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1995000870 (907473000 006143440 cam, Spore Fbanel dh Leslee RECURSO ESPECIAL N* 61.434 - SP (95/0008701-4) RELATOR __: OEXMO. Sit. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA RECORRENTE « BLANCA ANTONIA MARTIN ESCUDERO. RECORRIDO _: FUNDACAO BENEFICO DOCENTE ALFONSO MARTIN ESCUDERO ADVOGADOS DRS, FRANCISCO MANOEL XAVIER DE ALBUQUERQUE & OUTROS DRS. ATHOS GUSMAO CARNEIRO E OUTROS EMENTA DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. ART. 10, § 2°, DO CODIGO CIVIL. CONDICAO DE HERDEIRO, CAPACIDADE DE SUCEDER. LEI APLICAVEL. Capacidade para suceder nfo se confunde com qualidade de herdeiro Esia tem a ver com a ordem da vocagao hereditaria que consiste no fato de pertencer & pessoa que se apresenta como herdeiro a uma das categorias que, de um modo geral, so chamadas pela lei & sucesso, por isso haverd de ser aferida pela mesma lei competente para feaer a ucessio do marto que, go Bras, “ahedce @ fer do pais vm que ena demicado 0 defunto.” (ar, 10, caput, da LIC). Resoivida’a questo prejudicial de que determinada pessoa, segundo o domicilio que tinha o de cujus, € herdeira, cabe examinar se @ pessoa indicada & capaz ow incapaz para feeber a heanga,solusao que €forecia pel ei do domiclio do herds (a. 10.9 2 da >. Recurso conhecido e provido. ACORDAO Vistos, elatados e discutidos estes autos, acordam 0s Srs. Ministros da Quanta Turma do Superior Tribunal de Justiga, na conformidade dos votos e das notas taquigraficas a seguir, por ‘maioria, conhecer do recurso € dar-the provimento, vencido, na totalidade, o Sr. Ministro Salvio de Figueiredo Teixeira e, na preliminar. 0 St. Ministro Ruy Rosado de Aguiar. O Sr. Ministro Fontes de Alencar conheceu do recurso ¢ deurlhe provimento em menor extenséo. Brasilia, 17 dgjumhovde 1997 (data do julgamento). (a). © we manisfo sALvI0 oe (GuEIREDO TEIXEIRA, Presidente Wn MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA, Relator ‘095000870 901423000 (006123410 avin Gooner iena de Eitoa RECURSO ESPECIAL N° 61.434 - SP (95/0008701-4) RELATORIO © EXMO. SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA: - A recorrente, Blanca Aniénia Martin Escudero, nasciéa ¢ domiciliada na Espanba, foi, em 16 de julho de 1986, aos 45 (quarenta e cinco) anos de idade, por escritura publica de adosdo simples celebrada naquele pais, adotada por Alfonso Martin Escudero, nascido em 1901, de naturalidade foral carala mas domiciliado no Brasil (Estado de Sao Paulo) desde 1955 até a sua morte, aqui ocorrida em 02 de ‘margo de 1990, no deixando cénjuge sobrevivente, pois vitive desde 21 de julho de 1979, nem a cevidéneia, ascendentes, nem nenhum descendente biol6gico, seja legitimo ou ilegitimo. Em fevereito de 1989, estando em Madrid, 0 falecido Alfonso fez. seu testamento aberto, deixando todos os seus bens para a "Fundacio Benéfico-Docemte Alfonso Martin Escudero”, ora recorrida, instituindo-a sua herdeira universal, deixando tocar, todavia, & recorrente (que também firmou o instrumento como testermunho), como legado, um spartamento, a ser comprado pela referida Fundagdo, além de uma pensio vitalicia, bem como os objetos de menor monta ali indicados. Com 0 bito de Alfonso foi aberto na Comares de Si¥o Paulo, que fora o seu dltimo domicilio, o arrolamento dos bens hereditérios, com 0 pedido de que estes fossem adjudicados em favor da "Fundagdo Benéfico-Docente Alfonso Martin Escudero”, que seria a sua herdeira universal E que a lei espanhola, vigente no tempo da adogdo, nio conferia @ Blanca, cujo vineulo com o de cujus decoria apenas de adogie simples, nenhum direito sucessério sobre a heranga do falecido, salvo, evidentemente, 0 legado decorrente do ato de Gltima vontade, mada obstante, no momento da morte de Aifonso, ja ser vigente @ Lei n° 21/87 que parificara naquele pais todas 5 adogdes, mas ressalvando as anteriormente institufdas, pelo que, quem jé tivera sido conferido com a adogo simples, s6 se constituiria herdeiro do adotante com a expressa manifestagio deste, 0 que ndo ocortera na especie de que se tata, Ingressando no feito, Blanca pleiteou o seu reconhecimento como herdcira necesséria 40 de cujus, com direito & legitima, por forga do editado no art. 10 da Lei de Introdugiio do Codigo v geuaToRO BEDE Pase- se Sepewcr ubanal ch Aestea “ Civil, postulando ainda a modificagdo do rito da ago de arrolamento para inventério, em face do digposto no art 1.036 e seguintes do Cédigo de Processo Civil, em tudo sendo atendida pelo digno Juiz processante, cujo decisério foi reformado, em sede de agravo de instrumento, pela eg. Quinta Camara Civil do Teibunal de Justiga do Estado de Sao Paulo, & consideragdo de que, em apertada sintese: a) "0.art 10 da Lei de Introdugdo ao Cédigo Civil, manda que a sucesso por morte obedeca d lei do pais em que domiciliado o defunto, qualquer que seja a natureza e situagdo dos bens, ¢ preve ainda que 4 lei do domicitio do herdeiro ow Tegatario regule a capacidade de suceder.” (Bs. 1.635), b) pelo direito espanol, Blanca, conquanto scja filha adotiva de AZfonso, nto seria sua herdeira necessiria, porque a ela foi conferida apenas a adogio simples; ©) embora sendo certo que a Lei n° 21/87 deta paridade as adogdes simples € plena, em raza do que ambas confeririam, ao adotado, 2 condigio de herdeiro hecessério, ressalvara, contudo, aquelas primeiras institutdas antes de_sua vigéncia, salvo se tivesse havido posterior manifestagtio expressa em sentido contririo, inocorrente na hipétese dos autos; ©) ademais, a propria Blanca teria se conformado em receber apenas o legado, na medida em que tember firmara o testamento aberto celebrado por Afonso, que a brindou com o legado acima meneionsdo; 4) por fim. como o testamento foi posterior a adogdo ea vigéncia da 21/87, seria de inferi-se que a vontade de A/fonso outra no seria seno a de deixar Blanca apenas como sua legatéria, Dai © recurso especial em exame, langado com fineas nas letras “a” ¢ "e" do permissivo constitucional, por alegada violagio ao art, 10 e a0 seu § 2", da LIC, ¢ pela divergéncia com 0 julgado pelo colendo Supremo Tribunal Federal, em composigio plendia, no RE n° 79.613- RJ. em 25/276 Em suma, alega que or. atesto hostilizado comete ertos conceituais quando confundia vocaso hereditéria e qualidade de herdeiro (objeto do caput do art. 10), com capacidade para suceder(tratada pelo seu § 2°), que cuidariam de situagdes distintas, Assim, no caso, jd que Alfonso era domiciliado em S80 Paulo quando de seu desenluce, a luz da lei brasileira & que se deveria buscar a resposta para se saber se Blanca, ainda que tendo sido apenas simplesmente adotada na Espana, seria ou nfo herdeita necessiria de Afonso \ — Bavie Trend ot Koton ” A lei espanhola s6 serviria para aferir se Blanea, uma vez tida por herdeira pela lei brasileira, sofreria alguma restrigo em sua capacidade para suceder. Como tal no ocorreria, seria de {ela como herdeira necessitia de Alfonso Em tempestiva resposta, a recorrida ptopugna, preliminarmente, pelo no conhecimente do recurso, visto que o v. aresto hostilizado teria um fundamento constitucional no ataeado pela recorrente, que consistiia em ter dado pela nto aplicagio do art. 227, § 6% da Constituigio Federal ‘No merito, sustenta a manutengdo do v, aresto objurgado, Observo que, nos memoriais, a recorrente postula ainda pelo no cenhecimento do recurso especial em face de ter sido firmado por advogados que ndo teriam poderes para tanto, porque a procuragio de fls, 1.661 thes fora outorgada por Nacim Gabriel Arida, que nio estava legalmente habilitado a constituir advogado em nome da recorrente para defendé-la no presente feito, pois que 6 teria recebido poderes para representé-la na qualidade de inventariante, na geréneis administragao dos bens do espélio. A douta Subprocuredoria-Geral da Republica opinou pelo no conhecimento do recurso, Devo destacar, por fim, que o processo contém, além dos judiciosos provimentos Judiciais j4 reportados, onde cada julgador (eminentes Desembargadores Marco César, Silveira Neto ¢ Marcus Andrade © Juiz Wald Sebastido de Nuevo Campos Jr.) esmerou-se nos fundamentos expostos. a exceléncia das razdes, contra-razdes e memoriais firmados pelos eminentes Advogados Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Cristévao Colombo dos Reis Muller, Arruda Alvim, Athos Carneiro, Marcelo Ribeiro, José Luiz Clerot, Aluisio Xavier de Albuquerque, Humberto Barreto Filho ¢ Xavier de Albuquerque, bem como os elucidativos pareceres elaborados por doutores do assunto, como os eminentes Professores Juan Bautista Dias Garci (ls, $33/548), Maria Helena Diniz (fls. 105/156), Irineu Strenger (fls. 564/579), Caio Mario da, Silva Pereira (ils, 1.566/1.593) ¢ Candido Rangel Dinamarco (fis. 1.396/1.614), E orelatério. Vv 1995000870 1001433000 (006133490, wt Soperus Fadenal cb ,phastea rune 17097 RECURSO ESPECIAL N° 61.434 - SP (95/0008701-4) EMENTA DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. ART. 10, § 2", DO CODIGO CIVIL. CONDICAO DE HERDEIRO. CAPACIDADE DE SUCEDER. LET APLICAVEL. Capacidade para suceder ndo se confunde com qualidade de herdeiro. Esta lem a Ver com a ordem da vocagao hereditiria que consiste no fato de pertencer a pessoa que se apresenta como herdeiro a uma das categorias que, de um modo geral, so chamadas pela lei & sucessdo, por isso haverd de ser aferida pela mesma lei competente para reger a sucesso do morto que, no Brasil, "obedece a let do puis em que era domiciliado 0 defunto.” (art. 10, eaput, da LIC). Resolvida a questo prejudicial de que’ determinada pessoa, segundo @ domicilio que tina 0 de cujus, herdeira, cabe examinat se a pessoa indicada ‘capaz ou incapaz para receber a heranga, solugao que fornecida pela lei do domicilio do herdeiro (art. 10, § 2, da LIC), Recurso conhecido ¢ provido. voto © EXMO, SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA (Relator): - A recorrida alega nos memoriais, vale dizer, nos estertores deste filo, que 0 recurso especial nfo poderia ser ‘conhecido por te sido firmado por advogados que ni teriam recebido poderes para tanto, porquanto 1 procuragio de fis. 1.661 Thes fora outorgada por Nacim Gabriel Arida, que nao estava legalmente habilitado @ constituir advogado em nome da recorrente para defendé-la no presente processo, pois que 36 teria recebido poderes para representi-la na qualidade de inventariante, para geréacia & administragio dos bens do espslio. Anotando, de passagem ¢ data venia, que por dever de lealdade processual esse tema deveria ter sido agitado quando da apresentagio das contra-razdes, ¢ sem embargo disso, observo {que se ali ficou registrado que Blanca se apresentava como inventariante do espdlio, como reconhece a propria recorrida, concedendo os mais amplos © gerais poderes para 0 outorgado inclusive constituir advogado, evidentemente que a qudlificagio de herdeira, na espécie, esta -subsumida na sua condigo de inventariante, pois esta, na hipétese, decorre daquela, \ Soperes Srddanal de. Aton 42 ESPN 6404-5 Ora, se por ter recebido tio amplissimos poderes, pois outros mais ndo Ihe poderiam ser concedidos, Nacim Gabriel Arida poderia praticar todos os atos para defender 03 direitos da inventariante Blanca, certo é que também por eles poderia defender a sua condigio de herdeira. sob pena de tomar rigorosamente indeuo o mandato recebido, ‘A adogio de entendimento contratio, data venia, demonstraria exareetado apego & filigeanas que nio se compadeceriam com a sistemdtica adotada pela moderna processualistica, que despreza a forma pela forma, dela extraindo o que de mais dtl possa ter como mera instrumento para apreciagfio do conteido, Assim, rejeito a primeira preliminar, Melhor guarida nao acolhe a recorrida quanto a alegagae de que o recurso niio poderia ser conhecido pela auséneia de ataque a um fundamento constitucional, pela via do extraordindrio, ‘que serviria de sustentagio ao v. aresto objurgado. # que milo foi pelo que dispde o § 6° do art. 227 da Constituigio Federal que o r. acérdio hostilizado desacotheu a pretensao da recorrente, Nao. O fundamento de sustentagto, no que tem de essencial para o deslinde da causa, foi unico, qual seja 0 de que “o art, 10 da Lei de Introdugao ao Cédigo Civil, manda que a sucessao por morte obedega @ let do pats em que domiciliado o defunto, qualquer que seja a natureza € situacdo dos bens, ¢ prevé ainda que a lei do domicilio do herdeiro ow legaidrio regule a capacidade de suceder.” (318. 1.635). Assim, desacolho, também, essa segunda prefiminaz Devo de antemfo adiantar que conhego do recurso pelo dissenso pretoriane posto que © r. acérddo arrolado como paradigma dew & questo da capacidade de suceder. ali cogitada. tratamento diferenciado da que foi conferida pelo v. aresto hostilizado, tendo sido bem atendidas as ‘exigéncias regimentais ¢ legais para configurar a divergéncia Quanto ao mérito, a discussio aqui instalada gira em tomo da correta interpretago que se deve dar as normas contidas no eaput do art. 10 e respectivo § 2° da Lei de Introduso a0 Cédigo Civil. soe Spor Salural de estca ms A recorrida, tal como entendeu o r. aresto hostilizado, renega a possibilidade de a recorrente participa, como herdeira necessétia, da sucesstio de Alfonso jd que nfo dispunha da indispensével capacidade sucesséria para tanto eis que a lei espankola que, na sua visio, deve ser aplicada, por ser a do domicilio da herdeira. no the conferiria essa condigao, pois vinculada se achava a0 falecide apenas por lagos de adog2o simples, relagdo da qual, quando instituida, ndo decorria nenhum direito para suceder. J4 a recorrente extra, desses mesmos dispositives, outra compreenstio, pois que 4 aferigdo da qualidade de herdeiro - ¢ assim da vocagdo hereditiria - haveria de ser provessada & luz do comando expresso no caput do referido art, 10, que impde obediéneia, no que tange a isso, & lei brasileira, pois aqui ¢ que Alfonso era domiciliado desde 1955 até o seu passamento, ocorrido em 1990. Tais regras esto assim editadas: ‘unt. 10, A sucessdo por morte ou auséncia obedece A lei do pais em que era damicad 0 deo ow 0 desaparecido,qualuer que sje a ntureca ea situagao § 2°-A lei do domicilio do herdeiro ou legatério regula a capacidade para suceder”, Assoma, da sua primeira leitura, a incdmoda sensagdo de que esses dispositivos sto antinémicos. configuradores de uma conttadigao incontornavel. A busca do saber se essas normas so ou néo assim colisionais reciama uma reflexao mais demorada para que se possa, na sua esséncia -como observado pela Profa, Maria Helena Diniz - captar a plenitude do significado do que nelas se contém, superando-se @ atrativa adorago fetichista pelo teor de suas literalidades. No que tem de mais nodular, a questdo é de direito internacional privado, e reclama a que se dé a correte interpretagio da expressio capacidade para suceder de que cuida 0 § 2° do art. 10 acima reproduzido, sone Seporwe Fribanal ch, Aston ae Hr enaneae “Tudo © gue mais foi posto deve ser Tangado na coluna das questoes peritéricas, pois enconirads a solugdo no que tenge 80 punctum saliens da causa, o que resta nfo se guinds @ controvérsia. De inicio abservo que © Direito Brasileiro sempre adotou a teoria da unidade sucesséria no sé quando as questies decorrentes do falecimento envolvam pessoas © bens nacionais, sendo também quando o hereditando for ou tiver herdeiros estrangeiros, ou deixar bens, fora do Brasil Como leciona Oscar Tenorio (in, "Lei de Iniroducdo ao Cédigo Civil Brasileira", 2a, ed., Borsoi, 1955, Ric 1. p. 342), “tem se mamtido fiel o direito brasileiro a regra de que a sucessdio se rege por lei tinica, seja qual for a natureza e a situagdo dos bens. E o principio romano da universalidade sucesséria, apoiado em que 0 patrimdnio detxado pelo de cujus forma um todo, tem expressiio wna" Por isso mesmo & que a0 comentar o caput do art. 10 da LICC, destaca a necessidade “de filiar, a disposigito em exame ao que estipula 0 art, 7° da Lei de Introdugdo: - as direitos de ‘familia se regem pela lei pessoal. A caracterizacdo mais acentuada de direito familiar é a ‘personalidade das regras, em viva oposicao & territorlalidade. 4 sucessiia é 0 desdobramento, ou, como diz Clévis Beviliqua, uma face dos direitos de familia. Coerentemente, pois, o artigo 10 da Lei de introdugdo enuncia, como competente para reger a sucessao, a do defianto." (ep. cit. p. 345). Por esse prinefpio os bens da heranga sto considerados como um s6 todo, como uma 6 unidade, que se transmite por um s6 e mesmo ato aos herdeiros. "pois 0 putrimdnio heredirério constitue um todo; rege-se por uma sé lei, as relagdes sucessdrias, seja qual for o seu objeto, nito se classificam entre as reais: consideram-se pessoas: subordinamr-se & lei pessoal do falecido", como ensina Carlos Maximiliano (in, “Direito das Sucessdes”, V. I, Freitas Bastos, SP, 2a. ed., 1943, p. 584), Evita-se, assim, a chamada fragmentagio sucesséria, que acarreia 0 grave inconveniente da aplicagdo de diversas leis & sucesso, que decorre quando se adota o prinefpio da territorialidade, em que os bens iméveis se sujeitam a lex rei sitae © os méveis a lei pessoal do de \ “.... Z Zz, as revoan Gree hho cujus, tio em voga sob 0 dominio do feudalismo, guando a terra era tomada em preeipua considerapio. Esse principio do universum ius defuncti, que prestigia © estatuto pessoal do falecido como definidor das linhas mestras a serem adotadas para a sua sucesso, tanto pode, por seu ture, prestigiar a sua fei nacional, como a fei do seu domticiio. © Cédigo Civil, no art. 14 da sua antiga Introducdo, elegera a lei nacional como lei sucesséria, quando extensivamente © no que interessa cditava que “a sucessdo legitima ow testamentéria, a ordem da vocagéo hereditéria, os direitos dos herdeiros e a validade intrinseca das disposigdes dos testamentos, qualquer que seja a natureza dos bens eo pais, onde se achem ... obedecerdo a lei nacional do faleeito .." Com a lei introdutéria atual, que determinou que "a sucessdo por morte .. obedece a lei do pais em que era domiciliado o defunto .. qualquer que sefa a natureza e a situagdo dos bens", © direito brasileito erigiu a lei do domicilio como lex suecessionis. Todavia, essa modificagio, conquanto nitidamente substancial, adstringiu-se, apenas fa essa essencialidade a que ela se reporta Assim, o ensinamento que extraio da leitura que fago do texto de Oscar Tenério, & que "0 dmbito de aplicasdo da lei do pais em que era domiciliado 0 de cujus (..) abrange a sucessio legitima e a testamentiria, a ordem de vocagao hereditiria, os direitos dos herdeiros, inclusive a quota reserva, & as disposigdes intrinsecas. (..) Somente ndo se rege pela lei do domictlio do de cujus « capacidade para suceder. Ndo se modificou, neste particular, o direito brasileiro, nos termos do artigo 4 da lei inrodutéria anterior." (op. cit. p. 346). Quanto a capacidade para suceder, como visto, o § 2° do Art. 10, pontifiea que é a lei do domicilio do herdeiro ou legatirio que a regula, lids, cumpre destacar, como salienta Osear Tenério, que esse dispositive contido na lei introdutdria atual - que submete & lei do domicilio do herdeiro a regulagdio de sua capacidade para suceder - nfo importou em nenhuma inovagao no direito brasileiro pois que assim também ja ccorria sob a vigéncia da lei anterior, quando o seu art 8° cuidava da regra geral da capacidade. Nada obstante isso, o sistema da unidade sucesséria nao softe nenhum abalo com a ovientagdo fixada no art. 10, pelo seu caput - de que a lei do domicilio do fatecido fixa a devoluao Vv vor Seperur Trdenal de Pesce ne de sua sucesso - e pelo seu § 2°- de que a lei do domicilio do herdeito, define a capacidade deste para suceder, como uma leitura desatenta com o espirito desarmado possa ndo fazer eret, Assim, como antes, quando o art, 14 da antiga lei introdutéria, no que interessa, editava que “a sucessdo legitima ow testamentéria, a ordem da vocacdo hereditéria, os direitos dos herdeiros ¢ a validade inirbuseca das disposigdes dos testamentas, qualquer que seja a natureza dos hens ¢ 0 pais, onde se achem ... obedecerdo i (ei nacional do falecida ..", também agora at ordem da vocagio hereditéria e os direitos dos herdeiros sto definidos pela let pessoal do defunto, com a diferenga, apenas, de que a referéncia transmudou-se para a sua lei domiciliar. que capacidade para suceder no se confunde com qualidade de herdeiro. Esta tem a ver com a ordem da vocagio hereditéria que consiste no fato de pertencer & pessoa que se apresenta como herdciro a uma das categorias que, de um modo geral, so chamadas pela lei a sucessio, ou, no dizer de Silvio Rodrigues, "é a relacdo preferencial, estabelecida pela lei, das pessoas que sdo chamadas a sueeder 0 finado". Com efeito, essa qualidade de herdeiro haverd de ser aferida pela mesma lei competente pata reger a suvessfio do morto que, no Brasil, “obedece a lei do pats em que era domiciliado 0 defunto... qualquer que seja a natureza ea situacdo dos bens", em face do pontificado no caput do art, 10 da LICC, Portanto, na hipdtese, j4 que Alfonso era domiciliado em Sio Paulo quando de seu desenlace, a luz da lei brasileira € que se deve buscar a resposta para se saber se Blanca, sendo sua filha adotiva, & ou niio herdeira de Alfonso. E inteiramente irrelevant, no caso, para aferir-se a sua qualidade de herdeira, para saber se ela esté ou nfo incluida no elenco dos herdeiros que a lei brasileira estabelece como vocacionados para suceder, se & adoga0 foi simples ou plena, se houve ou no posterior parificagio centre esses insttutos, se a relagdo entre adotante ¢ adotada envolve ou no reciprocidade de direitos sucessérios, se a adogio foi celebrada no Brasil, na Espanha ou mesmo em qualquer outro pais, € se tera ou nao desejo do hereditando que @ sua filha adotiva participasse de sua sucesso como sua herdeita necessétia, Nilo, tudo isso é absolutamente despiciendo para se coneluir se Blanca era ou nto herdeira necesséria quando Alfonso faleceu pois que 0 tinico dado que efetivamente importa é saber \ es . Wrenaree Gee Foal ot Aa se a lei brasileira, quando do desenlace de Affonso, conferia ou nto, ao filho adotivo, a qualidade de herdeiro. ‘Assim, ainda quando a filiagdo no era equiparada, em todos os seus géneros espécies, como ficou indubitavelmente a partir da Constituigdo Federal de 1988, diante do disposto no § 6° do seu art, 227, a relagdo de adogdo, quando © adotante nito tivesse fithos legttimos, legitimados ou reconhecidos, envolvia a de sucessdo hereditiria (art. 377 CC) Com efeito,« lei brasileira confere & Blanca, de hé muito, a qualidade de herdeira. Visto isso, vale dizer, vencida essa etapa, ou como assevera Oscar Tendrio, *resolvida a questdo prejudicial de que determinada pessoa, segundo 0 clomicilio que tinha o de ccujus, é herdeira, cabe examinar se a pessoa indicada € capaz ou incapaz para receber, solugdo que é fornecida peta tei do domicitio do herdeiro.” (op. cit. p 360). Ora, em nenhum momento a recortida imputou qualquer outro empego que pudesse desqualificar a recorrente como herdeira de Alfonso, senfo a pretensio de afasti-la de sua sucesso ‘Wo-somente com o frail argumento de que a lei espanhola nd conferia direitos sucessérios a quem se vineulara apenas por lagos de adogdo simples. Nenhuma referéneia & indignidade ou deserdagdo, ou a qualquer outro institut que tivesse 0 condao para retirar a sua capacidade para suceder foi formulada, Com eftito, incapacitada para suceder, Blanca nao era, come nito 0 &. Aberto como foi 0 pértieo para conhecimento do recurso especial ¢ ainda que vendo ‘com reserva, data venia, o enunciado n’ 456 da Simula do Pretério Excelso, tenho que, em razio| das peculiaridades da causa, no hi nenhum obsticulo para, aplicando-se o direito a espécie, dirimir de vex a contovérsia, evitando-se delongas dispenséveis, ¢ assim o fago sobretudo por ndo haver, no ‘caso, a mais minima divida de que, ainda quando a filiagao no era equiparada, em todos os seus géneros € espécies, ficou iniludivelmente 2 partir da Constituigdo Federal de 1988, diante do disposto pelo § 6° do seu art. 227, 0 filho adotivo, quando no concorria com filhos legitimos, legitimados ou reconhecidos do adotante, era seu herdeiro (art. 377 CC), e, nesta hipétese, herdeiro v _ Seperus Guabanad dh Aster ™ BP aeciset-m necessirio, pois para os efeitos da sucessdo, aos filhos legitimos se equiparam os legitimados. os naturais reconhecides ¢ 0s adotivos (a. 1.605, CC). Assim, Blanca € herdeira necesséria de Alfonso, hipétese em que este nfo poderia dispor de mais da metade de seus bens, pois a outra tocard de pleno direito & Blanca (art. 1.721, CC), taafo pela qual as disposigées de seu testamento, como excederam a metade disponivel. devem ser reduzidas os limites da legitima (art. 1.727, CC). ‘Assim, & Blanca tocaré, por seu direito & legitima, a metade da heranga, acrescida do legado que Ihe fot instituido (art. 1.724, CC) [A par de tudo quanto jé foi dito, tenho-me no dever de langar um breve comentario a duas referéncias (apenas reférénclas) feitas pelo v. aresto atacado: primeira, atinente a que a propria Blanca teria se conformado em receber apenas 0 legado, 56 ¢ $6 porque também firmara 0 festamento aberto celebrado por Alfonso, quando a brindou com 0 Iegado acima mencionado; a segunda, referente a que a vontade de Alfonso outra no seria senio a de deixar Blanca apenas como sua legatitia, jé que o seu testamento foi posterior & adogdo e a vigéncia da Lei n® 21/87, ‘Quanto & primeira, observo que a rentincia & heranga no pode ser presumicla, hé de ser expressa, consoante 0 disposio na pare final do art. 1,581 do Cédigo Civil, além do que nto pode ser objeto de contrato a heranga de pessoa viva (art. 1.089, CC), ‘Quanto a segunda, nada obstante ser certo que "quando a clitusula testamentiria for suscetivel de interpretacaes diferentes, prevalecerd a que melhor assegure a observéncia da vantade do testador", a tcansferéncia dos bens da heranga pode ocorrer, em certas citcunstineias, até contra a vontade expressa do testador quando, por exemple, como no caso em desate, as disposigdes testamentirias excederem & metade da porgfo disponivel haverdo de ser reduzidas aos limites dela (art. 1.727, CC), Diante de tais pressupostos, conhego do recurso por ambas as alineas para lhe dar provimento, reconhecendo que Blanca Antonia Martin Escudero & herdeira necesséria de Alfonso Martin Escudero, como sua filha adotiva que é, sendo-the destinado 0 pereentual de eingtienta por cento dos bens da heranga, por conta da legitima, ¢ mais o legado que the foi deixado por testamento, restaurando a deciséo monocrét ica de primeiro grau, reconhecendo Blanca como Spruce Feral de Seats “ Heoreonass se herdeica necessatia, pelo que Ihe toca 50% da heranga a titulo de Jepitima, acrescida essa porgo do legado jé referido, e devolvendo-Ihe @ — Soin Fedenal dbo Jitea CERTIDAO DE JULGAMENTO QUARTA TURMA Nro. Registro: 95/0008701-4 RESP 00061434/SP PAUTA: 10 / 06 / 1996 JULGADO: 10/06/1996 RELATOR EXMO. SR. MIN. CESAR ASFOR ROCHA PRESIDENTE DA SESS&O EXMO. SR. MIN. SALVIO DE FIGUEIREDO TEIXETRA Subprocurador Geral da Republica EXMO. SR. DR. FRANCISCO ADALBERTO NOBREGA Secretario (a) CLAUDIA AUSTREGESILO DE ATHAYDE AUTUAGKO RECTE + BLANCA ANTONIA MARTIN BSCUDERO ADVOGADO =: FRANCISCO MANOEL XAVIER DE ALBUQUERQUE EF OUTROS RECDO + FUNDACAO BENEFICO DOCENTE ALFONSO MARTIN ESCUDERO ADVOGADO ATHOS GUSMAO CARNEIRO E OUTROS SUSTENTAGRO ORAL Sustentaram, oralmente, os Drs. Francisco Manoala Xavier de Albuquerque, pela Recorrente, e Arruda Alvim, pela Recorrida. CERTIDAO Certifico que a Egrégia QUARTA TURMA ao apreciar o processo em epigrafe, em sessdo realizada nesta data, proferiu a seguinte decisao + Apos 0 voto do Sx. Ministro Relator, conhecendo do recurso ¢ dando-lhe provimento, pediu VISTA 0 Sr.’ Ministro Ruy Rosado de Aguiar. Aguardan os Srs. Ministros Fontes de Alencar, Salvio de Figueiredo Teixeira e Barros Monteiro. 0 referido 6 verdade. Dou f6. Brasilia, 10 de junho = de_ 1996 SECRETARIO(A) Speier Tedamal de Aston elduce 25-06-96 4° Turma RECURSO ESPECIAL N° 61.434-SP (REG. 95 87014) VOTO-VISTA (PRELIMINAR] © SR. MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR: Estou de pleno acordo com o eminente Relator, quando repeliv a preliminar de irregularidade na representagéo da ora recorrente, pois os poderes que outorgara a Nacim Gabriel Arida, na qualidade de inventariante do espélio de Alfonso MartipEscudero, para ger @ administrar todos os bens méveis \méveis do acervo, compreendiam também o de defender seus interesses como herdeira, porquanto essa condicffo fora a causa de sua nomeagéo para a bora n&o se confundam as duas posigdes, @ os inleresses que delas decorram possam nao ventarianga. ser os mesmos, a verdade 6 que se ha de entender inserido no mandato que a pessoa fisica e inventariante concede ao seu procurador, com os mais amplos poderes para agir em relagao a0 espélio, também o de defender a prépria qualidade da outorgente como herdeira. Néo seria razodvel exigir-Ihe a pratica de um novo ato, ou a escolha de outro mandatario, ‘apenas porque no anterior instrumento ndio ficara explicitada a circunstancia de também ester atuando na condi¢éo de herdeira. Rep er 6 Sepesios Sedhanal de, Aus Yote-Visa(Preseinar 2 2. A recorrida, ao pleitear sua admissao como herdeira, a fis. 58/59 dos autos do inventario, assim se manifestou: afirmou: "A requerente € herdelra necesséria de sue poi Alfonso Martin Escudero, em conformidade com a lei brasiteirc, néo somente respaldada pela Constitvigéo Federal, como pela legisiagéo contida no Cédigo Civil Brasileiro.” . "Ressaite-se, também, que o inventorionte insiste em afirmar que o herdeira necessdria € filha adotiva, por adegéo simples. ignorando o iegislacdo pétria. A Constituigéo Brasileira no seu artigo 227, pordgrafo 6°, eliminou quaisquer diferengas quanto aos direitos entre fithos legitimos e adotados' © magistrado, ao admitir o seu pleito, a fis. 241, L “Quondo da lavratura do testamento, | estava em vigor @ nossa atual Constitujcéo Federal, que em seu arfigo 227, pardégrafo 6°. equifgrou as diversas espécies de filiag Go, inclusive, para fins de sucesséo." Do acérdao ora em exame, recolh: “Em seu parecer de fis, 1596 @ seguintes, expe 0 Desembargader Candido Rangel Dinamarco a constitucionalidade de ressalve feito quanto ao regime da adogao simpies € a filiageo natural, £. em ponto ¢ frente, lembre que o de cujus, 00 adotar D. Blanca nos iimites estreites da adogao simples, negando-ihe a condig6o de herdeira necessaria, ao testar prosseguly nessa intengao, imponde a boa exegese atendimento 4 vontade do testador. Sbsaia Tedanal be Satoa Exp of 61424 -Voto-Vta (Presrinar © professor Calo Mérlo de Silva Pereira, opinondo 45 Hs. 1566 © seguintes, no mesmo sentido orlentou suas conclusdes, demonstrando, com clareza, as limitagdes pora 0 caso da invocagdo do artigo 227, § 6% da Constitvigéo Brasileira vigente, reguiada a copacidede sucess6ria de recorrida pela fei espanhola, © nunca erigida D. Bianca 6 condicéo de herdeira do de cujus.” (voto do Des. Marco César. Relator) (f. 1636) "A capacidade hereditéria. que nasce do principio constitucional que nivelou os filhos de qualquer origem, atinge apenas as domiciliados no Brasil. As criticas que podem ser trozidas & Constituicoo Espanhola ov 4s leis que trolam da adogéo e que néo se ajustam com perfeigde & Lei Maior da Espana, por mais procedentes, distonciam-se da causa da agravade. Dificil entender que 9 juiz brasileiro posse atirmar ser invélida a doacao feita em pais estrangeire, porque colide com as segras da nossa Carta Magna: ¢ dai tirar consequéncios juridicas de largo porte. © art. 17 da Lei of atasta @ eticdcia de ato vedo co Codigo Civil juridicos ov manifestacdes de lulro pals, mas somente quando “ofenderem a soberanio| nacional, a ordem publica e os vontade produzides em bons costumes" Néo se enquadra 0 fafo agora exominado como Gesvirtuado, por meio de qualquer ume dos lesdes das acima mencionadas. Outrossim, no ato do adogao foram os interessados cdvertides pelo notdro des condi¢oes existenfes ¢ vigentes, inclusive no que diz respeito ao confeddo do art 180 do Cédigo Civil focal: nda se pode esquecer que o falecido teve oportunidade de modificar a adogae por eta praticada em seus efeitos, valendo-se da legisiagao Sypouios Fecal de Aestoa REID A" 614945P-VoIo Vise frais) 4 especifica, Inclusive go lempo em que mandou elaborar seu testomento publico, Nada aiterou, Impuisiona-se 9 Julgader a acatar a vontade do festador, ofé porque a tei brasileira assim prescreve. Interessante © gpego ao disposto no art. 226, pardgrafo 6%, da Constitvicéo Federat de 1988. Nao se pode negar aos fllhos Iguaidade. Nem por isso a regra & absoluta; basta lembrar 0 disposto no art. 5°. XxxI, do mesma Corta, quando haverd distingdo entre filhos brasiteiros @ estrangeiros na sucesso de bens de estrongeiros. desde que situados no Brasil. A igualdade entre flihos, em fol hipétese, ndo seré observada: os brasileiros receberéo beneficios: @ nenhuma palavra foi dedicada aos fihos estrangeiros. Poder-se-io dizer que o ort 226, § 6% estd preocupado em estabelecer iguatdade entre os filhos do casamento ov ndo, ov da adegéo, € néo a igualdade entre brasilelros @ esirangeiras. Entretanto, se todos sao iguais perante @ lei, sem distingdes, & a prépria Carta Magna que diferencia 0 caso de heranga de brasileiros. exciuinda dos favores legais os estrangeiros, mesmo que fithos do autor da heranga. Nao se pode pretender idyaldade. sctuter. diga-se de passagem, ievande-A as dttimas conseqdéncias, quonde © préprio consfitvinte impde Umites, Nem me porece que o intérprete/da !ei brasileira, no afa de dar a ela a mais {arge aplicagae. possa invadir questoes que dizem com @ constituctonalidade de iels estrangeiras, porque @ soberania da Justiga Brasileira ndo caminha por fol tipo de estrada." (voto do Des. Silveira Neto} tts 1645/1646) Apenas o terceiro juiz nao se referiu ao texto constitucional, mas acompanhou os demais, Sones Kena be iton Resp 61 AS4SP- Voto-Vso (retina) 5 Por fim, observe que a recortida, na sua peticao de recurso de embargos declaratérios, depois de afirmar que pretendia interpor recurso extraordinario, renovou seu amparo na Constituigo da RepOblica: “assim, mesmo gue aplicével & espécie a lei espanhoio, - 0 que, insista-se, admite-se sé para efeitos de argumentagde - certo € que em face da proibi¢do de distingdo entre tilhos de qualquer natureza, mesmo se adotivos (conscgrada no artigo 227, pardgroto 6° da Constifuicdo Federal) e sendo essa proibic¢éo de ordem publica, inclusive constituindo garantia constitucional. afastade estaria 0 estatuto pessoal da herdeira, tmponco- se por consequencia 0 aplicagae do lex fork” [fl 1666) Desses elementos extraio a idéia de que, desde seus primérdios, a causa foi colocada também em termos constitucionais, pois foi na Constitujgao da Republica que tanto a parte, como todes os qle\decidiram nos autos, encontraram fundamento para /a sua pretensdo ou suas decisées. Tendo sido afirmadp na deciséo recorrida que o preceito con: cional, dispondo sobre a igualdade entre os filhos, garantia 0 direito pleiteado pele filha adotive, a Camara viu-se na contingéncia de examinar a incidéncia do norma constitucional, para afasté-la, no caso dos autos. Se nao fosse assim, n&o teria como admitir que um filho, por ser adotivo, pudesse receber tratamenio diferenciado, apenas por ter domicilio na Espanha. Quero com isso dizer que o Tribunal, para examinar a possibilidade da aplicagée da lei do domictlio do Soins Kona Katee REID 0° 61A34SP-Voto-Vise Pelirins) 6 herdeiro, que estabelecia uma restrigao 4 capacidade sucesséria do filho adotivo, necessariamente teve de interpretar 0 dispositivo constitucional, para admitir que, nesse caso, ha limitagées para invocar-se 0 artigo 227, pardgrato 6° da Constituigao da RepUblica. Por isso, 0 r. voto vencedor do Des. Silveira Neto consignou que a regra do artigo 226, pardgrafo 6°, nao é absoluta, “atinge apenas os domiciliados no Brasil", lembrando a distin¢éo que faz, também em matéria sucesséria, a mesma Constitui¢ao, no seu artigo 5°, XXX! Existe, portanto, no r. acérd&o recorrido, um fundamento de natureza constitucional, que deveria ter sido atacado através de recurso extraordinario, pois a aceitagao da tese de que a regra do artigo 227, § 6° da Constituigéo da Republica, assegura a igualdade absoluta entre os filhos, também para efeitos sucessérios © sem distingéo quanto ao seu domicilio, significaria 0 atastamento de, quaiquer norma infraconstitu nal que estabelecesse distit¢Go quanto aos seus direitos, De outra parte, somente interpretaco mais flexivel do enuncicdo na Carta, a como adotado no acérdao, poderia ensejar a concluséo de que, aos filhos com domicilio em outros Estados, era permitido tratamento desigual quanto ao reconhecimento dos seus direitos. Sendo assim, através de recurso extraordinario, a recorrente poderia obter decisdo favorével © suficiente para atendimento de sua pretensGo, uma vez reconhecido que o texto constitucional néo admite a flexibilizagao que the atribuiu o +. Tribunal 4 quo. Diz-se que o julgamento da causa poderia ter ficado no &mbito infranconstitucional, bastando par isso que se atribuisse ao conceito de capacidade sucesséria o Spun Fenelon Resp n° 61.4265. VotoVite [retin 1 contetdo que Ihe atribui a recorrente, pelo que deixaria de incidir a norma do artigo 10, § 2° da LICC. Ocorre que nao foi esse 0 caminho escolhido pelo Tribunal @ quo, cujo julgado teve © desdobramento jé referido: partiu da premissa de que a CR permite @ diferenciagao entre os filhos, examinou a regra do § 2° do art. 10, da LICC, estabeieceu em razGo disso uma diferenciagGo que nG@o poderia fazer sem antes vencer a questGo maior da igualdade entre os filhos. E o julgado com essa fundamentagao é que esta agora submetido ao exame da Turma, que ndo pode, a meu ver, negar a existéncia de questio constitucional no inaeg6| ae eg. Tribunal de Sao Paulo, © quat deveria ter sido” aidtade através de recurso opropriado. Posto isso, com [base na Sdmula 283/STF, nao conhego do recurso. Sepesus Trlewnal de Ausbea comme: 21-96 4 Turme RECURSO ESPECIAL N° 61434-SP VOTO-VOGAL © SR. MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR: Sr. Presidente, acompai Eminente Ministro- Relator, acentuando 0 fate de que, fo caso, o aderente 6 uma empresa, ndo tendo sido afirmadd nos autos que tenhe sofrido dificuldade no exercicic da sua defesa em Juizo. Sopeuve Fadel db Seaton CERTIDAO DE GULGAMENTO QUARTA TURMA Wee, Registre: 95/oo08vai1-4 RESP 00061434/87 PAUTA: 10 / 06 / 1996 JULGADO: 25/06/1996 RELATOR EXNO. SR. MIN. CESAR ASFOR ROCHA PRESIDENTE DA sessac EXWO. SR. MIN, SALVIO DE FIGUEIREDO TEIX RA Subprocuraéor Geral da Repuplica EXMO. SR. DR. MOACYR GUIMARAES HORAES FILHO Secretario (al CLAUDIA AUSTREGSSILO DE ATHATDE auruacao RECTE BLANCA ANTONIA MARTIN ESCUDERO ADVOGADO + FRANCISCO MANOEL XAVIER DE ALBUQUERQUE = OUTROS RECDO PUNDACAO BENEFICO DOCENTE ALFONSO MARTIN ESCUDERO apVvosapo ATHOS GUSMAO CARNEIRO & OUTROS CERTIDEO Certirico que a Egrégia QUARTA TURMA ao apreciar © processo en epigrafe, en sessdo realizada nesta cata, proferiu a seguinte aecisao Prossegusndo no julgamento, apos ¢ voto-vista Go Sr. Ministed Ruy Rosado de Aguiar, ndo conmecenso do recures, pediu VISTA 0 Se Uinistre Fontes de Alencar. Aguarean os Srs. Ministros saivic ce Figueireao Teixeira Barros Monteiro. © referido @ verdade. Dou #6. Brasilia, 25 ae sunko Sepcrce Tedeaad de, Aten -# Tuma20.0896, RECURSO ESPECIAL N° 61.434 - SAO PAULO VOTO-VISTA O EXM’ SR. MINISTRO FONTES DE ALENCA\ Duas questdes prévias tomam a minha atenglo. A primeira diz com a Proouragio de que se serve o representante da recorrente, A argiligio correspondente rejeitou-a ‘© relator, ¢ também o 1° vogal, Mesmamente a afasto eu, Nao s6 pelo que disseram os eminentes julgadores, mas sobretudo porque a heterogencidade da posa de fl. 1.658 se me afigura certa, pelo que nio ha dizer-se falto de poderes aquele que em nome da recorrente outorgou 0 ‘mandado instrumentalizado a fl. 1.661 ‘A outra prende-se ao que se disse fimdamento constitucional do acérdio de fataque isentado, O relator repeliu essa preliminar trazendo 4 tona o ait, 10 da LICC e ‘considerando que “o fiundamento de sustentagdo, no que tem de essencial para 0 eslinde da causa, foi nico.” Oem. Ministro Ruy Rosado de Aguiar nao conheceu do recurso, com base na ‘Simula 283/STJ, por entender inegivel a existéncia de questio constitucional no acérdio recorrido nfo enfrentada por recurso extraordinério. Adnmito que numa primeira mirada niio divisei fundamentagio constitucional no acérdio da Corte paulista. Distingui apenas, entio, fundamento de voto com tom de ‘constitucionalismo, A remirar # causa, porém, deparei com o que me sugeriu um fundamento Constitucional da decisto recorrida. E que 0 acérdao adotado nos embargos declaratorios expde © seguinte: “Certo que os Juizes e Tribunais, em suas decisbes, nio estéo Obrigados a mencionar explicitamente todos os argumentos ¢ textos do ordenamento juridico citados pelas partes, devendo, ao invés, construir a ora deciséria dentro do que se revele pertinente © suficiente para fundamemtar a conclusdo, e a r. decisto embargada assim procedeu < Sgpeues Febanal de Seton REsp. 61.434/SP-vy 2 Bem claro que nela a adogao de pareceres de ilustres juristas no. s¢ etigiu em argumento de autoridade, mas sim reportou-se a base juridica de tais pegas, nos pontos acolhidos, preferindo 0 v. acdrdio ndo transcrevé- los, € a0 citar os eméritos, nlo pecou por invocagdo ‘genérica, sendo explicito em dizer no que se valia deles,” (Al 1.672) ‘Nada obstante, no corpo do acérdéo a meng&o ao parecer do em Professor Cindido Rangel Dinamarco nio se apega ao dircito constitusional brasileiro. A alusto ao parecer do também em. Professor Caio Mario da Silva Pereira, no que se refere a Constitui¢do, nfo se me ‘figura a modo de fundamentaco do decidir. No voto do segundo juiz da Corte estadual o mébil da manifestagao no € a norma da Constituigio da Repiblica, a que alude obiter dictum. Esvaiu-se aquela sugestio de fandamento constitucional, O mirar ¢ 0 remirar a causa ¢ vezes varias examiné-la ¢ a reexaminar, tudo é proprio do juiz, para desfazimento de dividas no seu dizer. Ainda que se tenha presente ao acérdio recorrido um fandamento constitucional, no creio deva ser obstado o conhecimento do recurso sob calor de falta de interposisio do apelo extraordindrio. E que faltaria ao soi-disant fundamento constitucional a perseidade reclamada pela Simula 126 do STJ ¢ pela Simula 283 do STF, porquanto a recorrente nfo contende com outros flhos daquele de cuja sucesso se trata. O relator, assinalando que capacidade para suceder ¢ qualidade de herdeiro se ‘ndo confundem, entendeu que “essa qualidade de herdeiro haveré de ser aferida pela mesma lei competente para reger a sucesso do morto que, no Brasil, “obedece a lel do pais em que era domiciliado e defunto... qualquer que seja a natureza © situagdo dos bens,” em face do pontificado no caput do art. 10 da LICC” e concluiu: “Com efeito, a lei brasileira confere @ Blanca, de hi muito, a ‘qualidade de herdeiro.” E, passo avante, registrou: “Nenhuma referéncia a indignidade ou deserdagio, ou a ‘qualquer outro instituto que tivesse 0 condo para retirar a sua capacidade para sucedter foi formulada.” Finalmente, conheceu do recurso por ambas as alineas ¢ Ihe deu provimento. Adunam-se as expresses doutrinais que permeiam 0 voto de S. Ex e 0 que escolio de obra do Prof, Luiz Ivani de Amorim Aratjo: “A sucesso - por morte (legitima ou testamentiria) ou por auséncia - rende-se 4 lex loci do de cujus. ~sneeseeecOmmiSsis), Seperioe Tedenad ob Aesioa Esp, 61.434/9P.v A lei domicitiar do herdeiro... ou do legatério.. - regula a capacidade para suceder “(Introdueio ao Direito Internacional Privado, P88. 83/84 - Sdo Paulo: Ed. Rev. dos Tribunais, 1990) Vale anotado 0 extremo de Amilcar de Castro que depois de discordar da Posiggo de Espinola & Espinola (Ca nova lei de Introdugo, quando declara no art. 10, § 2°, que 4}ei do domicilio do herdeiro ou legatirio regula a capacidade para suceder considera ndo a capacidade para ter 0 direito de sucessor, mas a aptidio para exercer o direito de sucessor reconhecido pela Lei competente”) assim pontificou “A melhor doutrina ensina que a faculdade de haver a heranca conjunto de qualidades requerides para suceder, ou capacidade para suceder, deve ser regulada exclusivamente pelo direito que rege 2 sucessio ‘Gus causae). Pelo mesmo direito por que se aprecia a vocagéo hereditéria ‘que se devem qualficar as pessoas chamadas a suceder.” E acresceu: “Sem diivida nenhuma a jutisprudéncia podera consertar a lei.” Direito Internacional Privado, pgs. 433/434, 3* ed. - Rio: Forense, 1.977) Dou provimento ao recurso nos termos do pedido conduzido no recurso especial que esté nos autos. 7} Sous Fedenal de Sater CERTIDAO DE JULGAMENTO QUARTA TURMA Nro. Registro: 95/0008701-4 RESP 00061434/SP PAUTA: 10 / G6 / 1996 JULGADO: 20/08/1996 Relator Exmo. Sr. Min. CESAR ASFOR ROCHA Prosidente da Sessdo Exmo. Sr. Min. SALVIO DE FIGUEIREDO TEIXETRA Subprocurador Geral da Republica BXNO. SR. DR. PRANCISCO ADALBERTO NOBREGA Secretario (a) CLAUDIA AUSTREGESILO DE ATHAYDE avuacko aeCTE + BLANCA ANTONIA MARTIN ESCUOERO ADVOGADO- FRANCISCO MANOEL XAVIER DE ALBUQUERQUE F OUTROS RECDO FUNDACAO_BENEFICO DOCENTE ALFONSO MARTIN ESCUDERO ADVOGADO ATHOS GUSMAO CARNETRO E OUTROS cERTIDAO Certifico que a Egrégia QUARTA TURVA ao apreciar © processe em epigrafe, em sessio realizada nesta data, proferiu a seguinte deciséo : Prosseguindo no julgamento, apos o voto-vista do Sr. Ministro Fontes de Alencar, conhecendo do recurso e dando-lhe provimento, pe~ diu VISTA o Sr, Ministro Salvio de Figueiredo Teixeira. Aguarda o Sr. Ministro Barros Monteiro. © referide 6 verdade. Dou £6. Brasilia, 20 de agosto de_ 1996 ‘BENRETARTO(A) e Aewewwe Suibanal che Aatea 4"Turma, 26.11.96 RECURSO ESPECIAL N° 61.434 - SP VOTO-VISTA OSR. MINISTRO SALVIO DE FIGUEJREDO TEIXEIRA: 1. A raridade do tema em tomo da verdadeira inteligéncia do art. 10, § 2°, da Lei de Introdugdo, ainda ndo apreciada anteriormente neste Tribunal, ‘a riqueza de dngulos levantados pelas partes em raz6es, memoriais e pareceres, a arguigo de preliminares ¢ a divergéncia jé verifieada nos votos proferidos, levaram-me a ter vista dos autos. Nesse exame, colhi inicialmente da exposigio lancada pelo Sr. Ministro-Relator: “A recorrente, Blanca Antonia Martin Escudero, nascida e domiciliada na Espanha, foi, em 16 de julho de 1986, aos 45 (quarenta e cinco) anos de idade, por eseritura pliblica de adogao simples celebrada naquele pais, adotada por Alfonso Martin Escudero, nascido em 1901, de ‘naturalidade foral catalé mas domiciliado no Brasil (Estado de Sao Paulo) desde 1955 até a sua morte, aqui ocorrida em 02 de margo de 1990, nao deixando cénjuge sobrevivente, pois vitiv desde 21 de julho de 1979, nem a evidéncia, ascendentes, nem nenhum descendente biolégico, seja legitimo ou ilegitimo. Em fevereiro de 1989, estando em Madrid, o falecido Alfonso fez seu testamento aberto, deixando todos 0s seus bens para a "Fundagtio Benéfico-Docente Alfonso Martin Escudero”, ora recorrida, instituindo-a sua herdeira universal, deixando tocar, todavia, 4 recorrente (que ows Teenal de Seat : também firmoa 0 instrumento), como legado, um apartamento, a ser comprado pela referida Fundagao, além de uma pensio vitalicia, bem como os objetos de menor mont ali indicados. Com 0 ébito de Alfonso foi aberto na Comarca de Sto Paulo, que fora o seu Gltimo domicilio, 0 arrolamento dos bens hereditérios, com 0 pedido de que estes fossem adjudicados em favor da "Fundagdo Benéfico-Docente Alfonso Martin Escudero", que seria a sua herdeira universal. E que a lei espanhola, vigente no tempo da adogao, néio conferia a Blanea, cujo vineulo com 0 de cujus decorria apenas de adogo simples, nenhum direito sucessério sobre a heranga do falecido, salvo, evidentemente, 0 legado decorrente do ato de ltima vontade, nada obstante, no momento da morte de Alfonso, jé viger a Lei n? 21/87 que parificara naquele pais todas as adogdes, mas ressalvando as anteriormente instituidas, pelo que, quem jé tivera sido conferido com a adogzo simples, s6 se constituiria herdeiro do adotante com a expressa manifestagao deste, 0 que néo ocorrera na espécie de que se trata, Ingressando no feito, Blanca pleiteou o seu reconhecimento como herdeira necessiria do de cujus, com ‘ito a legitima, por forca do editado no art. 10 da Lei de Introdugdo do Cédigo Civil, postulando ainda a modificagto do rito da agdo de arrolamento para inventirio, em face do disposto no art. 1.036 e seguintes do Cédigo de Processo Cit em tudo sendo atendida pelo digno Juiz processante, cujo decisério foi reformado, em sede de agravo de instrumento, pela eg. Quinta Camara Civil do Tribunal de Justiga do Estado de Sao Paulo, a consideragao de que, em apertada sintese: a) "o art. 10 da Lei de Introdugiio a0 Codigo Civil, manda que a sucesstio por morte obedega & lei do pais em que domiciliado o defuunto, ‘qualquer que seja a natureza e situagao dos bens. © prevé ainda que a lei do domicitio do herdeiro ou legatdrio regule a capacidade de suceder.” (fs. 1.635); bb) pelo direito espanhol, Blanca, conquanto Va seja filha adotiva de Alfonso, néo seria sua Sa senaatsrooia puns Srhanal ob. Atos : herdeira necessaria, porque a ela foi conferida apenas a adogao simples; e)embora sendo certo que a Lei n? 21/87 dera paridade as adogdes simples ¢ plena, em razio do que ambas confeririam, ao adotado, a condigio de hetdeiro necessério, ressalvara. contudo, aquelas primeiras instituidas antes de sua vigencia, salvo se tivesse havido posterior manifestago expressa_cm sentido contririo, inocorrente na bipétese dos autos; d)ademais, a propria Blanca teria se conformado em receber apenas o legado, na medida em que também firmara 0 testamento aberto celebrado por Alfonso, que a brindow com ‘© kegado acima mencionado; ©) por fim, como o testamento foi posterior a adogiio e a vigéncia da Lei n° 21/87, seria de inferir-se que a vontade de Alfonso outra nao seria senio a de deixar Blanca apenas como sua legatéria”. Como se vé, a recorrente, filha adotiva por esoritura passada em seu Pais de origem, em julho/86, pretende valer-se da lei brasileira, que confere, também para fins de heranga, igualdade juridica aos fills, adotives ou nao, argumentando com o principio da universalidade sucess6ria ¢ enfatizando que, diversamente da conclusio a que chegou o eg. Tribunal de Justiga de So Paulo, a expressdo legal “capacidade para suceder” reclamaria exegese segundo a qual & lei espanhola somente incumt ia dizer da sua condigdo de filha adotiva e sua aptidao para herdar, cabendo a lei brasileira 0 mais em termos sucessérios, a fi regoworsrroosisn Segpeioa Shatinal dh, Auatiea . saber, “se a adogdo simples € fonte de vocagio hereditiria ¢ se a vontade do testador pode prevalecer sobre a legitima do herdeiro necessério”. 2. Antes do exame do mérito, no entanto, hé duas preliminares a apre de ndo-conhecimento do especial. A primeira, por falha na representagao postulatoria da recorrente; a segunda, a propésito de fundamento constitucional nio-impugnado no aeérdao paulista 3. Quanto & primeira dessas preliminares, também 2 rejeito, acompanhando os votos jé proferidos. © instrumento de mandato outorgado pela recorrente (fis. 1,658) conferiu a Nacim Gabriel Arida todos os poderes para gerir ¢ administrar os bens do espélio, para o qual a recorrente tinha sido nomeada inventariante, constando ‘até mesmo poderes para contratar advogado. Certo & que @ finalidade imediata do contrato seria a defesa dos negécios do espélio. Embora precipua, ndo era essa, porém, a finalidade inica, haja vista que o mandato poderia servir também para a defesa dos interesses pessoais da inventariante. Destarte, no ponto, ponho-me de acordo com 0 Sr. Ministro-Relator, na medida em que 0 Direito Processual contemporaine néo comporta tamanho rigor formal. 4. Passo, a seguir, ao exame da segunda preliminar. Do voto do Relator do acérdtio paulista (Des. Mareo César), extraio: “Uma vez que, por disposigdo de vontade, Blanca ‘Antonia Martin Escudero no foi instituida sucessora do de repowiseoonn Sesion Fahenal dh. Astea 5 cujus, nem o € por direito de sangue, cumpre estabelever se 1 adogdo havida na Espanha serve & mesma para algé-la a tal condigao. © artigo 10, da Lei de Introdugo a0 Cédigo Civil, ‘manda que a sucesso por morte obedega a lei do pais em que domicitiado 0 defunto, qualquer que seja a natureza e situagio dos bens, e prevé ainda que a lei do domicilio do herdeiro ou legatario regule a capacidade de suceder. ‘A confrontagao entre o primeiro ponto (caput), ¢ 0 segundo (§ 2°), largamente estudada nos luminosos pareceres de fs, ¢ fls. , todavia pressupde que se acerte desde logo se a adogio simples da recorrida pelo falecido ‘Alfonso Martin Escudero, serviu a qualquer tempo para erigi-la a condigdo de herdeira. A conclusio é negativa. Faga-se referéncia ao parecer acostado nos autos da lavra do eminente Professor Irineu Strenger (fls. 569 € seguintes). Existentes no direito espanhol, como jf sucedeu no direito local, a adogao simples ¢ a adogao plena, pela Lei n® 21, do ano de 1987, vale dizer, apés a adogao simples da recorrida pelo falecido, reduziu-se a adogdo a uma tinica forma, mas tal lei, a0 assim dispor, ressalvou que as adogdes simples ou menos plenas subsistiriam com os efeitos que Ihes reconhecesse a legislagdo anterior, sem prejuizo de gue se pudesse levar a cabo a adogdo regulada ‘por aquela lei, se para isso se cumprissem os requisitos nela exigidos. Garantiu a lei espanhola, pois, 0 ato juridico perfeito, € em tais termos deve ser acatada a situagdo estabelecida quando da adoglo da recorrida, que nao servia, como a adogdo simples do anterior direito brasileiro, para erigi-la a condigdo de herdeira. Em seu parecer de fls. 1596 e seguintes, expde 0 Desembargador Ciindido Rangel Dinamarco a constitucionalidade da ressalva feita quanto ao regime da adogiio simples ¢ a filiago natural. E, em ponto a frente, lembra que o de cujus, ao adotar D* Blanca nos limites estreitos da adogao simples, negando- Ihe a condigdo de herdeira necesséria, ao testar prosseguiu nessa intengo, impondo a boa exegese atendimento a vontade do testador. Professor Caio Mario da Silva Pereira, opinando as fls, 1566 seguintes, no mesmo sentido orientou suas Rap SLAH-SPon-ist Ayer Sudanal de Arotea ‘ conclusdes, demonstrando, com clareza, as limitagdes para ‘0 caso da invocagio do artigo 227, § 6°, da Constituigdo brasileira vigente, regulada a capacidade sucesséria da recorrida pela lei espanhola, ¢ nunca erigida D* Blanca condigio de herdeira do de cujus”. Da declaragdo de voto do Primeiro vogal (Des. Silveira Netto), cotho: “Forgoso, pois, concluir-se que embora a sucessto se faca segundo a lei brasileira para qualquer falecimento de pessoa domiciliada no Brasil, hipéteses destacadas na propria lei merecem tratamento diferenciado”. “Ora, segundo 0 que esti nos autos, 20 tempo da dogo da agravada pelo falecido, esta poderia ser simples, limitando os direitos sucessérios. Modificada a lei espanhola, para permitir que houvesse adogdo em medida ‘mais ampla, abrindo capacidade sucesséria, impunha a0 adotante manifestagdo expressa a respeito; uma vez inexistente, no hé que se beneficiar, no caso presente, a agravada com a igualdade constitucional assegurada na Constituigdo Brasileira aos filhos. ‘A capacidade hereditiria, que nasce do principio constitucional que nivelou os filhos de qualquer origem, atinge apenas os domiciliados no Brasil. ‘As criticas que podem ser trazidas a Constituigio Espanhola ou as leis que tratam da adogiio ¢ que nto se ‘ajustam com perfeiggo 4 Lei Maior da Espanha, por mais, procedentes, distanciam-se da causa da agravada. Dificil entender que o juiz brasileiro possa afirmar ser invélida a doacio feita em pais estrangeiro, porque colide com as regras da nossa Carta Magna; & daf tirar conseqiiéncias Jjuridicas de targo porte, O art. 17 da Lei de Introdugio a0 Cédigo Civil afasta a eficacia de atos juridicos ou manifestagdes de vontade produzidas em outro pais, mas somente quando “ofenderem a soberania nacional, a ordem piblica ¢ os bons costumes”. Nao se enquadra o fato agora examinado como desvirtuado, por meio de qualquer uma das lesdes das acima mencionadas. Outrossim, no ato da adogdo foram os interessados advertidos pelo notirio das condi¢des existentes e vigentes, repsisrseraoiin Searsce Shenae oh Auto , inclusive no que diz respeito ao contetido do art. 180 do Cédigo Civil local; ndo se pode esquecer que 0 falecido teve oportunidade de modificar a adogio por cla praticada em seus efeitos, valendo-se da legislagtio especifica, inelusive ao tempo em que mandot elaborar seu testamento- pliblico, Nada alterou. Impulsiona-se o julgador a acatar a vontade do testador, até porque a lei brasileira assim prescreve. Interessante 0 apego ao disposto no art. 226, § 6°, da Constituigdo Federal de 1988. Nao se pode negar aos filhos igualdade. Nem por isso a regra é absoluta; basta lembrar 0 disposto no art. $°, XXXI, da mesma carta, quando haveré ingaio entre filhos brasileiros e estrangeiros na sucesso de bens de estrangeiros, desde que situados no Brasil. A jigualdade entre filhos, em tal hipétese, nfo sera observada; 0s brasileiros receberio beneficios; ¢ nenhuma palavra foi dedicada aos filhos estrangeitos. Poder-se-ia dizer que 0 art. 226, § 6°, esté preocupado em estabelecer igualdade entre os filhos do casamento ou ndo, ou da adogdo, e nao a igualdade entre brasileiros e estrangeiros. Entretanto, se todos séo iguais perante a lei, sem distingdes, é a propria Carta Magna que diferencia o caso de heranga de brasileiros, exeluindo dos favores legais 6s estrangeiros, mesmo que filhos do autor da heranga Niio se pode pretender igualdade, salutar, diga-se de passagem, levando-a 3s ikimas consegiténcias, quando 0 proprio constituinte impde limites. Nem me parece que 0 intérprete da lei brasileira, no aff de dar a cla a mais larga aplicagdo, possa invadir questOes que dizem com a constitucionalidade de leis estrangeiras, porque a soberania da Justiga Brasileira ndio caminha por tal tipo de estrada”. Na realidade, foi a propria recorrente que invocou a norma constitucional, que estaria a reconhecer os seus direitos. 0 que levou o Tribunal de origem a aprecis-lo ¢ proclamar que o mesmo nao a favorecia, louvando-se em parecer, além de arrimar-se no art. 5°, XXXI da Lei Maior. Levando em linha de consideragao tais manifestagdes, além do ja constante no requerimento da tecorrente (fls. 58/59) e no pronunciamento judicial nepesisrvoovin Agpraice Sudanal de. Aeatea : de fls, 241 (admissdo da recorrente na qualidade de herdeira), vé-se que presente, no desenrolar da causa, o fundamento constitucional em torno do art. 227. § 6°, do texto de 1988. Assim, lastreou-se o acérdao em fundamentos constitucional (niio-aplicagao do art. 227-96") ¢ infraconstitucional (adogao da lei espanhola), Bem ou mal, entendeu o Colegiado bandeirante que, mesmo que se aplicasse ao caso a lei brasileira, seria constitucional, sob o prisma do direito brasileiro, a ressalva feita pela Lei espanhola n° 21, de 1987, que considerou Validos os efeitos das adogdes anteriores & sua vigéncia, de acordo com as regras da época, 0 que, conseqllentemente, no conferiria & recorrente 0 status de herdeira necessaria perante 0 nosso ordenamento juridico. Esse ponto, nao cuidou a recorrente de impugnar, incidindo, em conseqiiéncia, o enunciado n° 126 da simula deste Tribunal, segundo 0 qual “E inadmissivel recurso especial, quando 0 acérdio recorride assenta em fundamentos constitucional ¢ infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si s6, para manté-lo, e a parte vencida nao manifesta recurso extraordinario”. Nao se trata, como se vé com nitidez, de exigir-se a dectarago de inconstitucionalidade da lei espanhola, mas da inteligéncia do alcance do art. 227-§6° da nossa Constituigao no caso conereto, Argumenta a recorrente. por outro lado, que, mesmo que se admita © fundamento constitucional, nao seria ele suficiente para os fins do referido verbete sumular, a saber, para sustentar as conclusdes do acérdao recorrido, dai faltar-the interesse em recorrer extraordinariamente, enfatizando, mais, que, em Me hprvice Tribana the Arata ° qualquer das hipoteses, de provimento ou ndo do especial; restaria prejudicado 0 RE BLES SPawona eventual extraordinério. © exame detido que fiz, da espécie, todavia, nflo me levou a essa conclusio. Sendo dois os fundamentos, ambos suficientes, ultrapassando um, remanesceria o outro. Superado o fundamento infraconstitucional, pela incidéncia da lei brasileira, permaneceria 0 fundamento constitucional do acérdtio ‘guerreado, segundo o qual ndo-incidente na espécie a igualdade contemplada no art, 227-§6° da Constituigao. Dai o acerto, a meu juizo, do raciocinio deseavolvido no voto do Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: “Tendo sido afirmado na decisio recorrida, que 0 preceito constitucional, dispondo sobre a igualdade entre os filhos, garantia o direito pleiteado pela filha adotiva, a ‘Camara viu-se na contingéncia de examinar a incidéncia da norma constitucional, para afasté-la, no caso dos autos. Se néo fosse assim, ndo teria como admitir que um filho, por ser adotivo, pudesse receber tratamento diferenciado, apenas por ter domicitio na Espanta. ‘Quero com isso dizer que o Tribunal, para examinar a possibilidade da aplicagao da lei do domicitio do herdeiro, que estabelecia uma restrigdo & capacidade sucesséria do filho adotivo, necessariamente teve de interpretar 0 /o constitucional, para admitir que, nesse caso, hé invocar-se 0 artigo 227, § 6° da Constituigdo da Repiblica. Por isso, o r. voto vencedor do Des. Silveira Neto consignou que a regta do artigo 227, § 6, no é absoluta, “atinge apenas os domiciliados no Brasil”, lembrando a distingdo que faz, também em matéria sucessoria, a mesma Constituigdo, no seu artigo S°, XXX1. Existe, portanto, nor. acérdtio recorrido, um fundamento de natureza constitucional, que deveria ter sido atacado através de recurso extraordinatio, pois a aceitagao da tese de que a regra do artigo 227, § 6° da Constituigao da Republica, assegura a igualdade absoluta entre os filhos, rspsiossewomninn Ayaan Subanal dhe Aeatea » Em face do exposto e em conelusdo, com a m: também para efeitos sucessérios e sem distingao quanto ao seu domicilio, significaria o afastamento de qualquer norma infraconstitucional que estabelecesse distingdo quanto aos seus direitos. De outra parte, somente interpretagtio mais, flexivel do enunciado na Carta, assim como adotado no acérdio, poderia ensejar a conclusdo de que, aos filhos com domicilio em outros Estados, era permitide tatamento desigual quanto ao reconhecimento dos seus direitos. Sendo assim, através de recurso extraordindtio, a recorrente poderia obter deciso favoravel e suficiente para atendimento de sua pretensdo, uma vez reconhecido que o texto constitucional no admite a flexibilizaglio que the atribuiu o r. Tribunal a quo. Diz-se que 0 julgamento da causa poderia ter ficado no Ambito infraconstitucional, bastando para isso que se atribuisse a0 conceit de eapacidade sucesséria 0 contetido que the atribui a recorrente, pelo que deixaria de incidir a norma do artigo 10, § 2° da LIC. Ocorre que, no foi esse © caminho escolhido pelo Tribunal a quo, cujo julgado teve © desdobramento ja referido: partir da premissa de que a CR permite a diferenciagdo entre os filhos, examinou a regra do § 2° do artigo 10, da LIC, estabelecendo em razio disso uma diferenciagio que no poderia fazer sem antes veneer a questo maior da igualdade entre os filhos. E © julgado com essa fundamentagdo é que esté agora submetido ao exame da Turma, que nfo pode, a meu ver, negar a existéncia de questao constitucional no julgado do eg. Tribunal de Sao Paulo, o qual deveria ter sido atacado através de recurso apropriado”. respeitosa venia também no conhego do recurso. if Sypeue Fadeened desea CERTIDAO DE JULGAMENTO QUARTA TURMA Nro. Registro: 95/0008701-4 RESP 00061434/SP PAUTA: 10 / 06 / 1996 JULGADO: 26/11/1996 Relator Exmo. Sr. Min. CESAR ASFOR ROCHA Presidente da Sesséo Ewno, Sx. Min. SALVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA Subprocurador Geral da Republica EXMO. SR. DR, RONALDO BOMFIK SANTOS Secretario (a) CLAUDIA AUSTREGESILO DE ATHAYDE auTUACKO RECTE + BLANCA ANTONIA MARTIN ESCUDERO ADVOGADO FRANCISCO MANOEL XAVIER DE ALBUQUERQUE E OUTROS RECDO + FUNDACAG BENEFICO DOCENTE ALFONSO MARTIN ESCUDERO ADVOGADO : ATHOS GUSMAO CARNEIRO E OUTROS CERTIDAO Certifice que a Egrégia QUARTA TURMA ao apreciar o processo em epigrafe, em sessao realizada nesta data, proferiu a seguinte decisao + Prosseguindo no julgamento, apos o voto-vista do Sr. Ministro Salvio de Figueiredo “Teixeira, nao conhecendo do recurso, pediu VISTA 0 Sr. Ministro Barros Monteiro. © referido 6 verdade. Dou £6. Brasilia, 26 de novembro de ‘SECRETARIO(A) Sgsics Gecbunal de eaten Rosa Em mesa - 22,0497 RECURSO ESPECIAL N° 61434 (95.8701-4) SP VOTO - VISTA 0 SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO: - 1. Tal como os votes precedentes, estou em rejeitar, sr. Presidente, a preliminar de irregularidade da representagéo da ora recorrente. # que, outorgada por ela a Procuragéo a Nacin Gabriel rida, na qualidade de Anventariante do Espélie de Alfonso Martin Escudero, claro se afigura que os amplos poderes conferidos ao mandatdrio compreendian aqueles concernentes @ defesa da sua qualidade de herdeira. 2. Nao vislunbro, de outro lado, fundanento constitucional a sustentar 0 Acérdéo recorrido, por si sé suficiente, com vistas a incidéncia no caso da simula n° 126 desta Casa. - Assim se enuncia o referido verbete sumular: “6 inadmissivel recurso especial, quando o acérdéo —recorrido assenta_— em ~—”_fundanentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si sé, para manté-lo, e a parte vencida néo manifesta recurso extraordindrio”. Em primeiro lugar, o voto do Relator, Desenbargador Marco César, arrimou-se na motivagéo substancial de que, < oe oO Soper Sictanal de Seatoa RESpels34 vy fle. 0 adotada Blanca Antonia na Espanha pela forma da “adogéo simples", desprovida de direitos legitimarios, néo foi ela erigida & condicao de herdeira. # certo que, em determinado ponto de seu Pronunciamento, o Sr. Desembargador Relator se reporta ao parecer do Prof. Caio Mério da Silva Pereira acostado aos autos, 0 qual, na dicgéo empregada pelo douto prolator do voto, “orientou suas conclusdes, demonstrando, com clareza, as limitacoes para o caso da invocagdo ao art. 227, § 6°, da Constituigéo vigente....."(fls. 1,636). Entretanto, a aluséo feita ao texto da Lei Maior néo se enreda con o fundamento central daquele voto, tanto mais que essa mesma referéncia ao Preceito da Constituigéo Federal é de contetido negativo, o que, aliés, pode ser confirmado pela leitura de excerte do supramencionado parecer do mestre mineiro que se encontra a fls. 1.590: “A Constituicaéo Brasileira de 1988, no art. 227, § 6", equiparou todos os filhos (havidos ou ndéo da relagéo de casanento e por adocéo). 0 principio constitucional impressiona a primeira vista. A tentativa de decidir a Pendéncia sob o império do art. 227, § 6°, pode levar a equivoco, se nao atentar em que, na sucesso de Alfonso Martin Escudero, ocorre © denominado ‘fato anormal’, deslocando 0 caso para © terreno do conflito de leis no espago”. Inexiste, pois, no primeiro voto do julgamento da apelagao, motivo de porte constitucional. © 2° Juiz, Desembargador Silveira Neto, acompanhou o Sr. Relator na concluséo, n&o reconhecendo em favor de Blanca Antonia a condigéo de herdeira. Pode admitir-se que este 2° voto tenha fundamento de natureza constitucional, porquanto, + yee Sous Kinet be Keen RESpelé34 wy fs. 1 ao referir-se a possibilidade de transformar-se, pela legislacée espanhola, a “adogdo simples’? em adocéo mais anpla, © eminente julgador anctou que se impunha ao adotante manifestacéo expressa a respeito, acrescentando”: “uma vez inexistente, néo né que se beneficiar, no caso presente, a agravada com a igualdade constitucional assegurada na constituicéo Brasileira aos filnos. A capacidade hereditéria, que nasce do principio constitucional que nivelou os filhos de qualquer origen, atinge apenas os domiciliados no Brasil” (fs. 1.644/1.645). Ss. Exa, ainda, em seguida, tratou da igualizagéo dos filhos, asseverando que a regra néo é absoluta mesmo em face da Constituicéo da Republica (art. inc. XXXI). Jé 0 3° voto, da lavra do il. Desenbargador Marcus Andrade, no contém fundamento constitucional auténomo. 8. Exa, acentuou, em seu douto pronunciamento, que a “adocdo simples”, forma pela qual a ora recorrente foi adotada, permaneceu indene ainda que frente a dispositivos da Constituigéo Espanhola que se editaran posteriormente. alén de sustentada a inteireza da norma que instituira a “adocdo simples” (art. 180 do Cédigo Civil Espankol), o ilustre julgader ainda obtemperou a respeito: Adenais - e esse tépico se afigura fundamental - problemético o reconhecimento por corte de gustica Brasileira, da invalidade e ineficacia de lei estrangeira por inconstitucionalidade, quando nem os préprios Tribunais, mormente o constitucional, do Pais em que editada, dessa forma declararan, obstando a vigéncia” (fls. 1.651). S. Exa., em suma, deu provimento ao agravo por considerar aplicdvel & espécie o art. 10, § 2°, da LICC, segundo o qual a - aol Soper Srbanal de, estoa BESpeLesd vw tls. v lei do donicilio do herdeiro regula a capacidade para suceder. Sendo Blanca Antonia filha adotiva simples, sem direito legitinario, falta-lhe a capacidade de herdar. © simples fato de haver um dos votos ventilado matéria de porte constitucional nao significa que o Acérdao recorrido assim também se tenha expressado. Cumpre distinguir, como o faz José Carlos Barbosa Moreira, entre fundamentos de voto © fundamentos do julgado. A fundamentacéo do Acérdéo sera exclusivamente a vencedora, ou seja, aquela adotada pela naioria. Consoante adverténcia langada pelo eminente Professor @ Desembargador, “é intuitivo que nem todos os argunentos invocados pelos membros do corpo julgador se converten en fundanentos da deciséo colegiada: seréo tais, exclusivamente, os aceitos pela maioria dos votantes” (“Distingéo entre fundanento do Acérdéo e fundamento do voto’, Revista de Processo, vol. 1, abril-junho de 1976, pag. 304). Por tais razées, afasto também a segunda preliminar. 3. A ténica dos votos proferidos no julganento da apelagéo € a de que, adotada Blanca Antonia na Espanha pela forma da “adogéo simples”, sem direitos legitinarios, 0 desfruta ela do status de herdeira. A Bg. Camara fez incidir no caso a preceituagéo constante do art. 10, § 2°, da Lei de Introdugdo ao Cédigo Civil, e, consequentemente, aplicou a Legislacéo espanhola, correspondente ao domicilio da herdeira, quanto @ capacidade para suceder. A locugéo “capacidade para suceder", inserta no supra aludido § 2 , tem sentido ambiguo e, por isso mesmo, tem sido objeto de criticas veenentes e acirrados debates acerca de seu exato alcance, tanto na doutrina nacional como na alienigena. e Be o Aa Specs Srdanal de Aeatea RESp6LE34 we fe. v Cabe, portanto, antes de tudo, definir-se o conceito de “capacidade para suceder” a que se referiu o legislador brasileiro na lei colisional. A decisdo recorrida atribuiu a referida expressdo um cardter demasiado restritivo, conforne, por sinal, se acha escrito e ressaltado no voto prolatado pelo il. 3° Juiz, Desembargador Marcus Andrade: “é necesséria a aptidéo para assumir 0 direito de exercer, capacidade especifica que ihe falta” (f1s. 1.652), Nao @ outro © escélio emanado do enérito Prof. Caio Mario da Silva Pereira no supra aludide parecer, de cujos ensinamentos se serviram, em grande parte, os doutos julgadores de 2° grau para determinar a solucdo da lide. Assin € que a fls. 1.584 de seu parecer, o mestre de Minas leciona: “em qualquer caso, somente pode suceder o que tem capacidade. Esta néo se confunde con aptidéo genérica ou capacidade de direito, porém aquela que especificamente se relaciona com o fato de poder acudir ao chamanento”. Mais adiante, o eninente Parecerista conclui: “a determinagéo da capacidade ou incapacidade sucesséria de Blanca Antonia decorre da ‘adogao simples’ que a beneficiou” (fls. 1.586). Nao 6 bem assim, porém. Segundo magistério de Maria Helena Diniz, “serd preciso, ante a ambiglidade terminolégica, @istinguir, como fazem os alemées, a capacidade para ter direito A sucessdo (Erbfahigkeit), que se sujeita a lei do domicilio do auctor sucessionis, da capacidade de agir Felativamente acs direitos sucessérios, ou seja, da aptidéo para suceder ou para aceitar ou exercer direitos do sucessor (Brbrechtliche Handlungsfahigkeit), que se subordina a lei pessoal do herdeiro ou sucessivel (LIcc, art. 10, caput). + - go a Soto Fltnal ob Kaen PEspold34 vw fle. MI Deveras, a capacidade para a situacéo de herdeiro ou para ter direitos sucessérios rege-se pela lei competente para regular a sucesséo (LICc, art. 10, caput). Conseqientemente, a extensdo dos direitos sucessérios e a propor¢ao resultante de @eterminado estado juridico deveréo submeter-se a lex domicilii do de cujus, logo tal capacidade ndéo é inerente a pessoa do herdeiro ou legatario por ser conferida pela norma regular da sucessdo. 0 art. 10, § 2", disciplina a ‘aptiddo para exercer o direito de suceder’, reconhecido pela lei doniciliar do autor da heranga e regido pela lei pessoal do herdeiro, ¢ ndo ‘a capacidade para ter direito de sucessor, que se rege pela lex domicilli do falecido” (Lei de Introducaéo ao Cédigo Civil Brasileiro Interpretada, pg. 269, ed. 1994). Nessa linha o voto que proferiu o saudoso Ministro Cunha Peixoto, quando da apreciagéo do RE 79.613-R3, trazido a colagdo pela recorrente como paradigna, in verbi! “A solucéo do problema consiste, pois, na inteligéncia’ a ser dada @ palavra’ capacidade existente no § 2° do citado art. 10 e a fixacdo do gue seja a vocacéo hereditaria referida no caput do mesmo artigo. Til - Bn primeiro lugar, nao € juridico @istorcer 0 conceito de capacidade, larganente difundido no direito, para dar-lhe em determinado dispositivo, outro ‘sentido, ou melhor, o de ‘qualidade de herdeiro’, como quer o eminente mestre Am{lear de Castro (Direito Internacional Privado, vol. II, p. 149). Na 'verdade, como ensinan os doutores, a capacidade civil de uma pessoa é, de um lado,” sua aptiddo para ser sujeito de direitos ou obrigacées, e, de outra parte, sua aptiddo para exercer estes direitos e executar essas obrigacées. Fortanto, néo se pode confundir a capacidade para suceder com a ordem de vocagéo hereditéria, Fegulada no capitulo das sucessées. Por outro lado, é principio de hermenéutica que se hA duivida sobre o verdadeiro sentido de um texto legal ou de una palavra por ele empregada, deve-se adotar a inteligéncia que melhor se afine com o dispositive da lei e a pratica da vida, ou melhor, a ye Speer Feiunal de baton PEspélasé ww fle. vit com seu sentido corrente na doutrina e no conceito do povo. IV - Dai a quase totalidade dos doutores que versaram a matéria sustentar dever a vocagdo Sucesséria ser regida pela lei do domicilio do ‘de cujus, pouco importando con a classificagao do pais do‘ suscetivel. Ensinan Espinola e Espinola: " & a lei da Sucessdo que determina que pessoas devem recolher a heranga, a titulo de sucessdo legitina, na falta de testamente, precisa os herdeiros ' necessérios, estabelece’ a quota disponivel, fixa os quinhdes hereditérios, indica a orden ‘dos sucessiveis. En primeiro lugar, compete a lei da sucessdo indicar as Pessoas gue, por se encontrarem numa determinada relagao de parentesco, devem ser chamadas a sucessio do de cujus" (A Lei de Introdugéo ao Cédigo Civil, vol. III, P. 33, n* 277). antes, A p. 27, Ja haviam afirmado, néo sé aludindo,’ expressamente, ao § 2* do art. 10, como dando exemplos, nada haver a capacidade para suceder com a vocacao ‘hereditaria: " entendemos que a nova Lei de Introdugéo, quando declara, no art. 10, § 2", que a lei do’ donicilio do herdeiro ou legatario regula @ capacidade para suceder - considera, néo as condigées de que depende a situagéo de herdeiro em relagéo a uma determinada heranca, nao a capacidade para ter o direito de sucessor; mas, a aptidio para exercer 0 direito de sucessor reconhecido pela lei competente. Essa capacidade, que refere diretamente a uma determinada pessoa, indicada com o cardter de herdeiro pela lei da sucessdo, apresenta dois aspectos: uma refere-se aos requisites necessdrios para que exista a situagdo prevista; o outro visa a capacidade para exercer Pessoalmente, diretamente, o direito de herdeiro. Quanto ao primeiro aspects, suponhamos que a lei da sucesséo, a lei do domicflio do de cujus atribua, aos filhos naturais reconhecidos, o mesmo direito & heranga que compete aos filhos legitimos; um filho natural reconhecido, cuja lei pessoal seja diversa dado pai, tera o seu direito a sucesséo reconhecido pela lei deste, pouco importando que a sua lei Pessoal néo admita semelhante equiparacao. Mas, para isso, 6 necessdrio que se trate de um filho natural, reconhecido de conformidade con a lei competente"! No mesmo sentido Wilson Batalha: "néo nos merece duvida a que a capacidade para ser herdeiro consiste, na realidade, na propria qualidade de herdeiro. — a qualidade de herdeiro s6 pode decorrer da lei que rege a sucesséo, tal como se viu a propésito da ordem da vocagéo hereditdria. To absurda seria a aplicacdo, em tal matéria, da lei pessoal do herdeiro, que néo se poderd atribuir _a0 yee 0 Sopeuin Tecbanal de Seatoa REsp6la34 ww fs. va texto legal, embora dubiamente redigido, tao estranho significado. As opinides sustentadas por André Weiss (II, p. 384) @ Pacchioni (p. 307) nao resisten a critica. A capacidade especifica do gozo, como j4 foi denonstrado, rege-se sempre, pela lei que rege a situacdo jurfdica a que se refére. Nenhum motivo sério existe para que excecéo se estabeleca a propésito do direito sucessrio" (Tratado Elementar de Direito Internacional Privado, vol. 253, n* 169). Serpa Lopes, enbora arroaldo entre os que sustentam opiniéo diversa, pelo menos em uma Passagen de sua obra - Lei de Introdugéo ao Cédigo Civil = mostra que se afina con ponto de vista dos Espinola e de Batalha. De fato, escreveu ele a f. 58: " 0 art. 10 de nossa lei de introdugéo, porém, implica na preponderéncia da lei do domicilio do falecido para regular a vocagéo hereditéria. Séo os herdeiros designados por essa’ lei os que deverao ser chamados @ sucesséo"., Haroldo Valadaéo, a seu turno, escreveu: "a aplicagao geral da lei do domicilio do de cujus, Lei de Introducgo, art. 10 compreende a sucesso legitima e| a’ testamentéria e, assim, tal lei determinaré 0 quadro. dos." sucess{veis, a sucessibilidade objetiva e a sucessibilidade subjetiva (a capacidade de gozo, de direito, do herdeiro). a capacidade de direito, de gozo, do herdeiro, de suceder, a sucessibilidade objetiva e subjetiva dependeré da lex successionis, hoje, no Brasil, a lei do domicilio do de cujus, ‘enquanto a capacidade de fato, de o herdeiro praticar atos juridicos, de receber, se submeteré a sua lei, hoje a do’ seu domiciiio. SO a capacidade para receber, de fato, 6 que fica para a lei pessoal do herdeiro" (Direito Internacional Privado, vol. II, p. 213). A afirmativa tem 0 apoio dos autores alienigenas. M. Poullet leciona: Mais alo si, de quelle reléve le droit de succéder? Quel est le législateur compétent pour conférer ou retirer le droit de succéder? Logiquement, rationneliment ce ne peut étre que le législateur ‘compétent pour régler ja succession. Nier, dit justemt H. Rolin, que la capacité de succéder soit régie par la ‘loi qui gouverne 1a succession comme il I’entend" (Droeit International Privé Belge, p. 531, n* 400). Pa je ae? Sopeucs Samal de Seaton RESpelas4 w fs. x Examinando o art. 744 do Cédigo Espanhol que, como © brasileiro, estabelece que a capacidade para Suceder por testamento e ab intestato se rege pela do herdeiro ou legatdrio, Manuel de Lasala Llanas, depois de observar que tal dispositive provoca entre os doctores y los précticos alguna confusion y oscuridade", faz a distingio entre capacidade vocagao hereditéria: “la distincién antedicha, entre ja "capacidad" personal del heredero e lagatario, y “las "cualidades" exigidas pra suceder, de ‘la solucién més cierta dentro del sistema de la personalidade 1a “capacidad" propriamente dicha no puede regirse sino por el estatuto personal del heredero o lagatario; los ilamientos de ciertas Personas y, por consiguinte, las “cualidades" exigidas para suceder, tocan exclusivamente a la lei del de cujus; ésta es’ la competente para decidir por exemplo, se heredan los hijos legitimados, los naturales y los adoptivos y para doterminar 1a quantia de sus derechos; ésta misma por tanto, Ia que nos dice se heredan e no los hijos concebidos y Ro nacidos" (Sistema Espafiol de Derecho Civil Internacional e Interregional, Editorial Revista de Derecho Privado, madri, s/d). Ser ou néo herdeiro é pois, matéria de sucessdo € nao de capacidade" (RTS vol. 84, pdgs. 515/517). No direito estrangeiro, prevalece —_idéntica orientagdo doutrindria. Segundo Werner Goldschmidt, citado por Oscar Tenério: “Las cuestiones previas a la sucesion (como, por ejemplo, 1a validez de un matrimonio ou de una adopcién © los efectos de fundar la vocacién Sucesoria del cényuge ¢ del hijo adoptivo y de sus descendientes matrimoniales o extramotrimoniales) se rigen por sus proprias leyes: la validez del matrimonio, verbigracia, por el Derecho del Pais donde ‘se ‘celebro el ‘natrimonio y la adopcién conjuntamente por los Derechos domiciliarios de adoptante y de adoptado. sta tesis es confirmada por el art. 3.286 Cc. Civ. que, al someter la capacidad de suceder a la ley del domicilio del heredero en el momento de norir el causante, no hace sino aplicar a este supuestos los arts. 6, 7, 948 C. Civ. No se debe confundir con las cuestiones’ previas a la vocacién sucesoria, esta misma que se rige invaliablenente por el estatuto sucesorio. (nossos os grifos). Em otras palabras, una cosa es, si una Persona es coyuge del causante es ilamado a la sucesion y, en caso afirmativo, en qué proporcién. Una cosa ‘es si alguien es’ hijo adoptivo del causante, y otra si un hijo adoptivo posue vocacién sucesoria en la herencia del padre adotante. Una cosa es si un ente (un ser humano, una agrupacién de ay Speses Krenal o atan RESpo1434 vv fle. x Professor ‘Tenorio personas y bienes) posue en un momento dado Capacidad ‘de derecho, y otra si este ente os heredero en la sucesién de. un determinado causante”. ( Parecer sobre “Sucesséo - Universalidade = Donicilio do Defunto - Aplicagéo da Lei Brasileira’, in Revista Forense, vol. 256, pag. 174) Assim também em Portugal, consoante magistério do Ferrer Correa, jigualmente lembrado por Oscar “Wote-se, porém, que pode levantarse uma questéo prévia: saber se existe e estd validamente constituida aquela relagéo que, segundo o estatuto sucessério, fundanenta _ determinada _—_pretensao hereditaria - a filiagdo legitima ou ilegitina, o matrimonio, a adopcdo. Essa questéo néo se resolve pela lei do. A Lei do de cujus diré, por exemplo, se @ adop¢ao é fonte de vocacéo sucesséria: se o eénjuge do hereditando tem alguns direitos sobre a heranga ( e quais) quando concorre com determinados parentes daqueles etc. Maso problema de saber se a adopcio, o matriménio, a filiacéo ilegitima estéo validamente constituidos no caso concreto embora tenha interesse, e até um interesse decisivo, para resolugdo do problena do destino da heranca, nao é em si nesna una questéo de direito hereditério - @ ndo pode resolver-se, por isso, pela lei da sucessfo. Qual entaéo ‘a lei competente? £ a lei Yeguladora da respectiva relacdo juridica (da filiacdo, da adopc4o, do matriménio), que tanto pode coincidir como néo coincidir com 0 estatuto sucessério)” (publicagdo citada, pég. 174). Ora, 0 Acérdéo vergastado confundiu qualidade de herdeiro com capacidade para suceder, tanto que, a despeito de os votos proferidos se reportarem ao art. 10, § 2°, da LICC, fazen eles - todos referéncia ao status de herdeira da recorrente Blanca Antonia, assim como o fizera ao final também © parecer exarado pelo em. Prof. Caio Mario ao asseverar que a adotada simples néo tinha, ao abrir-se a sucesséo de Alfonso, @ condigée de herdeira (fls. 1.592). conceitos A qualidade de herdeiro, a vocagdo hereditaria, sao que néo se embaralham com o da “capacidade para oe ale Sipusics Grclanal de Seatoa Respoldad vv fle. xr suceder”. As primeiras séo reguladas pela lei do pass em que era domiciliado o de cujus (art. 10, caput, da LICc). A Ultima, pelo art. 10, § 2°, do mesmo estatuto legal. Nao se sustenta, por conseguinte, o decisum recorrido, j4 que aplicou indevidamente & hipétese sub judice © supra indigitade § 2° do art. 10 da LIcc. 0 artigo de lei federal a incidir no caso era simplesmente o caput do mesno art. 10. Saber se a filha adotiva ostenta ou néo a qualidade de herdeiro ¢ matéria que diz com a sucesso de Alfonso Martin Escudero, "Ser ou néo herdeiro é matéria de sucessio e néo de capacidade", como deixou claro o Ministro Cunha Peixoto em seu voto acina reproduzido. Eis por que, Sr. Presidente, no caso em tela néo tenho diividas em aderir ao entendimento manifestado pelo sr. Ministro Relator, de conformidade com o qual: “Com efeito, essa qualidade de herdeiro naveré de ser aferida pela mesma lei competente para reger a Sucesséo do morto que, no Brasil, “obedece a lei do pais em que era domiciliado o defunto ... qualquer que seja a natureza e a situagéo dos bens", em face do pontificado no caput do art. 10 da LICc. Fortanto, na hipétese, 4 que Alfonso era domiciliado’en Sao Paulo quando de seu desenlace, a luz da lei brasileira é que se deve buscar a resposta para se saber se Blanca, sendo sua filha adotiva, 6 ou no herdeira de Alfonso. # inteiranente irrelevante, no caso, para aferir-se a sua qualidade de herdeira, para saber se ela estd ou nao incluida no elenco dos herdeiros que a lei brasileira estabelece como vocacionados para suceder, se a adocao foi simples ou plena, se houve ou néo posterior parificacéo entre esses institutes, se a relagdo entre adotante e adotada envolve ‘cu _néoreciprocidade de direitos sucessorios, se a adogéo foi celebrada no Brasil, na Espanha ou mesmo em qualquer outro pais, e se era ou nao desejo do hereditando que a sua filha adotiva participasse de sua sucesséo como sua herdeira necessaria. ~ ete Specs Teclamal de Kestva BESp61434 we fle. xt Nao, tudo isso ¢ absolutamente despiciendo para se conciuir se Blanca era ou nao herdeira necesséria quando Alfonso faleceu pois que o Unico dado que efetivamente importa ¢ saber se a lei brasileira, quando do desenlace de Alfonso, conferia ou néo, ao filho adotivo, a qualidade de herdeiro™ Acompanhando, no mais, inclusive na sua concluséo, o lucide e brilhante voto prolatado pelo eminente Ministro Relator, somente tenho acrescentar que dois dos argumentos aflorados no decorrer do julgamento da apelacdo (aceitagéo do legado pela ora recorrente e necessidade de cumprimento da vontade manifestada pelo falecido Alfonso) permaneceram, cada qual, como fundamento isolado de voto (um expendide pelo Desembargador Marcus Andrade, outro pelo Desembargador Silveira Neto), néo se erigindo, portanto, em fundamento de Acérdao. 4. Em face de todo o exposto, conheco do recurso por ambas as alineas do permissor constitucional e a ele dou provinento, £ como voto. = © Seperics Shabamal de Section 22.04.97 4 Tuma RECURSO ESPECIAL N° 61434-SP (REG. 95 87014) VOTO (MERITO) SR. MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR: Vencido quanto 4 preliminar, devo examinar o mérito. Observei, no estudo que fiz, a intensidade das criticas langadas ao preceito do § 2° do art. 10 da nossa Lei de Introdugao ao Cédigo Civil. Disposigao semeihante ja constou do projeto de Convengao votado na Conteréncia de Haia de 1900, refiredo pela dificuldade sua interpretagao, especialmente por ser equivoco 0 ae ‘capacidade" (Serpa Lopes, Lei de Introdugdo, 11/229), Costuma-se distinguir_ a capacidade de ter direitos na sucpssdo e a capacidade para agit ‘elativamente co snore {Espinola e Espinola Fo.. A Lei de Introdugdo ao CC, 2° ed./ dos direitos sucessérios 3/18). Essa distingdo ja vem do esbogo de Teixeira de Freitas: “A capacidade civil € de direito ou de fato. Consiste a capacidade de direito no grau de aptidao de cada classe de pessoas para adauirir direitos, ou exercer por si ou por outrem atos que nao Ihe sGo proibidos. A capacidade de fato consiste na aptidao, ou gray de aptidéo, das pessoas de existéncia visivel para exercerem por si os atos da vida civil” (artigos 21 & 22). Também se diz que a capacidade pode ser gozo fato sensu Soenin Kina Kae Resp a 61ASHSP-VotoMéto 2 {0 fato de ser uma pessoa, do ponto de vista juridico), ov de gozo stricto sensu (aptidao de o individuo se tornar sujeito passive de direitos}, ou capacidade de exercicio (Serpe Lopes, op. cit., pg. 63 ou 67). Referindo-se a Lei de Introdugdo 4 “capacidade para suceder" (art. 10, § 2°), surge necessariamente o problema de definir a qual capacidade referiu-se o texto, sabendo-se que capacidade para suceder corresponde a ilidade de adauirir a heranga (Clévis, CCB, v. 6/19), ou possi G0 pressupostos para suceder (Pontes, Tratado, 55/11). Nesse ponto, penso que esta com a razéo a recorrente, pois a unanimidade da doutrina se coloca ao seu lado. Transcrevo, por ser suficientemente, do Prof. Oscar Tendrio (Forense, 256/17; Wcidativo, o parecer “Horoide Vallad6e /*Direito internacional Privado", vol. I, p. 213) distingue/da seguinte forma: Acerca da capacidade do herdeir douirina certa que vem de Freitas quando considerou J. da sucessibilidede subjetiva, a incapacidade especiat do direito as proibicées de dispor que a lei prevé para o festador, e foi exposta com a clareza e seguranca habityais por Machado Villelo. © DIP, 149 © 153, 6 a de que @ capacidade de direito, de gozo. do herdeiro de suceder, o sucessibilidade objetiva & subjetiva de Villelo, 0 DIP, 148-9, dependers oa lex successionis. hoje, no Brasil, a fei do domiciio de de cujus. enquanto 9 capacidade de fale, de 0 herdeiro proticar oto jurdicos, de receber, se submeterd & sua tel, hoje a do sev domicttio. Verifica-se que, néo obstante @ diversidade de interpretogdes de nossos autores quonto ao § 2" do art, 10 Sones Ketel be tee REsp n° 61 ASP - Volo Mérto 3 da Lei de introdugéo (Amilcar Criticando. Batetha interpretando-a como capacidade de exercicio. Volladéo, como capacidade de fato), todos afirmam que a sucessibilidade do herdeiro € segide pela lei do domiciiio do de cujus. A potigdo do diteito argentino 6 para _nés especiaimente interessante, uma ver que nd dois Giipositives do sou Civil que se justopdem aos dois disposttives de nossa Le! de Intradugao de que vimos nos ecupande Reza 0 at. 3.208 do Ccivl argentino: (E! derecho de sucesisn ol patrimonio de! difunto es regido por el derecho local de! domiciio que el aifunto fenio © su muerte, sean lo sucesores nacionales 0 extranjeros.} £, ogo em seguida, encentramos o art 9.286 que aie (Lo copecidad para suceder es regica por ta ley del domiciio de la periona oi fifmoo de la muerte del autor de la sucesién,) Cabivel. pois. @ mefhna indagacdo que tzemos inicfoimente, quanto ao afl. 10 # 0 sev § 2” da Lei de Inlrodugao: domiitio do aftunte ov domiciio de herdeiro? Wemer Goldsennyét, 0 grande Intesnacionalista argentine, escothido pels Hournal de Droit internatione! (Clunet) para escrever 0 ertiga correspondente ao direito intemacione! no América Latino para 0 numero especial do centendrio desta publicaeae (1° tomo de 1973), em seu “Derecho Internacional Privacio" (Editorial E] Derecho, 1974 Buenos Ares), ait n@ p. 390 (Los cuestiones previas o fa sucesion (como, por ejemplo, Ia valider de um matrimonio ou de une adopcidn o ios efectos de fundar lo vocacion sucesoria de! cényuge 0 del hijo adoptive y de sus descendientes matrimoniales 9 extramatrimoniales) se Figen por sus propiies feyes: Ja valides det matrimonio, verbigracto, por el Derecho de! Patt donde se celebr6 el Spores Thabenal de Heaton Resp nt 61.4865 -VoroMesto 4 matimonio y ta adepcién conjuntamente por los Derechos domiciiarios de adoptonte y de adoptado. Ela tes es confirmade por el art, 3.286 Civil. No se debe contundir con las cvestiones previas @ fe vocacién sucesoria, esta misma que s¢ rige invallablemente por el estatuto sucesorlo. Em otras palabras, una cosa es, si una persona es coyuge de! causante es llamado a la sucesion y, en 010 atirmativo, em qué proporcién. Una cosa es 3i alguien 2s hijo odeptive de! causante, y outta si un fio adoptive posve vococién sucesoria en Ia harencia del padre adotante. Una cosa es si un ente (un ser humono, una agrupecién de personas y bienes) posve en un momento dodo capacidad de derecho, y otro si este ente es heredero en fo sucesién de un determinaco cavsante Em Portugal. © Professor Ferrer Corea assim pontificou em suas cules na Focuidade de Direito do Universidade de Coimbra mimeogratadas sob 0 titulo de “Ugdes de Direito internacional Frivado" (1963). na p. 714: Dissemos que 9 regra de competéncia de lel nacional do hereaitando se aplica a todas as formas de sucessdo - e. desde logo, & sucessao legitima e legftiNdria. E essa lei que. na faita ge testamento Indica as pessoas chamades a suceder/ bem como © auinhao hereditérie de cada uma, Por efa se resoiverd 0 questao de saber se © cénjuge do heredftando, um filho natural ov adoptive, um parente em 6% grau na linha colateral - & chamado @ herance © em que medida. Sem ossim se se verifica © direito de representacae em favor de um certo porente ae falecide. Note-se, porém, que pode levantar-se uma questao prévia: sober se existe e esté validamente constituida aquela relagdo que segundo 0 estatulo sucessérlo, fundomenta determinada pretensoe hereditarla - @ fillagdo legitima ou ilegitima, 0 matriménio, a adopgGo. Fssa questo ndo se resolve pela tei do de cujus. A lei do de cujus di |. Por exempio. se adopedo é fonte de vocagao Sgpevios Sedimal de Abate Resp a 61AKSP-VoIo Mero 5 pela lei do sucesséo. Qual enido a lei competente? E a lei / / Quanto ao mais, acompgnho o eminente relator. Eo voto. Sapews Aubanal de Astor CERTIDAO DE JULGAMENTO QUARTA TURNA Nro. Registre: 95/0008701-4 RESP 61434/SP Pauta: 10 / 06 / 1996 JuLGavo: 22/04/1997 Relator Exmo. Sr. Min. CESAR ASFOR ROCHA Presidente da Sessdo xmo. Sr. Min. SALVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA Subprocurador-Geral da RepGblica EXMO. SR. DR, RONALDO BOMFIM SANTOS Secretario (a) CLAUDIA AUSTREGESILO DE ATHAYDE autuagio RECTE BLANCA ANTONIA MARTIN ESCUDERO ADVOGADO FRANCISCO MANOEL, KAVIER DE ALBUQUERQUE & OUTROS RECDO + FUNDACAO BENEFICO DOCENTE ALFONSO MARTIN ESCUDERO ADVOGADO : ATHOS GUSMAO CARNEIRO E OUTROS CERTTDAG Certifico que a egrégia QUARTA TURMA ao apreciar o processo em jepigrafe, em sessao realizada nesta data, proferiu a seguinte decisao: Prosseguindo no julgamento, o Sr. Ministro Barros Monteiro proferiu voto conhecendo do recurso e dando-lhe provimento na linha do voto do Sr. Ministro Relator. A seguir, em complementacao, profe- riu voto-merito o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar dando provimen. to 20 recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Pediu WISTA © St. Ministro Salvio de Figueiredo Teixeira, nos termos regi- mentais, para apreciagao do merito. © referido 6 verdade. Dou £6. Brasilia, 22 de abril de 4*Turme 17.06.97 RECURSO ESPECIAL N° 61.434 - SP VOTO - VISTA O SR. MINISTRO SALVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA: 5. Passando ao exame do mérito, tenho, em primeiro lugar, por configurada a divergéncia, Sem embargo de nfo serem idénticas as situagdes faticas dos acérdiios recorrido e paradigma, este oriundo do Supremo Tribunal Federal, evidencia-se antagonismo nas teses concernentes & interpretagao do art. 10, § 2° da Lei de Introdugio, Ademais, consoante se tem afirmado nesta Corte. sem a rigidez das amarras jurisprudenciais © regimentais do sistema anterior a 1988, ndo se mostra necesséria a identidade absoluta das situacbes féticas dos arestos em confronto, sendo suficiente a semelhanga, desde que presentes diferentes interpretagdes sobre a mesma questio federal. Melhor seria que o nosso sistema recursal, em se tratando de instaneia extraordindria, nela incluido o recurso especial, até mesmo por sobrevivéncia, seguisse 0 modelo hoje presente nos melhores ordenamentos juridicos, de que é exemplo, no particular, 9 norte-americano, com o seu writ of Jt rigeusistomiss Sopeuos Srbunal de Sestea 2 juridicos, de que ¢ exempio, no particular, 0 norte-americano, com o seu writ of certiorari, através do qual se realiza 0 prévio exame seletivo das questées de relevo a merecer apreciagdo em tal instincia, racionalizando © mecanismo judicial, tomando a Justiga mais Agile valorizando a entrega da prestagao jurisdicional. Enquanto, no entanto, persistir a anomalia do nosso atual sistema, melhor que a instincia extraordinéria, com 0 poder criativo e evolutivo da Jurisprudéncia, va encontrando caminhos habeis ¢ razoaveis que pelo menos niio inviabilizem a atuag2o do Judicidrio em dar resposta as causas verdadeiramente relevantes que Ihe sio submetidas. Como ja tive ensejo de assinalar(REsp 4.987- RJ, RSTJ 26/378), “o Superior Tribunal de Justiga, pela relevncia da sua misao constitucional, nio pode deter-se em sutilezas de ordem formal que impegam a apreciagao das grandes teses juridicas que esto a reclamar pronunciamento ¢ orientagao pretoriana”. No caso, 0s autos estilo a espelhar, induvidosamente, uma dessas causas, nas quais se rivalizam o fundo ea forma, a substancia dos argumentos e 0 talento dos seus expositores, com as luzes da doutrina e um precedente da Suprema Corte ricamente fundamentado. 6. Rememorando a situagto fatica, tem-se que a recorrente foi adotada pelo falecido na forma simples, sem qualquer direito sucessério. Posteriormente, quase trés anos apés a adogio, o adotante firmou testamento aberto, subscrito também pela filha, contemplando-a com um apartamento em vesoueseomnen eee Talenal de Seton : Mazri e uma pensio mensal vitalieia. Antes, porém, desse testamento, foi editada no Reino da Espanha lei que conferia direitos sucessérios aos filhos adotivos, ressalvando, todavia, as adogGes efetuadas sob a égide do diploma normativo anterior, a no ser que o adotante, por vontade propria, viesse a modificar regime, 0 que no ocorreu no caso de que se cuida. 7. Na espécie, como jé exaustiva e superiormente anotado, toda a discérdia se centra na inteligéncia e no alcance que pode ou deve ter a norma do § 2° do art. 10 da Lei de Introdugao, segundo a qual a capacidade para suceder & regulada pela lei do domi io do herdeito, dispondo 0 eaput desse artigo que a sueessdo por morte é disciplinada pela lei do domicilio do de cujus, qualquer que seja a natureza ¢ a situagio dos bens. Como se sabe, em matéria de direito sucessério o ordenamento positivo brasileiro tem acatado a regra, adotada nos melhores sistemas j icos, de que a sucesso se rege por uma s6 lei, independentemente da situagao e da qualidade dos bens envolvidos. Isso se deu tanto na revogada Lei de Introdugio, quanto na atual, que faz prevalecer a lei do domicilio deste. E de convir-se, entretanto, que as nossas leis de regéncia no tema tém contemplado excegses a esse principio da universalidade, consoante parte final do caput do art. 14 do texto revogado € §§ 1° e 2° do citado artigo 10 do hoje vigente, A doutrina majoritiria, 20 comentar a expressfio “capacidade para suceder”, sustenta que nao teria havido inovagéo com a instituigdo, pelo Decreto~ JP xepotesewavin Ayia Sulanal de Aestea ‘ Lei 4.657, de 4.9.1942, da “nova” Lei de Introdugao. Afirma, em linha geral, que somente quanto 4 capacidade de fato se aplicaria a lei do domicilio do herdeiro, aplicando a lei do domi ‘lio do de eujus para aferir a capacidade de direito ou a qualidade de herdeiro. Tenho, no entanto, com respeitosa vénia, que ndo se pode negar a alteragao ocorrida entre as leis de 1916 ¢ de 1942. Com efeito, dizia a primeira, em seu art. 14: “A sucesso legitima ou testamentéria, a ordem da vocagao hereditéria, os direitos dos herdeiros ¢ a validade intrinseca das disposigdes do testamento, qualquer que seja a natureza dos bens ¢ 0 pals, onde se achem, guardado o disposto neste Cédigo acerca das herangas vagas, abertas ‘no Brasil, obedecerdo a lei nacional do falecido; se este, porém, era casado com brasileira, ou tiver deixado filhos brasileiros, ficardo sujeitos & lei brasileira”. Na segunda, atual, expressa o texto: “Art. 10. A sucesso por morte ou por auséncia obedece & lei do pats em que era domiciliado o defunto ou 0 desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situagdo dos bens. sie... z 7 § 2. A lei do domicilio do herdeiro ou legatério regula a capacidade para suceder”. Como se vé, antes havia expressa referencia a ordem da vocago hereditétia ¢ aos direitos dos herdeiros, 0 que nao ha atualmente. Destarte, 20 prescrever o texto vigente que a lei do domicilio do herdeiro regula a capacidade para suceder, no se pode fazer qualquer distinydo de capacidade de direito ou de {ato, valendo o prineipio segundo 0 qual onde o legislador no distingue nao é Je reg ccesmonsiea Sgfeure Sedhanal de Aesbia 5 dado ao intérprete fazé-lo (ubi lex non distinguit, nec interpress distinguere debet), Em tiltima andlise, questiona-se, como se fez no paradigma, 0 que se ha de entender na expresso “capacidade para suceder” constante do § 2° do art. 10, LICC, sobretudo em face da ambigtiidade do termo “capacidade” ali usado, qualificado de equivoco por Serpa Lopes. Vé a recorrente uma nitida distingdo entre ela e o institute da vocago hereditiria, sendo este a “distribuigtio dos sucessiveis em classes das quais umas preferem as outras na adigdo da heranga”, segundo a conceituacao de Clovis, distingao igualmente acentuada no colacionado acérdio-padrio(RE. 79.613-RJ, RTI 84/491), Amilear de Castro, um dos mais precisos ¢ rigorosos dos nossos Juristas, com a autoridade que sempre se the reconheceu, anotou(Direito Internacional Privado, 4° ed., Forense, 1987, n. 235, p. 456): “Espinola & Espinola entendem que ‘a nova Lei de Introdugdo, quando declara no art. 10, § 2°, que a lei do domicilio do herdeiro ou legatirio regula a capacidade para sueeder, considera nfo a capacidade para ter o direito de sucessor, mas a aptiddo para exercer o direito de sucessor reconhecida pela lei competente’. Deve discordar-se desta doutissima opinigo. Nao se trata de capacidade propriamente dita, mas da qualidade de herdeiro. A expressdo capacidade para suceder tem no art. 10, § 2°, da Lei de Introducdo 0 mesmo sentido com que & empregada no art. 1.577 do Codigo Civil; ¢ nao se ha de Presumir, por essa redagdo, fosse empregada a palavra capacidade com sua significagio prépria, de capacidade de exercicio, porque entio seria intitil a disposigdo, jé estando, como esté, to claramente escrito no art. 7° da mesma Lei de Introdugao ao Cédigo Civil que o direito do pais em que reparsiseswona Aygicawe Sulamal de. Astoa ‘ for domiciliada a pessoa determina sua capacidade. De resto, para que a pessoa possa exercer o direito de suceder preciso, antes, que tenha esse direito. Sem té-1o, como poderd exercé-lo? E tio expressiva a frase ‘capacidade para suceder’, que ndo pode deixar diivida a respeito de ter sido inspirada na pior doutrina, antigamente pregada por Boulenois, ¢ modemamente pot Weiss ¢ Pacchioni, com diferenga apenas de que estes falam em ius pairiae, enquanto a Lei de Introdugdo se refere a ius domicilié. A melhor doutrina ensina que a faculdade de haver a heranga, conjunto de qualidades requetidas para suceder, ou capacidade para suceder, deve ser regulada exclusivamente pelo direito que rege a sucessdo(ius causae). Pelo mesmo dircito por que se aprecia a vocacdo hereditéria é que se devem qualificar a5 pessoas chamadas a suceder. Em sentido contrétio, supde Weiss que a capacidade para suceder depende do direito que rege 0 herdeiro, porque a vontade do de cujus s6 pode governar a disposi¢ao dos bens, ¢ ndo as condigdes exigidas para que a pessoa possa herdar, Entretanto, ninguém afirma que a vontade do de cujus possa attibuir a quem quer que seje a capacidade para suceder, ¢ sim o que se sustenta é que a capacidade para suceder 86 pelo direito regulador da sucessdo € atribuida ao herdeiro, Evidentemente, a qualidade de herdeiro ndo é inerente & pessoa, sim qualidade que Ihe ¢ atribuida pelo direito regulador da sucesso: trata-se de condigao requerida para suceder, questdo preliminar, de condigaio Juridica, exigida para se exercer o direito de ser sucessor, ‘ou de suceder” Certo € que 0 admiravel jurista, ao assim doutrinar, reconheceu que 4 jurisprudéncia poderia “consertar a lei”. Tal colocagdo, entretanto, apenas reforga a conclusdo a que chegara quanto a exegese do texto legal. Outra, alids, néo foi a conclusio extraida pelo voto do saudoso Ministro Cordeiro Guerra, verbi “Bem sei que, assim concluindo, divirjo de ponderiveis e autorizados argumentos, inclusive do parecer da douta Procuradoria-Geral da Repiiblica, porém, no se me afigura posstvel aplicar, na inteligéncia do § 2° do art, sepactsmenin Syirsre Sednal de Aelia 10 da Lei de Introdugdo ao Cédigo Civil Brasileiro, principios e normas, que ele afastou, para excepcionar. Certo ou errado, doutrinariamente, como pensa Amilcar de Castro, 0 § 2° do art. 10 da Lei de Introdugio, mandou regular a capacidade para suceder, do herdeiro, pela lei do seu domicilio e, a meu ver, no pode ele herder quando a lei de seu domicilio nao Ihe dé esse direito”. “Estava coneluid, assim, 0 meu voto, quando recebi © memorial das partes e neles encontrei parecer do Professor Rubens Santana, ds Pont ficia Universidade Catélica de Porto Alegre, € fiquei satisfeito, porque coincidente com o meu voto que ja estava pronto. 0 ilustre Professor gaticho, apreciando a hipétese a pedido dos recorrentes, assiin manifesta: ‘Hogico e inj ico seria falar capacidade de herdeiro para quem no tem, pelo seu direito domicitiar, posigio de herdeiro. Iria de encontro aos interesses. da ordem piibica reconhecer, a0 estrangeiro, capacidade de exercicio de direito de sucesso sobre bens no territério nacional, quando a sua lei domiciliar Ihe nega essa condigao™. ‘Com suporte em tal posicionamento, aplicando-se a lei espanhola ao caso, a recorrente nao pode ser considerada herdeira necesséria do falecido, uma vez que 2 lei que equiparou os filhos adotivos a legitimos para efeitos sucessérios ressalvou as adogdes ocorridas antes da sua vigéncia, Assim, afigura-se impossivel no caso concluir favoravelmente & recorrente, para quem a expressdo “capacidade para suceder”, constante do § 2° do art. 10 da Lei de Introdugao, se refere somente a capacidade de lp t repeisesrwown pews Sabana de ates ‘ fato(exercicio), enquanto que a capacidade de direito(aquisigao ou gozo) seria regulada pela lei do domicilio do falecido, no caso, a brasileira. Com efeito, anteriormente a andlise da lista da vocagdo hereditéria, necessdrio que se avalie se a pessoa ¢ ou ndo herdeira. Para tanto, somente pela Jei do seu domicilio, que rege seu estado civil(lato sensu), & que se vai verificar a sua condi¢ao. Nao sendo herdeira, em razdo da lei espanhola nao Ihe conferir tal direito, descabe examinar se pela ordem de vocagio da lei brasileira ela seria chamada & sucessio. 8. Assim posta a questo sob o prisma da interpretagao sistematica, seria até mesmo de cogitar-se, em exegese teleolégica, das razdes que teriam levado 0 legislador brasileiro 4 adogdio da imprecisa, ambigua e “equivocada” expressséio, especialmente quando se reflete sobre as pretensées deduzidas na ‘causa a que se refere 0 paradigma e na de que os autos tralam, considerando que em momento algum, pelo contrério, 0 de cujus, como adotante, quis erigir a recorrente, que j4 contemplara satisfatoriamente com valiosos bens, como sua herdeira adotiva, Fosse clara a dicgiio da lei brasileira, no sentido que Ihe quer atribuir a recorrente, certamente o adotante, devidamente orientado por ‘competentes profissionais, teria assumido outra postura, Dai o relevo que na espécie ganha a intengo do de eujus adotante, @ encontrar sustentagao no art. 85 do Cédigo Civil, que contempla e dita regra We aepoisrsersciie Ayineioe Trdumal de, Aatia ° geral para a boa hermenéutica dos atos juridicos, segundo a qual “nas declaragdes de vontade se atenderé mais a sua intengdo que ao sentido literal da linguagem”. 9, Em conclusio, com renovada venia, no mérito também conhego do recurso, mas lhe nego mE 1095000870 1901443000 (006143460. Sepetws Frdanel de Seaton CERTIDAQ DE JULGAMENTO QUARTA TURMA Nro. Registro: 95/0008701-4 RESP 6 1434/SP Pauta: 10 / 06 / 1996 JULGADO: 17/06/1997 Relator Exmo. Sr. Min. CESAR ASFOR ROCHA Presidente da Sessdo Exo. Sr. Min. SALVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA Subprocurador-Geral da Repiblica EXO. SR. DR. RONALDO BOMFIM SANTOS Secret&rio (a) CLAUDIA AUSTREGESILO DE ATHAYDE AuTuagho RECTE + BLANCA ANTONIA MARTIN ESCUDERO ADVOGADO —: FRANCISCO MANOEL XAVIER DE ALBUQUERQUE & OUTROS RECDO + FUNDACAO BENEFICO DOCENTE ALFONSO MARTIN ESCUDERO ADVOGADO —: ATHOS GUSMAO CARNEIRO E OUTROS CERTIDAO Certifico que a egrégia QUARTA TURMA ao apreciar o processo em epigrafe, em sessdo realizada nesta data, proferiu a seguinte decisao: Prosseguindo no julgamento, proferiu voto o Sr. Ministro Salvio de Figueiredo Teixeira, conhecendo do recurso pelo dissidio, mas lhe negando provimento. #m conclusao, a Turma, por maioria, co- sheceu do ‘recurso e deu-lhe provimento, vencido, na totalidade, o Sr. Ministro Salvio de Figueiredo Teixeira e, na preliminar, o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar. 0 Sr. Ministro Fontes de Alencar conheceu do recurso e deu-lhe provimento em menor extensao. © referido 6 verdade. Dou £6. Brasilia, 17 de junho ‘SECRETARIO(A)

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