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Qualquer poeta desde que decide escrever sobre uma dor que sente, deve procurar representa-la.

alis o processo recomendado pelo escritor clssico. No caso de Fernando Pessoa no poeta clssico, a inteligibilidade no se tornava mot d ordre da representao que se propunha. O carter distintivo das obras de Fernando Pessoa d-se quando apresenta as suas dores num poema que nada deve ao mtodo da clareza racional. A transformao a que sujeita a sua dor, mimando-a, fingindo-a, representando-a, apenas muda o plano onde essa dor dar-se. A dor fingida de modo to parecida a original que o poeta ao fingir a torna mais real que a dor fingida. Prepara o acesso fruio impessoal das dores que a poesia proporciona ao leitor. Um leitor nunca entra em contacto com a dor que o poeta exprime nos seus poemas. A dor real, essa fica na carne do poeta, no chega a poesia. A dor que a poesia transmite aquela que o leitor no sente. O corao no passa de um entretenimento da razo, girando, mecnico, pelas calhas fixas que o mundo do convencionalismo emotivo onde decorre a existncia ordinria de cada um de ns.

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