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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA


Assessoria
ESTADO Especial
DO RIO de GRANDE
Inteligência
DOdeSUL
Sinais
SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA
Assessoria Especial de Inteligência de Sinais

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA
Assessoria Especial de Inteligência de Sinais

PROJETO NEMESIS

1
Segundo a Mitologia Grega,

“Nemesis era a deusa do destino e da fúria di-

vina contra os mortais que desrespeitavam as leis. Representava

a inteligência, a força ríspida e implacável, que não estava sub-

metida aos ditames do Olímpio. Suas sanções tinham a intenção

de deixar claro aos homens, que devido a sua condição, não pode-

riam ser excessivamente afortunados. Ela castigava aqueles que

cometiam crimes e ficavam impunes e recompensava aqueles que

sofriam injustamente ou não tinham boa sorte.”

1
O NEMESIS

O Nemesis consiste em um processo metodológico de

Inteligência de Segurança Pública projetado e desenvolvido pela Assessoria

Especial de Inteligência e Análise de Sinais da Secretaria da Segurança Pú-

blica do Estado do Rio Grande do Sul, executado em conjunto com o Poder

Judiciário e o Ministério Público Gaúchos, visando à exploração de grandes

quantidades de dados e registros extraídos da transmissão de Estações

Rádio Base – ERBs 1 que dão cobertura celular em estabelecimentos prisio-

nais, na busca de padrões consistentes e/ou relacionamentos sistemáticos

entre os sinais.

OBJETIVOS

• Identificar os Aparelhos Celular presentes em Ambientes Prisionais,

através de seus IMEI’s 2 (GSM) 3 ou ESN’s 4 (TDMA) 5, indistintamente

da tecnologia de transmissão utilizada.

• Estabelecer a conexão dos Grupos Criminosos atuantes nos Estabeleci-

mentos Prisionais e o seu vínculo com os Grupos Criminosos Externos

determinando a sua conjuntura e dinâmica.

1
Estação fixa de SMC usada para radiocomunicação com estações móveis
2
International Mobile Equipment Identity ou identificação Internacional de Equipamento Móvel.
3 Global System for Mobile Communication
4
Electronic Serial Number ou Numero de Série Eletrônico
5 Time Division Multiple Access

2
• Bloquear o sinal ou promover a sua interceptação.

“O celular é uma arma mortal.”


(Jornal Zero Hora, 22/12/2006, p. 66)
Considerações Iniciais

É notório que a utilização de aparelhos de telefonia

celular dentro dos estabelecimentos penais traduz-se em risco grave à or-

dem e à segurança pública.

Isso pôde ser verificado de forma explícita durante a

rebelião provocada pelo PCC (Primeiro Comando da Capital), que manteve

o Estado mais poderoso da federação refém de sua atuação, mediante o

comando realizado do interior dos presídios paulistas por meio de telefo-

nes celulares. E, no nosso Estado, não é diferente.

Conforme reportagem do Jornal Zero Hora, em anexo,

veiculada no dia 22 p.p., “O celular é uma arma mortal. Por meio dele, uma

empresa do crime se estabeleceu no Rio Grande do Sul a partir de presídios

e com articulação junto a integrantes da facção criminosa paulista Primeira

Comando da Capital (PCC), conforme evidencia investigação concluída

por policiais gaúchos. Dentro da prisão mais segura do Estado, a Penitenci-

ária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), “ ... o toque do telefone móvel

significa que um crime está sendo ordenado ...”.

Todavia, este fato representa apenas o paroxismo de

um contexto bastante mais complexo. Como é sabido, a utilização de apa-

relhos celulares é prática antiga dentro dos presídios gaúchos, diversas in-

3
vestigações foram realizadas com base em interceptações telefônicas, cujos

aparelhos celulares se encontravam no interior de Penitenciárias.

Estima-se que existam centenas de telefones celulares

no sistema penitenciário abrangido pelo eixo Porto Alegre-Charqueadas,

sendo que a utilização primordial é para a coordenação da atividade crimi-

nosa fora dos Presídios, desde ações de tráfico de drogas até assaltos a car-

ros - forte.

Tal circunstância acaba por gerar uma situação que é

informada com o eufemismo “retrabalho”, representando a expressão o

fato, cada vez mais comum, de ser necessário efetuar a prisão do preso. Em

análise mais acurada, tem-se que a situação de manutenção de telefones

celulares em presídios é a própria falência da ação estatal em punir os cri-

minosos, pois apenas se consegue retirá-los do convívio normal, mas per-

mite-se que continuem a gerenciar suas organizações de dentro dos estabe-

lecimentos penais.

Alguns estados têm utilizado em alguns presídios os

comercialmente conhecidos bloqueadores de celular. Equipamentos caros e

com altas taxa de obsolescência face a constante evolução tecnológica do

setor de telecomunicação. Com eficácia duvidosa e com desvantagem de

também bloquear o sinal de celulares ativos fora da área prisional prejudi-

cando a população civil, os bloqueadores acabam afetando a população

lindeira aos muros prisionais e prejudicando as operações policiais que se

utilizam da interceptação telefônica para a produção do conhecimento.

Decorrente disso ficam os reclusos com total liberdade

para o gerenciamento de seus comparsas em liberdade.

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Diante desse contexto de paralisia estatal e absoluta

leniência perante as organizações criminosas é necessário o recurso à tecno-

logia, crendo-se que a mesma evolução humana que gerou a possibilidade

de comunicação, tornará possível que se empeça o acesso dos presos à co-

municação externa por meio de telefonia celular.

Assim, considerando-se que toda a conexão de telefo-

nia celular se dá por meio de antenas (ERBs – Estações Rádio-Base) inde-

pendente da tecnologia utilizada, onde se estabelece um tráfego de infor-

mações a fim de que possa ser efetivada a ligação.

Como as ERBs são poucas, estão posicionadas em lo-

cais estratégicos, e tendo-se acesso ao tráfego de sinais entre as antenas e

aplicando-se a Metodologia de Análise Sinais desenvolvida por esta Asses-

soria e por meio de premissas de inteligência pré-estabelecidas, tornou-se

possível determinar quais dos telefones celulares que utilizaram aquela an-

tena e se encontram operando dentro de um presídio, excluído desta forma

os riscos de bloqueio de telefones móveis que se encontram nas cercanias

dos estabelecimentos, bem como foi possível através da Metodologia de

Análise de Sinais distinguir que determinado numero telefônico ou apare-

lho esteja em poder de um Detento ou Funcionário de determinado Estabe-

lecimento Penal.

Conforme Relatório da Comissão Parlamentar

de Inquérito – CPI, do congresso nacional recentemente concluída e desti-

nada a investigar as Organizações Criminosas do Tráfico de Armas, em

Novembro de 2006 - Pag. 96, diz que:

5
“Uma das preocupações da CPI do Tráfico de Armas,

desde a sua instalação, foi traçar um diagnóstico da logística

de comunicação das organizações criminosas - primordial-

mente daqueles mais ligados ao tráfico. Durante as investi-

gações, ganhou relevância o estudo dos mecanismos utiliza-

dos por lideranças criminosas sob custódia que, apesar de es-

tarem em estabelecimentos prisionais, conseguiam enviar

suas ordens e coordenar diversas ações externas aos presí-

dios.

Além disso, acontecimentos como a onda de violência

e de ataques da organização criminosa Primeiro Comando da

Capital (PCC) nos Estados de São Paulo, Espírito Santo,

Mato Grosso do Sul e outros, ocorrida no mês de maio, refor-

çaram essa linha de investigações. As investigações prelimi-

nares da polícia demonstraram que a organização dos ata-

ques e a ordem para o início das ações do PCC contra o cida-

dão e o poder público partiram de dentro de estabelecimentos

prisionais. E o principal instrumento de comunicação utili-

zado pelas lideranças da facção criminosa foi o telefone sem

fio, como os quais puderam orquestrar a onda de atentados

que assolou vários estados. “

Ainda, na continuação do referido relatório na sua

Pag. 97, diz que:

“Note-se que do projeto inicial"bloqueio de celulares", a-

vançou-se para algo mais amplo - "controle das comunica-

6
ções e seu bloqueio". Esse segundo tema foi escolhido como o

eixo a guiar as discussões do Grupo de Trabalho, que deveria

discutir as diferentes técnicas e soluções que poderiam ser

aplicadas para o alcance desse fim. É verdade que não se pode

negar que a tecnologia celular é a mais utilizada para a reali-

zação de comunicações em presídio, e esse foi o tema princi-

pal de todas as discussões do grupo. No entanto devemos

ressaltar que justamente esta tecnologia permite a ação dos

serviços de inteligência das Secretarias de Segurança através

de monitoramento e escuta. Somente em 2005 foram atendi-

das mais de 1.200.000 solicitações de autoridades que permi-

tiram a atuação destas no combate ao crime organizado. Mas

há que se ter em mente que ela é apenas uma dentre diversas

outras formas que podem ser utilizadas por presidiários para

se comunicarem com o exterior de estabelecimentos prisio-

nais. E mesmo quando falamos exclusivamente sobre celula-

res, na verdade não existe uma, e sim várias tecnologias, o

que já exigiria por si só uma visão, do ponto de vista tecno-

lógica, bem mais abrangente. ”

No Rio Grande do Sul, em setembro de 2006, uma o-

peradora de telefonia procurou a SJS através da Assessoria de Inteligência

da SUSEPE6 relatando a preocupação com o crescimento de ligações em

antenas especificas do Complexo Penitenciário de Charqueadas, principal-

7
mente aquelas originadas de números pertencentes ao sistema Ruralcell,

que pela sua natureza de transmissão não deveriam estar presentes sequer,

naquele município. Foi então que através do gráfico de sinalização da Esta-

ção de Charqueadas verificou-se um significativo aumento de transmissão

celular a partir do dia 13 de maio de 2006 – dia das mães, que se melhor

analisado, coincide com as datas seqüentes das ações criminosas promovi-

das em massa no Estado de São Paulo pelo PPC.

Em caráter experimental, inicialmente buscamos a-

poio junto ao Ministério Publico para solicitar perante a Vara de Execuções

Criminais de Porto Alegre a quebra do sigilo das ERBs de Charqueadas

junto às concessionárias de telefonia e concorrentemente, o repasse de in-

formações técnicas que nos oportunizasse verificar com maior exatidão

qual o padrão de transmissão utilizado na região e assim podermos compa-

rar com o universo de informações provenientes das ERBs.

Assim através do Sistema Nexus foi possível mapear a


organização das quadrilhas, conforme quadro abaixo:

Grafo do Software Nexus visualizando as conexões:

6 Superintendencia dos Serviços Penitenciários do Estado do Rio Grande do Sul

8
Imagem de satélite obtida a través do Google Earth,

mostrando a localização dos Estabelecimentos Penais que compõe o Com-

plexo de Charqueadas.

Reconhecimento do local através de fotografias aéreas obtidas com o so-

brevôo do Município de Charqueadas, com o apoio do Grupamento Polici-

al Militar Aéreo – GPMA, mostrando localização da ERB com seus vérti-

9
ces aproximando de cobertura e ao fundo localização dos Estabelecimento

Prisionais do Complexo de Charqueadas .

Análise do “Plot7” de Freqüência do Complexo Peni-

tenciário de Charquead s -RS

7 Plot de cobertura é a representação gráfica da freqüência e potencia das ERBS.

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Metodologia de Inteligência e “data mining” 8 empregada

1ª Fase

• Procedimento de Extração

• Procedimento de Categorização

• Procedimento de Análise Comportamental – Premissas de Inteli-

gência

2ª Fase

• Aplicação de Redutores de Complexibilidade

• Identificação de Rotinas de Sinais – Atributos e Parâmetros

• Data Mining ou Mineração de Dados – Aplicação do Nexus.

8 Mineração de dados, ou data mining, é o processo de análise de conjuntos de dados que tem por objeti-
vo a descoberta de padrões interessantes e que possam representar informações úteis. Um padrão pode
ser definido como sendo uma afirmação sobre uma distribuição probabilística. Estes padrões podem ser

expressos principalmente na forma de regras, fórmulas e funções, entre outras.

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Fonte de Dados para realização para realização de Data Mi-

ning, extrato de ligações das ERBs fornecidas pelas Operado-

ras de Telefonia Móvel conforme solicitado pelo Poder Judiciá-

rio em, formato Excel.

Alguns Indicativos excludentes da utilização de celu-

lar no interior do Estabelecimento Prisional por Detento.

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Durante a realização da chamada, foi utilizado o pro-

cesso “handoff” 9 (transferência do sinal entre células e ou ERBs), indicando

assim o deslocamento do usuário fora do vértice monitorado. Ex. veículos,

transeuntes... etc....

O Celular sinaliza em ERBs diferentes. Sinal estabele-

cido com trafego de freqüência flutuante (movimento pendular), ou seja,

em determinados horários esta no vértice monitorado em outros horários

sinaliza em outra ERB. Normalmente acompanha os horários de expediente

ou horários de visitas e advogados. Assim, tem-se como hipótese que o tele-

fone pertença a funcionário ou visitante.

Alguns Indicativos de presença e utilização de celular

no interior do Estabelecimento Prisional por Detento.

• Chamadas realizadas em horários onde a vigilância visual do apenado

não exista ou é deficitária, por exemplo, horários em que o preso esteja

recolhido em sua cela.

• O telefone efetua ou recebe ligações ou mensagens de alvos e ou interlo-

cutores já interceptados..

• O telefone realiza ou recebe ligações ou mensagens de ERBs servidoras

de outros presídios, Neste caso, tem-se a indicação de outro telefone que

9 O ato de transferir uma estação móvel de um canal de voz para outro . Existem dois tipos de handoff:
Interhandoff de uma célula para outra e Intrahadoff, na mesma célula. O termo handoff foi usado inicial-
mente no sistema AMPS e depois renomeado para handover nos sistemas europeus devido a diferenças
de significado em inglês.

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esta sendo utilizado no interior de outro presídio apresentando e ampli-

ando novas conexões.

• O telefone realiza ou recebe ligações ou mensagens de ERBs servidoras

de locais de conhecida incidência crimina, geoprocessadas ex. ponto de

drogas, favelas etc...

• O telefone está cadastrado no nome de parentes ou visitantes de apena-

dos.

• O IMEI/ESN do telefone consta no Cadastro de Estações Móveis Impe-

didas – CEMI - furtado, roubado ou perdido.

• Há sinalização constante sobre a troca do número do telefone (Chip) no

mesmo IMEI – International Mobili Equipment Identity.

• Telefone apresenta perfil de utilização notoriamente acima do perfil pa-

drão dos assinantes da região/ERB. Ex.: Ligações de longa duração

• Sinal concentrador de ligações. Recebe e efetuada várias chamadas.

• O telefone realiza ligações para longas distâncias. (Estaduais, Nacionais,

Internacionais) ex. Colômbia e Paraguai

Porto Alegre, 19 de abril 2007.

HUMBERTO DE SÁ GARAY
Major - Assessor Especial da SSP

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