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Erminia Maricato As idéias fora do lugar eo lugar fora das idéias Planejamento urbano no Brasil* o mercado é entendido como o lugar onde voct exercita 0 seu direito ea sua capacidade de escolhs. A periferia nao formou mercados¢ portanto nao formon o lugar da auto- nonia (Oliveita, 2000, p. 5). Thatavacse de entender a funcionatidade ea crise das for- mas “atrasadas” de trabatho, das relagées “arcaicas” de clientelismo, das condutas “irracionais” da classe domi- ante, bem como da insercdo global e subordinada de nos- saeconomia, tuclo em nossos dias (Schware, 1999, p. 98)- “As idéias fora do lugar e o lugar fora das idéias” foi uma frase cunhada pot Francisco de Oliveira, como integrante da ‘banca do concurso para professora Titular da USB, ao qual eu ime submeti em 1999. Foi com essa frase que o hicido professor resumiu o conteiido daminha aula que versavasobre 0 descola- ‘mento entre as matrizes que fundamentaram 0 planejamento ¢ a legislagéo urbanos, no Brasil, a tealidade socioambiental de nossas cidades, em especial o crescimento da ocupacao ilegal ¢ so cunhada pelo p ico entre as reflexes des Eemfaia Maries das favelas. O urbanismo brasileiro (entendido aqui como pla- nejamentoe regulacdo urbantstica) nao tem compr comealidade concreta, mas com uma ordem que. a uma parte da cidade, apenas. Podemos dizer que se trata de idéias fora do lugar porque, pretensamente,a ordem se referea todos 08 individuos, de acordo com os prine{pios do modernis- mo ou da zacionalidade burguesa. Mas também podemos dizer que as idéias esto no lugar porisso mesmo: porque classe apli- am a uma parcela da sociedade reafirmando e reproduzindo desigualdades e privilégios. Para a cidade ilegal nao ha planos, nem ordem. Aliés ela ndo é conhecida em suas dimensdes e ca” racterfsticas. Trata-se de um lugar fora das idéias. 1. Introdugao Acexclusio urbanfstica, representada pela gigantesca ocupa- <0 ilegal do solo urbano, égnorada na representacao da “cida de oficial”. Ela nao cabe nas categorias do planejamento moder- nista/funcionalista pois mostra semelhanca com as formas urba- nas pré-modernas. f possivel reconhecer nas favelas semelhan- ¢¢as formais com os burgos medievais'. Ela no cabe também no contexto do mercado imobilidio formal/legal, que corresponde aq urbanismo modernista. Ela no cabe ainda, de modo rigoro- s0, nos procedimentos dos levantamentos elaborados pela nossa maior agéncia de pesquisa de dados, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia ¢ Estatistica) E, por inctfvel que parega, 0s 6rgios municipais de aprovacdo de projetos, as equipes de urbanistas dos governos municipais eo préprio controle urbanistico (Gervi- 60 piblico de emissio de alvaras e habite-se de construcbes),fre- qlentemente desconhecem esse universo. Mesmo nas reptesen- tages cartogrificas é de habito sua auséncia, A semellianga formal ence o burgo medieval eas favclas wrbanas foi ce! ‘du.em palestras na FAUUSP, por diversos azquitetos, dentre os quais Laura Machado de Mello Bueno (que elabora tese de doutorado sobr nizagie de favelas na FAUUSP, 2000) e o Prof, Paula Bastos que rec primeico prémio de ucbanismo da Bienal [nrernacional de Arguitet Sao Paulo, 1999, apresentendo um projeto de urbanizagto de favelas we AS IDEIAS FORA DO LUGAR F O LUGAR FORA DAS IDEAS O mesmo acontece fas universidades, que sac la conceituacio reificada de arquitecura ou da eerie U6gica da cidade, Os legislativos mantém com ence ovens lma relagéo muito funcional, é que as anistias periddices ne Sando aregulatizagso de iméveissio alimento fecande dvceh fio clenteista. A ileglidade é portant funcional posters, lates eas arcalas, pata um mercado imobilidrio reerito especulativo, para aaplicacto arbitrévia, corde co SRS iatvo, para aaplicato arbitra dae, deacordo com Dependendo do ponto de vista, no entanto, ele é muito dis al: para a sustentabilidade ambiental, para as relache democriticase masigualitcias,paraa qualidade deine ee FuzParaaampliacio dacidadania, Asegregacéo territorial eve. (loss corolérios que aacompanham ~faltade saneameniosn. biemtal,siscos de desmoronamentos, risco de enchente sen lencia ~ esto a ele vinculados. : ‘Apos: lo € meio de vida, a macriz de pl arde 2), que orientouo tr eimento dascidades dos patsescentraisdo mundo capitalis. &3, passow a ser desmontada pelas proposias que acompanham a reesteutu do sécalo XX. Em se tratando de paises da semiperifer Como Eo caso doBrasilede outros paisesda América Latina, ese model te, finidor depadrées holisticos de uso e ocupagao do anle, apoia- donacentralizacio e na racionalidade do aparclho de fn foiaplicado aapenas uma parte das nossas grandes ciladn ct chamada cidade formal ou legal. Ai : chamado “ ” iejamento | Freinis Maca reproduzindo model modelos esses que Estamos nos referindo a um processo politico ¢ econémico caso do Brasil, construiu uma das sociedades mais desi rromento de dominacio ideo! sica: ele contribuiu para ocultar a cidade real e para a formacao aparato técnico corporativo, ou a burocracialigada a aprovagao deprojetosecédigosde obras, nao passa de um subproduto, nes- imentando-se da defesa de seu micropoder. sque as cidades be 5 graves. Nao é também, neces lade desses planos, masporque seu ipais, que seguem interesses tradicionaisda ficos ligadk de plantio, investimentos que nao obedecem a nenhum plano explicito. ‘Como convéma um pais onde as leis sio aplicadas de acor- do.comas circunstancias, ochamado Plano Diretor esta desvin- culado da gestao urbana, Discurso pleno de boasintengSes mas ‘onceitos reificados, reafirmadosem semi- ignoram a maioria da populagio. A habi- o transporte piblico, o saneamento ¢ a drenagem mo status de temas importantes (ou centrais, como deve- ASIDEIAS FORA DO LUGARE O LUGAR FORA DAS IDELAS ) para tal urbanis bano para alguns, mereado para al nnidade para alguns, cidadania para ‘Neste texto pretende-se aborda do urbanismo modernistaifuncional ectos de sua implementagao no Bras vai chamar a atencio para a cidade que se des laxgo das eis e dos planos, embora nao ignora bana que a mantém refém de um processo de tr Em ambos 05 casos, a reestruturacio produtiva do fi culo XX estara presente, acarretando mudangas si embora menos apotesticasdo que muitos argumenta dangana matriz do planejamento urbano é parte des to de mudangas, Finalmente, vamos tentar responder a algumas perguntas aqui colocadas as para esse destino que pare- ce fatal. Quando as elites nacionais abandonaram a busca dos ‘mesmo no discurso, havers said para a do planejamento urbano? \ejamento ur- is moder- ismo gi : = 1945 4.1975 ~,perfodo que é chamado por alguns autores de tz, 1992, 1996; Mattos, 1997) ou , 1998). De fato, durante esse periodo, litas lograram criar aquilo que Fiori repua “uma das obras insttucionais mais complexas e impressionan- tes que a humanidade conseguiu montar”, resultado da ade- quagio do processo de acumulacio capitalista ao avango da dos dados qu forneceetnos ns adant, ve adeno meres 1s Erminia Matesto Juta dos trabalhadores (Fiori, 1997). © Estado combinou con- trole legal sobre o trabalho com politicas que Ihe asseguraram elevagao do padrio de vida. © perfodo foi marcado por um grande crescimento econdmicoacompanhado, deumlado, por uma significativa distribuicdo de renda ede outro por um maci- go investimento em pol Do modernismo, esse pl jamento urbano ganhou a he- ranga positivista, a crenca no progresso linear, no discurso un versal, no enfoque hol Da influéncia keynesiana e for ta, 0 planejamento incorporou o Estado como a figura central Para assegurar 0 equilibrio econdmico e social, ¢ um mercado de massas. A matriz tedrica que alimentavao plan paises capitalistas, mas ndo s6 nestes, como também nos pafses socialistas, e que embasou o ensino e a prética do planejamento urbanoe regional na América Latina, atribufa ao Estado 0 papel de portador da racionalidade, que evitaria as disfungdes do lo, como o desemprego (regulamentando © trabalho, promovendo politicas sociais), hem como asseguraria o desen- volvimento econdmico e social (com incentives, substdios, producio da infra-estrutura, regulando precos, produzindo di- retamente insumos bisicos para a produgio etc.). ot Segundo Veltz, a ocupacao do territério (politica de des- concentragao) constituiu uma parte importante da estratégia do desenvolvimento monitorado pelo Estado, complemen- tandoas politicasdirigidas 4 produgio (taylorismo) ¢4 macro- ‘economia (fordismo). nejamento territorial teve um desenvolvimento ink iosos”, mostrando inclusive fortes repercu ‘ses na América Latina, com as atividades da CEPAL. No Br > Furtado tentou colocar em prética va proposta deconti- | anga na técnica do planejamento, aliando as pesquisasacadémi- cas as atividades de planejador e administrador, quando dedi- cou-se a0 desenvolvimento do Nordeste, sua regiao de origem, | durante trés governos federais: Juscelino, Janio e Jango. Mais tarde, sob novo prisma ideolégico, mas ainda sob a égide do Estado interventor, durante o regime militar, o planejamento \ 126 AS IDBIAS FORA DO LUGAR 0 LUGAR FORA DAs IDEIAS urbano conhecen seu perfodo de maior d. scinicia com a elaboragao da PNDU-Polft senvolvimento Urbano, integrante do Ii PND - Nacional de Desenvolvimento, de 1973. As especificidades que «: tizam o processo de planejamento no capitalismo semiperiféti- £0, caso do Brasil, serdo tratadas mais adiante. Vamos continuat a perseguir uma rapida s{ntese do planejamento modernis- ‘a/funcionalista, que alimentoua regulacio urbanistica nos paf- ses centrais, buscando suas origens recentes, Bebendo nas fontes de alguns pioneiros da segunda metade do século XEX, os congressosinternacionais de ar rquitetos, ocor- tidos nas primeiras décadas do século XX, defi tos fund: do urbanismo moderno. A CIAMSs (1928/33) foi mais comprometida cor ciais, contribuindo para asolugio dos “problemas scapitalis nespecialo problema da Em resposta ao crescente movi wétio eA demanda Por moradia, os arquitetos responderam com inovac tasde 10 nao significon redugio de pa- drdes vigentes, ao contrario, significou dar um padro aceitével para todos, considerando a grande dimensio da caréncia, Foi no 2° CIAM - desenvalvido sob o lema da “Habitagio para 0 mfnimo nivel de vida’ — que essas quest6es foram mais debatidas, sob a lideranca de Ernst May. A célula residencial, onto de partida da nova proposta, previa um novo desenho Paraacozinha, considerandoa mudanga do papel da mulher na sociedade, os novos produtos industriais domésticos (apate- Those alimentos), as novas instalagées prediais, Ainda vineula- daa essa evolucdo da familia e da sociedade, parte das fungoes domésticas foram transferidas para o equipamento social, 2car- retando.a mudanga da relagao pablico/privado e na configura- Gao das cidades. 02° CIAM foi o. age vimento internacional de arquitetos Erminia Marieto vida dos trabalhadores. A partir daf, o movimento fez tima in- flexio, ganhando peso ma orientacéo mais formslista e mais srocesso de a lacdo capitalista’, dos rumos tomados pelos CIAMS, u tivamente perseguida pelas polfticas ptblicas, a partir de dos dos anos 1940, ca da base fundidria, en utras medidas. Para assegurila, os paises capitalistas centrais fizeram uma * gu truturantes: foi integrado na citculagio do capital; em outras palavras, a propriedade e as rendas fundidrias mereceram forte regulagio estatal), extensio das infra-estrutu iades de produgéo em mass ‘(Masstah, 1995). Essas c outras medidas assegura- rama regulagio entre o saldrio eo prego da moradia, nao s6 +vés do aumento do poder de compra dos assalariados, producto massiva de moradia e, conseatientemente, de transporte, saneamento, servigos pablicos etc. A produc afses I portan: te notar, porém, que essa atuacio néo € desprovida de un justificatva, a0 contréro, ela costuma apoierse na propos muito difndida (ecaraaos neocléssicos),deyue eritério priors tirio seriao daeticiéncia econdmica de 1999, p. 47). Essa argumentacio constitui a versio urbynistica da “teoria do bolo”, segundo Martim Smolka: primeity crescer para de- pois distribuir (Smolka, 1995). Até mesmo gorernos municipais de esquerdase deixam levar por essa argumettagio tao presen- te durante o regime militar. Na verdade € a valorizagao das propriedides fundidrias ou imobiliérias o motor que move e orienta a licalizacéo dos in- wy Enmlais Maricato vestimentos paiblicos, especialmente na circulagéo viéria. Hé uma simbiose entre a abertura de grandes vias e a criagio de oportunidades para o investimento imobilirio. Trata-se de obras que so mais imobilidrias que vidrias, no dizer do urbanis- ta Candido Malta Campos Filho, jé que a logica do seu tracado ‘nao esté apenas, es vezes, nem prineipalmente, na necessidade de melhorar os transportes, mas na novas frentes (localizagées) para o mercado imob Ita renda. Talvez mais do que a l6gica da circulagao baseada no veiculo in- dividual, o que orienta esse tipo de investimento sejaalégica da ‘Mesmo uma anélise superficial permitiré identificar essa dindmica presente na construcao das novas centralidades em cidades como Rio de Janeiro (Barra da Tijuca) e Sao Paulo (Av. Berrini—Av. Aguas Fspraiadas). Anovacentralidade de Fortale- zaavanca na ditegio do “Beach Park” e até mesmo na cidade de ‘Sao Luis, que apresenta alguns dos piores indicadores soci: do pats, ganha destaque o investimento estadual vidriofimol liério, viabilizando a exploragio de glebas litoraneas pelo mer- cado imobilidrio hegeménico. Sao todos exemplos dos anos 1990, masa tendéncia € anterior e combinou-se a0 crédito far- to do SFH nos anos 1970. Maria Brandao mostrou como a ex- tensio do sistema vidrio de Salvador mudou o mercado fundia- rio e como, na década de 1970, com a ajuda do Sistema Finan- ceiro da Habitacio, reorientou 0 ccescimento da cidade ¢ a apropriagio doambiente construido, mudando completamen- te o rumo da capital do Estado da Bahia, A gestio de Paulo Salim Maluf na prefeitura de Sao Paulo (1993/96) foi exemplar nesse sentido. A maior parte das megaobras destinadas a ampliar o espago de circulacio de veiculos concen trou-se especialmente na regia Sudoesce do municipio. Essa regio forma uma mancha continua de moradores de alta renda. Em 11 obras vidriasa prefeitura gastou (ou deixou como divida) a fantast- de aproximadamente RS 7 bilhoes. implesmente, de perseguiramelhoria ada, mas, principalmente, de investit captagio das rendas fundiaria e ‘de suas conseqiiéncias 0 au- AS IDEAS FORA DO LUGAR B 0 LUGAR FORA DAS IDEIAS itos de um mercado que, e c de distingac, Ao invés de priorizar o cardter piiblico e social dos investi- ‘mentos municipais em uma cidade com gigantescas caréncias, 0 governo municipal o fez de acordo com interesses privados, em especial de empreiteiras de construgao pesada e agentes do mer- cado imobilidtio. O espaco privilegindodo mercado imobi para as pr6ximas uma ou duas décadas, na cidade de Sio Paulo, é © entorno do Rio Pinheiros, onde se concentram pesados inves- timentos publicose privados, Af se concentram também as sedes das grandes multinacionais ou empresas nacionais como € 0 caso da mega-sede da Rede Globo de Comunicagao. A tea apresenta uma dasmaiores concentragées de helipontos do mundo (rercei- +rolugar, ficando atrés apenas de Nova lorque e Téquio), j& que o deficiente trafego vidrio da cidade de Séo Paulo, apés todas as megaobras feitas, nao condiz com a eficigncia que se exige da nova centralidade, tipica da chamada globalizacio. Muitos urbaniscas justificam esses investimentos pela cha- mada “teoria do bolo": essas localizagées teriam maior pote cial de atrair, por efeito sinérgico, outros investimentose novos empregos do que se esses investimentos fossem feitos na perife- ria onde nio teria o mesmo efeito reprodut De fato, Paris logrou reconquistar o espaco perdido, de ca- pital cultural e turfstica da Europa, nosanos 1980, por meio de uum fantastico investimento que teve como nticleo estratégico hove megaobras culturais". Essa bem-sucedida reversio do de- 3B TOA o governode Francois Mi icioawm plano de gran- des brasesrategicamentelcglizadns nae ga elas Mr se«'Orsy, Grande Louvre, Opera da Basha, Atco de La Defense, Minis ‘tro das Fnanges, Cidade da Misia e Cidade day Gloncas da Ind ambas noParquede La Ville Insure do Mundo Arabe, tm toda mua fist téria Pais foi manejada para ser uma cidade espeticulo como atta oto sai do Museu do Louvee at o Arco de La Belense (a primeira corso Eino €doséeulo XIL ea slima d final do sécalo XX) one 8 eifcios emanescentes ds pci Pais, ver texto de Osfa rants este e: "Uma Estraté Erminia Marieno clinio que atingiu Paris se dew antes do mundialmente divulga- do caso de Barcelona e muito antes dos casos de Berlim ou Bos- ton, ainda em andamento, Mas que ninguém se engane, nestese noutros casos semelhantes, somas gigantescas de recursos pti- i dade em torno das famosas “parcerias” com o capital privado. Além disso, apesar de nenhum desses casos apresentar uma situagao de segrega~ cao, pobreza ¢ exclusio territorial que nossas grandes cidades apresentam, as politicas soci ibém receberam investimen- tos significativos, paralclamente aos megaprojetos. Eles foram diminufdos na conjuntura dos anos 1980 ¢ 1990 mas partiram dabase de pleno empregoe politicassociaisaltamentesubsidia- das, situacdo bastante diversa da brasileira. ‘Nos Estados Unidos, ascidades que implementaram planos urbanisticos renovadores com sucesso, como por exemplo Bos- ton, Washington, Miami, entre outras, nfo apresentavam he- ranga arquitetOnica tio significativa quanto as cidades euro- péias. Massuas andlises mostram semprea mesma vultosasoma de recutrs0s piblicos aplicadas em consonancia com um merca- do privado muito dinamico. ‘No Brasil, os exemplos referidos, especialmente aqueles de construcéo de novas centralidades, mostram que investimentos piblicos transferem renda para. mercado imobiliério de alto padrao, em Areas pouco ocupadas, enquanto caréncias basicas de grande parte da populagio j assentada nfo merecem aten- resultado dessas praticas, para evitar a repetiglo ex: 2s mesmos erros. Apenas os erros, e nic as avaliag vamos a0 dissertar su islagbes que acompanharam as politicas para corticc por exemplo. Para problemas, se for impossivel ignord-los, destacar o lado posi- tivo, j& que constituem sempre oportunidades de mudar o jogo. diticos, como den Mas o quese quer questionar é mais a forma como esses cont tos so incorporadbs pelas instituigGes ¢ pela sociedade brasil ra do que a esséncia dos mesmos. Algumas propostas sio has- conta o fosso que separa as idéias da pratica e também o Fossiy tante interessantes ¢ constituem fonte de ligdes quando o dis- que nos separa dos pajses centrais. A ‘ov ajudar ae iemo. soda Talvez, antes mesmo do exercicio de definigio de «: nhos,caiba a diavida sobre acapacidade de a sociedade bras ra seguir planos urbanos, no inicio do século KXI, apés: sideragées feitas anteriormente. A elaboragao de plan¢ nos implica exercicios de conscrugéo hegem@nica e sua in ‘mentago na consticuigio de pactos sociais minimamente d douros. Pelos mesmos motivos, cabe levantar diividas modernista carrega o risco de idéias neoliberais de flexibilizagéo da regulamentagio. quedefenderas praticas que at estio. muito depr tir contradit6ria e alienada absorgio de um model do ¢ depois absorver também de fora sua propria critica, para ccficdcia de instrumentos urbanfsticos legais a sercm proposte» ida colocar, sem mediagdes, outro modelo no Ingar. A quando a experiéncia histérica mostra exemplos abun critica ndo impede de enxergar que o planejamento modernista de faléncia das leis que contrariam interesses pode garantiu boa qualidade de vidaauma parte da populagio dasci Por outro lado, conhecendo a realidade dades (que é exatamente aquela camada de rendas médias ¢ al- cesso de urbanizagao no Brasil, out Ermina Marieaso Huat a dindmica atual, excludente, predatéria e marcada pelo desperdicio de recursos, quais sero 0s cendrios das nosece dades na préxima década? Existe outra opcéo que nao asio planejada, tanto para a recuperacio da cidade degradada ‘quanto para alguma orientacao do crescimento future “planejamento urbano” (Villa E endente confianga no planejamento como dora para o caos em que se encontram as noseas cidades, Ee 208 seria precisamente a expressio da falta de planejamento. Sem o reconhecimento dos conflitos profundos que constituem © motor dessa realidade urbana, a solugdo é uma questdo de competéncia técnica, Sobre 0 “plano-mito” escreve Villaga “Oplanejamento urbano éencarnado numa idéia hoje nada lara Gis Plano diretore passa a ser admitido a priori como algo bor forteto enecessério em si, Adquire ~no plano da ideologia - uma incrivel credibilidade e autonomia, principalmente se lembrarmmos ‘ue, argos, nas décadas de 1980 e 1990, osurbanistas maisatuan {8 dno sabem o queéum plano diretor, tamanhaéacontrovérsia carr les. Aideologia,entretanto,encarregouse de fazer com que 0s leigos ndo 36 ssibam o que é plano diretor como também the aribuam poderes verdadeiramente mégicos” (p. 230), Para forcalecer a idéia da construcéo ideoldgica do plano como salvagto dos males urbanos, Villaga argumenta que, 20 agravamento dos problemas sociais, “a classe dominante tes. Ponde com... plano dizetor”. Essa foi aresposta da ditadura sos problemas urbanos. Essa foi a resposta, na Com 1988, ao agucamento dos movimentos urbanos eentidades so. Giais que haviam tejeitado a proposta de plano diretor na pro- Postade Inciativa Popular Consttucional de Reforma Urbane, apresentada por seis entidades nacionaise subscrita pormaiede 130.000 eleitores, Mais do que planos diretores as entidades sociais (profi: sionais e de movimentos populares) que elaboratam a iniviaciva de Reforma Urbana deram prioridade a conquista de instruc mentosespecificos garantidores da fungio social da proprieds. de. Buscava-se uma forma de superar o discurso cheio de boss 174 AS IDRIAS FORA DO LUGAR E O LUGAR FORA DAS IDEIAS intengées ei Promessa 32, para ir direto aos objetivos centrais dessa ida, aquilo que constituia o né de toda are- sisténcia asua realzacéo: 0 controle sobrea propriedade fundid. tia imobiliria visando sua fungéo social. A tejeicio ao plano retor significou a rejcigéo ao seu carater ideol6gico e dissimula. dor dos conflitossociais urbanos. Além deignorara proposta de plano diretor, a “iniciativa popular” destacou a 'gesto demo- Critica das cidades”, revelando o desejo de ver aces que fossem além dos planos. Ainclusio da propostade plano ciretor obriga. ‘tio na Constituigdo de 1988 ea subordinagao a ele da aplica, 40 dosinstrumemtos previstos para: fazer valera fungaosocialda Propriedade (aplicagio essa que deve se dar sucessivamente no tempo, esgotando cada medida, hierarquicamente organizada, Por vez) constituem um verdadeiro aparato de protelacio da il da propriedade Privada, ~Imposto Predial e Territorial Urbano— progres: *eguramente, o instrumento de arrecadacao fisca ortante previsto na Constituicao de 1988. O. sio de recursos, desinteresse dos governantes em ampliat a ar ecadagao com medidas impopulares, tradicio de repasse ch recursos federais aos muni 1e tem, nos proprietéi gas qui (Eros Grau, Miguel Baldez), as novas figuras constitu riam auto-aplicativas, mas apés uma batalha entre governos municipais e 0 Judicidrio—que teve infcio no governo de Luiza Erundinaem Sao Paulo, em 1992.-, sua aplicacio foi considera- da dependente de regulamentacao dos artigos Constitucionais 182e 183. Apés 11 anosde promulgada a Constituigio, a regu- lamentagio nao foi feita, confirmando a resisténcia e 0 poder dos setores patrimonialistas. Entretanto, nao dé para remeter apenas aos instrumentos, previstos na Const ‘ou a quaisquer novos instrumentos juridicos a responsabilidade do chamado “caos urbano”. proprio IPTU, mesmo sem a qualificagio da progressividade, poderia constituir-se em alavanca de melhoria da receita muni- cipal e expediente de justica social, j4 que sua cobranca pode obedecer a alfquotas diferenciadas, Ratos sio 0s governos mii- ipais que o utilizam plenamente com essa finalidade e o pro- ias. Em nome da “governal a nas Camaras Municipais e apoio de rangas empresariais tradicionais em nivel local) o IPTU man- ‘tém sua arrecadagio deprimida. Da mesma forma, podemos citar outros instrumentos legais existentes que esta disponiveis aos governos municipais, seja para ampliar a arrecadacio para o financiamento das cidades, seja para regular o mercado visando baratear o custo da terra, seja para capragio da valorizago imobilidria seja para recupe- raco de investimentos em infra-estrutura, seja para regularizar ‘e urbanizar Areas irregulares, seja ainda para constituir estoque de terras para promosio piiblica de moradia popular, Podemos ‘dentre eles: solo criado, contribuigao de melhorias, zonas, de interesse social, zonas especiais de interesse am- habitagio de interesse social etc. Aconhecida figura do {AS IDEIAS FORA DO LUGAR E O LUGAR FORA DAS IDELAS iizada para garantir areas com ssderendameédiae deinteresse social vento tem contribufdo para restrin- ‘©. acesso a moradia, por meio de pa- sguidores, Percebe-se a quase tot de buscar instrumentos mais virtuosos ou tecnic: ‘mente melhores. Eles acabam obedecendo a uma mesma praxis de fortalecer a desigualdade. A chamada Operacao Interligada jade de comprar potencial construtivo para um imé- .a do regularmente previsto na lei do zoneamento) po- de excegio para casos bastante exp 4 ioe da paisagem. Mas guese ‘uma regrapara ciso buscar as causas dos conflitos na préxis, mais do que na fi- gurajurfdica. Uma boa proposta técnica, que € eficaz na Alema- tha, na Franca, nos Estados Unidos, nao ser, necessariamente cficaz no Brasil. E,tivessem os setores exciuidos mais poder, 0 instrumento ideal a ser aplicado j existe. Tr nat6ria das terras piblicas, que, caso fosse ut nitude, geraria transformagGes radicais nas A discriminatéria das terras piblicas poderia devolver a esfe piblica grande parte do territ6rio nacional que temsido oct) da gradativamente e ininterruptamente, a partir de 185 caracteristica nio é exclusiva de tertitérios perposigio de proprndedey des mais de uma vez, tercas desap gido mais desenvolvi preciso, porta que essas quests a contraditéria Sem levé-las égide de um discur- rbanismo arcaico com to- "7 Exmfaia Matiato tagdo do IPTU progressivo, que é dado pela correlagio de for- a8 que tem, nos proprietérios ‘sdo entre poder e patrimoni da fungio so Segundo a leitura de alguns eminentes juristas (Eros Grau, Miguel Baldez), as novas figuras con: riam auto-aplicativas, mas apés uma batalha entre governos = que teve inicio no governo de Luiza em 1992-, sua aplicacio foi considera- da dependente de regulamentagao dos artigos C 182 183. Apés 11 anos de promulgadaa Constitui¢do, aregu- lamentacéo nado foi feita, confirmando a resisténcia eo poder dos setores patrimonialistas. Entretanto, nio dé para remeter apenas aos instrumentos, previstos na Constituicéo ou a quaisquer novos icos a responsabilidade do chamado “caos urbano”. © préprio IPTU, mesmo sem a qualificacio da progressividade, poderia constituir-se em alavanca de melhoria da receita muni- Cipal e expediente de justica social, jé que sua cobranca pode “obedecer a aliquotas diferenciadas. Raros sio 0s governos mu- nicipais que o utilizam plenamente com essa finalidade eo pro- bblema esté na correlagio de forcas local, sempre muito depen dente das atividades imobili “governabilida- de” (apoio de maioria na tangas empresariais tradi +ém sua arrecadacio deprimida. Da mesma forma, podemos citar outros instrumentos legais, existentes que esto disponiveis aos governos mur para ampliat a artecadagao para o financiamento das cidades, seja para regular o mercado visando baratear o custo da terra, seja para captagio da valorizacio imobiliria, seja para recupe- ragdo de investimentosem infra-estrutura, seja para regulatizar ce urbanizar &reasirregulares, seja ainda para constituir estoque de terras para promogio publica de moradia popular. Podemos citar dentre eles: solo criado, contribuicio de melhorias, zonas, cespeciais de interesse social, zonas especiais de interesse am- tal, habitagéo de interesse social etc. A conhecida figurado 10 LUGAR E.© LUGAR FORA DAS IDEIAS ada para garantir reas com um rendamédia ede interesse soci neato tem uido para rest » acesso A moradiia, por meio de pa~ raidores. Percebe-se a quase total igada iprar potencial construtivo para um imé- niente previsto na lei dozoneamento) po- srnativa de excegao para casos bastante mais do que na fi ,que€ eficazna Alema~ 1s Estados Unidos, nao seré, necessariamente tivessem os setores exc das terras piblicas, que, caso fosse utilizada em su ttansformagbes radicaisna sociedade bras jnat6ria das terras piblicas poderia devolve’ da gradativamente e ininterruptamente, a par caracteristica ndo é exclusiva de territérios que permite a particulares s s no final do século XX, no Esta perposigio de propriedades, dess mais de uma vez, terras desay tesa20 vezes ovalor de merc: gif mais desenvolvida ¢ E preciso, portant que essas questGes as em conta, poden so moderno « ma contraditoria lade. Sem levé-las smo arcaico com to- rd ‘mos também que tanto 0 controle quan- er relativizados num contexto de aplicagio arbitratia das regras. ‘Quais sao as diferencas entre os ter nucleados americanos e europeus, servi vyelocidade (afinal a informatica, como ote tximero de viagens, ao contrdrio) ¢ nossas regides e metr6p lapsadas pela infra-estruturasucateada (com raras excegoes) ° ise entende por parceria? O que se entende por participacio ¢ tiogestio? O que se entende por descentralizagao? Quais so 05 temas sobre os quais o Estado néo pode fazer concess6es? Quais $40 aqueles que podem ser flexibilizados e quais 08 que nao de- Venn? Em fungio de quais objetivos? A reflexo sobre essas ¢ ou" tras questbes pode mostrar que hé algo mais determinante das re- lagdes de poder, por tras dos debates reificadores. \érios expandidose poli- turo melhor para as cidades br: aps tanto exercicio ideol6gico em torno do planejamento ur- tenoe dosinstrumentos urbanisticoscomo conceituar este pla- nejamento? Num momento de mudanca dos paradigms do planejamento ¢ da gestéo urbana, dados pela reestruturagio produciva, nesta passagem de século, o que pode fazer uma ges- pro urbana democratica, tendo em vista a crise fiscal ¢ esse qua- ‘iro de desigualdade, segregagio ¢ forte aproptiacao ideologica tdos simbolos representativos da proposta dominante de repre- sentagio das cidades? ve Reverter esse rumo buscand [as IbgHIAS FORA DO LUGAR © LUGAR FORA DAS IDEIAS prazoe nem pode ser empreendi- ‘por maior queseja avontade. As pro- {4m qualquer virtude em si, 2128 Po- ‘cas num contexto de avanco dos seto~ 11. Plano de Agéo x Plano Diretor — ‘Aspropostasndo sereferem auma toriae préticageral do ‘mas 2 algumas condigdes apenas: te democratico com participa- + Controle ¢ orientagio dos inves + Crlagio de um servigo espect da ocupacio do solos ntegrado das agdes soctais, a + Detalhamento d ides; habitagao, transportes pablico: (0 basico ¢ dren: gio de quadros para a gestio ‘Nao se trata de uma agenda que esgota oassunto, muito me- nos ume proposta que pretende ser hegemdnica (sabe-se 4¥€, pelo menos a curto prazo, isso € jimpossivel), mas simuma pauta bbrechae fazer frente ao urbanismo do discurso ou 20,0 urbanismo fashion ou do cendcio, ¢ finalmente a0 “mo do mercado. O urbanismo que s& pretende social- roare includente e democratico,além de comprometido com 2 ee daipor falta de melhor temo) sustentabilidade ambiental cartega pata negociagao apenas alguns pontos principais, cen frais, ignorados ou dissimulados nas agendas dominantes, m9 Dadas as caractertsticas deste trabalho, nfo cabe ainda um firmagio de existéncia dos “planos-discurso”. Vamos, en tio, nos ater Aquilo que parece ser mais nuclear: comoevitaeas armadilhas de sempre? Partimos do pressuposto de que o plano urbano deveser 2 expressio democritica da sociedade, sese pretende combater a fera de patticipagio, de Conselho (da Cidade, do Plano Dire- lanejamento etc), veremos que a propostajé faz parte de muitas das Leis Organicas Municipais ou Planos Diretores ‘Municipais. Pesquisa coordenada pelo professor Luiz Cesar de 180 ‘As DENS FORA DO LUGAR E.0 WIGAR FORA Das IDEAS Queiroz Ribeiro mostea oavango legal das eis nos Diretores Municipais, ap6s a Constituigio gestio das cidades, ado, o plana nao ters 0 menos terfassegurs- jonais. ‘alo fornecem um rol de constrangimentos que precisam serre- vistos quando da elaboragio de uma nova concepgo de plano urbanistico. Podemos citar al 10 urbanoe a gestio urban rientagaoe localizagdo de ca “especialicada” e propostas setoriais desvinculando o fisico, do social; comteido restrito a diretrizes gerais vagas ou normas dense oexpagiodotolo para cidade formal ‘dade do sade vinculo entre o pla- de previsdo, em especial, da ‘Como jé foi destacatio Srantofnsmaioga day eldadescedoce «plano nfo exp guiado por interesses precisos. partir da critica 20 plan Stico que os stores progressistas lograram in- \gio da ONU na preparacio da2* Confe- ide para oe Assentamentos Humanos a {que apresentou, sem qualquer con 1m conteddo bastante previsivel, na tiltima hora. © FO LUGAR FORA DAS IDEAS ‘ocedimentos de hascidades egodaforcade trabalho ipria moradia e de parte tursos humanos, se con- € fiscalizagio. Além do uncionério hierarquica sabinete, ou burocrats. Inciaaessecontroleefe ‘esrados alguns bemso- \calizagio dos parime- os gabineces. le urbanistico, o Plano joresdogovernoedo visam 0 conjunto dos 1s Ermfnia Maricato de natureza econémica (emprego ¢ renda) e social (educacio, ltura). Nao cabe aqui discorzer sobre os males da frag. mentagio da ago do Estado (até porque os neoliberais se apro~ veitaram muito dessa argumentagio para criticar a “ineficicia estatal”) esobreas vantagens da participacdo (consenso absolu- to nos documentos que véo da esquerda democratica até a OCDE). Cabe, se ainda for preciso, lembrar que 0 plano nao © poder de obrigar a isso, mas dificilmente uma agio nos bairros com predominancia de moradias pobres, que contam com falta de saneamento bésico e alto indice de violencia, por exemplo, é implementada sem a participagio. A predacio am- biental e social, quando atinge as dimensdes atingidas em nos- do Estado, quando se dispoe a enfrentar 0 \tervengio integrada e Osproje- ima (como os do Distr ar riscos, mas sem 0 acompanhamento de polfticas sociais (culturais, educacionais, de satide) ¢ econdmicas (ampliagio da renda e do nivel do em. rego), dificilmente ela ter4 o efeito de alavanca que, em geral, € atribuido a simbologia urbanistica. ‘Mais importante do que apregoar, no pap: vagos como o direito a habitagio, até mesmo quando esse papel se torna uma emenda constitucional aprovada, como aconte- ceu no Brasil em marco de 1999, é atingit os obstéculos queim- pedem oacesso asses direitos, Nesse caso, a questo central é fuundiéria e imobilidria, Nao ha planos ou formulas para superar 608 conflitos que essa questo implica. Instrumentos urbanisti- cos, textos legais podem ser melhores ou piores, adequados ou inadequados tecnicamente, mas nada garante aquilo que € re- sultado da correlagao de forcas, especialmente ei uma socie- 184 agem urbanos. E forcoso reconhecer que o mais importante instrumento fiscal ede justiga urbana 0 IPTU progressivo ~ainda carece de regulamentagao para ser aplicado, como jé foi notado aqui. ‘Nem por isso ele tem merecido a atencio que Ihe caberia, apés 17 anos de tramitago, no Congresso Nacional, apesar dos es- forgos de algumas ONGs, além de poucos partidos (em especial © PC do Be parte do PT). Nao hé qualquer esforgo coletivo de prefeitos ou vereadores em relacdo a sua aprovagdo, nem mes- mo no campo da esquerda. Uma proposta socialmente inclu- dente deve elegé-lo como objeto de uma campanha nacional, iio somente para acelerar sua aprovagio, como também para garantir sua aplicacao. ‘Note-se que o IPTU tem sido mencionado aqui mais como uuminstrumento fiscal do que de politica urbanistica, mas épreci- so repetir que no precisa haver desencontros entre esses dois papéis, bastando urbanistase economistas abandonarem al6gica da fragmentagio que é propria da maquina administrativa pibl ca, pois em geral a gestio do IPTU se dé na Secrezaria Municipal de Finangas e nao na Secretaria de Planejamento Urbano. cabe reafirmar ocompromisso de qualquer pla centro de sua construgio a questio da moradia social e dos transportes piblicos. Jé destacamos 0 con- flito da moradia ilegal com a preservacdo ambiental, segregagio espacial e também até com a violéncia nas cidades. Uso do solo, moradia social e transporte piblico sio indissocisveis para uma gestio do solo visando melhorar a qualidade ambiental urbana (em especial as condic6es de saneamento e drenagem). 185 Ena Maviato Infra-estrutura de informagao sobre a cidadelformagiio de pessoal O desconhecimento da cidade real facilita a impleme io de politicas regressivas carcegadas de simbo cimento & um antidoto necessario para o desmonte da repre- sentagao ideolégica e parao forne: a para a agio. Na sociedade brasileita, podemos dizer que a realidade é subversiva ao pensamento conservador. Dai o po- tencial de uma agio pedagégica sobre o reconhecimento da ci- dade real, em especial da “cidade oculta”, A desatualizago de cadastros fundidrios ¢ imobiliatios ¢ a confusao reinante, em torno dos limites das propriedades, sio.a regra geral nos municipios em todo o Brasil. A fragmentagio dos diversos cadastros € outra caracter‘stica comum. Freqiien- femente, até mesmo os “softwares” utilizados em uma mesma prefeitura, em diferentes cadastros, so incompativeis entre si, como acontece em Sio Paulo, onde cada secretaria mantém seu prdprio cadastro como parte aparente de um feudo. A unifica- io dos cadastros, 0 aperfeicoamento e atualizacio das infor- mages sio portanto indispensaveis para o quese prope aqui, Da mesma forma, é preciso reconhecer que o ttatamento ideol6gico dado ao ensino da arquitetura e do urbanismo nas universidades, a pratica profissional nos escrit6rios privados, voltados principalmente para o mercado, e nos 6rgios piblicos voltados para uma gestio urbana injusta desenvolveu professo- res, técnicos ¢ profissionais distanciados dos grandes proble- ‘mas sociais urbanos. Poucos paises do mundo se viram A frente de realidade semelhante ¢ com tais dimens6es. Talvez alguma semelhanga possa ser encontradano México, Argentina, Africa do Sule india. Mas ninguém desconhece as; grandes diferengas ‘que nos separam desses pafses, considerados aqui mais proxi- ‘mos em relagao a situacao das cidades. Poucas sao as experién- cias internacionais que poderio nos informar em relacio ao de- senvolvimento de conhecimento de projeto arquitetOnico e ur- banistico, engenharia urbana (saneamento, drenagem, circula- io), paisagismo, geotecnia, entre outros, destinados a trans- 186, IAS FORA DO LUGAR F 0 LUGAR FORA DAS IDEtas formar cidade” em cidade. No primeio semestre de 1999, a revista Harvard Design Magazine publicou diversos at- tigos sobre cidade ¢ exctusio social nos pafses no desenvolvi- dos, A capa da revista era ilustrada comuma foto de uma favela de Caracas, semelhante a qualquer favela brasileira. Se a uni= versidade brasileira néo se ocupar do assunto com a atengao € urgéncia que cle merece, o espagocertamente serdocupado por quem tem olhos mais abertos... para o mercado internacional. Nio faltardio aqueles que iréo aos Estados Unidos estudar solu- ges urbanisticas para favelas, 0 que alids jé acontece. ‘A formagio de quadros para a reforma e a gestio urbana implicacompromisso com aagao real e concreta. Ela deve se es- tender aos profissionaisdo urbanismo dos setores piblico e pri- vado, mas também aos patlamentares, jornalistas, promotores € procuradores piblicos, liderangas sociais, para ctiar uma \cia social, uma nova simbologia ou nova visit lade urbana e uma nova praxis. 12. Conclusdo Th A populagao brasileira deseja a moderuidade. A elite na qe desistie dela" (Francisco de Olivera, xt. 1999). O final dos anos 1970 e toda a década de 1980 foram mac- cados pelo avango da participacao politica no Brasil. Actise de hegemonia politica das lites ficou bastante clara em varios mo- mentos em que a oposi¢ao operéria, parlamentar e popular avangou, Nos anos 1990, assistimos remontagem da tradicio~ al coaliciio em que se sustenton 0 poder conservador no Brasil, sob a lideranga do socislogo presidente. Ha um evidente recuo da oposicéo (parte cooptada pelos pracedimentos arcaicos) € uum claro avango do projeto neoliberal marcado pelo retorno da posigio internacional imperial americana (Fiori, 1977). ional é Wr [> KADREAGHD bo ARcAICO & ThA PeLPOd ie icuIELWO, Lb age 104 HET Ermlnia Marcato tancias de planejamento urbano, o momento de transigio € fs voravel ao debate, pois apresenta urn vazio preenchido apenas, oportunidade é a de “replan ‘questo em novas bases, através de umé se impega a consolida- gio de uma matriz que, sob forma nova, novos rétulos, nova marca, cumprao mesmo e antigo papel de ocultaé a verdadeira orientagao dos investimentos ou dos privilégios nas cidades. ‘Trata-se também de ousar apontar caminhos, mesmoem meio’ tormenta... € por isso mesmo. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ALENCASTRO, F. “Vida privada e ordem privada no Império”, In: ALENCASTRO, F. (org). Hisiéria da vide privada I. Sio Paulo, ‘Companhia das Letras, 1998 ANDRADE, C.F. de S.L. 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