Você está na página 1de 2

Observe uma bela planície e por longas horas,

simplesmente desseque as impressões, mastigue


uma rosa e agrade um cacto, cante uma canção,
erga os braços em cintilantes gestos e vomite no
gramado; leve o busto de Deméter a um ponto
onde lhe seja possível nada ver a não ser a
luminosidade solar, conduza uma valsa impudica
movida por blasfêmias e heresias, beije a lua e
quebre uma taça de cristal sob o fogo, pinte a face
com símbolos tribais, dance continuamente num
sincronismo sem dimensões e formas, recrie o
sabá, o negro Aquelarre, evoque sua força
instintiva, sua Vontade-Primal, perceba cada lento
movimento de suas moléculas, usufrua dos genes,
das células. Permaneça com os olhos fechados
enquanto maneja o Athame, banhe seus olhos com
o sangue do sacrifício, abra a unidade ao meio,
como um hímen a romper-se; toque nos lábios de
Danúbio, mastigue em ferocidade insaciável a
rósea carne, o fruto rubro. Adormeça e venha para
os braços de Osíris, põe fogo e quebre uma
guitarra, incendeie as tendas da maquinaria, do
veleiro de aço, abandone seu mundinho e interaja
com o cosmos, enterre-se na cova de raízes
profundas, tudo parecerá soluçar, rir ou chorar; a
dubiedade encontra sua aureola de cores, Janus
embriagada faz mímica diante de ti; repouse sobre
o túmulo, seque a garrafa de whisky, bonecas e
vodu não lhe deixarão feliz, cante a voz da coruja,
encante os olhos da naja, una suas cinzas as cinzas
da fênix, banhe-se por fim, com o líquido amniótico
de uma fera de dentes serrados. Fúnebre tradição
ímpia, caborge suicida. Eleve seu campo de visão a
um mosaico tridimensional, cozinhe as cores no
caldeirão encefálico, a alquimia acontecerá
naturalmente na perfeita supremacia dos
movimentos, cuspa na cruz, envenene-se de tanta
vida, estará preparado ao seu lado o drinque
panacéico da morte.
Comece o dia com a claridade noturna, negra
aurora, arauto obscuro; está satisfeito com o
próprio caixão? Múmias estão a lhe vigiar, montado
num esplendoroso corcel de prata, tens diamantes
pregados aos olhos e esfinges tatuadas às costas.
Acorde, abra os olhos e apenas sinta o vazio do
ambiente, o silêncio ablator, a brisa dulcíflua que o
envolve, apare as mãos e receba o aval para
transitar livremente sobre a imaginação.

Trecho da Obra Manifesto Post-Mortem, Corpus Oberonicum


Por Myccdjinn & Oberon

Você também pode gostar