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ISSN 1678-7471 AGUA VIVA Revista de Estudos Literarios ‘Niimero 02, Brasilia janeirosjunho de 2003 Segido especial temética: Ass fronteiras da poesia Sylvia H. Cyntréo Anténio Donizeti Pires Elga Pérez Laborde Alexandre Pilati Simone Silveira de Alcantara Vanda Inés da Silva Pazos Carlos Magno Gomes Paulo Henrique Brandao Segéo livre: Salma Divina da Silva Stella Montalvao Daniela Bordalo Duarte Adriana Custédio Viviane Fleury de Faria pr “Q Espartilho”, de Lygia Fagundes Telles: identidade e preconceito Stella Montalvo" © preconceito ¢ 0 conseqliente processo de discriminagao, em suas di- versas manifestagées,tém sido, ora de forma velada, ora expicita,tematizados nas mais diversas expresses antstias, inclusive nas manifestagdes literrias. Tnserido em um campo de relagSes de poder, 0 ser humano revela-se na leita {que faz do mundo que 0 cerca, a partir das representagdes que faz de sie do. ‘outro, Assim, na sentido de construir sua identidade, entendida como "esse ser percebido que existe fundamentalmente pelo reconhecimento dos outros.” (Bourdieu, 2001: 117), 0 ser umano busea estabelecer arbitrariamentediferen- ‘gase semelhancas, que ocoloquem em posiglovalorizada na sociedad em que vive. iversos slo 0s ciemtistas socials que, desde a década de 60, tém se cconcentrado na busca da compreensio das raizes que sustentam 0 fendmeno da ‘construgio da identidadee do proconceito. Neste trabalho, serd0 tilizados, como base teGrica, os conceitos de marcas de distingdo, poder simbélico e violencia Simbélica do francés Piete Bourdieu ¢ os estudos Sobre as relagGes de comuni- {dade que se estabolecem em forma de grupos estabelecidos © grupos outsiders do alemao Norbert Elias. Assim, este trabalho pretende tematizar os processos. ‘de construgio da identidade e do preconceito presentes no conto O Espartitho ‘de Lygia Fagundes Teles, centrando-se na forma como sio construfdas a petso- nagens e suis iner-relagtes no sent de desvelar esses processos. (0 conto & construdo em tomo das relagdes diretas entre tes petsona- ‘gens na década de 40, em plena guerra mundial: a avé, matriarca de uma famiia tradicional ede posses, extremamente preconceituosa; Ana Lufsa, a neta adoles- Cente que é criada pela av6, posto que seus pais morreram quando ela € ainda ‘meninay e Margarida, agregada negra da famfliaeafihada da avG, também ado- lescente © que trabalha em sua casa. As relagdes estabelecidas entre elas sio ‘mareadas peas convenges, “espatithadas” num sistema que asoprime, so mesmo tempo em gue Thes oferece uma certa seguranga. ‘O texto 6 narrado por Ana Luisa que deixa claro, desde o inicio, as divi- das que enfrenta face a sua percepedo de que 0 “retrato da sua familia est repleto de suspenses e segredos, principalmente no que se refere sua mae, de em Amer que screen a Bi de Mow Siar ela tem lembrangas vagas ede quem mio recebe nenhum tipo de referén- - pois av mantém reservas evidentes em relagio ao assunto, Esses segre- dos Ihe so revelados por Margarida, enraivecida, no momentoem que Ana Luts ‘tai sua confianca erevelaa sua avé a intengio daquela de namorar um estudan- te de Medicina, paz branco ¢ de posses, no que impedida, Revela-se, entio, entre outros segredos familiares, 0 fato de que a mie de Ana Luisa era judi ‘que desestrutura as relagGes entre as ts personagens. Ana Luisa passa, entio, [por um confit entre a seguranca do sentimento de pertenga e a percepetio de ‘suas diferengas em relagdo ao grupo ao qual “deveria™ pertence Este trabalho esti estruturado em cinco partes fundamentais: © grupo ‘estabelecido, em que se destaca a forma como familia tradicional apresenta-se ‘como um grupo estabelecido,construindo suaidenidade eestabelecendo formas pra garantira fidelidade daqueles que pertencem ela; os grupos marginalza- {dos - 0s outsiders, em que se destaca a posigoinfligidae assumida pelos judeus ‘cnegros, em relago ao grupo estabelecido, com énfase na construso de suas ‘dentidades em conflito com as representagGes jd estabelecidas; as marcas de dlistinglo, em que se destacam as caracteristicasimpingidas aos negros-ejudeus {que acabam por estabelecer a distingio entre estes ¢ © grupo estabelecido: a aceitagio do preconceito - poder e violéncia simbélica, em que se analisam os ‘mecanismos que fundamentam o preconceito e que fazem com que 0 proprio

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