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SEGUNDA TAREFA: Análise crítica do Modelo de Auto-Avaliação

O Modelo de Auto-Avaliação que agora analisamos enquadra-se na estratégia


global de desenvolvimento das bibliotecas escolares portuguesas. Depois de se
terem melhorado os espaços físicos, o mobiliário e o fundo documental, e de se
terem introduzido recursos tecnológicos, anteriormente inexistentes nessas
bibliotecas, é altura de avaliar o impacto do seu trabalho quer na escola em geral,
quer na aprendizagem dos alunos, em particular.
Além disso, estando igualmente a fazer-se uma evolução (que ainda precisa de
ser aperfeiçoada) no que respeita à afectação de recursos humanos, nomeadamente
com a criação da figura do professor- bibbliotecário, chegou a altura de pedir a
todos os que trabalham nesta “renovada biblioteca” uma acção devidamente
planificada e sujeita a uma auto-avaliação que permita tomar decisões quanto ao
caminho futuro, que se deseja melhor.
Trata-se de saber que benefícios se retira de todos esses recursos físicos e
humanos, ou seja, qual é o seu valor para os objectivos da escola em que se
inserem, para o Projecto Educativo dessa escola e para o sucesso dos alunos.
Esta auto-avaliação traduz-se num processo de reflexão sobre o trabalho
desenvolvido. É fundamental analisar a realidade, definir o que se deseja fazer ou
alcançar e planear como se chega lá. E tudo isto é dinâmico, é um movimento, um
processo que envolve tomar decisões consoante a conclusão a que se chegou ao reflectir
sobre o que se fez. As evidências servem para fundamentar essas decisões. Como
observa Ross Todd, passámos do “diz-me” para o “mostra-me”, acrescentando o mesmo
autor “If school librarians can’t prove they make a difference, they may cease to exist”.
Este Modelo de Avaliação integra princípios fundadores da IFLA, UNESCO e IASL e
a ele subjaz um conceito de Biblioteca que já não é apenas um “information place” mas
sim um lugar onde o utilizador se torna autónomo (self learning) na construção do seu
conhecimento não só enquanto estudante como ao longo de toda a vida (life long
learning) Ross Todd, na 68ª conferência da IFLA, em 2002, falando de uma
perspectiva construtivista, cita Wilson (1996) que defende que a missão central da
escola é “learning which emphasizes” meaningful, authentic activities that help the
learner to construct understanding and develop skills relevant to problem solving” . E
refere igualmente Hein (1991) que realça a ideia “ that learners construct knowledge
for themselves; each learner individually (and socially) constructs meaning as he or she
learns”. Pretende-se, portanto, que a Biblioteca contribua para o desenvolvimento
pessoal, intelectual e social do aluno.
Como salienta Mike Eisenberg, “A systems approach means looking at an
organization in terms of inputs, processes, and outputs”. Os recursos ou os processos
não marcam a diferença. Esta é revelada pelos benefícios, as mais-valias que eles
trazem à escola. É isto que será alvo de avaliação e não já a relação custo/ eficiência
como anteriormente. O que se pretende é aferir os resultados produzidos. E, segundo
este autor, os principais outputs de uma biblioteca são: “instruction, reading advocacy
and information management”.
E Eisenberg pergunta: “How can we ensure that students learn essential information
skills? How can we partner with teachers to provide meaningful learning
opportunities? How can we ensure that school librarians are central players in our
schools?” É aí que as evidências recolhidas podem dar um resposta e permitir chegar a
conclusões decisivas sobre a acção futura, para se conseguir acrescentar valor nas

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atitudes e competências dos utilizadores. Aliás, a prática baseada em evidências é usada
em outras actividades e organizações e tem já uma aplicação comprovada.
Para uma Auto-Avaliação sistemática das Bibliotecas escolares, este novo Modelo
tem, pois, um papel determinante, apresentando-se como um quadro de referência e um
instrumento indispensável para que elas possam incluir essa reflexão no seu
funcionamento. Ele está dividido em quatro domínios que, por sua vez apresentam
subdomínios:
-Apoio ao desenvolvimento curricular;
-Leitura e Literacias, Projectos;
- Parcerias e Actividades livres e de abertura à comunidade;
- Gestão da Biblioteca escolar
Cada domínio e subdomínio é apresentado num quadro com indicadores temáticos
que se traduzem em vários factores críticos de sucesso. Pode considerar-se que estão
em causa três áreas-chave:
- Integração da Biblioteca na escola e no processo ensino/ aprendizagem;
- Acesso e qualidade da sua colecção;
- Gestão da Biblioteca
No que respeita a esta última área, não posso deixar de salientar que, no meu
entender, ainda não estão tomadas as medidas legais necessárias para que haja uma
Equipa da Biblioteca que trabalhe quatro anos, a lutar por um Projecto ou Plano de
Acção com que se identifique, com um número de pessoas e de horas suficiente para o
muito trabalho que há a fazer, com formação para essas funções, com estabilidade e
coesão durante, pelo menos, um quadriénio. A mobilização da equipa, a motivação que
deve sentir, o tempo que tem de dedicar à Biblioteca, a necessidade de trabalho conjunto
dos diversos membros, entre si e com o coordenador, não estão garantidas nas actuais
condições de funcionamento.
Ao professor- bibliotecário atribui Ross Todd um papel de liderança significativo:
“informed leadership, purposeful leadership, strategic leadership, collaborative
leadership, creative leadership, renewable leadership, sustainable leadership”. Parece-
me, pois, muito o que se espera do professor-bibliotecário e isso reforça a minha
convicção da necessidade de se rodear de uma equipa com as características já
enunciadas.
Quanto à aplicação à realidade da escola, é fundamental analisar a realidade, definir
o que se deseja fazer ou alcançar e planear como se chega lá. Concordo com Mike
Eisenberg quando diz que o professor bibliotecário deve traçar uma estratégia porque
é isso que permite transformar a visão em realidade. “Strategic thinking is a way to
approach problems and opportunities”, diz o autor, salientando também a necessidade
de haver flexibilidade para ir mudando e adequando. Pelo que conhecemos, agora,
penso que muito terá de se fazer para mudar mentalidades e práticas arreigadas. O
trabalho colaborativo, a “abertura das portas da sala de aula”, a articulação necessária
entre os vários agentes de ensino para que se unam esforços em prol do sucesso dos
alunos levarão algum tempo a acontecer de forma plena. Concordo plenamente com o
Texto da sessão quando diz que o Professo-bibliotecário deve “comunicar
permanentemente”, com alunos, com professores, com as estruturas da escola, com toda
a comunidade escolar
O Modelo de Auto-Avaliação será aplicado por etapas, tomando em conta o contexto
em que se insere a Biblioteca. Os instrumentos de avaliação que o Modelo prevê
(questionários a professores, a alunos…) serão aplicados a um domínio em cada ano, até
se completar a sua aplicação nos quatro domínios referidos, no final do quadriénio. Os
resultados, que vão ser divulgados e discutidos com o Director e as estruturas

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pedagógicas da Escola, servirão para tomar decisões sobre o futuro, com vista,
naturalmente a melhorar as práticas e os benefícios que delas se podem colher. Não sei
se é muito importante “ adquirir vantagens competitivas face a outras bibliotecas”,
porque me parece mais importante a cooperação do que a competição.
Para finalizar, apenas uma observação: a avaliação da Biblioteca tem a ver,
certamente, com a avaliação interna e externa da Escola, sendo, como é, um dos seus
recursos que se insere na acção tendente a alcançar os objectivos do seu Projecto
Educativo. Mas parece-me exagerado atribuir, como Todd, um papel crucial ao
professor- bibliotecário “in boosting student achievement, in shaping important
attitudes and values, in contributing to the development of self-esteem, and in creating
a more effective learning environment”. É esperar demais de uma só pessoa. Crucial,
para os objectivos enunciados, continua a ser o papel dos Professores e dos Directores
de Turma. O protagonismo dado ao Professor- bibliotecário, na citada afirmação, quase
sugere que, de repente, se descobriu o santo milagreiro para resolver todos os problemas
dos nossos estudantes.

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