A MSTICA DO GUERREIRO MEDIEVAL

O guerreiro tpico da Idade Mdia aquele que combate por uma razo
religiosa. Ainda que de imediato se trate de uma guerra feudal, em que esto,
portanto, envolvidas questes de terras, de limites, etc., no fundo h algo de
religioso. Porque para os senhores quase impossvel pegar isso, pela enorme
diferena de idade que h entre ns. Mas eu peguei restinhos disso. Uma
famlia tida como uma pequena ptria, e deixar de pertencer famlia so
uma vergonha como deixar de pertencer ptria. Por qu? Porque toda
famlia tem uma mentalidade prpria e um modo de ser prprio de dar glria
a Deus. E se desaparece aquela famlia, a mesma coisa do que algum roubar
um pedao de um vitral. O vitral seria o pas, os pedaos do vitral seriam as
famlias. E uma espcie
de obrigao no deixar
perecer a famlia, nem a
honra dela, nem o nome
dela. Sustentar, portanto,
a honra dela at no
combate. O modo de um
pai ou de uma me
passar um pito no filho
dizer: Voc a vergonha
de nossa famlia. Quer
dizer, est fazendo com
que aquele pedao de
cristal do vitral perca a
sua beleza e fique como
se algum colasse nele
um pedao de folha de
papel jornal. Tudo era
brilhante, mas ali tem um
caco
qualquer
sem
expresso
por
estar
colado um pedao de jornal. Essa a famlia que perdeu a sua expresso. No
fundo disso h uma razo religiosa. E o guerreiro, quando vai para a guerra,
vai para sustentar a honra, a grandeza dos limites de sua terra
senhorial. Ainda muito mais quando ele ia como cruzado para a guerra santa
contra os maometanos que ocupavam Jerusalm, contra os pagos do norte da
Europa, ou contra os maometanos de Espanha e Portugal. Ele ia inflamado
pela ideia de que estava lutando por tal ponto da doutrina catlica. Uma graa
o tocava e ele acendia com aquilo, e animava toda sua alma de altaneira,
coragem, gosto do desafio, gosto do risco por amor quilo que est sendo
contestado. No meu modo de entender, pelo menos muito frequentemente, essa
atitude tinha algo de mstico. De onde a reverncia enorme prestada ao
guerreiro pelo homem de paz.