Gestalt-terapia faz do conceito de contato sua autodefinição instrumental e
essencial.
■ Trabalhar o contato nas e das pessoas no mundo é o caminho a fim de que a
relação cliente-terapeuta tenha visibilidade e se torne funcional e operacional.
Mediante a observação cuidadosa de como as pessoas fazem contato, poder-se-á
chegar a perceber quem elas são.
■ O contato é, portanto, o existencial que nos leva à essência mesma da pessoa, na
medida em que mostra como as pessoas fazem suas escolhas e por meio delas
revelam o mais íntimo de seu ser. É do contato consigo mesmo que nascem todas
as possibilidades de contatos com o mundo.
■ O contato inclui a experiência consciente do aqui-agora, envolve uma sensação
clara de estar em, de estar com, de estar para e cria algo diferente do sujeito e do
objeto (pessoa ou coisa) com o qual está em relação.
CONTATO
■ Estar em contato não é apenas prestar atenção ao outro, é penetrar em seus
sentidos e significados. Não estarei em contato com ele usando apenas
minhas introjeções. Só estarei, de fato, em contato com ele quando nos
incluirmos um no outro por meio de nossa intersubjetividade.
■ A essência do contato está na entrega, em compartilhar conscientemente, na
liberdade de querer perceber, pois não perceber o que os sentidos já
enviaram à minha consciência implica um não perceber mais filtrado e, por
conseguinte, mais psicodinamicamente comprometido com a realidade
negada.
■ o contato - sua profundidade ou consistência - é determinado pela relação de
necessidade que o sujeito, sentindo-se no mundo, faz entre ele e o mundo.
Sua essência não está nem lá nem cá, está no entre
FIGURA E FUNDO
■ Conceito central da teoria.
■ Percebemos as coisas de forma integrada, organizada, não
percebemos os elementos de uma situação desordenados entre
si. Esta lei é válida para qualquer percepção, mesmo as
conceituais, pois o pensamento é um prolongamento da
percepção, um não está subordinado ao outro. São apenas
atributos diferentes do mesmo psiquismo. Na GT relacionamos
a figura com a experiência do primeiro plano e o fundo
■ Quando digo figura-fundo, refiro-me a uma relação de
reciprocidade, na qual não se distingue o que é fundo do que é
figura. Estamos diante de uma realidade vista sob o prisma de
um único olhar. Falamos de uma realidade na qual sujeito e
objeto se incluem recíproca e dinamicamente. Existe uma
interdependência tal entre o observador e a coisa observada que
não se pode afirmar que um é causa do outro, conquanto talvez
se possa dizer que um é ocasião para que o outro emerja de uma
totalidade circunstante.
GESTALT
INACABADA/INCOMPLETA

■ Está ligada a ideia de uma situação que ficou em


aberto, isso quer dizer, uma situação onde o contato
foi interrompido em algum momento do processo.
“Toda experiência fica suspensa até que a pessoa
possa concluir. A maioria dos indivíduos tem uma
grande capacidade para situações inacabadas;
■ Não obstante, embora se possa tolerar uma
quantidade considerável de experiências inacabadas,
estes movimentos não completados buscam um
complemento e, quando se tornam suficientemente
poderosos, o indivíduo é envolvido por
preocupações, comportamentos compulsivos,
cuidados, energia opressiva e muitas atividades auto
frustrantes;
PARTE E TODO – PARTE – TODO
■ Isso significa uma integração de partes em oposição à soma do “todo”. O todo é mais
que a soma das partes, ou seja, o todo não é mera soma das partes. Estas partes
formam um todo dinâmico, integrado e interdependente.
Ex: as notas que formam a melodia, isto é, a melodia é um todo organizado e não
a soma das notas que a compõe

■ A tendência do organismo é ver a realidade como um todo, captá-la como um todo. As


coisas se oferecem por inteiro à nossa percepção. Quando contemplamos a realidade,
vemos, ao mesmo tempo, como totalidades inúmeras coisas como objeto de nossa
percepção. Em um segundo momento, e dependendo de nossas necessidades,
começamos a observar as partes que compõem o objeto sob observação.
POLARIDADE

Nossas verdadeiras batalhas não são entre pessoa e pessoa, mas entre o igual e o
diferente, entre a rotina e a possibilidade nova, que se debatem dentro de nós

Processo pelo qual duas realidades, aparentemente opostas, colocam-se uma diante da
outra a fim de se excluir mutuamente, como se uma fosse o oposto da outra.

É possível pensar em polaridade do ponto de vista objetivo quando duas realidades


externas, de fato, se excluem - por exemplo, preto e branco. Também é possível pensar
em polaridade como duas realidades quase idênticas, na razão em que,
concomitantemente, ambas se afastam de um ponto zero, começando a se distanciar uma
da outra - por exemplo, escuro e claro. Pode-se, ainda, pensar em polaridade
expressando emoções polares - por exemplo, amor e ódio
PROCESSO
■ Não é estático, mas sim dinâmico
■ “é uma mudança ou uma transformação em
um objeto ou organismo, na qual uma
qualidade consistente ou uma direção podem
ser discernidas.
■ Um processo é sempre, em algum sentido,
ativo; algo está acontecendo. Ele contrasta
com a estrutura ou a forma de organização
daquilo que muda, cuja estrutura é concebida
para ser relativamente estática, a despeito da
mudança processual.”

Você também pode gostar