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Enganamento Edno Gonalves Siqueira

J basta no ter o que fazer que valha o fazimento para que outros, que sofrem desse acaso
comum, deixem seus espaos ocos e se atirem invaso de casarias de igual terror interno.
Mas, esse espacicio sagrado porquanto o hbito de coisa ruim chega a um ponto to
intenso de desprazer que se renova de velho em satisfao; nica sada que converte o tdio
morrente em pedacigalha de prazer. nico exorcismo capaz de expulso da inrcia estagnaaborta da boca murcha de sentido. Se a boca fala do que alma transborda, a boca intil se abre
num corpo desalmado. Chegam outros que se aproximam. Saram em seus tmulos mentidos
sobre o milagre de abrirem seus sepulcros: salvao pela lpide que jorra tambm nada sob o
engano da importncia. Presta-lhes ateno somente os iguais. E os cadveres conversam.
Dessa forma foi-se aperfeioando no ofcio do desmentindo como se dissimulasse de si
mesmo, para consigo mesmo de sorte que ningum pudesse mais interpel-lo, ou interromplo, pois se punha a dispensar uma tal ateno ao que nada fazia que a todos, seu nada era tudo
o que lhe importava, com tamanho zelo que o mais desavisado zumbi o evitava
respeitumularmente. Especializou-se em atribuir importncia a nada. Arte de falseabilidade,
disfarceamento, encobertamento, encobrimento, mascaramento, tapeamento. Inicialmente
era amuleto de repelimento e expulsao; depois virou potica contra o cheiro de morte;
depois virou vida que nasce do olho caolho que goza s. Arte de engano alheio do engano
prprio.

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