Você está na página 1de 4

www.caravanapoetica.com.

br
Gonalves Dias

Lira


Se me queres a teus ps ajoelhado,
Ufano de me ver por ti rendido,
Ou j em mudas lgrimas banhado;
Volve, impiedosa,
Volve-me os olhos;
Basta uma vez!

Se me queres de rojo sobre a terra,
Beijando a fmbria dos vestidos teus,
Calando as queixas que meu peito encerra,
Dize-me, ingrata,
Dize-me: eu quero!
Basta uma vez!

Mas se antes folgas de me ouvir na lira
Louvor singelo dos amores meus,
Porque minha alma h tanto em vo suspira;
Dize-me, bela!
Dize-me: eu te amo!
Basta uma vez!




www.caravanapoetica.com.br
Gonalves Dias

No me deixes!

Debruadas nas guas dum regato
A flor dizia em vo
corrente, onde bela se mirava...
"Ai, no me deixes, no!"

"Comigo fica ou leva-me contigo
Dos mares amplido;
Lmpido ou turvo, te amarei constante;
Mas no me deixes, no!"

E a corrente passava; novas guas
Aps as outras vo;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
"Ai, no me deixes, no!"

E das guas que fogem incessantes
eterna sucesso
Sempre dizia, e sempre embalde:
"Ai, no me deixes, no!"

Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o cho,
Buscava ainda a corrente por dizer-lhe
Que no a deixasse, no.

A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torro;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
"No me deixaste, no!"




www.caravanapoetica.com.br
Gonalves Dias

Cano do exlio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabi;
As aves, que aqui gorjeiam,
No gorjeiam como l.

Nosso cu tem mais estrelas,
Nossa, vrzeas tm mais flores,
Nossos bosques tm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, noite,
Mais prazer encontro eu l;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabi.

Minha terra tem primores,
Que tais no encontro eu c;
Em cismar - sozinho, noite -
Mais prazer encontro eu l;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabi.

No permita Deus que eu morra,
Sem que volte para l;
Sem que desfrute os primores
Que no encontro por c;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabi.




www.caravanapoetica.com.br
Gonalves Dias

Soneto

Baixel veloz, que ao mido elemento
A voz do nauta experto afoito entrega,
Demora o curso teu, perto navega
Da terra onde me fica o pensamento!

Enquanto vais cortando o salso argento,
Desta praia feliz no se desprega
(Meus olhos, no, que amargo pranto os rega)
Minha alma, sim, e o amor que meu tormento.

Baixel, que vais fugindo despiedado
Sem temor dos contrastes da procela,
Volta ao menos, qual vais to apressado.

Encontre-a eu gentil, mimosa e bela!
E o pranto que ora verto amargurado,
Possa eu ento verter nos lbios dela

Você também pode gostar