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OS DE PESQUISA EM ADMINISTRACAO odo sao interdependentes. Ambos buscam realizar o objetivo da ferecenclo resposta ao problema que suscitou investigacao, Consciente relagio teoria/método, este liyro elene 0 método ¢ apresenta alguns sposi¢ao do pesduiisader. A separacao da teoria dé-se aqui apenas para 8 tum livro prético, Ble estd estruturado em 22 capitutos, cada um deles do iin método diferente, por ordem alfabética. Sao cles: andlise de nilse do disciirso, analogias e metdforas, construcao de desenhos, cdo, ethiografia, fenomenologia, fotoetnografia, grounded theory, grupos téria oral, historiogralla, niapas cognitivos, mapas de associacao de do Delphi, metodologia reflexiva, netnografia, pesquisa-acao, téenieas mento, téenicas de cotstrucao, teste de evocagao de palavras € x \étodlo so explicitadés suas palavras-chaves, suas caracteristicns comio.ulilito, alem de exemplos de sei uso em pesquisas ja Na seco sobre como ufllizar sao apresentados passos bisicos Ges operacionais para oleitor. o ado a estudantes de pés-graduagao e de graduacao dos cursos de 0, Educagao e Ciencias Humanase Socias, tm cache miler ankibr | JENS OYOVULSININGY Wa VSINOSad Ad SOGOLAW Sylvia Constant Vergara METODOS DE PESQUISA EM _ ADMINISTRACAO Métodos de Pesquisa em Administragao Taine Gers “Exempla ho Prafessor Podiios F (gtys201-8028 Fax. (31)8220-7475 Eat, eatioacnghedllas com, br Sylvia Constant Vergara Métodos de Pesquisa ~ em Administragao w EDITORA ATLAS S.A. Rua Conselheiro Nébias, 1384 (Campos Elisios) 01203-904 Sao Paulo (SP) ‘Tel: (0 __ 11) 3357-9144 (PABX) ‘wwwatlasnet.com.br SAO PAULO EDITORA ATLAS S.A. - 2005 © 2004 by EDITORA ATLAS S.A. ‘Capa: Zendrio A. de Oliveira Composigdo: Formato Servigos de Editoragio $/C Leda, Dados Internacionais de Catalogagio na Publicagio (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SB Brasil) Vergara, Syvia Constant Métodos de pesquisa em administragso / Sylvia Constant Vergat Atlas, 2005, ~ Sto Paulo : Libliograts ISBN 85-2243963.X 1. Administregao ~ Pesquisa 2. Pesquisa ~Metodologia 1. Tul, 04-7735 ‘cpp-658,0072 Indices para catélogo sistematico: 1. Administrago : Pesquise : Pojetoserelatérios 658.0072 2, Pesquisa: Projets erelatéros Administragio 658.0072 ‘TODOS 0S DIREITOS RESERVADOS ~ & proibida a reprodugo total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio. A violacéo dos direitos de autor (Lei n®9.610/98) & crime ‘estabelecio pelo artigo 184 do Cédigo Penal Depésito legal na Biblioteca Nacional conforme Decreto nt 1.825, de 20 de dezembro de 1907, Impresso no Brasil/Printed in Brasil Para Lucas, que me transborda de amor o coraciio. Para Ana Paula, que me vivifica a crenca na competéncia, no cardter e nas relagdes de imensa afetividade. Sumario Apresentagdo, 9 Anilise de Contestdo, 15 Anilise do Discurso, 25 Analogias e Metaforas, 37 Construgio de Desenhos, 49 Desconstrugéo, 62 Etnografia, 72 Fenomenologia, 84 Fotoetnografia, 92 Grounded Theory, 101 10 Grupos de Foco, 111 11 Histéria Oral, 121 12 Historiografia, 130 13. Mapas Cognitivos, 142 14 Mapas de Associagao de Idéias, 157 15 Método Delphi, 172 8 utroo0s we PESQUSA EK AKasTHAGAO 16 Metodologia Reflexiva, 185 17 Netnografia, 195 18 Pesquisa-acdo, 203 19 Técnicas de Complemento, 217 20 Técnicas de Construgio, 229 21 Teste de Bvocagao de Palavras, 243 22 Triangulagao, 257 Uma Palavra Final, 267 Bibliografia, 269 Apresentagao Houve um tempo em que teoria método eram vistos, na pratica, como independentes. Em algumas instituigdes, os estudantes até dispunham de um otientador para o contetido te6rico e outro para o método de investigacao, quase sempre de base positivista. Essa percepgao de independéncia suscitava discussdes sobre o que seria mais importante: a teoria ou o método? Nao era raro encontrar posicionamentos pela prevaléneia do método, razo pela qual muitos cursos de metodologia optaram pelo ensino de métodos pontuais. A iscussdo, no entanto, hoje parece espitria, Teoria e método sdo interdependentes. Ambos buscam realizar o objeti- vo da pesquisa, seja ele descrever, explicar, descobrir, compreender, predizer determinado fenémeno. A teoria pode gerar e dar forma ao método e 0 con- trério também é verdadeiro. Ambos se nutrem, Se o resultado que uma inves- tigagdo alcanga confirma a teoria existente, o estudo pouco acrescenta a com- preenséo jé dominante de um fendmeno, embora isso também tenha 0 seu valor. Se o resultado redimensiona ow refuta a teoria, altera, significativamente, tal compreensao. E.0 método utilizado tem grande importancia nesse processo. Entenda-se aqui por método a intervencio do pesquisador, sua atividade ‘mental consciente para realizar 0 papel cognitivo da teoria, O método, como diz Morin (1996, p. 335), alimentado de “estratégia, iniciativa, invengGo, arte”, estabelece uma relagao com a teoria capaz de propiciar a ambos regenerarem- se mutuamente pela organizagdo de dados e de informacées. 0 método tam- bém aproxima o investigador do fenémeno estudado. Como Morgan (1983, p. 21) assevera, “metodologias sao esquemas de resolucio de problemas que 10 scro00s be resquisa en ADnanisrRAGKO diminuem a distancia entre a imagem sobre o fenémeno e o proprio fenéme- 1no”. Regras e procedimentos operacionalizam a posic&o epistemol6gica do pes- quisador. Este livro, consciente embora da relagio teoria/método, elege o método apresenta alguns postos & disposicio do pesquisador. A separagio, aqui, da teoria dé-se, portanto, néo por crenga epistemolégica, mas para fins didaticos. Apenas. O pesquisador certamente sabera escolher aquele método que é mais, adequado (3) teoria(s) que suporta(m) seu estado, ao problema que suscitou sua investigagao e o faré dentro de seus pressupostos epistemol6gicos. Epistemologia esté referida ao conhecimento, & crenga de como ele pode ser transmitido: se de forma tangivel, objetiva, ou se mais subjetivamente, mais baseado na experiéncia pessoal. Epistemologia positivista, por exemplo, pro= cura explicar e predizer 0 que acontece no mundo social, buscando regulati- dades e relacionamentos causais entre seus elementos constituintes (BURRELL © MORGAN, 1979). 0 método hipotético-dedutivo, um método-raiz. que abri- ga métodos pontuais, ¢ adequado & epistemologia positivista. Epistemologia antipositivista tende a rejeitar a nogdo de que a ciéncia pode gerar qualquer tipo de conhecimento objetivo (BURRELL e MORGAN, 1979). 0 método fenomenolégico, por exemplo, Ihe é adequado. Escolher corretamente o mé- todo € tarefa do pesquisador. Na escotha do método que deveria orientar sua pesquisa, Guedes (2003), por ilustracéo, percebeu a limitagao da epistemologia positivista para investigar discursos e préticas ambientais de empresas trans- nacionais no Brasil e optou pela epistemologia do realismo critico. Ela chegow & conclusdo de que os estudos sobre empresas transnacionais e questoes ambientais “produzidos no Ocidente sfio enganosos, porque simplificam ques- tes de poder e linguagem” (GUEDES, 2003, p. 38) Pesquisa realizada em trés revistas nacionais ¢ trés estrangeiras (VERGA. RA e PECI, 2003), todas de excelente reputacio, buscou descobrir se, em estu- dos organizacionais, 0 discurso de critica aos métodos tradicionais de se fazer ciéncia, isto 6, aqueles de orientagdo positivista, transformava-se em préticas de investigacio, trazendo ao campo diferentes abordagens epistemol6gicas e metodolégicas. Os resultados apontaram a predomindncia de métodos tradi- cionais, Concluimos eu e Alketa — que a aplicacao de métodos optativos em estudos organizacionais requer a construcio e a reconstrugao de outros referen- ciais, requer abrir espacos para outras epistemologias. Sem dtivida, essa con- clusdo serve também a outras éreas da Administracéo, além da drea de estu: dos organizacionais. Vocé, leitor, observard que se trata de um livro prético. Contatos com es- tudantes ¢ professores em sala de aula, em seminérios, em congressos, per- ‘mitiram-me perceber que um livro dessa natureza seria ttl. E espero que o sea. Ele estd estruturado em 22 capitulos, cada um deles apresentando um método diferente, por ordem alfabética. Vocé rapidamente perceberd que dentro de um ponesentagio 11 método podem caber outros; por isso as vezes eles esto aqui desdobrados. Alguns tém escopo mais abrangente; so raizes. Outros tém escopo mais pon- tual; séo frutos. Veja, por exemplo, que o método desconstrutivista ou a andii se do discurso estiio abrigados por um método-raiz: o reflexivo. Outro méto: dovtaiz ¢ 0 fenomenolégico, que abraca, por exemplo, o método etnogréfico, entre outros. De cada método apresento suas palavras-chave, suas caracteristicas prin- cipais, como utilizé-lo, além de explicitar seu uso em pesquisas jé publicadas. ‘A linguagem é simples e direta. Nao faz parte do livro, entre outros métodos, um muito utilizado: o survey, embora seja importante. A literatura sobre ele é bastante ampla; logo, acessé-la é tarefa fécil para o pesquisador. Bons exem- plos podem ser encontrados em Babbie (2001). Na segdo sobre como utilizar, apresento pass0s bésicos e recomendaces ‘operacionais para o leitor que vislumbra a possibilidade de eleger determina- do método para o desenvolvimento de sua pesquisa. A seqiiéncia proposta tem cardter de sugesto. Vocé poder observar que alguns passos seguem necessa- riamente uma ordem légica, como, por exemplo, a definigéo do tema e a ela- boragio do relatdrio, ou sea, primeiro e iiltimo passos de qualquer pesquisa Outros podem ocorrer fora da ordem apresentada, Ha, também, procedimen- tos que podem voltar a ocorrer durante o andamento da pesquisa. #0 caso, por exemplo, da necessidadc de sclecionar novos sujcitos para a realizagio de entrevistas adicionais ou de problemas de pesquisa que precisam ser redefinidos ap6s 0s primeiros contatos com os informantes. Por fim, sublinho que alguns _passos podem ocorrer de forma simultnea com outros. Coletar dadios por meio de observacies, por exemplo, ocorre praticamente durante toda @ permanén- cia do pesquisador em campo, esteja ele realizando entrevistas, aplicando ques- tiondrios ou utilizando outro procedimento qualquer de coleta de dados. Quanto a exemplos do uso de tal ou qual método, apresento trabalhos publicados por pesquisadores estrangeiros, mas, sobretudo, destaco aqueles realizados em mbito nacional. Temos fecundos pesquisadores também. O acesso ao conhecimento por meio da ciéncia tem na pesquisa uma ati- vidade objetiva e subjetiva, discutivel (afinal, ciéncia nao é dogma), carrega- da de reflexGes, contradigdes, sistematizagées e re-sistematizagGes (VERGARA, 2004a). Como lembra Caraga (2002), jd que ciéncia é um organismo vivo, porquanto esté impregnada da condi¢ao humana, apresenta diividas, hesita (es que s6 longa reflexo e apuramento conseguem eliminar. No entanto, logo surgem outras diividas e hesitagées a exigirem novas reflexes e apuramento. © proceso é dindmico, portanto. Aqui, apresento algumas possibilidades metodolégicas. A voce, pesquisador, cabe valer-se de sua sensiblidade e de sua flexibilidade para escolher o encaminhamento da pesquisa € trazer sta contri- uigdo ao campo. Neste sentido, ressalto os seguintes pontos: 12 uérov0s pe resquisn st apsnnisRAGhO a) a qualidade da referéncia bibliogratfica que da suporte ao seu estu- do jd sinaliza para o leitor desse estudo o quanto ele pode ou néio set instigante; ) a articulagdo entre teoria e método é de vital relevancia; ©) aabertura de sua mente de pesquisador e a sensibilidade so de fundamental importancia para sua interpretagao de fendmenos @) as conchisées a que vocé chega devem responder ao problema da investigagao e ser coerentes com a teoria e 0 método que foram por vocé utilizados; ©) quanto mais o estudo avanga no conhecimento existente, mais re- levante ele é; quanto mais voc# expde seu trabalho, seja em congressos, seja in- formalmente a pates, alunos, amigos, leitores em geral,seja formal ‘mente a revisores de revistas especializadas, mais possibilidades tem. de enriquecé-lo com base nas criticas que a ele sao feitas, Ao explicitar os critérios pata avaliacio de artigos submetidos & revista Organizacées & Sociedade, Pinho (2003) menciona que um artigo pode so- frer duas ou trés rodadas de didlogo entre autor e avaliador e 0 objetivo nao é ode desmerecer o trabalho; antes, de aperfeigod-lo. Acontece assim também em outtas revistas, Foi com o intuito de aperfeigoar o contetido deste livro que o expus pre- viamente a Eduardo Davel, brilhante parceiro académico e amigo generoso. La do Canadé, entdo, ele me ajudou a melhorar os textos. Sou muito, muito grata a.ele por isso. Também sou grata a0 Prof. Bianor Cavalcanti e & Profa. Deborah Zouain. A facilitacdo das condigées de pesquisa, pela Ebape/FGY, foi de extrema rele- Igualmente sou agradecida ao Prof. Luiz Eduardo Achutti e & Tomo Edi torial por terem permitido a reproducao das fotografias ilustrativas do méto- do fotoetnografico, Bem, leitor, aqui vai, nesta apresentagio do livro, uma palavra final: todo esforgo que voc8 possa fazer para apresentar um trabalho rigoroso, coerente, consistente e, a0 mesmo tempo, liberto de teias que possam aprisionar uma poss(vel contribuicéo maior, ¢ fundamental. Como fundamental também, jé nos alertam Alvesson e Skéldberg (2000), ¢ que voeé, pesquisador, concentre-se na reflexdo € na interpretacao dos dados no momento mesmo em que os esta coletando e apés a coleta e que o faca com a consciéncia do limite da lingua- ‘gem para gerar conhecimento com base na realidade empirica. Igualmente, que vocé tenha a consciéncia de que reflexao e interpretacio de dados estio situa- sonesewracso 13, das no campo politico, ideolégico, cultural, lingiifstico que, a cada dia, cons- trdi € reconstréi voeé, pesquisador Leituras para aprofundamento ALVESSON, Mats; SKOLDBERG, Kaj. Reflexive methodology: new vistas for qualitative research. London: Sage, 2000, BABBIE, Earl, Métodos de pesquisas de survey. Belo Horizonte: EDUFMG, 2001. BURRELL, Gibson; MORGAN, Gareth. Sociological paradigms and organi zational analysis. London: Heinemann Educational Books, 1979. CARAGA, Bento de Jesus. Conceitos fundamentais de matematica. 4. ed.» Portugal: Gradiva, 2002. GUEDES, Ana Liicia, Empresas transnacionais e questées ambientais: a abor- dagem do realismo critico. Revista Sociologia Politica. Curitiba, 20, p. 25-42, Jun. 200 MORGAN, Gareth. Beyond method: strategies for social research. London: Sage, 1983. MORIN, Edgar. Giéncia com consciéncia. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1996. PINHO, José Antonio Gomes de, Uma investigagio na avaliacio de artigos sub- ‘metidos a revista Organizacdes & Sociedade. Organizacées & Sociedade. Salvador: EAUFBA, v. 10, n® 28, p. 79-82, set./dez. 2003. ‘VERGARA, Sylvia Constant. Projetos ¢ relatérios de pesquisa em adminis- tragio. 5. ed. S40 Paulo: Atlas, 2004a. PECI, Alketa. Escolhas metodolégicas em estudos organizacionais Organizagées & Sociedade. Salvador: EAUFBA, v. 10, n° 27, p. 13-26, maio/ ago. 2003. Andlise de Contetido A andlise de contetido é considerada uma técnica para o tratamento de dads que visa identificar o que esta sendo dito a respetto de determinado tema Bardin (1977, p. 42) a define como: “um conjunto de téenicas de andlise das comunicages visando obter, por procedimentos sistemticos e objetivos de descri¢éo do contetido das mensagens, indicadores (quantitativos ou néo) que permitam a inferéncia de conhecimentos relativos &s condicdes de produgao/ recepcdo (variéveis inferidas) destas mensagens”. Pode-se dizer que a andlise de contetido tem se desenvolvido desde o inf- cio do século XX. No comeso, a técnica era aplicada, sobretudo, ao tratamento de materiais jornalisticos. Hoje, abraca também transcrigGes de entrevistas, documentos institucionais, entre outros. A disseminacio desse método se deu a partir dos estudos da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos (BARDIN, 1977). H_ Lasswell é considerado um dos pioneiros na aplicacao do método, ten- do realizado andlises de imprensa e de propaganda. Nas décadas de 40 € 50 do século XX, pesquisadores como B. Berelson e P. Lazarsfeld se dedicaram & sistematizagio das regras de andlise. A partir dos anos 60, a andlise de contet: do passou a contar com o auxilio de recursos da informdtica. A obra The gene- ral inquirer: a computer approach to content analysis in the behavioral sciences, publicada em 1966 por Stone et al., é considerada uma referéncia no que diz, respeito & andlise com auxilio de computador (BARDIN, 1977; BAUER, 2002). No ano 2004, diversos softwares para esta finalidade j4 estavam & disposicéo no mercado, tais como NUD*IST e ATLAS/ti (KELLE, 2002; TESCH, 1990). 16 strov0s ve mssoursa em auumisrRaghO A anélise de contetido admite tanto abordagens quantitativas quanto qua- litativas ou, ainda, ambas (BARDIN, 1977; FREITAS, CUNHA JR. ¢ ‘MOSCAROLA, 1996; LAVILLE e DIONNE, 1999), apesar de ter sido concebida com bai se na quantifica¢ao. # Palavras-chave Unidades de andlise Grade de andlise Categorias Freqiiéncia de elementos (se a andlise for de base quantitativa) Relevancia de elementos Presenga ou auséncia de elementos Qaqo00a0 Caracteristicas principais GF Presta-se tanto aos fins exploratérios, ou seja, de descoberta, quanto aos de verificagio, confirmando ou nao hipdteses ou suposicbes reestabelecidas. 17 Exige categorias exaustivas, mutuamente exclusivas, objetivas ¢ per- tinentes (BARDIN, 1977; FREITAS, CUNHA JR. e MOSCAROLA, 1996; LAVILLE e DIONNE, 1999). Grandes quantidades de dados podem ser tratadas, bem como ar- mazenadas com 0 auxilio de programas de computador. A interpre- taco, contudo, cabe ao pesquisador. GF Corre-se 0 risco, quando se detém nas freqiiéncias, de perder-se 0 que est ausente ou é raro (BAUER, 2002), porém relevance para a andlise do objeto em estudo. Ye Como utilizar" 1 situagio. 7 Definem-se o tema e 0 problema de pesquisa ‘A cordem aqui apresentada nfo ¢ rigid. Pode, portano, ser altereda conforme a ere avkuseo0 conteivo 17 1 Procede-se a uma revisio da literatura pertinente ao problema de investigacdo e escolhe(m)-se a(s) orientacéo(6es) tesrica(s) que daré(&o) suporte ao estudo. (0 Definem-se as suposigées para o problema sob investigacao, exceto se a pesquisa for do tipo exploratéria, Neste caso, suposigdes pode. ro ser definidas durante o andamento da pesquisa ou ao final. 1 Definem-se os meios para a coleta dos dados, conforme o tipo de pesquisa: documental ou de campo. No primeiro caso, os dados po- dem ser coletados em relat6rios, cartas ou outros documentos da organizagio, No segundo, a coleta geralmente ocorre por meio da realizagao de entrevistas abertas ou semi-estruturadas ou da apli- cagio de questionérios abertos. 1 Coletam:se os dados por meio dos instrumentos escolhi da realizado de entrevistas, procede-se & sua transcri gravadas, (0 Define-se o tipo de grade para a andlise: aberta, fechada ou mista, CF Procede-se & leitura do material selecionado durante a etapa de coleta dos dadlos (cartas, transcrigao de entrevistas, respostas a ques- tiondtios abertos). _Definem-se as unidades de andlise: palavta, expressao, frase, paré- grafo. 0 Definem-se as categorias para andlise, conforme a grade de andlise escolhida, © Grade aberta: identificam-se categorias de andlise, conforme vo surgindo ao pesquisador. Procede-se ao rearranjo das catego- rias durante o andamento da pesquisa. Estabelecem-se cate- ‘gorias finais de andlise. > Grade fechada: definemse preliminarmente as categorias per- tinentes ao objetivo da pesquisa. Identificam-se, no material se lecionado, 0s elementos a serem integrados nas categorias jé estabelecidas. © Grade mista: definem-se preliminarmente as categoria perti- nentes ao objetivo da pesquisa, porém admite-se a incluso de categorias surgidas durante o proceso de andlise. Verifica-se a necessidade de subdivisio, incluso ou exclusio de categorias. Estabelece-se o conjunto final de categorias, considerando o pos- sivel rearranjo, GF Procede-se A andlise de contetido, apoiando-se em procedimentos estatisticos, interpretativos ou ambos. CF Resgata-se o problema que suscitou a investigacao. 18 éropos pe pesquisa st aonasTeagao (3 Confrontam-se os resultados obtidos com a(s) teoria(s) que deu(ram) suporte & investigacao. 1 Formula-se a conclusio. 10 Elabora-se o relatério de pesquisa. Pode-se dizer que a andlise de contetido compreende trés etapas bésicas: (@) pré-andlise; (b) exploragao do material; (c) tratamento dos dados e inter- pretacéo (BARDIN, 197). A pré-andlise refere-se & selecao do material e & definigéo dos procedimentos a serem seguidos. A exploracéo do material diz respeito & implementagio destes procedimentos. O tratamento e a interpreta ‘fo, por sua vez, referem-se & geracio de inferéncias ¢ dos resultados da in- vestigagio. Nesta tiltima fase, suposices poderdo ser confirmadas ou nao. 0 procedimento bésico da andlise de contetido refere-se & definigéo de categorias pertinentes aos propésitos da pesquisa (TESCH, 1990). Categorias so “rubricas ou classes, as quais retinem um grupo de elementos sob um titu- lo genérico, agrupamento esse efetuado em razdo dos caracteres comuns des- tes elementos” (BARDIN, 1977, p. 117). Categorizar implica isolar elementos para, em seguida, agrupé-los. As categorias devem ser: (a) exaustivas, isto 6, devem permitir a incluso de praticamente todos os elementos, embora nem sempre isso seja possivel); (b) mutuamente exclusivas, ou seja, cada elemento 36 podera ser incluido em uma tinica categoria; (c) objetivas, isto é, definidas de maneira precisa, a fim de evitar diividas na distribuigao dos elementos; (d) pertinentes, ou seja, adequadas ao objetivo da pesquisa. Trés grades podem ser escolhidas pelo pesquisador para a defini¢do das categorias: aberta, fechada ou mista (LAVILLE e DIONNE, 1999). Na primei- ta, as categorias so definidas durante o andamento da pesquisa. é uma grade flexivel, pois permite alteragdes até que se obtenha um conjunto final. E reco: mendada para pesquisas de cunho exploratério. Na grade fechada, 0 pesqui sador recorre 4 literatura pertinente ao tema da pesquisa para formular as ca tegorias, ou seja, sfo estabelecidas a priori. Aqui, deseja-se, em geral, verificar a presenga ou a auséncia de determinados elementos. Alerta-se, contudo, para o fato de que alguns elementos podem ficar de fora da categorizacio, uma vez que a grade é rigida (LAVILLE e DIONNE, 1999). £ inapropriada para pesqui- sas exploratérias, sendo, em geral, utilizada para as do tipo descritiva e explicativa. A terceira grade incorpora caracteristicas das duas anteriores. Ca tegorias sao definidas a priori, com base na literatura, tal como na grade fe chada, Contudo, elas so mutiveis. Ao contrério da grade fechada, todos os elementos presentes nos dados coletados potlem ser considerados e, conseqiien temente, integrar as categorias A anlise pode ser amparada por procedimentos de cunho quantitativo, qualitativo ou ambos (BARDIN, 1977; GODOY, 1995; LAVILLE e DIONNE, 1999; ROESCH, 1999). Procedimentos quantitativos privilegiam as freqiién- aniuseo0 covred0 19 cias, ou seja, as ocorréncias de determinados termos ou palavras-chave no texto (BARDIN, 1977; LAVILLE e DIONNE, 1999). Os dados podem ser tratados por meio de técnicas estatisticas simples, como a analise de freqiiéncias, ou por meio de outras mais complexas, como a andlise fatorial e a andlise de variancia (BARDIN, 1977; ROESCH, 1999). Procedimentos qualitativos focalizam as peculiaridades e as relagées entre os elementos (LAVILLE e DIONNE, 1996). Enfatizam o que é significativo, relevante, o que pode nao ser necessariamen- te freqiiente no texto. A interpretacio dos resultados pode ser realizada por ‘meio do emparelhamento (pattern-matching) ou da construgéo iterativa de uma explicagio (LAVILLE e DIONNE, 1999). A primeira modalidade diz respeito & associagdo dos resultados ao referencial teérico utilizado, procedendo-se & comparacao. A segunda refere-se & construcdo de uma explicacio com base nas, relagdes entre as categorias. &, em geral, utilizada em pesquisas exploratorias, Procedimentos quantitativos e qualitativos, contudo, néo sio mutuamente excludentes. Podem ser utilizados de forma complementar, Obtidos 0s resultados, cabe ao pesquisador retornar &s suposic6es formu. ladas (se houver) e confirmé-las ou nao, conferindo as devidas explicacées Exemplos da utilizacao da andlise de conteiido (J Exemplo 1: Gestio da comunicagao organizacional Silva e Oliveira (2003) valeram-se da andlise de contetido em uma pes. quisa sobre gestio da comunicagio organizacional. Os pesquisadores discuti ram a questo da comunicacao sob uma ética instrumental, pautada na gera- fio de conformidade e obediéncia as diretrizes da organizacéo, bem como sob uma ética participativa, vista como uma arena de construcéo de significado. ‘Abordaram a necessidade de se abandonar a visdo tutelada com que o tema vem sendo tratado, em favor de uma visio participativa. Para a realizacdo da pesquisa, cujo objetivo foi identificar os aspectos que {mpactam a construcio de uma comunicagao baseada no sentido de participa: fo, foi selecionada uma empresa brasileira prestadora de servigos de infra estrutura na érea de energia. Esta empresa havia sido privatizada cerca de seis anos antes da realizacdo da pesquisa. A melhoria dos processos internos de comunicagao era tum dos grandes desafios a serem enfrentados pela empresa, nesse contexto de mudangas. Os dados foram coletados por meio de: (a) realizagéo de entrevistas seri- estruturadas com funcionérios da empresa; (b) participago dos pesquisadores, como observadores, em trés reunides da empresa; (c) pesquisa documental. Foram entrevistados 20 funciondtios de diferentes éreas e niveis hierdr Quicos. As entrevistas foram norteadas pelos seguintes tépicos: comunicacio 20 —wtranos ne resqUush Eu ADMINISTRAGKO vertical tanto no sentido da organizacio para os individuos quanto no sentido inverso; comunicacdo entre equipes; comunicagio interpessoal; meios de co- municagao utilizados. Os dados obtidos foram submetidos & andlise de contetido, com o auxitio do software ATLAS/ti, Frases e pardgrafos foram definidos como unidades de anilise. Foram identificados elementos que afetam o desenvolvimento de uma comunicagdo participativa, tendo sido agrupados nas seguintes categorias: di- retrizes gerais da organizacao; identidade organizacional e conflitos de identi- dade entre grupos; integracio entre areas; integracao pessoal; eficdcia dos meios de comunicacio institucional e interpessoal; eficdcia dos canais de co- ‘municagio das pessoas para a organizacio; relagoes hierdrquicas; caracteristi- cas predominantes na cultura e no clima organizacional, Essas categorias fo- ram obtidas a posteriori; logo, os pesquisadores valeram-se da grade de andli- se aberta, No que diz respeito as diretrizes gerais da organizagdo, os dados obtidos revelaram que, apesar de os funciondrios perceberem a necessidade de um esforco conjunto para enfrentarem os desafios aos quais a organizagao esta sujeita, ha dificuldades para o alinhamento do esforgo individual com estas, diretrizes. Entre os principais aspectos referentes a estas dificuldades, os par. ticipantes da pesquisa mencionaram: pouco conhecimento sobre a viséo da matriz. estrangeira da empresa; percepgies diversas sobre a missio c aobre a estratégia da empresa; metas fragmentadas por area, pouco claras e desatua- lizadas; definigdo das metas de modo vertical; auséncia de feedback. No que concerne a identidade organizacional e as identidades de grupos, foi possivel perceber dificuldades para se compor uma identidade organiza. cional forte, devido, em grande parte, &s mudancas pelas quais a empresa vi- nha passando. Nao obstante isso, a busca pela construgao desta identidade parecia ser uma preocupacao tanto dos dirigentes quanto dos funciondrios. Conflitos de identidade entre grupos foram também percebidos, tendo sido citados: individuos com uma viséo mais coletivista e outros mais individualis- ta; individuos que se consideram qualificados ¢ outros que sao vistos como tendo pouca qualificagdo; comportamento auténtico versus comportamento padronizado; individuos que se consideram marginalizados pela empresa e outros que parecem ter sido privilegiados; aco e carreira segundo uma lgica dde mercado versus aco e carreira dirigidas apenas para a empresa. Com relagio & integragdo entre éreas, os participantes revelaram que a auséncia de um sistema para a gestao de processos, a carga de trabalho exces- siva, a rotatividade de pessoal, o desconhecimento da missao ¢ da estratégia da empresa, entre outros fatores, dificultam a construgao de uma visio inte- grada e, conseqiientemente, 0 desenvolvimento de uma comunicagao pautada na participacio. ' pndustoo.contsino — 21 Sobre a integracao pessoal, foi possivel perceber que, apesar do clima de cordialidade, sem disputas exageradas, as relacdes eram distantes, ficando res- tritas aos assuntos de trabalho, Os contatos, quando estabelecidos, eram, em grande parte, proporcionados pela tecnologia (e-mail e telefone). Dificuldades de integracio foram citadas pelos participantes, e a empresa vinha tentando minimizé-las & época da pesquisa. Com relagio aos meios de comunicagéo institucional, a empresa utiliza- ‘va um jornal institucional, informativos on line, um informe mensal de Recur. sos Humanos, comunicados de RH e murais setoriais, Para os participantes da pesquisa, o emprego destes instrumentos era limitado tanto no que se refere & difuséo das politicas da organizacao quanto na promogio do fortalecimento da identidade dos funciondrios com a empresa No que diz respeito aos meios de comunicagio interpessoal, foram cite dos o correio eletrénico, o telefone, as reunides, o contato pessoal e, para al- guns setores, 0 rddio, Os participantes revelaram mais uma vez ser a comuni cacao formal e distante, tendo como principal meio o correio eletrénico. Sobre os canais de comunicacio das pessoas para a organizag&o, os part cipantes destacaram a érea de Recursos Humanos e a érea de Comunicagéo Social. Aspectos positivos, principalmente no que se refere & Diretoria de Re cursos Humanos, foram citados, tais como: fécil acesso aos profissionais da rea, esforcos para a aproximagao com os empregados, promogio de eventos de integracéo, entre outros. Aspectos negativos foram relacionados & falta de cl reza na divulgaco das politicas de RH, centralizacao nas iniciativas de gestao de pessoas, entre outros. No que diz respeito a estrutura hierarquica, foi posstvel perceber a distin cia entre a base e a ciipula da organizacgio, Os gerentes intermedidrios pare- ciam atuar como repassadores de informagéo do topo para a base. No que se refere as caracteristicas predominantes na cultura e no clima da organizagao, os participantes sugeriram que fatores como o carisma da or- ganizagio e sua capacidade de cativar os empregados, além da valorizagio de ‘uma viséo de resultados, afetavam positivamente o desenvolvimento de uma comunicagao voltada para a patticipacao. Por outro lado, o excesso de hierar: quia, a pouca flexibilidade de normas e rotinas, a relagéo paternalista com os empregados, entre outros fatores, pareciam prejudicar este desenvolvimento, Os resultados da pesquisa revelaram aspectos positivos e negativos que podem afetar o desenvolvimento da comunicacéo organizacional segundo uma visio participativa, Com base nesses resultados, os pesquisadores propuseram um quadro de referéncia para a gestio da comunicagio organizacional pauta do nos seguintes aspectos: referenciais, estruturais, instrumentais, relacionais e culturais. Por fim, os pesquisadores argumentaram que a gestio da comuni- ago organizacional deve perseguit a construgéo conjunta de valores a fim de 22, stdrooos pe psqUish eM ADMUNISTAAGAO fortalecer o respeito mtituo, a aproximagio das identidades, o senso de cola- boracio e orgulho de compartilhar um projeto comum. Deve, sobretudo, valorizar a contribuigéo dos individuos como sujeitos de sua acio. =, (1 Exemplo 2: Reconstrucao de identidades em momentos de mudanca organizacional processo de reconstrugio de identidades em momentos de mudanca organizacional foi objeto de estudo para Silva e Vergara (2002), em uma pes- quisa realizada em cinco organizagées brasileiras. Os pesquisadores tomaram como referéncia a premissa de que os contextos de mudanca organizacional tendem a modificar o modo pelo qual os individuos percebem 0 conjunto de relagées sociais relevantes para eles, ‘As cinco organizagées selecionadas para a pesquisa tinham passado recen- temente ou estavam passando por processos de mudanca organizacional. Fo: ram elas: (a) fundagao privada com atuacdo em pesquisa, educacdo e con- sultoria nas éreas de economia e gestio; (b) instituigdo financeira estatal; (c) empresa privatizada que atuava como concessionaria em servicos urbanos; (4) 6rgao da administracio piiblica municipal com atuagéo na fiscalizacao de ‘ributos; (e) empresa farmacéutica multinacional. Os dados foram coletados por meio da realizagio de entrevistas semi estruturadas com cerca de 15 funcionérios de cada organizacio, em um total de 75 funcionétios, O tratamento destes dados se deu por meio da andlise de contetido, com o auxilio do software ATLAS/ti. As unidades de andlise foram frases e pardgrafos. Os dados foram classificados com base nos diferentes con- ceitos abordados pelos entrevistados, entre os quais as miiltiplas relagées so- ciais e institucionais por eles visualizadas no contexto organizacional. Para a classificagéo destas relacdes, quatro categorias foram previamente definidas com base na literatura, caracterizando uma grade fechada. Séo elas: a relacdo do individuo consigo mesmo (et ¢ eu), as relagdes do individuo com o contex- to geral (eu e 0 contexto), as relacées do individuo com os outros individuos por ele consideradas como relevantes (eu ¢ os outros), as relagies estabelecidas pelos grupos com os quais o individuo mantém identidade no contexto (nds € © contexto), Os resultados da pesquisa revelaram diferentes elementos integrantes do conjunto de relacdes que afetam 0 processo de interpretacio do contexto € reconstrucéo das identidades dos individuos. Sao eles: (a) a relagao do indivi- duo consigo mesmo (eu ¢ eu); (b) a relagio do individuo com o seu trabalho (eu e 0 trabalho); (c) as relagées do individuo com os grupos com os quais possui alguma identidade (eu e os meus grupos); (d) as relagBes hierdrquicas (eu os gerentes/os subordinados); (¢) as relacdes do individuo com a cipula AnAuse po conretvo — 23 da organizagao (eu e a diretoria); (f) as relagées do individuo com os outros grupos com os quais néo mantém uma identidade forte (eu e os outros gru- pos); (g) as relagées entre os grupos com os quais o individu mantém uma identidade e os outros grupos (nds e os outros grupos); (h) as relagées entre 0s grupos com os quais 0 individuo mantém uma identidade e a instituicao (nds ¢ a organizacao); (i) as relagdes do individuo com os clientes (eu ¢ os clien- tes); (f) as relagbes do individuo com os colegas que deixaram a organizacéo por ocasido das mudancas (eu e os colegas que saftam); (1) as relaces do in- dividuo com a familia e os amigos que ndo pertencem a organizacio (eu e os entes queridos); (m) as relacdes do individuo com a instituicao (eu e a organi- zagio); (n) as relagdes do individuo com 0 mercado de trabalho (eu e o mer- cado de trabalho); (0) as relagdes do individuo com a sociedade em geral (ewea sociedade); (p) as relacdes da instituico com a sociedade (a organiza- gio ea sociedade); (q) as relacdes da instituicio com o mercado (a organi- zagio e o mercado). Para os pesquisadores, este conjunto de relagbes revela uma mistura de elementos em niveis macro e micro, demonstrando que o sentido da mudanca para os individuos ¢ construfdo pelos valores, dietrizes e regras sociais pre- sentes no contexto, bem como pelas imiimeras interagées das quais eles parti- cipam, Estes elementos parecem afetar o modo pelo qual as identidades pes- suais, coletivas e institucionais séo revonstruidas Os pesquisadores sugerem, ainda, que as organizagdes devem levar em conta um novo tipo de agenda no que diz respeito ao planejamento da gestio de mudangas, que inclui, entre outros fatores: as percepedes dos individuos acerca dlo processo; 0 impacto das mudancas para os individuos, dentro e fora da empresa; o desenvolvimento das interacoes pessoais em meio A acio; 0 desenvolvimento das relagdes de poder e a integracio entre os diferentes ni veis da hierarquia; o tratamento dado as demissbes ¢ 0 que a saida dos antigos colegas representa para os individuos remanescentes; a compreensao dos in- dividuos acerca da missao institucional. Por fim, o conjunto de relacdes apre- sentado suscita outras possibilidades para estudos sobre comunicagio e mu: danca organizacional, bem como sobre as supostas resisténcias dos individuos & mudanga organizacional. Leituras para aprofundamento BARDIN, Laurence. Andlise de contetido. Lisboa: Edigoes 70, 1977. BAUER, Martin W. Andlise de contetido cldssica: uma revisdo. In: BAUER, Martin W.; GASKELL, George (Ed.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem som: um manual pratico. Petrépolis: Vozes, 2002. 24 érovos De pesquisa ex aDueusTRAGAO FREITAS, Henrique M. R. de; CUNHAJR., Marcus V. M. da; MOSCAROLA, Jean, Pelo resgate de alguns principios da andlise de contetido: aplicagio préti- ca qualitativa em marketing. Porto Alegre: UFRGS/FCE/PPGA, 1996.17 p. (Série Documentos para Estudo, PPGA/UFRGS, n? 5/96). GODOY, Arilda S. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Admi- nistragao de Empresas. Sao Paulo: Fundacao Getulio Vargas, v. 35, n® 3, p. 20-29, maio/jun, 1995. 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Arelagiio entre os participantes de um discurso pode, contudo, ir além do esquema emissor-receptor. Explorar o sentido do discurso demanda, enti, reconhecer outros personagens: 0 locutor, o enunciador, 0 alocutor e os desti- natérios (BALLALAI, 1989). O primeiro refere-se ao autor da fala. O enunciador, também conhecido como animador, é aquele que profere uma seqiiéncia de palavras. A fala, neste caso, nio é sua. O alocutor é 0 individuo a quem o dis- curso € ditgido, isto ¢, 0 verdadeito destinatério da mensagem. Os destinaté- ros, por sta vez, sao ouvintes, pacientes dos atos. A andlise do discurso compreende diferentes abordagens. Em linhas ge- rais, consideram-se duas grandes escolas: a anglo-saxa e a francesa (CABRAL, 1999; PEREIRA, 1991). A primeira refere-se a uma perspectiva pragmatica, ‘enquanto a segunda diz respeito & perspectiva ideoldgica. Maingueneau (1998) situa a andlise do discurso no entrecruzamento das ciéneias humanas. Com relacdo as abordagens, observa que nos Estados Unidos a andlise do discurso é 26 —_érov0s pe resquisa st anusTRAghO ‘marcada pela antropologia, enquanto na Franca hi uma orientagéo de cunho lingiistico, marcada pela psicandlise. Diferentes enfoques assumidos pela andlise do discurso foram discutidos por Ballalai (1989): a pragmatica, a teoria da argumentacéo e a teoria da in terrogacdo e do questionamento, No Ambito da pragmatica, busca-se o senti- do do discurso, em func do seu caréter utilitrio, de sua utilizagdo em um determinado contexto. Com relacéo a teoria da argumentacao, assume-se a perspectiva de agio sobre 0 outro, de modo explicto ou impliito. No ambito da teoria da interrogacdo e do questionamento, busca-se identificar o sentido de um discurso, definindo-se a questo da qual ele se origina, Gill (2002), por sua vez, assevera que hé intimeras abordagens de andli- se do discurso, porém sugere que se pense em termos de tradigdes tedricas amplas, tais como: (a) lingiistica critica, semiética social ou critica, estudos de linguagem, (b) teoria do ato da fala, etnometodologia e andlise da conver- sagio, (c) pds-estruturalismo. No ambito dos estudos organizacionais, Putnam e Fairhurst (2001) apre- sentam oito categorias de andlise da linguagem: (a) sociolingtifstica, (b) and- lise da conversagao, (c) lingifstica cognitiva, (d) pragmitica, (e) semistica, (f) andlise literdria e retérica, (g) estudos criticos da linguagem, (h) andlise pés- modema da linguagem. A sociolingiiistica trata a linguagem como um sistema de eddigos, no qual comunidades ogauiizacionais definem suas identidades e relagdes. A andlise da conversacio, por sua vez, enfatiza a estrutura da lingua. A ingiiistica cognitiva, ao contrério da andlise da conversacéo, privilegia a li gacio entre formas de discurso e usuarios de lingua, Esta perspectiva aborda © estudo de padrdes do diseurso que emergem de processos mentais. A prag- matica, por seu turno, é um termo amplo, tratado, muitas vezes, como uma abordagem genérica para diversas perspectivas do discurso. Incorpora tanto a forma lingiistica quanto o contexto comunicativo do discurso. Privilegia ca. racteristicas contextuais e trata 0 discurso como aciio e interagao simbdlica em comunidades de fala. A semidtica esta centrada em sistemas de signos, isto 6, da conjugacio arbitréria de um significante (componente material) e um sig nificado (conceito, idéia), Esta perspectiva amplia o foco dos estudos da lin- ‘guagem, ineluindo cécligos no verbais, imagens e objetos. A perspectiva lite- aria eretérica, por sua vez, focaliza simbolos ao invés de signos. Simbolos so “um tipo de signo em que a relagao entre o significante e o significado é pura mente arbitrézia, ou convencional, por exemplo, uma rosa vermelha significan- do amor” (BAUER e GASKELL, 2002, p. 512). Realga o significado e elemen- tos contextuais da linguagem, ao invés de cédigos e caracteristicas estruturais. ‘Ao contrario das abordagens anteriores, que tratam a linguagem por meio de determinados métodos de anilise do discurso, os estudos criticos da linguagem centram-se no discurso e na sociedade. Por fim, na andlise pés-moderna da lin- guagem, temas como poder e resisténcia so vistos como dominantes. sviuse po vscurso 27 A anilise do discurso presta-se a0 leitor cujo objetivo de pesquisa no descarta 0 contetido, ou seja, 0 que est sendo dito sobre determinado tema, mas vai além, Investiga como o contetido € usado para o alcance de determi: nados efeitos. Assim, se é importante verificar a forma pela qual se diz alguma coisa, a andlise do discurso é recomendada como método de pesquisa; se, a0 contrério, basta verificar o que se fala, a andlise de contetido parece vidvel. Esta envolve categorias (processo mais ou menos mecinico de categotizagao), en- quanto a andlise do discutso busca identificar como 0s participantes cons- troem e empregam categorias em sua fala, jd que o discurso pode ter miltiplas fungdes e significados (WOOD e KROGER, 2000). A anilise do discurso compreende diversas abordagens e exige sensibili dade do pesquisador para captar e interpretar a subjetividade do pesquisado. As caracteristicas e os procedimentos apresentados neste capitulo, contudo, so basicos. # Palavras-chave Pratica social Locutor, entincindores, alocutor, destinatarios Destinaridade, isto é, a quem se destina Contexto interpretativo Intencionalidade do discurso ‘Mensagens explicitas ou implicitas Qo000a0Q0 Caracteristicas principais _Permite reconhecer o significado tanto do que esté explicito na men- sagem quanto do que esta implicito; portanto, nao s6 o que se fala, ‘mas como se fala. 1 Permite identificar como se dé a interacdo entre membros de uma organizacao: a participacéo, o processo de negociagio, as manifes- tagdes de poder. _ Um de seus pontos-chave é a destinaridade, ou seja, o receptor. 1 Aanilise do discurso é uma interpretago do discurso produzido por outros. Hé de considerar-se, portanto, a subjetividade do pesquisa- dor. 28 —_éro0os be pesquisa wx aDwanisTRAGAO Exige do pesquisador habilidade para registrar os recursos utiliza- dos pelos participantes para intensificar ou mitigar 0 que esta sen- do dito, pata observar aspectos comportamentais emergentes du- rante o discurso, bem como para registrar fatos relacionados & si- tuagio estudada.* ¢ Como utilizar? 0 Definem-se o tema e o problema de pesquisa. 1 Procede-se a uma revisdo da literatura pertinente ao problema de investigagio e escolhe(m)-se a(s) orientago(Ges) tedrica(s) que daré(Go) suporte ao estudo. GF Define-se o tipo de material a ser considerado como fonte de da- dos para a pesquisa: textos, gravacées de entrevistas, reuniées, con- versas telefnicas ou outras situagées de interagio social. No caso de dados provenientes de entrevistas ou de reunides: © Realizam-se as entrevistas ou patticipa-se das reuniées. © Registra-se 0 contetido literal das entrevistas ou das reuniées, utilizando se gravagSea em éudio. © Registram-se aspectos paralingtifsticos e ndo verbais, em notas de campo. © Procede-se & audigdo das gravag6es, antes de dar infcio a trans- crigho. © Transcreve-se o contetido das entrevistas ou das reunives, va- endo-se de critérios de convencao de transcrigéo. 0 No caso de dados provenientes de conversas telefonicas (no ambi- to de um Call Center, por exemplo): selecionam-se previamente as interagées a serem analisadas. 7 Procede-se a leitura das transcrigées das entrevistas, reunies, con- versas telefénicas ou dos textos selecionados, tantas vezes quantas © pesquisador julgar necessario, _Kdentificam-se as primeiras idéias relativas a0 texto, 1 _ Vergara, Bastos e Gomes (2004), ewla pesquisa & apresentada no exemplo 2 deste capftulo, registraram o fato de que as operedoras de televendas tentarem adiar uma reunifo ‘que esava com seu inicio atrasado em mais de uma hora, alegando que petderiam o énibus. A solcitagao ndo fo aeita pelo Gerente de Venda, 2. Acordem aqui apresentada ndo ¢ rida. Pode, portant, ser alterada conforme a situagéo. soduseoo piscunso 29 ( Identificam-se os pontos-chaves do discurso: como o emissor se pro- jeta, que referéncias utiliza, como se dirige ao receptor, como a lin- guagem é empregada, que dimensdes enfatiza, como se dé a comu. nicagdo ou a argumentacdo (que elementos utiliza. (0 Identificam-se nos dados padrées, isto é, relagées entre caracteris- ticas do discurso, bem como variabilidades, ou seja, diferencas en- tre discursos de diferentes individuos e entre discursos de um mes- mo individuo, Descrevem-se detalhadamente e analisam-se os elementos identi- ficados. Resgata-se 0 problema que suscitou a investigacio, Confrontam-se os resultados obtidos com a(s) teoria(s) que deu(ram) suporte & investigacao. : Formulase a conclusio. Elabora-se o relatério de pesquisa, o0 aoa Para analisar 0 discurso, é importante levar em considerago néio sé os aspectos verbais ou lingiisticos, como, também, os paraverbais ou paralin- giisticos, bem como os nao verbais. Aspectos paraverbais referem-se As pau- sus, & entonayao, as hesitagbes, Aspectos nao Verbais dizem respeito aos ges- tos, aos olhares, & postura corporal, & distncia entre os participantes. Ao ana- lisar materiais provenientes de entrevistas ou reuniées, 0 pesquisador deve considerar as transcrigées, bem como as notas de campo resultantes de suas observagées. ‘As transcrigées devem ser realizadas na integra, sem cortes, corregdes ou interpretagGes iniciais. Deve-se preservar a fala dos participantes. Sugere-se que 0 relatério de pesquisa inclua fragments, trechos do ma- terial analisado, de modo a ilustrar a interpretagéo do pesquisador. # impor- tante, ainda, registrar os critérios de convencao de transcrigao estabelecidos, de modo a facilitar o entendimento do leitor. Pode-se utilizar, por exemplo, a versio apresentada por Wood e Kroger (2000). Exemplos da utilizagao da andlise do discurso (J Exemplo 1: Atendimento prestado por uma empresa de seguiro-satide aos seus usuirios A relacio entre uma empresa de seguro-saide e seus usuarios foi inves- tigada por Oliveira e Bastos (2001) com base no estudo de narrativas 30 érooos De rssquish a ADMAISTRAGKO construidas pelos usuarios e as respectivas respostas fornecidas pela empresa A pesquisa teve como objetivo investigar como a interacio usudrio/empresa é modelada pela construgo de identidade e afetada pela representagio do que 6 um tratamento justo para cada uma das partes. As pesquisadoras destacaram a identidade, entendida como o proceso de expor e interpretar posigdes sociais, afliagdes, papéis e starus, como um pon: to central para o estudo das narrativas. Se, por um lado, para a empresa, a satide é vista como uma atividade comercial, norteada por um contrato que define direitos e deveres de ambas as partes, por outro, para o usudrio, ela é um di- reito, devendo o atendimento ser guiado pelas suas necessidades pessoais. I ‘com base em cada uma das representagdes que os participantes da interago constroem seu discurso. Os dados foram coletados nas correspondéncias (texto) trocadas pelos usuarios e pela empresa, representada pelo servico de atendimento ao cliente. Este servico era realizado, na época em que os dados foram coletados, por seis funciondrias, responsdveis pelo atendimento telefénico e pelas correspondén- cias dos usuarios, em geral, referentes a reclamagGes ou solicitagées. Duas correspondéncias e suas respectivas cartas-resposta foram selecio- nadas para andlise. A primeira tratava de uma solicitagao de anistia de dividas contraidas pelo titular, para tratamento do filho, uma vez que nao havia co- bertura para a situago ocorrida. A segunda referia-se a uma reclamacao pelo mau atendimento prestado por um credenciado. O discurso dos dois usuarios, foi analisado com foco: (a) na identidade dos narradores (afiliagbes sociais, sgerenciamento de imagem positiva, alinhamentos e sentimentos de incluso/ exclusao nos grupos sociais referidos); (b) 0s fatos e suas evidéncias, bem como a carga dramatica presente nos relatos. Os dois discursos apoiaram-se na ar- gumentagao para o aleance dos seus objetivos. Na primeira carta, o autor do discurso apresenta um replaying, ou seja, sua versio da experiéncia como pai cujo filho sofreu um acidente, pagador e, agora, devedor do seguro-satide. Explicita em seu discurso afiliagbes a catego- rias sociais, colocando-se como pobre (“no tenho bens’, “ndo tinha dinheiro para pagar as passagens”, “o pouco dinheiro que tinha era para alimentagéo”, “meu saldrio de funciondrio piblico ndo a para pagar a divida”), velho (‘ndo tenho condigdes de pegar em peso, pois sou velho”) e doente (“tenho problemas de coluna”). Apresenta em seu discurso, de forma indireta, atributos socialmente aceitos, mostrando-se um pai dedicado, responsével, generoso e humilde. A evidéncia dos fatos relatados é fornecida por meio de referéncias: nome de hospitais, cidades, termos médicos e datas. A carga dramética do discurso corresponde & propria situacao apresentada: o acidente do filho. A dimensio do drama pode ser observada pela ordenacio dos fatos relatados. Entretanto, thé uma tinica referéncia explicita 4 emocio: seu desespero devido A doenga do filho, associada ao aumento das despesas e & displicéncia dos médicos, awiusepociscunso 31 0 autor do discurso entende como tratamento justo o cancelamento de suas dividas em virtude de suas necessidades pessoais. Esse é 0 objetivo do discurso, Na segunda carta, a autora do discurso relata seu sofrimento devido ao atendimento médico do qual foi vitima, Seu discurso nao foi construfdo com base em afiliagdes a categorias sociais ou referencias ao exercicio de papéis no Ambito familiar. Apresenta-se, entretanto, como uma trabalhadora consciente e responsdvel (“tinka hordrio no dia em que eu podia sair mais cedo do traba- Iho}, cujas decisdes so baseadas em razées objetivas (“como eu ndo tinha cheque para pagar a anestesia procurei outro estabelecimento que ndo me atra- sasse tanto”, “resolvi fazer no Hospital X porque tinka hordrio no dia...”). Mos- tra-se uma pessoa corajosa e determinada, capaz de protestar e denunciar (“néo me calarei diante de tal brutalidade”). Seu desespero, devido ao atendimento desumano ("a Dra. XZ ndo esperou que eu dormisse e mesmo assim fez o exame G expresso de forma explicita, com evidéncias dos fatos (“eu gritava, chorava. Sua narrativa € dramética. Explictar sua indignagéo, cobrando providéncias, € 0 prOprio objetivo do discurso. A andlise das duas cartas revelou que os locutores ou autores do discurso enfatizam as dimensGes pessoais de suas identidades. Além disso, ambos assu: mem que organizacées s4o pessoas, sendo a primeira carta dirigida ao pr dente e a segunda ao médieo auditor. A segunda, contudo, agradece e soli providéncias & organizacio. A resposta da empresa & primeira carta tratou a narrativa de sofrimento do autor como um relato de problemas. Foi objetiva, mencionando as respon- sabilidades assumidas pelo autor e demonstrando a ilegitimidade do pedido. A-empresa mostrouw-se guiada por regras claras que justificavam a cobranca. No segundo caso, a narrativa é tratada como fato. A empresa foi formal e distante. Além disso, néo se via como co-responsével pelo atendimento. Ape nas comunicou & usuéria o descredenciamento da clinica, A anélise das cartas-resposta tevelou a disténcia da empresa com relacéo aos assuntos relatados pelos usuarios, bem como uma interagéo formal e pa- . Acesso: 2 ul 2004. HASSARD, John. Postmodernism, philusupliy and management: concepts and controversies. International Journal of Management Reviews, v. 1, n? 2, p 171-195, June 1999, KILDUFF, Martin. Deconstructing organizations. Academy of Management Review, v. 18, n® 1, p. 13-31, Jan. 1993. LENGLER, Jorge F. B.; VIEIRA, Marcelo Milano F.; FACHIN, Roberto C. Um exercicio de desconstrucio do conceito e da prética de segmentagio de mer- cado inspirado em Woody Allen. 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Organization Studies, v. 15, n° 1, p. 1-45, 1994, Etnografia 0 método etnografico, originado no campo da Antropologia, consiste na insercdo do pesquisador no ambiente, no dia-a-dia do grupo investigado. Os dados sao, entéo, coletados no campo, em geral, por meio de observacéo par- ticipante e entrevistas, quase sempre semi-estruturadas. A pesquisa etnogréfica é marcada pela obra cldssica Argonautas do Paci 0 Ocidertal, ce Malinowski (1976), cuja abordagem volta-se para a perspect va de conversio, de viver como vivem os nativos. Outra abordagem antropol6- gica ¢ a de Geertz (1978), voltada para a perspectiva interpretativa, do viver com o nativo. Uma terceira corrente refere-se A abordagem pés-moderna, uma continuidade da perspectiva interpretativa. Propostas de utilizagio do método etnogréfico tém sido discutidas, nos times tempos, num contexto de aproximagio das disciplinas antropologia e administragéo (CAVEDON, 1999; JAIME JUNIOR, 1996; MASCARENHAS, 2002; SERVA e JAIME JUNIOR, 1995). Cavedon (2001) amplia essa discuss4o, a0 propor 0 uso de recursos ‘metodol6gicos e formas alternativas de emprego do método etnografico na area de administragéo. Advoga a utilizaco da fotoetnogratfia," isto é, da fotografia como recurso narrative e no, apenas, ilustrativo, uma vez que as palavras so, muitas vezes, insuficientes para descrever o objeto em estudo. O uso do imagético como forma de linguagem nos temete & Antropologia Visual. Outra 1 Sobre fotoetnografia ver Capitulo 8 rmocnia 73 sibilidade diz respeito ao estilo de redagao, no qual se inserem o estilo lite- Fario e 0 poético. si Registro interesse crescente pela perspectiva antropolégica em pesquisas demarketing (BARROS, 2002; ROCHA etal, 1999; ROSSI e SILVEIRA, 1999) Kutiizagao do método emogréfico, nesse contexto, tem contribuido para a Explicagao e a compreensao das dimensées cultura relacionadas aos merca- dos, aos produtos e aos consumidores. P. Palavras-chave Cultura ‘Transformagao do familiar em néo familiar e vice-versa Simbolos, rituais Inserco do pesquisador no mundo do grupo investigado Qgooq0gQaq0 + Caracteristicas principais 1 Possibilita uma compreensao mais ampla da atuagio dos indivi- ‘duos no ambiente organizacional, ao fornecer uma nogéo da reali- dade formal ¢ informal dos diversos niveis da organizagio (MASCARENHAS, 2002). 3 Permite identificar valores do grupo e aspectos do relacionamento centre os seus integrantes, muitas vezes despercebidos pelos gestores, das organizagoes. 10 Permite descobriro simbolismo presente no comportamento de con- ‘sumidores, muitas vezes dificil de ser identificado sem a imersdo do pesquisador no cotidiano do grupo investigado. C0 Possibilita identficar os valores caracteristicos de culturas e subeul- turas de consumo, ndo familiares no contexto global. ©) Proporciona uma visto mais abrangente da satisfacéo de consumi- ores, 20 permitiro contato com os consumidores no ambiente onde ‘0 produtos sao experimentados. 74 —wérov0s ox resouisa ma apunusTeACIO (3 Demanda tempo consideravel para a realizagao da pesquisa, devi- do & exigéncia de contato prolongado do pesquisador com 0 grupo investigado. : Exige do pesquisador um esforco intenso para minimizar os riscos da omissao ou da revelagao de dados distorcidos por parte do gru- po investigado, CF Exige sensibilidade do pesquisador para captar 0 observével. (Exige do pesquisador sensibilidade para atuar no trabalho de cam- po, para ouvir, observar e para reconhecer os momentos mais ade- quados para perguntar, dialogar. 1 Exige do pesquisador a decisao que the pareca ética e, a0 mesmo tempo, que nao distorea a realidade: apresentar-se, oul ndo, como pesquisador.? Ye Como utilizar? J Definem-se o tema ¢ 0 problema de pesquisa, 7 Procede-se a uma revisio da literatura pertinente ao problema de nvestigacdo © escullie(un)-ve (3) rientaggioGes) tedrica(s) que daré(Go) suporte ao estado, 0 Negocia-se o inicio da pesquisa de campo, ou seja, a entrada no am- biente do grupo investigado (nos casos em que hd necessidade de negociagao prévia) Iniciam-se os trabalhos em campo, com os primeiros contatos com o grupo. Coletam-se os dados por meio de observacdo simples e partici- pante. Selecionam-se os sujeitos a serem entrevistados, Coletam-se os dados por meio de entrevistas, fotografias ou outros procedimentos. Registram-se os dados em um diario de campo. Codificam-se os dados. Comparam-se os dados obtidos por meio de entrevistas, observagao € outros procedimentos utilizados. go0 ad a0 2 Para adecisio de apresensarse ou nfo como pesquisador, vr stuagSes vivenciadas por Rial (2003) e Bresler (1997). 3 Acrdem aqui apresentada nfo ¢ rgida. Pode, portanto, ser alterada conforme & situagio. mooranta 75 Analisam-se os dados. Resgata-se 0 problema que suscitou a investigagao. Confrontam-se os resultados obtidos com a(s) teoria(s) que deu(ram) suporte a investigacéo. Formula-se a conclusfo. Elabora-se 0 relatério de pesquisa. aga aaa £ comum que o pesquisador enfrente resisténcias por parte do grupo in- vestigado, 0 que exige habilidade para estabelecer e manter relagdes de con- fianga com o referido grupo. & importante registrar as primeiras impressdes acerca do grupo investi- gado: 0s jargées utilizados, os rituais praticados ou qualquer manifestacéo que provoque estranhamento 2o pesquisador. Com 0 tempo, elementos estranhos tendem a ser considerados familiares. (0s dados coletados, formal ou informalmente, por meio de observago ou entrevistas, deve ser registrados diariamente, Recomenda-se que o pesqui- sador utilize um didrio de campo a fim de manter os registros organizados. Sugere-se, ainda, gravar as entrevistas, sempre que possivel, bem como utili- zar a fotografia para apoiar a coleta de dados. Para auxiliar a andlise dos dados, ha softwares disponivets no mercado, como 0 The Ethnograph, comercializado pela Sage Publications. Exemplos da utilizagio do método etnografico (0 Exemplo 1: Etnografia em uma marcenaria (© método etnogrifico foi utilizado por Brester (1997) para analisar os simbolos e as imagens que norteavam as relacdes sociais e produtivas em uma oficina de marcenaria, ‘Admitindo a necessidade de conhecer a cultura da base hierérquica das organizagies brasileiras, o pesquisador decidiu trabathar em uma fabrica de méveis. Recebeu uma indicacéo para procurat a oficina da Chacara Cogume- Jo, na Grande So Paulo. O contato com a empresa foi estabelecido, ficando acertado o inicio do estagio. No perfodo anterior ao inicio da sua experiéncia como aprendiz de marceneiro, realizou uma revisdo bibliografica sobre pesquisa participante, indtstria moveleira e madeira, Trabalhou diariamente na ofic na, no perfodo de dezembro de 1994 a fevereiro de 1995. Sua pesquisa pros- seguiu durante os outros meses do primeiro semestre do ano de 1995, com a realizagdo de entrevistas semi-estruturadas e a verificacio das anotagées de 76 uérov0s be resquish sh ADMONsTRAGKO © pesquisedor prestou, também, consultoria informal aos donos do negécio, durante o ano de 1995. A oficina da Chécara Cogumelo era alugada, bem como as grandes mé- quinas existentes, Era gerenciada por dois sécios que trabalhavam ali, diaria- ‘mente. A empresa funcionava de maneira informal. Contava, normalmente, com cinco funcionérios, sendo trés assalariados e dois prestadores de servigo. Ha- via, ainda, outro trabalhador que ocupava as dependéncias da oficina. Era um funciondrio do proprietério do imével e das grandes méquinas. Nao havia re- gras rigidas, nem vinculo formal de trabalho. Pensando que estava usando uma roupa surrada ~ conselho de um dos sécios da marcenatia - 0 pesquisador/aprendiz de marceneiro comecou 0 seu primeiro dia de trabalho, lixando tdbuas. Nao foi apresentado aos colegas, nem recebeu treinamento. Trabalhou ¢ observou pessoas e méquinas. Constatou que no estava usando roupas surradas. Roupas surradas eram decorrentes do di a-dia de trabalho. Seus colegas estavam, todos, com o mesmo “uniforme”, rou- pas diferentes, mas igualmente surradas, simbolos de integracéo. O pesquisador logo percebeu que, na oficina, havia um ritual de troca de roupa. Seus colegas marceneiros trocavam as roupas surradas por roupas lim- pas em todos os momentos em que safam da oficina: para almocar, telefonar, comprar cigarros ou outros motivos. Era uma norma do grupo, aprendida no convivio didtio. (© pesquisador experimentou a troca de roupas para ir almocar, na segunda semana de trabalho. Naquele momento, constatou que o simples fato de tirar uma roupa surrada e vestir uma comum marcava um intervalo na jomada dis- ria, refazendo as energias para dar continuidade ao trabalho. Essa primeira troca de roupa constituiu para ele um rito de passagem para dentro da oficina. Pas sou a sentir-se parte do grupo ‘As roupas eram, ao mesmo tempo, simbolos de integragao e diferencia- 40. Nesse contexto, lembrou-se das roupas de trabalho dos médicos ¢ das empregadas domésticas. No ambiente de trabalho dos médicos, a roupa bran: ca indica a integracio. Fora dos hospitais e consultérios, o uniforme é consi- derado um simbolo de status, diferenciando o usuério das demais pessoas. Por outro lado, no caso das empregadas domésticas, os uniformes simbolizam um trabalho pouco valorizado, revelando que o usuario pertence a uma classe so- cial menos favorecida, Na oficina, o uniforme unia os trabalhadores. Fora do ambiente de trabalho, a roupa diferenciava quem a estava vestindo. Ao con- ttdrio da distingéo experimentada pelos médicos, os marceneiros, na rua, eram diferenciados “pata baixo”. Como sugeriut o pesquisador, “dependendo do do- minio, um mesmo artefato pode simbolizar diferentes significados” (BRESLER, 1997, p. 117) emocena 77 0 processo de aceitacio pelo qual passou o pesquisador foi diferente, mais demorado que o dos demais, provavelmente em virtude da proximidade com ‘s patres. Com 0 tempo, 0 pesquisador foi aceito, pasando dos olhares res- tritos aos sorrisos de cumplicidade. Entretanto, algumas distancias continus- ram a existir, 0 que no estranho em estudos etnogréficos. Indagado sobre a sua hist6ria, revelou ser professor e pesquisador, estando ali como um apren- diz, para aprender a trabalhar com a madeira. O convivio didrio revelou, ainda, a relagao dos trabalhadores com a figu- rado pai". As relagées na oficina eram semelhantes ds relacées em casa, onde pai é aquele que protege e detém autoridade. Os s6cios da oficina eram con- siderados “pais” dos empregados. Da mesma forma, 0 dono do imével e das grandes méquinas, alugados por um décimo do prego de mercado que seria cobrado somente pelo galpao, era 0 “pai” dos donos do negécio. Entretanto, se desejassem fazer alguma modificacio estrutural no galpao, ou aumentar sig- nificativamente o niimero de empregados, os donos do negécio deveriam pe- dir autorizacio 20 “pai”, ou seja, a0 dono do imével. O pesquisador observou uma relagao de protecio e amparo aos “filhos” e, ao mesmo tempo, a autor dade do “pai” explicitada pela dependéncia dos “filhos”. 0s donos do negécio tinham, ainda, outro “pai”. Era o melhor cliente da oficina. Garantia mensalmente ao negécio uma entrada minima de dinheiro no caixa, Por outro lado, todos deveriam respeitar as mudangas exigidas por esse cliente Os resultados dessa experiéncia revelaram a importancia da imagem ps- tema na oficina, que servia como um modelo a ser seguido, bem como uma forma de controle. A simbologia dos uniformes foi destacada nos dois contex- tos pertinentes, revelando integracao e diferenciacéo. Para o pesquisador, as sutilezas das relagdes sociais e produtivas dentro da oficina, dificilmente seriam captadas se outro método de pesquisa tivesse sido adotado, (0 Exemplo 2: Subculturas de consumo: os new bikers 0 método emogréfico foi utilizado por Schouten e McAlexander (1995) em uma pesquisa sobre subculturas de consumo. Os pesquisadores definiram uma subcultura de consumo como um grupo distinto da sociedade, formado com base na escolha de um produto especifico, uma marca ou uma atividade. Foram destacadas outras caracteristicas de uma subcultura de consumo: a es trutura hierdrquica, os valores, os jargées, os rituais e os modos de expresso simbélica préprios. 0 grupo investigado pelos pesquisadores foi o dos new bikers, represen: tados pelos proprietdrios das motocicletas Harley-Davidson. O interesse em 78 sctronos be resquish em apuuvisteagha investigar esse grupo no se restringiu apenas ao fato de que estavam ligados, a uma mesma atividade, ou que possufam estilos de vida préprios, mas ao fato de compartilharem a “adoracéo” de um produto de uma marca especifca. A pesquisa foi desenvolvida durante trés anos. Neste periodo, os pesquisadores passatam por varios estdgios de envolvimento etnografico: (a) observagéo sim. ples, quando eram considerados outsiders, pois néo possufam motocicletas; (b) observagio participante, de modo parcial, quando adquiriram motocicletas, (ainda nfo eram Harleys) e eram considerados novatos; (c) imersdo total, quan- do adquiriram Harleys e as utilizaram como principal meio de transporte. Pas- saram, também, a utilizar roupas apropriadas. Durante o ultimo estagio — envolvimento total -, os pesquisadores alcancaram a condido de insiders, sendo gradualmente aceitos em varios subgrupos de motociclistas Harley Davidson. Os dados da pesquisa foram coletados por meio de entrevistas formais e informais, observagéo simples e participante, e fotografias. As entrevistas for ‘mais eram gravadas e, posteriormente, transcritas. Durante as entrevistas que no estavam sendo gravadas, os pesquisadores escreveram notas de campo. Os dados referentes &s observacGes e as entrevistas informais eram permanente: mente registrados em um gravador. Ao final do dia, os dados gravados eram resgatados para serem registrados sob a forma de notas de campo detalhadas. {As fotogratias contributram para “reviver a experiéncia vivide" e, também, re- sistrar visualmente o simbolismo caracteristico desta subcultura, Ajimerséo no mundo do grupo investigado permitiu a familiaridade com publicagées referentes aos diversos subgrupos de motociclistas, o que contri- buiu para a interpretacio e a triangulagao* dos dados obtides por meio de entrevistas e observacao. A proposta inicial de amostragem, que revelava um entendimento super ficial da cultura dos bikers, incluia trés grupos a sezem entrevistados: motoci- clistas, comerciantes e executivos de marketing. A medida que a coleta de da dos foi iniciada, os pesquisadores perceberam que o grupo investigado era muito ‘mais complexo do que imaginavam. A amostra era, entio, ampliada & medida que uma nova categoria de motociclistas emergia Os entrevistados foram selecionados de acordo com os diferentes subgru: os identificados no decorrer da pesquisa. Apresentavam diferencas com rela- io A idade, & classe social e ao estilo de vida. Foram entrevistades membros de varios subgrupos, bem como motociclistas que no pertenciam a nenhum. grupo organizado. Os locais de pesquisa incluiram ralis anuais, casa dos moto- ciclistas (ou, mais comumente, as garagens), concessiondrias, bares, entre outros. 4 Sobre trangulagio ver Capitulo 22 woctaria 79 Foram, ainda, entrevistados executivos da Harley-Davidson, seis comer- ciantes de motocicletas Harley-Davidson e diversos vendedores de acessorios, roupas e parafernélias em ralis. Os dados foram acumulados, codificados, comparados e categorizados em temas especificos. Cada tema foi, entio, tratado como pegas de um quebra. cabeca, que seriam posteriormente unidas, formando uma estrutura conceitual ‘Quatro temas foram identificados, quais sejam: estrutura social, valores cultu rais compartilhados, transformacao da identidade do individuo, agéo de comercializar referente a subcultura de consumo. Os resultados da pesquisa revelaram que o grupo investigado possula subgrupos com interpretagées particulares sobre os valores de sua cultura. No que se refere aos valores culturais compartilhados pelos membros do grupo, foram destacados a devogio & marca Harley-Davidson, a liberdade, o patriots mo ea reafirmago da masculinidade. A transformagao da identidade do indi iduo foi percebida & medida que o grau de integracio aos valores do grupo aumentava, Por fim, a pesquisa revelou que as empresas produtoras de moto- cicletas e acessérios utilizavam elementos simbélicos do grupo para se comu- nicar com a sociedade e atrair novos clientes, (1 Exemplo 3: Etnografia cm fast foods Rial (2003) elegeu o método etnografico para a realizacdo de uma pes quisa sobre fast foods em Paris. A pesquisa teve inicio em 1983, época em que 1 pesquisadora estudava em uma universidade francesa. Teve como objetivo analisat 0s fast foods, cadeias globais de lanches répidos, como um caso exem- plar de tentativa de multiplicacdo mundial de um padréio homogéneo e suge- rir que a ldgica e a dindmica de disseminacio planetéria podem muito revelar sobre os processos de globalizacao cultural contemporaneos. Seu interesse pelo tema nasceu devido A proliferacio dos fast foods na cidade de Paris ¢ & indignacao dos cidadaos parisienses com relacdo ao fato. Além disso, a pesquisadora ouvia freqtientemente comentarios de uma de suas colegas de universidade sobre o trabalho em fast foods, ja que a mesma trabalhava no Quick, o maior fast food na época. Havia, ainda, a possibilida- de de trabalhar em uum destes estabelecimentos, uma vez que empregavam estrangeiros. Inicialmente, a pesquisadora discutiu uma questo metodol6gica relacio nada ao campo e ao objeto da pesquisa. Argumentou que o campo deveria es tat em consonéncia com o objeto da pesquisa, sugerindo que objetos contem ordneos se rebelam contra fronteiras geogréficas precisas, No sui caso, o cam po da pesquisa fo definido como Paris e Sao Paulo. No entanto, foram realiza- das visitas e entrevistas em diversas outras cidades do mundo. Além disso, 80 uronos DePESQUISA N¢ ADMINISTAACAO observagées foram feitas onde a pesquisadora no falava a lingua local nem contava com um intérprete. Pecas publicitérias de fast foods de paises como Turquia, Grécia, Austrélia, Chile, Argentina, Itélia e Estados Unidos foram fornecidas por pessoas que a pesquisadora chamava de cagadores de guarda napos de bandeja. Muitas informagées eram disponibilizadas, Contudo, esta: ‘vam inseridas em um discurso oficial, Acessar as préticas fast foodianas nao era facil. Para a pesquisadora, lugares como fast foods exigem uma antropologia on the road, em movimento, capaz de captar esse movimento. Nesse sentido, a0 invés de uma co-residéncia, foi estabelecida a pratica da co-visita ‘A pesquisadora trabalhou durante trés meses no Quick de La Défénse, na Franga. Na época, 0 estabelecimento tinha mais de 60 empregados e produzia diariamente cerca de 6.000 hambuirgueres. Sua jomada era de dez horas por semana. ‘A insergdo da pesquisadora no Quick se dew como a de muitos que Id es tavam, ou seja, mentindo, Nao revelou aos chefes sua escolaridade nem que estaria realizando uma pesquisa. A exce¢ao ficou por conta de seus colegas de trabalho, seus maiores informantes. ‘A natureza do trabalho exigia concentragéo e preciso. Maquinas e che- fes autoritérios ditavam o ritmo do trabalho e as regras a serem seguidas. Foi assustador desde 0 inicio, ela afirma, Logo percebeu que a interagao entre os trabalhadores era um grande ponto de tensio. Em horarios de grande movimento, os caixas recebiam os pedidos, que eram repassados para os atendentes dos postos de bebidas, sanduiches, centre outros. Estes atendentes ficavam encarregados de entregar os itens pron- tos ao caixa. O modo pelo qual a orem era transmitida pelo caixa constitula, uma das maiores queixas dos atendentes, jd que muitos exigiam rapidez, em uma tentativa de “aparecet” pata os chefes. AA resposta dos fast foods a essa tensao vinha por meio de férmulas este- reotipadas. Palavras em inglés davam um toque impessoal ds ordens. Segundo 1 pesquisadora, geravam uma esquizofrenia lingifstica. Além disso, algumas cadeias contavam com a figura do “producao”, um mediador que trabalha en- te 0 caixa e os atendentes dos postos, com a fungao de prever e determinar 0 preparo de determinado nimero de sanduiches, de acordo com o niimero de pessoas na fila. Ele nao podia deixar que faltassem ou sobrassem itens. O “pro- dugio também estimula ou reprova 0s funcionatios, dependendo da situagao. Hierarquicamente, estd entre os atendentes ¢ os supervisores. ‘Uma caracteristica peculiar dos fast foods & 0 fato de cada estabelecimen- to constituir o territério de uma determinada rede de imigrantes, o que foi constatado pela pesquisadora na Franca e na Inglaterra, No Quick de La Défénse, por exemplo, os empregados eram, em sua maioria, vietnamitas € ‘malgaxes, exceto para os cargos de chefia, Um dos supervisores da cadeia de- rrvocrama 81 clarou que 0 Quick nao empregava negros nem drabes para os cargos de assis- tente e gerente. © mesmo ndo ocorria no MeDonald’s e no Burger King, na Franca. Além da interagao entre os trabalhadores, outro ponto de tensdo era a relagio dos trabalhadores com os instrumentos fast foodianos e os procedimen. tos a serem seguidos. A disciplina exigida impuinha relagées quase sédicas, di zia ela, Trabalhadores deveriam aprender a obedecer aos chefes ea trabalhar segundo a didatica dos gestos fast foodianos. Trabalhadores e méquinas deve- riam ser elos de uma mesma cadei 0 plano de distribuicao dos empregados era estabelecido, conforme a pesquisadota pode observar, de acordo com critérios subjetivos como género, etnia e aparéncia fisica. Para os atendentes, era mais um modo de os chefes se vingarem, Com relacio & padronizagio, a pesquisadora teve uma experiéncia desa- graddvel no que diz respeito aos uniformes, os mesmos, tanto para o verso quanto para o inverno, Em um dia de inverno, ao colocar sacos de lixo do lado de fora do restaurante, 0 que levava em média 20 segundos, a porta se fechou, deixando-a presa na drea de servico durante 15 minutos, sob uma temperatu: ra de~14° C. Seu uniforme era um vestido leve, de mangas curtas. Sua experincia etnografica revelou que as condigées de trabalho nos fast foods eram duras, com poucas recompensas. A visao de seus colegas franceses, contudo, nao era a mesma dos brasileiros e argentinos. O que leva as pessoas ‘a suportarem esse tipo de trabalho foi uma questi levantada pela pesquisa- dora, Brasileiros querem conhecer s méquinas e o trabalho moderno. Além disso, precisam da experiéncia do primeiro emprego. A sociabilidade interna mantém tanto brasileitos quanto franceses nos fast foods. Alguns até visitam local de trabalho nos dias de folga. Em sintese, percebeu que as pessoas traba- ham em fast foods devido ao sentimento de pertencer a um grupo, de compar: tilhar cédigos, sejam eles uniforme, linguagem ou gestos. Leituras para aprofundamento BARROS, Carla Fernanda Pereira. Marketing ¢ etnografia: um levantamento em journals dos anos 80 90. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAGAO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE POS-GRADUACAO EM ADMINISTRAGAO, 26., 2002, Salvador. Anais... Salvador: Anpad, 2002. BRESLER, Ricardo. A roupa surrada e o pai: etnografia em uma marcenaria, In: MOTTA, Fernando C. P.; CALDAS, Miguel P. (Org.). Cultura organi zacional e cultura brasileira. 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O que propicia a comipreensto de tum dado fenémeno sao as esséncias, ou seja, 0 sen- tido verdadeiro de alguma coisa (MOREIRA, 2002). A énfase da fenomenologia recai sobre 0 mundo da vida, 0 mundo cotidiano. i considerado, ao lado do metodo hipotético-dedutivo e do dialético, um dos grandes métodos de pen- samento (VERGARA, 2004a). A fenomenologia foi introduzida por Edmund Husser! (1859-1938), a partir de uma vertente conhecida como fenomenologia descritiva ou trans- cendental. Nasceu como uma perspectiva critica, uma reacdo ao positivismo € a negacdo da subjetividade. Como assevera Dartigues (1973, p. 74): “a objeti- vidade sup6s a colocagéo entre parénteses do sujeito humano e dos modos de apreensao subjetivos da realidade”. A perspectiva fenomenolégica busca “reintegrar o mundo da ciéncia ao mundo da vida" (DARTIGUES, 1973, p. 77). A partir desta abordagem, surgiram a fenomenologia realista, a constitutiva, @ existencial e a hermenéutica (MOREIRA, 2004). Esta ultima, preconizada por Martin Heidegger (1889-1976), é também conhecida como fenomenologia interpretativa, constituindo uma importante referéncia para a pesquisa empirica em administracéo, Estudos amparados pelo método de pesquisa fenomenolégico-herme- néutico buscam o resgate dos significados atribuidos pelos sujeitos ao fenémeno sob investigacdo. Hermeneutica é uma técnica de interpretagao (ABBAGNANO, 1970). Lembrando Spiegelberg, Moreira (2004) afirma que mesmo a feno- FEnoneNoLOGtA 85 menologia descritiva inclui interpretacéo. Assim, os estudos apropriam-se do conhecimento por meio do circulo compreensio-interpretagdo-nova com: preenséo (MASINI, 1991), o que revela ser essa abordagem inacabada, nio es- timulando a busca de uma verdade definitiva (CARVALHO e VERGARA, 2002). O recomecar incessante, um sinal de indefinico para os pesquisadores da cor. rente positivista, é, para os fenomendlogos, “uma maneira da fenomenologia mostrar-se em sua verdadeira tarefa e fertilidade” (MASINI, 1991, p. 66). Como método filoséfico, a fenomenologia estuda o fendmeno como ele 6 dado ao fenomendlogo. Como método cientifico, se o estuda como ele é dado no ao pesquisador, mas ao sujeito da pesquisa (MOREIRA, 2004). Conhecimentos originados no Ambito da fenomenologia podem ser explo- rados por outros enfoques, em um contexto de complementaridade de méto- os, agregando substancial contribuigdo & pesquisa em administracao, Propo- sigGes geradas por uma investigacio de cunho fenomenolégico podem ser uti- lizadas para o desenvolvimento de hipdteses testaveis, valendo-se do método hipotético-dedutivo (CARVALHO, 2003; CARVALHO e VERGARA, 2002), ?. Palavras-chave Esséncia (redugao eidética) Fendmeno Mundo da vida Compreensio, interpretacio, nova compreensio Subjetividade Experiéncia vivida pelos sujeitos Suspensiio do julgamento (epoqué ou redugio fenomenolégica) Abordagem inacabada Qo00QQ0000 * Caracteristicas principais 1 Permite explorar situacdes, valores e praticas com base na visdo de mundo dos préprios sujeitos. G Permite descobrir conhecimentos, ao invés de verificar o saber jé conceituado. 1 Os resultados da pesquisa nao sao generalizéveis estatisticamente, uma vez que se trabalha com amostras intencionais e experiéncias singulares, {86 —_ttronos pe resgunsa em ADastRAGHO (1 Exige do pesquisador habilidade para interagir com pesquisado, conduzindo a entrevista sob a forma de umn didlogo, reconduzindo a exploragio de temas no decorrer da entrevista e mantendo-se aten- to a possiveis desvios relacionados & autenticidade do relato. x Como utilizar! (1 Definem-se o tema e 0 problema de pesquisa. 1 Procede-se a uma revistio da literatura pertinente ao problema de investigacao e escolhe(m)-se a(3) orientacio(6es) teérica(s) que daré(o) suporte ao estudo. Selecionam-se os sujeitos da pesquisa. Elaboram-se questées gerais de pesquisa para orientar a coleta dos dados. 1 Coletam-se os dados, em geral, por meio da realizagio de entrevis- tas abertas ou semi-estruturadas, bem como de observacao partici- pante. 171 Transcreve-se o contetido das entrevistas, quando gravadas. Procede-se & leitura critica dos relatos. 1) Procede-se A identificagio de clusters ou grupos de analise. 1 Interpretam-se os dados da pesquisa, o que pode ser feito por meio de anélise interparticipante, ou seja, agregando a interpretago do pesquisador palavras dos préprios sujeitos. (7 Elaboram-se proposicGes relativas & pesquisa, ou seja, enunciados que permitem a compreensdo do fendmeno estudado. 7 Resgata-se o problema que suscitou a investigagio, © Confrontam-se os resultados obtidos com a(s) teoria(s) que o aa deu(ram) suporte a investigacio. Formula-se a concluséo. 1 Elabora-se o relatério de pesquisa. Nas pesquisas norteadas pelo método fenomenol6gico, a fonte essencial de dados tefere-se ao relato dos proprios sujeitos. A técnica mais utlizada para a ‘obtengéo dos dados é a entrevista aberta ou semi-estruturada, Relatos escritos ‘ou dados visuais, como os desenhos, por exemplo, produzides pelo participante 1 Ardem aqui apresentada néo é rfgida. Pode, portanto, ser alterada conform & situacto. rexowenowocn 87 também podem ser utilizados. Entretanto, técnicas estruturadas, como questio- nérios Fechados, sfo inaproptiadas (MOREIRA, 2002; VERGARA, 2004a). Com relagio a selecéo dos sujeitos da pesquisa, utilizam-se, em geral, cri térios baseados na tipicidade e na acessibilidade ou conveniéncia, como fez, por exemplo, Carvalho (2003). No que se refere ao tratamento dos daclos, a formagao de clusters ou gru- pos de andlise pode ser realizada com base em termos utilizados pelos pré- prios sujeitos da pesquisa, em padres que emergem de coincidéncias obser- vyadas nos relatos ou em padres previamente estabelecidos (CARVALHO e VER- GARA, 2002). Trechos dos relatos so, em geral,utilizados para a apresenta- fo dos resultados da pesquisa, Com relagéo nao s6 a interpretacao dos dados em particular, como tam- ‘bém ao processo de investigacéo como um todo, hi dle admitir-se a presenga da subjetividade do pesquisador. No entanto, para Husserl, o abandono, pelo pesquisador, de pressupostos e julgamentos é inerente ao método feno- menol6gico. Husserl valeu-se do termo bracketing para referir-se & suspenséo do julgamento. Trata-se de “colocar entre parénteses” “partes” que nao deixam de exist, mas que so desconsideradas temporariamente. Este procedimento édenominado epoqué (SANDERS, 1982) ou redugio fenomenoldgica ou transcendental (MOREIRA, 2004). Do ponto de vista hermenéutico, o pesqui- sador deve estar livre para compreender o que se mostra (MASINI, 1991). “Estamos livres quando sabemos dle nossos valores, conceitos e preconceitos € pocemos ver o que se mostra cuidando das possiveis distorgdes” (MASINI, 1991, P.62). Sendo assim, trabalhar para minimizar a deformacio da realidade dos sujeitos em virtude de sua propria interpretacio, ou sefa, cuidar das possiveis distorges, é tarefa do pesquisador. Também é sua tarefa realizar o movimen- to da reducio eidética. Significa buscar a esséncia do objeto, ou seja, 0s atri- butos sem os quais ele nio pode ser identificado (THIRY-CHERQUES, 2004). Exemplo da utilizaao do método fenomenolégico (J Exemplo: Iluminagao em cenétios de servigos 0 método fenomenoldgico foi utilizado por Carvalho (2003) em uma pesquisa sobre a experiéncia dos individuos com a iluminagfo em cenérios de servigos. Teve como objetivo responder a seguinte questo: Como se poderia compreender a esséncia da experiéncia interativa sociotécnica com 0 recurso da iluminacéo nos cenérios fisicos dos espetdculos mereadolégicos de servicos? 0 pesquisador argumenta que metodologias convencionsis, como as am- aradas pelo método hipotético-dedutivo, tém contribuido pouco para o estt- 88 néronos De Pesquisa ime DMousTAAGKO do das interagdes em contextos de servigos. Advoga a perspectiva feno- menolégica como uma alternativa para capturar a esséncia da experiéncia interativa humana com os ambientes. Justifica a opcio por essa abordagem, com base em trés fatores relacionados ao problema de pesquisa: (a) as vari veis ndo padem ser identificadas facilmente; (b) néo ha teorias disponiveis para explicar os comportamentos da populagao estudada; (c) construgbes tedricas ainda precisam ser desenvolvidas. Foi realizada, inicialmente, uma revisio bibliografica pertinente ao tema da pesquisa, em estudos na area de marketing, bem como em outros campos do conhecimento. Para a execucio da pesquisa de campo, foram selecionadas empresas com base nos seguintes critérios: (a) lojas de servicos; (b) gest e capital nacio- nais; (c) exercicio da segmentacao de mercado baseada na visio de tribo ur ‘bana; (d) manutengio consciente ow inconsciente de uma preocupacio com a semiose do espetaculo. Das nove empresas pesquisadas, apenas duuas atenderam aos quatro cri- térios estipulados. As demais atenderam a, pelo menos, tés critérios. Além disso, o pesquisador buscou uma forte diversidade de lojas, bem como 0 con- traste entre elas. A preocupacio com a selecdo das empresas estava relaciona- da com a intencio de reunir e comparar percepcées de consumidores sobre ambientes aparentemente distantes e, com isso, gerar interpretagdes mals sig- nificativas, de modo a contribuir para a disciplina de marketing. pesquisador sublinha que a experiéncia interativa com o ambiente do servigo inclui tanto a participacéo de consumidores quanto a de prestatores de servicos. Sendo assim, em cada empresa selecionada foram entrevistados representantes de trés grupos: consumidores, gerentes de loja e vendedores. ‘Aamostra, do tipo nao probabilistica, fot selecionada por tipicidade e por con- veniéncia. Foram entrevistados 79 consumidores, nove gerentes e 18 vende- dores, rotalizando 106 pessoas. As entrevistas, gravadas em dudio e, poste- riormente, transcritas, foram focalizadas, semi-estruturadas e no padroniza- das, Para as entrevista com gerentes e vendedores, foi utilizado 0 método do incidente critico. As entrevistas com os consumidores foram realizadas com 0 auxilio do modelo de Mehrabian e Russel (1974). Alguns dados, contudo, nao puderam ser reduzidos para as trés etapas deste modelo e, por este motivo, foram analisados separadamente. A anilise dos dados foi conduzida por meio de trés procedimentos: (8) leitura critica; (b) andlise de contetido; (c)classificagao de termos ¢ idéias. Para a apresentagio dos resultados, o pesquisador optou por mostrar a transcri¢do das partes mais relevantes das entrevistas e fazer coments nutridos pelo seu olhar hermenéutico, caracterizando, assim, 0 processo de andlise interpar- ticipate, conforme Morse (1994). Fevouenowocn 89 ‘A pesquisa gerou, inicialmente, 73 proposicées, as quais foram submeti- dasa um grupo de drbitros capacitados para avaliar, analisar, depurar e refind- las, de modo a se obter uma perspectiva mais completa co fendmeno. Apés a apreciagdo dos drbitros, 12 proposigées finais foram excluidas, algumas foram desdobradas e outras tiveram seus enunciacdlos reescritos. Com isso, 65 propo- sigGes finas foram obtidas. A interag3o com um dos érbitros, © arquiteto, mo- tivou ainda a elaboracéo de quatro proposigdes extraordinérias, ou seja, origi- nérias de uma outra fonte que nao a palavra dos sujeitos da pesquisa, Com base nas 65 proposigées finais ¢ nas quatro proposicdes extraordindrias, foram listados 15 temas essenciais do fendmeno estudado, por meio do agrupamen- to daqueles considerados mais relevantes ou mais recorrentes nos relatos. Trata- se, entdo, da esséncia da luz em servicos. Para os participantes, a iluminagio: @) tem uma percepgio esponténea dificil, a menos que o estimulo lu- minoso esteja relacionado a extremos fisioldgicos ou ps{quicos; * b) deve estar em harmonia e integragéo como cenétio, com a ambién- cia e com o estilo da empresa; ©) depende fortemente da mediaglo pelos sistemas sensério, fisiolé- gico e psiquico do receptor; 4) precisa minimizar as potencialidades iatrogénicas? do ambiente e tabalhar a favor da melhoria da qualidade de vida; ©) deve informar acerca do ambiente, dos produtos ¢ da empresa, sem invadir ou prejudicar o corpo ou a subjetividade do individuos 1) pode ser modificada pelos que a experimentam e também pode ‘modificar essas pessoas; 8) € captada predominantemente pela visio, mas interfere em outros aspectos da relacio corpérea do individuo com © ambiente; hh) guarda relagéo complementar e integrativa com as cores presentes no ambiente e com os materiais utlizados no cendtio; 9 est relaionada com etc, mas precisa ser equlbrada com os valores éticos; i) pode favorecer ou deteriorar a sensagio de conforto proporciona- da pelo ambiente; 1 tem seus efeitos fstoldgicos e terapéuticos vinculados & assepsia e Ahigiene do ambien: 1} também comporta a luz natural, que precisa ser controlada para evitar reflexos, brilhos e temperaturas intensos; 2 Toate deni de miinzar quer mal quo stem de uminao pe ‘sa causar ao individuo. . soe 90 éropos a: masUisa ADMANISTRACRO 1m) niio pode ser reduzida a um tipo ideal, nascido de uma fonte ideal cu aplicado a um corpo ideal, devendo antes contemplar a maior diversidade possivel de situagées e demandas; ‘i 1) é efetiva para favorecer a qualidade percebida e para aumentar as vendas, porém nio é capaz por sisé de criar uma experiéncia com- pleta de compra ou de consumo; ©) poderia ser melhor administrada pelas empresas de servicos, ‘Aldm das proposigées geradas (essenciais), o pesquisador destacou algu- mas consideragées conclusivas acerea da pesquisa realizada. Uma das mais importantes refere-se ao fato de que no hé como investigar o fendmeno da iluminagdo em empresas de servicos sem ouvir o cliente. Sublinha que ouvir 0 cliente significa, primeiramente, aprender a se comunicar com ele do modo que ele deseja se comunicar. Outra consideracéo diz respeito a importancia do didlogo com outras disciplinas e outros campos do conhecimento para 0 estu- do do fendmeno de servigos. Também merece destaque o fato de que as em- presas de servicos parecem estar menosprezando, subutilizando ou ignorando as potencialidades da luz como recurso mercadolégico. No que se refere a0 {framework escolhido, o modelo de Mehrabian e Russel foi considerado adequa- ‘do e ao mesmo tempo flexivel, permitindo o registro de depoimentos quando suas etapas eram insuficientes para abarcar a riqueza do que era relatado. Foi destacada, também, a consulta aos drbitros, uma oportunidade para discutir e refinar os resultados da pesquisa. Outras consideragdes foram ainda comenta- das, tanto no que se refere ao trabalho da pesquisa quanto ao trabalho do pes- quisador. Leituras para aprofundamento ABBAGNANO, Nicola. Diciondrio de filosofia. Sao Paulo: Mestre Jou, 1970. CAPALBO, Creusa. Fenomenologia ¢ educagéo. Férum educacional. Rio de Janeiro: Fundacéo Getulio Vargas, v. 14, n® 3, p. 41-61, jun./ago. 1990. CARVALHO, José Luis Felicio dos Santos de. A luz nos cendrios de servigos: fenomenologia da experiéncia interativa dos participantes dos encontros de servicos com a iluminago ambiental. 2003. 300 f. Tese (Doutorado em Admi- nistragéo) ~ Departamento de Administraco, Pontificia Universidade Catoli- a, Rio de Janeiro. VERGARA, Sylvia Constant. A fenomenologia e a pesquisa dos espa ‘gos de servigos. Revista de Administracao de Empresas. Séo Paulo: Funda- Gio Getulio Vargas, v. 42, n®3, p. 78-91, jul./set. 2002, FevommiovocA 91 COLTRO, Alex. A fenomenologia: um enfoque metodolégico para além da modernidade. 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Fotoetnografia Na busca pela renovacio do conhecimento, métodos tradicionais abrem- se para novas possibilidades. E 0 caso da etmografia. Uma variante deste méto- do refere-se & fotoetnografia. Trata-se da apresentacao de uma outra forma narrativa: a imagem, o texto fotoetnogréfico (ACHUTTI, 1997). Esta variante 6 aqui abordada. (0 dirio de campo é o companheiro insepardvel do pesquisador que se fe fazer etnografia. A palavra é 0 meio preponderante para o registro ea vata, magens so ilizadas, na maior parte das vers, de forma dustatva, ‘Andrade (2002, p. 18) afirma: “O antropélogo é um fotdgrafo que escreve aquilo que vé - e muito pouco fotografa.” Ir além da simples ilustragéo, nar- rando por meio de imagens, é a proposta da fotoetnografia. Andrade (2002, p. 20) leva a crer que isto € possivel, ao afirmar que “um antropélogo pode eserever visualmente sobre a alma; um antropdlogo pode escrever sobre e com as imagens”. ‘Tal como o video e o filme etnografico, a fotoetnografia se insere no campo da antropologia visual. Um ponto em comum entre a antropologia e a fotogra fia é a fonte que as alimenta, ou seja, a observacao, o ato de olhar captar emogées, sutilezas, sensibilidades (ANDRADE, 2002). Se, no entanto, a foto grafia 6 usada apenas como imagem ilustrativa, perde-se esse elemento de lnido, Para Achutti (1997), a fotoetnografia exige do antropélogo o dominio da linguagem fotografica, e do fotdgrafo a capacidade de olhar do antropélo- go, seus questionamentos, suas formas de olhar 0 outro. rororrocnanta 93 Sobre a contribuigao da fotografia & antropologia, a observagiio de Andrade (2002, p. 54) parece pertinente: Aprendemos a ver apenas o que praticamente precisamos ver. Atra- vvessamos nossos dias com viseiras, observando apenas uma fraco do que nos rodeia. Os homens modernos nao so bons observadores, e 0 uso de uma mquina fotogréfica pode auxiliar sua percepgio. No caso dda antropologia, o ato de fotografar pode dar uma visio global e uma observacao detalhada, Jd que vivernos em uma sociedade audiovisual (DUARTE, 2002), a fotoetnografia, parte da antropologia visual, pode oferecer recursos interessan- tes para a captacao do fendmeno observado. Em sintese, a fotoetnografia pode set considerada uma metodologia de pesquisa qualitativa que emprega técni cas fotogrétficas aliadas & observacio participante e aos registros escritos para descrever por meio de imagens 0 mundo do grupo investigado. O imagético é preponderante, A palavra torna-se coadjuvante na pesquisa fotoemogréfica. # Palavras-chave Imagem Antropologia visual Othar antropolégico Forma narrativa autonoma Recortes e seqiiéncias Qoo00a Caracteristicas principais GI Adescrigéo de determinadas situagdes por meio de imagens ¢ con- siderada mais profunda do que por meio de palavras. Imagens po- dem provocar lembrancas e reflexes que acabariam se perdendo. GF Tal como 0 texto escrito, o fotoetnogréfico demanda um encadea- mento. Caso contrétio, corre-se o risco de apresentar apenas uma série de fotografias desconectadas, que nao refletem 0 objetivo da pesquisa. CF Anarrativa visual € carregada de subjetividades. 0 pesquisador retrata Sua interpretacio da realidade, que por sua vez serd inter pretada pelo leitor, havendo ainda a prépria subjetividade do con: texto investigado. 94 séroo0s o8 pesquisa ee anmaisTHACAO 1 Acpsio pela fotoetnografia exige do pesquisador certo dominio de ‘técnicas forogréficas, bem como a decisdo pela escolha do equipa- ‘mento e dos acessérios a serem utilizados. : 1 Questées éticas tendem a ser mais acentuadas, uma vez que se tra balha com imagens do grupo investigado. A cémera oculta é vista como uma transgressio ética, embora alguns considerem seu uso vlido sob determinadas circunstincias (RIAL, 2003). ‘Como utilizar! GF Definem-se o tema e o problema de pesquisa GF Procede-se a uma revisdo da literatura pertinente ao problema de investigacio e escolhe(m)-se a(s) orientagdo(Ses) tebrica(s) que dard(Go) suporte ao estudo. C1 Levantam-se os primeiros dados referentes & investigacéo, 0 que pode ser feito conversando com outros pesquisadores, com pes- soas ligadas ao tema da pesquisa, em consultas a fontes divers como a midia, entre outras. Negocia-se a entrada no ambiente a ser pesquisado. 1 Inicia-se o trabalho de campo, com os primeiros contatos com 0 grupo. (0 Definem-se o equipamento fotografico ¢ os acessérios a serem uti- lizados em campo. 7 Coletam-se dados por meio de observagao simples e participante. 7 Registram-se dados do contexto sob investigacdo, por meio da fo- tografia, (0 Registram-se notas referentes & observagao do pesquisador e aos de- poimentos do grupo investigado, em um dirio de campo. 1 Analisam-se os dados. 0 Organiza-se o texto fotoetnogratico, 1 Utilizam-se trechos do didrio de campo ou comentarios do pesqui- sador para contextualizar a leitura das imagens. 1 Resgata-se o problema que suscitou a investigacao, 1 Confrontam-se os resultados obtidos com a(s) teoria(s) que deu(ram) suporte & investigacao, 1 Acordem aqui apresentada ado é rigida, Pode, port situagéo Set alterada conforme ororrwocrana 95 C1 Formula-se a conclusto. 1 Elabora-se o relatério de pesquisa. Em um trabalho de pesquisa, o problema e, mais detalhadamente, as que: ‘t8es a serem respondidas ou os objetivos intermedidrios guiam a elaboracéo de questionérios e roteiros de entrevistas para a coleta de dados. O pesquisa- dior que faz uso preponderante da fotografia para a coleta dos dados e para a apresentacdo dos resultados nao pode se deixar seduzir pela técnica fotografi ta. A fotografia ¢ algo fascinante, sem diivida, mas coletar dados aleatoriamen- fe, esquecendo-se dos objetivos da pesquisa, significa tirar fotografias, e nao produzir um trabalho fotoeiogratico. ‘Accoleta de dados por meio da fotografia requer do pesquisador uma per- manente atitude de imersio no ambiente, de estranhamento e de questio- namento. Hé situagées que, se nao forem registradas no momento em que es to ocorrendo, sero perdidas, pois ha a possibilidade de no mais ocorrerem. Basta ver a seqiiéncia registrada por Achutti (1997), relativa & boneca encon: trada no lixo, apresentada no exemplo 1 (Figuras 2 a 7) O retorno do pesquisador ao campo, apés a pesquisa, é um procedimento que tem suscitado debates entre os pesquisadores. Achutti (1997) assim o fe2, mas em duas situagées diferentes: a primeira como fotojoralista e a segunda como pesquisador. Exemplo da utilizagdo da fotoetnografia (0 Exemplo 1: Cotidiano, lixo e trabalho na Vila Dique ‘A fotoetnogratfia foi a metodologia escolhida por Achutti (1997) em sua pesquisa sobre cotidiano, lixo e trabalho em uma vila popular de Porto Alegre, Vila Dique. Na Vila Dieue, originalmente drea de depésito de lixo, vivem e trabalham mulheres cujo cotidiano, cuja sobrevivéncia e cujas percepgées de mundo se dao a partir do lixo. Um lixo que, como sublinha 0 pesquisador, é produzido e rejeitado por nés. A atividade preponderante na vila é a reciclagem de lixo. A populagao é formada, sobretudo, por pessoas de origem rural, da regis das colénias alemas do Rio Grande do Sul. ‘A pesquisa teve como objetivo investigar os elementos por meio dos quais «a populagao constréi suas identidades, que tipo de apropriagio fazem do lixo, como se dé o processo de trabalho, a organizagao do espaco de suas casas no que se refere as estratégias de reproduco social e quem sao as mulheres tra balhadoras 96 wéronos ne pEsQUIsA eM ADMINISTAAGKO © pesquisador utilizou trechos do seu diario de campo para contextualizar a fotoetnografia realizada. Ao contrétio da etografia tradicional, na qual as fotografias servem de apoio ao relato escrito, aqui pequenos trechos € que auxiliam a leitura das imagens, ‘A primeira visita do pesquisador a vila foi em 1992, como fotojornalista, fazendo uma reportagem para uma revista. A volta a vila se deu para a reali- zacio de um trabalho académico: sua dissertacio de mestrado. Nesse segun- do momento, voltou levando consigo Fotografias tiradas durante a primeira visita, Sua inserco no ambiente a ser pesquisado se deu, entao, sobretudo, por meio da entrega de presentes aos nativos. Como nas palavras de Collier Jr. (2973), a fotografia serviu como can-opener. O pesquisador chegou e imedia- tamente distribuiu as fotografias as pessoas que ali estavam, pasando a fotografé-las olhando e mostrando as préprias fotografias, permitindo-lhes, assim, apropriar-se de sua prépria imagem. Este momento constituiu uma das seges nas quais a pesquisa se dividiu. Foi denominada Imagens dentro da Ima- gem. A Figura 1 apresenta uma das fotografias da referida seco. Forosmocrana 97 Fonte: Achutt (1997, p. CXXIID, Figura 1 Imagens dentro da imagem. pesquisador fez. também um breve relato sobre sta visita aos pioneiros da vila Um trecho interessante que pode até emocionar o leitor foi contado tan- to por meio de palavras quanto de imagens. Foi a chegada de um caminhiio de lixo, momento presenciado pelo pesquisador, quando uma das trabalhadoras encontrou uma boneca movida a pilha, em bom estado, e tentou fazé-la fun- cionar, com pilhas também encontradas no lixo em outra casio. A seqiiéncia das Figuras 2.a 7 narra fotoetnograficamente a situacéo. 98 —seronos De pesqUsh Ex ADAANISTRAGKO Fonte: Achurti (1997, p. LXV), Figura 2 A boneca encontrada (a). Fonte: Achuti (1997, p. LXVD. Fonte: Achutti (1997, p. LXVD. Figura 3 A boneca encontrada (b). ‘Figura 4_A boneca encontrada (0) chute (1997, p. LXVID Figura 6 A boneca encontrada (e). Fonte: Achutti (1997, p. XVID. Fonte: Figura 5 A boneca encontrada (d). rororrNoGeARA 99 Fonte: Achuti (1997, p. LXVIID, Figura 7 A boneca encontrada (9. Durante o trabalho de campo, uma das mulheres contou como dividiam o que achavam e ganhavam. Outra relatou como ¢ feito 0 pagamento pelo ra balho. A estrutura para recebimento e separagio do lixo foi também revelada, A pesquisa, apresentada inicialmente como dissertacio de mestrado do Programa de P6s-Graduagao em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, transformou-se em um livo com dupla entrada: duas capas, duas abordagens antropoldgicas, dois textos, um escrito e outto fotoemografico. O texto fotoetnografico foi dividido em seis segdes: (a) a vila; (b) 0 trabalho e o lixo; (c) retratos; (d) as casas; (e) recortes, formas e cores; (O imagens dentro da imagem, Achutti (1997) propds outra forma de percepedo e narracéo de experién- cias. Um esforgo do observador das fotos de Achutti (1997) permitiria afirmat ue este pesquisador alcancou os objetivos que se propés. 0 trabalho no ¢ com 0 lixo traduz-se como elemento de identidade das pessoas fotografadas, que Ihe dio uma forma organizativa. O lixo trazido pelos homens é cuidado pelas ‘mulheres, dando-Ihe destinos diversos, buscando assegurar 0 sustento das fa milias. Por meio da antropologia visual, mais precisamente da fotoetnografia, © pesquisador mostrou o que as palavras nao dao conta de revelar. Em set tra- balho, mostrou que aquelas pessoas tem, apesar do cotidiano, orgutho, planos, entendimentos, problemas e sonhos. Achutti provoca a teflexao do leitor. 100 © Méropos DE PESQUISA EM ADMINISTRACAG | Leituras para aprofundamento ACHUTTI, Luiz Eduardo Robinson, Fotoetnografia: um estudo de antropolo- gia visual sobre cotidiano, lixo e trabalho. Porto Alegre: Tomo Editorial: Palmarinea, 1997. ANDRADE, Rosane de. Fotografia e antropologia: olhares fora-dentro. Séo Paulo: Estagio Liberdade: Educ, 2002. CANEVACCI, Massimo, Antropologia da comunicagao visual. Rio de Janei- ro: DP&A, 2001. COLLIER JR., John. Antropologia visual: a fotografia como método de pes- quisa, Sao Paulo: EPU: Edusp, 1973. RIAL, Carmen, Pesquisando em uma grande metrépole: fast-foods e studios em Paris, In: VELHO, Gilberto; KUSCHNIR, Karina (Org.). Pesquisas urbanas: desafios do trabalho antropolégico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. Outras referéncias DUARTE, Rosilia. Ginema & educagao, Belo Horizonte: Auténtica, 2002. Grounded Theory ‘A grounded theory & uma metodologia que visa desenvolver uma teoria sobre a realidade que se esté investigando a partir de dados coletados pelo pesquisador, sem considerar hipdteses preconcebidas. # também couliecida como teoria embasada, teoria fundamentada (ICHIKAWA e SANTOS, 2001) o teoria enraizada nos dados. ‘Ao fazer a distingdo entre teoria formal e teoria substantiva, Bandeira-de- Mello e Cunha (2003a) e Ichikawa e Santos (2001) afirmam que a primeira é mais geral e a segunda, mais especifica. A grounded theory afirma-se como teo- ria substantiva que emerge dos dados, por ser representativa da realidade de ‘um determinado grupo ou situagao (BANDEIRA-DE-MELLO e CUNHA, 20033; ICHIKAWA e SANTOS, 2001). Ao contrério da teoria formal, néo visa & gene- ralizagio. Teorias substantivas ajudam a gerar novas teorias formais enraizadas a reformular as ja estabelecidas (GLASER e STRAUSS, 1967). A construgio de teorias substantivas se dé por meio da coleta seletiva, da categorizagio e da saturacao tedrica, ‘A metodologia foi desenvolvida por Bamey Glaser e Anselm Strauss du- rante pesquisas empiricas realizadas em parceria, que culminaram com a pu- blicagao de Awareness of dying, em 1965. Os fundamentos conceituais da metodologia foram apresentados dois anos mais tarde, em 1967, por meio da obra The discovery of grounded theory: strategies for qualitative studies. Glaser e Strauss, contudo, seguiram caminhos diferentes, o que academicamente sig- nifca dizer que 0 desenvolvimento da metodologia se deu por meio de duas linhas distintas: a glaseriana e a straussianc. Glaser, que veio da Universidade Columbia, teve formacdo quantitativa e qualitativa, Strauss, por sta vez, é ori- 102 érov0s pe resquisa st apsmasraagho gindrio da Universidade de Chicago. Recebeu formacio qualitativa e sofreu influéncia do pragmatismo. Pode-se dizer que uma das diferengas mais signifi. cativas entre as duas linhas é que a straussiana buscou sistematizar explicitar téenicas para a operacionalizagao da metodologia, tendo, talvez por esta ra. Bo, sido mais disseminada. # Palavras-chave GF Teoria substantiva © Teoria formal Coleta seletiva de dados CF Sensibitidade teérica O Codificacdo aberta, axial e seletiva CD Coneeitos, categorias, propriedades e dimensées 1 Saturagéo tedrica * Caracteristicas principais © Ametodologia visa ir além da descrisio, exigindo do pesquisador a tarefa de interpretar os dados, identificar os conceitos e catego- rias e gerar uma teoria. © Acoleta e a anilise dos dados nao s4o consideradas etapas distintas do processo de pesquisa; ao contrério, ocorrem simultaneamente. 1D Hao risco de o pesquisador, involuntariamente, deixar-se contami- nar pelas teorias existentes e forgé-las (forcing) aos dados. 7 As teorias relacionadas ao tema em estudo no séo ignoradas, mas utilizadas no final do processo de pesquisa a fim de aumentar 0 poder explicativo da teoria substantiva que esta sendo gerada. As teorias so sempre transitérias, ou seja, esto relacionadas a um dado momento histérico, estando, assim, sujeitas & refutagao. Ye Como utilizar! 7 Definem-se o tema e o problema da pesquisa. raga O##D AGU apresentadn nko fd, Poe, porno Araeredaconfome a cnouoeo musony 103, Seleciona-se a instituigdo objeto de estudo, se for 0 caso. Selecionam-se 0s sujeitos para a realizagdo das primeiras entrevis- tas. Inicia-se 0 trabalho de campo por meio da realizacio de entrevis- tas e observacées. Registram-se os dados referentes ds observagies e as entrevistas, em notas de campo. Coletam-se dados adicionais em fontes secundérias, se for 0 caso. Identificam-se conceitos emergentes clos dados. Agrupam-se concei- tos similares em categorias. Identificam-se propriedades e dimen- s6es das categorias (codificagao aberta) Identificam-se os relacionamentos entre as categorias (codificacdo axial). Procede-se ao refinamento € & integracio dos resultados, identifi- cando-se, assim, a categoria central (codificacao seletiva). Resgata-se 0 problema que suscitou a investigacéo. Procede-se validacdo da teoria por meio, por exemplo, da checa- gem dos resultados com os entrevistados.. ‘Compara: a teoria gerade com as teorias existences a fim de tificar diferencas e contribuigdes. Formula-se a conclusio. Elabora-se 0 relatério de pesquisa. gq a0 00a ao aoaa aa A selegio da amostra é um procedimento flexivel. O pesquisador poderé identificar a necessidade de entrevistar outros sujeitos, além dos previstos, conforme critérios emergentes durante a pesquisa. Em geral, inicia-se a coleta de dados por meio da realizagao de entrevis- tas abertas. A medida que as categorias vio emergindo dos dados, as entrevis- tas tomam-se semi-estruturadas, como ocorrei, por exemplo, no trabalho de campo de Bandeira-dle Mello ¢ Cunha (2003). (Os dados podem ser analisados com 0 auxilio de softwares espectficos, disponiveis no mercado. No site , da Sage Publi- cations, hd diversas indicagdes. Sobre o software ATLAS/ti, especificamente, sugere-se a leitura de Bandeira-de Mello e Cunha (2003a). ‘As categorias identificadas pela coleta e andlise dos dados néo sio imuté- veis, podendo ser descartadas se julgadas nao pertinentes ao objetivo da pes- quisa. Exige-se, portanto, do pesquisador habilidade para identificar dados relevantes e dar-Ihes significado. E o que se denomina sensibilidade teérica. Cabe, ainda, ao pesquisador a tarefa de reconhecer o momento em que 0s da- 104 _aéropos ne vesquisa ss apuasreacio dos foram suficientemente explorados. Trata-se da saturacio tedrica, ou seja, da constatagao de que dados adicionais nao mais acrescentario algo A teoria, Em sintese, a geracao de teoria exige do pesquisador uma atinude de perma nente indagagio frente ao seu objeto de pesquisa (SANTOS, 1994). Registra-se, aqui, que os passos da pesquisa ndo so fixos ou predetermi: nados. Sto orientados pela coleta e pela andlise dos dados, etapas que se mes clam, ndo sendo possivel determinar quando uma termina e a outta se inicia (SANTOS, 1994). Exemplos da utilizago do método da Grounded Theory (CJ Exemplo 1: Adaptagio estratégica de pequenas empresas a ambientes turbulentos e com forte influéncia governamental A grounded theory foi a metodologia escolhida por Bandeira-de-Mello ¢ Cunha (2003b) para 0 desenvolvimento de uma pesquisa sobre adapracio es- tratégica de empresas a ambientes turbulentos e com forte influéncia gover- namental. Teve como objetivo investigar como as pequenas empresas constru- toras de edificacées adaptam-se a um ambiente turbulento com forte influén- cia governamental Foi selecionada para a pesquisa de campo uma pequena empresa fami- liar, construtora de edificagbes, denominada B&C Engenharia e IncorporagBes, Ltda, A empresa, que opera na cidede de Floriandpolis, tem como atividades a compra do terreno, a coordenagio da elaboracio dos projetos técnicos, a pre- paragio da incorporacéo imobilidria, a construio e a comercializagao das uni- dades residenciais ou comerciais. Foi considerado para estudo o periodo de 1980 a 2000, no qual foram construidos, em média, de um a dois empreendi- mentos por ano. A selecio da empresa obedeceu aos seguintes critérios: (a) possuit as ca. racteristicas tipicas das empresas do ramo de construcao de edificagées; (b) ter tempo minimo de existéncia de 20 anos; (c) propiciarfacilidade de acesso aos dados, Os dados foram coletados por meio da realizacao de entrevistas abertas ¢ semi-estruturadas com cinco membros da B&C. A amostra foi escolhida inten- cionalmente, tendo sido entrevistadas pessoas que foram ou sto responséveis pela tomada de deciséo na empresa, Foram realizadas nove entrevistas, sendo trés com cada um dos entrevistados Ae B e uma com os demais (C, D e E) Foram realizadas, ainda, sessGes de checagem com os entrevistados Ae B. Foram coletados, também, dados secundérios, predominantemente quantita- tivos, em revistas especializadas, livros e publicacdes de érgéos responséveis. crowns musour 105 A andlise dos dados foi realizada com auxilio do software ATLAS/ti. Os dados passaram pelo processo de codificagao aberta, axial e seletiva. A cate goria central identificada foi a Administragdo do Risco. Foram utilizados crité- fos preconizados pela literatura, para avaliar a teoria substantiva gerada, quails fejam: grau de coeréncia, funcionalidade, relevancia, flexibilidade, densidade integracdo. Foram, ainda, utilizadas as seguintes técnicas, também preconi- tadas pela literatura, para aprimorar a qualidade da teoria: triangulacio de dados,? ataque & teoria por meio da ferramenta query do ATLAS/ti, sessées de checagem, amostragem em diferentes contextos 20 longo da hist6ria da em: presa, auditorias do processo de pesquisa com o auxilio de relatérios gerados, pelo ATLAS/ti. 0s dados coletados permitiram constatar que, no periodo 1980-2000, a empresa adotou diferentes formas de lidar com o risco relativo & sua area de atuagio. A atividade imobilidria envolve, basicamente, trés atores: os credores, fu instituigées financeiras, 0 mercado ou clientes, a empresa. Os riscos ou in certezas relativos a resultados futuros so compartilhados entre eles. O risco para os credores diz respeito ao recebimento do capital emprestado. Para os clientes, ha incertezas com relacio a conclusao da obra e a entrega do imével. A empresa, por sua vez, convive com 0 risco do negécio. A hipétese funda: mental da teoria da administragio do risco, elaborada a partir dos dados, foi a seguinte: Em wn ambiente rurbulento e com forte influéncia governamental, as pequenas empresas aproveitam, ao médximo, o potencial de transferéncia de risco para o ambiente, Com base nesta hiptese, trés proposigdes foram elaboradas: (@) forma como os credores e o mercado percebem o risco de participar da ati vidade imobilidria altera a distribuigdo do risco total da operagio entre ambien tee empresa, determinando o nivel de risco transferido ea forma de administrar o risco pela empresa; (2) o contexto estrutural interno e o esquema cognitivo vi gente dos dirigentes contribuem para estabelecer o incremento de risco, definindo 0 risco incorrido pela empresa e, conseqiientemente, a forma de administrar esse risco; (3) ao administrarem 0 risco, pequenas empresas utiliza extratégias de transferéncia do risco para o ambiente ou estratégias para lidar com o risco ab- sorvido. ‘Trés propriedades foram identificadas no que diz respeito & defini¢io das formas pelas quais a empresa administra o risco: (a) risco transferido; (b) ris- co ineorrido; (c) retomno esperado. Foi possivel constatar que uma das formas de a empresa administrar oriseo é atuando como repassadora, ou seja, transferindo o risco para os credores. Este tipo de situacio ocorre quando as instituigGes financeiras estéo dispostas a fi- nanciar a produgao das empresas e o mercado esté confiante, ou seja, os clien- tes adquirem iméveis na planta e participam de financiamentos concedidos, 2. Sobre triangulagio de dados ver Capitulo 22. 106 aérop0s. pesquisa ea ADSUINSTRAGAO pelasinsttuigSes financeiras. Outra forma de administra orisco € atuando com. cautela, ou seja, entrincheirando-se. & 0 que ocorre quando as instituigbes fi- nanceiras teduzem os financiamentos para a producao ou ha instabilidades na economia do pais. Neste caso, hé um movimento de transferéncia do isco para © mereado, adotando regimes de construgdo a preso de custo, nos quais os clientes arcam com as despesas reais da produgao e pagam uma taxa de admi- nistragdo & empresa construtora. Finalmente, a terceira forma de administrar o isco é tomando-se absorvedora, uma vez que nao é possivel repassar 0 risco para os ctedores ou se proteger, adotando uma posi¢ao de retranca. Esta si tuagao ocorre quando os credores estio exigentes no que se refere &liberacio de financiamentos e os clientes apresentam resistencias para adquiric iméveis, na planta. A teoria substantiva gerada foi confrontada coma literatura pertinente ao tema da pesquisa a fim de identificar contrastes e contribuigées, os quais fo- ram apresentados pelos pesquisadores. Sublinham que a teoria da Administra Ho do Risco aborda de forma explicativa o processo pelo qual pequenas em- presas brasileiras lidam com as adversidades impostas por atores ambientais, de modo a garantir sua longevidade em detrimento da maximizagao de ga. nnhos econémicos. . (7 Exemplo 2: Aprendizagem gerencial em um hospital Moraes, Silva e Cunha (2004) valeram-se di 1m-se da grounded theory em um es- tudo sobre aprendizagem gerencial. A pesquisa teve como objetivo responder A seguinte questo: Como os executivos de uma organizagao hospitalar apren- dem a gerencardiante dos desafios didros do wabalho? Os pesquisadores argumentaram, inicialmente, que a preocupagio com a aprendizagem tem aumentado nos itimos tempos, resultando no surgimento le nova eas de pesquisa, como a aprendizagem organizaioal.Efaizaram, ainda, 0 crescimento do interesse pela aprendizagem gerencial, tema sobré qual se debrucaram. Sem gerencah ease 9 A pesquisa de campo foi realizada com profissionais do Hi ada sionais do Hospital Moinhos de Vento (EMU), em Porto Alegre. Pariparam da pesquisa dts superinten dentes e trés gerentes do hospital. Estes sujeitos foram selecionados com base em critérios intencionais: minimo de dez anos de experiéncia no setor hospi- talar e cinco anos em gesto hospitalar. Os ddos foram coletados por meio da realizacéo de entrevistas em profundidade, A andlise se deu simultaneamente a coleta. Em fase posterior, a andlise dos dados foi “devolvida” aos sujeitos (checagem com os entrevistados), a fim de verificar 0 quanto as descobertas eram congruentes com a realidade. cncunoeo minor 107 ito categorias emergiram dos dados coletados: (a) contexto da aprendi- sagem; (b) sentimentos relacionados a aprendizagem; (c) conteiido de apren- Zager: (d) formas de aprendizagem; (e) fatores que facilitam o processo de gprendizagem; (f) fatores que diffcultam 0 processo de aprendizagems (g) re stitados da aprendizagem; (h) recomendagies dos sujeitos. A descriglo de cada fategoria incluiu suas propriedades (caracteristicas gerais da categoria) e di nensées (variagGes encontrades dentro de uma propriedade). ‘A primeira categoria esté relacionada as situagdes que exigiram dos st jeitos a busca de aprendizagem. Os dados permitiram evidenciar que a apren- dizagem dos executivos depende de diferentes contextos, tendo sido eviden- iados dois tipos: confronto com desafios e diferentes estégios profissionais. No {que se tefere ao primeiro, duas variagdes foram encontradas: mudangas na atividade desenvolvida e desafios do cargo. Com relacio ao segundo tipo, tam: ‘bém foram encontradas duas variagOes: processo de aprendizagem impulsio- nado por demandas profissionais e por demandas institucionais. A segunda categoria permitiu evidenciar tanto sentimentos negatives quanto positivos relacionados & aprendizagem gerencial, Foram considerados sentimentos negativos: ansiedade, inseguranca, expectativa, preocupacao ¢ cobranga pessoal. Com relagao aos sentimentos positivos, foram mencionados: oportunidade, crescimento, satistacao ¢ entusiasmo. ‘Aterceira categoria ~ contetidu de aprendizagem gercncial est relacio- nada a quatro propriedades: conhecimento local, analitico, contextual e utoconhecimento, O conhecimento local abrange a aprendizagem de valores e processos organizacionais, habilidades interpessoais e significados do traba- tho executivo. No que diz respeito aos conhecimentos analiticos, foram consi derados técnicas de gestio e conhecimentos especificos. 0 conhecimento contextual foi relacionado ao ambiente externo. No que diz respeito 20 autoconhecimento, os sujeitos revelaram que se tornar um gerente exigiu 0 aprendizado sobre si mesmos, o reconhecimento de seus potenciais e de com- portamentos inadequados que ameagavam suas carreiras. ‘A quarta categoria ~ formas de aprendizagem dos sujeitos ~ permitiu evi- denciar que os executives aprenderam de diferentes formas: projetos de apren- ddizagem, atualizagao profissional, relacionamento, observacao, acao, reflexio e mudanca de consciéncia, De acordo com os sujeitos, eles realizaram projetos de aprendizagem pessoais e institucionais, atencendo as situagdes geradas por demandas tanto da profissio quanto da instituicéo. Tais projetos foram via- bilizados pela atualizacio profissional, que se deu por meio de recursos formais ¢ informais de aprendizagem. O aprendizado por meio dos relacionamentos didrios, por sua vez, caracteriza uma maneira natural de aprender, ou seja, néo premeditada, Apenas dois tipos de interacao citados pelos sujeitos sugerem uma forma de aprendizagem intencional: interacao com consultores e com familia res, Ainda no que diz respeito aos relacionamentos, os pesquisadores destaca- 108 érooos ne resqUiss se ADMBSTHAGAO ram a participagio em comunidades de prética e a negociacao de significados. Para os sujeitos, a observagao de outras instituigdes e do ambiente externo é, também, uma forma de aprendizagem, Relataram, ainda, a aprendizagem pela acdo, por meio da identificagio de necessidades de mudancas e da sua imple- ‘mentacdo. A reflexto ¢ outra possibilidade, podendo ocorrer como um proces- so de solucdo de problemas € como um processo intuitivo. As mudaneas de consciéneia, por sua vez, englobaram trés dimensdes: sobre si mesmos, sobre as pessoas e sobre o trabalho. A quinta categoria trouxe & tona os fatores que facilitaram a aprendiza- gem gerencial, relacionados tanto aos sujeitos quanto a organizagao. Foram. citados os seguintes fatores relativos aos sujeitos: ser humilde e proativo, ter interesse, ter apoio da familia, ter vontade propria, trabalhar em equipe, ado- tar modelos, manter-se atualizado, identificar-se com a cultura da organizacéo. JA 0s fatores relativos a organizacao foram os seguintes: ampliacao da area de aco, autonomia, credibilidade, pressdo vivenciada no ambiente de trabalho, cultura, ambiente de mudanga, crescimento da organizacéo. Os fatores que dificultaram a aprendizagem gerencial correspondem & sexta categoria, Foram classificados em intrinsecos e extrinsecos ao sujefto. Os primeiros incluem as seguintes dimensdes: sentimentos e interesse pessoal. Os fatores extrinsecos, por sta vez, englobam tempo, dinheiro, actmulo de ati- vvidades, familia, cansago, falta de conhecimento de idiomas, falta de oportu- nidades de estudo. {A sétima categoria abordou os resultados da aprendizagem gerencial, os quais foram relacionados ao autoconhecimento: desenvolvimento de tuma pos- tura adequada ao trabalho, capacidade de tomar decisdes, maturidade, cora- gem; ao conhecimento sobre a organizacdo: seguranca, postura adequada, decisdes coerentes, promogées, desenvolvimento profissional; e ao desenvol- vvimento profissional ao longo da carreira: crescimento dentro da instituicéo, resultados operacionais. A oitava categoria abordou as recomendagdes dos sujeitos a executivos, no que se refere a aprendizagem gerencial, Foram feitas as seguintes sugestdes: ter um projeto pessoal de vida, tirar proveito de suas experiéncias, compreen- der os valores e metas da organizacio, valorizar relacionamentos, diversificar conhecimentos. Os resultados da pesquisa indicaram que o proceso de aprendizagem gerencial & complexo e dindmico, ocorrendo ao longo da trajetéria profissio- nal dos executivos. Os pesquisadores sublinharam que a natureza deste pro- cesso ¢ tanto autodirecionada quanto social e emancipatéria, Observaram, tam. bbém, que trés grandes dominios envolvem o processo: o individual, 0 organi- zacional e 0 social. Cada uma das oito categorias obtidas foi relacionada a um ‘ou mais domfnios. De acordo com os pesquisadores, a categoria sentimentos crouvoso tuzorr 109 relacionados & aprendizagem gerencial pertence ao dominio individual. J4 as categorias contexto de aprendizagem, resultados da aprendizagem e recomen- dagdes pertencem aos dominios individual e organizacional. 0 contetido de aprendizagem, as formas, os fatores que facilitaram e os que dificultaram a aprendizagem gerencial, por sua vez, pertencem aos trés dominios. Os pesqui- sadores concluiram que a aprendizagem gerencial transcende a classificagéo formal e informal, ocorrendo, em grande parte, de forma no deliberada. Além disso, ela nao se restringe ao dominio instrumental de conhecimento. i in- fluenciada tanto pelo contexto organizacional quanto pelo social. Por fim, ob- servaram que a aprendizagem gerencial pode ocorrer por meio de mudangas de consciéncia. Leituras para aprofundamento BANDEIRA-DE-MELLO, Rodrigo; CUNHA, Cristiano J. Castro de Almeida, Operacionalizando o método da grounded theory nas pesquisas em estratégia tenicas e procedimentos de andlise com apoio do software ATLAS/ti In: EN- CONTRO DE ESTUDOS EM ESTRATEGIA, 1., 2003, Curitiba. Anais... Curitiba: Anpad, 2003a, [Administrando o risco: uma teoria substantive da adapraczo exiratdgica de pequenas empresas a ambientes turbulentos ¢ com forte influén- cia governamental, In: ENCONTRO DE ESTUDOS EM ESTRATEGIA, 1., 2003, wuritiba. Anais... Curitiba: Anpad, 2003b. GLASER, B.; STRAUSS, A. The discovery of grounded theory: strategies for qualitative research, New York: Aldine de Gruyter, 1967 GOULDING, Christina, Grounded theory: the missing methodology on the interpretivist agenda. Qualitative Market Research: an International Journal, v.1, n° 1, p, 50-57, 1998, ICHIKAWA, Elisa Y.; SANTOS, Lucy W. dos. Apresentando a grounded theory: ‘uma nova proposta de abordagem qualitatia na pesquisa organizacional. In ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAGAO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE POS-GRADUAGAO EM ADMINISTRACAO, 25,2001, Campinas. Anais... amt- pinas: Anpad, 3001 LOCKE, Karen, Grounded theory in management research. Londres: Sage, 2001 MARTIN, P.; TURNER, B. Grounded theory and organizational research Journal of Applied Behavioral Science. v. 22, n® 2, p. 141-157, 1986. 110 stronos oe resouisa sx apannisrRAGAO ‘MORES, Liege V. dos S. de; SILVA, Maria A. da; CUNHA, Cristiano J. C. A. A dinamica da aprendizagem gerencial em um hospital, RAE-eletrénica. Sio Paulo: Fundagio Getulio Vargas, v. 3, n? 2, jul./dez. 2004. ; SANTOS, Ursula W. B. dos, Métodos qualitativos para pesquisa em adi nistrago: caracterizacio e relacionamento aos paradigmas para pesquisa, 1994, 159 £, Dissertacdo (Mestrado em Administragéo de Empresas) ~ Depar- tamento de Administracio, Pontificia Universidade Catélica, Rio de Janeiro. STRAUSS, A.; CORBIN, J. Basics of qualitative research: techniques and procedures for developing grounded theory. 2. ed. Thousand Oaks: Sage, 1998, 10 Grupos de Foco Grupo de toco (Focus Group) é um método de colera de ductus que eousis- tena realizagao de entrevistas em grupo, conduzidas por um moderador. Tem como objetivo a discussio de um t6pico especifico. Este método é também chamado de entrevista focalizada de grupo, entrevista profunda em grupos, reunides de grupos, pesquisa diagndstica e pesquisa da motivacéo (MATTAR, 1996). Pode-se dizer que as entrevistas em grupo, na rea de ciéncias socials, om sido utilizedas desde a década de 1920. inicialmente, pesquisadores como Emory Bogardus e Walter Thurstone utilizaram varias formas de entrevistas em grupo, atendendo a propésitos diversos, como, por exemplo, a elaboracao de instrumentos para a pesquisa do tipo survey (MORGAN, 1998). Entretanto, fol com Robert Merton e Paul Lazarsfeld que o método desenvalveu-se, antes da Segunda Guerra Mundial. Entre os anos de 1950 e 1980 aproximadamente, 0 método foi utilizado basicamente em pesquisas na area de marketing. Recen- temente, tornou-se também popular em outras dreas (MORGAN, 1998). No ambito da pesquisa dita qualitativa, o grupo de foco 6, em geral, ass0- ciado a outros métodos como a entrevista individual e a observacdo participante (MORGAN, 1997). Pode, também, ser utilizado em pesquisas ditas quantitati- vas, precedendo, atuando simultaneamente ou sucedendo a um procedimento (MORGAN, 1997; OLIVEIRA e FREITAS, 1998), geralmente um questionétio de pesquisa survey. 112 éroo0s oe pesquisa mu ansenusrRAGhO # Palavras-chave o Homogeneidade do grupo Interago entre os participantes Reuniées em série a a 7 Discussio focada em um tépico especifico a % Cari a 5 a Moderador acteristicas principais Permite gerar hipéteses para a investigacio. Auxilia a construgio de outros instrumentos de coleta de dados. Apresenta flexibilidade na condugdo das sessbes, podendo o grau de envolvimento do moderador ser alto ou baixo, conforme os ob- Jetivos da pesquisa. Pode provocar insights nos participantes, enriquecendo a discussao. 'Na érea de marketing, permite gerar idéias para 0 aprimoramento de produtos, para o desenvolvimento de promocio de vendas. para © desenvolvimento de novos produtos, entre outros. As respostas de alguns membros do grupo podem inibir a manifes- taco de opinides contrérias & opiniao média grupal. F inadequado para discussio de temas delicados, podendo causar constrangimento aos membros do grupo. Apresenta menor quantidade de dados por participante, se compa: rado com a entrevista individual. Pode haver dificuldade para agendar a reunio, se comparado com a entrevista individual. Os resultados da pesquisa ndo sio generalizaveis. vx Como utilizar a a 1 siruagto, Definem-se o tema ¢ o problema de pesquisa Procede-se a uma revisio da literatura pertinente ao problema de investigacao e escolhe(m)-se a(s) orientagio(6es) tedrica(s) que daré(Go) suporte ao estudo. ‘A ordem aqui apresentada nfo & rgida, Pode, portanto se alterada conforme a cnuresperoco 113, 1 Definem-se os membros da equipe de pesquisa, se esta for realiza- da por uma equipe, bem como suas atribuigées. 7 Elaboram-se as questdes a serem discutidas pelos participantes. 1 Define-se o grau de envolvimento do moderador. (_Definem-se o niimero e a composigao dos grupos participantes da pesquisa: grupos por categorias, mistos ou ambos. (0 Define-se o ntimero de participantes em cada grupo 1 Selecionam-se os potenciais participantes de modo a obter um grupo homogéneo. 10 Definem-se o local e a duragéo das reunives. 1 Contatam-se os potenciais participantes pessoalmente, por telefo- ne, e-mail ou carta, para avaliar a possibilidade de participacéo. (0 Agendam-se as reuniées mediante a consulta aos participantes. Realizam-se as reunides, que podem ser gravadas em udio ou fil- madas, se autorizado pelos participantes. 1 Realizam-se as transcrigBes das discusses em grupo. 1 Analisam-se os dados, registrando-se as categorias tematicas que surgiram durante as discuss6es, 0 contexto no qual certos comen- tdrios foram feitos, as recorréncias, bem como as diferencas de ponto de vista, (7 Resgata-se 0 problema que suscitou a investigacio. 1 Confrontam-se os resultados obtidos com a(s) teoria(s) que deu(ram) suporte & investigacéo. 1 Formula-se a conclusio. 17 Elabora-se o relatério de pesquisa. Com a definigéo do tema e do objetivo da pesquisa, inicia-se a primeira fase da pesquisa, ou seja, o planejamento, o que ocorre até o momento do agendamento das reuniées. Nesta fase, devem ser considerados 0s fatores tempo e custo de realizagdo da pesquisa. Sugere-se elaborar um cronograma, bem como um plano orgamentirio. ‘As reuniées podem ser conduzidas exclusivamente pelo pesquisador, que no caso atuaria como moderador, ou por uma equipe de pesquisa composta pelo pesquisador, por um ou mais moderadores e por um assistente de pesquisa Optando-se pela equipe de pesquisa, é fundamental definir antecipadamente as atribuigées de cada membro. & importante planejar e estabelecer previamente o mimero e a composi- &o dos grupos, o que pode ser feito por categorias especificas, mistas ou ambas, como fez, por exemplo, Ruediger (2002). Em geral, de trés a cinco grupos so 114 éropos be pesquisa aDnnnsTeachO suficientes, Um mimero maior de grupos raramente proporciona novos insights, © momento para encerrar a coleta de dados ¢ aquele no qual o moderador pode antecipar o que seré dito no grupo seguinte, ot seja, os dados passam a se re- petir (MORGAN, 1997). © niimero de participantes em cada sesso varia, em geral, entre seis ¢ 12 pessoas. Morgan (1997), por exemplo, recomenda algo entre seis e dez participantes. Para o pesquisador, em grupos com menos de seis participantes, torna-se mais diffei] manter uma discussao ativa. Por outro lado, nao é fécil gerenciat a discussao em grupos com mais de dez pessoas, especialmente quan: dio os participantes apresentam alto grau de envolvimento com o tema. Na pratica, grupos grandes podem facilmente dispersar-se, getando conversas paralelas ou, ainda, as pessoas acabam falando ao mesmo tempo, o que rest ta em perda de dados, uma vez que tais situagées sio dificeis de registrar, mesmo quando gravadas. Deve-se ter 0 cuidado de selecionar pessoas com caracteristicas socials, econdmicas e estilos de vida semelhantes, ou seja, um trupo homogéneo, evitando-se amigos, parentes ou vizinhos para que os rela- Zionamentos preexistentes néo influenciem a contribuicéo dos participantes (MATTAR, 1996; MOTTA, 1999). Devem ser evitadas, também, pessoas que participam freqilentemente de grupos de foco, ou seja, as respondentes pro- fissionais (MALHOTRA, 2001). Recomenda-se, ainda, recrutar um mimero de partcipantes acima do nevessdtio (over-recruit), algo em torno de 20%, de modo a cobrir eventuais auséncias (MORGAN, 1997) ‘A duragao das reuniGes varia, em média, entre duas e trés horas. Cabe ao moderador perceber 0 momento de encerrar as discusses em virtude de os dados necessdrios jé terem sido obtidos ou, ainda, para que a discussio nao se tome cansativa para os participantes (MATAR, 1996). (© moderador deve, inicialmente, apresentar aos participantes os objeti- vos da pesquisa, bem como as regras para a participacio. Durante a sessio, os tssuntos devem ser introduzidas pelo moderador a partir de uma questao ge- hhética até aleancar o nivel de detalhamento esperado (AAKER, KUMAR e DAY, 3001), # importante que o moderador, ao encerrar a sesso, faga uma peque- ha sintese do que foi discutido, de modo a obter feedback dos participantes. Exemplos da utilizagéo de grupos de foco (0 Exemplo 1: Prontuario de pacientes do Hospital de Clinicas de Porto Alegre ‘Stumpf e Freitas (1996) realizaram uma pesquisa exploratéria para iden: tificar e validar 0 contetido essencial do prontudrio de pacientes do Hospital cnurosperoco 115 de Clinicas de Porto Alegre (HCPA), de modo a atender aos objetivos de assi téncia ao paciente, de ensino e pesquisa, de apoio administrativo e as exigén- cias legais. A pesquisa foi conduzida em trés etapas. Na primeia, foram realizados uma revisio da literatura pertinente ao tema e um estudo de caso no HCPA para o levantamento da situacio atual dos prontuarios. Foi, também, realizado um levantamento, por meio de entrevistas, da situacSo atual dos prontuétios de pacientes em hospitais brasileiros de grande porte. Foram identificados os prin: cipais problemas do HCPA no que se refere aos prontudrios de pacientes: 0 crescimento exponencial dos pronturios em volume e em quantidade, acarre- tando dificuldades para o armazenamento e demandando a ocupagio de reas fisicas que poderiam ser utilizadas para a assisténcia; excesso de papel armazenado em virtude do contetido desnecessirio dos prontudrios; dificulda- des para a leitura de prontudrios por causa do armazenamento em vies carbo- nadas; necessidade de niimero elevado de funcionédrios no Servico de Arquivo Médico e Informages em Satide (SAMIS) para atender & movimentacdo de cerca de 2.450 prontudrios/dia; entre outros. Apesar dos problemas mencio- znados, o levantamento constatou que o SAMIS do HCPA era um dos melhores do Brasil. Os resultados dessa etapa de investigacio revelaram, ainda, que os problemas enfrentados pelo HCPA no que se refere aos prontuatios de pacien tes eram comuins aos haspitais de grande porte e 0 caminho para a soluco esses problemas implicava a utilizacdo dos recursos da tecnologia de infor- macio. ‘Na segunda etapa, os pesquisadores optaram pela utilizagio de grupos de foco para a coleta de dados. Foram definidos seis grupos de discussdo, confor: ‘me as seguintes categorias: assisténcia médica, assisténcia de enfermagem, en sino médico, ensino de enfermagem, pesquisa e administragio. A composicéo dos grupos variou entre cinco e oito profissionais representativos de suas cate: gorias, Os pesquisadores optaram pelo alto grau de envolvimento do modera- dor. As reunides, realizadas entre outubro e dezembro de 1995, tiveram, em média, duas horas de duracio. Foram mencionadas diversas quest6es suges: tes originadas das discusses em grupo, tais como: necessidade de aprimora: mento do prontuario de pacientes; criagio de uma comisséio de auditoria de prontuérios; divisio do prontuério em um prontuério ativo e prontamente dis- ponivel, com informacées relevantes para a assisténcia ao paciente, ¢ outro, contendo informagées para fins legais, juridicos ou de pesquisas esporddicas. Aanilise dos dados coletados nas discussoes permitiu a definigio do con- tetido do prontudtio ativo do HCPA. Permaneceram as seguintes informagdes: lista de problemas, anamnese e exame fisico, evolugao diria, laudos diversos, ficha anestésica, descrig&o de procedimentos cirtirgicos, consultorias e docu: ‘mentos especificos de especialidades, Duas informacées foram substituidas: os resultados de exames laboratoriais por um impresso consolidado apés a alta 116 éroos os resquisa Ex aDaansrtagion do paciente, ¢ as prescrigbes dirias, por um impresso consolidado por inter. nagio, No prontuatio inativo, ficaram armazenadas as folhas de controle de sinais vitais, as prescrigdes didrias e os formulétios especificos de alguns pro. cedimentos. Foram eliminados todos os protocolos de pesquisa, todos os do. cumentos niio autorizados pela comissdo de prontudrios de paciente, exames externios ¢ 0s resultados de exames laboratoriais individuais, A terceira etapa da pesquisa, ainda nao realizada na época em que os pesquisadores apresentaram e publicaram os primeiros resultados, consistia na aplicagao de um questionério a uma amostra de 300 profissionais do HCPA, usuarios dos prontudrios de pacientes, a fim de validar ou nao as propostas dog grupos de discussao, De acordo com os pesquisadores, pesquisas futuras seriam realizadas para avaliar os resultados obtidos com as modificagées do prontuatio e acompanhar 0 processo de construcio do futuro prontudrio informatizado. (J Exemplo 2: Carta de valores ou carta de intengdes? Os grupos de foco foram utilizados por Junquilho e Silva (2002) em uma pesquisa sobre tentativa de integragao corporativa. Inicialmente, foram discu- tidas abordagens relacionadas aos estudos sobre cultura organizacional, bem como a questéo dos valores organizacionais, Us pesquisadores advogam que a abordagem integrativa, na qual se inserem as chamadas cartas de valores, en- tendidas como uma ferramenta para submeter os individuos aos ideais da or. ¢ganizacio, supe universos organizacionais homogéneos e objetivos. Levando em conta a complexidade e a heterogeneidade inerentes as organizagBes, os pesqiuisadores propéem a idéia da carta de intengdes, uma alternativa 8 carta de valores, Trata-se de uma proposta que se vale de trés perspectivas de enfoque, de modo complementar: a integracio, a diferenciagao e a fragmen- taco. # um levantamento de provaveis valores desejados, confrontados com as experiéncias cotidianas dos individuos nas organizagées. A pesquisa teve como objetivo responder a seguinte questo: como deter- rinados prinefpios desejados e inerentes &s chamadas “cartas de valores” po- dem estar desalinhados a realidade de préticas sociais recorrentes numa dada onganizagio? A pesquisa de campo foi realizada no ano 2000, na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, mais precisamente em uma de suas regionais, ocaliza- da na regio Sudeste do pats. Na época, a regional, na investigacio denomina. da XYZ para fins de garantia do anonimato, contava com 1,342 funcionérios. A pesquisa teve infcio com a participagzo de uma equipe de contrapartida, constituida por funciondrios com conhecimento da organizacdo. Deveriam in. dicar, de acordo com a visdo deles, um conjunto de valores representativos desejados para a XYZ. ‘oruros pe Foco 117 ito grupos participaram da pesquisa, sendo dois formados por carteiros, uma vez que esta categoria representava 1/3 do quantitativo de pessoal da XYZ, tum por operadores de triagem e transbordo (OTTs) e motoristas, um por atendentes, um por funcionérios da drea administrativa, um por chefias inter- medidrias, um por supervisores e um por gerentes. Cada um eles foi compos- to por oito funciondrios. {As sess6es foram realizadas em salas da XYZ. Aos participantes foi garan- tido 0 anonimato, sendo-lhes solicitado que retirassem os crachas antes de entrar na sala, Um roteiro semi-estruturado foi elaborado pelos pesquisedores para apoiar a condugao das sessGes, que tiveram em média 2h30 min de dura- gao. Foram gravadas, e seu contetido transcrito. Os dados foram analisados com base em eixos temiticos definidos de acor- do com 0 conjunto de valores indicados pela equipe de contrapartida, quais sejam: confianca, credibilidade, lealdade e honestidade; cooperacio, solida- riedade e participagdo; disciplina e justica no trabalho; comunicacao; respeito e compromisso. Os pesquisadores buscaram categorizar os fatores significati- vvos para a maioria dos participantes dos grupos de foco, sendo desconsiderados 0s contetidos que nao apareciam de forma semelhante em pelo menos quatro grupos. Os resultados da pesquisa revelaram que os valores indicados pela equi- pe de contrapartida nao correspondiam a realidade vivenciada pelos funcioné- rios da XYZ no cotidiano. Trés constatagSes foram destacadas: (a) reproducéo do autoritarismo, uma vez que a empresa, no passado, foi administrada por militares; (b) paradoxo pressdo e pontualidade, o que se traduz em mais tra- balho em menos tempo, devido & necessidade de cumprir metas preestabe- lecidas; (€) pouca visao sistémica da empresa, o que esté relacionado a idéia de duas empresas em uma, divididas pelas areas operacional e administrativa, A heterogeneidade e a complexidade da organizagio ficaram evidentes, envolvendo os enfoques de integracao, diferenciacdo e fragmentaco. Os con sensos compartilhados, como a imagem de confiabilidade da empresa, tanto interna quanto externamente, revelaram integracao. Jé 2 percepcao dos supervisores como autoritérios, por exemplo, revelou diferenciacao. A cobranca por maior produtividade versus a percepgao de que a empresa deve zelar pela pontualidade, por sua vez, indicou fragmentagao. Os pesquisadores conclufram que nao havia razo para propor uma carta de valores, jé que se tratava de uma tentativa de homogeneizacéo organi zacional. A carta de intengSes foi, portanto, sugerida de modo a promover dis- cussdo entre o desejado eo real, dando inicio & reconstrugio de praticas e sig- nificados no interior das organizacbes. 118 swlroo0s pe resus x ADNINSTRAGAO (J Exemplo 3: Governo eletrénico Ruediger (2002) utilizou grupos de foco em uma pesquisa que discutiuo tema do governo eletrénico, ressaltando sua dimenséo politica: a governanca eletronica. 0 pesquisador discorreu, inicialmente, sobre a situago do Brasil em com- paragdo & mundial em termos de acessibilidade digital. Fm seguida, tratou da ‘questo dos mecanismos de acesso e exclusdo digital, estudando a questo com 0 uso de ferramentas de geoprocessamento aplicado a politica. ‘A.utilizagio dos grupos de foco teve como objetivo captar a percepco de usuarios e de operadores puiblicos envolvidos com o desenvolvimento de siste- ‘mas de governo eletrénico, acerca da situagdo atual e das perspectivas do go- vverno eletrénico no Brasil Dois grupos foram selecionados, de acordo com os objetivos da pesquisa O primeiro foi composto por dez usudrios da Internet, na faixa etéria entre 25 .¢ 45 anos. Todos os participantes eram moradores da cidade do Rio de Janei- 19, pertencentes As classes sociais A e B. O segundo grupo foi composto por dez gestores de tecnologia da informacao e comunicacéo, selecionados entre gestores do sistema de governo eletrOnico em empresas-chave da esfera publi- ‘ca e em prestadoras de servicos piiblicos que tinham sido recentemente priva- tizados. A faixa etdria dos participantes variou entre 35 ¢ 55 anos. Todos ti- ‘ham nivel superior e pertenciam as classes sociais Ae B. As reunides dos grupos de foco ocorreram em junho de 2002. Foram conduzidas por um moderador que contou com 0 apoio de tum roteiro de en- trevistas semiflexivel, contemplando os seguintes tépicos: apresentagéo do ‘moderador e dos participantes; hébitos de vida, lazer, profissao; interesse no acesso a informaciio; percepgo do papel da Internet; habitos de utilizacdo da Internet; imagem e posicionamento dos sites do governo. O roteiro utilizado za reunio com o grupo de gestores apresentou mais um tdpico, além dos men- cionados: a avaliacéo da rede de governo. A equipe de pesquisa assistiu as reu- niges, isolada em uma sala espelhada, ao lado da sala das reunides, promoven- do, eventualmente, interferéncias em tempo real, por meio de perguntas dirigidas por escrito ao moderador. 0s resultados obtidos foram apresentados separadamente, considerando cada um dos grupos: usudrios e gestores. Em sintese, a percepciio dos usudrios foi assim compreendida: (a) digital divide —acesso ainda elitista; (b) razées para a exclusiio ~ nao se resumem apenas as diferengas socioeconémicas, mas, ta bém, a falta de interesse; (c) cidadaio ~ no se interessa pela esfera publica, é individualista, exceto quando precisa de algum servico; (4) participagao - de- pende do interesse de cada um, podendo ser ampliada se o governo propiciar incentivos e facilidades; (¢) credibilidade do governo ~ 0s sites sozinhos néo crurosnereco 119 aumentam a credibilidade; (f e-gov —dois governos: eficiente versus ineficiente; @ divulgagdo — ineficiente e necesséria No que se refere a percepgao dos gestores, a compreensio foi assim identificada: (a) digital divide — acesso cada vez mais democratico; (b) razbes para a excluséo ~ falta de ages educativas, falta de conhecimento das deman- das vis-d-vise falta de equipamento; (c) cidadao ~ mais participativo, sites sio muito acessados, contribuigdes sio efetivadas; (4) participagdo ~ reclamacéo sobre 0s servicos; (¢) credibilidade do governo ~ e-gov aumentou a credibi- lidade; (8 e-gov — um s6 governo; (g) divulgacao — ineficiente e necessétia. Conforme relatado na pesquisa, as percep¢ées identificadas iriam ser apro- fundadas por meio de entrevistas em profundidade e de um survey nacional. Para o pesquisador, hé uma necessidade de discutir 0 tema do governo letrénico com outros atores da sociedade. Ressalta que um conjunto de servi- 608 disponibilizados na web no constitui um efetivo processo de governanca eletrénica, Para transformar 0 governo eletrénico em um canal de gestio efi- ciente e democrético, considera fundamental explorar objetivamente novas formas de insercao civica nos assuntos de Estado, reestruturando processos de governo, Leituras para aprofundamento AAKER, David A; KUMAR, V, ; DAY, George S. Pesquisa de marketing. Sio Paulo: Atlas, 2001. JUNQUILHO, Gelson S.; SILVA, Alfredo R. L. da, Carta de valores ou de inten- Ges? Um debate sobre a tentativa de integragéo corporativa no mundo con- temportineo da gestio. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIACAO NACIO- NAL DOS PROGRAMAS DE POS-GRADUAGAO EM ADMINISTRAGAO, 26. 2002, Salvador. Anais... Salvador: Anpad, 2002. KRUEGER, Richard A, Moderating focus groups. Thousand Oaks: Sage, 1998. MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de marketing: uma orientagéo aplicada. 3, ed. Porto Alegre: Bookman, 2001 MATTAR, Fauze N. Pesquisa de marketing. So Paulo: Atlas, 1996. MORGAN, David L. The focus group guidebook. Thousand Oaks: Sage, 1998. Focus groups as qualitative research. 2. ed, Thousand Oaks: Sage, 1997, MOTTA, Paulo Cesar. Servigos: pesquisando a satisfagio do consumidor. Rio de Janeiro: Papel Virtual, 1999, 120 mérooos ne pesquisa sm aonanasTRAghO OLIVEIRA, Mirian; FREITAS, Henrique M. R. Focus group — pesquisa qualita va: resgatando a teoria, instrumentalizando o seu planejamento. Revista de Administragéo. So Paulo: Universidade de Sao Paulo, v. 33, n? 3, p. 83-91, jul/set. 1998, os A realidade operacional do focus group como investigacéo qualitativa... feedback de uma experiéncia monitorada, In: ENCONTRO NA- CIONAL DA ASSOCIACAO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE POS-GRADUA- GAO EM ADMINISTRAGAO, 22., 1998, Foz do Iguacu. Anais... Foz do Iguacu: Anpad, 1998. RUEDIGER, Marco Aurélio. Governo eletrénico ou governanga eletrénica: con- ceitos alternativos no uso das tecnologias de informaco para 0 provimento de ‘acesso civico aos mecanismos de governo e da reforma do Estado. In: XVI Con- curso de Ensayos y Monografias del CLAD sobre Reforma del Estado y ‘Modernizacién de la Administracién Publica “Gobierno Electrénico”. Anais, eletrOnicos... Caracas, 2002. Disponivel em: . Acesso em: 20 fev. 2003. STUMPF, M. K.; FREITAS, Henrique M. R. A gestéio da informagdo em um hos- pital universitério: em busca da definicdo do “patient core record” do Hospital de Clinicas de Porto Alegre. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAGAO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE POS.GRADUACAO EM ADMINISTRACAO, 20,, 1996, Angra dos Reis. Anais... Angra dos Refs: Anpad, 1996. 11 Historia Oral A histéria oral é uma metodologia de pesquisa que visa ao estudo e a0 registro de acontecimentos, histétias de vida, trajetérias de organizagées, en- fim, de temas histéricos contempordneos que permitam acessar pessoas que ainda estejam vivas. Sua principal técnica de coleta de dados 6 a entrevista de histéria oral, que obtém depoimentos dos entrevistados. A wtilizacio de depoimentos para a reconstitui¢ao de acontecimentos passados néo é recente, ocotrendo desde a Idade Média, Contudo, no século XIX essa pratica foi desprezada pela corrente de pensamento positivista, a qual sublinhow a supremacia dos dados resultantes de documentos escritos, sobre a histéria oral (ALBERTI, 1989). Intelectuais cuja posicéo era mais extrema consideravam que povos desprovidos de documentos escritos néo tinham his téria, A historiografia cléssia, positivista, foi contestada por historiadores fran ceses ¢ ingleses que, em meados do século XX, defenderam a chamada “nova historia”, A histéria oral fot introduzida nesse contexto, na década de 40, com o lancamento, nos Estados Unidos, do The oral history project, por Allan Nevis (ICHIKAWA e SANTOS, 2003). A metodologia avancou significativamente nos Estados Unidos, cujo boom ocorreu no final da década de 60 do século XX, ¢ em pafses da Europa Ocidental. No Brasil, a histéria oral surgiu em 1975, com o patrocinio da Fundacio Ford para a realizago de cursos ministrados por especialistas norte-america nos e mexicanos. A metodologia foi discutida com base no modelo desenvolvi- do no Oral History Program, da Columbia University. Nesse contexto, foram criados, no pais, 0s primeiros programas de histéria oral, nos quais se insere 0 122 trovos peresquusa an aonasTRAGAO Programa de Hist6ria Oral do Centro de Pesquisa e Documentacio de Histéria Contempordnea do Brasil (CPDOC) da Fundagao Getulio Vargas (FERREIRA, 11994a). Entretanto, o desenvolvimento da histéria oral foi limitado por fato- res politicos e econdmicos, sobretudo pelo Regime Militar, e pelo estudo da histéria referenciado pelo paradigma estruturalista, o qual condenava a utili zagio dos depoimentos pessoais, considerados de cardter subjetivo ¢ ndo generalizéveis (FERREIRA, 1998). A partir dos anos 90, a metodologia avan- cou, com a criagdo da Associacao Brasileira de Histéria Oral, em 1994, a reali- zagio de diversos semindrios sobre o tema e a sta discuss, na academia, com a incorporagio da disciplina em cursos de pds-graduagao. Esse desenvolvimento se deve, em grande parte, & quebra do paradigma estruturalista e& conseqitente valorizagao dos relatos pessoais e dos métodos qualitativos ¢ as mudancas ocor- ridas no campo politico, sobretudo o fim da ditadura. Gresceu o interesse da sociedade pelo resgate da meméria individual e coletiva (FERREIRA, 1998). # Palavras-chave Meméria Depoimento gravado ‘Temas contemporaneos Versio do passado Biografia e meméria dos informantes Narrativas construidas pelo entrevistado e pelo entrevistador Qoo0a00a ~ Caracteristicas principais 1 Permite reconstituir redes de relacio, padrées de socializagio, tra- Jetdrias de instituig6es, de comunidades ¢ de individuos. 1 Permite registrar as percepgdes de grupos ignorados pela histéria oficial ou aspectos relacionados a um tema especifico, mas desco nhecidos do puiblico em geral. 1 “Privilegia a recuperacao do vivido, conforme concebido por quem viveu” (ALBERTI, 1989, p. 5), 1 Ametodologia é aplicivel ao estudo de temas relacionados a disci plinas diversas, tais como: histéria, antropologia, administracao. GF No caso da realizagio de entrevistas em mais de uma sessio, hi o risco de o entrevistado alterar suas falas anteriores devido a refle xo entre uma sessio e outra, isrénsona, 123 CJ No caso da submissio do documento transcrito a reviso do entre- vistado, hd o isco de este solicitar cortes, acréscimos ou alteracées em excesso, modificando a estrutura da entrevista gravada, _ Requer do pesquisador experiéncia e conhecimento prévio sobre a temética ou a histéria de vida do entrevistado, na medida em que © resultado da entrevista & construido pelo entrevistador e pelo entrevistado. Além disso, exige sensibilidade para captar temas emergentes, que podem ser relevantes para os propésitos da pes- quisa, 1 Hao risco de o entrevistado evitar determinados temas, em vir- tude de o seu depoimento estar sendo gravado. xx Como utilizart G1 Definem-se o tema e 0 problema de pesquisa. CF Procede-se a uma revisio da literatura pertinente ao problema de investigagao e escolhe(m)-se a(s) orientacao(Ges) tedrica(s) que daré(o) suporte ao estudo, 17 Blabora-se 0 projet de pesyuise 0 Elabora-se uma lista de possiveis tipos de entrevistados (diretores, empregados, acionistas ete.) e, depois, uma lista de quais pessoas dentro desses tipos serdo entrevistadas (quais diretores, quais em: pregados ete.) OF Gonstitui-se a equipe de pesquisadores, quando um tinico pesqui sador for insuficiente. Definem-se as atribuigdes de cada membro da equipe. Elabora-se um roteiro geral de entrevistas. Elaboram-se os roteiros individuais das entrevistas, Procede-se ao contato inicial com o potencial entrevistado, Agenda-se a entrevista Realiza-se a entrevista, que pode ser apreendida como narrativa, como “ouvir um contar” (ALBERTI, 2004) Elabora-se o roteiro parcial da entrevista (nos casos da realizacéo de mais de um encontro com 0 mesmo entrevistado), Qoo00a a 1 Acrdem aqui spresentada nio é rgida. Pode, portanto, ser alterada conforme & situagfo, 124 éron0s pe resquisa x amanisTeAGHO (1 Registram-se em fichas os prineipais dados da entrevista: tema, data, local, horério, duracéo, nome do entrevistado, entre outros consi derados relevantes pela equipe de pesquisa. ‘Transcrevem-se as entrevistas. Confere-se a fidelidade da transcrigéo. Validam-se as informagSes, isto é, verifica-se se hd correlacéo en: tre fato narrado, pessoas mencionadas e época do acontecimento, Submete-se o documento transcrito & revisdo do entrevistado, Organizam-se os dados coletados em temas ou subtemas. Resgata-se 0 problema que suscitou a investigacio. Confrontam-se os resultados obtidos com a(s) teoria(s) que deu(ram) suporte & investigacdo. Formula-se a concluséo. Elabora-se o relat6rio de pesquisa, que pode incorporar as notas de campo do pesquisador. go000 900 ao No projeto de pesquisa, deve ser definido o tipo de entrevista a ser reali- zada, de acordo com os objetivos da pesquisa: entrevista tematica ou historia de vida. Na primeira, am tema central é estabelecido previamente, a partir do qual todas as entrevistas so realizadas. Na segunda, 0 foco ¢ o préprio entre- vistado, suas experiéncias, sua trajetoria Realizar um grande ntimero de entrevistas nao significa enriquecer a in- vvestigagio que se est realizando, Como em outras metodologias inseridas no Ambito da pesquisa qualitativa, na histéria oral hé um momento em que os dados coletados comecam a se repetir, agregando pouco valor ao material jé coletado. # 0 chamado ponto de saturaciia. Nesse momento, as entrevista podem ser encerradas. Além disso, o niimero de entrevistas a serem realizadas terd impacto direto no orgamento do projeto (ALBERTI, 1989). © contato inicial com o potencial entrevistado pode ser realizado pes- soalmente, por carta, e-mail ou telefone. E 0 momento para consulté-lo sobre sua possivel participacao na pesquisa. Devem ser apresentados os objetivos da pesquisa e esclarecidas dtividas do potencial participante. Obtida a aceitacao para a realizacio da entrevista, é importante soliitar a autorizacio para a gra- vvagio e a divulgagao dos resultados. As entrevistas podem ser realizadas por um ou mais entrevistadores. & prética do Programa de Histéria Oral do CPDOC a conducdo das entrevistas por uma dupla de pesquisadores (ALBERTI, 1989) ‘As entrevistas podem ser finalizadas em um tinico encontro ou requerer coutras sessées. No tltimo caso, o pesquisador deve elaborar, entre uma sessio € outra, roteiros parciais de entrevistas a fim de rever os t6picos que devem susrowa ona 125 ser mais explorados, os que ficaram de fora ou incluir outros que emergiram durante a entrevista anterior. Submeter o documento final & apreciagao do entrevistado é algo que deve ser acordado previamente entre os pesquisadores eo entrevistado. i importante manter registros, em notas de campo, sobre fatos relevan- tes relacionados & entrevista como, por exemplo, dificuldades para a sua reali- zacio, tépicos emergentes durante as entrevistas, entre outros. Os registros devem ser considerados para a elaboracio do relatério de pesquisa. Aqui, nfo abordo aspectos relacionadas & constituicio de um acervo, como, por exemplo, a contratacao de uma equipe, incluindo técnicos de som, copi- desques, entre outros profissionais; a selecdo de equipamentos para gravacio ce duplicacao das fitas; a aquisicao de materiais de consumo e permanentes; a catalogagao eo arquivamento, entre outros. Para este fim, préprio dos Progra- mas de Histéria Oral, sugere-se a leitura de Alberti (1989). Exemplos da utilizagao da metodologia de histéria oral (J Exemplo 1: O papel da mulher na familia e sua penetracao uv mercado de trabalho Os relatos orais foram utilizados por Campos (1996) em uma pesquisa sobre o papel da mulher na familia e sua penetragao no mercado de trabalho, na primeira metade do século XX. Foram consideradas as mudancas relacio nadas & urbanizacdo e a industrializacao pelas quais a cidade de Sao Paulo passou, principalmente a partir de 1930, e seus reflexos na estrutura e na or- sganizagdo da familia, bem como nos papéis masculinos e femininos. Foram entrevistadas 17 mulheres idosas que viviam em Sao Paulo e exer- ciam alguma atividade fora de casa, remuneradas ou nao, no periodo conside- rado pela pesquisa. O que levou essas mulheres a ter uma outra atividade, de que forma conseguiam conciliar 0 trabalho doméstico e a familia com outras atividades e como viam o papel da mulher na sociedade foram :6picos aborda- dos nas entrevistas. ‘A maior parte das entrevistadas nasceu no interior do Estado e pertencia a classe média. Suas familias se deslocavam com freqiiéncia, em busca de me- Thores condigées de vida. As que nasceram na cidade de So Paulo pertenciam a uma classe social mais elevada que as outras entrevistadas. © motivo pelo qual as mulheres ingressavam no mercado de trabalho era, sobretudo, a auséncia do pai e a necessidade de complementar a renda da fa inflia. As exceg6es ficaram por conta de uma entrevistada que fez carreira em tum banco piblico e outra que pertencia & classe alta. As mulheres que traba- 126 _wtra00s perEsqUISA #M ADMuNsTRAGAO Ihavam em virtude das dificuldades financeiras pelas quais passavam voltavam & dedicagao exclusiva ao lar na medida em que as finangas iam se estabilizan- do. Tal fato ocorria, muitas vezes, devido A pressdo familiar, da mae ou do marido. A influéncia familiar se fez notar, também, quando foi abordada a educagao formal. Quando o pai valorizava o estudo, influenciava a trajetéria das filhas nesse sentido. A educago formal foi elacionada, ainda, & classe social das familias, uma vez que muitas nao podiam proporcionar as filhas © acesso prolongado & escola, por caréncias financeiras. Nao obstante isso, as entrevis- tadas receberam uma educagio bastante rigida, Com relagéo ao casamento e as relacdes familiares, foi observada uma situagio de dependéncia da mulher. O casamento, na visio da familia de to- das as entrevistadas, nao deveria ser desfeito. Das trés que tentaram a separa- fo, apenas uma manteve a sua prépria decisfo, arcando com a falta de apoio dda mf, As outras duas desistiram da idéia por influéncia dos pais. Na casa de todas as entrevistadas, o traballio doméstico era tarefa exclusiva da mulher, que se desdobrava para conciliar todas as atividades. Mantinham uma relagao pré- xima com sua familia de origem, mas com a familia do marido o relacionamento cera, muitas vezes, dificil Para todas as entrevistadas, o papel da mulher na sociedad & cuidar dos filhos e do lar. Essa é sua fungao principal. Admitem o trabalho paralelo, fora de casa, deste que néo prejudique as atividades domeésticas. Valorizam a familia ea educagio rigida que receberam. No entanto, seus filhos foram educados com menos rigidez. Os caminhos que buscaram foram sempre aqueles aceitos pela sociedade, Apesar de trabalharem para a complementagio da renda familiar, relataram ter prazer no trabalho, pois era uma oportunidade para espairecer. De acordo com a pesquisadora, os relatos orais permitiram a reconstru «0 da trajetéria de vida de mulheres que viveram ¢ trabalharam em Séo Pau: lo na primeira metade do século XX. Os relatos foram espontaneos, seguindo ‘uma ordem cronolégica da vida de solteira ao momento atual, fazendo refe- réncias & familia e aos acontecimentos marcantes em suas vidas. Com a emer- géncia de novas questées, durante as entrevistas houve necessidade de retornar as entrevistadas para ouvi-las novamente. O fato de algumas entrevistas terem. sido realizadas na presenga de outra pessoa contribuitt para que a entrevista da lembrasse de acontecimentos nao relatados até ento, mas que eram conhe- cidos por outros. Aanélise das entrevistas revelou que a meméria individual era a forma predominante de meméria das entrevistadas. Flementos da meméria coletiva foram pouco comentados. Sobre a relagZo do presente com passado, a pes- quisadora sublinha o fato de que o papel da mulher, para as entrevistadas 6, hoje, o mesmo do passado. Sugere que a lembranca do passado foi influencia- dapela vida atual das entrevistadas, mas que determinados valores e imagens foram conservados por estarem internalizados. vaisromusoraL 127 (0 Exemplo 2: Trajetérias das universidades privadas no Brasil A metodologia da histéria oral foi utilizada para o desenvolvimento do yojeto Trajetdrias das universidades privadas no Brasil. Heymann e Alberti (2001, 2002) relatam o caréter heterogéneo deste segmento, bem como exa- minam algumas entrevistas de histéria oral realizadas. 0 projeto foi desenvolvido pelo CPDOC em parceria com 0 Niicleo de Estudos sobre Ensino Superior (Nesub) da Universidade de Brasilia, com finan- ciamento da Coordenagio de Aperfeicoamento de Pessoal de Nivel Superior (Capes). Teve como objetivo conhecer com maior profundidade o setor priva- do no ensino superior. Foram selecionadas 15 universidades privadas em sentido estrito, consi derando-se as de maior porte, sobretudo em mimero de matriculas, e a diver- sidade regional. Na regio Sudeste, foram selecionadas dez. universidades, seis ‘em Sio Paulo e quatro no Rio de Janeiro, Na tegido Sul, foram selecionadas duas universidades do Parand. As regiGes Nordeste, Centro-Oeste ¢ Norte fo- ram representadas por uma universidade cada uma. Inicialmente, foram abordadas as seguintes temticas em todas as entre- vistas: a trajetéria da instituigéo e o processo de transformagéo em universi- dade; o perfil eas éreas de atuacéo da instituigdo; 0 perfil dos corpos docente t discente; as atividades de ensino, pesquisa ¢ extensfo; a relagio com & co munidade e com outras universidades; a gestao académica e administrativa; a percepgio sobre a politica de avaliago do MEC; a percepgio sobre temas es- pecificos relacionados ao ensino superior; o ensino superior no Brasil e as pers- pectivas futuras. © contato inicial com as universidades foi estabelecido por meio de uma carta do presidente da Capes a cada reitor. Neste primeiro momento, era apre- sentado 0 projeto e solicitada a participacio da universidade. O segundo con- tato foi estabelecido pelo CPDOG, por telefone, com o intuito de agendar as entrevistas com 0 reitor e o mantenedor da universidade. Mais uma vez, 03 propésitos da pesquisa foram esclarecidos. ‘As percepgées com relagao ao projeto variaram de universidade para uni- versidade, desde 0 convite para a participagio. Em algumas universidades, a entrevista com o reitor foi precedida por uma outra com um vice-teitor, de modo ‘aassegurar para o reitor a seriedade do projeto. Nao houve um padréo no que diz respeito ao tamanho e ao aprofundamento das entrevistas, uma vez que a disponibilidade de tempo dos entrevistados foi bastante varidvel. Uma questéo foi central em todas as entrevistas: as erticas que o ensino superior tem recebido. Além disso, foi abordada a dicotomia ensino puiblico versus ensino privado. Outras temdticas emergentes de entrevistas realizadas foram as trajet6rias institucionais influenciadas pela politica ou pela religifo e © fato de grande parte das instituigdes pesquisadas ser do tipo familiar. 128 érooos pe pesquisa en aonansTRAGKO Resultados parciais da pesquisa, apresentados nos artigos de Heymann ¢ ‘Alberti (2001, 2002), revelaram a diversidade de perfis e estratégias das uni. versidades participantes do projeto. Diferencas regionais foram percebidas. As universidades localizadas no Rio de Janeiro e em Sao Paulo, por exemplo, nao tém dificuldades para a contratagio de professores titulados, a fim de atender as exigéncias do MEC. O mesmo no ocorre com as universidades localizadas fora deste eixo. Estas, por sua vez, enfatizam as atividades de extenséo. [As pesquisadoras relataram, ainda, o trabalho realizado em duas univer sidades: a Universidade Estécio de S4 (Unesa), no Rio de Janeiro, ¢ a Uni- versidade de Mogi das Cruzes (UMC), em Séo Paulo, ‘A Unesa foi fundada em 1970, Na época em que o artigo foi publicado (2001), a universidade contava com cerca de 80 mil alunos, distribufdos pelos cursos de graduacéo, seqtienciais, pés-graduacao lato sensu, mestrado e exten- so, Difere de outras instituigées por dar grande énfase aos cursos seqiienciais, Foram realizadas entrevistas com o reitor, em duas sess6es, totalizando 3h40 min, e com o fundador da instituigdo, durante 1h20 min AUMC foi fundada em 1973, sendo a primeira universidade particular no confessional criada no Estado de So Paulo. Em 1999, a universidade possuia 16 mil alunos. Foram realizadas entrevistas com o atval reitor, o antigo reitor 0 fundador e chanceler da instituicio durante, respectivamente, 3h50 min, 2h30 min e 2h, ‘Uma andlise das entrevistas realizadas com representantes das duas uni- versidades sugere diferentes motivagSes para a fundagao das instituigées ra es econémicas, no que se refere & Unesa, e vocacio para a area educacional, no que diz respeito 4 UMC. Apesar das diferencas entre as duas instituicées, os resultados obtidos no Provéo do MEC, em 2000, foram equivalentes. Por fim, a pesquisa sugere que as universidades esto em proceso de redefinigio de metas e procedimentos, necessidade dlecorrente das cemandas do mercado e da legislagdo. Ressalta, ainda, a importincia de se conhecer a trajetéria individual dos dirigentes, a trajetdria institucional, como as institui- (gbes constroem sua identidade e as particularidades regionais, para a compreen- si do segmento privado de ensino superior. Leituras para aprofundamento ALBERTI, Verena. Histéria oral: a experiéncia do CPDOC. Rio de Janeir« Centro de Pesquisa e Documentacio de Histéria Contemporanea do Brasil 1989. __. Ouvir contar: textos em histéria oral, Rio de Janeiro: Fundacao Getu- Tio Vargas, 2004, usronaoma, 129 "CAMPOS, Maria Christina Siqueira de Souza. Mulheres de diferentes classes Sociais em Sao Paulo: a familia e a penetracio no mercado de trabalho. In: AEIY, Jodo Carlos S. B. (Org.). (Re)introduzindo a histéria oral no Brasil. $io Paulo: Universidade de Sao Paulo: Xama, 1996. D'ARAUJO, Maria Celina; CAMARGO, Aspésia, Como a histéria oral chegou 20 prasil Entrevista com Aspésia Camargo a Maria Celina D'Araujo. Histéria Oral, 38 2, p. 167-179, 1999. FERREIRA, Marieta de Moraes (Org.). Histéria oral e multidisciplinaridade. Rio de Janeiro: Diadorim, 1994a. coord.). Entre-vistas: abordagens e usos da histéria oral. Rio de Je ‘alior Fundaglo Getulio Vargas, 19940. Desafios e dilemas da histéria oral nos anos 90: 0 caso do Brasil. 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Em termos cronol6gicos, a historiografia con- viveu com a supremacia das concepcdes positivistas até meados do século XX. Contudo, questionamentos a esta postura tradicional emergiram desde fins do século XIX (CARDOSO, 1981). No séeulo XX, a historiografia foi fortemente influenciada por duas cor: rentes: 0 marxismo e 0 grupo de Annales (CARDOSO, 1981, 1997). Esta dt ma corrente foi marcada pelo lancamento da revista francesa Annales dhistoire économique et sociale, em 1929, uma iniciativa de Marc Bloch e Lucien Febvre (MOTTA, 2000) Neste capitulo, relaciono, como Curado (2001), 0 termo nova histéria &s correntes que se contrapdem ao paradigma tradicional. Sao elas: o marxismo, a le des Annales, as ciéncias sociais histdricas, 0 pés-modernismo. O para- digma tradicional tinha a hist6ria politica como modelo. Caracterizava-se pela narrativa dos acontecimentos, baseada em documentos escritos (CURADO, 2001). Pode-se dizer que as fontes escritas eram uma obsessao para os histo riadores ligados a este paradigma. Elas eram consideradas a nica maneira de se gerar conhecimento histérico, como asseveram Langlois ¢ Seignobos, lembra- sronoceria 131 dos por Cardoso (1981, p. 46): “a histéria se faz com documentos. .. Porque nada substitu’ os documentos: onde nao hé documentos nao ha histéria”. A nova histdria, por seu turno, abrange toda atividade humana. Caracteriza-se pela and- lise das estruturas e contempla outras fontes de coleta de dados, tais como as entrevistas de historia oral! e a iconografia (CURADO, 2001; MARTINS, 2001). ‘A pesquisa historiogratica tem sido pouco utilizada na étea de adminis- tragéo (CURADO, 2001). Cabe, contudo, registrar algumas iniciativas. Curado (2001), por exemplo, apresentou uma proposta metodolégica. Mendonca (2000) reivindicou espaco na academia para a historia de empresas brasilei- ras. Vergara e Cavalcanti (1995a, 1995b, 1995c) resgataram a hist6ria dos Correios, Aquino (1986) trouxe, em sua coletanea Histéria empresarial vivida, depoimentos de empresiirios brasileiros bem-sucedidos. Para o autor (1986, p. 7): “ha uma estreita relaco entre as préticas de trabalho dentro das organiza- Ges 0s valores de origem da empresa, notadamente os valores dos pioneiros, @ empresérios, individuos de forte influéncia na trajetéria dos negdcios ¢ da organizago”. Valendo-se deste pressuposto, Vergara, Silva e Gomes (2004) abordaram, como Motta (1995), a relagao entre histéria de vida e histéria institucional. Martins (2001), por sua vez, ousow ao tratar Canudos como um tema de administracio. Considerando os diversos campos de pesquisa relacionados & histo- riografia, aqui privilegio o estudo de individuos (historias de vida), organiza: gées (histéria institucional ou de empresas) e movimentos sociais, elegendo como paradigma a nova histéria, # Palavras-chave Passado Trajetérias tendéncias Acervos histéricos Documento escrito Fontes nfo escritas (orais, arqueoldgicas, iconogréficas, ‘musicograficas) goooa % Caracteristicas principais O Permite a reflexiio e a compreensio acerca da construgao, da trans: formacao e da incorporagio dos valores das ages do homem ao Tongo do tempo. 1 Sobre a histria oral, ver Capitulo 11. 132. \éropos oe pesquisa Ba ADvenusTRAGKO 7 Permite resgatar as trajetérias de individuos, organizacdes e movi- ‘mentos, reduzindo a distancia entre o discurso e a pratica, 1 No se limita & narrativa de acontecimentos, mas pressupde sue’and- lise e interpretagio. 1 Pode haver dificuldade para resgatar 0 acervo de documentos his- t6ricos, em virtude de sua destruigéo ou da md conservacio. a tendem a ser elevados, bem como o tempo Os custos da pesqui para sua realizacao. Ye Como utilizar? CF Definem-se o tema e 0 problema de pesquisa. GF Procede-se a uma revisdo da literatura pertinente ao problema de investigacdo e escolhe(m)-se a(s) orientacéo(6es) tedrica(s) que dard(o) suporte ao estudo, 17 Procede-se & coleta de dados por mefo de pesquisa documental, re~ correndo-se a documentos como relatérios, regulamentos, balan- cetes, correspondéncias comerciais, cartas pessoais, didrios, fotogra fias, filmes, entre outros, conseivados por érgdos piiblicos ou pri vados, ou com pessoas. GF Selecionam-se os sujeitos da pesquisa em fungio dos objetivos da investigagio: empresérios e seus familiares, funciondrios de empre- sas, fornecedores, clientes, estudiosos do tema, sobreviventes da época, 1 Coletam-se os dados no campo, em geral, por meio da realizacio de entrevistas abertas ou semi-estruturadas. Selecionam-se os dados coletados, por periodos relevantes. 0 1D Analisam-se os dados. 17 Comparam-se os dados obtidos por meio de fontes primérias e se- cundarias, escritas e ndo escritas, relacionando-as aos objetivos da pesquisa, 11 Resgata-se o problema que suscitou a investigacéo. © Confrontam-se os resultados obtidos com a(s) teoria(s) que deu(ram) suporte a investigacao. 1 Formula-se a conclusio. (7 Blabora-se o relatério de pesquisa. x alterada conforme a 2 Acrdem aqui apresentada nfo rigid. Pode, portanto, s situagio. vusrowocaara — 133 Podem-se destacar os seguintes tipos de documentos para. realizagao da pesquisa documental em empresas: livros manuscritos de atas das assem- biéias de acionistas, de atas das reuniées de diretoria, de atas do Conselho Fis- cal, dios e livros contabeis, folhas de pagamento, fichas de emptegados, te- latérios anuais, correspondéncias comerciais, contratos e recibos (LOBO, 1997). 0 pesquisador, contudo, poder encontrar dificuldades para acessar determi- nados documentos antigos, uma vez.que, no Brasil, é comum a sua destruigao ou a mé conservacao. Considerando o paradigma da nova historia, sugerem-se a utilizagio e, por conseguinte, a comparacao entre: (a) fontes primérias e secundérias, (b) fon tes escritas € néo escritas. Sto exemplos de fontes primarias: cartas pessoais, didrios, correspondéncias comerciais, entrevistas com o(s) sujeito(s) privi legiado(s) pelo estudo (histdrias de vida), com membros de organizacées, com participantes de movimentos sociais, entre outros. Filmes, estudos publicados sobre o tema, entrevistas com estudiosos s4o, entre outros, exemplos de fon: tes secundirias. Fontes escritas referem-se a documentos manuscritos ou int pressos. Fontes nao escritas, por sua vez, englobam fotografies, filmes, entre vistas de histéria oral, objetos diversos. Considera-se, portanto, que todo ma- terial, primario ou secundério, escrito ou ndo escrito, relacionado aos obje- tivos da pesquisa é passivel de utilizagio. Ou, nas palavras de Fustel de Coulanges, lembrado por Cardoso e Mauad (1997, p. 101): “onde o homem passou e deixou marca de sua vida e inteligéncia, af esté a Histéria’. A esta afirmagéo, os autores (1997, p. 401) acrescentam: “qualquer tipo de marca” Exemplos da utilizagdo do método historiografico (J Exemplo 1: A histéria do Bardo e Visconde de Maud A trajetéria de um dos maiores empreendedores brasileiros, Irinew Evangelista de Sousa, o Bardo e Visconde de Maud, foi tratada por Caldeira (2995a) em Maud: empresdrio do Império. Movido pela leitura da obra Exposi: cao aos credores, um estudo de autoria do proprio Maud, Caldeira decidiu in- vestigar a vida deste empreendedor e o periodo no qual viveu, a fim de tentar entender a hist6ria do Brasil Galdeira (1995a) realizou durante trés anos uma intensa investigagio bibtiogréfica e documental no Brasil, na Inglaterra, no Uruguai e na Argenti na. Foram analisados diversos estucios sobre Maud, contemplando perfodos relevantes da vida do empreendedor. Foram, também, utilizadas obras de re- feréncia como as colecées dos Anais do Senado e da Camara dos Deputados, as Atas do Conselho de Estado e das Consultas da Secao de Negécios Estran- 134 METO008 DE FESQUISA Hla ADMINISTRAGAO geiros do Conselho de Estado, jomais da época, entre outras. No que se refere 3s fontes primérias, foram consultados, entre outros documentos, correspon. déncias comerciais, cartas pessoais, relatdrios e registros das empresas de ca pital aberto de Maud com ages negociadas na Inglaterra. O pesquisador apresentou a trajetdria de Maud desde o seu primeiro cemprego, no Rio de Janeiro, até o inal da vida, resgarando os acontecimentos ages do empreendedor. ‘Mau foi um empresério rico e poderoso, um caso marcante de iniciativa individual, conhecido no Brasil e no exterior. Foi o primeiro industrial do pais Seus negécios incluiam bancos, estradas de ferro, companhias de navegacio, servicos piiblicos. Montou 17 empresas em seis paises. Enfrentou ataques por que seus empreendimentos geravam lucro, Para 0 pesquisador, Maud tinha trés caracteristicas de um empresério de sucesso internacional: (a) capacidade de inovacdo, (b) jeito para administrar, (c) capacidade de observar a realidade. Maud contrariou a cultura brasileira na época, que condenava 0 luero e a Vi- sdo empreendedora. Suas realizagées, hoje, sao valorizadas. Entretanto, 0 sen- timento de que um empreendimento bem-sucedido é fruto de um favor puibli- co ou um indicador de desvios de cardter ainda permanece. Como assevera Caldeira (1995b, p. 14), “o grande ponto positive de conhecer o passado é verificar que as pessoas néo mudam tio radicalmente; certos comportamen- tos permanecem”. A pesquisa realizada por Caldeira (1995a) revela a trajetoria de Maud imbricada com a historia do Brasil, constituindo, assim, uma referéncia funda- ‘mental na histéria de empreendedores brasileiro. (0 Exemplo 2: A histéria da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) Na década de 90 do século XX, a Empresa Brasileira de Correios e Telé- ‘grafos (ECT) era considerada uma empresa de sucesso. Dado que sucesso ¢ algo construido, Vergara e Cavalcanti (1995a, 1995b, 1995c) valeram-se do méto do historiografico para responder a seguinte questo de pesquisa: como foi construfdo o sucesso da ECT? Para tanto, procederam a uma revisio da litera- tura pertinente, bem como a investigago documental em arquivos da ECT em poder de alguns dos entrevistados. No campo, foram realizadas entrevis- tas abertas com presidentes da ECT, empregados do nivel gerencial e de assessoramento e empregados de outros nivei A pesquisa foi dividida em trés perfodos considerados relevantes. No pri ‘meiro, os pesquisadores apresentaram as origens do servico postal brasileiro, a criagéo do Departamento dos Correios e Telégrafos (DCT) em 1931 e a trans- formagéo do DCT na ECT. 0 segundo periodo, de 1974 a 1984, foi caracteri- srouoamna 138 zado pelo crescimento da ECT, com a implementagao dos projetos elaborados ‘tos primeiros quatro anos de existencia da empresa. O terceito perfodo, de 1985 #2 1994, foi marcado pela nova referéncia de gestio, pela compettividade e pelas sovas mudancas. [A pesquisa revela que a organizagao do servico postal brasileiro se deu com a.riagio dos Correios da Coroa e Provincia do Rio de Janeiro, emn 1808, e com a aprovagio do primeiro regulamento postal do Brasil. Com a ascensio de D. Pedro II 20 trono brasileiro, tiveram inicio a emissao de selos postais eo funcio- amento do correio urbano, no Rio de Janeiro. Em 1931, foi criado o DCT, transformado, em 1969, na ECT. O periodo Ge 1981 a 1969 foi marcado por mudangas na administracéo publica brasiei ra, com destaque para a criagdo do Departamento de Administracdo do Servi ¢@ Publico (Dasp), introduzindo na organizagéo piiblica os principios da ad- | rinistragao cientifica. © DCT, entretanto, estava obsoleto e demandava investimentos. Sendo assim, foi criada a ECT, vinculada ao Ministério das Comunicagdes, com auito- rnomia para a implementagao de mudancas. O presidente da transigao foi Ru- ‘bem Rosado, sendo substituido por Haroldo Corréa de Mattos, presidente no periodo de 1969 a 1984, Quatro questées foram consideradas relevantes para ‘a grande virada: investimento em pessoal, arquitetura organizacional mais 4gil, auto-suticiéncia financeira ¢ oferta de servigos. Nesse periodo, a ECT enfre tot os problemas que tinha e investiu fortemente na formacéo e treinamento de pessoal, Em 1974, Adwaldo Cardoso Botto assumiu a presidéncia da ECT, ficando no cargo durante 11 anos. A administragao de Botto foi marcada pela conti nuidade, pela implementacdo dos projetos propostos por Mattos. Botto segmen- tou o sistema de treinamento em trés niveis: operacionel, médio e superior. Em 1975, foi aprovado o Plano de Cargos e Salérios dos Correios e, em 1977, 0 sistema de promogées ¢ acesso. Em 1979, a ECT passou a contar com érgdos de planejamento, engenharia, processamento de dados, recursos humanos, comercializagio, servigos gerais, suprimento filatelia. Além de continuar va- lorizando a gestio de pessoal, Botto buscou a credibilidade dos servicos, apri- morando as rotinas internas dos centros de triagem postal, implementando 0 sistema de aferigdo dos servigos e a Rede Postal Noturna. ‘A década de 80 foi marcada pela competicdo, pela inovagio tecnolégica e pelas praticas de administracio japonesas em intimeras partes do mundo. A ECT viveu um perfodo duro na segunda metade dessa década, coma queda da credibilidade, as greves e o congelamento de tarifas pelo Plano Cruzado, Fo ram presidentes, na época, o engenheiro Laumar Melo Vasconcelos, de 1985 a 1988, e o economista Joel Marciano Rauber, de 1988 a 1990. 136 sérov0s be resquisn ra ApuavisTRAGHO José Carlos Rocha Lima assumiu a presidéncia em 1990, buscando novos nichos de mercado e utilizando instrumentos como o marketing eo planeja- mento estratégico. Implementou o projeto de franquias, levando a ECT, em 1992, a primeira colocagao no ranking das 100 maiores franqueadoras do Bra- sil. Em 1993, a ECT implementou um novo sistema de avaliagao de desempe- tho de pessoal, voltada para a obtenglo de resultados. Em setembro de 1993, Rocha Lima foi substituido por Antonio Correa de Almeida, uma indicacéo politica. No ano de 1994, a ECT comemorou seu jubi- Tew de prata. A pesquisa de Vergara e Cavalcanti (1995a, 1995b, 1995c) resgatou acon- tecimentos marcantes da histéria dos Correfos na busca da modernidade, rela- cionando-os As mudangas ocorridas na administracao piiblica brasileira, Bxi- tos, oportunidades, ameacas e ousadias foram apresentados pelos pesquisado- res, alertando para a necessidade de manter e ampliar a credibilidade alcangada na busca de um futuro vitorioso. (7 Exemplo 3: A histéria de Olga e do Grupo Nova América método historiogréfico foi eleito por Vergara, Silva e Gomes (2004) para a realizagio de uma pesquisa sobre responsabilidad social empresarial. O es- tudo privilegiou a histéria de uma empresa familiar brasileira, o Grupo Nova América, a qual se dedica hé quase 150 anos agricultura, & pecudria e & agroinddstria, tendo, em 2004, na produgio de acticar e alcool sua principal atividade. 0 Grupo Nova América ¢ reconhecido por diversas entidades como uma ‘empresa socialmente responsdvel e delas recebeu varios prémios: Fundagéo brine pelos Direitos das Griancas (Empresa Amiga da Crianca), Camara Ame- ricana de Coméreio (Prémio ECO), Associacdo dos Dirigentes de Vendas do Brasil (Prémio Top Social em 2000 e 2002), Revista Exame (As 100 melhores empresas para se trabalhar). Este reconhecimento foi tomado pelas pesquisa doras como fato, suscitando a seguinte questo: que motivacées impeliram os proprietérios do Grupo Nova América a atuar de forma socialmente respon: vel? A resposta a esta indagaco remeteu a historia de Olga Ottoni de Rezende Barbosa, a matriarca do Grupo. O estudo voltou-se, assim, para o entrelaca- ‘mento de uma histéria de vida com uma histéria institucional. (Os dados foram coletados por meio de pesquisa documenta, bibliogratfica e de campo. Foram utilizados documentos da empresa, bem como do acervo da familia de Olga. A reviséo da literatura contemplou a questio da responsabilida- de social, bem como forneceu dados acerca do contexto politico e socioecondmico brasileiro da época. No campo, foram realizadas entrevistes sronooaana 137 semi-estruturadas com dois proprietérios-dirigentes e dez funcionérios da em- pres, sendo dois diretores, trés gerentes, tts supervisores e dois operérios. © Grupo, com origem em 1860, evoluiu de outras designagdes e forma- tages, marcando presenca, hoje, em varias cidades do interior de So Paulo do Mato Grosso do Sul. Seus proprietérios so descendentes de tradicional familia mineira de cafeicultores do século XIX. O Grupo Nova América, como écomhecido, é, na verdade, a holding Rezende Barbosa S.A., que congrega 11 tunidades de negécio e uma Fundagao. As empresas do Grupo atuam em diver- 30s segmentos da economia, que vao desde o cultivo da cana-de-agiicar, gros, frutas, chs, criagio de gado leiteiro e de corte producio de agicar, dlcool e derivados, sucos, café soltivel e energia como subproduto do bagaco de cana. ‘Atendem aos mercados interno e externo. Olga, filha de tradicionais proprietarios rurais, nasceu em 1885. Desde cedo, acompanhava o pai nas tarefas do campo, recebendo dele as primeiras orientacdes sobre a vida rural. Olga estudou até os 17 anos em uma escola germénica de religiosas. Casou-se em 1907. Teve oito filhos. Em curto espago de tempo, perdeu o pai e 0 marido. Passou, assim, a administrar com o irmao o patriménio da familia. Olga dividia seu tempo cuidando dos filhos e da casa pela manha e dos assuntos administrativos e operacionais das fazendas, no periodo da tarde. O relato dos entrevistados, bem como registros da época, Fevelam que Olga foi uma fazendeira dindmica, atuante, com objetivos clares, que lutava por eles repartindo-se entre os negécios ¢ a familia. Com o crescimento dos negécios, foi constitufda, em 1927, a Companhia Agricola Rezende, razio social alterada, em 1935, para Sociedade Agricola Rezende. A familia passou pelas dificuldades da crise de 1929, das “cotas de sactificio do café” e da Segunda Guerra Mundial, mantendo o controle dos negécios. Aproveitou oportunidades que surgiram apés a crise de 1929, adqui- rindo mais quatro fazendas. Nesse periodo, o filho mais velho de Olga ingres sou nos negocios. Renato passou a ser responsdvel por uma fazenda em Quintana, recebendo orientacdes da me por meio de correspondéncias. En- tre 1935 ¢ 1948, foram trocadas cerca cle 800 cartas, catalogadas e arquivadas no acervo particular da familia. 0s anos dificeis da economia levaram a familia & diversificagao de eultu- ras, iniciada com a plantagéo de algodao e, mais tarde, de mandioca. A diver sificagdo trouxe bons resultados para os negécios. Olga, contudo, mostravase preocupada tanto com as quest6es financeiras quanto com as ambientais. Um trecho de uma de suas cartas para o filho Renato ilustra tais preocupagoes: [...] actualmente vamos precisar augmentar a lavoura, vae ser preciso ‘usar das terras com mata, Fala para Nelson si derrubar drvores plantar outras na quantidade. Ele sabe: para nao provocar seca e segurar 0 ter~ reno [...] (VERGARA, SILVA e GOMES, 2004, p. 8). 138. méroos pe resquisa a anwinisTaACiO Depoimentos e cartas revelaram, ainda, que Olga, mesmo em tempos di ficeis como o da guerra, honrava seus compromissos. Mantinha-se informada acerca dos acontecimentos regionais, nacionais ¢ dos fatos internacionais, de ‘modo a precaver-se com o planejamento das economias, demonstrando o uso da informagéo para orientar decisées, bem como a ética na conducio dos negécios. Em 1945, Renato adquiriu seu proprio empreendimento, uma usina de agticar e alcool, que recebeu o nome de Usina Nova América. Em 1957, a fa- milia, mais uma vez buscando a expansdo dos negécios, adquiriu a Usina Maracaf. ‘A ideranga dos negécios manteve-se nas maos de Olga até 1957. Em 1958, passaram a set conduzidos pelos irmaos Renato e Paulo, No entanto, Olga, que za época tinha 73 anos, nao se mantinha alheia aos negécios. Em 1975, teve inicio a remodelagem do parque industrial da Usina Maracal. Em 1979, a Us nna Maracaf S.A. sofreu uma cisio, originando a Maracaf S.A. ~ Acticar e Alcool aia. Agricola Santa Olga, Neste mesmo ano, foi criado o departamento de recursos humanos da empresa, iniciando-se af o processo de profissionalizagio do Grupo. Em 1980, a familia intensificou o processo de profissionalizagao e 0 Grupo Nova América foi formalmente constitufdo. Em 1983, Olga faleceu, aos 98 anos. [As entrevistas com os dirigentes do Grupo revelaram uma concepgdo da empresa sob quatro dticas: pessoal, social, econdmica ¢ ambiental. Do ponto de vista pessoal e familiar, a empresa é, para eles, 0 meio para enfrentar desa- fios, cumprir vocagdes e realizacées, visando & perpetuacdo ¢ ao autode- senvolvimento do Grupo. Do ponto de vista social, percebem a empresa como «um dos mais dindmicos agentes da sociedade, onde sao geradas riquezas ¢ fon- tes de trabalho, podendo alterar os destinos de uma sociedade. Por esta razio, a ética na condugao dos negécios e no uso de recursos ¢ fundamental para que 0s beneficios ultrapassem 0 contorno da empresa. Sob a ética econémica, con- sideram que o retorno néo deve vir apenas como remuneragao do capital, mas, sobretudo, como forma de capacitar a empresa para a perenidade, garantin- do, paralelamente, a manutencao e o aumento dos postos de trabalho e possi- bilitando aos funciondrios o alcance de seus objetivos pessoais. Do ponto de ‘vista ambiental, a visio que eles tém é aquela segundo a qual a natureza € provedora de tudo para todos; nfo ha como destespeiti-la, [As pesquisadoras destacaram que, segundo os dirigentes do Grupo, hé ‘muito tempo, quando ainda no se cogitava sobre o tema responsabilidade social, dois aspectos eram considerados relevantes: as pessoas ¢ a natureza. A posicio dos dirigentes foi ratificada pelos funciondrios entrevistados, que néo apenas interpretam, nas ages e praticas cotidianas desses dirigentes, a coerén- cia entre o discurso e a ago, entre as crengas e valores pessoais e as crencas ¢ susronocana 139 xalores organizacionais, como também tém na narrativa dos fatos de Olga uma fonte permanente de aprendizagem. Os resultados da pesquisa revelam que as histérias sobre crencas ¢ valo res de Olga continuam tendo poder, mesmo depois de sua morte, aos que lhe sucederam. Essas crencas e valores consolidaram 0 desenvolvimento do Gru- po, cujos negécios so conduzidos com ética, interagao social e ambiental, afr mando ser possivel conciliar competitividade e humanizacio. Contudo, no se descarta do processo a existéncia de desvios, contradigdes, ambigiidades, uma vez que subtrai-los seria negar a propria vida. (0 Exemplo 4: A histéria do movimento social de Canudos Teria sido Canudos um fendmeno administrative? Martins (2001), valen- do-se do método historiografico, analisou o movimento social de Canudos em busca da resposta a esta indagacio. Oestudo, realizado em seis etapas, de junho de 1994 a dezembro de 1998, contemplou uma revisio da literatura pertinente ao tema, pesquisa documen: tal e de campo, Além de documentos escritos, o pesquisador valeu-se de fon: tes iconogréficas, musicais eliterérias. Foram consultados arquivos, centros de documentagio e museus em sete Estados brasileiros: Amazonas, Bahia, Ceard, Pard, Pernambuco, Rio de Janeiro e Sao Paulo. No campo, foram registrados 0s depoimentos dos cronistas-testemunhas, pessoas que estiveram em Canu- dos ou que conheceram Antdnio Conselheiro, divididos em quatro grupos: (a) os repérteres que fizeram a crdnica da guerra pata a imprensa da época ou que relataram sobre Ant6nio Conselheiro; (b) os combatentes que registraram suas memérias em colunas de jornal, relatdrios ou livras; (c) os médicos e acadé- micos de medicina e farmacia que serviram no Servico Sanitério do Exército em Combate; (d) os religiosos que vivenciaram 0 conflito. Foram, ainda, co Ihidos depoimentos dos sobreviventes (narrados por terceitos), dos descenden: tes e de estudiosos do tema. A historia de Canudos comecou em junho de 1893, quando Antonio Vicente Mendes Maciel, o Anténio Conselheiro, e seus seguidores chegaram se estabeleceram no povoado de Canudos, denominado por ele Belo Monte. O sonho de reinventar 0 sertdo durou para Conselheiro e seu povo cerca de qua- tro anos. Nesse periodo, a comunidade chegou a cerca de 24 mil habitantes, com um crescimento demogtéfico em torno de 219,6% ao ano. Entretanto, 0 modelo de organizacio social e econdmica de Canudos era capaz. de prover a subsisténcia dessa numerosa populacio. Conselheiro foi um lider de massas. Sua capacidade de planejar, organi- zar, bem como de implementar resultou na execugao de mais de 20 obras so- ciais e na fundacao, organizacio e governo de duas cidades. 140 séronos pe resouisa at apunisrangho A tentativa de reinventar o sertdo, contudo, assustava. Espalhava-se a noticia do discurso anti-tepublicano de Conselheiro. Em 1895, Canudos rece. eu uma missdo de frades capuchinhos, enviada pelo arcebispo D. JerBnimo ‘Tomé, respondendo a um pedido do governador. A fracassada misséo tinha como objetivo a dissolucdo da comunidade local. Resultou em um relatérig sobre a vida no arraial, recomendando providéncias para que a ordem fosse restabelecida, Teve inicio, entio, o massacre de Canudos, com a morte de Con- selheiro em setembro de 1897 e a destruico do povoado em outubro do mes. mo ano, ‘A pesquisa de Martins (2001) trouxe & tona discussées relacionadas a diversos aspectos desse movimento social. O tamanho da populacao do ar- raial, por exemplo, é uma questao importante, dado o crescimento demogréfico fenomenal mencionado. Para 0 pesquisador, o sistema de produgo desenvol- vido pelo povoado permitiu que enfrentassem, apesar das condigdes pouco favordveis da regido, 0 desafio do abastecimento. Destacou, ainda, o talento administrativo e pedagdgico de Antnio Conselheiro, um lider de massas que planejou, organizou e dirigiu a implementacdo do projeto de reinvencéo do sertio. Suas “quase-conclusées”, fruto de reflexes pautadas pela incursio a0 Belo Monte e pelo pensamento administrative, apontam que o movimento re- ligioso-social de Canudos é um fendmeno administrativo expressivo e uma referéncia no que diz respeita an jeito brasileiro de administrar. Leituras para aprofundamento AQUINO, C. (Org.). Histéria empresarial vivida, Sao Paulo: Gazeta Mercan- til, 1986. 2v. CALDEIRA, Jorge. Maua: empresério do Império. So Paulo: Companhia das Letras, 19958, Fluente ¢ empolgante: o Brasil descobre Maud. Entrevista a Ana Ma- Fia Brescancini. RAE Light. S4o Paulo: Fundagao Getulio Vargas, v. 2,n® 3, p. 8-14, maio/jun. 1995b. CARDOSO, Ciro F. Uma introdugéo a histéria. Sao Paulo: Brasiliense, 1981, Histéria e paradigmas rivais. In; CARDOSO, Ciro F.; VAINFAS, Ronaldo (Org). Dominios da histéria: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janei- ro: Campus, 1997. MAUAD, Ana Maria. Histéria ¢ imagem: os exemplos da fotografia e do cinema. 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(Oiga: a semeadora de gros e de responsabilidade social na histéria do Grupo Nova América. Ebape/FGV. Texto para Discusséo, 2004, a ser publicado pela revista Organizagio & Sociedade. 13 Mapas Cognitivos Mapas so representacdes graficas que fornecem um quadro de referén- cia acerca de localizacées. Mapas geogréficos, por exemplo, fornecem as pe soas sua localizacéo no espago, de modo que possam identificar onde esto, ‘bem como a diregdo a ser seguida. Valendo-se desta analogia, Fiol e Huff (1992, . 267) definem mapas cognitivos como “representagées graficas que localizam essoas em relacao a seus ambientes de informagéo”, A expresso mapa cognitivo tem sua origem na érea de psicologia com os estudos de E. Tolman sobre aprendizagem e orientagao de ratos em labirintos (BASTOS, 2000; EDEN, 1992). Tais estudos foram marcados pela publicacso do artigo Gognitive maps in rats and men, em 1948. Pode-se dizer que os ma- as cognitivos sio representagées que se inserem na abordagem cognitiva, cujo surgimento se deu como uma reacio ao pensamento behaviorista, hegeménico na psicologia até a década de 50 do século XX (BASTOS, 2001). © mapeamento cognitivo & 0 método pelo qual sio identificados os ele- mentos que compem os mapas (BASTOS, 2000). Mapas sio, portanto, frutos do mapeamento. So representacées dindmicas, schemas ou modelos mentais, atualizados & medida que novas informagées sao processadas (SWAN, 1997) Nao sdo cépias exatas da realidade, mas sua representaco aproximada (BAS- TOS, 2000). Para Cossette e Audet (1992, p, 327), mapas eognitivos sao “re- Presentagées grificas de um conjunto de representagSes discursivas elabora- das por um individuo, relacionadas a um objeto em um contexto particular de interacao”, Mapas cognitivos podem revelar varios tipos de relacionamentos entre conceitos, tais como: proximidade, similaridade, causa e efeito, continuidade apascocimvos 143 ,OUGON, 1983; SWAN, 1997). Considerando as diversas possibilidades, Fiol ¢ Huff (1992) apontam trés tipos basicos de mapas: (a) de identidade, (b) de categorizagao, (C) causais. Eles sao discriminados a seguir: (1 Mapas de identidade: permitem a identficacdo de conceitos relacio- nados ao que est se investigando, bem como dos graus de impor- tncia eas associagées entre eles (BASTOS, 2000; VARGENS, 2001), (Mapas de categorizacao: fornecem uma descrigio dos schemas uti- lizados pelos individuos a0 agruparem eventos e situacSes com base ‘em suas semelhancas e diferencas. Permitem a identificacio de di ‘menses de categorias e taxonomias cognitivas (BASTOS, 2000). Mapas causais: permitem o entendimento acerca dos links que 0s individuos estabelecem entre eventos ao longo do tempo (FIOL € HUFF, 1992). Revelam influéncia, causalidade, dindmica do siste- ma e argumentacao (BASTOS, 2000). Sao os mais difundidos nos estudos organizacionais, sendo, muitas vezes, considerados sindni- mos de mapas cognitivos (BASTOS, 2000). A dea de administragdo tem registrado crescente interesse pela utiliza- co de mapas cognitivos. O periédico Journal of Management Studies, por exem- plo, dedicou dois mimeros & abordagem cognitiva, um em 1989 e outro em 1992, Et 1994, fui a vex da Orgunizution Scieawe, Ouios wabalhos velevantes sobre o tema foram produzidos por Bougon, Weick e Binkhorst (1977), Bougon (1983), Clarke e Mackaness (2001), Swan (1997), Walsh (1995). No Brasil, registram-se as iniciativas de Bastos (2000), Bastos et al. (2004), Brito e Bas tos (2002), Faria (2001), Vargens (2001). # Palavras-chave CF Representagées gréficas 1 Schemas, modelos mentais GJ Interpretagdes da realidade Imagens (7 Relagées entre conceitos Caracteristicas principais 10 Arepresentacao gréfica facilita a visualizagdo dos conceitos identi- ficados, bem como da relacio entre eles. 144 éron0s oe resoutss xs apsanisraagO 0 Aconstrugdo de mapas permite explicitar conceitos nem sempre conscientes para o individuo, bem como aqueles que sio compart Ihados por um grupo de individuos. ; (1 Os mapas permitem revelar as estruturas cognitivas que guiam as agbes de individuos ou de grupos. 1 Aconstrucao de mapas exige do pesquisador grande habilidade de interpretacao, buscando, ao mesmo tempo, preservar a fala dos par- ticipantes. ve Como utilizar (0 Definem-se o tema e o problema de pesquisa. 1 Procede-se a uma revisao da literatura pertinente ao problema de investigacdo e escolhe(m)-se a(s) orientagdo(6es) tedrica(s) que daré(@o) suporte ao estudo. Escolhe-se o tipo de mapa a ser construfdo, adequado ao objetivo da pesquisa. Coletam-se os dados por meio de pesa tal. Em geral, so realizadas entrevistas Procede-se A transcrigdo das entrevistas (se for 0 caso). Procede-se ao tratamento dos dados, em geral, por meio de andlise de contetido.? Identificam-se conceitos emergentes dos dados. Constrdi-se o mapa cognitivo, definido antecipadamente com base no objetivo da pesquisa. © Mapas de identidade: identificam-se os conceitos, o peso atri- buido a cada conceito, bem como as associagées entre eles. © Mapas de categorizacio: identifica-se 0 conceito central, bem como as categorias a ele relacionadas, as quais podem ser posicionadas ao seu redor. © Mapas causais: define-se a técnica a ser utilizada para a sua cons- trugio. Procede-se a interpretagio do mapa. (7 Comparam-se os mapas construidos (se for o caso), de campo ou documen- a0. oo a0 1 Acodem aqui apresentada niio 6 rigida. Pode, portant, ser alterada conforme a situagao. 2. Sobre anise de contetdo ver Capftul 1 navascoanmvos 145 O Resgata-se o problema que suscitou a investigacao. 1 Confrontam-se os resultados obtidos com a(s) teoria(s) que deu(ram) suporte & investigacio. O Formula-se a concluséo. (0 Elabora-se o relatério de pesquisa, Para a construcio de mapas causais, 0 pesquisador pode eleger diversas téenicas. Aqui, so destacadas trés, consideradas principais (BASTOS, 2000): a Self, a Strategic Options Development Analysis (SODA), a Comparative Cau- sal Mapping (CCM). A técnica Self-Q € também conhecida como técnica do ‘autoquestionamento. Exige cerca de quatro entrevistas com cada participan- te, Na primeira, coletam-se os dados, extraindo-se conceitos. Na segunda, ve- rificam-se os conceitos coletados, classificando-os e ordenando-os de acordo com o grau de importancia, Na entrevista seguinte, sAo estabelecidos vinculos causais entre os conceitos. Na entrevista final, apresenta-se o mapa ao partic pante, a fim de validé-lo. A técnica SODA envolve trés tipos de conceitos: ob- jetivos ou metas, escolhas estratégicas ou diregdes estratégicas, opgies prefe- renciais ou potenciais. Por fim, a técnica Comparative Causal Mapping (CCM) exige o apoio de um software especifico para a anélise dos dados, o CMAP2. Mapas cognitivos podem ser construidos manualmente, com a utilizacio dos programas PowerPoint ou Word, ou com 0 auxilio de softwares especifi como 0 Mindmanager. Bastos et al. (2004), por exemplo, valeram-se desta i tima opgao. Aandlise ea interpretagao sfo etapas que ocorrem antes, durante e apés a construgao do mapa, ou seja, tanto no momento em que o pesquisador trabalha com os dados coletados sob a forma de textos (transcrigao de entrevistas ou documentos) quanto naquele em que se vale das representagdes gratia. Exemplos da utilizagio de mapas cognitivos 7 Exemplo 1: Mapeamento cognitivo em postos de emissao de carteira de identidade (Os mapas cognitivos foram utilizados por Vargens (2001) em um estudo sobre a relagao entre funcionéirios de dois postos de emissao de carteira de identidade. A pesquisa teve como objetivo identificar e compatar conceitos relacionados & atividade de emissao de carteira de identidade pelo Instituto Pedro Mello e pelo Servico de Atendimento ao Cidadao (SAC), ambos locali- zados no Estado da Bahia, a fim de avaliar o relacionamento entre as duas or ganizagies. 146 ropes ne Pesquisa 2 ADNNISTRACKO (© Instituto Pedro Mello é uma organizacao integrante da Secretaria de Seguranga Publica da Bahia. O SAC, por sua vez, foi desenvolvido por meio de parcerias entre a Secretaria de Administraco do Estado da Bahia (SAEB) ¢ outros érgos municipais, estaduais, federais, bem como da iniciativa privada, Gabe ao Instituto Pedro Mello coordenar a emissao de carteiras de identidade pelos postos de atendimento do SAC. ‘A pesquisa foi realizada no posto central do Instituto Pedro Mello e no posto do SAC/Barra. Foram realizadas entrevistas com tres funcionéios de cada posto, todos responsdveis pelo atendimento ao publico para emissao de car- teiras de identidade. Foram abordados os seguintes t6picos: opinides e dese Ges relacionadas & fungio desempenhada pelo funciondrio, piblico interes- sado na emissio de carteiras de identidade, caracteristicas necesséirias ao fun- ciondrio para o exercicio da fungio, comportamento do funcionério em situa- oes de confit. A pesquisadora optou pela construcio de mapas de identidade, julgados (08 mais adequados aos propésitos da pesquisa, uma vez que permitem a iden- tilicagdo de conceitos formulados pelo sujeito, do grau de importancia e das associagées entre eles. primeiro mapeamento foi executado com base nas trés entrevistas rea- lizadas com funciondrios do Instituto Pedro Mello, todos funcionérios publi cos, designados para o cargo de perito téenico de policia, por meio de concur. 50 publico. O mapa apresentou trés campos conceituais, relacionados ao fun- cionétro, ao piiblico e & atividade. Os principais conceitos identificados foram: (@) “perito téenico de policia”, relacionado a0 campo funcionétio, (b) “identi- ficar pessoas”, relacionado ao campo atividade, (c) “pessoas comuins”, relacio- nado ao campo piblico. A idéia principal revelada pelas entrevistas foi “peri- tos técnicos de policia identificam pessoas comuns”. Outros conceitos foram, ainda, identificados. A Figura 1 permite visualizar os conceitos identificados, o grat: de importancia e a associacio entre eles. Foi atribuido maior peso a0s conceitos relacionados ao funcionario, razao pela qual este campo foi localiza- do acima dos demais. apis coenraves 147 — anctonério Deve se ale, Decent e Intense em felago 308 Autidade ase = I Fonte: Vargens (2001, p. 7) Figura 1 Mapeamento realizado no posto central do Instituto Pedro Mell. ables ‘evidade de Keoamques tenia feet Chapman ene (( itees® Specto eln Epona © segundo mapeamento se deu com base nas trés entrevistas realizadas com funcionarios do posto do SAC/Barra, todos terceirizados, contratados pela SAEB e supervisionados por técnicos do Instituto Pedro Mello € pela pré: pria SAEB. Considerando os trés campos mencionados, os principais conceitos, Jdentificados foram: (a) “emissio de documento de identidade”, relacionado 4 atividade, (b) “cidadaos”, relacionado ao ptblico, (c) “atendente”, relacio- nado ao funcionétio. A Figura 2 apresenta os conceitos, bem como o grau de importncia a eles atribuido e suas associagées. Aqui, os entrevistados atribui- ram maior peso ao campo puiblico. 148 sctron0s pe resquisa aa apuunisrangion iblica cronpkes Precitam de cientes quero emtdade para comprar ury ser gente pedo Bove ear acini, calm? steno park simpaeo, deve Bowrsr saber ou Confegio de Aandlnentd documento de a0 pilico srande impor ‘ssio De pocuMexTo Fonte: Vargens (2001, p. 8) Figura 2. Mapeamento realizado no posto do SAC/Barra. Os resultados obtidos por meio da andlise dos mapas construidos revela- ram diferentes visdes dos funciondrios de cada um dos grupos sobre si pré- prios, suas atividades e 0 piblico ao qual atendem. A pesquisadora mencionou ‘que a importancia atribuida ao “perito técnico de policia’, pelo primeiro gru- po de entrevistados, ¢ aos “cidadéos”, pelo segundo grupo, explica problemas ‘dentificados nas duias organizagdes, uma vez que os funcionérios trabalham com focos diferentes. Ela concluit, ainda, que a formulagéo de conceitos pelos funciondrios do posto do SAC/Barra ¢ influenciada pela interacio que esses in- dividuos mantém com os funciondios do Instituto Pedro Mello Para a pesquisadora, algumas conclusées poderiam ter surgido da andlise das entrevistas, Contudo, afirmou ser mais cil comparar dados, valendo-se de dois mapas, ao invés de sels entrevistas, uma vez.que a representagéo dos con- ceitos em mapas permite visualizar a légica de pensamento dos entrevistados. (J Exemplo 2: Comprometimento no trabalho Brito ¢ Bastos (2002) utilizaram mapas cognitivos em um estudo sobre comprometimento no trabalho. A pesquisa teve como objetivo identificar as concepgoes dos gestores de uma empresa petroquimica sobre o comprometi- mento do trabalhador, associando-as as estratégias por eles utilizadas para potencializar o comprometimento nas suas equipes de trabalho. Em outras aris costes 149 lavras, buscou descrever as cognigées que estruturam o schema de trabalha- Gor comprometido, segundo a perspectiva dos gestores. (s pesquisadores valeram-se de uma abordagem cognitiva, consideran- {do seu crescente impacto na drea de estudos microorganizacionais. Asseveram, ‘embasados pela literatura, que schemas podem ser definidos como estruturas ‘cognitivas internas ao eérebro, representando o conhecimento sobre determi- nado aspecto da realidade. Participaram da pesquisa de campo 17 gestores da empresa, ou seja, di- retores e coordenadores executivos. Os dados foram coletados por meio da realizagao de entrevistas semi-estruturadas, cujo roteiro incluiu os seguintes t6picos: dados pessoais e funcionais do entrevistado, trajetdria profissional, :mudangas ocorridas na empresa, nogGes de trabalhador comprometido, aces relacionadas ao estilo de gestio. Os dados foram tratados por meio de andlise de contetido, subsidiando a construgo de mapas cognitivos que propiciaram 2 visualizagao do schema de trabalhador comprometido, bem como os focos & as bases de comprometimento mais significativos na visio do entrevistado. Os pesquisadores apresentaram, inicialmente, os resultados referentes 20 perfil dos entrevistados, bem como as mudancas organizacionais mais signifi- ‘cativas. Em seguida, abordaram o conceito de trabalhaclor comprometido. Na visio dos entrevistados, a organizacéo é 0 foco de comprometimento mais fre- inte, seguida do trabalho e do grupo de trabalho. Os dados coletados toram agrupados em categorias descritivas da representagio de trabalhador compro- metido. Sao elas: cumprir contrato de trabalho, realizacio pessoal vinculada aoatendimento das necessidades da empresa, gosto pelo trabalho, cumprimento de obrigacées, preocupacio com o crescimento da empresa, empenho no tra- balho, dedicacio extra, tracos pessoais, patticipacio, eficdcia, responsabilida- de, relagées interpessoais, comportamento proativo, via de méo dupla, cons- ciencia dos impactos do trabalho para a equipe ¢ o social Foram, também, identificados fatores organizacionais que favorecem 0 comprometimento, ou seja, ages da empresa que contribuem para o vinculo individuo-organizacao. Esses fatores foram agtupados nas seguintes catego- ras: salério compativel com 0 mercado, reconhecimento profissional, partic- pagio nos lucros, respeito pelo trabalhador, valorizaco do trabalho realiza- do, liberdade de pensamento, incentivo as sugest6es. Os resultados obtidos foram apresentados sob a forma de mapas cognitivos, permitindo visualizar que as concepedes dos diferentes gestores sobre o comprometimento do trabalhador séo articuladas em afveis distintos de complexidade. A Figura 3 apresenta o mapa construido com base em uma das entrevis: tas, Para este gestor entrevistado, o conceito de trabalhador comprometido en- volve os seguintes focos: organizacao, grupo e trabalho. Foram considerados, 150 sctronos pe resqursh sb ADMINSTRAGAO ‘ainda, os tracos pessoais, indicando uma simbiose entre vida familiar e profis- sional. O gestor destacou como idéias centrais, relacionados ao conceito, 0 ‘esforgo em prol do crescimento da empresa e o cumprimento dos deveres. pr 1 swunsoat apormgr ors eis te Gap “Teton linens meester) Fonte: Brito eBastos (2002.10 Figura 3 Mapa cognitivo constru(do com base na entrevista com o gestor X. ‘A Figura 4 permite visualizar os elementos que integram o schema de tra- balhador comprometido, na visao de outro gestor. As idéias centrais reveladas por este sujeito esto relacionadas ao esforco em prol do crescimento e da methoria da empresa e & valorizacao da atividade que o trabalhador realiza. Para este entrevistado, o conceito de trabalhador comprometido envolve 0 foco na organizagao e no trabalho, além dos tragos pessoais. Foi possivel perceber, ainda, que o comprometimento esté vinculado as agoes da empresa, incluidas no mapa como fatores que geram comprometimento, uapascocumnves 151 oo Ognago ‘roc ang mip express Foon: Mabatho| “Finger suas obec ‘apn Pesce fr em pel dorama rote ia e Beste telat ws nde een Irina com amore tee, —_— ae ings ee Fonte: Brito € Bastos (2002, p. 1. Figura 4 Mapa cognitivo construido com base na entrevista com o gestor ¥. Figura 5 apresenta uma representagio mais simples do conceito de com- prometimento, enfocando a organizacio ¢ o trabalho, sem referencia aos tra- 4905 pessoais, As idéias centrais expressas por este entrevistado estdo relacio- nadas & identificacio e & obediéncia aos objetivos da empresa, bem como & cotimizagao dos recursos e custos da empresa. 152. éronos pe PESQUISA EM ADNINISTRAGA eco: Ongaizacio ‘este eamisa da orgeizagion pensindo no todo ‘aconala ow recaror da empress Preoeupese em ating cs abjeivos " ‘ae organizaio 1 ‘Nie Central Wenscag e oeciénia as ojos da empresa ‘Otimizagao dos recursos ecustes da empresa 1 Foco: Grupo © Realiea sx trabalho em menor tempo rosa fazer abl da melhor ‘oma pore ede manele reconal reoeupase coma resultado" fo abate Fonte: Brito e Bastos (2002, p. 12) Figura 5 Mapa cognitivo construido com base na entrevista com o gestor Z, O estilo de gestio dos entrevistados foi investigado por meio de questio- ‘namentos relacionados ao cotidiano de trabalho e as praticas adotadas por eles para obter comprometimento de stias equipes. As praticas ou acées pessoal reveladas pelos gestores foram agrupadas nas seguintes categorias: dialogar, saber ouvir, participar das tarefas da equipe, planejar e envolver a equipe na realizagao do trabalho, dar abertura para a exposicio de idéias, compartilhar informagées da empresa, falar frente a frente, envolver a equipe nos objetivos e decisées da empresa, trabalhar os pontos fracos, reforcar os pontos fortes, dar o exemplo para a equipe, tragos pessoais, igualdade perante os membros dda equipe, dar treinamento, dar autonomia para a tomada de decisées, dar ‘feedback, preparar a equipe para as mudancas, ser amigo da equipe, conhecer ‘cada membro da equipe, estabelecer sistema de reconhecimento pelas suges- ‘t6es dadas, fazer rodizio de pessoas, agir como educador, estabelecer metas € cobrar, estimular a leitura, saber 0 interesse das pessoas. | tizagio da Telemar S.A. A pesquisa teve como objetivo identifica os principai Yuneas coonmnos 153 0s resultados da pesquisa revelaram que o conceito de trabalhador com- prometido esté relacionado a diferentes focos e bases. Os focos na organiza- 4o e no trabalho foram predominantes. Os dados revelaram, também, a pre- -genga de trés bases: afetiva, normativa e instrumental. Os pesquisadores ob- aram que o schema de trabalhador comprometido envolve diferentes niveis Faria (2001) valeu-se da construgdo de um mapa cognitive em uma in- vestigagéo sobre mudanga organizacional decorrente do processo de priva- conceitos utilizados pelo presidente da empresa ao referir-se & privatizagio e 20s desafios no ano 2000, bem como os vinculos estabelecidos entre esses A pesquisadora teceu, inicialmente, consideragées sobre cognicfio social, || bem como sobre mudanca organizacional, lembrando que, com a privatizacéo do setor de telecomunicacées, a Telemar S.A., como outras empresas, passou pornm processn de reestrnturaggo interna para se adaptar ao novo contexto € enfrentar 0 mercado competitivo. Osdados que subsidiaram a construc do mapa cognitivo foram coletados por meio de pesquisa documental, focada no jornal impresso da empresa, vei- culo que registrou as trés entrevistas do presidente, tomadas para andlise. A pesquisadora optou pela construcéo de um mapa causal, valendo-se da meto- dologia Strategic Options Development Analysis (SODA), a qual considera trés tipos de conceitos: as metas, as direcdes estratégicas e as opgées potenciais. Os vinculos estabelecidos entre os conceitos referem-se & conducio (pode condu- Zit) ou implicagao (pode implica) A pesquisadora lembra que pessoas diferentes constroem mapas dife- rentes, tendo como fonte os mesmos dados. Conseqiientemente, néo ha uma “inica interpretagéo para o mapa. © mapa construido por ela é a seguir apresentado: 154. séronos pe rasquisa et aDnanasTaAgiO conned / Mita ar » ih Fonte: asia (2001, p. 6). - Figura 6 Mapa cognitivo construtdo com base em entrevistas concedidas pelo presidente da Telemar S.A © conceito bisico extrafdo dos dados fot tomar a empresa mais dg ici de sercontrolada. A principal meta identificada, posicionada no topo do mapa, {oi tornar a Telemar a maior ¢ a melhor empresa de telecomunicagses da América Latina. As demais metas foram alocadas abaixo da principal, Sao elas: maior rentabilidade, atender a metas da Anatel, vencer a concorréncia oferecendo mais, criar clima de satisfagdo na empresa, As diregées estratégicas foram posicionadas entre o conceita bisico e as metas. So conceitos que se relacio- ‘ham a uma ou mais metas e que demandam ages ou mudangas na cultura para que possam se concretizar. Foram identifcadas as seguintes direg6es estratégi cas: entrar no mundo de dados e da Intemet, exigit maior criativdade, empe- rho e aumento da produtividade, ganihar mercado corporativo, conguistar cada vez mais clientes, mudar a atitude de empregado para a de colaborador, 0s resultados da pesquisa revelaram um discurso positivo, por meio do qual 0 presidente da empresa expressa sua preocupagio com os clientes, 0 snercado, a concorréncia, os recursos humanos. Estabelece metas ambiciosas, Cente, contudo, dos desafios a serem enfrentados. 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Managerial and organizational cognition: nots from a trip down memory lane. Organization Science, v6, n° 3, . 280-221, May/June 1995, 14 Mapas de Associacao de Idéias Mapas de associagdo de idéias so instrumentos de visualizacao cujo ob jetivo é subsidiar 0 processo de andlise e interpretactio dos dados da pesquisa, a fim de facilitar a comunicagdo de seus resultados. método de andlise dos dados por meio da utilizagao de mapas de asso- ciagéo de idéias foi desenvolvido por Spink e Lima (2000),! com base em seus esttidos sobre produgdo de sentidos por meio de préticas discursivas, entenden- do sentido como uma construgdo dialégica (SPINK e FREZZA, 2000). Tais estu- dos tm suporte na perspectiva construcionista, na esfera da Psicologia Social A proposta de construcdo de mapas de associacdio de idéias estd alinhada ao conceito de rigor adotado no Ambito do construcionismo: “possibilidade de explicitar os passos da andlise e da interpretagio de modo a propiciar o dialo- go” (SPINK e LIMA, 2000, p. 102). 0 rigor, portanto, deixa de se ater aos cri- térios do monismo metodoldgico, ou seja, validade, fidedignidade, generaliza- o dos resultados, passando a ser associado a visibilidade. Pera Spink e Menegon (2000), trata-se de assumir uma nova postura, valendo-se da polis- semia, da reflexividade e da ética, 1 Pode-se dizer que Spink e Lima (2000) consolidaram uma proposta metodolégica Jexistente, uma vez que a primeira autora jévinha erabalhando com mapas de associacéo de {dias hd algum tempo (SPINK e GIMENES, 199, por exerpl), tendo como suporte a teoria dias repretencagSes socais e, ecentemente, eorientando-se pela pricas dscursivas (SPINK, 2003), 158 _utronos pe resquisa sx apuaisreaGhO método advoga, assim, a explicitagéo, a transparéncia do processo de pesquisa, desde a definigao dos critérios para a seleco dos sujeitos até o modo pelo qual os dados foram tratados. Os mapas de associacio de idéias tém sido utilizados, sobretudo, em pes. quisas da érea de Psicologia Social: Nascimento (2002), Pedrosa (2003), Spink e Gimenes (1994), Spink et al. (2003). Na érea de administracéo, contudo, 0 método ainda é pouco conhecido, registrando-se a iniciativa de Tonelli (2003). # Palavras-chave OF Dialogia? Rigor e visibilidade Priticas discursivas 1 Produgéo de sentidos 1 Seqiiencialidade das falas & Caracteristicas principais O Aconstrugéo dos mapas de associacao de idéias confere visibilida de ao processo de anélise por meio da organizagéo de dados em estado bruto, em colunas que correspondem a categorias tematicas definidas pelo pesquisador. OF Permite a apresentacao dos dados na seqiiéncia em que foram coletados, sem fragmenté-los, evidenciando o todo ao se percorre- rem as colunas do mapa (categorias de andlise). (1 O método para a construgo dos mapas é flexivel, permitindo que as categorias previamente estabelecidas possam ser redefinidas & luz dos dados. Ainda assim, determinadas seqiiéncias podem requerer outras formas de esquematizacéo visual.® 1 Os mapas prestam-se tanto a organizagao dos dados, contribuindo para a sua interpretacéo, quanto a apresentagao da andlise, perm: tindo que o leitor acompanhe a trajet6ria do tratamento dos dados. 2 _ Dialogia refere-se a duas logics unidas, sem que a dualidade se perca nessa unio (MORIN, 1977) 3 Outras formas de esquematizagéo visual sfo as érvores de associagéo e as linhas nrrativas. O leltorinteessado nelas poderd recorret a Spink e Lima (2000) vans oe sssocacoesneioens 159 4x Como utilizar* 1 Definem-se o tema e 0 problema de pesquisa. 1) Procede-se a uma revisio da literatura pertinente ao problema de investigacao e escolhe(m)-se a(s) orientagao(6es) tedrica(s) que dard(o) suporte ao estudo. (0 Define-se 0 procedimento a ser utilizado para a coleta dos dados. Em geral, realizam-se entrevistas. J Selecionam-se os sujeitos da pesquisa. 1 Goletam-se os dados por meio da realizacao de entrevistas (se for 0 caso), as quais deverdo ser gravadas em audio, 07 Procede-se & audigdo das gravacées, CF Transereve-se 0 contetido das entrevistas, 67 Procede-se & leitura do material tantas vezes quantas 0 pesquisa- dor julgar necessério, (0 Definem-se categorias para a andlise dos dados, com base no obje- tivo da pesquisa. 1 Constréi-se o mapa, valendo-se de uma tabela (semelhante & dis- ponivel em programas como 0 Word), cujo niimero de colunas seré determinado em funcio do niimero de categorias definidas pelo pes: quisador. Cada coluna corresponderd a uma categoria. (0 Insere-se 0 contetido da entrevista na tabela, de acordo com a ca- tegoria a que as falas esto relacionadas. A seqiiéncia das falas deve ser respeitada, GF Procede-se a interpretacao dos dados. CF Resgata-se 0 problema que suscitou a investigacio. 1D Confrontam-se 05 resultados obtidos com a(s) teoria(s) que deuram) suporte & investigacio. O Formula-se a conclusio. 1 Elabora-se o relatério de pesquisa. A construgao dos mapas se dé, em geral, com base na transcri¢ao de en- trevistas individuais. Contudo, outros procedimentos de coleta de dados podem ser utilizados, Nascimento (2002) e Spink et al. (2003), por exemplo, valeram- se de grupos focais.* 4 Aoxdem aqui apresentads nfo ¢ rigida, Pode, portanto, ser alterada conforme a situagéo. 5 Sobre grupos de foco ver Capftulo 10 160 troo0s oe pesquisa sn aDnasTRAGEO Sugere-se a construgio de um mapa para cada entrevista ou reunido de ‘grupos focais. Para a insergio das falas, tanto do pesquisador quanto do sujei- to da pesquisa, os dados originais devem ser respeitados. Isso significa dizer que a transcrigao, sem alteragdes e na ordem em que as falas ocorreram, deve ser transposta para as colunas do mapa (tabela), observando-se a que catego- ria pertence cada trecho. O mapa pode, ainda, ser dividido em blocos, como 0 fez, por exemplo, Tonelli (2003). ‘Terminada a constru¢io do mapa, a entrevista (Se for o caso) pode ser visualizada na integra. Contudo, como alertam Spink e Lima (2000), ha tre- chos do conjunto de dados coletados que néo se alinham as categorias estabe- lecidas e que, portanto, demandam outros esquemas de visualizacio. Nesse ‘caso, pode-se mencionar o assunto abordado em tais trechos, utilizar reticén- cias entre parénteses e continuar a inser¢ao das falas nas colunas do mapa, Exemplos da utilizacdo dos mapas de associagao de idéias (1 Exemplo 1: Tempo e velocidade nas organizagies ‘Tonelli (2003) elegeu os mapas de associagao de idéias como instrumen- tos para subsidiar o processo de interpretagio, bem como para dar visiblida- de & apresentagéo dos passos da anlisc, em ume investigagao sobre tempo € vvelocidade nas organizacdes. A pesquisa teve como objetivo identificar os sen- tidos que as pessoas atribuem & mucanga na percepcéo do tempo e ao aumen- to da velocidade no trabalho. A pesquisa foi amparada te6rica e metodologicamente pelo constru- cionismo, entendendo que a producZo de sentido é uma prética discursiva e ‘que os sentidos sao construidos pelas pessoas, em processos de interacao. Este referencial aponta, ainda, que as possibilidades de interpretacio de cada pes- soa, em um dado contexto, séo definidas por seus repertérios interpretativos. A pesquisadora, apoiando-se na orientagéo teérica escolhida, ressaltou a ne- cessidade de abordar o contexto discursivo na interface de trés tempos histori- cos: o tempo longo, 0 vivido e o curto. O tempo longo foi tratado pela pesqui- sadora por meio da discussio da construcio da nogdo do tempo linear ociden- tal ao longo da hist6ria. O tempo vivido diz respeito ao processo de socializa- co, ao tempo em que cada pessoa constréi sua propria aprendizagem. O tem- o curto, por sua vez, refere-se aos processos dialégicos estabelecidos na interacéo entre as pessoas, tendo sido abordado na pesquisa de campo. Con- tudo, 0 artigo aqui utilizado como exemplo nao analisou o uso dos repertsrios produzidos pelas pessoas, limitando-se apenas 4 sua apresentacio, Os dados da pesquisa de campo foram coletados por meio da aplicag&o de um questiondrio, da realizado de entrevistas e da observagéo do dia de trabalho de quatro executivos, Os dados referentes as entrevistas serdo aqui apresentados. ans peassocangoes peiotins 161 Foram realizadas 18 entrevistas associativas, com o intuito de entender | os sentidos que apareciam associados as mquinas e a velocidade/aceleracdo, Sssim como 0s repertorios utilizados pelos sujeitos para falar sobre as tecno- __ jogias presentes no cotidiano do trabalho. Perguntas formuladas pela pesqul- sadora em uma das entrevistas so aqui transcritas para familiarizar o leitor tom a operacionalizacio de uma entrevista associativa: (a) Se eu falo a pala- sna velocidade no trabalho, o que the vem & cabeca? (b) Por qué? (C) Hoje se fala tim velocidade, acelerago. O que ¢ isso, como voc# experimenta isso? (4) Entao. (@) Para voce, é bom ou ruim? (D) Ansiedades? A cada pergunta da pesquisado- ra, seguia-se a resposta do entrevistado, (0s dados obtidos foram alocados em mapas dle associagio de idéias, ten- do sido confeccionado um mapa para cada entrevista. Os mapas foram dividi- dos em dois blocos, O primeiro estava relacionado as méquinas utilizadas no cotidiano de trabalho. O segundo abordava a velocidade e a aceleracéo no tra- balho. Entre os dois blocos, foi inserida a coluna comentérios, que poderia se referir tanto &s méquinas quanto & velocidade/aceleragao. O recorte de um dos, mapas confeccionados pode ser visualizado na Figura 1: Venidadracslrao ‘Datsgse: [ Posivo [Newt iguias ‘ue ipa oven 7 el maguina at ak Gocipde me doe nao? Sin vires Ten pave da tcl ce 3 te sennd qo sem ea sto sobre TE Omesdiswdia@ eco eels sede stam de lies ou eats porsus itiatee pelo Fam odo orca Ea ge eee nestcene:comuncagio sil, oar rdguins ese es vido porated vats enol dees Vat wal ed otf ear? te meso; a8 fava mance emer eo. Fonte: Tonel (2008, p. 42). Legenda: P:pesqusadora E: entrevisado Figura 1 Recorte do mapa associativo de uma das entrevistas realizadas. 162 érooos pe resquisa sm apuanasrHAGKO (0s resultados da pesquisa revelaram basicamente trés casos de associa «es com as palavras velocidade e aceleragio: (a) velocidade associada & mé- 4uina; (b) velocidade associada & eficiéncia; (¢) velocidade associada a,corre- tia, No primeiro caso, cinco entrevistados associaram a velocidade ao compu- tador, estabelecendo uma relagao entre o potencial da méquina e a aceleracio, No segundo, a associacio foi feita por 12 entrevistados. Contudo, nem todos demonstraram ter 0 mesmo entendimento acerca do que é eficiéncia no traba- Iho. Na visio de um dos entrevistados, diretor-presidente de uma empresa, velocidade diz respeito, por exemplo, a agilidade na tomada de decisdes. Por outro lado, na visio de entrevistados de nivel hierdrquico intermedi, efi- cigncia significa fazer 0 que deve set feito, no menor tempo possivel. No ter- ceiro caso, duas entrevistadas que exerciam a funcao de copeiras relacionaram a velocidade & correria que, por sua ve7, foi associada a vida cotidiana e no apenas ao trabalho, ‘A Figura 2 apresenta uma sintese dos sentidos da velocidade/aceleraio, de acordo com cada um dos entrevistados. No caso dos entrevistados 16 ¢ 18, a velocidade/aceleracio foi percebida apenas como limitadora e aprisionadora. Com relagéo ao entrevistado 4, suas falas néo foram atreladas nem & velocida- de facilitadora nem a limitadora. Ni] Weloidade/aceoragio | Faclitadora e instrumental | Uinitadora eaptisionadora 1 | Conf; efiiiacia Raciahio;oporunidades | utara mals empo pas © robo; ensugamento do guadro de funclonils;perds Sevconar ene as pessoas endo; ansiedade 2 [ompudor Vilocade; bide [Presa vida comida rosso [coreria 4 | Trabalbar em varias mesmo tempo; corer & [Fanaa coisas o mais ipo | Raciocinio passive, coma melhor Aniedade; mado nseguranga qualidade & | imagino ogo « computor | Exige mais de min enor larinca om oem organizacio 7 [computor Produtidade expande Unites | "masse ote; oat” as produgto, algunas fue; aumento do tempo de wabalo para algumas fngdes| i | Bfieaca Fexiiidads; aphex na voce | Confusio;dieuldade pare fe grande quantidade deifor- |selecone informagbes mages acess a informagies > | Responsa ipda; responder | Oporandades de abalho, d2 | Preocupagio em nio Rear para me demand nesses tude, em ear smote sliado luapas oeassocucies neinéus 163 Ni] _Velocidade/acalerasio | Faelliadora efstramental | Uinltadora e aprsfonadora 70 | Organiza gra, paptin [Fox ematl einem pesmi |Acimula de Fungbes,ddirse oceania arqulvostnto [resolver problema «dstncia|em mil: ansiedadedlance de eonputador como dos popeit uancidde de informagies TE "Over abaihor avd; poder wabathar | Fala de ser poder tbalhar 2 [Tecnologia «computador [Estar talizdo “Aumann a voddade cada posse vee mals 13 [Gap [Armiguina é quan fx as | Modan fora de controle, epedgies;ofabrno Seow |ingutm abe separa melhor menos talorisa; usedo [ou por, ida mas complends pensamnanto; raided; esibilidede 77 | Compatadr agiza proceso |rocessamento de grande | Competavidage muito one quantidade ce dos 1S [Tecnologia e qualidade | Qualidade io re de vendloga Gam vatidade) pote eausar danos 16 [ Fazer o que tem que ser te Compeiio bem fet, no menor tempo posse, 17 [Aaliade em tomar decses, [Adapingio ntablidade, no [Estes pouco tompo com @ fenxerger oporsnidades, eta | senda de mudangaconscant; |femlia;gerencar a massa de a freme dos competidores | eubildade Fnformagoes equlieae vida pessal e profesional. Nao tém tempo pars alnogar, quinas que inverter cabam no fclando nada, narsco na eamacn de orSnio 18 [uma comers que niotm Parada, nio pode parse Fonte: Tonelll (2003, p. 43, 44) Figura 2 Associagdes com as palavras velocidade e aceleragao. Em sintese, os resultados permitiram evidenciar que a velocidade é asso- ciada ao uso do computador. Ela é ambigua, uma vez que no ambito do traba- tho pode tanto libertar quanto aprisionar. Para a pesquisadora, as novas tecnologias introduzidas no contexto do trabalho parecem ter alterado os sentidos do tempo e do espago. Ela observa que a utilizagao do computador agilizou o tempo de resposta nos processos de trabalho. O computador permite centralizar em uma maquina grande quanti- dade de dados, bem como se presta para a execugao de miltiplas tarefas. En- tretanto, as tecnologias patecem ter dividido os trabalhadores em dois grupos: antes de um tempo no linear do mundo global, ou seja, os indi vviduos que dispem e utilizam as tecnologias, (b) os individuos presos 20 con- trole do tempo linear do reldgio de ponto, isto é, aqueles que esto excluidos do mundo tecnolégico. A pesquisadora mostra, ainda, que as alteragées dos sentidos do tempo no ocorrem sem conflitos. Por fim, sugere que a velocida- 164 uéro00s ve rusquisa sn anmnusTaAgKO de associada, pelos sujeitos, ao computador ¢ repleta de ambigiiidades. Ela ¢ a9 mesmo tempo facilitadora, quando relacionada a eficiéncia, e aprisionadora, quando se pensa na quantidade de dados que sio gerados e no esforco que as pessoas realizam para tentarem se manter atualizadas. (J Exemplo 2: Mulheres em situacio de violéncia (Os mapas de associagao de idéias (mapas dial6gicos) foram utilizados por Pedrosa (2003) em um estudo sobre mulheres em situacéo de violencia. A pesquisa teve como objetivo identificar os sentidos atribuidos a violencia, por profissionais de satide A pesquisadora partiu da crenca de que a situacdo de violéncia vivenciada pelas mulheres é uma questio de satide. Buscou suporte teérico na Psicologia Social Critica, de cunho construcionista, ¢ nas teorias feministas sobre relagbes de género. ‘A pesquisa de campo foi dividida em duas fases. Na primeira, a pesquisa- dora buscou conhecer os atendimentos destinados as mulheres em situagao de violéncia, existentes na cidade de Ribeirio Preto. Foram identificadas algumas Organizagdes Néo Governamentais (ONGs), uma Delegacia de Defesa da Mu- Iher e um grupo situado no Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Usp (Ribeiro Preto) — 0 Grupo de Estudos para Atenclo a Vitimas de Violén- cia Doméstica e Agressio Sexual (GEAVIDAS). Na segunda fase, foram reali zadas 12 entrevistas abertas com profissionais que atuavam em um hospital piiblico de Ribeiro Preto. Os participantes pertenciam a diferentes categotias, profissionais, sendo: dois médicos, uma assistente social, trés auxiliares de enfermagem, trés enfermeiros, uma psicSloga e dois alunos do curso de medi- cina, Duas entrevistas, contudo, ndo foram consideradas para andlise: (a) a entrevista realizada com um auxiliar de enfermagem, cujo conjunto de dados ficou prejudicado, em virtude de nao ter sido gravada a pedido do entrevista. do; (b) a entrevista com uma enfermeira, por ter se configurado como um re- Jato da propria experiéncia com a violencia Aselecio de sujeitos de diferentes categorias baseou-se na crenca da pes- quisadora de que as agdes de satide comecam no momento em que a mulher entra na instituigdo e, a partir daf, passa a relacionar-se com diversos profis- sionais AAs entrevistas foram iniciadas com a pergunta: Na sua experiéncia profis- sional, como voeé percebe a questo da violéncia contra a mulher e a satide? Com base nas respostas dos entrevistados, as demais perguntas foram formuladas. (Os dados obtidos foram alocados em mapas de associacio de idéias, construidos com base nas seguintes categorias (colunas): situacdo descrita de violéncia; explicagéo da violencia (telacional), subdividida em social e individual; aten- vuaeas peassoougies peintns — 165 dimento, subdividido em questdes institucionais e formacio/instrumentacko; mobilizagdo de afetos, Um recorte de um dos mapas construfdos (Figura 3), originado da entrevista com um auxiliar de enfermagem, é apresentado no fi- nal deste exemplo. No trecho selecionado, nao havia referéncias as categorias, explicagéo da violéncia (individual) e atendimento (formacéo/instrumentacéo). A cconversa estabelecida com cada um dos dez profissionais participantes 4éa pesquisa foi assim sintetizada: (a) violéncia como indicador da desintegra- co familiar; (b) posicionamento eritico frente & Medicina; (c) necessidade de vvinculos para uma melhor escuta; (d) dificuldade de superar reducionismo biologicista: (e) desgaste profissional que clama por cuidados; (9 mobilizagéo afetiva capaz de gerar novas préticas; (g) possibilidade de superar a mera re- lagio técnica; (h) respeito excessivo & vida privada; () vergonha que mascara ‘© poder; (j) experiéncia orientando as acbes. (0s resultados da pesquisa apontaram que miiltiplos sentidos sto atribut dos & violéneia contra a mulher. Os entrevistados reconhecem a necessidade de uma orientagio especifica para lidarem com estas questBes, uma vez. que cada um atua com base na sua prépria vivéncia. Alguns reagem as situacées de violencia com que se deparam com indignagao. Outros so movidos pela ansiedade, curiosidade e pena. Quando as mulheres agredidas séo profissio- nais do sexo, as atitudes mais comuns dos profissionais de satide so desres- peitar e humilhar. A pesquisadora destacou, ainda, que 0 contato com a vio- léncia mobiliza afetivamente os profissionais, o que parece impulsionar a ge ragio de novas praticas de atendimento. Para a pesquisadora, uma vez. que os sentidos orientam as préticas, a im- portdncia de compreender os sentidos atribuidos & violéncia contra a mulher, por profissionais de satide, se cé em virtude do papel que estes desempenham na quebra do ciclo de violéncia e no suporte afetivo-emocional concedido a estas, mulheres, S ‘jou ousout eneg saz a sonst a 9p ‘azan yep o| ‘woo spendin optea! ean ST eS a g a ® i SPH aSUMAT some op | vosseused rpms | eps opbesmaow [—— ‘epugiois ap espas9p orem, = ‘euoDeED ope epouaqon ep ovseondr rrr omeusumasuT sowye ap | /oxemzog Tenprarpur Tepes, ovseziqow Teuonepaay soupion ep opbeoqidt ‘Méo00s De PESQUISA Eb ADMISTRAGAO BpugIOI ap eDsep orsenns, 166 £ 169 Maras DE ASSOCIAGOES DE DIAS ‘MEroD0s DE FesQUIsA #5 ADNMISTRAGAG 168 eis aout opaTaUMRS | SeuODNIATT ' — fone | eviews | sono eMPHAPPUL spuaton ap warp ondemis neue (euoaian) ° amend apuaions ep opseonda ‘uagor ofa aus “pseu owseon 9353 aoa pe core eed ere oemaTuRAST | SeNopmNSUT sowse ap | /ovsewiog | sogisong | _renparpuy ovsezmqow 4 7 ie ‘epugoN ap eaLDsop ovseMNS ‘owusupuary TORO EF epougiof4 ep ovdeanidis, 170 uérooos ne rasquisa en ADMAsTRAGKO inoas peassociagéts DeIDEAS 171 Leituras para aprofundamento e. | | ee . 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Pode-se dizer que o nome dado a esse método tem origem na Grécia Antiga, inspirado no ordculo de Delfos (ZACKIEWICZ e SALLES-PILHO, 2001). Sua introducao se deu, nos anos 50 do século XX, por Olaf Helmer e Norman Dalker, pesquisadores da Rand Corporation, nos Esta- dos Unidos (LINSTONE e TUROFF, 1975). A aplicacio do método estava vol- tada, inicialmente, para a previsio tecnolégica (WRIGHT e GIOVINAZZO, 2000). Com o tempo, seu escopo foi ampliado, sendo utilizado, também, como método de apoio a deciséo e & definigao de politicas, Trata-se da versdo conhe- cida como Policy Delphi (WRIGHT e GIOVINAZZO, 2000). © método Delphi admite algumas variag6es. Linstone e Turoff (1975), por exemplo, citam dois tipos: 0 convencional e o Delphi em tempo real. O primnei- +0 € do tipo lipis e papel, ou seja, os especialistas recebem 0 questionrio im- resso e, apés respondé-lo, enviam para o pesquisador (ou equipe de pesqui sa), a fim de que se proceda a tabulacdo das respostas, para uma nova rodada. O segundo tipo € 0 real-time Delphi ou Delphi Conference, 0 qual demanda a mérovo vem — 173. ufizagio de computadores interligados em rede e a reunio do grupo de es- talistas a umm mesmo tempo (KAYO e SECURATO, 1997). Nos itimos anos, Piisseminacdo do uso da Internet touxe & tona uma outravariagio do méto- do: 0 Delphi letrOnico. Trata-se da aplicagao do método Delph aliada a ferra- snentas tecnoldgicas (LOURES, 2002), Suas caracteristcas, bem como os prin Eipais passos para sua operacionalizagio, seréo apresentados nas préximas secdes deste capitulo. (0 método Delphi tem sido utilizado em estudos prospectivos desenvolvi- dos por organizagées ptblicas e privadas, bem como por instituigbes académi- ‘as, no Brasil eno exterior. Sua aplicagéo esté voltada para diversas éreas, Na frea de satide, por exemplo, Piola, Consuelo e Vianna (2001) apresentaram um. fextudo sobre as tendéncias do sistema de sate brasileiro. Na pesquisa agro- pecudria, Quitinoe Irias (1998) abordaram os efeitos da globalizago sobre a Baricultura e o meio ambiente brasileiro. Fischer e Albuquerque (2001), por Sua vez, apresentaram tendéncias relaivas a drea de gesto de pessoas. Na Area de ciéncia e tecnologia, Cuhls e Grupp (2001), Johnston (2001) e Shin (2001) relataram experiéncias estrangeires relacionadas @ aplicacao do método (a ale ri, a australiana e a coreana, respectivamente). No meio académico, a Uni- versidade de Sao Paulo, por meio do Programa de Estudos do Futuro, tem realizado, desde a década de 80 do século XX, dversos estudos Delphi. Em 1999, passou a trahathar, também, com 0 Delphi Eletrénico (GIOVINAZZO ¢ FISCHMANN, 2002). # Palavras-chave Especialistas (painelistas) ‘Anonimato Rodadas Feedback Consenso Questionério Prospeccdo Internet (no caso do Delphi Eletrénico) gaaqa0o0000 % Caracteristicas principais © Permite a troca de informagées entre os participantes, mas garan- tindo-Ihes o anonimato. 174 a mr0008 be PasqUIsa EM ADMINSTRAGAO CF O anonimato reduz a influéncia de um determinado especialista sobre outros e a relutncia do respondente em desfazer-se de posi- oes assumidas. Possibilita a reconsideracdo individual de opiniGes, (0s resultados podem ser tendenciosos, dependendo do grupo de es- pecialistas escolhido. HA possibilidade de o consenso ser forcado. © tempo para a obtengao do consenso é um tanto longo, devido as rodadas (em geral, de quatro a 12 meses) 0 Aoperacionalizacao do Delphi Eletronico tende a ser mais répida, uma vez que adota a Internet como meio para o envio e 0 recebi- ‘mento dos questionérios. Além disso, elimina-se a tarefa de digitagéo das respostas para a tabulacio. C0 Pode haver redugo dos custos da pesquisa, eliminando-se os ques tionarios e materiais impressos, bem como despesas relacionadas aos servigos dos correios (Delphi EletrOnico). 11 HA possibilidade de realizar pesquisas em um contexto mais amplo, integrando a visdo de especialistas em nivel internacional, com 0 auxilio de recursos multim{dia (Delphi Eletrénico). 1 Ha maior possibilidade de introduzir vieses na pesquisa, pois a se- lego dos especialistas é prejudicada pelo acesso de um elevado niimero de pessoas ao site, cabendo ao proprio pesquisado a tarefa de definir se ¢ especialista ou nao no assunto (Delphi EletrOnico), 0 ODelphi Eletrénico é uma variagio um tanto recente, o que desperta diividas sobre os impactos da tecnologia sobre 0 método, oa Como utilizar? Delphi Convencional (7 Definem-se o tema e o problema de pesquisa. (0 Procete-se a uma revisio da literatura pertinente ao problema de investigacao e escolhe(m)-se a(s) otientacio(es) tedrica(s) que daré(Go) suporte ao estudo. (0 Formula-se um questionério, geralmente, fechado. CF Procede-se a0 pré-teste do questionario, submetendo-o a pessoas, que nao fargo parte da amostra. 1 Ardem aqui apresentade néo & rgida. Pode, portanto, ser alterada conforme @ situagéo érooo sun 175 Realizam-se ajustes no questiondtio (Se for 0 caso). Seleciona-se um grupo de especialistas no assunto, tendo-se 0 cui- dado de que, individualmente, sejam diferentes em termos de status, autoridade formal e filiagdo a grupos. ‘Aplica-se o questiondrio a esse conjunto de especialistas, com 0 cui- dado de garantir-Ihes 0 anonimato. Pede-se-Ihes que apdiem suas respostas quantitativas com justifica tivas qualitativas, Tabulam-se as respostas, definem-se a mediana e os quattis. Relacionam-se as justificativas as respostas quantitativas. Procede-se a nova rodada, Entrega-se 0 mesmo questiondrio que, no entanto, pode ter ques- tes suprimidas ou ter novas questdes, ao mesmo grupo de especia- listas. Nessa nova rodada, os resultados obtidos na primeira devem ser apresentados. Pede-se aos especialistas que reavaliem suas pr prias respostas & luz dos resultados quantitativos ¢ das justificati- ‘vas apresentadas pelos demais respondentes na rodada anterior. ‘Tabulam-se as respostas, definem-se a mediana e os quartis. Procede-se a nova rodada. Entrega-se o mesmo questionério, com os resultados obtidos na se- gunda rodada, ao mesmo grupo de especialistas, solicitando-Ihes que, novamente, reavaliem suas respostas & luz. daqueles resultados. Avalia-se a necessidade de novas rodadas. Obtido 0 consenso, resgata-se 0 problema que suscitou a inves- tigacio. Confrontam-se os resultados obtidos com a(s) teoria(s) que deu(ram) suporte & investigacéo. Formula-se a conclusdo. Elabora-se 0 relatério de pesquisa Divulgam-se os resultados para acesso piiblico ou restrito aos par- ticipantes, de acordo com os objetivos da pesquisa. aa a Q agoo0a Q o0 a30 goa Delphi Eletr6nico Definem-se o tema e 0 problema de pesquisa. 1 Procecle-se a uma revisio da literatura pertinente ao problema de investigacdo e escolhe(m)-se a(s) orientagéo(Ges) teérica(s) que daré(@o) suporte ao estudo, 1 Formula-se 0 questiondtio 176 aéronos pe pesquisa sm ADEmNISTRAGKO Testa-se o questionério via Internet, submetendo-o a pessoas que no aro parte da amostra Realizam-se ajustes no questionario (se for 0 caso). (7 Selecionam-se os participantes, recorrendo-se, em geral, a univer- sidades, institutos de pesquisa e indistrias. 1 Disponibiliza-se o questiondtio no site da Internet. GF Contatam-se os participantes por e-mail, para o preenchimento do questionério disponibilizado no site. Pede-se-Ihes que apdiem suas respostas quantitativas com justificativas qualitativas. (7 Tabulam-se as respostas, definem-se a mediana e os quattis. Relacionam-se as justificativas as respostas quantitativas. 1 Disponibiliza-se no site o mesmo questiondrio que, no entanto, pode ter questdes suprimidas ou ter novas questdes. Os resultados obti- dos na primeira rodada devem ser apresentados aos participantes para que reavaliem suas préprias respostas. CF Tabulam-se as respostas, definem-se a mediana e os quarts. 17 Disponibiliza-se no site o mesmo questionério, com os resultados ob- tidos na segunda rodada para que os participantes reavaliem suas préprias respostas, 7 Tabulam-se as respostas, definem-se a mediana e os quarts. 1 Avalia-se a necessidade de novas rodadas. 1 Obtido o consenso, resgata-se o problema que suscitou a invest. gacdo. GF Confrontam-se os resultados obtidos com a(s) teoria(s) que deu(ram) suporte & investigagao. Formula-se a conclusio. (1 Elabora-se o relatério de pesquisa. 0) Divulgam-se os resultados na Internet para acesso puiblico ou res- trito aos participantes, mediante a utilizagio de senhas. O niimero de especialistas a serem selecionados varia em fungao do esco- po da investigacdo. Deve-se, contudo, levar em conta a taxa de desisténcia durante 0 andamento da pesquisa. H, em média, 30 a 50% de desisténcia na primeira rodada e 20 a 30% na segunda (WRIGHT e GIOVINAZZO, 2000) questiondrio deve ser elaborado com bastante cuidado e corregao. O objetivo do estudo deve ser explicitado, bem como as instrugées para o preen- chimento e devolucao do questiondrio. A entrega e a devolugao podem ser fi tas pelos meios usuais: em mios, pelo correio, por e-mail vérovo neem — 177 Para cada questéo, ¢ itil apresentar uma sfntese das principais informa- bes sobre 0 assunto, de modo a homogeneizar linguagens. Apés cada rodads, Sevem-se incorporar as justificativas dos respondentes. Cada questao deve ser direta, simples, sem eventos compostos ou ambi- giidade. Em geral, 25 questdes sio suficientes oderiio ser realizadas tantas rodadas quantas forem necessérias para que a divergéncia de opiniées entre os especialistas tenha se reduzido a um nivel que se considere satisfatério. Sao necessérias no minimo duas e, em geral, no maximo cinco. O encaminhamento ao consenso pode ser medido pela distan- cia entre 0 1° e 0 32 quartil das respostas e o valor da mediana. Para a aplicagéo do Delphi eletrOnico, devem-se observar as orientagdes referentes ao método Delphi convencional, além da escolhia do formato do questiondrio a ser disponibilizado na Internet. Deve-se utilizar um formulério cujos dados das respostas possam ser encaminhados para uma planilha eletrd- nica como Excel ou outra, adequada para a tabulagao dos dados (GIOVINAZZO e FISCHMANN, 2002). Exemplo da utilizagdo do Método Delphi Exemplo 1: Tendéncias em gestéio de pessoas nas empresas PI ip! brasileiras Fischer e Albuquerque (2001) valeram-se do método Delphi em um estu- do sobre tendéncias em gesto de pessoas no Brasil. A pesquisa, denominada DELPHI RH 2010, teve como objetivo identificar e analisar as tendéncias em gestio de pessoas nas empresas brasileiras, com base na visio dos formadores de opinio que atuam nesta érea O artigo aqui apresentado como exemplo refere-se a primeira versio da pesquisa (diagnéstico inicial), realizada durante 0 primeiro semestre de 2000. ‘A proposta original da pesquisa previa a repetigao do diagnéstico a cada dois anos. Os pesquisadores procederam, inicialmente, a uma revisio bibliografica sobre 0 tema. Tendéncias descritas na literatura foram agrupadas em quatro categorias ~filosofia e principios de gestdo, politicas de gestao de pessoas, for- ‘mato organizacional da fungao de RH, perfil do profissional especializado ~ e expostas aos participantes da pesquisa. Estes deveriam opinar a respeito da relevancia das tendéncias apresentadas para a realidade brasileira, do grau de adaptacio do modelo da empresa em que atuam a essa nova realidade, da di: ficuldade de se adotar a nova politica de gestéo. Foram formuladas as seguin tes questées: (a) Trata-se de uma tendéncia relevante para a Gestdo de Pes 178 wérooos pe rasquisa em aDuanasTaAGkO soas nas organizagdes brasileiras? (b) Esta mudanga jé foi introduzida na em. presa? (c) Esta mudanca deverd ser incorporada ao modelo de gesto da em. presa nos préximos dez. anos? (d) Qual o grau de dificuldade para se implan. tar esta mudanga? Participaram da pesquisa formadores de opiniao em gestdo de pessoas, cuja selegio se deu com base no atenclimento a um dos seguintes critérios: (a) ocu- par cargo de gestor estratégico de recursos humanos em organizagdes de grande porte; (b) ocupar cargo de principal gestor de uma das fungdes ou macto- processos de recursos humanos; (c) ser um consultor na drea de gestao de pes- soas, reconhecido pelo mercado; (4) ser professor ou pesquisador em recursos humanos nas instituigdes universitérias mais reconhecidas do pats; (e) ser gestor de uma empresa ou de uma unidade de negécios em organizagoes privadas ou piblicas de grande porte. Foram enviados 890 questiondrios, com uma taxa de retorno de aproxi ‘madamente 20%. A pesquisa foi realizada durante duas rodadas, contando com a participaco de 168 especialistas na primeira ¢ 120 na segunda. ‘A primeira categoria considerada para a elaboracio do questionitio ~ fi losofia e prinefpios de gestfo — incluiu as seguintes tendéncias: autodesen: volvimento, comprometimento da forga de trabalho com objetivos organiza cionais, educaco corporativa, gestdo de RH coerente com negécios, gestdo de competéncias, diferentes vinculos de trabalho e formas de relacionamento, empowerment, gestio do conhecimento, empregabilidade. Os resultados obt dos revelaram que praticamente todos os prine(pios apresentados foram con: siderados altamente relevantes para as orgenizagdes brasileiras, com destaque para o autodesenvolvimento o comprometimento da forga de trabalho com (0s objetivos da organizagio. Gestao de competéncias e gestao do conhecimen: 10 foram dois princfpios considerados relevantes, mas pouco incorporados pe las organizagées nas quais os participantes da pesquisa atuavam, Ambos apre: sentaram os maiores graus de dificuldade para implantacGo. Na segunda categoria - politicas de gestdo de pessoas -, foram inclufdas as seguintes tendéncias: feedback freqiiente aos funcionérios, meios informa: tizados de auto-aprendizagem, énfase nas necessidades bio-psicossociais dos empregados, monitoramento continuo do ambiente organizacional, parcerias com instituigées externas para promogio de programas de desenvolvimento, gestéio de carreiras, meios de educagio & distancia, remuneragéo vinculada & capacidade de entrega do funcionério, polticas diferenciadas de acordo com (0s grupos ocupacionais, maior poder de decisao das chefias sobre a remunera- io de sua equipe, beneficios flexiveis, beneficios proporcionalmente menores, na remuneragao, opcGo aos funcionérios de serem acionistas, controle mail restrito de verbas remuneratérias. Os resultados apontaram que, de modo ge- ral as politicas mencionadas foram consideradas relevantes. Apenas trés apte- sentaram baixa relevéncia. S40 elas: controle mais restrito de verbas, aérovo our — 179 remuneratérias, op¢éo aos funcionarios de serem acionistas, beneficios propor Gonalmente menores na remuneracio. Contudo, 0 percentual de introducéo Gestas politicas de gesto de pessoas ainda é considerado baixo, Politicas dife- fenciadas de acordo com os grupos ocupacionais, parcerias com instituigdes externas para promover capacitacao e desenvolvimento ¢ controle mais restri- to das verbas remuneratorias constituem excecbes. Os maiores graus de dif culdade para implementagéo foram atribuidos opgdo aos funcionarios de serem acionistas e & gestdo de carreiras diferenciada. A terceira categoria considerada para a elaboragao do questionério — for- mato organizacional da fungdo de RH ~ incluiu as seguintes tendéncias: descentralizagao das decisdes de RH para os gerentes de negécios, atuacio como fornecedor de novos processos e disseminador de conhecimento em RH, atti~ cio em rede, processos ou células de trabalho, migragao de fungdes de RH forporativo para unidades de negécio, perfil de atuacao do profissional de RH de téenico especialista para consultor interno, utilizagéo de estratégias mult funcionais na atuagao de RK, atuagéo de equipes autogerenciadas, eliminacdo de niveis hierdrquicos, terceitizacao das fungoes operacionais de RH, sistemas, processos e praticas de RH com ciclo de vida mais curto, centralizagao das decisdes estratégicas de RH. Os resultados obtidos revelaram que a descen- wralizagio das decisées de RH para os gerentes de negécios e a atuacéio como fornecedor de novos processos e disseminador de conhecimento em RH foram consideradas as tendéncias mais relevantes, incorporadas patclalmente pelas organizacées a que os participantes da pesquisa estavam vinculados. A centra: Hazagdo das decisbes estratégicas de RH foi apontada pelos participantes como atendéncia mais adotada. O maior grau de dificuldade para implementaca0 foi relacionado as equipes autogerenciadas. Os pesquisadores ficaram surpre- sos com 0 baixo indice de incorporacdo da terceirizacio das fungdes opera- cionais de RH, apesar de os resultados terem indicado 0 menor grau de dif culdade para implementaczo. ‘A quarta categoria - perfil do profissional especializado -inciuiu uma série de qualificagées (conhecimentos e formagies profissionais) e competéncias (atitudes voltadas para o trabalho) para que os participantes atrbuissem graus de importncia, variando de 1 (pouco importante) a 4 (muito importante). As quatro qualificacées mais relevantes, na visao dos participantes, foram: domi nio de ferramentas de informatica, experiéncia profissional na drea de gesto de pessoas, conhecimentos em gestio de negécios — estratégia, dominio de outros idiomas. Entre as competéncias, duas foram destacadas pelos participan- tes: orientagio para resultados e papel de promotor de mudanga cultural. ‘Uma questdo aberta foi inserida no questiondrio a fim de levantar os prin cipais desafios relacionados & Gestdo de Pessoas, para o perfodo considerado pela pesquisa (até 2010). Os principais desafios, na opinio dos participantes, foram: (a) atrair, capacitar e reter talentos; (b) gerir competéncias; (c) gerir conhecimento; (d) formar novo perfil do profissional demandado pelo setor. 180 éropos DE rEsqUIsa Em ADMARUSTRAGKO 0s resultados da pesquisa revelaram que a area de Gestio de Pessoas esté convivendo com grandes transformagées que, na opinigo dos especialistas, deverio afetar os principios ¢ a filosofia de gestéo em pratica nas organizacses. Contradigdes e ambigilidades relacionadas aos principios de gestao foram identificadas, a saber: necessidade de conciliar empregabilidade e autodesen. volvimento com comprometimento ¢ empowerment, necessidade de gerir co- nhecimento em todos os niveis da empresa ¢ praticar diferentes vinculos de trabalho, Essas contradigSes exigem novas politicas orientadoras dos proces- 508, afirmam os pesquisadores s resultados apontaram, ainda, que a drea jé convive com um formato organizacional alterado, mas que exige também uma atuago em rede, a util zagio de estratégias multifuncionais e a migracio para o negécio das decisies, de RH. O perfil do novo especialista foi, também, desenhado. Os pesquisado- res lembram, por fim, que esse tipo de pesquisa tem um carter orientador, ou seja, visa fornecer uma referéncia aos gestores e aos profissionais da drea. (J Exemplo 2: Criacdo de um modelo de competéncias (0 método Delphi foi utilizado por Santos (2001) em um estudo sobre gestin de competéncias. A pesquisa teve como objetivo criar um modelo de competéncias para cargos diretivos. © pesquisador tomou como base uma série de pressupostos tedrico- metodolégicos, por meio dos quais a gestao de competéncias adquire cardter funcional. Sao eles: (J Ascompeténcias estdo relacionadas ao ponto de vista cognitive, bem como ao emocional. (0 O desempenho das pessoas esté relacionado no sé aos conhecimen- tos e habilidades para a realizacéo do trabalho (saber fazer), mas também as atitudes, aos valores e as caracteristicas pessoais (que- rer fazer). (0 Competéncias so caracteristicas subjacentes as pessoas ¢ esto re- lacionadas ao bom desempenho no trabalho. (0 Ha dois tipos de competéncias: (a) primérias, relacionadas as apti des, aos tracos de personalidade e as atitudes; (b) secundirias, ba seadas em dimensies complexas que compreendem varias compe- téncias primérias. (7 Os pertis de competéncias definidos pelas organizagdes referem-se a conjuntos de competéncias secundérias (orientagao para o negé- cio e para os resultados, por exemplo) detalhadas por meio de suas wwérovo peu 181 dimensdes (avaliacao dos custos € dos beneficios das oportunida- des de negécios, por exemplo) COs perfis de competéncias so mais amplos que os perfis de cargo, pautados em um plano puramente cognitivo, O_O perfil de competéncias € determinado com base nas competén- cias do cargo, as quais estéo relacionadas aos tequisitos e as respon- sabilidades a serem assumidas pelo profissional, bem como as con- digdes de trabalho e & cultura organizacional. (0 O perfil de competéncias apresenta uma conexao técnico-organi- zacional basica, GFA formacio, considerando as caracteristicas do cargo, deve promo- ver o desenvolvimento do pessoal. © Aselego de pessoal deve voltar-se para a procura de candidatos para os cargos X, ¥ e Z, ao invés de fixar-se apenas em um cargo X, que exige dos candidatos flexibilidade ou miiltiplas habilidades. (0 As competéncias fundamentais da organizagéo devem estar rela- cionadas com a sua missa0. Participaram da pesquisa nove especialistas no assunto, Para a apresen- tagio dos passos da pesquisa, o pesquisador wilizou como excmplo a constru- «fo do perfil de competéncias de um diretor de vendas. Foram necessarias qua- tro rodadas para a obtengio do consenso entre os especialistas. Na primeira rodada, cada especialista deveria responder a seguinte questo: “Quais so as competéncias que devem configurar o contetido do cargo executtivo X?” {As respostas obtidas na primeira rodada foram tabuladas e os resultados demonstrados por uma matriz de competéncias, em um total de 17 competén- cias. Os participantes receberam os resultados da primeira rodada, sendo-Ihes perguntado se concordavam que as competéncias definidas na matriz, comtes- pondiam as necessérias para se ocupar o cargo. Deveriam assinalar “N” nas que no concordassem. Foi, entao, calculado 0 coeficiente de concordancia para cada uma das competéncias. O pesquisador estipulou que o nivel de concordéncia aceitével deveria ser maior ou igual a 60%. Os resultados da segunda rodada deram origem a uma nova matriz de competéncias, totalizando oito competéncias. Na terceira rodada, os participantes receberam os resultados da rodada anterior, sendo-Ihes solicitado que atribuissem pesos a cada uma das compe- téncias, com o objetivo de ordené-las de acordo com o seu grau de importén- cia. Os participantes deveriam atribuir o nimero 1 para a competéncia mais importante e o niimero 8 para a menos importante. Foram orientados a néio atribuir o mesmo mimero para duas ou mais competéncias. 182 _dropos oe Pesquiss en annrsreagio AAs respostas foram tabuladas, obtendo-se a ordem de importéncia das competéncias. Como em quatro competéncias nao fol atingido o nivel minimo de 60% de concordancia, uma nova rodada foi realizada. Na quarta rodada, os participantes receberam os resultados da rodada anterior e foram questionados se concordavam com as ponderagées e a ordem. obtida. Foi-Ihes dito que poderiam mudar ou manter suas ponderagées. Como resultado, foi obtido o nivel minimo de concordéncia de 60% para todas as oito ‘competéncias, levando A definigao das competéncias para 0 cargo em questao. Definidas as competéncias, os participantes listaram algumas dimens6es 1a elas relacionadas, que, apés a obtencdo de consenso, se resumiram a cerca de trés por competéncia. Para o pesquisador, conceituar competéncias implica pressupostos tedrico-metodolégicos que tornem sua significagao funcional. Tendéncias do futuro (0 Bxemplo © método Delphi Eletrénico foi eleito para a realizaco de uma pesquisa sobre tendéncias do futuro, que vem sendo conduzida pelo Programa de Estu- dos do Futuro (Profuturo) da Universidade de Sao Paulo (USP), desde 1999. Giovinazzo e Fischman (2002) apresentaram no artigo aqui utilizado como exemply resultados parciais de tal pesquisa.? A primeira fase da pesquisa versou sobre Prospecgio Estratégica para 2003, Contou com a participagao de profissionais de empresas nacionais e multina- cionais, alunos e ex-alunos dos cursos de MBA da USP, especialistas, professo- res e pesquisadores. Foi realizada durante duas rodadas. Nesta fase, os ques- tionérios foram enviados por e-mail aos participantes. Os resultados foram disponibilizados no web site do Profuturo. © questionétio utilizado na primeira fase foi dividido em duas partes. A primeira abordou a andlise das tendéncias socioeconémicas no Brasil, até o ano de 2003. A segunda foi baseada no modelo das cinco forcas competitivas de Porter: entrada de novos concorrentes, ameaca de substitutos, poder de nego- ciagéo com compradores, poder de negociacio com fornecedores, rivalidade entre os concorrentes existentes. ois assuntos despertaram o interesse dos participantes, nesta fase: (a) 0 comércio exterior; (b) os mercados e 0s consumidores. Com relagao ao primeiro, foram levantadas estimativas referentes as exportaces brasileiras, bem como as importacées. No que diz respeito ao segundo assunto, os resultados apon- taram que 0 preco continuard sendo o fator determinante na decisdo de com- 2 Resultados de diversas pesquisa realizadas pelo Profuturo podem ser consultados por meio do acesso a0 site uéropo pein — 183, pra dos consumidores, Fatores como qualidade do produto, atendimento, pre- servacio ambiental, entre outros, também foram mencionades. ‘A segunda fase da pesquisa abordou a tematica do e-Business e seus im. pactos nos negécios, Participaram desta fase executivos de empresas, alunos de pés-graduagao e professores. Como a primeira fase, também foi conduzida durante duas rodadas, Nessa fase, contudo, o questionério foi disponibilizado 1no website do Profuturo para ser respondido on line, na propria pagina do Pro- grama. As respostas da primeira rodada foram transferidas para uma planilha cletrénica, 0 que garantiu agilidade na tarefa de tabulacio. Os resultados fo- ram, entio, analisados e disponibilizados para a rodada seguinte. A segunda rodada também foi totalmente realizada por meio do web site. Os resultados obtidos nesta fase revelaram estimativas relacionadas a0 crescimento do ntimero de compradores via Internet, no Brasil, ao crescimen- to do comércio eletrénico (com mengies aos segmentos de supermercados, li Tos e CDs, eletrénicos, bancos), as transagées relacionadas ao Business to Business s resultados da pesquisa foram disponibilizados no web site do Profuturo, para acesso piblico, tendo sido consultado por executivos, consultores, est dantes e professores. Leituras para aprofundamento CUHLS, Kerstin; GRUPP, Hariolf. Alemanha: abordagens prospectivas nacio- nais, Parcerias Estratégicas, n° 10, mar. 2001. 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Pareerias Estratégicas, n* 10, ‘mar. 2001. seo 16 Metodologia Reflexiva Metodologia reflexiva é aquela que defende a tese segundo a qual a pes- quisa empirica ¢ de natureza interpretativa, politica e retérica (ALVESSON e SKOLDBERG, 2000). Reflexio deve ser entendida como as préprias interpretagbes do pesqui- sador, a capacidade de olhar suas préprias perspectivas da perspectiva de ou- tos, bem como a capacidade de autocritica acerca da sua autoridade como intérprete e como autor. Estas interpretagGes s4o obtidas pelos processos cons: tantes de indugio, deducao abdugdo desenvolvidos ao longo do processo de pesquisa. Reflexao significa pensar sobre as condigées sob as quais algo é construfdo. Implica investigar os modos pelos quais o contexto teérico, cultural, politico feta a interagio com o que esteja sendo pesquisado. Reflexao, alertam Alvesson e Skéldberg (2000), & dificil, ‘Adeptos da metodologia reflexiva argumentam que o conhecimento néo pode ser separado daquele que conhece. As informagies e os fatos sto cons- tudes do pesquisador, resultados da sua interpretacéo. Ainda: eréem que a realidade social no é externa & consciéncia e & linguagem de pessoas, mem- bros da sociedade, que inclui os pesquisadores. ‘A metodologia reflexiva tornou-se mais conhecida apés a publicacao em lingua inglesa da obra Reflexive methodology, de Mats Alvesson e Kaj SkOldberg, ‘em 2000. Pode-se dizer que ela tem sido explorada sob diversas perspectivas. Vickers (2004), por exemplo, a elegeu, mas de forma circunscrita as entrevis- tas realizadas, apoiando-se, entre outros estudos, em Alvesson (2003) 186 METODOS De PESQUIA EM ADMENISTRAGKO Ewenstein e Whyte (2004), por seu turno, valeram-se da reflexividade estét. ca, desenvolvendo, como a proposta de Alvesson e Skéldberg (2000), a inter. pretagdo em varios niveis de abstracao. Estudos voltados para a adogao dessa metodologia tém sido realizados, sobretudo, em pafses como Austrdlia, Finlén- dia, Nova Zelandia e Suécia. No Brasil, destaca-se, por exemplo, ainiciativa de Villardi (2004). # Palavras-chave Interpretacéo Reflexao Intersubjetividade Autoeritica Linguagem Contexto politico e ideoldgico Contexto cultural Entendimento metatesrico goo0o0000a0 Caracteristicas principais C1 Caracteriza-se, basicamente, pela interpretagio cuidadosa e pela re- flexdo. A primeira significa que todas as referéncias para dados ‘empiricos, sejam eles triviais ou nao, sdo resultados de interpreta ‘gio, Reflexao, por seu turno, atribui importncia a pessoa do pes- quisador, & comunidade de pesquisa, a sociedade como um todo com suas tradigdes intelectuais e culturais, bem como & natureza pro- blemética da linguagem e da narrativa no contexto da pesquisa. Reconhece-se a mediagao do pesquisador ao conhecer a realidade pesquisada. O pesquisador se limita a interpretar, pois néo consi- dera possivel o acesso direto a realidade e reconhece a subjetivida- de envolvida no processo de pesquisa. Reflexao pode ser entendi- da, no contexto da pesquisa empirica, como interpretacao da inter- pretagéo. Existem niveis de reflexdo, Vale-se de métodos orientados para a obtencio de dados, da hermenéutica, da teoria critica, do pés-estruturalismo e pés-moder- nismo, assim como da linguagem, género e poder. A hermenéutica tem origem na Renascenca, na andlise da Biblia e dos cléssicos. A teoria critica revela a dimensdo politica e ideol6gica de interpreta 187 cio. O pés-estruturalismo e 0 pés-modernismo trazem a des construgéo." A linguagem traz a anélise do discurso,? o género traz 0 feminismo e o poder, o método genealdgico de Foucault Métodos orientacios para a obtengo de dados slo a grounded theory? na perspectiva do interacionismo simbélico, a emometodologia com sua raiz na fenomenologia' e a etnografia,® antropologicamente orientada. Implica liberdade, sofisticacéo, foco menor sobre o que o material empirico pode dizer como as coisas sao e foco maior sobre outras virtudes, como idéias critivas, por exemplo. Hé, entéio, menos con: centrago na coleta e no processamento dos dados e mais na inter Pretacao ¢ reflexio em relagao nao somente ao objeto de estudo, ‘como também ao préprio pesquisador e seu contexto politico, ideol6gico, metatesrico e lingistico, x Como utilizar® 1 Definem-se o tema e 0 problema de pesquisa. OF Procede se a uma revisio da literatura pertinente ao problema de investigacao, G1 Coletam-se dados empiricos por meio de entrevistas, observagao e outros instrumentos. GF Realiza-se a interpretagao de primeiro nivel (referente aos dados empiricos) G1 Realiza-se a interpretacdo de segundo nivel, isto, interpretagio teé: rica da interpretacio empfrica anterior. Varias teorias podem, en- ‘do, ser utilizadas, 7 Realiza-se um terceiro nfvel de interpretagdo: a interpretagao criti ca (circunstancias politicas, ideol6gicas, culturais) dos pressupos- 10s das teorias usadas no segundo nivel 1 Sobre desconstrugto ver Capitalo 5, 2 Sobre anilise do discurso ver Capielo 2, 3 Sobre grounded theory ver Capieslo 9. 4 Sobre fenomenologia ver Capitulo 7. 5 Sobre etnografa ver Capitulo 6. 6 A conéem aqui apresentada nfo € rigida, Pode, portanto, ser alterade conforme a situagéo, 188 —_éroo0s oe pesquisa em ADMINISTRAGAO C1 Realiza-se 0 quarto nivel de interpretagéo: interpretagdo critica e reflexiva sobre todos os niveis. Trata-se de uma interpretacao ver- tical, que atravessa todas as anteriores. ; C1 Resgata-se o problema que suscitou a investigacdo. CJ Confrontam-se os resultados obtidos com as teorias que deram su- CF Formula-se a conclusio, G1 Elabora-se 0 relatério de pesquisa. ‘A metodologia reflexiva pressupée um entendimento metateérico, ou seja, © envolvimento do pesquisador com potencias linhas de pensamento, 20 in- vvés de uma formulagao teérica definitiva (ALVESSON, 2002). Aqui, a revisio da literatura caminha lado a lado com a coleta de dados empiricos. 'No que concerne & interpretagéo, existem vérios niveis (ALVESSON e SKOLDBERG 2000), conforme apresentado na Figura 1 Aspecto/nivel Foco Entrevistas, observagao de siruagées © outros Tnteragdo com material empihieo Interpretagio Significados subjacentes Interpretagio critica deologia, poder, reproducao social Proprio texto, argumento da autoridade, Reflexdo sobre a produgio textual e selegéo de vozes representadas no texto uso da linguagem Fonte: Alvesson e Skéldberg (2000, p. 250), Figura 1 Niveis de interpretagao. Para Alvesson e Skéldberg (2000, p. 276), uma pesquisa pode ser consi: derada boa quando tem as seguintes caracteristicas: 1 argumentos empiricos e credibilidade; 1 atitude aberta para a importancia vital da dimensao interpretativa do fenémeno social; 17 reflexao critica sobre os contextos politico e ideolégico da pesquisa sua transmisséo; erovotociaRERExNA — 189 1 consciéncia da ambigtiidade da linguagem e de sua capacidade li mitada para transmitir conhecimento sobre uma realidade puramen teempfrica, bem como consciéncia sobre a natureza retérica dos mo- dos de lidar com esta transmiss4o (0 problema da representagio autoridade); (7 desenvolvimento de teoria baseada na mencionada transmissio, O rigor na pesquisa incorpora, como asseveram Spink e Menegon (2000), a explicitagao da posicéo do pesquisador, tanto no que se refere & reflexividade pessoal (reflexo sobre quem sou eu-pesquisador), quanto no que diz respeito 2 reflexividade funcional (reflexo sobre a influéncia relativa a “quem somos”, no processo de pesquisa) Exemplo da utilizagao da metodologia reflexiva (J Exemplo: Estudo reflexivo sobre microprocessos de aprendizagem e mudanca coletiva docente Villardi (2004), valendo-se da metodologia reflexiva, levantou o seguin- te problema de investigacdo: como e por que acontece mudanca organizacional por meio da aprendizagem coletiva docente em instituigées de ensino supe- rior ptivado (IESPr) de administracao e marketing? Para responder a essa ques- tio, elegeu duas instituigdes a que deu os nomes ficticios de Sempre Séria e Aprender Sempre. Nelas esteve durante trés anos, o tempo de sua pesquisa. Mas foi na Aprender Sempre que encontrou as condigées para, de fato, realizar a investigago e apresentar seu relatério. AAs instituiges foram selecionadas porque eram um caso problemético: tiraram nota baixa no “Provao”, estavain em processo de afirmacao no setor € dispunham de planos estratégicos de investimento e mudanca organizacional com vistas a um novo posicionamento no sistema educacional particular. Utilizando a tipologia de Stake (1994), Villardi (2004) classificou seu estudo como o de um caso instrumental ecoletivo, Instrumental, porque a ins- tituigdo serviu para a sistematizacdo dos conceitos de aprendizagem e mudan- ca organizacional ancoradas na pratice cotidiana docente. Coletivo, porque pesquisou um fenémeno, uma populagéo, uma condigéo geral A pesquisadora argumentou que conhecer o professor e entender mais sobre 0 seu processo para desenvolver a prépria capacidade por meio da apren. dizagem individual e da coletiva é relevante. Desencadeando seu estudo, le vantou as seguintes questes: 190 sérov0s ne pEsQUsh 2 ADnaNIsTRAGIO (7 Oque éaprendizagem organizacional? Por que ¢ diferente da apren- dizagem individual no trabalho? (3 O que é mudanga organizacional? Por que ¢ diferente da mudanga individual no trabalho? Por que a aprendizagem nas organizagdes conduz A mudanca organizacional? Como processos de aprendizagem coletiva condu- zem & mudanga organizacional? 1 Como desenvolver a capacidade de aprender naquele que deve desenvolver a capacidade de aprender nos futuros gestores de empresas? Como e por que o professor que ensina futuros gestores @ aprender a mudar aprende e muda? Villarai (2004) informa que o objetivo de seu estudo era compreender € explicar para ampliar conhecimento. Trabalhou com o sentido de compreen- sfio dado por Morin (1999), que o formula como um modo de conhecer qual- quer situagao humana, o que implica lidar com subjetividade ¢ afetividade. ‘Também o sentido de explicacio tomou-o de Morin (1999, p. 164) que a con- sidera um “processo abstrato de demonstragies logicamente realizadas, a par- tir de dados obietivos” Para alcancar seu objetivo, entendeu ser necessério: CF descrever mieroprocessos de mudanga por meio da aprendizagem coletiva docente; 1 identificar conceitosintervenientes nos microprocessos de aprendi- zagem e mudanca descritos; C1 elaborar uma ampliaco conceitual sistematizada dos conceitos ‘dentificados na descrigéo e mudanga organizacional investigados. Delimitou seu estado ao processo de aprendizagem entre individuos, gru- pos, a IESPr eleita e a mudanga individual, grupal e organizacional. Villardi (2004) pleiteou e foi admitida como docente na instituigio, o que Ihe permitiu interagir com os outros docentes e investigar, como advogado por Morgan e Smircich (1980), “de dentro do objeto” e nao como observadora externa. Nesse sentido, valeu-se da etografia, para pesquisar seu “proprio ninho", A interagéo também Ihe permitiu desenvolver niveis de abstracéo da interpretagio como os propostos por Alvesson e Skildberg (2000), a saber: (a) primeiro nivel: interpretagéo para geracio de dados empiticos; (b) segundo nivel: interpretacio tedrica da interpretacio empirica do primeiro nivel; () terceiro nivel: interpretagio critica dos pressupostos das teorias usadas no ni- vel dois; (d) quarto nivel: interpretacdo da interpretacao critica e reflexio so. bre todos os niveis. erouotociaReruexvA 191 Para a obtencdo de dados empiricos, langou mao de observago perma- nente e de entrevistas. Os entrevistados foram selecionados pelo eritério de amostragem teérica, isto é, cada préximo entrevistado o era com base na teo- ria que do anterior emergia, Também utilizou o critério oportunistico, por exem- plo, docentes reunidos em um evento, assim como usou o eritério de intensi- dade. Além das entrevistas, foram feitas anotacdes de campo, pesquisa docu mental e levantamentos bibliograficos. Inicialmente, a pesquisadora valeu-se da grounded theory, mas depois considerou que 0 método lhe propiciaria apenas uma descricéo do que ela con: seguia captar das palavras dos entrevistados. Este método mostrou-se insuft ciente para explicitar a complexidade e diversidade dos microprocessos de aprendizagem individual, coletiva e organizacional. A pesquisadora sentiu-se desconfortavel, nao viu mais sentido em continuar com o método e, embora tendo reconhecido algumas das contributigdes do interacionismo simbdlico que embasa a grounded theory, tal como a criagdo de conceitos sensibilizantes que estimulam novas relagdes, perspectivas e visées de mundo, buscou outros métodos. Prosseguiu 0 estudo, entio, numa abordagem fenomenolégica e hermenéutica. Villardi (2004) afirma concordar com Patton (1990), segundo © qual diferentes métodos produzem diferentes informacGes; enti, seu desa fio foi encontrar 0 método que Ihe parecia mais adequado. No processo, nao faltaram as triangulaces.? As técnicas utilizadas para a coleta de dados, como as entrevistas ¢ a ob- servacio, podem ser usadas tanto para uma pesquisa mais préxima do posi tivismo quanto do subjetivismo. A pesquisadora compreendeu que a natureza assumida por tais técnicas foi o resultado da postura dela como pesquisadora carregada de pressupostos e contextualizada em determinado espaco profis- sional e cultural Villardi (2004) menciona que, durante todo 0 processo de pesquisa, com. partilhou seus avancos e duividas com seus pares informalmente, em congres- sos € em papers que iam sendo publicados. As crticas, observacdes e sugestées que recebet! foram muitas. A todas elas submeteu sua interpretacio, reflexao constante e autocritica e, no processo, correu o risco da paralisia e da frustra Ho. Logo percebeu a fragmentacao da visio predominante na academia e a limitacéo cognitiva que os paradigmas organizacionais provocam. Ao apresentar seus achados utilizando a metodologia reflexiva, a pesqui- sadora informa que, no primeiro nivel de interpretacfo, teve varios insights ¢ {que percebeu, na vivéncia com os outros docentes dos processos de aprendi- zagem coletiva, que a realidade s6 se tornava “real”, enquanto ela interagia com © fenémeno por meio dos docentes, Assumiu que um trabalho de pesquisa é 7 Sobre triangulagio ver Capitulo 22, 192 swtrooos pe resquisa sm apunisTRAGKO ‘um trabalho de interpretagio de dados desde o inicio, e nfo somente na fase de andlise e tratamento dos dados. No quarto nivel de interpretagéo, 0 da interpretagdo reflexiva das.inter- pretagées, a pesquisadora explicita que o estudo da anélise metateérica reali- zada por Morgan e Smircich (1980) a orientow e Ihe permitiu entender como ‘0s métodos por ela escolhidos estavam diretamente relacionados a seus pres- supostos subjacentes. Permitiu, também, compreender como ¢ vital a ligagio tentre teoria e métodos, cosmovisao do pesquisador, tipo de pesquisa que pro- pée e técnica adotada como base da investigacéo. ‘Ao apresentar as conclusées de seu estudo, Villarcli (2004) (sempre na pri- ‘meira pessoa do singular) informa que a pesquisa de campo foi realizada prime ro de modo indutivo (das partes para o todo), depois de modo dedutivo (do todo para as partes) ¢ abdutivo (com distanciamento e conclusio plausivel). ‘metodologia foi reflexiva e teve a inclusdo dela, pesquisadora, no processo, 0 que Ihe permitiu compreender com mais profundidade a complexidade dos fe- nomenos de aprendizagem e mudanca organizacional, Refletir, ela admite, é um ato de coragem, inclusao, presenca consciente no fazer cotidiano. ‘Tendo identificado divergéncias epistemoldgicas e metodolégicas nos es- tudos que consultou, percebeu que, a0 fazé-lo, ressaltava a fragmentacio, 0 fechamento paradigmético. No entanto, quando passou a identificar também as conexGes eutie os estudos, apesar das diferengas, péde integrar 0 canheci mento desenvolvido. Resgatando o problema que suscitou sua investigacio, Villardi (2004) conclui que na Aprender Sempre muda-se e aprende-se de forma planejada e também espontnea, pela convivéncia de seus docentes agrupados em comu- nidades dispersas, as quais, em din4micas de racionalidade limitada, emocio- nalidade, poder individual e de grupos, interagem em permanente tenséo. Na Aprender Sempre, acontecem mudanga ¢ aprendizagem por meio da aprendizagem coletiva docente, porque Id coexistem sistemas técnicos @ so- Ciais em permanente construgao e reconstrugo de suas dinmicas emocional, racional e politica que, tanto objetiva quanto subjetivamente, manifestam in- teresses individuais, coletivos e estruturas de poder. Na Aprender Sempre, acon tecem mudanga e aprendizagem porque os individuos sentem, pensam, agem, refletem, aprendem e mudam em inter-relagées individuais ecoletivas nas quais 6 significado de seu trabalho, assim como sua identidade profissional, s80 construfdos e reconstrufdos, Individualmente, séo profissionais entusiasmados pelo trabalho e pela profissio que escolheram, satisfeitos com os resultados que 2 organizagio espera deles. Do ponto de vista coletivo, a proximidade do es- ;paco fisico e as afinidades pessoais estabelecidas pela emocionalidade ativada no trabalho mantém aceso o interesse pela aprendizagem. Sobre os resultados teéricos e metatedricos de seu estudo, informa que, inicialmente, esperava encontrar processos de mudanca e aprendizagem “lé — Merovo.octaneruxiva 193, fora", prontos para serem capturacios e descritos por suas lentes “especializadas" de pesquisadora, Também imaginava que seria possivel aprendizagem indivi- dual sem necessidade de estabelecer relagdes com outras pessoas. Como com: preendeu estar equivocada, considera que o termo aprendizagem individual & problemidtico e o conceito, questionvel. Aprendizagem, afirma, é um proce: so coletivo, por natureza. A metodologiareflexiva que utilizou em seu estudo, revela Villard (2004), como une pesuisdora cap de pereeber a pulso vial do Fendmene sob estudo, Posteriormente, Villardi me disse 0 seguinte: Utilizar a metodologia reflexiva na pesquisa de doutorado me orien: tou a sair do mondlago de um pesquisader que impée sua Idgica externa a seu objeto de pesquisa. Deixou espaco para que eu pudesce ouvir 0 que “emergia” dos pesquisados. No proceso de pesquisa, ia ganhando cons- ciéncia do carainko percorrido, Fui ampliando mina consciéncia. Reco- niheci que o caminho é 0 destino, __ Esta metodologia me facilitou o estar PRESENTE, isto é, com a. ate: sao voltada para a escuta do outro, minimizando minkas primeiras im- Dressoes, assim como me levou a tentar, persistentemente, estabelecer intersubjetividade com meus sujetos de pesquisa (colegas docentes e pes- quisadores), por meio da prdtica da (minha) autocritica. Leituras para aprofundamento ALVESSON, Mats. Beyond neopositivists, romantics, and localists: a reflective approach to interviews in organizational research. Academy of Management Review, v. 28, n® 1, p. 13-33, 2003. Postmodernism and social research Philadelphia: Open Universit Press, 2002. an " SKOLDBERG, Kaj. Reflexive methodology: new vistas for qualitative search. London: Sage, 2000, EWENSTEIN, Boris; WHYTE, Jennifer K. Reflexivity as practice: aesthetic knowledge and knowing in design. In: EUROPEAN GROUP FOR ORGA- NIZATION STUDIES COLLOQUIUM, 20., 2004, Ljubjana-Slovenia, Proceedings... EGOS: Ljubjana-Slovenia, 2004 SPINK, Mary Jane; MENEGON, Vera. A pesquisa como pratica discursiva: su- Perando os horrores metodoldgicos. In: SPINK, Mary Jane (Org.). Praticas 194 sttrovos pe resquisa x ApausTRAGAO discursivas e producao de sentidos no cotidiano: aproximagées tedricas € metodol6gicas. 2. ed. Sao Paulo: Cortez, 2000. VICKERS, Margaret H. Working and caring for a child with chronic illness/ disability: an emergent research design and reflections from a “partial insider”, In: EUROPEAN GROUP FOR ORGANIZATION STUDIES COLLOQUIUM, 20., 2004, Ljubjana-Slovenia. Proceedings... EGOS: Ljubjana-Slovenia, 2004. VILLARDI, Beatriz. Um estudo reflexivo sobre microprocessos de aprendi- zagem e mudanca coletiva docente com a aprendizagem e mudanga “organizacional resultantes ~ para uma gestao sustentével do desenvolvimento de docentes em instituiges de educacéo superior privada em administragao e marketing, 2004. Tese (Doutorado em Administragéo) ~ Departamento de ‘Administracio, Pontificia Universidade Catélica, Rio de Janeiro, Outras referéncias MORGAN, Gareth; SMIRCICH, Linda. The case for qualitative research, ‘Academy of Management Review, v. 5, n24, p. 491-500, 1980. MORIN, Edgar. O Método 3: 0 conhecimento do conhecimento, Porto Alegre: Sulina, 1999. PATTON, Michael Q. Qualitative evaluation and research methods. 2. ed. Newbury Park: Sage, 1990. STAKE, Robert. Case studies. In: DENZIN, Norman K.; LINCOLN, Yonna S. (Ed.). Handbook of qualitative research. Londres: Sage, 1994. 17 Netnografia Conforme mencionado no Capitulo 6, métodos tradicionais, como a etnografia, tém-se aberto para novas possibilidades. Uma delas é a fotoetno- grafia, Oulra tefere-se & netnografis, Trata se de abrir as poreas para o estuda de outras “tribos” e outras culturas: as comunidades virtuais e a cibercultura, como sera visto a seguir. ‘Associedade atual é caracterizada pela velocidade das mudancas, pelo excesso de informagées, pelas novas tecnologias. uma sociedade acelerada, complexa, que parece néo ter mais fronteiras. E a chamada sociedade de in formacio, em rede, do conhecimento. "Nesse contexto, o desenvolvimento da informstica possibilitou a dissemi- nagiio de uma outra forma de comunica¢ao: a mediada por computadores. Para Lemos (2002), os computadores pessoais (PC) estéio dando luger aos compu tadores coletivos (CC). Esta é, para o autor, a quarta fase da informatizacio da sociedade, na qual o ciberespaco é uma realidade e a cibercultura ganha consisténcia. A cibercultura se estabelece como “fruto da sinergia entre a so- ciabilidade contemporénea e as novas tecnologias de base microeletrOnica” (LE~ ‘MOS, 2002, p. 111). Sobre as relagdes de sociabilidade que se estabelecem no ciberespaco, Sé (2002) destaca 0 surgimento das comunidades virtuais, ou seja, grupos de pessoas conectadas via Internet, com base em um interesse comum, que man- tém contato, em geral por meio de listas de discussio, por um determinado periodo de tempo. $A (2003) alerta, contudo, que ha listas de discussao que nao configuram uma comunidade virtual. Para que o sejam, devem-se cons: 196 érooos ne pesquisa me Annes derar a reciprocidade, 0 vinculo ¢ 0 compartilhamento emocional entre os par: ticipantes. 0 envolvimento e a participacio dos membros de uma comunidade vir- tual variam de individuo para individuo. Em geral, as pessoas entram para a comunidade na condi¢éo de visitantes, podendo tomar-se insiders, Hi mem- bros ativos que Iéem e respondem a todas as mensagens. Outros so apenas luckers, isto &, observadores que léem, mas no respondem. Hi leigos e espe- cialistas. Alguns participantes mantém contato por um curto periodo. Outros participam, até, de encontros reais. H4, ainda, a possibilidade da identificagéo ‘ou da permanéncia no anonimato (SA, 2002). Na drea de marketing, Kozinets (1999, 2002) realizou estudos sobre co- munidades virtuais de consumo, definindo quatro categorias de membros des- tas comunidades: (a) tourist; (b) mingler; (c) devotee; (d) insider. A primeira diz respeito aos individuos que nao mantém lagos fortes com o grupo, além do interesse pela atividade de consumo ser superficial. So considerados turistas. A segunda categoria refere-se Aqueles que mantém fortes lacos com 0 grupo, ‘mas um interesse m{nimo pela atividade de consumo. A terceira diz respeito aos individuos que tém grande intetesse pela atividade de consumo, mas pow: cos lagos com o grupo. Por fim, a quarta categoria refere-se aos individuos com grande interesse pela atividade de consumo e com fortes lagos com o grupo. As quatro categorias esto apreseutadas ua Figura 1. High selfcentrality of consumption activity Devotee Insider ‘Weak social ties to Strong social ties to community] community Tourist Mingler Low self-centrality of consumption activity Fonte: Koriness (1999, p. 255). Figura 1 Categorias de membros de comunidades vireuais de consumo, wemoctaia 197 Para o estudo das comunidades virtuais ¢ das ciberculturas, Kozinets (2002) menciona que diversos antropélogos tém sinalizado pata a necessida- de de adaptacao das técnicas proprias do método etnografico, Nesse sentido, anetnografia ¢ considerada uma nova metodologia de pesquisa qualitativa que incorpora as téenicas da emografia tradicional ao estudo de comunidades € culturas emergentes a partir da comunicaco mediada por computadores (KOZINETS, 2002). Assim, como lembram Ayrosa e Sauerbronn (2004), os relatos tm 0 valor de uma observagao etnografica, embora ninguém esteja fisicamente junto. # Palavras-chave CF Giberespaco , © Gibereuleura Comunidades vrtuais 1 Hipertexto 0 Interatividade 1 Corteio eletrénico, istas de discussio, chats, blogs % Caracteristicas principais J Como o método tradicional, a netnografia demanda a imersio pro- funda do pesquisador no ambiente a ser pesquisado. Essa intensa participagao constitui um elemento fundamental para o trabalho de campo. _ Aobtengéo de dados ¢ praticamente automatica, na medida em que © acesso a listas de discussao ¢ piiblico e os documentos siio disponibilizados para download. Os riscos da revelagao de dados distorcidos podem ser maiores se comparados aos da etnografia tradicional, uma ver que, em geral, 0s participantes permanecem andnimos, nao ha contato face a face ea realizacdo de entrevistas néo é freqiiente, 1 Os dilemas éticos sobre os quais 0 pesquisador deve refletir so pe culiares. Questdes como o caréter piiblico das listas de discussdo ¢ a permissio para a utilizagdo de dados ainda sao discutidas. 198 érovos pe resquisa mu ADnusTRAGAO % Como utilizar GF Definem-se o tema e 0 problema de pesquisa. 5 1 Procede-se a uma revisio da literatura pertinente ao problema de investigagio e escolhe(m)-se a(s) orientagio(6es) tebrica(s) que daré(Go) suporte ao estado, 1 Procede-se a um levantamento dos sites ¢ listas de discuss rela cionados ao tema da pesquisa. 7 Selecionam-se as comunidades virtuais consideradas mais pertinen- tes ao objetivo da pesquisa _Definem-se os critérios para a escolha da comunidade virtual alvo da pesquisa: niimero de membros, grande circulagio de mensagens, grat de detalhamento dos dados dispontveis para download, entre outros considerados relevantes pelo pesquisador. Seleciona-se a comunidade virtual a ser pesquisada. Inicia-se o trabalho de campo por meio da apresentacio da proposta de pesquisa aos membros da comunidade virtual Procede-se ao acompanhamento da lista de discusséo. Selecionam-se 0s documentos disponiveis pata download de acor- do com o objetivo da pesquisa. Procede-se ao download dos documentos. Selecionam-se as mensagens trocadas pelos membros da comuni- dade virtual em um perfodo determinado. Classificam-se as mensagens em categorias. Selecionam-se membros da comunidade virtual para possiveis en- trevistas on line, aa Realizam-se as entrevista, se for 0 caso. Registram-se as observacées do pesquisador em um dirio de campo. Analisam-se os dados coletados. Resgata-se 0 problema que suscitou a investigacio. Blabora-se uma primeira verso do relatério de pesquisa. Retorna-se ao campo para a validaco dos resultados ou para ob- ter comentérios adicionais de membros da comunidade virtual. Confrontam-se os resultados obtidos com a(s) teoria(s) que deu(ram) suporte a investigacao. Q GQ0000 a0 9a aa 1 Acrdem aqui spresentada nto ¢ rgida. Pade, portanto, ser alterada conforme a situagio. nemocnria 199 CO Formula-se a concluséo. (7 Blabora-se a versio final do relat de pesquisa. Para a selegao das comunidades virtuais, é posstvel realizar uma busca por categorias ou palavras-chaves em paginas como a do Yahoo Brasil Grupos (chttp://br.groups.yahoo.com/>), por exemplo, que congrega comunida- des virtuais diversas. ‘Como na etnografia tradicional, cabe ao pesquisador a decisio de apre- sentar-se ou néo como tal para os membros da comunidade virtual. Este é um dos procedimentos relacionados & ética. Sugere-se que o pesquisador informe ‘aos membros da comunidade que esta inscrito na lista de discussao, bem como apresente a proposta de pesquisa. Deve-se, ainda, garantir 0 anonimato dos informantes, solicitar a permissAo para utilizacdo de mensagens especificas, newsletters, fotografias e outros documentos disponiveis on line (KOZINETS, , 2002) Os critérios para a selecio de membros da comunidade virtual para pos- siveis entrevistas on line variam de acordo com o objetivo da pesquisa. AS ca- tegorias estabelecidas por Korinets (1999) sao apenas um exemplo. ‘Avolta ao campo é o que Kozinets (2002) denomina member checks, um procedimento também relacionado a ética. Consiste em apresentar aos mem- bros da comunidade virtual os resultados da pesquisa ot parte deles. Essa apre- sentagio tanto pode ser feita & comunicade como um todo e, para isso, basta ‘ pesquisador disponibilizar o documento para download, como pode ser feita ‘apenas alguns membros da comunidade e, nesse caso, o e-mail deverd ser 0 canal utilizado, Exemplo da utilizagio da netnografia (1 Exemplo: O samba em rede 4 (2000) valeu-se da netografia para a realizacao de uma pesquisa so- bre sites ¢ lists de discussio relacionados ao carnaval carioca e a0 desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. O artigo “O samba em rede ~ comunida- des virtuais e Carnaval carioca” apresenta parte dos dados coletados e dos re- sultados do projeto O samba em rede—a dimensco comunicativa das home-pages das Escolas de Samba. O artigo mencionado abordou a lista rio-carnaval@. Teve como objetivo identificar quem so 0s participantes da lista, qual é o seu contetido e qual €o papel do correio eletrénico na articulagao de uma identidade de *sambista vir- tual”, Discutiu as novas formas de sociabilidade proporcionada pela comuni- 200 wtropos be pesquisa ew apvanasteacao cagio mediada por computadores, remetendo-as a formas de sociabilidade no virtuais. A lista rio-carnaval@ foi criada em julho de 1998 a fim de promoverdis- cussées sobre carnaval carioca e suas escolas de samba. A lista passou a ser acompanhada em novembro de 1999. O levantamento realizado permitiu a classificacio das mensagens em seis categorias: (a) avisos relacionados ao sam: ba, aos ensaios e aos langamentos de CDs; (b) discussdes especificas sobre 0 carnaval 2000; (c) discuss6es sobre a atuacio das autoridades e da midia no que se refere ao camaval; (d) meméria do samba; (¢) brincadeiras entre al: guns participantes; (8) dicas e troca de favores entre os participantes. Os dados coletados revelaram caracterfsticas desta comunidade vireual, semelhantes as de outras comunidades, tais como: a solidariedade entre os ‘membros, a énfase na participacao de todos e a circulacéo de informagées pri vilegiadas e especializadas. H4, contudo, algumas peculiaridades. Os membros da lista rio-carnaval@ nao permanecem andnimos, Fazem questio de se iden tificarem e de serem identificados. Assinam seus nomes completos, muitas vezes acompanhados de expressées relacionadas a Escola de origem. So carnava- lescos, membros da diretoria de Escolas, jomnalistas especializados, entre ou- tos. Ha, também, aqueles que moram em outras cidades do Brasil e do exte- rior, mas que mencionam conhecer 0 mundo do samba e ter participado de des- files, Outro segmento ¢ o dos principiantes, que nao entenden taut de sain ba, mas querem aprender. No caso desta comunidade, a identidade virtual parece ser uma extenstio da identidade anterior de militante do mundo do samba. O vinculo de um in- dividuo a uma Escola e suas experincias com o carnaval séo fundamentais para uma recepcio calorosa como novo membro da comunidade. Algumas mensa- gens contém comentérios sutis sobre elementos como enredo ou fantasia, por exemplo, sublinhando a importéncia da experiéncia in loco. Os dados revela- ram, ainda, que a construcéo da identidade sambista é marcada pelo envol vimento afetivo dos membros com as agremiagies. Por conta de uma referéncia na rio-carnaval@, esta comunidade foi com- parada com outra comunidade virtual ligada ao samba: a Grémio Recreativo Escola de Samba Demonstracéo Unidos do Mundo. Trata-se da primeira escola de samba virtual. Desfilou no Garnaval 2000, na abertura do desfile das campeas. Os resultados da pesquisa revelaram que os membros da rio-carnaval@ sio pessoas da classe média, que dominam uma ferramenta tecnolégica e que participam ativamente do mundo do samba, Outros membros, no téo com prometidos, sfo simpatizantes. A Internet é utilizada para potencializar a co- municagdo desta comunidade, ampliando as possibilidades de construgao da identidade carioca/sambista. Substituir a experiéncia do carnaval pela versio virtual é algo impensivel para os membros desta comunidade. A construcéo nemoceara 201 da identidade virtual se d4 de dentro para fora, isto €, a identidade de carioca e amante do samba é anterior ao convivio na rede. Uma identidade global, portanto, nio é a realidade desta comunidade. Os participantes deixam claro que sto diferentes dos turistas. Por outro lado, a identidade virtual dos mem. bros da comunidade Unidos do Mundo é construida de fora para dentro. O que parece ocorrer é um planetary meeting de apreciadores do samba, “gringos” separados geogréfica e culturalmente, mas ligados via Internet a um interesse comum, Neste caso, a Internet é utilizada para promover a comunicagdo entre os participantes e a prépria existéncia da comunidade. Um ponto em comum entre as duas comunidades, contudo, é 0 fato dea Internet potencializar um interesse anterior, 0 que contraria uma suposi¢éo sobre a existéncia de foliées desencarnados da experiéncia de freqiientar uma escola de samba e que navegam na rede & procura de fantasias. Leituras para aprofundamento AYROSA, Eduardo A. T.; SAUERBRONN, Joao Felipe R. Uma introdugio ao uso de métodos qualitativos de pesquisa em comportamento do consumidor. In: VIEIRA, Marcelo M. F.; ZOUAIN, Deborah M. (Org). Pesquisa qualitativa em administracdo. Rio de Janeiro: Fundacdo Getuliv Vargas, 2004. BROWN, Stephen; KOZINETS, Robert V.; SHERRY JR., John F. Teaching old brands new tricks: retro branding and the revival of brand meaning. Journal of Marketing. v. 67, p. 19-33, July 2003, KOZINETS, Robert V. On netnography: initial reflections on consumer research investigations of cyberculture. Advances in Consumer Research. v. 25, p. 366- 371, 1998, E-Tribalized marketing?: the strategic implications of virtual commu- nities of consumption. European Management Journal. v. 17, n® 3, p. 252- 264, 1999, . The field behind the screen: using netnography for marketing research in on line communities. Journal of Marketing Research. v. 39, n® 1, p. 61: 72, Feb. 2002. LEMOS, André, Aspectos da cibercultura: vida social nas redes telematicas. In: PRADO, José Luiz Aidar (Org.). Critica das praticas mididticas: da socieda de de massa as ciberculturas. So Paulo: Hacker Editores, 2002. MUNIZ, Albert M.; O'GUINN, Thomas C. Brand community. Journal of Consumer Research. v. 27, n® 4, p. 412-432, Mar. 2001 202 —uronos pe EsqUish Me ADMINIsTRAGKO SA, Simone Pereira de. O samba em rede. Comunidades virtuz cao, Revista Ligar Comu Rode Jancio: NEPCOM/UFR, mt 186, se /den. 2000 ee: ___. Utopias comunais em rede: discutindo a nogdo de comunidade virt ymuais ymunidade virtu- al, Revista Fronteiras. 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Na definicéo de Thiollent (1988, p. 14), trata-se de “um tipo de pesquisa social com base empirica que é concebida e realizada em estreita associacio com uma agéo ou com a resolucao de um pro- blema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representatives da situagéo ou do problema esto envolvidos de modo cooperativo ou participativo”” Este método de pesquisa 6, muitas vezes, tratado como sinénimo de pes- quisa participante. Como esclarece Thiollent (1987, 1988), & pesquuisa-acao é uma forma de pesquisa participante. Entretanto, nem todas as pesquisas par- ticipantes sao consideradas pesquisa-aco, uma vez que este método é centrado na intervengao planejada em uma daca realidade, por parte dos sujeitos. A participagdo dos pesquisadores nao é suficiente para que a investigagio seja considerada pesquisa-acio. ‘A pesquisa-agio é, também, confundida com consultoria, Este método difere da consultoria por buscar a elaboragao e o desenvolvimento do conhe- cimento tedrico (ROESCH, 2001), ao mesmo tempo em que tenciona resolver problemas préticos. E possivel dizer que este método surgi nos anos 40, por meio dos trabs- Ihos de Kurt Lewin, nos Estados Unidos. O artigo “Action research and minority problems”, publicado por esse pesquisador em 1946, registrou o aparecimento 204 —wéropos pe PEsuisA me ADuIsTAACAO do termo pesquisa-agdo, nos meios académicos (SUSMAN e EVERED, 1978), Esta abordagem inicial valeu-se da pesquisa do tipo experimental. A ago do pesquisador tornou-se vistvel, sendo esperado um impacto produzido por esta aco. A partir dos anos 60, a pesquisa-agdo passou a ser utilizada no ambito da abordagem sociotéenica, com destaque para o programa de pesquisa no setor de mineragio de carvao, realizado pelo Tavistock Institute, no Reino Unido (EDEN e HUXHAM, 2001; ROESCH, 2001; SUSMAN e EVERED, 1978; ‘THIOLLENT, 1988), Thiollent (1997) registra que em outras éreas de conhe- cimento (educagio, comunicagao, setvigo social, entre outras), hé propostas de pesquisa-a¢ao com objetivos diversos e revela que desde a década de 80 ele realiza este tipo de pesquisa em diversas experiéncias de consultoria, destacando a que realizou em uma empresa estatal. # Palavras-chave Interacdo entre pesquisadores e sujeitos da pesquisa Reflexiio - ago ~ reflexio Intervengio por parte dos sujeitos Resolugao de problemas prioritérios ‘Trabalho itil para o grupo ou a organizagao Teoria fundamentada na aio e vice-versa goqgooaq % Caracterfsticas principais (1 Mobitiza os sujeitos para atuarem durante todo 0 processo de in- vvestigagao € identificagio dos problemas prioritérios, bem como implementarem e avaliarem as aces. 1 Permite explorar e estimular 0 processo de aprendizagem dos su- jeitos, por meio da discussio e da disseminaco de informagoes, visando & condugio de trabalhos futuros. O Permite analisar a teoria durante o processo de mudanga, provoca- do pela ago dos sujeitos. © E recomendado para investigagées com grupos, organizagées, co- letividades de pequeno ou médio porte, sendo inadequado para uti- lizagdo em nivel macrossocial (THIOLLENT, 1988). © Aacdo de forgas politicas, contrarias ou céticas, pode dificultar a obtengéo de dados e a implementacao das aces. esqusaacko 205 1 Binadequado para os propésitos empresariais focados no curto pra- 70. 1 Néo é recomendado para aplicacio em organizagées que apresen- tam alta rotatividade de dirigentes e demais funcionarios, 0 que afeta os propésitos e a continuidade da pesquisa. % Como utilizar? G_Definem-se 0 tema e a proposta preliminar de pesquisa. 1 Constitui-se a equipe de pesquisadores (se for 0 caso). 1 Procede-se a uma revisdo da literatura pertinente ao tema da pes- quisa. 1 Procede-se ao contato inicial com o grupo ou a orgenizacto sele- cionada, 0 Identificam-se os participantes da pesquisa. 7 Estuda-se a viabilidade de aplicagao do método de pesquisa-acéo no meio considerado, GF Retinem-se os participantes para a discussio acerea dos problemas do grupo ou da organizacio sob investigacao e das possibilidades de aio. Com base em uma suposicao diagndstica, coletam-se os dados para a elaboracao do diagnéstico, por meio de entrevistas, observacéo, seminérios ou outros procedimentos. © Formula-se o problema de pesquisa, baseado na interacéo com os participantes e, se for 0 caso, com a colaboragio de especialistas. 7 Escolhe(m)-se a(s) orientagéo(Ges) tedrica(s) que daré(o) supor- te & investigacio, considerando-se 0 problema formulado, GF Elabora-se 0 diagnéstico. G_Intensifica-se a coleta de dados para o planejamento e a imple- mentagdo de aces. Sclecionam-se as agdes para implementagio imediata. 7 Selecionam-se as agées para implementagao futura. GF Elabora-se um plano de agdes, considerando as agdes a serem implementadas, 05 responstiveis pela implementagao e os prazos. 2 Implementam-se as acées. 1 Aordem aqui apresentada nio é rgida, Pode, portanto, ser aterada conforme & situagio. 206 utrovos ne psquish et aonaristRAGkO 11 Avalia-se o resultado de cada uma das agdes implementadas, em ter. mos praticos e de desenvolvimento de conhecimentos teéricos, Redirecionam-se as ages, se isso for considerado pertinente, Planeja-se a implementacao de ages futuras, Resgata-se o problema que suscitou a investigagio. Confrontam-se 0s resultados obtidos com a(s} jos com a(s) teoria(s) que deu(ram) suporte a investigacao. seen) a Formula-se a conclusio, Elabora-se 0 relatério de pesquisa. Divulgam-se os resultados da pesquisa aos participantes. goog ooa Em pesquisa-agéo, 0 problema de p fi . sma de pesquisa nfo ¢ definido a prior. Deve ser formulado com base nos dados coletados para o diagndstico ¢ na disc at do tema com 08 sujeitos envolvidos. eee A realizagio da pesquisa-acio demand A 1 0 demanda grande dedicagio por parte pesauisador e do sjeltosenvatvids com a stage eob invenigagd, Neste sentido, sugere-se a consttuigao de uma equipe de pesquisa, ao invés de um tinico pesquisador, Outro aspecto a ser considerado a lingu a ser considerado ¢ a linguagem utilizada pelos paricipan- ts Como nag do metodo pla interacial love ser comum a todas as pessoas envolvidas (THIOLLENT, 1997) Deve-se buscar, sempre que possivel, a disseminagi 3 Se vel, a «io das informagoes entre também para permitis a condugio de trabalhos futuros. , Exemplos da aplicagao do método de pesquisa-acéo (0 Exemplo 1: Aprendizagem coletiva Dixon (2001) relatou uma experiéncia de pesquisa-acdo desenvolvid rmuseus canadenses, liitados por reaidades om assed mses canadensis por alias soa eens cur sb A pesquisa-agio se deu por meio do desenv i meio do desenvolvimento do projeto Apren: dendo Arravds de Fronteiras Organizaionas, jes metas eran: (2) expo como instiuesinvidais podem reinvent as! mesmas © adaptarse ‘mudanga; (b) explorar como os museus poderiam colaborar e apoiar uns aos Outros nesee processo de mudanga. Dorar eapoiruns sos A pesquisa foi delineada com base em seis princi ase em seis principios da a m coltva quaissejam:()tmes/organtagees como as tine de aprenticn, resqusnaglo 207 em; (b) suposigdes organizacionais agindo como limitagSes; (€)co-investiga- er cd inteligencia coletiva;(€) aprendizagem ocorrendo 20 longo do tem- for (D colaboraggo e aliancas 10 projeto teve duragdo de 18 meses, norteado por trés eventos: Férum de planejamento, Férum de Aprendizagem e Forum de Reflexdo, Partciparam dos yanios representantes dos museus selecionados. O projeto foi dirigido por um grapo de cinco pessoas, responsiveis por obter financiamento, identificar Eriseus como participantes potenciais, delinear as especificidades dos trés Eventos prineipais do projeto, facilitar os eventos e identificar os resultados do estudo. (0 Férum de Planejamento foi um evento com duragio de dois dias, do qual partiiparam um out mais representantes de cada um dos potenciais museus participantes. Teve como objetivos confirmar a participaglo de cada um dos Pruseus e delinear o projeto conjuntamente. Os participantes tiveram a opor~ Tunidade de relatar para 0 grupo os desafios que estavam enfrentando em suas instituiges, bem como as expectativas referentes 2 projeto, Nesta etapa, 05 participantes ratficaram a utilizagao dos principios de aprendizagem coletiva, Pomo o referencial para todo o projeto e, principalmente, como um guia para estruturar o Férum de Aptendizagem. (0 segundo evento, o Férum de Aprendizagem, ocorreu durante trés dias, com a partcipacao de seis times. Foi observada a leterogencidade dos museus partiepantes no que se refere ao tamanho, & localizacio geografica e & rissa. Foram desenvolvidas seis atividades principais no Férum de Aprendiza- gem, quais sejam: (a) dislogo de comunidade; (b) reflex de times equipara- fos, (2 times que trabalham em suas préprias questées; () investigagao apre- ciativa; (e) euritmia; (f) coleta de dados. O didlogo de comunidade consistiu na reunio de todo o grupo, num cfr culo, por 30 minutos, Teve como objetivo identificar e criar conhecimento par tithado das questdes e preocupacées da totalidade, Foram programados trés didlogos de comunidade. Para a realizagdo da reflexdo de times equiparados, foi utilizado um es: petho para que os participantes pudessem “ver a si mesmos como os outros 0s iam’. Essa atividade consistiu numa sesso de trabalho, por 30 minutos, em {gue cada time era observado por um time parceiro que, em seguida, oferecia {feedback relativo & discusséo observada. O time observado, entio, respondia ‘a0 feedback do parceiro. Finalmente, 0 processo era reiniciado com a troca de papéis pelos times. Foram estabelecidos trés perfodos para que os times pudessem trabalhar em suas préprias questdes, descobrindo o que estavam aprendendo conjunta snente e planejando como usar as idéias que estavam formulando. 208 réronos nx prsguish me aDuuusTEACIO A investigagéo apreciativa foi desenvolvida por meio de entrevistas que uum individuo de cada time realizava com alguém de outro time. Cada entre- vista, estruturada, durou uma hora. Contemplou fatores essenciais que do vida valor ao museu, bem como as experiéncias dos individuos em suas ativida: des no museu. Apés as entrevistas, foram realizadas discusses que resultaram em feedback para os times no que se refere as suas forgas “inspiradoras”. A atividade de euritmia, isto é, ritmo harmonioso, foi desenvolvida com o propésito de dar ao grupo a oportunidade de praticar concentracio, coordle- nagdo e consciéncia a respeito de outros, ao moverem-se em conjunto, Foi rea lizada em trés periodos de 45 minutos. A coleta de dados foi realizada, em nfvel individual e grupal, ao final do Forum de Aprendizagem. Em nivel individual, os participantes entrevistaram ‘um ao outro, durante uma hora e meia, utilizando um roteiro estruturado, No uitimo dia do evento, os times foram orientados para que refletissem em con- Junto, durante uma hora, sobre as seguintes questdes: (a) Que progresso al- cangou seu time a respeito de sua tarefa? (b) Que insights vocés ganharam sobre si ptéprios como um time, os quais lhes ajudardo no futuro? (c) O que vocés aprenderam sobre a aprendizagem com base em outras organizagdes? (4) O ‘que vocés podem comprometer-se a dar e receber de outras organizagSes? Os resultados do Férum de Aprendizagem revelaram que: (a) os partici- pantes desenvolveram maior conscientizacdo no que se refere as relacoes pes soais ¢ ao trabalho em uum time efetivo; (b) os participantes aprenderam a re compor seus préprios papéis dentro do time; (c) os times aprenderam que os problemas que enfrentavam em suas instituigées eram compartilhados pelos outros; (d) os participantes aprenderam praticas especificas sobre “o modo de fazer”, baseado em outros museus; (e) identificaram recursos que poderiam ser invocados como ajuda adicional. Os participantes relataram, ainda, até que ponto as atividades do forum facilitaram a aprendizagem. No perfodo entre o Férum de Aprendizagem e o terceiro evento, o Forum de Reflexio, foi solictado aos times que elaborassem relatérios mensais sobre Co progresso alcancado, de modo a facilitar a aprendizagem pelas organizagées. Quatro times prepararam um relatério nesse periodo. Foi proporcionado, ain- da, apoio para a troca de informagées entre os times, por meio de conferéncia eletrénica, cuja utlizagao foi modesta. 0 Férum de Reflexo ocorreu durante dois dias, com a participagao de um representante de cada time. Teve como objetivos avaliar o que tinha sido apren: dido por cada time e refletir sobre como os museus seriam capazes de auxiliar uum a0 outro, As reflexdes revelaram que atividades que haviam sido previstas pelos times, como as visitas as organizagSes, néo foram realizadas. 0 pouco contato entre os times, apds 0 Férum de Aprendizagem, foi explicado pelas, diferengas por eles observadas no que conceme as tarefas, ao tamanho de cada lum, entre outros fatores. Nesse sentido, acreditavam que tinham pouco a apren= vesqusaagho 209 der com os outros. Entretanto, apds o Férum de Reflexio, os representantes dos times identificaram similaridades no que se refere as tarefas ¢ as questGes do dia-a-dia, por meio dos relatos de cada um. As intengSes em fazer contato com outros times foram renovadas durante o evento. Para a pesquisadora, a primeira meta da pesquisa-agdo foi alcangada, com a formagao de times coesos, capazes de funcionar efetivamente em ambientes turbulentos. A segunda, entretanto, nao foi tao bem-sucedida, em virtude do ppouco contato estabelecido pelos times apés 0 Férum de Aprendizagem, ja que cada time via a si préprio como tinico. Por fim, a pesquisadora concluiu que a “aprendizagem através de organizagées” é uma meta muito abstrata para gr pos, sendo mais bem identificada com um resultado final da organizacai (1 Exemplo 2: Desenvolvimento de fundos para uma ONG. assistencial de pequeno porte Lourengo (1998) utilizou 0 método de pesquisa-agio para realizar um estudo de caso em uma organizacio ndo governamental de assisténcia ao me- nor, 0 Lar Anélia Franco (LAP). A pesquisa teve como foco a captacao de fundos para a instituicao. Foram, {nicialutene, formulados alguns problemas de pesquisa. Apés as entrevistas com 0 Diretor-Presidente, para a realizacdo do diagnéstico, foi definida a seguinte situagio-problema: Como tornar o desenvolvimento de fundos para 0 LAF mais efetivo? Participaram, de modo mais intenso dessa experiéncia de pesquisa-acéo, 0 Diretor-Presidente da instituigao (Falecido antes do término da pesquisa), a Diretora Pedagégica, a secretaria, trés colaboradores, duas ex-internas, além de novos colaboradores, artistas ¢ do préprio pesquisador. A instituigdo abriga e educa meninas desamparadas, preferencialmente 6rfas, Prové para as internas: alimentacéo, vestuério e calgados, material es- colar, medicamentos, assisténcia médica e odontoldgica, assisténcia psicol6gi- ca, educacéo formal nas escolas oficiais do municipio, educacao profissio nalizante, iniciago aos principios cristdos, lazer, disciplina e habitos de higie- nee ecologia. Na época em que a pesquisa foi reatizada, 0 LAF eta mantido exclusiva- ‘mente com recursos oriundos de seus associados, colaboradores, pessoas fisi- cas e jurfdicas de direito privado, bem como de suas atividades sociais. Os dados para a realizagdo do diagnéstico, para a escolha das agées a serem implementadas e para 0 registro de acées para implementagao futura foram coletados por meio de entrevistas, reunides de trabalho, observacio € participagio nas aces implementadas. Foram, também, aplicados questions: ros aos participantes de dois eventos no LAF. 210 wropos ae PEsqUISA x ADMINISTRAGHO © contato inicial do pesquisador com o LAF ocorteu em um dos eventos sociais organizados para a arrecadacao de fundos. Naquele momento, a pro- posta de pesquisa foi apresentada ao Diretor Presidente da instituicko. 0 diagnéstico teve inicio a partir da terceira visita do pesquisador a0 LAF. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com o Diretor-Presidente. Os principais assuntos discutidos foram as formas de arrecadagio ¢ os eventos realizados pela instituigo. Com base no diagndstico, ficou estabelecido que 0 ‘escopo da pesquisa-acio deveria focar o aumento de receitas da instituic&o por meio de agoes de marketing. Foram definidas agées para os seguintes problemas detectados: (a) total falta de informagées para a tomada de decisées de marketing; (b) necessidade de melhoria ou ampliagio das formas de arrecadagio utilizadas; (¢) necess- dade de divulgagao da instituicao. Para enfrentar o primeiro problema detectado, a falta de informacées, foi criado um banco de dados de doadores e um procedimento automatizado para acompanhar as doagdes. O objetivo do Projeto Banco de Dados de Doadores tera gerar informagées para a tomada de deciséo de marketing, de modo a au: ‘mentar o montante doado. ‘No que se refere & necessidade de ampliar as formas de arrecadacio, foi implementado o Projeto Camisas LAF, cujos objetivos eram 0 aumento direto de receitas, a divulgacéo da imagem e o estabelecimento da marca LAF, por ‘meio da comercializagao de camisas com a renda revertida para a instituicao. Esse projeto contou com a participacso de diversos profissionais, entre eles cartunista Ziraldo, No Ambito desse projeto, foi criado o slogan da instituigao: Voct faz a diferenca! No que se refere & necessidade de divulgacdo do LAF, foram imple- mentados dois projetos. O primeiro, Projeto Promocao de Eventos, teve como objetivo aumentar as receitas trazendo um piiblico maior aos eventos promo- ‘vidos pela instituigéo. Foram realizados dois Chés. O primeiro contou com a participacéo da attiz, Adriana Esteves. O segundo projeto, Projeto Marketing Institucional, teve como objetivo trabalhar a imagem do LAF. Uma ago espe- cffiea desse projeto foi a elaboracio de um cartaz, com o slogan da instituigao ea imagem da Adriana Esteves, convidando o leitor para visitar a casa, ou contribuir por meio de depdsito em conta corrente, Algumas ages anteriores contribuiram, também, para a divulgacio do LAF, como a criagio do slogan, a obtengio do direito de utilizagéo da imagem da Adriana Esteves, de forma gratuita, 0 Projeto Camisas LAF, entre outras. Diversas iddias foram registradas para implementaco futura, tais como: home page do LAF, ampliagao do banco de dados, associagio dos amigos do LAF, financiamento para os projetos, divulgagdo em midias comuns, vasquisaacko 211 Nesta experiéncia de pesquisa-acfo, foram implementadas agbes de acordo com a teoria de marketing para instituig6es sem fins lucrativos, que recomen- daa utilizagdo de um sistema de informagoes de marketing, o trabalho da credibilidade da instituicao e a utilizagio, em certos casos, dos conceitos de marketing empresarial. Resultados financeiros de aumento de receita foram atingidos. © pesquisador destacou, também, os resultados referentes & producdo de conhecimento, tais como: 0 tempo para a implementagao das acdes, superior 20 requerido no meio empresarial, a importéncia do planejamento de recur sos humanos para os projetos, a necessidade de transmitir as informagoes re- ferentes as etapas da pesquisa aos participantes, sem concentré-las em uma {inica ott em poueas pessoas, o espago a ser explorado nas instituigSes sem fins Iucrativos. Por fim, convidou o leitor a fazer a diferenga, participando do Lar Anélia Franco. (J Exemplo 3: Aumento da competitividade de uma industria de ceramica vermelha Macke (2002) utilizou v méivdu de pesquisa-agdo em um trabalho real zado em uma indvstria de cerémica vermelha da regio metropolitana de Po: to Alegre. A pesquisa teve como objetivo construir um modelo de intervencéo visando ao aumento da competitividade da empresa por meio da melhoria do desempenho econémico-financeiro. A pesquisadora utilizou como base teéri ca para orientar as ages de mudanca a Teoria das Restrigées (TOC) ¢ 0 Siste ma Toyota de Produgao (STP) A empresa, alvo da intervengao, era familiar e de pequeno porte, com 30 funcionérios. Todos os funcionérios participaram da pesquisa, ‘A pesquisa-acéo foi conduzida em quatro etapas. Os dados foram coletados por meio de pesquisa documenta, entrevistas, observacio direta e observagao participante. Na etapa inicial, foram realizadas 17 visitas & empresa, compreendendo as seguintes atividades: reunio geral com os participantes, capacitacio teéri ca da diregao, elaboracio de fichas de acompanhamento produtivo, diagnésti co interno e externo. O diagnéstico interno revelou a existéncia de perdas no processo produtivo. No ambito externo, foi realizada uma pesquisa de satisfa Go dos clientes, a fim de identificar outras possibilidades de melhoria. Na segunda etapa da pesquisa-a¢ao, foram realizadas as seguintes ativi dades: avaliacdo dos resultados da pesquisa de satisfacio dos clientes, reu rides com pequenos grupos para a intensificagao da coleta de dados e, poste- 212 wéronos pe psgUIsa EM ADMINISTRACIO riormente, para a apresentacio da situaco atual, definicéo dos indicadores lo- cais de desempenho, andlise de investimentos para a mudanga estrucural do layout produtivo, uma alternativa de aco identificada pela diregdo da empre- sa, Esta etapa foi marcada, ainda, pela capacitacao dos participantes do “chéo de fabrica”, em mecanismo da funcdo producdo e gerenciamento de gargalos e perdas, Na terceira etapa, destacaram-se a execugao do projeto de mudanga do layout produtivo, a discussio dos resultados da pesquisa de satisfacao dos clientes, nas reunies de grupos, a avalingio do clima organizacional. Nesta eta- pa, foi criado o cargo de gerente da qualidade. Foi buscada a compreensao dos patticipantes no que se refere aos dois grandes tipos de ages de mudanga: as, agées estruturais, dependentes, essencialmente, de decisées da diretoria da empresa, ¢ as ages de melhoria continua, que envolvem as opiniées de todos 0s participantes. Atltima etapa da pesquisa-agao foi marcada pelas seguintes atividades: capacitacio dos participantes para trabalhos futuros, avaliacao dos resultados da pesquisa-acdo, funcionamento da nova planta, avaliacéo da intervencéo segundo aspectos técnicos (sistema de indicadores de desempenho) ¢ huma- nos (pesquisa de clima organizacional) Foram apresentados os resultados do sistema de indicadores, antes e de. pois das ages cle mudanca. O indicador de produtividade econdmica (ganho/ despesas operacionais) foi destacado devido ao nivel de melhoria de 15% apés a intervencéo, o que permitiu atendimento da principal exigéncia dos clien- tes: a redugio do preco de venda dos produtos cerdmicos. A anélise dos resul- tados revelou que a melhoria do desempenho econémico-financeiro da empresa ocorteu,, em grande parte, pela reducdo das despesas operacionais, © modelo de intervencio construdo foi baseado em cada uma das qua- tro etapas da pesquisa. No que se refere A generalizacio, a pesquisadora indi- ca a utilizagao do modelo sob determinadas condigées, lembrando que a base para a generalizacdo na pesquisa-acao ¢ estreita, situacional e limitada pelo contexto. A pesquisa-acao realizada contribuiu para a melhoria do desempe- nnho da empresa na cadeia produtiva, atendendo, assim, as exigéncias impos- tas pelos clientes. (0 Exemplo 4: Parcerias em gestdo social 0 método de pesquisa-agio foi utilizado por Tenério etal, (1998) em uma experiéncia de parceria entre uma instituigéo académica, uma instituigéo reli- giosa e representantes de comunidades da cidade do Rio de Janeiro. A experiéncia de pesquisa-a¢ao surgiu de uma solicitagao da Céritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro ao professor de uma instituicio académica resqusaacho 213 do Rio de Janeiro, para ministrar um curso de capacitagéo em elaboragdo e gestdo de projetos para representantes das comunidades. Em resposta a essa solicitagio, foi constituida uma equipe composta por nove alunos da institui: «gio académica, sob a coordenagao do referido professor, para atuar no proje to denominado Escrit6rio Modelo de Gestdo de Projetos Comunitdrios. Essa experiéncia teve a duracio de quatro meses, com a realizagao de encontros semanais na Catedral Metropolitana com representantes de comu- nidades de baixa renda de diferentes regides da cidade do Rio de Janeiro. Teve como objetivos promover a transferéncia de tecnologia social e formar gestores de projetos comunitérios. O primeiro passo para 0 desenvolvimento dos trabalhos foi a preparacio da equipe de alunos-monitores (os da instituigdo académica) para trabalhar com ‘a comunidade, Foram realizadas leituras prévias sobre conceitos ¢ praticas de educaco, pesquisa-acio e gestio de projetos comunitdtios. Os representantes das comunidades foram convidados pela Céritas, por meio de correspondéncia enviada a todas as pardquias da cidade do Rio de Janeiro, solicitando a indicagio de até duas pessoas para participar dos encon- tros. No primeiro encontro, a proposta de um Escritério Modelo foi esclarecida para os participantes. Algumas desisténcias ocorreram devido, em grande par. te, a0 fato de que os interesses das pessoas nao estavam aderentes & proposta, Os representantes das comunidades, denominados alunos-participantes, foram divididos aleatoriamente, sendo que os membros de uma mesma comu- nidade foram alocados em um mesmo grupo. Essa divisao resuiltou na hetero- geneidade dos grupos, o que, segundo Tenério et al, foi positivo para todos, considerando o ambiente de cooperacio e comprometimento com a aco. Cad encontro era dividido em dois momentos. O primeiro era dedicado aos trabalhos em grupo, com a participacio dos alunos-monitores e dos alu- nos-patticipantes. No segundo momento, participavam os alunos-monitores e © professor-coordenador, quando eram discutidas as atividades planejados os encontros seguintes. A primeira etapa de trabalho consistiu na identificagao dos projetos de cada comunidade, Nesse sentido, foi solicitado aos alunos-participantes que reve. lassem, no encontro seguinte, um problema das suas comunidades para ser alvo de um projeto-piloto. Os problemas foram apresentados e discutidos pelos participantes, com contribuigées de todos para a identificago do projeto do ‘Na segunda etapa de trabalho, os alunos-monitores expuseram conceitos sobre o diagnéstico de problemas ea viabilidade de sua solugao. Nesse momen- to, utilizaram material de apoio para auxiliar 0 processo de aprendizagem, 0 que foi considerado positivo pelos alunos-participantes. Para o encontro seguin- 214 —rwérovos ne pesquisa ex AouINisTRACHO te, foi solicitado aos alunos-participantes que inclufssem em suas anotagbes informagées referentes A viabilidade do projeto, considerando as variaveis apre- sentadas, quais sejam: técnicas, econdmicas, financeiras, gerenciais, sociais € ecoldgicas, As andlises foram apresentadas em maior ou menor grau de pro- fundidade, considerando a heterogeneidade dos grupos. Os encontros seguintes foram conduzidos conforme a dinémica de traba Iho de cada grupo. Em geral, na primeira hora dos encontros os alunos- ‘monitores abordavam pontos especificos da elaboracao de projetos. Na segun- da hora, ocorriam as apresentacées e a discussdo sobre os progressos de cada projeto, com destaque para os exercicios em grupo, uma oportunidade para construir idéias, redefinir objetivos ou iniciar os projetos, no caso daqueles participantes com maiores dificuldades para desenvolvé-os. ‘Além dos encontros semanais, os participantes realizaram visitas a duas comunidades, a fim de observar um projeto comunitério em andamento, Os alunos-monitores participaram, ainda, de atividades complementares = reunises, prepara¢do de material de apoio ~ de modo a contribuir para que ( encontros fossem mais produtivos. As dificuldades enfrentadas no decorrer dessa experiéncia diziam respei- to: (a) A falta de confianga que os alunos-participantes tinham em si mesmos = questi resolvida com a ajuda do préprio grupo; (b) A falta de tempo dos alunos-participantes para se dedicarem a0 projeto - questio resolvida pela definigdo da data de encerramento das atividades e pela colaboragio dos par- pantes nos projetos dos outros; (¢) ao horério dos encontros, realizados no periodo da tarde — questio resolvida, em grande parte, devido & vontade de participar da experiencia; (d) & expectativa dos altnos-participantes, que es- peravam encontrar a solugao para os problemas de suas comunidades - ques- to resolvida por meio de esclarecimentos dos alunos-monitores durante os encontros. encerramento das atividades ocorreu, num primeiro momento, no lo- ‘al dos encontros semanais. Os alunos-participantes explicitaram seus proje- tos e avaliaram a experiencia, Posteriormente, foi realizado um encontro no audit6rio da instituicio académica, com a participacao de todos, bem como de representantes de instituig6es piblicas municipais e organizagSes ndo gover- namentais, Nesse encontro, foram apresentados os 18 projetos elaborados, todos avaliados pelos participantes. Por fim, as viabilidades de apoio foram expressas pelos representantes das entidades convidadas. desenvolvimento dessa experiéncia de pesquisa-acio evidenciou dois pontos fundamentais: (a) adaptar o ensino as condigdes e aos habitos dos par- ticipantes ~ sugesto de um dos alunos-monitores de fazer uma oracao antes de cada encontro, na medida em que os participantes eram pessoas vincula- das A Igreja e os encontros aconteciam nas dependéncias da Catedral; (b) ne- vesquisnagko 215 cessidade de que a equipe condutora dos encontros néo pense de forma dife- rente dos demais membros do grupo. Para os pesquisadores - professor-coordenador e alunos-monitores -, a experiéncia do Escritério Modelo de Gestao de Projetos Comunitarios esta inserida numa proposta de uma nova ética da relagdo entre sociedade ¢ Esta- do, na qual os movimentos populares so capazes de construir conhecimento e desenvolver tecnologias de gestao préprios. Por fim, concluem que a parce- ria entre a academia e a sociedade devolve as instituigdes de ensino e pesquisa o seu papel de extensao do saber. Leituras para aprofundamento DIXON, Nancy. Aprendendo através das fronteiras organizacionais: um estu: do de caso em museus canadenses. In: EASTERBY-SMITH, Mark; BURGOYNE, John; ARAUJO, Luis (Coord,). Aprendizagem organizacional e organizacao de aprendizagem: desenvolvimento na teoria e na pratica. So Paulo: Atlas, 2001. EDEN, Colin; HUXHAM, Chris. Pesquisa-acio no estudo das organizagoes. In: CALDAS, M.j FACHIN, R.; FISCHER, T. (Org.). Handhaak de estudas organizacionais. Séo Paulo: Atlas, 2001. v. 2. LOURENGO, Fabio Barreto, Consultoria gerencial em uma ONG assistencial de pequeno porte: uma experiéncia de pesquisa-acdo. 1998. 118 f. Disserta- do (Mestrado em Administragdo de Empresas) ~ Departamento de Admini tragio, Pontificia Universidade Catolica, Rio de Janeiro. MACKE, Janaina. A pesquisa-agio como método de intervengio nas organizé ‘es: uma aplicago prética, In: ENCONTRO NAGIONAI DA ASSOCIAGAO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE POS-GRADUAGAO EM ADMINISTRAGAO, 26., 2002, Salvador. Anais... Salvador: Anpad, 2002. ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Nota técnica: Pesquisa-acéo no estudo das organizacées. In: CALDAS, M.; FACHIN, R.; FISCHER, 1. (Org.). Handbook de estudos organizacionais. Sao Paulo: Atlas, 2001. v. 2, SUSMAN, Gerald; EVERED, Roger. An assessment of the scientific merits of action research. Administrative Science Quarterly, v. 23, n® 4, p. 582-603, Dec. 1978. TENORIO, Fernando G. et al. Parcerias em gestéo social: uma experiéncia de organizagio para o desenvolvimento de comunidades. In: ENCONTRO NA- CIONAL DA ASSOCIAGAO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE POS-GRADUA- 216 trons De pesquisa Ex ACNINSTRAGAO GAO EM ADMINISTRAGAO, 22., 1998, For do Iguacu. Anal Anpad, 1998. . For do Iguacu: ‘THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-acio. 4. ed. So Paulo: Cortez: Autores Associados, 1988. Pesquisa-agio nas organizagGes. S40 Paulo: Atlas, 1997. Notas para o debate sobre pesquisa-agdo. In: BRANDAO, Carlos Rodrigues (Org,). Repensando a pesquisa participante. 3. ed. Sao Paulo: Brasiliense, 1987. 19 Técnicas de Complemento Técnicas de complemento & um termo que designa instrumentos para a obtengao de dados por meio dos quais o pesquisador apresenta ao respondente tum estimulo para ser preenchido com palavias. Tal estimulo pode ser uma sentenga, um pardgrafo, uma histéria ou quadrinhos (cartoons). Ao ser com pletado, ele pode revelar motivacées, crencas ¢ sentimentos que dificilmente seriam captados por meios convencionais, tais como questionzrios ou entrevistas estruturadas. Bstas técnicas, assim como as de associagao, as de construcao,* as expres- sivas e as de ordenamento, so tipos de técnicas projetivas, oriundas e ampla- mente utilizadas na drea de psicologia (CATTERALL ¢ IBBOTSON, 2000; DONOGHUE, 2000; MALHOTRA, 2001). Técnicas associativas utilizam, em eral, palavras como estimulo. Espera-se que o sujeito faga associagbes bases das na palavra indutora, respondendo o que primeiro Ihe vier & mente. Técni ‘as de construgéo demandam do sujeito a criacdo de uma resposta A situagéo sob investigagio, na forma de uma histéria, de uma descrigéo ou de cesenhos. ‘Técnicas expressivas, por sua vez, demandam do sujeito a assungao de papéis, ou seja, colocar-se no lugar de outra pessoa e agir como tal diante da situacéo que Ihe é apresentada pelo pesquisador. O role playing (dramatizacio) é um exemplo desta técnica. Por fim, as técnicas de ordenamento sio utilizadas em investigagdes de cunho qualitativo quando se deseja estabelecer um ranking 1 Sobre téenicas de consti ver Capitulo 20. 218 trons ne resquish x aoumusrRAchO para os jtens em discusséo baseado, por exemplo, em graus de importancia (WILL, EADIE e MacASKILL, 1996). © complemento de sentengas é mais detalhado do que uma associagéo de palavras, Em geral, uma série de sentencas incompletas, relacionadas ao obje- tivo da pesquisa, é fornecida para que 0 sujeito as complete, como no exemplo a seguir, extra{do da pesquisa de Belk (1985) sobre comportamento do consu- midor e a questo do materialismo: Comer em um bom restaurante... Dar dinheiro para ajudar aos pobres... GF Alguém que gasta mais de 15 mil délares em um carro.. Quando criancas ganham presentes de aniversédrio de seus pais... 1 NoDia das Maes.. Completar paragrafos e histérias so verses ampliadas do complemento de sentencas (MALHOTRA, 2001). Outra possibilidade refere-se ao complemen- to de cartoons, ot seja, apresenta-se ao respondente uma situacéo particular sob a forma de quadirinhos, na qual didlogos ou pensamentos devem ser com- pletados, como no exemplo a seguir, extraido de Catterall e Ibbotson (2000). O cartoon apresentado na Figura 1 foi submetido a um grupo de estudantes em uma sala de aula, O baléo referente a fala do professor foi previamente preen- chido pelos pesquisadores, restando aos estudantes completar os baloes de ensamento tanto do aluno quanto do professor. Year 1 Marketing Class ‘The assignment will be an McQ test rather chan an essay ie Fonte: Catterall e Ibbotson (2000, p. 247). Figura 1 Complemento de cartoons por estudantes em sala de aula, ‘réowteas DeconetamenTo 219° Como sugerem Catterall e Ibbotson (2000), por meio da técnica de com- plemento de cartoons 0 respondente ¢ estimulado a imaginar como outras pe: soas pensam em determinadas situagées, permitindo que indiretamente proje- tem seus prOprios pensamentos ou sentimentos. Pode-se dizer que esta téc a foi inspirada na proposta de Saul Rosenzweig ~ Rosenzweig Picture Frustra- tion -, publicada em 1945. Consistia em 24 figuras semelhantes a cartoons i completos, cada uma representando uma situagao relacionada a frustragao (KASSARJIAN, 1974; ZOBER, 1955). (© emprego das técnicas de complemento e de técnicas projetivas em ge- ralesté relacionado & crenca de que a manifestacéo de determinadas opinides ou de sentimentos pode ser limitada por convencées sociais ou por barreiras de comunicagéo entre pesquisadores e pesquisados. Assume-se que individuos tendem a dar respostas socialmente aceitéveis quando questionados diretamen- te sobre determinado tema, evitando dizer 0 que realmente pensam (DONOGHUE, 2000). Em administracSo, estas téenicas tm sido utilizadas, principalmente, em ‘pesquisas de marketing (DONOGHUE, 2000; FABER, O'GUINN e KRYCH, 1987; ZOBER, 1955). So, geralmente, combinadas com outras téenicas, tanto de ‘cunho qualitative quanto quantitativo. # Palavras-chave Questionamento indireto Estimulos ambiguos (pouco ou semi-estruturados) Sentencas, pardgrafos, historias, cartoons Projecto Valores, crencas, atitudes, sentimentos Subjetividade QgaqqgaqQa © Caracteristicas principais C3 Sao utilizadas, em geral, quando hé necessidade de disfarcar 0 pro- pésito da pesquisa. 1 Prestam-se, geralmente, para a obtencio de dados em investigacbes ‘cuja questo principal é do tipo “Por que” (why questions), ou seja, ‘que visam explorar ou explicar, por exemplo, por que pessoas pen- ‘sam ou agem de determinada maneira (DONOGHUE, 2000; WILL, EADIE € MacASKILL, 1996; ZOBER, 1955). 220. wérovos DE pesquisa Ew ADManisTAAGAO Permitem gerar tanto dados complementares aos obtidos por meio de técnicas tradicionais quanto dados preliminares, a fim de auxi liar a elaboragdo de questionarios ou roteiro de entrevistas. 13 Exigem do pesquisador sensibilidade e habilidade para elaborar 0 material (sentencas, pardgrafos, cartoons), de modo a atender aos propésitos da pesquisa e, ao mesmo tempo, evitar respostas simples- mente dbvias ou socialmente aceitveis. % Como utilizar? (J Definem-se o tema e o problema de pesquisa. 1 Procede-se a uma revisio da literatura pertinente ao problema de investigacao e escolhe(m)-se a(s) orientagéo(6es) tedrica(s) que dard(Go) suporte ao estudo. © Definem-se as téenicas de complemento a serem utilizadas para a coleta dos dadas, de acordo com o propésito da pesquisa. (1 labora-se o material a ser utilizado: cartoons, sentencas incomple- tas, pardgrafos ou histérias incompletas. _Selecionam-se os sujeitos da pesquisa. (1 Realiza-se um pré-teste, com sujeitos que ndo fardo parte da amos- ta, para avaliar a pertinéncia dos instrumentos a serem utilizados no campo. 1 Realizam-se ajustes no material até que sejam considerados adequa- dos para utilizagao. (1 Coletam-se os dados por meio da técnica de complemento escolhi- da e outros instrumentos (se for 0 caso). 1 Analisam-se os dados, 0 que pode ser feito ou nao junto com os su- Jeitos da pesquisa. © No caso de andlise em parceria com os sujeitos da pesquisa: rea- liza-se a leitura do material obtido, fazendo uma anélise preli- minar dos dados com registro dos temas emergentes; procede- se A discussio dos registros preliminares com os sujeitos da pes- quisa; consolidam-se os dados obtidos pela técnica de comple- mento escolhida, considerando-se a andlise conjunta. 2 Acrdem aqui apresentada nfo é rigid. Pode, portanto, ser elterada conforme a sinuagio, ‘écwicas pecompusmeto 221 © No caso de andlise pelo pesquisador ou pela equipe de pesqui- sa: realiza-se a leitura do material obtido; registram-se os temas emergentes, similaridades e contradigdes observadas. 3 Comparam-se os dados obtidos por meio dos diversos instrumen- tos de coleta utilizados (se for 0 caso). 0 Resgata-se o problema que suscitou a investigacao. Confrontam-se os resultados obtidos com a(s) teoria(s) que deu(ram) suporte & investigagao. 7 Elaboram-se suposigGes ou hipéteses para serem testadas em pes- quisas futuras ou em etapas posteriores da pesquisa em andamen- 10 (se for 0 caso). 7 Formula-se a concluséo. (1 Elabora-se o relatério de pesquisa. ‘As técnicas de complemento podem tanto preceder uma investigagao de cardter quantitativo, a fim de gerar hipéteses a serem testadas, quanto suce- dé-la, gerando resultados complementares. Podem, também, compor um con- Jjunto de téenicas para a coleta de dados (questiondrios, entrevistas, observa- io) em um estudo de cunho qualitativo, Em geral, sao utilizadas em pesqui- sas do tipo exploratério. O problema de pesquisa ¢ a literatura pertinente 20 tema deverdo nortear a deciso do pesquisador por estas técnicas de ques- tionamento indireto ou por outras mais estruturadas e diretas. As téenicas de complemento podem ser empregadas valendo-se tanto da primeira pessoa do singular, como as sentencas elaboradas por Faber, O'Guinn e Krych (1987), apresentadas no exemplo 1 deste capitulo, quanto da terceira pessoa (KASSARJIAN, 1974). Podem, também, variar em seus graus de estru- tura (OPPENHEIM, 1973). Podem ser extremamente abertas (nao estruturadas) ou voltar-se para um tema (semi-estruturadas), como no exemplo a seguir, sobre complemento de sentencas, fornecido por Oppenheim (1973). “Se pelo menos...” € uma sentenga a ser completada que pode ser considerada néo estruturada. “O cigarro mais agradével do dia...”, por sua vez, é uma sentenca que est4 relacionada a um determinado tema, sendo considerada, portanto, semi-estruturada, Como alerta Oppenheim (1973), 0s efeitos do contexto devem ser consi- derados ao se elaborar o material para a coleta de dados. Veja-se 0 exemplo desse autor. Se os participantes da pesquisa jé responderam a perguntas sobre fumo durante uma entrevista, um grupo focal ou em questiondtios ou comple. taram sentengas referentes a este tema, poderdo ficar inclinados a completar a sentenga “Se pelo menos...” com algo relacionado ao fumo. Se 0 objetivo do pesquisador for explorar, por exemplo, hdbitos e sentimentos relacionados ao fumo, o contexto pode ser um facilitador da resposta. Se, no entanto, o objeti- 222 wérov0s pe resqUisa sh ApsasTRAGKO vo do pesquisador for explorar hébitos ¢ sentimentos de forma geral, nfo ape- nas os relacionados ao fumo, 0 contexto pode ser obstaculizador. ‘Tal como a construgio de desenhos,” as téenicas de complemento podem ser utilizadas como complemento a outras técnicas; por exemplo: durante a aplicacao de questionérios ou da realizacéo de entrevistas, antes da realizacéo de um grupo de foco, em workshops com atividades diversas ou, ainda, isole- damente. No que concerne & anilise e & interpretacio dos dados, como men- tionado, os pesquisadores poderfio atuar em parceria com os sujeitos da pes- (quisa, fazendo uma andlise preliminar, registrando temas emergentes ¢, pos- teriormente, discutindo tais registros com os participantes. Outra possibilida de refere-se & andlise dos dados pela propria equipe de pesquisa, sem a parti- cipagio dos sueitos. Neste caso, nao se pode negar a influéncia significativa da subjetividade dos pesquisadores no que diz respeito a interpretacio dos dados, Exemplos da utilizagao de técnicas de complemento (0 Exemplo 1: Consumo compulsive Técnicas de complemento foram utilizadas por Faber, O'Guinn e Krych (1987) em uma pesquisa sobre consumo compulsivo, Os pesquisedores rela cionaram, inicialmente, 0 termo consumo compulsivo a um tipo de comporta- mento de consumo que é inapropriado, excessivo, prejudicial aos individuos. ‘Abordam o tema com base nas caracteristicas de comportamentos compulsi- vos, tipologias ¢ causas. ‘A pesquisa, cujos resultados preliminares foram apresentados no ar aqui utilizado como exemplo, teve como objetivo discutir como gastos compu sivos estio relacionados com a etiologia de comportamentos compulsivos, além de descrever diferentes formas de manifestagéo do consumo compulsive. (0s dados da pesquisa foram coletados por meio de observagio e partici- pacdo em discusses de grupos de auto-ajuda, relatos de consumidores com- pulsivos e um survey piloto. Participaram do survey 23 pessoas que freqiienta- ‘yam encontros de um grupo de ajuda, sendo 19 mulheres e 4 homens. Para muitos individuos, comprar é uma reagio ao stress ou a situagées desagradéveis. Uma das segoes do questionério aplicado aos sujeitos da pes quisa foi destinada ao complemento de sentencas, como, por exemplo: “Sou. capaz de comprar algo para mim quando...” Complementos como “estou de- lo. 3 Sobre a construgfio de desentos ver Ca 4 Etologia refere'se &cigncia das causes. reewcas pecoumuamento 223 primido” ou “nao estou bem” evidenciaram sentimentos negativos, revelados por 43,5% dos sujeitos. Os pesquisadores compararam os resultados com os obtidos em uma pesquisa sobre materialismo, realizada por Belk (1985), que utilizou a mesma sentenca para complemento. Na pesquisa de Belk (1985), apenas 20% dos respondentes revelaram algum tipo de emogo ou impulso relacionado a compra. ‘Uma outra sentenca utilizada para complemento foi: “Quando nao me sinto bem, sou capaz de...”. Gastar dinheiro ou fazer compras foram comple- ‘mentos mencionados por 30,4% dos sujeitos, 0 que leva a crer, segundo os pesquisadores, que, para pelo menos alguns consumidores compulsivos, 0 ato de comprar é 2 maneira pela qual eles lidam com o sentimento de infelici dade. Tal constatacio foi confirmada por diversos relatos de individuos que re- lacionaram de alguma forma seu estado de espirito ao comportamento com: pulsivo, De acordo com os pesquisadores, embora consumidores compulsivos sin: tam prazer com o ato de comprar, muitos revelam que pouco aproveitam ou utilizam 0 que compram. Alguns escondem as compras, com medo de serem descobertos. Muitos compram tantas coisas que nao conseguem nem usé-las. Em uma das questées fechadas do questionério aplicado, utilizada para medir © grau de concordéncia ou de discordancia com as afirmativas dadas, 43,4% dos sujeitos concordaram com a seguinte afirmago: “Meu armAria est cheio de coisas que nunca foram usadas.” © medo e os gastos acima das possibilida- des interferem na vida dos consumidores compulsivos, gerando sentimentos como culpa e ansiedade. O medo e a culpa associados ao ato de comprar fica- ram evidentes nos complementos de outra sentenca: “Quando et uso meu car- to de crédito...” Muitos completaram com express6es do tipo “gasto mais do que quando pago em cash”. Um dos problemas relacionados ao consumo compulsivo tem sido 0 endividamento, um pesadelo para muitos individuos, como evidenciado nos complementos de outra sentenca: “Uma coisa que me faria mais feliz. neste momento da minha vida seria...” A expresso “nao ter mais dividas” foi men- cionada por 56,5% dos sujeitos. Para os pesquisadores, com base nos resultados preliminares da pesqui- sa, 0 consumo compulsivo estd relacionado a grande parte das caracteristicas associadas a comportamentos compulsivos. Com relacio as tipologias, admi- ‘tem que nao hé uma tinica apropriada. Mencionam que tm dos maiores este- re6tipos relacionados aos gastos compulsivos refere-se ao fato de que as mu- Iheres so as mais atingidas, embora homens também o sejam. Apesar de ho: ‘mens e mulheres sofrerem com este problema, a tendéncia é que a manifesta- ‘cdo se dé de forma diferenciada, Mulheres, em geral, gastam mais com roupas ¢ j6ias, enquanto homens o fazem com cartos e eletrénicos. Entretanto, a com- pra destes produtos tem o mesmo objetivo: elevar a auto-estima do individuo. 224 —_wranos De PESQUISA EX ADMINISTRAGHO ‘Além disso, 0 consumo compulsivo, como outros comportamentos com- pulsivos, tend a se manifestar de muitas formas diferentes. Por exemplo, nem. todos os consumistas compulsivos compram para si préprios. Muitos compram. para outras pessoas. Hé individuos que parecem comprar para livrar-se da Ansiedade ou da infelicidade, porém outros parecem querer apenas livrar-se do dinheiro, Com relagio &s causas do consumo compulsivo, é provavel, de acordo com os pesquisadotes, que fatores relacionados a diferentes teorias sobre compor- tamentos compulsivos contribuam para a compreensao da condigio do consu- mo, Estas teorias enfatizam, sobretudo, causas biol6gicas, psicolégicas € so- ioldgicas. Causas biol6gicas esto relacionadas & predisposigao genética. Cau- sas psicoldgicas sugerem que comportamentos compulsivos aliviam o stress Gevido & pressio por desempenho, ou sto causados por baixa auro-estima. Causas sociolégicas, por sua vez, sugerem que certos comportamentos sio es- timulados pela propria sociedade e pela midia Os pesquisadotes ressaltam, por fim, que muitos de nés sentimos prazer ‘a0 comprar. Questionam, ento, em que momento isso passa a ser anormal CJ Exemplo 2: Adogio, adaptacio e assimilagio de tecnologias baseadas na Internet por pequenas ¢ médias empresas Ramsey etal. (2004) valeram-se da técnica de complemento de cartoons, bem como de outras técnicas projetivas (associagéo e construcéo), em uma pesquisa acerca da adogdo, adaptagio e assimilagao de tecnologias baseadas nna Internet, por pequenas e médias empresas. Tais técnicas foram utilizadas a fim de provocar, de forma indireta e pouco estruturada, a manifestacio de percepgées de gestores de tais empresas acerca de cendiios relacionados ao e- business Foi realizada inicialmente uma revisdo da literatura pertinente ao tema. A primeira fase da pesquisa de campo foi de cunho quantitativo, tendo sido sucedida pelo emprego das técnicas projetivas. Foram selecionados para pat- ticipacio nesta segunda fase 50 respondentes (40% dos participantes do survey), sendo que 18 participaram efetivamente. A coleta de dados por meio da técnica de complemento de cartoons teve ‘como objetivo explorar as questdes relacionadas ao e-business de forma mais profunda do que a técnica de associacio de palavras. A cada cartoon apresen- fado ao respondente eram fornecidas instrucdes para o complemento, bem como informagées relacionadas ao tépico abordado. Para completar 0 cartoon apresentado na Figura 2, por exemplo, os sujeitos eram informados de que um dos fatores que impedem a utilizaco de tecnologias por pequenas e médias empresas 6 falta de recursos financeiros. Os sujeitos receberam instrugées para ‘emicas oR cowmmeneNTO 225 considerar a ilustracdo e preencher o baldo referente & fala do personagem, em resposta a oferta de recursos financeiros. C 5 CEES) Fonte: Ramsey et al. (2004, p. 39). Figura 2 Utilizacdo de tecnologias por pequenas e médias empresas. Os dados revelaram, apesar da amostra reduzida, que no émbito das pe- quenas e médias empresas ha diversos tipos de gestores, desde os céticos aos ‘ais entusiasmados. De modo geral, a maioria dos respondentes se mostrou receptiva & ajucia financeira para aceitar 0 desafio do e-business. Em outro cartoon, os pesquisadores abordaram uma situagdo conhecida no ambiente de negécios: a queda nas vendas. Para completé-lo, os sujeitos cram informados sobre o crescimento ¢ a importancia do setor de servicos na ‘economia, bem como sobre o potencial da Internet e do e-business para aumen tar a competitividade de pequenas empresas. Foi mencionado, ainda, que, no entanto, hé quem considere que, quanto menor a empresa, menor a probabili dade de ela estar preparada para adaptar seus processos de trabalho & nova tecnologia. No cartoon incompleto, era possfvel visualizar o gestor de uma empresa enfrentando o problema de queda nas vendas e uma de suas funcio- nérias entusiasmada com a possibilidade de recorrer & tecnologia para melhio- rar os negécios. O baléo referente & fala da funcionérra foi previamente preen: chido pelos pesquisadores. Os demais baldes deveriam ser preenchidos pelos sues da pesquisa. A Figura 3 permite vsualarocrtoon jf preenchido por uum dos sujeitos 226 ttronos pe pesquisa EX ADMINISTRAGIO —— ~ make any difference? fed 1 asus reading up 1 sane Phe nto gret |, sags et ep boos our sles Sounds good. ‘Wie me 8 Fonte: Ramsey et al. (2004, p. 40. Figura 3. Queda nas vendas. 0s resultados da pesquisa foram discutidos com base no modelo apresen- tado na Figura 4, acerca da adogio do e-business por pequenas e médias em- presas. Por meio deste modelo, é possivel visualizar os tipos de barreiras que impedem a utilizagdo de tecnologias baseadas na Internet, nos negécios. Soft Bates << Tnformational ——— 1¢ (CFechniead) _7 Transactional %—=— BC (men et SO ead Fonte: Ramsey et al. (2004, p. 49). Figura 4 Modelo de adogdo do e-business por pequenas e médias empresas. 5 + EC: Bletronie commerce; BB: B-business rewcas pecoMmuETO 227 De acordo com os pesquisadores, as barreiras tecnol6gicas sto féceis de transpor (soft barriers). Grande parte da amostra pesquisada estd envolvida com ‘ocomércio na Internet (IC) em nivel periférico. Foi apontado, também, que no nivel organizacional as barreiras socioculturais € que determinardo a percep- (do € as atitudes dos decisores no que se refere & utilidade das tecnologias aseadas na Internet, para os negécios. Estas barreiras sao consideradas mais Gificeis de transpor (hard barriers). As principais barreiras culturais identificadas pela pesquisa estio relacionadas a fatores organizacionais (tamanho, recursos, estabilidade), de inovacio (custo, complexidade, compatibilidade, infra-estru- tura adequada) e ambientais (pressdo competitiva, falta de apoio do governo). Embora a literatura relacionada ao tema da pesquisa tenha apontado 0 impacto de fatores individuais (escolaridade, idade, tragos de personalidade dos gestores) na decisfo pela adesdo as tecnologias baseadlas na Internet, nao hé evidéncias na pesquisa realizada de que estes fatores sao o principal impedi- ‘mento. Em sintese, foi constatado que, apesar da maior parte dos sujeitos per- ceber a importancia do e-business para os negécios, a capacidade de resposta destas empresas € fraca. Leituras para aprofundamento BELK, R. W. Materialism: trait aspects of living in the material world. Journal of Consumer Research, v. 12, n? 3, p. 265-280, 1985. CATTERALL, Miriam; IBBOTSON, Patrick. 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Como mencionado no Capitulo 19, tais técnica se inserem nas chamadas técnicas projetivas. ‘As técnicas de construggo envolvem, em geral, a utilizaglo de fotografias ou figuras para provocar a imaginado dos participantes, de modo que eles as interpreter, desencadeando, por conseguinte, uma narrativa relacionada a0 tema da pesquisa. Pode-se dizer que esse procedimento foi inspirado no Thematic Apperception Test (TAT), uma proposta desenvolvida por Henry Murray, publicada em 1938. 0 teste original consistia em uma série de figu- ras, sobre as quais 0 sujeito deveria criar uma histéria, mencionando o tema ‘a0 qual a figura estava relacionada, o que estava acontecendo, o que iria acon- tecer no futuro, bem como o que cada personagem estava pensando e sentin- do (KASSARJIAN, 1974; ZOBER, 1955). 0 emprego do TAT esté relacionado a crenca de que a construgio de histérias baseadas em um estimulo ambiguo leva o sujeito a organizar os dados dos quais dispde em tomo de suas proprias experiéncias, suas aspiragdes, suas necessidades. Acredita'se, assim, que as hist6rias poderdo refletir impulsos, conflitos e atitudes inconscientes do indi- viduo (KASSARJIAN, 1974). Nas pesquisas ditas qualitativas, fotografias? ou 1 Sobre a utlizago de fotografias como recurso ilustratvo, ver, par exemplo, Capi tule 6, Como recurso narativo, ver Capitulo 8. 230 ronos oe resquisa apaunistAACkO figuras, entendidas aqui como estimulos visuais, podem ser exploradas sob diversas perspectivas, Heisley e Levy (1991), por exemplo, abordaram uma proposta meto- dolégica denominada autodriving. Trata-se de um método, baseado em técni- cas projetivas, que emprega Fotografias como estimulos visuais para a realiza. fo de entrevistas. Vérias formas de interago com os participantes podem ser adotadas. Em linhas gerais, os autores apontam os seguintes procedimentos: (a) fotografam-se os participantes em situaces relacionadas ao tema da pes quisa, (b) realiza-se a primeira entrevista com os participantes, a qual deve ser gravada em udio, utilizando as fotografias como estimulo, (c) submetem-se as fotografias novamente aos participantes, acompanhadas das gravagies em dudio da primeira entrevista, e pede-se-Ihes que facam comentarios baseados nas gravagdes. Para os autores, as fotografias provocam as pessoas no sentido de explicarem 0 que hd por trés das imagens, bem como a relacdo entre 0 ‘momento “congelado” pela fotografia e arealidade. Além do trabalho de Heisley € Levy (1991), outros exemplos cle aplicacio desse método podem ser obser- vados em Belk, Sherry Jr. e Wallendorf (1988), Escalas (1993) e Wallendorf ¢ Amould (1991). Zaltman (1997), por sua vez, desenvolveu a Zaltman Metaphor Fliitation Technique (ZMET),? uma técnica cujo objetivo original & a evocagéo de meté- foras,? indo além do ato de “ouvir” a voz. dos consumidores. Para Zaltman e Coulter (1995), é preciso “ver” a voz. dos consumidores. A ZMET & considera- da uma miscelénea de outras técnicas (KRAFT e NIQUE, 2002) e permite que se a classifique como de construgio. Sua criacao foi baseada nas seguintes pre- missas (ZALTMAN, 1997): (a) 0 pensamento é baseado em imagens, no em palavras, (b) grande parte da comunicagio é néo verbal, (c) as metaforas séo elementos centrais para o pensamento, (d) as metéforas séo importantes para acessar o conhecimento oculto, (e) cognicdo € pessoal, (f) razdo e emogio sfio igualmente importantes, (g) grande parte dos pensamentos e das emocbes ocorrem de forma inconsciente, (h) modelos mentais guiam a selecdo e 0 processamento de estimulos, (i) diferentes modelos mentais podem interagir. Esta técnica incorpora tanto a construgao de histérias quanto a de imagens. Sua operacionalizacao se dé por meio da realizagio de uma entrevista individual ‘com 0s sujeitos da pesquisa. Construgdes ocorrem em diversas fases da entre- vista, principalmente nas seguintes: relato de histérias, imagem nao encontra da, vinheta, imagem digital. Uma aplicagao desta técnica pode ser observada em Kraft e Nique (2002), cuja pesquisa subsidiou a elaboracao do exemplo 2 deste capitulo. 2 AZMET é uma téenica patenteada e sua utiizagio para fins no académicos re «quer prévia autorizagéo (ZALTMAN, 1997). 3 Sabre metéforas ver Capitulo 2 ‘emeas pecossmucho 231 ‘As técnicas de construcdo so utilizadas, também, para desencadear a criagdo de respostas visuais para a situagao sob investigacao. £ 0 caso, por Gxemplo, da construcéo de desenhos,* tema abordado em capitulo anterior, ou de colagens. A construgéo de imagens apoiadas em recortes e colagens ¢ se- nelhante 20 trabalho com desenhos, porém o pesquisador disponibiliza outros snateriais para serem utilizados pelos participantes: tesoura, cola, revistas, jor- ais, canetas, papel. Esta técnica foi utilizada, por exemplo, por Belk, Ger ¢ ‘sskegaard (1997), Haviena e Holak (1996), Hogg, Bruce e Hill (1999), Hogg e Savolainen (1998), Wood Jr. e Caldas (2002). {As técnicas de construgio aqui privilegiadas ~ a criagdo de histérias e re latos, apoiados em estimulos visuais; a construgio de imagens, subsidiadas por atividades de recorte ¢ colagem; e a combinagio de historias e imagens, horteadas pela técnica ZMET ~ tém sido exploradas, sobretudo pela area de marketing, em pesquisas voltadas para o comportamento do consumidor. Como as técnicas de complemento,® sao, gerelmente, combinadas com métodos de cunho qualitativo ou quantitativo. # Palavras-chave Fotografias, figuras, hist6rias, desenhos, colagem GF Projecto 3 Bstimulos verbais e visuais (3 Blementos inconscientes CO Criatividade a ~ Caracteristicas principais CF Estimulam a imaginagio e a criatividade dos respondentes, uma vez que os estimulos séo pouco ou ndo estruturados, As respostas (ver- bais ou visuais) sfio, em geral, construfdas livremente. 7 Provocam a expressfio de necessidades, desejos, crencas, elemen: tos quase sempre inconscientes. 1 Como as técnicas de complemento, visam, em geral, explorar ou ex plicar por que as pessoas agem de determinada maneira. 4 Sobre a construgfo de desenhos ver Capitulo 4. 5 Sobre téenicas de complemento ver Capitulo 19. 232 ufrooos De PesqUIsA EM ADMIDTSTRAGKO 3 Contribuem para enriquecer a visio do que esti se investigando, como a construcéo de desenhos e as técnicas de complemento. (7 A interpretagdo dos dados tende a ser altamente subjetiva, o que pode ser minimizado com a participacio dos respondentes no pro- cesso de andlise. % Como utilizar GF Definem-se o tema e 0 problema de pesquisa. GF Procede-se a uma revisio da literatura pertinente ao problema de investigacio e escolhe(m)-se a(s) orientacéo(6es) tedrica(s) que dard(@o) suporte ao estudo. GF Definem-se as técnicas de construgdo a serem utilizadas para a co- leta dos dados, de acordo com os propésitos da pesquisa. 0 Seleciona-se o material a ser utilizado em campo, de acordo com a(s) téenica(s) escolhida(s): fotogratias, figuras, papel, canetas, cola, tesouras, revistas, jornais, fip-chart, méquina fotogréfica, gravador, computador, entre outros. (1 Selecionam-se os sujeitos da pesquisa. 0 Realiza-se um pré-teste, com sujeitos que nao fardo parte da amos- tra, para avaliar a pertinéncia dos instrumentos a serem utilizados no campo. 1 Realizam-se ajustes no material até que sejam considerados adequa- dos para utilizagéo. 1 Coletam-se os dados por meio da técnica de construglo escolhida e outros instrumentos (se for 0 caso). 1 Analisam-se os dados, em geral, por meio de andlise de contetido” (grade fechada, aberta ou mista). Comparam-se os dados obtidos por meio dos diversos instrumen- tos de coleta utilizados (se for o caso) Resgata-se o problema que suscitou a investigagio. Confrontam-se os resultados obtidos com a(s) teoria(s) que deu (ram) suporte & investigagio. Q aa 6 Ardem aqui apresentada nio ¢ rida, Pode, portant, ser alterada conforme & situagio. 7 Sobre andlise de conteido ver Capitulo 1. vers onconstmucho 233 1 Elaboram-se suposigSes ou hipéteses para serem testadas em pes aquisas futuras ou em etapas posteriores da pesquisa em andamen to (se for 0 caso). GF Formula-se a concluséo. (1 Flabora-se 0 relatorio de pesquisa {as técnicas de construgio siio, em geral, menos estruturadas do que as de complemento. As respostas so abertas tanto sob a forma verbal quanto vi- sual. 0 pesquisador deve, portanto, escolher cuidadosamente os estimulos a se rem submetidos aos respondentes, de modo que os dados obtidos atendam aos propésitos da pesquisa. Como a construgéo de desenhos, as téenicas abordadas no presente capitu o podem ser aplicadas tanto em situagées individuais, como as entrevistas, quanto nas grupais, como os workshops. Poder, ainda, ocorrer as duas opeOes, em etapas distintas da pesquisa, lembrando que a deciséo sobre que dados cole tar, de que forma e com quem deve ser guiada pelos objetives da pesquisa. Definidas as técnicas a serem utilizadas, o pesquisador deverd redigir ins- trugdes (se for 0 caso) a serem seguidas pelos respondentes, de modo a facilitar a operacionalizagio da pesquisa. No caso da ZMET, por exemplo, é recomenda- do que as orientacées seiam entregues antecipadamente aos partiipantes. A anélise dos dados coletados por meio das técnicas de construgio pode ser realizada, como as técnicas de complemento e a construgao de desenhos, tanto em parceria do pesquisador com os respondentes, quanto apenas pelo pesquisador ou equipe de pesquisa Exemplos da utilizagdo de técnicas de construcao (1 Exemplo 1: Criticas & atividade de consultoria® Wood Jr. e Caldas (2002) valeram-se de técnicas projetivas, mais prec- samente de técnicas de construcdo, em uma pesquisa sobre a atividade de consultoria, O interesse portal estudo se deu em virtude: (a) do boom experi- ‘mentado pelas grandes empresas de consultotia, nos anos 90 do século XX; (b) do crescimento das criticas a esta atividade, veiculadas em jornais ¢ revistas de negécios; (c) do grande nimero de cartoons e anedotas sobre consultores, que circulavam na midia, revelando eriticas pautadas no humor e na ironia. A @ Apesar de o emprega das téenicas de cgnstrugto ser predominante na drea de marketing, outtos campos podem ser prvileglados. & 0 e250, por exemplo, desta pesquisa de ‘Wood sr-¢ Caldas (2002), voltada para estudos organizacionas. 234 —tropos oe prsqUisa sc ADMINISTRAGHO pesquisa teve, assim, como objetivo sistematizar as crticas dirigidas & ativida de de consultoria, bem como avaliar a reacdo de consultores a essas criticas ara Wood Jr. e Caldas (2002), as eriticas & atividade de consultoria po- dem ser divididas em dois grupos: (a) dentincias de erros de consultores € empresas de consultoria, os quais causaram grandes prejutzos aos clientes; (b) abordagens irdnicas ao comportamento e as atitudes de consultores: arrogan cia, inguagem hermética, falta de foco no cliente. No artigo aqui utilizado como exemplo, os pesquisadores voltaram-se para o segundo grupo de criticas, de- fendendo a importdncia do humor e da ironia na construgéo dos discursos organizacionais e na mediacio das relagdes entre individuos, entre 0 individuo € a organizacio e entre o individuo e as situagoes de trabalho. Participaram da pesquisa de campo 40 profissionais que atuavam em uma ‘grande empresa de consultoria, considerada uma das “big 5”. Os participantes eram oriundos das dreas de auditoria e consultoria da empresa. Os dados fo- ram coletados por meio da técnica de construgao de imagens e da aplicagso de um questionério. Para a realizagio do trabalho de campo, 0s 40 participantes foram dividi- dos em seis grupos, com seis ou sete componentes cada um. Foram formados ‘grupos constituldos exclusivamente por profissionais da érea de auditoria ou de consultoria, totalizando trés grupos de cada area. Foi-lhes, inicialmente, solicitada a leitura de trés textos: (a) respostas & pergunta “por que a galinha atravessa a rua?”; (b) 0 dilogo entre um consultor e um pastor de ovelhas; (© 0 didlogo entre um executivo e um génio consultor. Apés a leitura, os par- ticipantes deveriam, em grupo, listar as principais criticas contidas nos textos, apresentando a lista aos demais participantes. Em seguida, foi-Ihes solicitado que produzissem uma colagem ou desenho que refletisse seus sentimentos dante das erlticas, Para tanto, cada grupo recebeu um kit com quatro a cinco revistas de negécios, cola, tesoura, flip chart e canetas, As imagens construfdas ppor cada grupo foram apresentadas aos participantes. Uma sintese do traba Iho foi realizada pelos pesquisadores. Os dados obtidos por meio da constru- fo de imagens foram complementados pela aplicagao de um questionério, cujas questdes abordaram a freqiiéncia com que os participantes ouviam piadas anedotas criticas sobre o trabalho de consultores, as fontes destas piadas e anedotas, 0 contetido, a opinido ea reacéo dos participantes as erticas. As colagens produzidas pelos grupos, acrescidas das anotagées baseadas em suas respectivas apresentagées, foram tratadas por meio de andlise de con- tetido, tendo sido estabelecidas trés categorias de andlise: (a) representagdes dos consultores; (b) representagoes dos clientes; (c) representacdes da situa- io. Foram, inicialmente, identificadas similaridades no conjunto de colagens. Em seguida, cada imagem foi analisada separadamente. [As representagdes dos consultores foram expressas por meio de figuras infantis, de isolamento e anacrénicas. As representacGes dos clientes foram ‘récmeaspeconsmucio 235, contempladas por meio de figuras de autoridade. As representagées da situa ‘¢lo, por sua vez, foram expressas por imagens de ameaca e confronto, de luta, de dor e sofrimento. ‘A andlise de cada uma das colagens revelou mensagens e pontos focais especificos. Os trés primeiros grupos, formados pot profissionais da area de consultoria, expressaram, respectivamente, sentimentos de disfungao, de frus- tragio e de impoténcia. Os trés titimos grupos, constitudos por profissionais da area de auditoria, revelaram pontos focais relacionados & tomada de posi- géo diante da critica, & busca de uma acéo de resposta e & busca de uma Solugao para o problema. Os trabalhos desenvolvidos pelos grupos 1, 2 e 6 foram selecionados pelos pesquisadores para ilustrar os resultados obtidos pela pesquisa ‘Acolagem produzida pelo primeiro grupo (Figura 1) teve como ponto focal o sentimento de disfuncio do consultor em relacdo a situagao. De acordo com 0s pesquisadores, a palavra crise, colada no canto esquerdo do papel, revela 0 motivo pelo qual os consultores foram chamados, bem como a situagio atual do projeto, No centro, aparecem os clientes, que olham para 0 consultor co- brando respostas para suas indagagées. O consultor, por sua vez, aparece com (© rosto de um palhaco, um corpo mintisculo vestido de temo e um eérebro destacado. f um sujeito que tenta ser compreendido pelos clientes, dizem os pesquisadores. Fonte: Wood Jr. ¢ Caldas (2002, p. 8) Figura 1 Colagem produsida pelo grupo 1 236 —_wérovos vs resqursa ext apsonisTangho __ Acolagem produzida pelo segundo grupo é do tipo seqiiencial, como a Figura 2 permite visualizar. Seu ponto focal é 0 sentimento de frustracao de incapacidade de reagir a situagao. A seqiiéncia tem inicio no centro da cotagem, onde aparece a figura de uma senhora, aparentemente desconfiada, represen- tando o cliente. Em seguida, aparece uma frase: “para ser demitido, basta es- tar empregado”. E uma das ameacas sob as quais 0 consultor vive. Do lado di- reito, aparecem um Iutador de boxe e um engolidor de fogo, representando, respectivamente, a vontade do consultor de reagir e a sua ira, 20 cuspir fogo, bem como a necessidade de digerir a situagio, engolindo o fogo. O consultor sente-se, enti, como um asno, como mostra a colagem. O fracasso e a impo- téncia sao representados pelas figuras seguintes, no centro e & esquerda. Por fim, figuras de patinhos e a frase “keeping the customer satisfied” (mantendo 0 cliente satisfeito) representam os consultores. Fonte: Wood Jr. «Caldas (2002, p. 8). Figura 2 Colagem produzida pelo grupo 2. sexto grupo também produziu uma colagem do tipo seqiencial, da es- querda para a direita, como mostra a Figura 3. Seu ponto focal é a busca de uma solugio para o problema e a critica softida. Reagao foi o titulo dado pelo ‘grupo & colagem por eles produzida. Do lado esquerdo, aparecem imagens que Tepresentam, na visio do grupo, a relagao de conflito entre consultores e clientes. Em seguida, é posstvel visualizar imagens que representam a reflexac ‘réemcaspeoonsmucio 237 Do lado direito, aparecem as figuras de um homem na prisdo, uma dangarina de strip-teaser ¢ um lutador de boxe que se mostra pensativo, representando a necessidade de lutar, as agées limitadas e a necessidade de seduzir o cliente. e} 2 AGA Fonte: Wood J. € Caldas (2002, p 8). Figura 3 Colagem produsida pelo grupo 6. ‘Com relagdo aos dados coletados por meio da aplicacio de questionsrios, ‘5 resultados indicaram que cerca de metade dos participantes ouvia ou rece- bia, com freqiéncia, piadas e anedotas crticas sobre a atividade de consultoria. las eram contadas ou enviadas, principalmente, por outros consultores ¢ por clientes, Com relacéo as criticas contidas nos trés textos que os participantes receberam para leitura, as respostas revelaram certa homogeneidade. Foram citadas, entre outras crticas, as seguintes: falta de conhecimento do neg do cliente, falta de objetividade dos consultores, utilizacao de linguagem her- ‘mética para encobrir a falta de conhecimento, propostas de solugdes comple~ xxas e earas para problemas simples. Com relacdo a pertinéncia das criticas, mais ‘da metade dos participantes concordou (55%), enquanto outros (26%) discor- ‘daram, Para os que concordaram parcialmente, as criticas dizem respeito a profissionais e empresas que nao trabalham com seriedade. Outros declararam {que os clientes nao sabem bem 0 que querem, ou nao entendem 0 trabalho de luma consultoria, H, ainda, outros fatores que podem prejudicar 0 trabalho do consultor, como prazos curtos e recursos insuficientes. No que diz respeito as reagées dos participantes as criticas, os resultados apontaram que cerca de 238 trovos ne esqush 2M ADMINISTRAGAO 41/3 dos sujeitos considera-se agredido ou magoado com tal situagdo, Outros, também 1/3 dos participantes, mostram-se indiferentes, ignorando as criticas. (Os demais participantes tentam assimilar as criticas, provando por meio do seu trabalho que elas ndo procedem. [Em sintese, os resultados da pesquisa revelaram que os participantes per- cebem, sem nenhuma surpresa, as eriticas dirigidas & atividade de consultoria, sob a forma de piadas e anedotas. Para os pesquisadores, as crticas revelam ambigiiidades e paradoxos da atividade de consultoria, Ainda de acordo com 0s pesquisadores, os participantes da pesquisa manifestaram reagées as crti- cas, porém apresentaram capacidade limitada de andlise e racionalizacio, o que leva A conclusdo de que eles tém dificuldade para investigar as causas das ert- ticas, bem como enfrenté-las, (7 Exemplo 2: A experiéncia de utilizacao do telefone celular Kraft e Nique (2002), entendendo ser necessério ir além da voz do con- sumidor, optaram pela técnica ZMET em uma pesquisa sobre a experiéncia de uso do telefone celular. Os pesquisadores buscaram compreender 0 que as pessoas pensam e sentem com relagio & utilizagao do telefone celular. ‘A pesquisa foi norteada pelas premissas tedricas da técnica escolhida, bem como por sua estrutura metodolégica. Participaram da pesquisa de campo 12 usudtios de telefone celular. Cada participante recebeu uma carta com orien- tagdes acerca do processo de pesquisa. ‘A pesquisa de campo teve inicio com uma solicitago para que os partici- pantes selecionassem no minimo oito figuras que refletissem “os pensamentos e sentimentos sobre a experiéncia de uso do celular”. Esta solicitagao se dew por meio da carta entregue aos participantes, consistindo em uma etapa ante- rior as entrevistas. [Em seguida, os participantes foram convidados para as entrevistas, que tiveram uma duragéo de aproximadamente duas horas. As entrevistas foram estruturadas com base nas seguintes fases: (a) relato de historias; (b) imagem no encontrada; (c) triades; (d) photo probe; (e) imagens sensoriais; () vinheta (histéria em movimento); (g) imagem digital Napprimeira fase da entrevista os sujeitos elataram historias, relacionando as figuras por eles selecionadas ao tema da pesquisa. Um dos participantes le vou'a figura de tum cachorro na coleira. Os pesquisadores contaram que a his ‘t6ria relatada por esse participante baseou-se na crenca de que o celular é uma coleira eletrOnica. Na fase seguinte, denominada imagem nio encontrada ou outras imagens, os pesquisadores solicitaram aos participants que descreves- sem uma outra imagem, relacionada ao tema da pesquisa. Tal imagem no se encontrava entre a5 coletadas pelos participantes, Um dos participantes des- réoweaspeconsmugio 239 creveu a imagem de um contorcionista, relacionando o celular & agilidade e & ppraticidade. Na terceira fase, denominada triades, os pesquisadores seleciona- ram aleatoriamente trés figuras coletadas pelos participantes e pediram que eles explicassem por que duas das figuras selecionadas eram semelhantes e ambas eram diferentes da terceira. Em uma das entrevistas, 0 participante apontou que afigura de uma calga jeans é semelhante & de uma executiva com seu laptop ambas sto diferentes da figura de uma mae com seus filhos, uma vez que as duas primeiras imagens estavam relacionadas ao dia-a-dia de trabalho e a ter- ceira lembrava a idéia de protegao e seguranga ‘Na quarta fase, a photo probe, as imagens selecionadas foram exploradas, de modo que os participantes eram estimulados a descrever o que poderia ser incluido ou transformado na figura. Um dos participantes alterou a figura de uma fralda, incluindo a presenga de uma mée, o que contribuiu para a crenca de que o celular proporciona seguranca. Na fase seguinte, denominada imagens sensoriais, os participantes foram solicitados a dizer o que é eo que nao ¢ telefo- ze celular, em termos de sabor, toque, cheiro, cor e som. Esta fase se apdia na renga de que todos 0s sentidos esto envolvidos no pensamento. Na sexta fase, 0s participantes foram estimulados a criar uma vinheta relacionada ao tema da pesquisa. A histéria criada por um dos participantes tinha como personagens © telefone celular, o telefone fixo e o proprio participante. Finalmente, na sétima fase, os participantes foram estimulados a criar uma imagem no computador, utiizando, para tanto, as figuras que consideravam mais importantes. ApOS @ construgio da imagem digital, os participantes deveriam narrar uma historia sobre a figura. Para os pesquisadores, esta fase ¢ fundamental para a revelagao de metéforas, uma vez que trabalha elementos visuais e verbais relacionados & interpretacdo do participante acerca do que esta sendo investigado, ‘A andlise dos resultados da pesquisa foi, também, dividida em fases, a saber: (a) 0s constructos; (b) as imagens sensoriais; (c) a persona; (4) as me- téforas (superficiais, teméticas e profundas). Na primeira fase, 18 constructos foram identificados. Sio eles: (a) oni presenca; (b) liberdade; (c) controle; () invaséo da privacidade; (e) trangii- lidade; (P) conforto; (g) praticidade; (h) tecnologia. (i) multifuncionalidade; @) ferramenta de trabalho; (I) acessério; (m) estética; (n) diferenciacao; (0) tempo; (p) abrangéncia; (q) relacdes pessoais; (r) seguranga/protecdo; (s) custo. Os pesquisadores apresentaram a descrigao de cada constructo, ilustre do pela fala dos entrevistados e, em alguns casos, por figuras. Um exemplo pode ser observado na Figura 4, 0 qual se refere ao constructo tecnologia. 240 erovos pe ppsgUish eb ADAMISTRACAO ‘Tecnologia: para alguns | Eu vejo 0 celular como uma cot ‘usuarios, com os avangos | a futurista, por isso que eu pe da tecnologia na érea da | guei essa aqut dos Jetsons. Nin Comunicagao, o celular | guém imaginava que hd des tem uma conotagao high | artos atrds tu ia carregaro tele tech, futurist {fone contigo. (participante 12) Fonte: Krafte Nique (2002, p. 7). Figura 4 Constructos do celular: tecnologia. Na segunda fase da andlise, foram abordadas as imagens sensoriais. No que se refere ao sabor, o celular trouxe a tona os fast foods, sendo, assim, rela cionado & agilidade, a necessidade de ndo perder tempo. Os participantes ‘mencionaram, também, 0 sabor dos doces, trazendo, com isso, a idéia de pra zer, No que diz respeito ao toque, o celular foi vinculado as texturas lisas, 0 ‘que remete a idéia de liberdade e auséncia de obstéculos. No que concerne 20 cheiro, os participantes mencionaram as fragréncias florais e de campo, trazen- do A tona, novamente, a idéia de liberdade. O cheiro de carro novo também foi lembrado, provocando a relacio entre celular ¢ tecnologia. Com relagao & cor, o celular foi vineulado as cores claras, como azul e branco, e as quentes, ‘como 0 vermelho. Enquanto as primeiras lembram a liberdade ¢ a tranqtilida- de, a cor vermelha se relaciona com o lado dindmico e fashion do celular. Por fim, no que diz respeito ao som, os patticipantes vincularam o celular ao techno ¢ a0 rock, ou seja, lembrando novamente a tecnologia ¢ o seu lado fashion. Na terceira fase da andlise, foram identificadas personalidades ou coisas ‘que pudessem representar o telefone celular. Os resultados revelaram que, na visio dos participantes, o celular, se tivesse uma personalidade, seria amigo, extrovertido e com muita energia. As histérias contadas pelos participantes ti- ham como cenério principal a noite (divertimento noturno). Na dima fase da anélise, as metaforas foram identificadas. As metéforas superficiais, alocadas na superficie do pensamento, como dizem os pesquisa~ dores, trouxeram as idéias de economia de tempo, comodidade, conforto, li- ‘berdade, mas, também, a invasio de privacidade. Expresses como quebra muito gatho e salvador da pdtria foram utilizadas pelos participantes. As metéforas teméticas, por sua vez, séio aquelas que revelam estruturas de referéncia para ‘a compreensio dos pensamentos e sentiments das pessoas. Os resultados obtidos permitiram a identificacio das seguintes metéforas tematicas: 0 celu- Jar como seguranca, como companheiro, como libertador e como tranqiilizador. ‘récwicas peconsraucko | 241 Finalmente, as metéforas profundas estdo alocadas onde as percepcées € os pensamentos so organizados. Quatro metéforas profundas foram identificadas. ‘So elas: (a) container; (b) recurso; (c) conexlo; (4) transformagao. Esses re- sultados levaram os pesquisadores a afirmar que: “o celular é um container de recursos, conectando as pessoas e transformando suas vidas” (KRAFT e NIQUE, 2002, p. 1) Os resultados da pesquisa permitiram a geracdo de diversos insights rela- cionados 20 comportamento de usuarios de telefone celular. Na visdo dos pes- quisadores, as empresas de telefonia celular devem priorizar os constructos centrais (liberdade, tranqiilidade, relacdes pessoais, tempo, onipresenca e se- guranca), 05 quais esto relacionados as metéforas profundas. Estas metéf as, por seu turmo, so consideradas importantes para a definicéo de estraté- gias de comunicagao e posicionamento da empresa, O mesmo pode ser dito a respeito dos dados gerados pela fase persona. Os resultados obtidos com a andlise das imagens sensoriais confirmaram, segundo os pesquisadores, os construictos e metéforas identificados. As imagens digitais, por sua ve2, foram consideradzs um resumo da entrevista, sendo apontadas como uma importan- te fonte de idéias para a criago de pegas publicitérias Leituras para aprofundamento BELK, Russell W.; GER, Gilliz; ASKEGAARD, Soren. Consumer desire in three cultures: results from projective research, Advances in Consumer Research, ¥. 24, p, 24-28, 1997. ; SHERRY JR., John F.; WALLENDORF, Melanie. 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Esta teoria foi introduzida por Serge Moscovici, em 1961, por meio de sua obra scbre a re- presentacdo social da psicandlise, Para esse autor, representagbes sociais sd0 “um conjunto de conceitos, proposicées e explicagées originado na vida coti- diana no curso de comunicagdes interpessoais” (MOSCOVICI, apud SA, 2002, p. 31). Todas as interagdes humanas, afirma o autor, pressupdem representa- Ges (MOSCOVICI, 2004). No ambito das ciéncias sociais, a expressao repre- sentagées sociais pode ser caracterizada como “categorias de pensamento que expressam a realidade, explicam-na, justificando-a ou questionando-. (MINAYO, 2002, p. 89) Uma abordagem complementar & teoria das representagées sociais refe- re-se a teoria do nticleo central, introduzida por Jean-Claude Abric em 1976. Segundo Abrie, citado por SA (2002, p. 62): A organizacao de uma representagdo apresenta uma caracteristi- ca particular: nfo apenas os elementos da representagao sao hierar uizados, mas além disso toda representagdo é organizada em tomo de 244 sropos pe resquisa em aDMsTRAGKO ‘um nticleo central, constituido de um ou de alguns elementos que dio a representaciio 0 seu significado. Omicleo central, determinante do significado da representacao social, tem como complemento um sistema periférico, composto pelos demais elementos da representagao, Nesse contexto, o teste de evocacdo de palavras constitui um dos principais métodos para efetuar o levantamento dos possiveis elementos constituintes do miicleo central da representagao, o que é feito, em geral, se- gundo a proposta de Pierre Verges, lembrado por Sd (2002), ou seja, combi- rnando-se a fregiiéncia com a ordem de evocacao das palavras. Palavras-chave Expressio indutora Associacao livre e imediata Espontaneidade Miicleo central Freqiiéncia e ordem de evocagio gaqooa Caracteristicas principais 1 Permite a identificagao de elementos relacionados ao objeto da pes- quisa que poderiam ser perdidos nas anélises dos contetidos di cursivos formais, © Possibilita « andlise combinada de um dado de natureza coletiva: a freqiiéncia de evocagées; ¢ um dado de natureza individualizada: a ordem de evocacéo. OF Requer, em geral, a utilizagio de téenicas complementares de co- Teta de dados, como a entrevista ot 0 questionario, 1 Exige do pesquisador sensibitidade e familiaridade com o tema da pesaitisa para a elaboracio do conjunto de categorias semanticas, derivadas do conjunto de palavras ou expressdes evocadas, a serem submetidas a andlise. vx Como utilizar! © Definem-se 0 tema e o problema de pesquisa. 1 Acrdem aqui apresentads nao é rigida. Pode, portanto, ser alterada conforme a situagéo. aa qgaaa reste pesvocaghoperaaveas 245 Procede-se a uma revisdo da literatura pertinente ao problema de investigagio e escolhe(m)-se a(s) orientagdo(6es) tedrica(s) que daré(Go) suporte ao estudo. Definem-se possiveis procedimentos adicionais, como, por exemplo, entrevistas e questionérios, a serem utilizados para a coleta dos da- dos, de acordo com os objetivos da pesquisa, Selecionam-se os sujeitos da pesquisa. Realiza-se um treinamento com 0s sujeitos da pesquisa, relativo & associagao de palavras, antes da aplicagéio do teste. Aplica-se 0 teste de evocaciio de palavras. Solicita-se aos participan- tes que mencionem um determinado niimero de palavras, a partir de uma expresséo indutora. Listam-se as diversas palavras ou expresses mencionadas pelos su- Jeitos da pesquisa. Classificam-se as palavras ou expressées listadas, em categorias se- ‘méaticas, com base em um sentido préximo. Preservativo e cami nha, por exemplo, so palavras que poderiam pertencer a uma ‘mesma categoria semantica. Desprezam-se as categorias consideradas pouco significativas, com base em critérios estabelecidos pelo pesquisador. Bfetuam-se os célculos da fregiiéncia e da ordem média de evoca- fo de cada categoria, Efetuam-se os célculos da fregiiéncia média de evocecio e da mé- aritmética das ordens médias de evocacio, Distribuem-se os resultados em um diagrama de quatro quadrantes, conforme apresentado a seguir: Freqdéncia de evocagio (exo vertical) (valores maiotes que a freqléncia média de evoragio devem ser alocados na parte superior) Ordem media de evoca- ‘gio (eixo horizontal) (valores menores que a média devem ser alocados do Taco esquerdo) ‘Bvocagies de malor | EvocagGes de maior freqién- ‘reqiéneia e mais pronta- | cla e mais tardiamente mente realizadas realizadas BvocagGes de menor freqdéncia e mals prone mente realizadas TBrosagies de menor freqidncie e mais tardiamen- te realizadas, 246 wirovos pe Pesquis Eu ADNANISTRAGRO © Oquadrante superior esquerdo aloca os possiveis elementos do riicleo central, por terem sido evocados com maior freqtigneia e mais prontamente, © 0 quadrante inferior direito aloca os elementos periféricos, por terem sido evocados com menor freqiiéncia e mais tardiamente © Osquadrantes superior direitoe inferior esquerdo alocam os ele. mentos que mantém uma relagdo mais estreita com 0 micleo central. Identifiam-se 0s possiveis elementos integrantes do micleo central, seja, aqueles que foram alocados no quadrante superior esquerdo, Utilizam-se métodos definidos pelo pesquisador para a identifica. fo dos elementos imprescindiveis ao niicleo central Analisam-se os dados, tomando como referéncia a freqiiéncia ea or- dem de evocagao das palavras. Resgata-se 0 problema que suscitou a investigacio. Confrontam-se 0s resultados obtidos com a(s) teoria(s) que deu(ram) suporte a investigacio. Formula-se a conclusio. Blabora-se o relat6rio de pesquisa. go aad aaa Em geral, solicita-se aos participantes que evoquem de trés a cinco pa- lavras, a partir de uma expressio indutora, Hd quem, apés esse procedimento, solicite aos partieipantes que marquem as duas palavras consideradas como ‘as mais importantes, justificando, em seguida, a escolha, como o fizeram Alves-Mazzotti et al. (2003). £ um procedimento que auxilia a andlise dos resultados. Aplicado o teste de evocagio de palavras, os dados podem ser tratados com o auxilio do software EVOC. Ainda assim, é importante que o pesquisador sin- ta-se familiarizado com os principais procedimentos utilizados no tratamento dos dados. £ bastante itil submeter a classficagdo das palavras em categorias seménticas ao julgamento de especialistas, izes que ndo compdem a equipe de pesquisa, como o fizeram Vergara e Ferreira (2004). Sugere-se, também, alocar os dados obtidos a partir das categoriaslistadas, em uma tabela, de modo a facilitar a visualizacdo. Na tabela apresentada a seguir, foram alocados valo- res, a fim de exemplificar os ealculos necessérios. ‘ESTE DERVOGNGAODE PALAVRAS 247 CATEGORIAS, FREQUENCIAS E ORDENS MEDIAS DE EVOCAGAO_ Z 2 3 a 3 6 7 requtncin [Preqaénci | requtacia [Frequéncia | Somardrio ‘de ide de ‘se clas evoengio | evoeagie | evocacto | evocagio | treqiéneias ‘categorias_|em 1" lugne|em 2 lagar|em 3° ugarlem 4 hugar| de evoeasio ABC 1 19 76 19 50s 2x 08 a 16 30 75 Total | 7s | 74 | 704 sas 91,78 Fonte: Adaptada de Tura (1998), 0 cdlculo da freqiiéncia de cada categoria pode ser obtido, efetuando-se a soma das freqiiéncias em que a categoria foi evocada em primeiro lugar, em segundo lugar e assim sucessivamente. Com base na tabela apresentada, a soma dos valores alocados nas colunas 2 (freqiiéncia de evocagao em primeiro lu- gar) a 5 (freqiiéncia de evocacéo em quarto lugar) corresponde ao somatério das freqiiéncias de evocaglo da eategoria (coluna 6), ou seja,191 + 119 + 76 + 119. Isso significa dizer que o somatério das freqiiéncias de evocacao da categoria ABC € 505. ‘A ordem média de evocagdo de cada categoria é obtida por meio do se- sguinte cdleulo: (£12 lugar x 1) + (F22 lugar x 2) + (F3%lugar x 3) + (F4e lugar x 4) —_—_ EF ‘Com base na tabela apresentada, a ordem média de evocagao da catego- ria ABC é: (191 x1) + 019 x2) + (76K) UIIXD 4 44 505 A fregiiéncia média de evocacéo ¢ obtida pela diviséo do resultado total da coluna 6 (somatério das freqiiéncias de evocagao) pelo nimero de catego- ras istadas. Considerando para fins deste exemplo um total de 33 categorias, ‘hd o seguinte edlculo: 3.134 + 33. A freqiiéncia média de evocacio € 94,97. [As categorias desprezadas pelo pesquisedor, por serem pouco significativas, no devem ser consideradas no edleulo. 248 —séropos pe push EM ADAERISTRAGAO ‘A média das ordens médias de evocagio é obtida pela divisio do resulta- do total da coluna 7 (ordem média de evocacdo) pelo mimero de categories listadas. Considerando, novamente, um total de 33 categorias, hi 91,78 + 33, ‘A média das ordens médias de evocacio é 2,78. Mais uma vez, as categorias desprezadas pelo pesquisador no devem ser consideradas no célculo. Com base na tabela apresentada e considerando-se, para fins de exemplo, as eategorias ABC e XYZ, 0 diagrama de quatro quadrantes pode ser assim re- presentado: Freqincia de evocagio (cixo vertical) (valores > 94,97 devem ser alocados na parte superior) [ ABC (F = 505, come = 2,24) Ordem média de evocagao (cixo horizontal) |__| (valorns < 2,78 deve ser alocados do lado esquerdo) XYZ (F= 75, ‘ome = 2,90) ‘ome: orem média de evocagio i importante observar que o teste de evocagio de palavras, por si 6, ndo permite conclusGes sobre a estrutura das representagdes sociais. Ha diversos procedimentos que podem ser agregados a este método para identificar os ele- mentos do micleo central ou, como diz S4 (2002), para questionar a imprescindibilidade de um dado elemento para a representacao. Méller (1996a), por exemplo, utilizou o teste de hipéteses. S4 (2002), por sew turno, menciona outros métodos, tais como: (a) 0 método da inducéo por cendiio amb{guo (ISA), desenvolvido por Pascal Motiner, para o Jevantamento ¢ para a rentcagte dos elementos centri da epresentagao, (6) 0 método dos e= {quemas cognitivos de base (SCB), desenvolvido por Christian Guimellie Michel- Louis Rouquette. Ha, ainda, que se considerar a técnica de andlise de similitude, cujo objetivo é a deteccao do grau de conexidade dos diversos elementos de uma representago. Esta técnica pode ser aplicada com 0 auxilio do software SIML ESTEDE EvOCAGAO De PaLavnas 249 © que deve ser ressaltado é que a estrutura de uma representacio social é alterada quando sao adicionados ou suprimidos elementos do seu micleo central. Logo, identificar os elementos imprescindiveis & representagio sigh fica confer significado ao objeto em estudo. Exemplos da utilizagao do teste de evocagio de palavras 7 Exemplo 1: Representagdes sociais da participagao em organizagées ptiblicas Miller (1996b) utlizou 0 teste de evocagao de palavras em uma pesqui- sa acerca do fendmeno participativo em organizagoes puiblicas do Estado do Rio de Janeiro. A pesquisa teve como objetivo “aprofundar a discussio tedrica e metodolégica da participagao na organizagao” (MOLLER, 1996a, p. 2). Util zou como referencial a teoria das representacées sociais. Participaram da pesquisa 66 profissionais de organizagées puiblicas do Estado do Rio de Janeiro que estavam freqiientando cursos de pés-graduagio oferecidos pela Fundagio Escola de Servico Puiblico do Estado do Rio de Ja- neiro (FESP-RJ) por meio do Instituto Superior de Administragia Paiblica Es- tadual, em agosto de 1995. Para a realizacio do teste de evocacao de palavras, foi solicitado aos par- ticipantes que escrevessem de trés a cinco palavras que hes vinham & cabeca, na ordem em que isso ocorreu, a partir da expresso indutora adminiseragao articipativa. Foram evocadas 301 palavras ot expressdes, reunidas, posteriormente, em 83 categorias semfnticas. Além do teste de evocacio de palavras, foi solicita- do aos participantes que respondessem & seguinte pergunta: na sua opinio, quais sao as principais conseqiiéneias da adogao de formas participativas de gesto numa organizacdo? As respostas a esse questionamento indicaram, ruitas vezes, 0 contexto em que a palavra ou expresso evocada foi utilizada, apoiando, assim, a tarefa de categorizacao. O pesquisador optou por despre. zat as categorias cuja freqliéncia foi unitiria. Foram, entéo, submetidas & ané- lise 36 categorias. Os 11 termos evocados com maior freqiiéncia foram: integracao (29), produtividade (20), grupo (17), descentralizagéo (17), informagéo (15), com. promisso (14), cooperacio (13), democracia (12), planejamento (9), incenti vo (8), respeito (8). Os nimeros entre parénteses indicam a quantidade de vezes em que 0 termo foi evocado. Foram efetuados os célculos da freqiiéncia e da ordem média de evoca- do de cada categoria, Em seguida, foram calculadas a freqiiéncia média de 250 _éronos be resqUISA ex ADNONISTRAGHO ocorréncia das categorias e a média das ordens médias de evocacio, Os resul- tados foram distribuidos em um diagrama com quatro quadrantes. No qua: drante superior esquerdo, foram alocados os provaveis elementos constituin- tes do nticleo central da representaco. Sdo eles: integracio, produtividade, fupo, compromisso, cooperaao, planejamento e incentivo. Os elementos do {uadrante inferior dreito, por sua vez, foram considerados de natureza peri férica, por terem sido menos freqiientemente € menos prontamente evocados. Sao eles: qualidade, gestdo, cidadania, objetivos, competéncia, idéias, moder- nidade, engodo, mudanca, melhoria salarial, objetividade, conflito, relacées pessoais, senso comum, (© pesquisador optou por agregar & andlise das evocagdes os contetidos discursivos mais formais, ou seja, as respostas & questo aberta mencionada. Foi realizada uma analise, substanciada em Motta (1991), com base em cinco dimensdes descritivas das fungées positivas da participacdo em uma organiza~ Gi. Sao elas: (a) dimensio econémica; fungio positiva~ eficiéncia; (b) dimen- So social; funcdo positiva — distribuico e seguranca; (¢) dimensao politica; Fangio positiva - democratizacio e descentralizagio; (@) dimenséo orga nizacional; fungéo positiva ~ integragio; (e) dimensio psicol6gica; Fungo positiva ~ auto-realizacéo. Os resultados da pesquisa revelaram que integragdo e produtividade fo- ram as dias categorias seménticas mais privilegiadas nas evocagtes ¢ foram, entao, tomadas como elementos centrais da representacéo. O termo integrasdo orresponde a fungao positiva da participacao na dimensao organizacional. 0 termo produtividade, por sua vez, esté ligado & dimensio econdmica. Os ter- mos grupo, compromisso, cooperacao, planejamento e incentivo, também alo- alos no quadvante superior esquerdo, guardam uma relagio de articulacko & {nterdependéncia com os elementos centrais, no contexto da eficiénciae efica cia organizacionais, Elementos relacionados & dimensio politica e, em menor grau, A psicol6gica sio integrantes do sistema periférico. As fungdes positivas da participagio na dimensao social nfo foram contempladas de maneira signi- ficativa nas evocagoes dos participantes. ‘Cotn base no referencial proporcionado por Motta (1991) e & luz do ni. cleo central das representagdes, 0 pesquisador concluiu que a representacio social da participagdo, construida pelos sujeitos da pesquisa, é marcada pelos impactos positivos decorrentes da adogao de formas participativas de gesto tno ambiente organizacional, sendo irrelevantes os registros de recorréncia dos participantes aos impactos negativos. Sugere que as circunsténcias parecem ser favordveis para a adogéo de modalidades de gestio voltadas para a constru fo de um modelo de Estado pautado nos conceitos de eficiéncia, eficdcia € efetividade. misteneevoaiglooeetwvins 251 1 Exemplo 2: Os sentidos do ser professor Alves-Mazzotti et al. (2003) utilizaram o teste de evocacio de palavras como técnica de coleta de dados em uma pesquisa sobre os sentidos do ser professor. Teve como objetivo identificar as representagées da identidade do- cente de professores da rede puiblica de ensino fundamental do Rio de Janeiro frente aos desafios postos & escola na contemporaneidade. Como base teérica, foi utilizada a teoria das representagdes sociais. Participaram da pesquisa 248 professores de 15 escolas piblicas de ensi no fundamental da rede municipal de ensino, sendo oito na cidade do Rio de Janeiro, quatro em Teresépolis e ts em Niterdi. Dos participantes, 123 lecio havam no primeiro segmento do ensino fundamental (12 & 4% série) e 125 no segundo segmento (54 & 8 série). A maior parte dos sujeitos exercia o magis- tério ha pelo menos 20 anos, O teste de evocagéo de palavras fo realizado a partir da expresso indutora ser professor, hoje. Foi solicitado aos sujeitos que escrevessem as quatro prime ras palavras que Ihes vinham & mente ao ouvir a expressio ser professor, hoje. Em seguida, foi solicitado que marcassem as duas palavras mais importantes, em ordem, justificando a escolha por meio de um pequeno texto, Foram elaboradas 1.031 evocacées. A andlise dos dados coletados se dew ‘em duas etapas, Inicialmente, os dados foram tratadas e analisados conside- rando-se 0 total de participantes dos dois segmentos (18 4" série @ 548 8 sé. rie). Posteriormente, o tratamento e a andlise foram realizados separadamen te, a fim de comparar os resultados de cada um dos segmentos. Aanilise do conjunto total de evocagoes revelou que dificuldades, de- dicagdo e luta sio 0s provaveis elementos integrantes do miicleo central das representacées sociais. Foi ressaltado que, enquanto o primeiro elemento re- fere-se a um aspecto negativo, o segundo diz. respeito a um valor positive da profissio. O terceiro elemento, por sua vez, relaciona-se tanto ao primeiro termo — dificuldades ~ quanto ao segundo - dedicagdo. Com relag&o ao siste- ma periférico, os elementos alocados no quadrante inferior direito revelaram a mesma bipolaridade do micleo central. Aspectos negativos da profiss4o, como salério baixo, frustracio e desvalorizacdo, prevaleceram, mas ficaram 20 lado de elementos positives, como esperanca, doacao e carinho. Foi, ait da, realizada uma andlise de similitude que confirmou os primeiros resulta dos apresentados. © elemento dedicagao foi considerado o de maior cone- xidade, com 22 arestas, ou seja, ligacdes entre dois vertices, dois elementos da tepresentagdo, O elemento dificuldades apresentou 12 arestas. f impor- tante ressaltar que as arestas representam o valor los indices de similitude entre 05 elementos. Quanto maior o mimero de arestas, mais importante 0 elemento para a representagao. 252 _tro00s DE FESQUISA EM ADMINISTEAGK © tratamento e a analise dos dados por segmento revelaram diferencas rativas entre as representagées sociais dos professores. No que diz res- formado pelos 123 professores de 1* a 4? série, apenas o elemento dedicagdo foi alocado no miicleo central, Contudo, o elemento tansago, que estava no sistema periférico, apareceu com forte tendéncia & entralidade. A andlise de similitude revelou que dedicagdo é 0 elemento de maior conexidade, com 21 arestas. Com relagdo ao segundo segmento, formado pelos 125 professores de 5* 4.88 série, dficuldades e luta foram identificados como possiveis elementos do riicleo central, A andlise de similitude revelou que estes dois elementos sio os de maior conexidade. O elemento dificuldades apresentou 20 arestas e luta, um total de 13. Os resultados da pesquisa revelaram que as representacbes sociais dos professores do ensino fundamental néo devem ser tratadas de forma conjun- ta. A andlise conjunta realizada pelos pesquisedores permitiu a identificago de trés possiveis elementos integrantes do nticleo central. Sao eles: dificulda- des, dedicagao e luta, Analisados separadamente, o primeiro segmento desta- towo elemento dedicagdo, enquanto para o segundo dificuldades e lura foram considerados possiveis elementos do niicleo central. Os pesquisadores conclui- tam que, para os professores do primeiro segmento, o sentido do ser professor Econstraido em tomo da idéia de dedicacdo, Para os professorcs do segundo Segmento, o sentido do ser professor & construido a partir da luta cotidiana contra as dificuldades que surgem entre ele e seus alunos. signific peito ao primeiro segmento, (0 Exemplo 3: Representacdo social de ONGs CO teste de evocagio de palavras foi utilizado por Vergara e Ferreira (2004) em um estudo sobre Organizagées Nao Governamentais (ONGs). A pesquisa, ‘amparada pela teoria das representacGes sociais, teve como objetivo respon- der seguinte questio: Qual a representagao social de ONGs, de formadores de opinido do municipio do Rio de Janeiro? 'A decisfo de identificar a representagio social de formadores de opiniéio se deu em virtude da influéncia que este grupo exerce na maneira pela qual as pessoas e os grupos sociais se relacionam com as ONGSs. Para os pesquisado- Fes, o crescimento expressivo destas organizacées, tanto quantitativamente {quanto no que se refere ao escopo de sua atuagio, provavelmente néo seria possivel sem que houvesse respaldo da sociedade, fundamentado em expecta- {vas mantidas a respeito do papel que esse tipo de organizacdo pode desem- penhar. Advogam, assim, que o estudo da representacio social de formadores de opinio pode favorecer o entendimento de como essas orgenizagdes tém onseguido legitimacéo para desenvolverem seus trabalhos, bem como pode ESTEDEBVOCAGKODEPALAWRAS 253 facilitar a compreensio do ¢ felts compreensfo do eoneeto de ONGs, consdeade de cater Para a realizagio da pesquisa de a oat usa de campo, foram selecionados, pelo crité so de aceslidade, 127 sujtos, assim dildos 19 atoriades tos Pade es Executive Judi, 20 joists, 15 lideresreligioses, 20 politics, Drofesores e 12 sina. Os dados fram colds por melo do test de von de palaras, que dew em dato expe: (para into, (©) tierarquia das palavras formuladas pelos sujeitos; (c) concordancia em rel: 40 a assertivas; (d) justificativas, ome Na primeira etapa, os etapa, os pesquisadores soliitaram aos participates faneiem quo pines alias ue les ina mente oo Tem a expressio organizagdo néo- rnament a belecer una hierarguia para o terms nenlonades, ce, ae cence Inpro cna de ONG, cans segs sao mais importante dentre as que o participante tinh: lo, 2 unde, assim sucessivamente, A hierarquizagio dos termos fo portant, wees asin i, portato, a segunda vas Na terceira etapa, os participantes foram apresentados a quatro afirmati- vas para que manesasem ssa oncordinci ov dcrdincia em ela saa um, de scordo com as opesoncordo“oncordo en parte” “cer” ou eee pei oe ee (a) As ONGs estdo se oraue 0 Estado tem diminufdo sua avagh gto so = ONGs. © Funder uma ONG pode ser um meio de ebtengio de essoais. Por fim, na quarta etapa, os participantes deve i fear suas opgbes dante das afrmacoesapresentadas'nseltpa microg vas oe ed et pan Por meio da categorizacao das pala- , do céleulo de frequéncia das categories, do céleulo da order evocacado e do levantamento das justificativas. GRordem méca de Foram evocadas 295 palavas 5 5 palavras ou expresses, sendo que 29 f ta lo processo. ae i seumaveoe tas do proceso de ctegoriao por em sd cad epenss ume © similares a outras. Restaram, assim, 266 pala padasem 45 etegorias semanas. Nesta fae ospesgubaloc cont on a colaborag io de trés “juizes”, que enriqueceram a dis eae de categorizagao. . ‘ussio sobre o proceso Em seguida, foram caleuladas a freqiéncia de oc orden, Sepa, foram caleladas afreqiéncia de ocorréncia das categoria ¢ a oem média de evocaio, que prmitv olevantnmento dos provivels ele mento do nlleo central darepesentaio social. AS categoria submetidas& gail fram, eno, locas em um dingrama com quadrants, conforma fealitnca ¢ a ordem méia de evocacdo. No quadvante superior esquerdo, cados der. elementos considerados componentes do niicleo central 254 —sdrovos be paSQUISA En ADMIUSTRAGAO Sio eles: ajuda, sociedade, ago social, solidariedade, organizacio, aco préti- ca, defesa de interesses, participacio, picaretagem, alternativa. No que concerne as respostas as afirmativas apresentadas na terceira eta~ pa da coleta de dados, foi adotado o tratamento estatistico simples, calculan- do-se o percentual de incidéncia de cada resposta. ‘Com relagéo & primeira afirmativa, os pesquisadores sublinharam a sig: nificativa concordincia com a existéncia de correlagdo entre a reducéo da atuagao do Estado e o erescimento das ONGs. Para os sujeitos que concorda- ram em parte com a afirmativa, hé outos fatores que justificam a expansio das ONG. Para os sujeitos que discordaram, o fortalecimento da sociedade civil esté ocorrendo independentemente da situacio do Estado. No que diz respeito a segunda afirmativa, 72% dos sujeitos expressaram sua concordancia. Para os que concordaram em parte, as ONGs, embora inde- pendentes, deveriam ter liberdade para celebrar acordos e parcerias com governo e receber recursos estatais. Com relagio & terceira afirmativa, grande parte dos sujeitos manifestou sua concordancia, valendo-se da justificativa de possibilidade de ocorréncia de fraudes e mau emprego dos recursos administrados pelas ONGSs. Para os que concordaram em parte, a fiscalizagao deve ser exercida pelos financiadores, devendo-se atentar para que nao sejam criados entraves que prejudiquem 0 trabalho das ONGs. Por fim, a quarta afirmativa apresentou uma distribuigéo mais equilibra- da dos resultados, Para uma parcela minoritéria dos que concordaram, as ONGs serve de fachada para operagdes irregulares e para o enriquecimento de seus fundadores, Para a maioria dos que concordaram ou concordaram em parte, 1nd, contudo, uma ressalva: desvios podem ocorrer, mas no séo regra geral, sendo grande parte das ONGs idénea. (Os pesquisadores concluiram, com base nos elementos do niicleo central €¢ nas justificativas as afirmativas apresentadas, que a visio que se tem do ob jeto enfocado é favordvel. Entre os elementos localizados no niicleo central, dois termos foram relacionados pelos pesquisadores a filantropia. Sto eles: ajuda e gd social. Apesar desta percepcfo, grande parte dos dirigentes de ONGs e dos defensores da expansio destas organizagies rejeita a idéia de acio filantrépi- cca. Jao termo solidariedade nao sofre as criticas relacionadas a filantropia ou a medidas assistencialistas. © termo apio prética, segundo os pesquisadores, est relacionado & agilidade destas organizagées, o que foi confirmado pelos sujeitos em suas justificativas. Os termos defesa de interesses e participagdo, por sua vez, foram interpretados com base na percepgéo das ONGs como promo- toras da democratizagio das relagies sociais, o que também foi ratificado pe- las justificativas dos sujeitos. O termo alternativa foi considerado pelos pesqui- sadores como de significado mais amplo, Contudo, deduziram, com base nas Teste DesvocagtoneraLamas — 255 ustfcativas dos sueitos, que termo refere-se ao fato de que as ONGs repre sentam uma opeio, fora do aparato estatal, para a solucao de problemas d Sociedade. Jd o term picaretagem foi otnico que apresentou conotacio nega- tiva, revelando a desconfianga de certo nero de pessoas a respeto dos tra. balhos realizados pelas ONGs. Estes sueitos expressaram ei suas justfcat vas criticas contundentes a expansio das ONG. Os resultados revelaram, por tanto, que a representacdo social de ONGs de formadores de opiniao do muni efpio do Rio de Janeiro contempla vias idéias de conotagéo postiva, demons. trando a legitimagdo que este tipo de organizagdo tem recebido da sociedade, bem como o respaldo & sua expansio. * Leituras para aprofundamento ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith et al. Os sentidos do : L sa ser professor. In: JORNADA INTERNACIONAL, 3. e CONFERENCIA BRASILEIRA SOBRE REPRESENTA OES SOCIAIS, 1, 2003, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: UERJ, Ob- servatirio de Pesquisas e Estudos em Memiériae Representagoes Socias, 2008 BASTOS, Antonio V. By COSTA, FM, Miltiploscomprometinentos n rabs- no: articulando diferentes estratégias de pesquisa. In: ENCONTRO NACIONAL. DA ASSOCIAGAO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE POS-GRADUAGAO EM ADMINISTRAGAO, 24,2000, lorandpolis. Anas... Horandpolis: Anpad, COUTINHO, Maria da Penha de Lima. Depressio infantil: uma leitura Pricosocolgies. Ins MOREIRA, Antonia Siva Paredes (Or). Representages sociais: teotia e pratica, Jodo Pessoa: Editora Uni ia/Autores Associa- ae iversitéria/Autores Associa GOMES, Nubia da L. M.; SA, Celso Pereira de; OLIVEIRA, Denize Cristina de. RepresentagSes socais do ato infacional por adolescentes em conflito com a : uma comparacéo estrutural. In: JORNADA INTERNACIONAL, 3. ¢ CONFE- RENCIA BRASILEIRA SOBRE REPRESENTAQOES SOCIAIS, 1., 2003, Rio de Janeiro, Anais... Rio de Janeiro: UERJ, Observatério de Pesquisas e Estudos ‘em Meméria e Representagies Sociais, 2003. MINAYO, Maria Cecilia de Souza. O conceito de representagées sociais dentro da sociologia cléssica. In: GUARESCHI, Pedrinho A.; JOVCHELOVITCH, Sandra (Org). Textos em representagGes sociais, 7. ed. Petrépolis: Vozes, 2002. MOLLER, Renato C. 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As amostras so intencionais, selecionadas por tipicidade ou por acessibilidade. Os dados sio coletados por meio de técnicas pouco estruturadas e tratados por meio de ané lises de cunho interpretativo. Os resultados obtidos nao sao generalizdveis. ‘Assumir que os métodos podem ser vistos como complementares ao in- vvés de rivais (JICK, 1979) traz.& tona a idéia de triangulacio. O termo crian- gulag € origindrio da navegacio e da estratégia militar. Nesse contexto, a triangulagio visa determinar a exata posigdo de um objeto a partir de diversos pontos de referéncia, No Ambito das ciéncias socias, a triangulacao pode ser efinida como uma estratégia de pesquisa baseada na utilizacio de diversos meétodos para investigar um mesmo fendmeno, Essa definigdo, proposta por Norman Denzin, no livro The Research Act, na década de 70, sugere ser a triangulacdo uma estracégia para o alcance da validade, no sentido cléssico do termo, assumindo uma realidade e uma con cepedo para 0 objeto em estudo, independente da abordagem metodolégica (FLICK, 1992). Diversas criticas a essa abordagem foram feitas. Na visio dos 258 —wéronos De PesqUsA EM ADNANISTRACAO cxiticos, teorias e métodos deveriam ser combinados cuidadosamente, a fim de obter uma andlise mais abrangente do objeto em estudo, e nio com 0 propési- to de perseguir uma verdade objetiva. A abordagem inicial foi redefinida por Denzin na terceira edigdo de seu livro, em 1989. A validade, entdo, deixa de ser, para o autor, 0 principal objetivo da triangulagdo. Uma abordagem inter- pretativa € sugerida. Apesar da posicéo redefinida por Denzin, suas proposi- ‘gées iniciais continuam sendo a base para as discussdes relacionadas a trian- gulagéo (FLICK,1992) Diferentes tipos de triangulagio so apresentados na literatura (DENZIN, 1978), a saber: 0 de dados; de pesquisadores; 0 de teorias; 1 de métodos. A triangulagio de dados refere-se ao uso de diferentes fontes de dados. Nesse contexto, é sugerido o estudo de um fendmeno a partir de diferentes momentos (tempo), locais (espago) e pessoas (informantes). A triangulagao do pesqiuisador diz respeito & utilizagdo de diferentes pesquisadores na investiga- Gao de um mesmo fendmeno, na tentativa de detectar ou minimizar pussiveis vieses provocados pela subjetividade do pesquisador. A triangulagio tedrica é uma abordagem baseada em diversas perspectivas tedricas. A triangulacio metodolégica ¢ subdividida em intramétodo, ou seja, utilizacdo de técnicas diversas relacionadas a um mesmo método, e entre métodos, isto é, wtlizagao de métodos distintos. Com relacio a triangulagéo metodol6gica, Morse (1991) menciona duas classificagées: a triangulacdo simultanea e a seqiiencial. A triangulagdo simultanea refere-se ao uso dos métodos quantitativo e qualitati- vo, a0 mesmo tempo. Nesse caso, a interacéo entre os métodos, durante a co- leta de dados, ¢ reduzida, mas eles se complementam no momento da conclu séo do estudo. A triangulagdo seqiiencial diz respeito a utilizagao dos resulta- dos de um método para o planejamento do emprego do método seguinte, Nes- se caso, o emprego do método qualitativo ¢ concluido antes da implementagao do quantitativo e vice-versa. Diante do exposto, a triangulacio, também chamada de abordagem multimétodos, pode ser discutida e explorada com base em dois pontos de vis -omo uma estratégia para o alcance da validade do estudo e como uma alternativa para a obtenco de novas perspectivas, novos conhecimentos. snnncutacho 259 # Palavras-chave oaoa Complementaridade dos métodos Perspectivas miiltiplas Diferentes compreensées Validade interna ¢ externa Caracteristicas principais o 0 Permite a emergéncia de novas perspectivas relacionadas ao obje- - to emestudo. Permite a verificagio da validade interna e externa, embora néo as garanta. Permite a obtengio de dados tanto de natureza qualitativa quanto quantitativa. Exige do pesquisador habilidade para empregar métodos e téenicas diversos de pesquisa. Exige do pesqnisador experiéncia para identificar a origem das di vvergéncias, bem como para detectar se dizem respeito as limitacbes da pesquisa ou se constituem contribuigdes ao estudo, Exige, em geral, um tempo maior para a realizago da pesquisa, bem como maiores recursos financeiros. ¥ Como utilizar! a a Definem-se o tema eo problema de pesquisa. Procede-se a uma revisio da literatura pertinente ao problema de investigagio e escolhe-se a orientagao tedrica (uma ou vérias) que dard suporte ao estudo. ‘Avalia-se se o problema de pesquisa ¢ fundamentalmente ligado & base quantitativa ou qualitativa Define-se 0 tipo ou os tipos de triangulagao a serem empregados: © triangulacSo de dados - a partir de diferentes momentos (tem- po), locais (espaco) ou pessoas (informantes). 1 situagée, "a ordem aqui apresentada nie & rigida, Pode, portant, er altereda conforme a 260 wéronos De esQUISH EM ADMNISTRAGHO adr ~ © triangulagio do pesauis he © iangulagi terica~definem-s as teovias a serem wt = fangulagio metodol6gica ~ definem-se as tmodaltdndes: rane Modo ou entre métodos;simulténes ou seqiiencil: 1 Define-se a amostra ou as amostras # serem selecionadas. J Definem-se os instrumentos a serem wtllzados pars coleta de dados. ; ji a dos dados, con- wfinemn-se 08 procedimentos para o tratamento dos dados, Sr" 3 Defines pets eszoldos eam a eles sere fizadas para a coleta dos dados. - . o oa ‘05 dados por meio da aplicagao de questions real - acl de entrevista, observacdo participante ow owtr0s P fos, simulténea ou seqiiencialmente. ‘Analisam-se 0s dads. _— 5 ‘Comparam-se 08 resultados obtidos por meio da triangulagéo dos oF ee do pesquisador, da teoria ou da metodologis. 3 Identificam-se as possiveis divergéncias. sewn det 1 Avalia-se a possibilidade de as divergéncias serem ‘goes metodolégicas. : da pesquisa. Registram-se as limitacbes . a atl-se a contribuigdo das divergencias pare o desenvolvimento Oe ovas perspectivas para 0 problema sob investigagao. que suscitou a investigacio. ita-se o problema | Oe Pen reaador aos com a) tenia ave deu(ram) suporte & investigacso. oF Formula-se a conclusiio. CF Elabora-se o relatério de pesquisa. define-se a equipe de pesauisa 6: os sbordagem qualitativa ou quant ‘Aescolha metodolégica, tanto por “uma at Ee a ade pelo IO sea qu vaereipos ce tangas, tne. gua Pr pi res emetic deve sr comtents, : soioldgica entre métodos, 28 Em estados amparados pela angles ae in ‘cuidadosamente selecion: St ames deve ja at nada ar propos qantas a cos para a selecio. ie demandam critérios probabilisticos para a s . Gh pinecente ao uso da estratépia de triangulacio aemergence ae aerate cias ow resultados contraditéros, Tl fave pode esa es ate fais devem ser registradas no rel fem por estado, a5 ss det je em estudo oe apresent de fora diesen smuncutagio 261 quando enfocado de diversos angulos, o que deve ser registrado nas discusses dos resultados. Interpretar a natureza de tais divergéncias é, portanto, ques- {io essencial para o entendimento do objeto em estudo. Exemplos da utilizagao da triangulacio 1 Exemplo 1: A internacionalizagao de um banco A estratégia de triangulacdo foi utilizada por Machado-da-Silva e Fernandes (1999) em uma pesquisa sobre 0 processo de internacionalizacéo do Banco Bamerindus. A internacionalizagao pode ser concebida como uma estratégia para a ampliagao do campo de atuagéo das organizagdes ou como ‘uma pressio ambiental geradora de mudanga estratégica nas organizacbes. Dois tipos de mudanca organizacional so sublinhados na literatura: as mudangas inerementais ou localizadas e as mudangas estratégicas ou amplas. Conside- rando a importancia de crengas e valores compartilhados em uma organizacéo, o estudo de caso teve como objetivo verificar o impacto do processo de inter- nacionalizagao nos esquemas interpretativos dos dirigentes organizacionais, no perfodo de 1989-1995. ‘A escolha do Banco Bamerindus para a realizacao do estudo de caso se deu, entre outros critérios, em virtude de sua expressiva expansdo internacio- nal a partir de 1990. Uma breve descricio do processo de intenacionalizacéo do Banco, iniciado em 1982, foi feita pelos pesquisadores. ‘Trés procedimentos foram utilizados no trabalho de campo, consideran- do as duas categorias relacionadas ao estudo: grau de intemacionalizagio e (5 esquemas interpretativos dos dirigentes. primeiro procedimento teve como objetivo medir o grau de interna- cionalizagéo do Bamerindus no periodo de 1989-1995. Para tanto, foi utliza- da uma adaptagéo, para o setor bancério, de uma escala proposta pela litera- ‘ura para medir 0 grat de internacionalizagao de empresas. O grau de inter- nacionalizagao € resultante do somatério de cinco componentes, quais sejam: ativos geracos por meio de operacées no exterior em relacio aos ativos totais do Banco (AEAT); ntimero de produtos ou servicos internacionais oferecidos pelo Banco em relacéo ao mimero total de produtos que os grandes Bancos transnacionais oferecem (PIPBT); patriménio do Banco no exterior em relacao a0 patriménio total (PEPT); dispersao psfquica das operagées internacioné (OPO!) ~ € atribuida pontuacao de 0,1 pela presenga de uma ou mais unida- des organizacionais em cada uma das 10 zonas psiquicas mundiais; experién- cia internacional dos dirigentes (EID) ~ medida em termos da proporcio do tempo de trabalho com atividades internacionais em relacdo 20 tempo de 262 uérovos ve rasquisa es ApnansrRAGHO 0 grau de internacionalizacio pode variar entre zero e cinco. No caso do Bamerindus, variou de 0,62 (1989) a 1,92 (1995). Os resultados revelaram um. crescimento do grau de internacionalizagao do Banco, ao longo do periodo. Esse crescimento, contudo, foi de natureza incremental. ( segundo procedimento consistiu na construgio de 14 mapas causais a partir da andlise dos relatorios semestrais da administragdo do Banco, no perio- do considerado. Foram identificados, nos relatdrios, conceitos classificados em 11 categorias, quais sejam: conceitos internacionais na érea internacional; conceitos internacionais presentes em outras reas; reduc de custos/produ- tividade; postura inovadora, criativa e atrojada; preocupacéo com clientes/ orientagao para marketing; postura frente ao risco; patriotismo; importancia atribuida & tecnologia; valorizacao do pessoal; conceitos utilizados para enten- dimento da conjuntura; outros. As relagées entre os conceitos foram ‘estabelecidas com base em nove categorias de codificagao propostas na litera tura: (a) afeta positivamente; (b) afeta negativamente; (c) nao atrapalha, néo evita, ndo é prejudicial; (4) nao ajuda, néo estimula, nao é benéfico; (e) pode, ou nao, estar relacionado a, afeta de modo indeterminado; (f) afeta de algum modo; (g) nao importa para, nfo tem efeito sobre, nao tem relagao com; (h) é ‘equivalente a, é definido como; (i) é um exemplo de, é um membro de. Para a construgao dos mapas, cada categoria foi representada por um simbolo. Os conceitos foram relacionados por meio de setas e do stmbolo correspondence a relagio. Foi identificada, em cada mapa, a freqiiéncia de cada conceito nas cate- gorias consideradas. A andlise dos mapas revelou o crescimento da importén- cia atribufda & area internacional. Enfase na redugdo de custos/produtividade foi observada no relatério do segundo semestre do tiltimo ano. Outros concei- tos como postura inovadora, orientaco para tecnologia, preocupacéo com clientes, postura frente ao risco, patriotismo e valorizagao do pessoal mantive- ram-se estéveis ao longo do period. Com base na andlise dos mapas, foram elaborados roteiros para a reali- zagio de entrevistas semi-estruturadas com dirigentes do Banco. Trata-se do terceiro procedimento utilizado na pesquisa de campo. A amostra, seleciona- dda com base em critérios intencionais, contou com o superintendente e com diretores de quatro dreas-fins do banco. Os resultados obtidos com a constru- ‘go dos mapas causais foram explorados nas entrevistas. (0 impacto da internacionalizacéo nos esquemas interpretativos dos diti- gentes foi, portanto, avaliado com base na estratégia de triangulacio. A andli- se conjunta dos dados revelou uma variacdo de natureza incremental tanto no grau de internacionalizacio quanto nos esquemas interpretativos, o que reft- ta a abordagem considerada pela literatura, segundo a qual a internacio- nalizago provoca mudanca estratégica nas organizagées. TancuLagko 263 Os pesquisadores levantaram algumas hipéteses que poderiam justificar cardter incremental da mudanga: (a) o envolvimento internacional do ban- co era, na época, um processo recente; (b) a prdpria evolugéo incremental da internacionalizagio do banco; (c) a existéncia de valores compartilhados que nfo se desenvolveram com 0 processo de internacionalizagao; a0 contriio, serviram como estimulo para a expansfo internacional; (d) as peculiaridades, do contexto institucional brasileiro. (J Exemplo 2: A qualidade do servigo de transporte piblico A triangulaciio foi utilizada por Cunningham, Young e Lee (2000) em uma pesquisa sobre a qualidade do servico de transporte piiblico. A pesquisa foi motivada pela crenga de que identificar e compreender as necessidades dos uusudrios, bem como a maneira pela qual eles avaliam a qualidade do servico, so questées essenciais para a gestao de servigos de transporte piiblico. Teve como objetivo delinear um quadro de referéncia metodol6gico, norteado pela estratégia de triangulagao, que pudesse ser utilizado em processos de men suragdo da qualidade do servigo. (Os pesquisadores optaram pela triangulacio de dados e pela metodolégica Dis estudos foram conduzidos com a participacio de usuérios do servigo de transporte puiblico e de operadores do setor. primeiro estudo, de base quantitativa, consistiu em um survey, com a aplicagio de questionérios estruturados, por telefone, A escala utilizada, de cinco pontos, incluiu categorias relacionadas ao grau de concordancia € discordancia, grau de importancia, entre outras. A amostra, selecionada com ‘base em critérios probabilisticos, foi estratificada por microrregiGes, tendo sido a regiéo alvo da pesquisa dividida em 15 microrregides. Participaram desta fase da pesquisa 2,020 usuirios e 135 operadores do setor. 0 questiondrio aplicado aos usudrios abordou 0s seguintes tépicos: (a) satisfagdo, de modo geral, com o sistema de transporte; (b) avaliagio da qua lidade e condigées do sistema, tais como: condigdes das estradas, manuten¢ao, congestionamento, entre outras; (c) importéncia de atividades como, por exem- plo, incentivos para carpooling,? melhoria do sistema de énibus, entre outras; (@ investimento em prioridades, tais como: transporte para idosos e deficien tes fisicos, construgdo de novas estradas, entre outras; (e) participagao dos usudtios no processo de decisio; (f) qualidade do ar; (8) carpooling. O ques- tiondrio aplicado aos operadores do setor incluiu os mesmos tépicos, redigi- 2. Otermo carpookin significa caro parilhado, ou seja, uma altemativa de transporte ‘que envolve dues ou mals pessoas em um de sus velculos privados para se deslocarem de umn axa de ocupagi dos veiculos. Ponto a outro, promavendo, assim, mal 264 —éropos ne ESQUISA RM ANMINISTRAGHO dos de modo a acessar a percepctio dos operadores no que se refere & opiniio dos usutios. Os dados obtidos nesta fase da pesquisa foram tratados por meio de tée- nicas estatistices. Os resultados dos grupos ustios e operadores foram anali sados comparativamente, Revelaram que, de um modo geral, os usuarios esta- vam mais satisfeitos com o sistema atual do que os operadores imaginavam. Entretanto, algumas diferencas de percepgo foram encontradas. O segundo estudo, de base qualitativa, consistiu na utilizagéo combinada da técnica de incidentes criticos e de grupos de foco. Teve como objetivo ex- plotar os resultados obtidos por meio do primeiro estudo. Uma parcela dos respondentes envolvidos no survey foi convidada para participar. Durante a realizacdo dos grupos de foco, os participantes do grupo “usuarios” foram in- formados sobre o resultado do survey, por microrregides. Tais resultados fo- ram discutidos, bem como outras questdes relacionadas ao tema, o que perm! tiu verificar por que usudrios de uma determinada microrregiéo do mais & fase a certas questdes do que a outtas. ‘Um dos prineipais assuntos relacionados & satisfagéo dos usuarios, emer- gente das discuss6es, foi a efetiva utilizagio dos recursos piiblicos. No que se refere & avaliacio da qualidade e condigées do sistema, o foco das discusses recaiut sobre quatto itens: manutengao, congestionamento, qualidade do ar seguranca. Com relagao a importéncla das atividades e ao investimento nas rioridades, foram enfatizadas a preocupagéo com a manutencéo e a melhoria ddas estradas e com os servigos de transporte para idosos e deficientes fisicos. No primeiro estudo, os usuérios foram questionados sobre o desejo de aumento ou reduefo dos investimentos relativos a diversos itens, 0 que resul- tou na indicacdo de 11 éreas para o aumento. Entretanto, nas discussées em grupo elegeram, em média, trés dteas prioritérias para aumento dos invest mentos. Os resultados sugeriram, portanto, que os operadores de transporte devem considerar as dreas julgadas prioritérias pelos usuarios, ao avaliarem os, investimentos em cada regio. Com relacdo ao processo de decisdo, os resultados do primeiro estudo foram confirmados, ou seja, os usuérios gostariam de ter maior participacso nos processos de decisdo, Outra questio bastante discutida foi a qualidade do ar. Os ustiérios revelaram que, & medida que as regides crescem, a qualidade do ar diminui significativamente. Essa questo foi tao enfatizada que alguns usuarios das dreas mais afetadas manifestaram apoio ao aumento de tributos para financiar programas de melhoria da qualidade do ar. Com relaco ao carpooling, as discussbes em grupo confirmaram os resultados do survey. Grande parte dos usuarios apdia a utilizacao do carpooling, considerado um meio para ‘minimizar 0 congestionamento e a polui¢ao nos centros urbanos. Entretanto, a construgao de pistas exclusivas para carpools nao recebeu apoio dos usd tos, em virtude dos investimentos financeiros necessétios rmanourcko 265 Em sintese, os resultados da pesquisa revelaram as reas do servigo de transportes em que os ustidrios estao, atualmente, satisfeitos ou insatisfitos, bem como a importancia e as prioridades de investimento em varios servigos. Para os pesquisadores, abordagens quantitatives e qualitativas devem ser com: binadas, permitindo, assim, delinear um quadro mais preciso no que se refere as percepeées e avaliagdes dos usudrios de servicos. Leituras para aprofundamento /OUNG, Clifford; LEE, Moonkyu. Methodological mn service quality. 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Bus- {quel alguns que jé tinha utilizado em pesquisas e vutios utilizados por pesqui sadores brasileiros e estrangeiros, mais aqueles do que estes, Hvidentemente, as escolhas no esgotam o acervo existente. De todo modo, moveu-me a cren: ca segundo a qual ha pesquisadores que em determinados momentos perdem 6 interesse em fazer descobertas que acrescentem algo 20 acervo existente, utilizando métodos recorrentes; assim, ter opgoes é algo interessante. Move me, igualmente, a erenga de que nao hd métodos indiscutiveis, definitivos. Enfatizei, também na apresentagdo do livro, que método e teoria so indissociiveis e ambos tém de ser congruentes com o problema que suscita uma investigagao, Interligar esses elementos de forma consistente,criativa, rigoro sa, apurada é tarefa do pesquisador. Como um artesdo, ele tem de ir trabalhando as suas descobertas, dando-Ihes forma, revelando suas facetas ocultas, pondo- se no lugar de um critico de sua obra. A tarefa é ardua, portanto. Apesar disso, seus resultados sao alimentos da alma do pesquisador. Eles a vivificam, Pesquisa é um processo de aprendizagem permanente. O pesquisador & sempre um aprendiz. E a humildade intelectual que deve ser propria de um aprendiz que mitiga suas hesitagées e suas incertezas, e que fecunda suas in- terpretagdes e reflexdes acerca do objeto de estudo, face a teoria que 0 orien- tou e ao método que wtilizou. No processo, espero ter contribuido com a apre- sentagao de 22 métodos colhidos na produgao cientifica de varios pesquisado- res, Exercitei meu papel de aprendiz, Bibliografia [AAKER, David A.; KUMAR, V.; DAY, George S. Pesquisa de marketing. Séo Paulo: ‘Atlas, 2001, ABBAGNANO, Nicole. Dictonéro de fllosofla, Sao Paulo: Mestre Jou, 1970. ACHUTTI, Luiz Eduardo Robinson. Fotoetnografia: um estudo de antropologia vi sual sobre cotidiano, lixo e trabalho. Porto Alegre: Tomo Editorial: Palmatinca, 1997. ALBERTI, Verena. Histéria oral: a experiéncia do CPDOC. 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