Professor Marcelo Milano Falcão Vieira Através de um estudo de caso , os autores abordam a questão do poder nas organizações, explicitando como o mesmo é exercido através de contradições como: amor/ódio, satisfação/insatisfação, segurança/insegurança. Também buscam compreender através de quais recursos a organização provoca essas reações contraditórias e a retomada permanente dessas contradições a fim de evitar conflitos. A mediação é conseguida através do alinhamento de fortes restrições a grandes vantagens oferecidas ao indivíduo. São apontadas contradições da luta de classes ( opõe trabalhadores e organização); contradições entre os próprios trabalhadores e Contradições intrapsíquicas do indivíduo, a estrutura de seus conflitos psicológicos. As organizações hipermodernas tiram uma parte de seu poder do fato de trazerem uma resposta às contradições psicológicas individuais e interindividuais. Os autores lançam a seguinte indagação: “Como explicar a integração dos executivos e dos trabalhadores na grande empresa moderna, a sobrecarga de trabalho, aceita e mesmo procurada por muitos, a aceitação de uma ideologia de lucro e de expansão, apesar dos conflitos e sofrimentos que os acompanham? “. Na minha opinião, atualmente, todos passam por momentos difíceis, de incertezas, uma vez que, a coletividade, representada pelos sindicatos, que lutava por melhores con- dições de trabalho, maiores salários, sofreu um grande enfraquecimento. Os trabalhadores estão, na sua grande maioria, mais submissos aos interesses empresariais, pois, não há competição apenas por postos de trabalhos mas pela própria sobrevivência. Com isso, me parece que a aceitação das regras, não é uma questão de escolha. As regras não são impostas e dependem da adesão dos indivíduos. Porém o cumprimento das regras é que mantém o equilíbrio. Pode-se jogar com suas regras, desde que essas regras sejam as regras do jogo ( aceita ou sai ). No final das contas, a empresa dá ao indivíduo a segurança que ele necessita para viver. O indivíduo sente sua atividade supervalorizada e, graças à organização, se sente participante de um processo social que o transcende e lhe permite identificar-se com o seu poder, mesmo que este o destrua. Os empregados sentem necessidade de preservar a qualquer preço a imagem gratificante que formaram de sua empresa para poderem conservar a fé que investiram nela. (Jamais culpa a empresa. A culpa é sempre do superior hierárquico ou assume um mea culpa). Ao ler a introdução e o dois primeiros capítulos, fiquei surpreso, para não dizer assustado. Coloco dessa maneira porque, praticamente, tudo aquilo que foi apontado em relação à contradições e mediações tem feito parte do meu dia a dia como profissional e eu não tinha me dado conta. As declarações inclusas nos textos são idênticas à declaração de colegas de trabalho, que se dizem insatisfeitos com a empresa mas que ao mesmo tempo agradecem por fazer parte da mesma. Particularmente nessa semana, fomos convidado a assistir uma palestra foi apresentado o código de ética da controladora ( Holding ). No início da apresentação, assistimos a um filme institucional, o qual é veiculado em todos os países que a empresa está presente. Na primeira cena é exibido algumas capas do código de ética editado em várias línguas, mas tendo o mesmo layout. Na apresentação do código, afirmam que o mundo atual, está em constante mudança, competitivo e acelerado, e oferece aos homens e mulheres de hoje uma variedade enorme de fatores de satisfação, tarefas e alternativas. Mas , também relata que tudo isso traz maiores responsabilidades a cada dia. Diante do expostos, consideram então indispensável estabelecer para todos os empregados as diretrizes básicas de conduta, querendo obter assim, o reconhecimento e a preferência do clientes. Desejam que as regras sejam claras para todo mundo, que se apliquem sem exceções e que estejam de acordo com esse “marco legal”. O código manifesta que a conduta ética se sustenta em uma responsabilidade individual. No final da apresentação foi solicitado que uma carta de adesão fosse assinada na qual declaramos ter recebido o documento e que estamos de acordo com o conteúdo do mesmo. Mais do que ideologia temos aqui uma forma de pressão explícita. É frustrante como o aumento do desemprego altera as relações entre o sujeito e a organização, intensificando o medo no ambiente de trabalho. Demonstrasse como o medo de perder o emprego, torna o trabalhador mais vulnerável e sujeito a formas de dominação e controle, e produz efeitos como o aumento do sofrimento, a neutralização da mobilização coletiva e o individualismo.
BIBLIOGRAFIA
1. PAGÉS, Max.... ( et al. ). O poder das organizações. São Paulo: Atlas, 1993. ( Introdução, primeira e segunda partes ).