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Fundamentos de Análise do

Comportamento
Conteúdo: Liberdade e Comportamento Humano
Bibliografia base: Capítulo 2: Liberdade de Skinner, B. F. O Mito da
Liberdade. São Paulo: Summus, 1983.

2022
O que é liberdade? O que é ser livre?
Livre-arbítrio: já vimos como grande parte desta
filosofia é incompatível com o determinismo de
uma ciência do comportamento humano.

O rato, quando pressiona a barra para conseguir o


alimento, é livre?
A criança, quando emite um mando, é livre?
O aluno, ao escolher seu curso de graduação, é
livre?
Liberdade é tradicionalmente entendida
como ausência de controle. Isso é possível,
segundo a Análise do Comportamento?

Enquanto conceito no senso comum:


• Controle = manipulação.

Enquanto conceito técnico da A.C.:


• Controle = relação de influência entre
eventos ambientais e resposta. Relações
de contingência.
Liberdade = fazer o que eu quero.
O que é querer? Mas da onde vem o querer?
“Uma das primeiras formas de ação verbal que as crianças aprendem é ‘eu
quero X’. Como mando, ela é reforçada com X ou com a oportunidade de agir
de forma a conseguir X. Raquel diz a sua mãe que quer um doce, e sua mãe lhe
dá o doce ou lhe diz para pegá-lo.” (BAUM, 2006, p. 192)
Querer é desejar algo, é estar inclinado a agir de forma a obter essa coisa. Essa
coisa é um reforçador e o querer – a tendência – ocorre em um contexto em
que houve reforço no passado.
E o querer algo novo? Ex: Querer ir para o Caribe.
O controle é inegável, inerente ao comportamento. Quando falamos de
liberdade, estamos falando de controle aversivo. Mas e o controle por
reforçamento positivo? É possível haver exploração ou manipulação por
controle de reforçamento positivo?
Luta pela sobrevivência: livrar-se de contatos prejudiciais (estímulos aversivos).
“Os reforçadores negativos denominam-se aversivos no sentido de que constituem
aquilo de que os organismos ‘fogem’”(Skinner, 1983, p. 26)

Comportamento Reflexo:
• Espirrar, vomitar, piscar, retirar uma parte do corpo, etc.
Comportamento Operante (fuga e esquiva):
• Evitar o sol, evitar trabalho pesado, evitar doenças, fugir de predadores, etc.

“Uma grande parte da tecnologia física é resultado desta luta pela liberdade.”
(Skinner, 1983, p. 26) Estamos livres de extremos de temperaturas, fontes de
infecção, trabalho pesado e perigoso e outros desconfortos.
Uma importante luta pela liberdade é quando a fonte de estímulos aversivos são
geradas pelas pessoas, de forma intencional ou não.

Podemos pensar em vários contextos e escalas de interações sociais em que há a


estimulação aversiva.

Estimulação aversiva não intencional: pessoa chata; um fumante; alguém que


abraça ou enconsta sem consentimento, etc.

Estimulação aversiva intencional: feitor que utiliza o chicote contra o escravizado; o


pai que reclama do filho; um criminoso que aponta uma arma para sua vítima, etc.
Como já vimos, o uso de controle aversivo pode produzir contracontrole: ou seja,
comportamento que evita o controle administrado por um agente controlador. Respostas de
contracontrole englobam fugir ou atacar o controle aversivo.

Fugir da escravidão, escapar ou emigrar de um governo, matar aulas, fugir de casa ou


renunciar à uma cultura.

Outra forma é atacar: o filho que enfrenta o pai, um povo que derruba um governo, um
adepto que reforma uma igreja e um estudante que agride um professor ou depreda uma
escola.
• O hippie, o vagabundo, o revoltado, o individualista são produtos de uma cultura que não
trouxeram benefícios para eles.
• O que geralmente ocorre em resposta ao contracontrole? Maior uso de estímulos aversivos
ou o emprego de estímulos aversivos mais poderosos por parte dos controladores.
Existem dois agravantes nas situações de controle aversivo:
1) Quem é machucado geralmente machuca 2) os agentes controladores
podem ser difíceis de serem identificados.
“Se dois organismos que, até então, coexistiam de modo pacífico, recebem choques
dolorosos, imediatamente apresentam padrões característicos de agressão ou em relação
ao outro. O comportamento agressivo não é necessariamente dirigido em direção à fonte
real de estimulação; pode ser ‘deslocado’ para qualquer outra pessoa ou objeto
conveniente.” (Skinner, 1983, p. 27)

Ex:
• Pessoas que brigam no trânsito;

• disputa por comida em situações de escassez;

• a pessoa deprimida que se torna irritada.


Literatura da liberdade: textos, panfletos, manifestos e discursos de cunho político-
social, religioso e filosófico para induzir as pessoas a escapar ou atacar os que
procuram controla-las aversivamente.
São Regras, pois é produto de um falante que afeta o comportamento de quem
entra em contato com essa literatura. Indica as condições de exploração e incitam
as pessoas a agirem sabendo das características da relação de exploração. Os vilões
comuns desta literatura são tiranos, padres, generais, capitalistas, professores
severos e pais dominadores.
Elas tiveram um papel fundamental durante a história humana

“Modelos de comportamento também são fornecidos por ela [literatura da


liberdade]. Não demonstra muito interesse pelo mecanismo de fuga, talvez por este
não exigir conselho: ao contrário, tem enfatizado meios de enfraquecer ou destruir o
poder controlador, condenados ao ostracismo ou assassinados. A legitimidade de um
governo deve ser questionada. A capacidade de uma instituição religiosa de servir de
intérprete de sanções sobrenaturais deve também ser desafiada. Greves e boicotes
precisam ser organizados para enfraquecer o poder econômico que sustenta práticas
aversivas. O argumento é reforçado exortando-se a uma ação, descrevendo-se
resultados, como forma de testemunho e procuração, e assim por diante.” (Skinner,
1983, p. 28)
Porém, aqui vem a crítica de Skinner:
Objeto de análise da literatura da liberdade: ausência de controle aversivo
com ênfase nos sentimentos.
Ser livre = fazer o que se quer.
“A literatura da liberdade nunca afrontou de fato as técnicas de controle não
geradoras de fuga ou contra-ataque, porque sempre tratou do problema em
termos de estados de espírito e sentimentos.” (Skinner, 1983, p. 32)
E formas de controle intencional ou exploração que não geram sentimentos
“negativos”?
Com o desenvolvimento de novas práticas culturais e novas tecnologias, as
contingências mantidas pelas culturas foram mudando.
O trabalho escravo foi substituído pelo trabalho assalariado. As punições e
humilhações da sala de aula foram substituídas pelo reconhecimento e
acolhimento. As religiões substituíram as ameaças do fogo do inferno pelo amor
de Deus e promessas de paraíso.
O controle aversivo é marcado por sentimentos como medo, culpa, alívio,
ansiedade.
Em grande parte, o reforço positivo cria relações propícias para sentimentos de
amor, reconhecimento, prazer, alegria, etc.
Porém, existem controles intencionais e que podem ser exploratórios que se
utilizam do reforçamento positivo.
O uso de reforçamento positivo no controle intencional do comportamento humano:
• Chances do reforço positivo ser “falso”.

Ex: Mentiras e falsas promessas; dinheiro falso ou cheque sem fundo; elogios
e reforços sociais forçados/ensaiados.
• Chances do reforçamento não ser proporcional ao custo da resposta.

Ex: Pagamento por peças ou quantidade de trabalho; relações afetivas que não
são equilibradas.
• Chances dos reforçadores positivos trazerem consequências aversivas retardadas,
que aparecem somente a longo prazo.
Ex: Jogos de azar; fumar; um trabalho bem remunerado mas que te afasta dos
seus sonhos.
“É melhor ser um escravo consciente do
que um escravo feliz” (Skinner, 1983, p. 34)

“O escravo precisa ser consciente de sua


miséria e a verdadeira ameaça é o sistema
de escravidão tão bem planejado de modo
a não gerar revolta” (Skinner, 1983, p. 34)
A cultura é um esforço de autocontrole no sentido de criação de práticas para
diminuir o apelo dos reforços positivos imediatos.
Ex: políticas e ações antifumo; práticas de prevenções em saúde (vacina).

“Aqueles que manipulam o comportamento humano são considerados homens


maus, necessariamente inclinados à exploração. O controle seria claramente o
oposto da liberdade, e, se liberdade é boa, o controle deve ser ruim” (Skinner, 1983,
p. 35)
Grande crítica ao Behaviorismo Radical

Caráter pragmático da ciência para Skinner:


Emprego da investigação comportamental sob olhar científico e propostas de
intervenções.

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