Proponho-vos para descontrair, no fim de semana, um poema do meu amigo José
Raposo. Vejam se conseguem descobrir o enigma da sua profissão.
De manhã todo aprumado
Sempre dentro do horário Chega à botica emproado O Sr. José, o boticário Começa por verificar Se está tudo preparado Para o trabalho começar Liga aqui, liga acolá, o moderno computador Tudo com muita atenção Passa os olhos pelo balcão Para ver se está arrumado Liga o ar condicionado E antes de abrir a porta A balança vai ligar Mas, como já é costume, começa logo a espirrar Muitas vezes sem parar E com tal intensidade Que, para dizer a verdade, Às vezes até mete dó Julga-se que seja do pó Mas ninguém pode afirmar Lá fora, antes da hora, Já o cliente espreita Traz na mão uma receita Decerto para aviar Parece estar compressa E com vontade de entrar Começa assim o dia de um homem no seu posto Sempre rindo e brincando Raramente mal disposto Há quem diga que é encanto E as horas vão passando e ele sem dar por nada Entre um riso e uma piada Clientes aconselha Um com ferida na orelha Outro nervoso e com tiques Uma mulher com chiliques Outro dos calos sofria Um outro com mau-olhado E passado mais um bocado Um outro que tem azia E com grande alarido Entra num repente A mulher mais o marido Que tinha prisão de ventre E para acabar em beleza Este dia de trabalho Entra então um sujeito, Com um ar atrapalhado Talvez mesmo envergonhado Com uma conversa sem jeito Não sabia explicar aquilo que pretendia E quanto mais explicava Mais ele se atrapalhava O Sr. José lá foi ouvindo Sempre com muita atenção E com certa paciência Chegou à conclusão Que o remédio pretendido Era então um comprimido Para a força de potência