Argentina extingue Justia Militar e libera soldado gay
Reforma garante ainda independncia de opinio
THIAGO GUIMARES DE BUENOS AIRES A Argentina ps em vigor ontem reforma da Justia Militar que acabou com os tribunais especiais para militares e com punies a homossexuais nas Foras Armadas, alm de eliminar a pena de morte do ordenamento jurdico local. A partir de agora todo militar que cometer crime comum ser julgado em tribunais federais, por juzes civis, e fica extinto o Cdigo de Justia Militar de 1951. A nova lei foi aprovada no ano passado pelo Congresso e demorou seis meses para entrar em vigor. As mudanas integram o conjunto de medidas que o ex-presidente Nstor Kirchner (2003-2007) impulsou durante seu governo, que teve o julgamento de repressores da ditadura (1976-1983) como principal bandeira poltica. Orientao que vem sendo mantida por sua mulher e sucessora, Cristina Kirchner. " um passo adiante na Argentina e na regio rumo ao controle civil das Foras Armadas", afirmou Folha o diretor-executivo da ONG Cels (Centro de Estudos Legais e Sociais), Gaston Chillier. Para Chillier, com a nova legislao a Argentina se coloca em um campo oposto ao do Brasil, onde a Justia Militar ainda dispe de grande autonomia para julgar os crimes de militares, o que enseja crticas de corporativismo. Muitas das normas agora extintas na Argentina j no estavam vigentes na prtica -o ltimo caso de militar submetido a pena de morte, por exemplo, ocorrera em 1956. Militares que praticassem atos homossexuais continuavam, contudo, sujeitos a expulso da corporao ou priso por at dois anos. A nova legislao tambm impe alteraes no sistema disciplinar das Foras Armadas. O militar passa a ter direito a advogado particular e a independncia de opinio. As mudanas tiveram origem no caso do capito da reserva Rodolfo Correa Belisle, que testemunhou na Justia comum contra superiores no caso da morte do soldado Omar Carrasco, em 1994, e foi condenado pela Justia Militar a trs meses de priso. O episdio da morte de Carrasco, dentro de um quartel, foi determinante para o fim do servio militar obrigatrio na Argentina. O caso Belisle foi levado Comisso Intermericana de Direitos Humanos em 1997 por um grupo de advogados, que denunciaram a violao de direitos do militar. A Argentina negou as acusaes at 2004, quando passou a negociar "soluo amistosa" com a comisso, concretizada na reforma do sistema de Justia Militar Fsp280209