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Paula Beiguelman Procedenots COMPRA A CRISE DO ESCRAVISMO E A GRANDE IMIGRACAO 18 edigao 1981 3? edigao | PRESERVE sua FoMTE | DECONNECMNENTO ©@ — “ Copyright @ Paula Beiguelman Capa: 123(antigo27) Artistas Griices Revisio: José, Andrade Sonia S, Nicola CONSULTA Logg PUC-RGS BIBLIGTECA CENTRAL te peta fanw Si}. F6 688 y q i odor brasionse 8.2. 01223 — +, gener 80 paulo — br im, 160 INDICE Abolicionismo e imigrantismo “Apoges e declinio do imigrantismo . Indicagdes para leitura ...... ABOLICIONISMO E IMIGRANTISMO Na historiografia referente ao bindmio abolicio- ismo-imigrantismo, a nogho de Oeste paulista as- sme, como & sabido, importancis capital. A designago de Oeste, quando se trata dessa apa hist6rica da cafeicultura, tem como referéncia rovincia (depois Estado) verificamos que a lavoura fe se expande a partir de Campinas se localiza na dade na regio Leste, orientando-se a seguir no itido Norte, Ou seja, 0 Oeste histbrico corres- ide, grosso modo, a0 Leste e Nordeste geogrifico. ‘mesma forma, 0 Vale do Parefba, localizado no te, era chamado de Norte, também em fungo direcionamento do café, em marcha progress sentido Sul, a partir da Provincia do Rio de J ara depois contomnar para o Oeste. 8 Paula Beigueim A Grive do Eseravismo ea Grande Imigragdo Sho extremamente abundantes as evidéncias de uma diserepincia do Oeste com respeito a um ‘modelo rigorosamente escravista, decorrente de ‘ores diversos que, inclusive, aliaram os fazendeiros dessa fea a um incipiente processo de urbanizagio nas fimbrias da lavoura. sso, € claro, ndo interferia no processo de estruturaeto do quadro de trabalho da propria ta- voura, essencialmente escravista. Sem dévida, tendo iniciado sua expansio depois da extingao do trafico = portanto numa etapa j4 adversa & especulaczo fem escravos — a lavoura do Oeste passa a desen- volver uma tendéncia a reservar 0 brago escravo. para as fungdes essenciais, empregando o trabalho nacional livre nas tarefas’ supletivas. ou perigosas, Igualmente, multiplicam-se as tentativas para in- ‘roduzir colonos europeus, 0 pagamento de cujas assagens era adiantado pelos fazendeiros. Colo- cados, porém, em fazendas ja organizadas em ba- se escravista, onde recebiam uma remuneragdo pau- ada pela rentabilidade do trabalho escravo, ori- ginayam-se freqiientes conflites entre proprieté- ios e colonos, que tomavam desvantajoso 0 sis- toma. Em vista disso, a nova lavoura passa a insistie ‘numa solugao que ihe permitisse ao mesmo tempo ‘poupar o investimento em escravos e garantir-se um. Drago barato: a entrada do trabalho semi-seryil de cules (coolies, trabalhadores indianos ¢ chineses) ceusta dos cofres piblicas. tra Mas, enquanto fracassam essas tentativas, pros: segue no Oeste o sistematico suprimento de braso eseravo, vindo de outras provineias. Por isso, durante ‘a passagem da lei emancipadora de 1871, que encon- ‘2 oposiglo generalizada da lavoura de todo 0 pais, € exponencial a resisténcia do Centro-Sul em geal e especialmente do Oeste paulista. ‘Uma yer promulgads a Lei do Ventre Livre, pporém, tendo sido o proprio investimento servil fe Fido pela depreciagio, comecam a se esbosar tenta- tivas para dificultar a eorrente de trafico interpro- al, ao mesmo tempo que @ administragdo passa ‘a promover um programa de auxilio a introdugio de imigrantes, ‘Aabertura de uma terceira frente cafecira pro- yoca uma substancial mudanga qualitativa na situa- ‘go, conduzindo ao rompimento dos quadtos restri= {os dessa politica imigrantista. ais nova do Oeste da Provine senvolvida depois da lei de 1871 (quando decresce 0 interesse pelo investimento em escravos), tendia a se - ‘organizar na base do trabalho imigrante, e se voltava para as possibilidades propiciadas pelo surto imigrs {6rio italiano, vom efeito, @ lavoura de S30 Paulo, de- 0 colono, até entdo localizado supletivamente Isvouras {4 constituidas, passaria a set empre: "do no cafezal em formagio, vendo o seu salirio fierescido com 0 usufruto das terras intercafeciras. A introdusto de imigrantes em familias permitiria fo fazendeiro obter um suprimento de trabalho su- 10 rise do Escravismo ¢ a Grande Imigracdo u plementar barato, fornecido pelos membros femini- nos ¢ infantis, enquanto ao colono se tornava pos: sivel, através da cooperagio da unidade familiar, um ‘melhor aproveitamento das oportunidades de ganho. Para o sistema funcionar a contento era, entre- tanto, nevessirio respeitar a mobilidade do colono, seja entre as fazendas, seja na directo dos miicieos urbanos. Esse fator, obrigando a uma continua intro: dug de novos imigrantes, tornaria impraticavel 0 esquema no caso do financiamento das passagens continuar cabendo aos fazendeiros. Além disso, & ‘ransferéncia dessa despesa para os cofres piiblicos devia influir favoravelmente sobre a oferta de bragos, uma vez que o imigrante estaria liberto da necessi- |. dade de reembolsar o prego da passagem, vendo acrescids, portanto, a sua remuneragio. —}) Com o sistema do imigrantismo em grande es- ‘ala, subvencionado pelos cofres piblicos, alteraya- se radicalmente o enfoque corrente da matéria, En- quanto as administragées provincial e nacional enca- ravam o problema em termos de uma cancessto de auxilios pecuniarios aos fazendeiros para a introdu- so de colonos, a nova lavoura, ao invés, passava a interpretar a imigraclo subvencionada como alicerce de um abundante mercado de trabalho estrangeiro, ‘que eaberia aos poderes pablicos proporcionar. E. rea responsivel por essa proposta (érea essa correspondente & Alta Mojiana), e cujo parta-voz era 0 lider imigrantista Martinho Prado Jinior, que cha- ‘mamos de Oeste novo, priet que bigia const Em carta de outubro de 1877, regi Prado Tiinior seu entusiasmo por So Simo e Ri: beirto Preto. A vista da terra roxa, exclama: ppinas, Limeira, Rio Claro, Araras, Descalvado, Casa Branca, tudo pequeno, raquitico, insignificante, diante desse incomparsvel colosso” “Cam- E, de fato, a regio constituise em noyo centro de atracdo, a ela afluindo, além de fazendeiros de ‘outros pontos da Provincia, grande niimero de pro- farios provenientes de Minas Gerais. O distrito Martinho Prado Ttinior representa na Assem- Legislativa Provincial, em 1882, inclui Pinhal, Sio Joo da Bos Vista, Casa Branca, Ribeiro Preto, Sio Simao, Cajuru, Batatais, Franca. Casa Branca a espéeie de limite’ entre o Oeste antigo (Campinas, Limeira, Rio Claro, etc.) eo Oeste mais hnovo, 0 primeiro centrado em Campinas e o segundo fem Ribeiro Preto. ‘Com os dois Oestes e mais 0 Vale, configura-se perfeitamente na Provincia uma constelag3o consti- tuida de trés &reas s6cio-econ6micas nitidamente tintas. ‘Como o abastecimento de eseravos aumenta com ‘0 tempo de oeupagao da terra — por sua vez fator de tdeeréscimo da produtividade da lavoura tropical —, verifica-se uma relaclo inversa entre o suprimento de nio-de-obra em cada fren e a produtividade da la- a, Ou seja, o Vale do Paratba, de cultura velha, titui a drea proporcionalmente mais abastecida lle eseravos em termos de suas necessidades produ- rive do Escravismo e « Grande Imigrasio campineiro situa-se intermediariamente. ‘A dindmica do escravismo conduziria, a lo pprazo, a uma progressiva transferéncia de brago, da Tevoura mais antiga para os setores novos. Mas ‘corre que o processo se interrompe — ¢ justamente por do setor de vanguarda que, embora faminto de mio-de-obra, prope a obstaculizagto do ‘réfico interprovincial (que introduzia escravos pro: cedentes do Norte agropecusrio e dos setores mais ‘antigos do Nordeste agucareiro), como passo titica para impor a solugdo imigrantista, que afinal aca- ‘bard prevelecendo. Essa tomada de posi¢do, por sua ver, envolve ‘uma implicagao fundamental. Com efeito, com o eseravismo ja ferido em duas ‘etapas — em 1880, com o encerramento da especu- Jago em eseravos; em 1871, quando o proprio sen ‘ido do investimento escravista se vé condenado = longo prazo — 0 desinteresse do setor de vanguarda ‘pelo suprimento em escravos torna evidente para a ‘consciéncia nacional a perspectiva da viabilidade de um movimento visando o golpe final na iniqua inst para avolumar, a curto prazo, a pressio imigra tista, uma vez formadas as fazendas. ‘entretanto, no se transforma em ‘move, em Ambito nacional, a defesa da rei dela quanto introdueto de brago asiftico. Em fevereiro de 1878, Martinho Prado promove. na Assembléia Legislativa Provincial o encaminha- ‘mento de uma proposta criando o imposto proibitivo, < de 1:0005000 sobre cada novo escravo averbado na Provincia, Desse tributo procurard excetuar os escra- sado... Paula Bei (rive do Escravismo ea Grande Imigracdo ‘vos que scompanhassem os senhores vindos de fora da Provincia para abrir fazendas — obviamente no ‘Oeste mais novo} a aparente condescendéncia com o ‘eseravismo apenas redundaria, porém, em contribuir ‘Aprovado pela alianga dos representantes dos istritos mais novos © mais antigos (estes dltimos 8 fbastecidos) da lavoura cafeeira paulista, 0 projeto, i: @ Clube da Lavoura de Campinas, que congrega os importantes. fnteresses do café do Oeste mais velho, obtém do [Executivo provincial, com a cobertura do ministério Sinimbu, a recusa de sangZo & lei aprovada pela ‘Assembléia. Manifestando ainda sua afinidade com 4 lavoura do Oeste antigo, esse gabinete liberal pro- Agra disso, no terreno da legislago penal sobre 0 governo, argumentando com a freqtiéncia dos crimes de assassinato de senhores, apresenta Cimare dos Deputades, em fevereiro de 1879, uma proposta determinando que, para o caso desses dei tps, se substituisse a pena de galés, que o escravo teria « cumprir, pela de pristo celular. Um projeto ‘esse sentido jf fora apresentado em outra ocasido, fundamentado com a alegagaio de que a pena de galés, ‘ra inefiear, visto ser o servigo da lavoura mais pe- ‘A ordem escraviste vivia assombrada, de forma 6 permanente pela ameaga de manifestages de dia, representadas pelos quilombos, levantes, individuais e erimes contra a vida dos fazendeiros, Mas, na conjuntura particular em que se discus a proposta, acrescia 0 incremento do tréfico interpro tinclal, que “desenraizava” escravos das dreas a ‘Enquanto 0 elemento semi-servl (cules) se teria Jocalizado indiferentemente cm qualquer érea, ‘capacidade seletiva do brago nitidamente assalariado Dropiciaya ao setor cafesiro mais prospero a utili- ‘acto preferencial dos recursos despendidos com a ‘imigraeio, partilhados apenas com o segundo setor prevalesendo, passou « contar com dois tipos de tras (© uropeu, de tipo nitidamente_assalar ‘eonacioual, live ¢ iberto, para as tarefas rej pelo primeiro 'Nas condigdes peculiares de sua lavoura, da dis ponibilidade de verbas governamentais e da conjun- tura escravista nacional e internacional, 0 setor ca- feciro de vanguarda reivindicou a forma mais conye- niente de suprimento de mio-de-obra, eapaz de pri. vilegié-lo quanto ao direcionamento dela — e, al disso, manifestamente de molde a propisiar a dina ‘mizagio do cireuito global da econor Para intorpratar esse ereccimonto econBmico, vinculando & emergente industrializagtio, associads ao fim do escravismo © & injegio de um ele contingente imigrante, tem sido aventada uma ex- plicagao, de certa forma corrente, mas cujo signi: ficado, como veremos, & antes metaf6rico que heu tistico. esse esquema, é levada basicemente em cont ‘introdugdo de uma massa proletéria, desenraizad de suas origens (curopéias) e destituida de bens produgio, vendo-se limitada unicamente & posse de sua forga de trabalho. E yisivel a intengdo de esta- ‘Mexendo café no tereiro. — Foto de Th. Preising {Sao Paulo, 1932]in Instituto do Café do Estado de Sao Paulo — Visita da Missao Econdmica ao Estado de a0 Paulo (Brasi). Acervo da Seedo de Livros Raros da Biblioteca "Mério de Andrade" do Escravismo e a Grande Imigrasio belecer uma analogia com 0 proletariado forneei ‘a0 capitalismo manufatureiro inglés, em decorré da expulsio dos camponeses das terras que ocupa ‘vam, transformadas em pastagens. Sem aprofund a discussio metodologica sobre a inadequagio 4 ‘tipo de aproximagGes (em que se retraga uma esp cde nova génese do capitalismo industrial nas dimed sBes de nossas plagas...), basta observar que a fo lizagao do aparecimento de um proletariado dis pondo|unicamente de sua forga de trabalho tem vista, em termos de histéria econdmiea, explicar passagem do artesanato 4 indistria capitaista, ni sua etapa manufatureira. Nio se trata, evident ‘mente, de uma chave pronta a ser extrapolada para anilise dos processos particulares de industri gio. De qualquer forma, no caso do complexo eafeei +o paulista, 0 referencial analitico a ser elaborado. especialmente diverso e peculiar. Com efeito, consi derando-se que a destrui¢lo do escravismo ‘mente se esgota na criagio de um trabalhador for malmente livre mas destituido de capacidade aquisi tiva, e que o setor cafeeiro de vanguarda optou pel introdugio de mio-de-obra de tipo diverso, temos, de inicio, a dissociagfo do brago nao eserave em du cctegorias, compondo, com 0 escravo, trés tipos ao invés da mera antinomia escrave-livre, O atribut do despojamento dos meios de producto e da vend 4a forga de trabatho esti a rigor, presente em ambo 1 tipos de trabalho no escrayo, ¢ por isso nos é di soca serventia anaitica, O que os distingue(e isto é verdadeiramente relevante no caso) é 0 fato de 0 fabalhador que aqui designamos como nitidamente ysalariado conjugar ao brago uma tendéncia a capa- idade de consumo — 0 que the permitiré atuar smicamente sobre uma economia que j& havia “gerado um embrido de mereado interno. Com efeito, a propria cafeicultura do antigo ie, tornada prospera depois de encerradi wulagdo em escravos (com a extingao do tréfico) ten- iia: a poupar o brago escravo, reservando-o para as fungoes essenciais; a empregar excedentes dispont is na yalorizagao da terra, cedida em parte & agri cultura de alimentagio. E, desenvolvendo ainda for- mas diversas de redistribuiglo da renda gerada na lavoura, aliou-se a um incipiente processo de urbani- ria 0 estabelecimento de pequenas sas conseragtes ns conidam scomenta os mites dn ingortancla da quebre da autsufcncia fo nnd somo far de eriagdo de um mrad Se consumo para india emergent. ‘Come’ acabamus de ebgerta ©. proceso de superego de etura autonomies na fend pa fsa eteior mesmo a sido Ventre Lie — teres de fata dentro de um exguema de ane Shere incipient rbantapi, num conteto de frulo # smereencia de umn econ mais CoM. a . ‘Encarado isoladamente, porém, esse fenémeno Crise do Eseravismo ea Grande Imigragdo de mao-de-obra adotada pelo setor de vanguarda, em sua opedo pelo trabalho imigrante.* seria menos relevante como fator responsivel pelag caracteristicas assumidas pelo complexo cafeeiro. quebra da auto-suficiéncia poderia, por exemplo, ‘itar-se & mera disposigo de concentrar na ati dade da lavoura o quado de trabalho escravo, redi ido 20 minimo indispensdvel — sem envolver quai rmadoras, seria esse 0 caso so o abastacimento extern fosse feito com o recurso a importagdes para a Em outras palavras, & possivel, teoricamente, ‘mesmo tempo suprimir a estrutura auto-suficiente d fazenda pela utilizaglo intensiva dos trabalhado apenas na lavoura tropical, e adotar formas de abage tecimento externo tais que nao favoreyam o apareci ‘mento de um mercado local de consumo ou de um opulaedo circunvizinha consumidora. ‘Assim, para realmente compreendermos a dinal ‘mizacao do cireuito abrangente em que o estimulo, Industrializagio se insere, temos que levar em cont as premissas j6 estabelecidas na economia como todo; a caracteristica peculiar do trabalho de tip nitidamente assalariado, que conjuga a0 braco ‘eapacidade tendencial ao consumo; e as condig especiais em que o setor de vanguarda da cafcic furs logoapromover#arandsimaretosubvencd ‘Complementarmente, ao interpretar a imigras go, hé que levar em conta: 2 conjuntura glob fem que se insere a absoreo do trabalho assalariado combinada com a definiglo especifica do problems (9) Narada detente aprovcames, com springs er ‘Rove cate fro orale publleudo ma rota Abmaregue, 8, 'StoPaaln Besse 197%, pp. 011s, & do Escravismo e a Grande Imigragdo 31 intereafesiras, que ele exploraré simultanea- nie com 0 trabalho do cafezal, sem a dispersio jue o cultivo de pequenos lates afastados (¢ freaten- te de terras jé impr6prias para a cultura) acar- (© sistema era de molde a gerar atritos entre lazendeiros e colonos. Com efeito, estes Gltimos comecavam a traba- ‘har 1 onerados de dividas e, dada a organiza¢lo do trabalho cafeeiro em que eram enquadrados, nto ontavam com oportunidades certas de ganhos suple- mnentares. Desapontados com o escasso rendimento jecunirio do seu servigo, na execugdo de um con- irato cujo funcionamento efetivo nao tinham podido x, atzibuiam-no & fraude ou entto reivindicw- ium a alteragao dos termos do ajuste. Sao freqiientes 5 revoltas ocorridas nesse periodo, das quais a mais (flebre &a de Ibicaba. Pot sua ver, 0 fazendeiro solicitava do governo neios para obrigar os colonos ao cumprimento do tontrato, defendendo-o inclusive do risco de perder ts capitais que tinka adiantado (pagamento de pas- Sagens, ete.) e que, segundo 0 ajuste, reaveria dos tolonos. ‘De qualquer forma, os fazendeiros se desinteres- savam da introdugao de imigrantes, continuando a se ter ao brago escravo, mais compensador, apesar do fyrande investimento inicial, e cuja rentabilidade ddava a medida do que se esperava do trabalho livre, hacional ou estrangeiro. APOGEU E DECLINIO DO IMIGRANTISMO Na primetra etapa das tentativas de introdugaa de imigrantes (inicialmente alemies do norte, alemaes do sul e sufgos), que se abre com a iniciat de Nicolau Vergueiro ainda nos anos 40, fora tado o sistema de trabalho em parceira.” Consist fem tese, na divisto do Incro liquido, apés a venda café, cabendo metade ao colono. Quanto as divid ‘contraidas com o fazendeiro (passagens, sustento n rimeiros tempos), metade no minime da renda If squida anual dos imigrantes seria destinada a com pensé-las, O colono s6 entrava no cafezal depois derrubado-o mato, plantado o café e tratado quatro anos, Essa organizagtio, na verdade, privava: de uma oportunidade econdmica da qual se bene ciaré, quando, mais tarde, Ihe for entregue o tzato ceafezais em formagio — ou seja, 0 usufruto das ter Paula Beigué do Escravismo ea Grande Imigragao 2B No periodo de grande prosperidade ¢ ex demanda que a década de 70 inaugura, a lavo tome sevoltar para oimigranté estrangiro, ag porém, buscando sanar uma das fontes de insuces { responsabilidade dos fazendeirs ¢ colonos no p ‘gamento das passagens. Nos termos de uma propo} de José Vergueiro ao Ministro da Agricultura, 1870, o governo promovera de pronto a entrada 100 & 200000 imigrantes com passagens inter mente pagas, fornecendo, pois, aos fazendeiros t batho abundante e barato, de acordo com “o pri pio inquestionavel: os trabalhadores devem procum ‘0s proprietirios e nto os propretéris os trabs ores Tal esquema, obviamente, nao possuia condigdes de receptividade na esfera administra ‘com os introdutores, no conoemente ao pag das passagens. Estimulados por esses auxilios governamental virios fazendeiros se interessam pelo emprego do tt balho imigrante. No entanto, a situago do colono dentro | cafeicullura nao se alterara ainda, uma vez que continuava tendo a seu cargo eafezais ji constituld ‘que, como vimos, reduzia ou eliminaya as opor- inidades de ganho suplementar, essenciais para:a sentual formagio de um pecilio — e os conflitos tontinuam freqientes. ‘Além disso, como, apesar dos auxtlios do g0- no, os fazendeiros nflo apenas pagavam comissGes os introdutores, como faziam adiantamentos aos co- os, a operagao envolviaefetivamente algumas des- pesas de que pretendiam indenizar-se. Embora, em ise, se pudesse considerar vantajosa a introdugio de frabalho livre em quaisquer condigdes, dado 0 alto preco do eseravo, contudo s6 a garantia de uma rela- Jiva establidade, que no obrigasse a renovar conti- fuamente essas despesas (proibindo se, na verdade, ‘s mobilidade do colono entre as fazendas e na dire: fo dos nticleos urbanos), & que permitiria ao lavra- dor (que podia apelar para a alternativa do braco tscravo) enearar o trabalho imigrante como compa fativamente interessante, na competiglo entre ambos 05 tipos. ‘Substitufdo geralmente o sistema de parceria pelo de salrio quanto cultura de café, acrescido do ‘pagamento da colheita por alqueite, seré em torno dos contratos de locaco de servigos que passarao.a ‘centrar-se os conflitos. ‘Todavia, a essa época, os fazendelros da érea ‘mais nova, em plena expansio, tirando partido do surto emigrat6rio italiano, é vinham ensaiando orga~ nizar sua lavoura com base nesse tipo de mAo-de- ‘obra, desenvolvendo uma interacio_conyeniente ambas as partes. ‘Do ponto de vista do imigrante, tratera-se b camente da perspectiva de formaglo de um pequi pecilio, através da atividade intensa da famili Jona, remunerada na base de um salatio fixo ant acrescido de quota por alqueize de café colhido principalmente, com a permissdo do usufruto terras intereafeciras onde eram plantados 4 alimenticios. Essa tltima maneira de remun © trabalho era, na verdade, exclusiva do setor ‘expansio, e, pois, em processo de abertura de fezais: ele tratava ainda de constituir © préprio qb dro de trabalho — © na conjuntura excepcions mente favorével em que se descobria a rca da ten trato dos cafezais novos (com o conseaiente usu das terras intercafeeiras), as caracteristicas do ‘mento imigrante, que anteriormente Ihe haviai si desfavordveis no confronto com 0 eseravo, agora D mitiam 0 ajustamento reciproco dos interesses colono e fazendeiro, ambas as partes voltadas para expansio do cafezal, Na nova conjuntura, 0 trabalho assalariado pa sava a competir vantajosamente com o trabalho vanguarda da cafecultra que entio se expandia, ¢ onde se geravam capital que, sob Seu comando, {mmpulsionavam a economia inclsiva, diversificando- *lomando mas compea,Corenondia «un ‘pega por um tipo de trabalho nitamente assla- edo, eapaz de ser absorido por esse embrito de economia em crescimento,e de ao mesmo tempo dinamizito, Tk 0 imigrantismo do periodo que tem como ‘marco o inicio da superprodugio vincula-se simples ‘ments ao objetivo dalavoura de, pela continuagto do Tema, geranr-ae 0 stpido o/soninio suprimeat eumaasca demmto-de-obra de manera eta 0 ‘evequllcio do status quo. Pela suns caractristcas de trabalho asselariado,o elemento introduzido es- tava fadado nocessariamente a uma frstragl0 00 imbitoraral ~restando-he a eventualidade de uma integrecto (também tornada menos compensadora) no urbane. Ou sea, a questo em paula se rela onava essenciakmente com 0 suprimento de mio- dewbra (de qualguer pe), uma ver que, dadas as bases estreitas da economia, 0 impulso para a absor- ao maciga de um trabalkadorconsumidor, rma Sonjancuraascensiondl, praticamente so exgotara. A Shertura de novas fentespionelas, como a alla fruraquarence, embora se opere,€verdade, durante So nance eo om ose Sento conor, ele, are So eee oe ae eee Sal se do Escravismo e a Grande Imigragiio balhador agricola, inerentes a etapa de cafezais. Mas 0 prosseguimento do. imigran cafeicultura, Em contrapartida, o estigio da economia tadas para a agricultura de alimentacio. es gereis, a mobilidade do colono, vista antes indiferenca, passava a ser ressaltada como cart 4 hip6tese do parcelamento ¢ venda de terras ‘macio do imigrante em elemento sinultaneai Iheitas, desobrigando o fazendeiro de sua manut ‘¢20 durante o resto do tempo, ‘no coneernente és oportunidad e incentivos a0 tt formagio, decorria, fundamentalmente, da inexisténcia de ‘ras solugdes quanto ao abastecimento de bracos @ fazia num contexto em que a pripria implemes taco do Convénio de Taubaté, de 1906, indicavs cardter cada vez mais gravoso de que se revesti lum todo devia permitir a viabilizagao de uma al ‘nativa, com base no estabelecimento de colénias vol _ Esse aspecto jf fora lovantado no. contexto d critica & resposta do imigrante italiano & conjunt da superprodugao. Com efeito, alteradas as cond vistica extremamente negativa, Nesse sentido, tend ‘em vista a constituigdo de uma reserva de mao-d obra (e também para valorizar a terra, em vista d situagdo periclitante do produto), passa-se a aventa corlas da grande propriedade, ou seja: a trans proprietério e trabalhador agricola, que forneceria braco necessirio, prineipalmente no periodo das es ‘Concomitantemente, reformulava-se 0 concel torrente sobre o imigrante italiano, passando a ser ‘walificada como negativa uma disposigo psico-eco: rndmica antes elogiada; e se propunha sua subs {uicdo por um elemento menos “ambicioso” ou “ex ente”, ‘A.essa época, e visto que o Japdo procurava co- ocar seu excedente populacional em varias partes do mundo, € firmado, durante a gestio Carlos Botelho na Secretaria da Agricultura, um contrato com a Companhia Imperial de Emigracto de Téquio, para introduzir 3000 japoneses, em levas de 1000 cada tno. Pela cléusula XI desse contrato, os imigrantes indo poderiam obter lotes em nticleos coloniais, en- quanto ndo tivessem feito pelo menos a primeisa co Dheita nas fazendas em que tivessem sido colocados & sua chegada, e enquanto nao estivessem quites nas ‘esmas fazendas, ou outras em que se fivessem em- pregado. Como jé vinham contratados para deter- minadas propriedades, cumpria aos fazendeiros be- neficiados o pagamento de uma pareela do prego das passagens, a ser descontada dos saris, sendo todos os membros das familias dos imigrantes coletiva- mente responsiveis pelo débito dos respectivos che- les. O primeiro grupo, que chega a 19 de junho de 1908, era constituide de 793 pessoas, quase todas. \tratadas para fazendas da Alta Mojiana. Por outro lado, a proposta administrative nao deixava de parecer no mi xtravaganto” para Juma lavoura que, no seu conjunto, podia contar com ‘brago provindo de centros emigratérios europeus ac { 7 56 do Esoraviemo e a Grande Imigrago a ({tilia, Espanha e Portugal, dispensando-se, dos esforgos especiais de adaptacdo reciproca que presenea do novo contingente imigratério p ‘mente requereria. ‘A Mensagem enviada ao Congresso Leislat 14 de jutho de 1909 refere nto ter a imigragto esa produzido os resultados esperados, por te sido introduzidos, em sua maioria, individuos solte tolonizaefio amarela na gleba roxa da lavoura pau- lista”. E invocavam, como argumento, 2 eventuali- dade contréria que, dada a fertlidade dos casais japoneses, acabaria “inundando So Paulo, Minas e Parana”... (Correio Paulistano, 12-10-1915). [Nao obstante, of japoneses esto presentes na sraraquarense, no trato dos cafezais em expansio. E. no perfodo da guerra, a Sociedade Promotora da Defesa do Café representa ao Presidente da Repi- blica pedindo a “introducdo de trabalhadores asié- ticos para suprimento de bragos & lavoura’’. Apoian- do essa representagio, AniOnio Prado afirma esta- rem localizados nas fazendas, como colonos, 17735 Japoneses, formando £000 familias (O Estado de 5. Paulo, 10-2-1918), ‘Tratava-se, porém, simplesmente de recurso a ‘um expediente circunstancial, tendo em vista a difi- culdade de suprimento de bragos durante a guerra, ¢ festando os “eafeeiros no colonizados necessitados e gente”. A incorporasio tipica do elemento japo- és no emergente complexo cafeeiro se fara fora da cafeicultura, © em outras bases — num setor que praticamente se forna monopélio seu. ‘Téem 1913 obtinha autorizagao para funcionar no pais uma companhia de colonizaglo japonesa que, a partir da pretendida funda¢io de uma ci- dade-base, proxima a Iguape, onde seriam conser- vadas os “costumes ¢ hiébitos japoneses”, fundaria novos niicleos no interior do Estado. Essas colGnias se dedicariam a atividades tais como a etiagdo do ‘guinas familias “consituidas por verdadeiros cultores que trabalham muito a contento" dos prietirios. Avista de taiscircunstancias, modificar se 0 contrato com a Companhia Imperial de En aragto de Téquio, “ieando ertaelocigo que a3 lv ‘io excederiam de 650 individuos cada uma, e red zindo-se 08 pregos das passagens e os fetes par café", Com essa redugio, o colono comecaria at bahar menos onerado de divas. Determinava ainda que o contingente devia ser constituido de f rilas, com pelo menos trés pessoas aptas, com id des entre 12645 anos. _A persisténcia num experimento eujo éxito en duvidoso mesmo na érea considerada préspera podia deixar de ser interpretada em termos de inco ‘eta alocagio dos recursos piblicos. Na verdade, tentativas de insercdo dos japoneses na layoura, feeira continvavam frustradas pelo entrechoau di enpectativas reciprocas, suas ¢ dos fazendeiros. Os adversiros dessa imigracio se c vam com a “noticia de haver falhado, em parte, bicho-da-seda, o plantio e comércio de frutas e arro ‘ea companhia esperava obter 0 concurso de mais d 10000 familias para povoar, em cinco anos, a cidade ‘base (Correio Paulistano, 10-6-1913). Na verdade, estgio da economia global devia permitir a di ficagdo da agricultura — inclusive no sentido de um agricultura de alimentag&o-—, viabilizando o estab lecimento de colOnias de imigrantes japoneses assim orientadas. Para garantir o &xi rmentos, tal colonizacio era nada pelas entidades patrocinadoras ‘em Si0 Paulo, do excedente populacional da terra d corigem. Depois de uma retragio no periodo 20: ‘entram no Estado 50 573 japoneses no periodo 25-29 (Boletim do Departamento Agricola, Ano XX1, 72, Sto Paulo, 1932.) 'No concernente ao brago para a lavoura, desdi que se tratava essencialmente de prover ao supr ‘mento, ocofria que a questo passava a se colocar em ‘termos quantitativos, sendo menos relevante a ope por tipos definidos de trabalho, e bastando a ofert abundante de braco barato, [Nas novas frentes pioneiras (Noroeste e na di ‘lo do Parani), provayelmente se selecionaria, det ‘tro do grosso dessa massa, a parcela requerida para: ‘trabalho psico-economicamente motivad, dispos ‘cooperar arduamente na expansto dos cafezais, pel0 incentivo de formar um pecilio e ascender s6cio- nomicamente, Mas nio se tratava mais de injeta rapida e abruptamente, como durante 0 apogeu 0 trem baiano: migrantes chegando a Estagdo do Norte (Sao Paulo) — reprodupio em preto-e-branco, ¢ redu- 2ida, do quadro de Jorge Brando. imigrantismo, um contingente avultado, j& previa- mente dotado de tal orientagao. ‘A situagdo precéria da economia em outras ‘reas do pals era de molde a propiciar, progressi- ‘yamente, a reserva de mio-de-obra requerida pela ‘afeicultura nas novas circunstincias. Assim, j& em 41019, a Sociedade Rural Brasileira, referindo- sorte ingrata de milhares e milhares de brasil f, complementarmente, “A séria situagdo em que se facha a layoura deste Estado, a bragos com a mais 4 canalizagdo do seu fuxo para as fazendas pai {a8 (0 Enado de s Paulo, 30-11-1919). Entrementes, no afiuindo ainda o element nordestino na proporgto requerida, a caficult esperava que a cise européia do pés-guerre Ihe p piciase o contingente que, como atrativo da | sagem pags, concordasse em complementaro a || tesimento de bragos. Quando, em 1927, 0 sistema imigzagio subvencionada € bolo, 0 nimero brasileiros de outros estados j sobrepujava de lon 0 dos de cada uacionalidade estranseira. isola |] mente considerada. "A imigraeio subvencion substituia-s progressivamente pela espontines, compromisso com a lavoura e precipuaments di ida para a atividade urbana; e, de qualquer for © nimero de migrantesj se tormara maior que 0 d imigrantesintroduzidos com passagens pngas, ‘A migragio interna sucedia ao imigrantismo Ambito da caeicultura. INDICAGOES PARA LEITURA A guisa de complementagia bibliogrifica, re- metemos o leitor aos Seguintes estudos de nossa au- toria: 1 — “A Destro do Escravsmo Modeme, como Questo Teiea” — yee Oreanizagio Palitica do Imptrio ‘Transformando-seem Objeto Telco” Ser Consderacbes Complementares sobre 0 Problema du Geneae da Economia de Mercado In term no Bas” = tnt Pequonos Estudos de Ci fia Plc, 2* ed, ampliads, Sto Paul, Plonera, m7, 4 — "A Destrig do Fscravsme Capit isa” — ins Formagdo Potion do Bra, 2° e rots, Sto Pau, Poni, 1976,pp. 1227. See Gets Bopulares na Constinigzo Sobre a Autors Pasi Hegsinan ¢ LireDaceale do Departamento do Cit ch Sols a USF, opus A pgueno Eos de Gna Police, 2 e. amplad, Sto Paso, Prom, 1973 evs, So Paulo, Pon, =A Pormapan do Ror no Conpleo Cafe, 2% a rests « fda Sto Paci, Phe 1978 (Peto “Visconde de Ca) = OEntaminamento Police do Problema da Frag no Imps In tetra Garda Coca Brae i, 3, Dake utopia dona Sto Pal. ~ ait Perpectva, Difsio Earopéia Livro, Sie Paton — Viegem Semen « Done Gide do Poe (ontendo 68 exe oman de Manel e Olea Pat) ~Sto Plo, — Gr Gompanharor de $30 Polo So Pcl, Eder Sib, — E reponse planted, sl e crgalaeto dos textos dt hr doeguim Nabuc, ae pends ela Ea bes Caro letor: Se 006 fiver alguna sugest6o de novos fulos para os sigs colegoes, por favor Nos erMie. Novos Ibias 500 Sempre bem recebs. inal (ines gue o tor eon em toa 8 2 lone. O snl (=) ten oe lene eps ef 6 ‘an Bouv extena asc dentro pep carpe do ® &

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