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EMT/ JEMPE iz E: MP E: Coordenacéo: Davi Alexandre de Carvalho Ribeiro ~ Rio de Janeiro/RI GEMT/JEMPE ‘rope de tse preparate por 0+ cones de has tcl #0 ME aa JEMPE 2011 - Sétima rodada de 2011 Rio de Janeiro, 10 de marco de 2011. Grandes realizacées nao sdo feitas por impulso, mas por uma soma de pequenas realizacées. Vincent Van Gogh GEMT ESPETACULAR - 0 Quadro de aprovagées oficiais do GEMT/JEMPE! Mimero de julzes do trabalho Jé aprovados: 158 Procuradores do Trabalho: 40 Juizes estaduais: 05 Promotores de Justica: 02 Participantes no exame oral do TRT/MG: 05 © GEMT/JEMPE est aqui! Vista parcial de Anépolis/GO, terra de sete participantes do GEMT. Agradecemos a alguém, sempre com a pepo! © verbo “agradecer, como 0 ‘pagar” 0 “perdoar’, admite dois complementas, 0 de "coisa" @ 0 1 pessoa, Aguilo que se agradece, como aquilo que se paga e aquilo que se perdoa, é 0 complemento ‘objeto diroto, que se liga ao verbo sem a intermeciago de uma preposigao. Assim: “A Folha ‘agradoce as mensagens recobidas","Fulano no pagou as dividas", “Ea jamais perdoaria semolhante ofensa’ 0 objeto indireto ¢ o complemento que expriine o destinatario da a¢ao, portanto a “pessoa” ou fequivalente, Assim: "Agradeceu 2o diretor’,"Agradaceu a diretoria da empresa’, Pagou 20 ‘medieo”,“Percoou 20 pa. Claro esta quo esses verbos podem ser construidos com os dois objetes simultaneament. Assim: "Agradecou ao diretor © convite’, “Pagou a consulta ao médico" ‘Perdoou a ofansa a0 ‘amigo E importante, no entanto, dstinguir objeto ciroto do objoto incireto, para tanto tempregando a preposigao "a" diante do destinataro da acéo. Caso a ideia seja substtuir um dos objetos por um pronome dion, seré preciso redobrar a atengao, pois ha pronomes proprios para substiuir 0 objeto dieto (0, a 0S, a8) € aqueles que 6 substituem os objetos indiretos (Ihe, hes). © fragmento a seguir lustra um tipo muito comum de confusdo quanto & regéncia do verbo ‘agradecer’ A intengao da presidente, disse o lider do governo, ¢ apens aprovacio do minimo, gradect-los pela vordade que o verbo “agradecer admite uma regencia distnta da tradicional (esta cexplicada acima). Também ¢ correto “agradecer a alquém por alguma coisa’. Nesse caso, ‘aquilo que seria 6 objeto direto (a ‘coisa" agradeciéa) passa a ser adjunto adverbial de causa (introduzido pela preposigso “por’), mas o abjeto de possoa continua sendo indireto. ‘Muita gente imagina que, havendo a prepasiglo na “coisa” agradecida, 0 outro objeto passa a ser direto, Esta al a ongem da confuso. Para simplificar, basta lembrar o seguine: a pessoa a {quem se destina 0 agradecimento @ SEMPRE um objeto incre, introduzido pela preposieao ‘a"~ se substituldo por um pronome, este devera sera forma “Ine” (ou seu plural, hes") Assim: A intongao da prosidento, disse o lider do governo, 6 apenas agradocor-Ihos pola aprovagie do minimo, u, segundo a trade: ‘A intencao da presidente, disse o lider do governo, 6 apenas agradecer-thes a aprovacao do minimo. 1. As opini6es manifestadas neste forum de debates nao refletem, necessariamente, o posicionamento deste coordenador. 2. Os autores das respostas transcritas séo os iinicos responsdveis por eventuais erros de portugués. Este coordenador podera corri determinados trechos sem, no entanto, se responsabilizar por eventuais equivocos néo identificados em uma répida revisio. 3. Atengo! As sentencas ou pecas do MPE publicadas nao so necessariamente selecionadas e podem conter imprecisées. O obj evidenciar alguns equivocos e motivar comentérios dos juizes colaboradores e deste coordenador. Colaboracdo: Monitor: Ricardo Fabricio Seganfredo (Cuiaba/MT) ye ‘Monitora para atualizagdo do site de noticias, boetins,simulados de primeira fas Hevelin Chedid ~ Araguari/MG twitter 1 - (CESPE/UNB ~ Procurador Municipal Boa Vista/RR) - Anténio, servidor iblico municipal, lotado na secéo de licitacéo e contratos de uma prefeitura municipal, coordenador do departamento de compras, licitacso e contratos do referido ente municipal, no regular exercicio da fungio iblica, dispensou licitacdo em diversas compras no periodo de janeiro a agosto de 2009, fora das hipéteses legals de dispensa e com inobservancia das formalidades pertinentes ao procedimento administrativo licitatério, ensejando um prejuizo de R$ 90,000,00 aos cofres do municipio. Além disso, em concurso material, solicitou significativa quantia para célere liberagso de pagamento a fornecedores e devassou sigilo de proposta spresentada em procedimento licitatério, para beneficiar falsifica documentos piblicos e, com isso, ocultar algumas préticas ilegais. Por fim, no curso da apuracao administrativa, Anténio retardou a pratica de ato de oficio para satisfazer interesse e sentimento pessoal. Todos esses fatos restaram provados nos autos de inquérito policial que, concluso, foi encaminhado ao Ministério Pablico, © qual denunciou Anténio, desencadeando ago penal que se encontra em curso. Considerando a situacéo hipotética narrada acima, redija um texto dissertativo que atenda, necessariamente, de forma justificada e com o devido fundamento, as seguintes determinagées: > comente sobre a possibilidade de habilitacio do municipio na condicao de assistente de acusacao; > informe que medida processual penal garantiré o ressarcimento dos prejuizos sofridos pela administracéo; » comente sobre os efeitos penais da sentenca condenat tocante ao cargo pablico do servidor; > elenque as infragées penais praticadas pelo servidor. Comegamos com a resposta enviada por Marilia Ramos De Oliveira jue fol muito feliz ao afirmar: Marilia escreveu: ‘iguram-se de salutar Importéncia os princpios administratives expressos ¢ implictos.no caput do artigo 37 da Constitigao Federal, 2 par de outras regras fruto do desdobramento de seus vetores, dentre as quais se destace a previséo da Drévia ltacao, para, ressalvados os casos especifiados na legislacto, contratar bras, serviges, compras e alienagées. Nortear © comportamento de quem exerce, ainda’ que transitoriamente ou sem remuneragSo, por clelcSo,-norneacio, designate, contratacdo ou qualquer outra forma de investidure. ou vinculo, rmandato, cargo, emprego ou fungéo na administracao publica direta ou increta, & tssencla! para ating os fins do Estado. A pratica da boa administragao. publics 6 orolirio Go modelo de Estado Democritico de Direito, elelto para dar feigdo Republica Federativa do Brasil. Por isso mesmo, © ConsttuigSo Federel repuciou om veeméncia 0 que denominou de improbidade administrative, locugdo que, 20 fargo do tempo, pessou a qualificar como de natureza grave 0 ato administrative que viola os objetivos precipuos da atividade estatal, a medida que nela hé Subjacente ofensa a todo 0 tecido social. Resulta, portanto, dai que 2. nitida intengio o constituinte a0 criar 0 sistemo de principios no artigo 37 da Corte Politica foi proteger antecipada e preventivamente o patriménio pubblico, © Estado, embora titular do Jus puntendi, por vezes concede 20 ofendido a faculdade’de intervir na relacéo processusl penal, seja na condigao de titular do acao penal, como ocorre na aco penal de iniciativa privada, seja como assistente do Ministério Piblico. Na primeira hipétese o ofendido figura na relagao como parte nnecesséria, atuando como substituto processuel, titular que ¢ do jus accusationis; no outro caso, porém, a vitima no é parte necessirla no processo sendo considerada sujelto secundério da relagio processual. E, por isso, identificada ‘apenas como parte acessiria, colateral, contingente ou adjunta, formando com 0 Ministério PUblico um litisconsércio ativo facultative, Discute-se na doutrina e na Jurisprudéncia quanto & possibilidade do Poder Publico estar legitimado a ser assistente da acusacio. Parte da doutrina no admite que um érgso do Estado auxilie um outro (0 Ministério PUblico) na tarefa de acusar. Seria o Estado- ‘Administracio auniliando-se, Para eles ndo é razodvel juridicamente a possibilidade do Poder Piblico auxiliar © proprio Poder Publico na persecutio criminis. Como sustenta Tourinho Filho se o Ministério Piblico }4 atua em nome do Poder Publica, “seria uma superfetacao a ingeréncia da Administracao Publica na acdo penal publica". Neste sentido ha posicées jurisprudenciais. Uma outra corrente, admitindo 2 assisténcia do Poder Pilblico, ressalta que os interesses do Ministério Publica néo séo necessariamente coincidentes com os de ‘outros entes publicos, até porque aquele, apesar de ser parte, também tem a obrigagao de funcionar no proceso como custos legis, obrigacio que nao se vincularia a Administrag3 Publica quando ofendida’diretamente por _um determinado delito. Ora, ‘se no € sempre coincidente a atuacSo do Ministério Publica com a do outro érgéo do Estado, entendo possivel @ presenca deste como assistente de acusacdo. Note-se que no Decreto-Lel n.° 201/67 que dispde sobre a responsabilidad dos Prefeitos © Vereadores (art. 2°, § 1°.), preve-se a possibilidade da assisténcia ao Ministério Pablico dos érgdos federais, estaduals ou municipais "interessados na apuracdo da responsabilidade do prefeito" Com efeito, em que pese as abalizadas opinides em sentido contrério, 0 certo € que, demonstrado 0 dolo em fraudar procedimento licitatério, a presuncio do dano 20 eréro, independentemente da comprovacao do efetivo’ prejuizo. A dispensa llegal de licitagio, sua inexigibilidade e a realizagio de procedimento de licitago fraudulento s80 atos de improbidade que causam prejulzo a0 Erério, afetando o Interesse coletivo, legitimando o Ministério PUblico para promover o inguérito civil e aco civil publica objetivando a defesa do patriménio publico. ‘Seja por dolo ou por culpa, em face de sua incompeténcie administrativa, o fato € que © servidor dispensou o'procedimento licitatério sem justificativa legal plausivel, fato este que constitui ato de improbidade administrativa, nos termos do art. 10, Indso VIII, da Lei 8.429/92. A indisponibilidade de bens em razao da pratica de ato de improbidade administrativa é medida imposta pela prépria Constitulcao Federal, conforme 0 § 4° do artigo 37, sendo que, por isso, a analise dos requisitos para a sua concessao - fumus boni juris e periculum in mora - € especial. Na lei de improbidade hd medidas de natureza cautelar como: indisponibilidade dos bens, cabivel quando 0 ato de improbidade causar lesio ao patriménio piiblico ou ensejar enriquecimento ilicito (artigo 7), devendo recair sobre bens que assegurem 0 real ressarcimento do dano, ou ‘sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento lito (pardgrafo Unico); 0 sequestro, quando houver fundados Indicios de responsabilidade, devendo processar-se de acordo com 0 disposto nos artigos 822 e 825 do CPC; investigacgo, exame e bloquelo de bens, contas bancérias © aplicacdes financeiras mantidas pelo indicado no exterior, nos termos da lei e dos tratados internacionais (art. 16, pardgrafo 2), afastamento do agente piiblico do exercico do cargo, emprego ou funcio, sem prejuizo da remuneracio, quando @ medida se fizer necesséria & instruc3o processual (art. 20, peragrafo Unico), Estabelece o indo III do artigo 12 que na hipétese do artigo 11, além das sancées penais, civis e administrativas, o responsavel pelo ato de improbidade, ajustavel a uma daquelas hipéteses, esté sujeito a0 ressarcimento integral do dano, se houver, perda da funcao publica, suspenséo dos direltos politicos de trés 2 cinco anos, pagamento de multa civil’de até cem vezes 0 valor da remuneracio percebida pelo agente @ proibico de contratar com 0 Poder Pilblico ou receber beneficios ou incentivos fiscais ou crediticios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa juridica da qual seje sécio majoritério, pelo prazo de trés anos. [A Indepeniéncia entre as instancias penal, civil e administrativa, consagrada na doutrina e na jurisprudéncia, permite 3 Administracdo impor punic3o disdiplinar ao servidor faltoso & revelia de anterior julgamento no mbito criminal, ou em sede de ‘aco civil por Improbidade, mesmo que @ conduta imputada configure crime em tese. Precedentes do ST) ¢ do STF." (MS. 7.834-DF). Comprovada a Improbidade administrativa do servidor, em escorrelta processa administrative disciplinar, desnecessério o aguardo de eventual sentenca condenatéria penal. Inteligéncia dos atts. 125 © 126 da Lei 8.12/90. Ademais, a sentenca penal somente produz efeitos ha seara administrativa, caso 0 provimento reconheca 2 no ocorréncia do fato ou a nnegativa da autoria. Conforme se depreende do § 4° do art. 37 da CF as penas consistem na suspenso dos direltos politicos, na perda da func3o publica, na indisponibilidade dos bens e no ressarcimento ao erdrio, na forma e gradagio prevista em lei, sem prejuizo da aco penal cabivel Muitos dos crimes contra a Administracao Publice s80 definidos nos artigos 312 2 326 do Cédigo Penal. Verifico no caso em comento, que AntOnio, praticou os crimes de Improbidade administrativa, violacéo do sigilo de proposta de concorréncia,, corrupcio passiva, falsidade de documento piblico, concusséo e alguns crimes relativos as lictacdes, Lei 8666/93: a) dispensa ou inexigiblidede de lictacdo fora das hipéteses legals (art. 89); b) Impedir, perturbar ou fraudar a realizacéo de qualquer ato licitatério (art. 93); ¢) frustrar ou fraudar, mediante conlulo, o carter competitivo do procedimento licitatério, com intuito’ de obter, para si ou para ‘outrem, vantagem decorrente da adjudicagao do objeto da licitacdo (art. 90). A participante Mariana Lisboa Carneiro (Belo Horizonte/MG) entende que: Para Mariana: © direito processual penal brasileiro admite - nos arts. 268 e seguintes do CPP - a atuacgo vitima ou do ofendido, via de regra, como assistente da acusagso nas ‘ages. penais piblicas condenatérias. Assim, no caso em comento, sendo o municipio vitima dos atos delituosos e improbos praticados pelo servidor publico no exercicio de suas fungoes, atualmente prevalece 0 entendimento de que € possivel a intervenco do poder publica como assistente do Ministério Publico. Ha diversos dispositives que comprovam esse entendimento, afastando a divida sobre a possibilidade de o préprio poder publico poder se habilitar como assistente, em que ese 0 Ministério Publico também agir na tutela do interesse pablico. A titulo de istragio, sao exemplos do acima exposto os arts. 80 e 82, III, da Le! 8,078/90 (COC); aft. 26, p. Unico, da Lei 7.492/86 (Crimes contra’ sistema financeiro nacional); art. 20, §19, do Dec. Lei 201/67 (Crimes de responsabilidade de prefeltos e vereadores). E cedigo que um dos efeitos automaticos da condenacéo criminal é “tornar certa a obrigagéo de indenizar o dano causado pelo crime” (art.91, inciso I do CP) em aco civil de execucdo que poderd ser proposta tanto pelo Ministério PUblico como pela vitima, valendo-se para tal, como titulo executivo, a sentenca penal condenatéria transitada em julgado, consoante permite a norma do artigo 584, II, do Cédigo de Processo Civil. Além disso, 0 Cédigo de Proceso Penal. prevé medidas assecuratirias de determinados bens, para satisfazer @ obrigac3o proveniente do ato ilicito penal, verificado no juizo criminal, sobre os quais, posteriormente, no Julzo civel, recaird a execugo para a satisfac3o da indenlza¢ao. Sublinhe-se, em especial, 2 medida de sequestro de bens, prevista nos artigos 125 e seguintes do Cédigo de Processo Penal, que visa 8 constricdo dos bens adquiridos pelo agente que praticou o ilicito penal, e exigindo, para tanto, apenes indicios veementes da proveniéncia ilicita dos bens. {Assim, como os atos praticados pelo servidor piiblico causaram prejuizo ao erdrio ‘municipal, 0 Ministério PUblico tem legitimidade para requerer o sequestro de bens como medida assecuratéria no processo penal. Relativamente a0 servidor pablico muni¢pal, sendo condenado pelos crimes cometidos no exercicio da funcio, sofrers, além de outros, a incidéncia dos efeitos da condenacao previstos no artigo 91 © 92 do Cédigo Penal e, por ter cometido crimes previstos na Lei de Lictagbes, também incidiré o disposto no art. 83 da Le! 8.666/93, que trata da perda do cargo quando o crime for praticado por servidores ppublicos. O referido artigo da Lei de Licitacdes € especifico em relacdo 20 disposto no art, 92 do Cédigo Penal ~ efeitos secunddrios, sendo a perda do cargo, portanto, decorrente da prépria sentenca penal condenatoria quando se trater de crime definido na let 8.66/93 ~ efeito primério. Por fim, dentre os atos praticados pelo servidor publica municipal hé diversas Infrages penais, 2 saber: a) crimes previstos na lei 8.66/93, mais especificamente no art. 89 ~ quando dispensou licitacao em diversas compras no periodo de janeiro 2 agosto de 2009, fora das hipéteses legais de dispensa e com inobservancia das formalidades pertinentes ao procedimento administrative licitatério, art. 94 - quando devassou siglo de proposta apresentada em pprocedimento lictatério, para beneficiar falsificagdo de documentos publicos {art.297, §1° do CP) e, com isso, ocultar algumas praticas ilegais (agravante do art.61, inciso II, alfnea b do CP); b) crime de corrupeso passiva previsto no art.317 do CP; c) ctime de prevaricacao previsto no art.319 do CP. Sylmar 3r. (Cotla/SP) leciona aos membros do JEMPE que: Sylmar prosseg ‘A improbidade administrativa ¢ um dos maiores males envolvendo @ maquina ‘administrative de nosso pais e um dos aspectos negativos da mé edministragéo que ‘mais justificam a implementacao de um maior controle social A. expresso designa, tecnicamente, a chamada corrupsa0 administrative, que, sob diversas formas, promove o desvirtuamento da Administragio Publica de seus fundamentos basicos de moralidade, afrontando os principlos da ordem Juridica do Estado de Dirett. Entre os atos que 2 configuram esto aqueles que importem em enriquecimento ilicto, no receblmento de qualquer vantagem econdmica, direta ou Indireta, em super faturamento, em lesio 20s cofres piblicos, pela prética de qualquer ago ou omisso, dolosa ou culposa, que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade € lealdade &s instituicbes. De se frisar que o conceito de Improbidade & bem mais amplo do que © de ato lesivo ou ilegal em si; 6 0 contrario de probidade, que significa qualidade de probo, integridade de carster, honradez. Logo, improbidade ¢ 0 mesmo que desonestidade, mau cardter, falta de probidade. © preceito constitucional inscrito no caput, do art. 37, da Constituigéo Federal, abrange os agentes pilblicos de maneira geral, sendo ora aquele que exerce atividade piblica como agente administrativo (servidor piblico stricto sensu), ora aquele que atua como agente politico (servidor piiblico lato sensu), que fest no desempenho de um mandato eletivo, Conforme estabelece 0 referido artigo, a violacdo a um dos principios enumerades em seu corpo, atral para o agente piblico que 0 violar - tanto ‘administrative, quanto politico - as sangbes prescritas pela Lel n® 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa), pela Lei n? 1.079/50 (Crime de Responsabilidade), pela Lei n® 4.717/65 (que regula a Ago Popular), além da legislagSo especifica que regulamentar a matéria definida constitucionalmente. Nesse mesmo nivel © ordenamento juridieo brasileiro canta também com a Lel de Lictagies, a Lel de Responsabilidade Fiscal, os estatutos de servidores pliblicos € os regimentos € cédigos de conduta, entre outros ndo menos importantes. Dispostas na Lei n. 8.429/1992, estéo relacionadas as penas cominadas para o tipo de infracéo exposto no caso em debate; possuem elas gradacéo, @ critério do julz, conforme o resultedo do ato improbo e, Independentemente das sangées penals, civis e administrativas, previstas na legislagio especifica, 0 responsavel pelo ato de improbidade administrativa (art. 9.8), esta sujeito & perda dos bens ou valores acrescidos ilictamente ao patriménio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da funco publica, suspensio dos direitas politicas de olto a dez anos, pagamento de multa civil de até trés vezes 0 valor do acréscimo patrimonial e proibicdo de contratar com o Poder Plblico ou receber beneficios ou incentives fiscais ou crediticios, direta ou Indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa juridica da qual seja sécio majoritério, pelo prazo de dez anos. Ademais, deve o agente promover o ressarcimento integral do dano, além de estar sujeito & perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patriménio (art. 10). Se concorrer esta circunsténcia, perderé a funcdo publica, teré seus direitos politicas suspenso pelo prazo de cinco a olto anos, pagar multa civil de até duas vezes 0 valor do dano @ ficaré proibido de contratar com 0 Poder Piblico ou receber beneficios ou incentivos fiscais ou crediticios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa juridica da qual seja sécio majoritério, pelo prazo de cinco anos. Por fim, na hipétese do art. 11, deverd promover o ressarcimento integral do dano, se houver; também perderd funcéo piblica, terd os direitos politicos suspensos pelo prazo de trés @ cinco anos, pagard multa civil de até cem vezes 0 valor da remunerago percebida pelo agente e ficaré proibido de contratar com 0 Poder Piblico ou receber beneficios ou incentivos fiscais ou crediticios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa juridica da qual seja sécio majoritario, pelo prazo de trés anos. Qualquer pessoa poderd representar & autoridade administrative competente para que seja instaurada investigacio destinada @ apurar a prética de ‘ato de improbidade, sendo que a representacdo deverd ser reduzida a termo, se jé no vier escrita, ‘A autoridade administrativa pode rejeltar a representacdo, mas a rejelcdo no é elemento impeditivo para que 0 Ministério Publico de requelra, a0 Julzo competente, o sequestro dos bens do indiciado. A pessoa Juridica interessada concorre com 0 Ministério PAblico no direito de propor a acdo prindpal, que teré 0 Fito ordindrio, dentro de trinta dias da efetivac3o da medida cautelar. © Ministério PUblico, se no intervir no proceso como parte, atuaré obrigatoriamente, como fiscal da lel, sob pena de nulidade, No caso da ago principal ter sido proposta pelo Ministério PUblico, a pessoa juridica interessada integrard a lide na qualidade de litisconsorte, devendo suprir as omissées e falhas da inicial e apresentar ou indicar os meios de prova de que disponha. ‘Ao lado do Ministério Piblico, @ Lel € um importante auxiliar do cidadiio no sentido de fazer valer o controle social sobre @ Administrago Publica, uma vez que obriga 0 agente pliblico a respeiter os principios administrativos e atuar com transparéncia perante a sociedade. Outras boas respostas selecionadas: Thiago Indcio de Oliveira -Golania/GO © § 19, do artigo 2°, do Decreto-lei_n? 201/67, expressamente, prevé a possibilidade do municipio se habilitar no processo penal como assistente do Ministério Pablico, nos seguintes termos: “Os érgaos federais, estaduais ou municipais, interessados na apuracso da responsabilidade do prefeito, podem requerer a abertura de inquérito polidal ou a instauracdo da aco penal pelo Ministério Pablico, bem como intervir, em qualquer fase do proceso, como assistente da acusacao.” Assim, demonstrado o interesse na apuracdo dos fatos, buscando 2 devida responsabilidade do agente piiblico, deve 0 municipio ser ‘admitido como assistente da acusagso. Em caso de condenacéo, um dos efeitos da sentenca penal seré a perda em favor do municipio do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua provelto auferido pelo agente com a prética do fato criminoso, ex vi da alinea b, do Indiso II, do artigo 91, do Cédigo Penal. No entanto, 0 Ministério Piblico poders, antecipadamente, lencar mao da medida assecuratéria de sequestro, 2 qual visa evitar 2 vantagem econmica do acusado com a prética da infracéo penal. Portanto, se, futuramente, se vislumbrar a possibilidade de pedimento dos bens, como efeito da sentenca penal condenatéria, seré cabivel o seaiestro, desde que existam indicios veementes da procedéncia ilicita dos bens. Além dos efeltos genéricos da condenag3o, que so automatices, o Julz pode fundamentar na sentenca a inddéncia de efeitos especificos, tal como a perda do cargo publico. Para que isso ocorra, deverdo ser observados os requisitos previstos nas alineas 'a' e'b’, do inciso I, do artigo 92, do Cédigo Penal. Ou seja, nos crimes praticados com abuso de poder ou violagdo de dever para com a administragao piblica, basta que a pena privativa de liberdade aplicada seja igual ou superior a 01 (um) ano; 14 com relagio aos demais crimes, a pena aplicada deve ser superior a (04 (quatro) anos, Note-se que, bastaré que a pena aplicada seja igual ou superior 2 01 (um) ano, para que haja embasemento legal suficiente pare 2 condenacio & perda do cargo ppibiico, uma vez que os crimes foram praticados com abuso de poder, bem como com violagSo de dever para com a administrago publica, Por fim, tem-se que no caso em tela, o servidor Anténio, em tese, praticou os seguintes crimes: dispensar lictacdo fora das hipdteses previstas em lel (art. 89, da Lei n. 8666/93); corrupcdo passiva (art. 317, do Cédigo Penal); devassar o sigilo de proposta apresentada em procedimento lictarério (art. 94, da Lei n. 8566/93); € prevericacdo (art. 319, do Cédigo Penal). Henrique de Freitas Parreira - Goiania/GO A licitago para aquisicéo de produtos, servicos e realiza¢o de obras para o Poder Publico tem por maior finalidade garentir a lisura, @ publicidade, a supremacia do interesse piblico, a melhor proposta para os cofres publicos, enfim, é a efetividade dos principios de moralidade, impessoalidade e legalidade estabelecidos pela Constituicao da Republica de 1988. AA responsabilidade do ente federativo ou érgio pablico é 0 fiel cumprimento das rnormas estabelecidas na Lel 8.66/93 (lei geral, nos termos do Artigo 22, XXVII da CF/88) e demais diplomas especificos (Federals, estaduais ou municipais), de forma 2 assegurar que as comissdes de licitacdo e os ordenadores de tais despesas sejam rigorosamente fiscalizados, razéo da existéncia de tribunal de contas, devendo qualquer irregularidade ser comunicada a0 Ministério Pablico, titular da ago penal publica e legitimado para propositura de aco de improbidade e aco civil publica para defesa e garantia dos direitos transindividuais. No caso concreto, verificou-se, apés a cabal apuracdo dos fatos, a responsabilidade ppenal do servidor pablleo Sr. Anténlo, cujas ages prejudicaram © Municipio cuja Prefeitura era o seu local de oficio, tanto que o préprio drgio no qual estava lotado © referido servidor instaurou ‘procedimento administrative para a devida investigacéo, demonstrando interesse na tramitacéo de possivel ago penal. Tal diligencia demonstrada pelo 6rg30 que representa o Municipio legitima sua Intervencao no proceso penal como assistente do Ministério PUblico, nos termos do ‘Artigo 268 do CPP, em face do interesse civil que Ihe é inerente em obter a reparago do deno patrimonial causedo pela pratica criminosa, uma vez que com a prolacéo de uma sentenca penal condenatéria, esta se constitui em titulo executive Judicial, passivel de execugao na esfera civel, nos termos dos Artigos 91, I do CP, 475-N, TI do CPC e 63 do CPP. ‘A lei’ processusl penal estabelece em seus Artigos 125 a 144 medidas assecuratérias para garantir 0 ressarcimento dos danos e impedir que o réu aufira lucro e rendimentos patrimoniais com a prética criminosa. Sao elas o sequestro, arresto e hipoteca legal, sendo aqueles tanto de bens méveis e imévels, e este apenas de bens imévels. ‘Anténio, uma vez condenado com sentenca passada em julgado, podera ter decretade a perda de seu cargo ou funcao publica, vez que se trata de crime praticado com violacéo de dever para com a Administracao Publica, efeito este que deverd ser expressamente citado no dispositive da sentenca, como determina o Artigo 92, I, "a" e Paragrafo Unico. ‘A aco penal piiblica oferecida pelo Ministério Publico deve pedir a condenagio do Sr, Antonio pelas préticas, em concurso material, definidas nos Artigos 89 e 94 da ei 8.66/93 (Dispensar ou inexigirlidtacao fora das hipdteses previstas em lel, ou debar de observar as formalidades pertinentes 8 dispensa ou a inexigibilidade e; devassar 0 sigilo de proposta apresentada em procedimento lictatério), 297, 317 € 319 do CP (Falsificar, no todo ou em parte, documento publica, ou ‘alterar documento piblico verdadeiro; solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da fungao ou antes de assumi-la, mas em razéo dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem, retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de oficio, ou pratica-lo contra disposicao expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal) Marilia Ramos De Oliveira (Manaus/AM) fundamenta sua resposta_no Marilia explica: ‘Segundo decisao unanime da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justica (ST2) 1ndo é possivel a existéncia de duas unies estveis paralelas. Para os ministros do colegiado, a néo admissibilidade acontece porque a lei exige como um dos equisitos fundamentals para o reconhecimento da unigo estével o dever de fidelidade, incentivando, no mais, a conversao da unio em casamento. Destacou que, ausente a fidelldade, conferir direitos préprios de um Instituto a uma espécie de relacionamento que legislador n3o regulou n3o sé contraria frontalmente a lei, como parece ultrapassar a competéncia confiada e atribulda a0 Poder Judiciério no Estado Demacratico de Direito, Entretanto, néo significa negar que essas espécies de relacionamento se multiplicam na saciedade atual, nem Ihes deixar completamente sem amparo. Porém, isso deve ser feito dentro dos limites da legalidade. Com o passar do tempo a sociedade evoluiu trazendo consigo a valorizacéo das relagées afetivas e, conseqientemente, da pessoa humana. A familia perdeu a fungio meramente proctiadora e a redago do artigo 226 da Constitulcao Federal retirou do casamento a exclusividade de modelo familiar, possibilitando que a unio estdvel e a familia monoparental assim também fossem reconhecidas. Assim, estabelecido o sistema monogamico € no 0 poligamico, no cabe ao ordenamento Juridico brasileiro atual reconhecer as uniGes paralelas como entidade familiar, no ‘se podendo, no entanto, ignorar a existéncia de tals relacionamentos e marginalizé- los, mas também nao é possivel equiparé-los & entidade familiar. Neste sentido, como bem mencionado pelo Ministro do ST), em preservacdo da dignidade da pessoa humana, imprescindivel a andlise de cada caso, a fim de se buscar a melhor solucgo, de acordo com suas pecullaridades. (© conceito de unigo éstavel, abordado no art. 1.723 do novo Cédigo Civil, corresponde @ uma entidade familiar entre homem e mulher, exercida continua publicamente, de maneira que se assemelhe 20 casamento. Desta forma, tém-se como os requisitos essenciais para a configuracdo de unigo estével: 0 relacionamento entre homem e mulher, convivéncia entre ambos, que esta convivéndia seja publica continua e duradoura e que haja a Intencdo de constitulgo de familia, A coabitag3o, a despeito de ser um possivel e importante elemento Indicador da unido estével, no Ihe é indispensével, consoante simula 382 do Supremo Tribunal Federal Visto tais requisites, ainda que sujeito casado que, mesmo assim, mantém um vinculo afetivo com outra pessoa que, agindo em absoluta boa-fé, desconhece a situacdo de cesado do companheiro, 0 relacionamento afetivo paralelo 20 casamento néo dissolvido, no constitul unigo estavel, No entanto, hd de questionar que os atuals arranjos familiares tém como base a afetividade @ a busca pela dignidade da pessoa humana. As particularidades da vida real podem, perfeitamente, revelar que determinadas pessoas conseguem pura e simplesmente manter dois relacionamentos com todas as caracteristicas da unio estdvel. Além disso, hé que se considerar que, certamente nesta outra convivéncia terd sido construido um patriménio particular, presumindo-se 0 auxilio daquela terceira pessoa de boa-fé, sendo que, privé-la de tal direito, na ocasiao da dissolucdo. da uniéo estavel, seria notadamente injusto porquanto negaria 20 companheiro de boa-fé a sua participacso no patriménio construido por ambos, acarretando no enriquecimento llicito do companheiro ciente do impedimento. Desta forma, a0 menos no que concerne as questées patrimonials, faz-se necessério tracar uma linha divisoria entre ambas as convivncias, considerando-as separadamente, para evitar qualquer tipo de injustica na partilha de bens. ‘Assim, em preservacéo da dignidade da pessoa humana, imprescindivel a anélise de cada caso, a fim de se buscar a melhor solugdo, uma vez que o Direlto no pode ser estagne € com solucdes tinicas, mas tem dever de se adequar a cada situagao @ resolvé-la de acordo com suas peculiaridades. Mariana Lisboa Carneiro - Belo Horizonte/MG, citando o entendimento do © art. 226, §3°, da Constituigo Federal reconhece que @ unio estavel é entidade familiar, devendo a lel faclitar a sua conversdo em casamento. Nos termos do art. 1723, do Cédigo Civil, a unigo estavel é 2 unio entre homem € mulher configurada rna convivéncia publica, continua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituicdo de familia. Nota-se que, os critérios para 2 caracterizacéo da unio estdvel sd0 abertos devendo ser analisados caso a caso, uma vez que n&o hd mencdo a exigéncia de vida sob mesmo teto (Simula 382, STF), de prazo minimo fou de existéncia de prole comum, que no so requisites essencials, mas acidentais. ‘A jurisprudéncia € dividida quanto & questo das uniées estéveis plirimas ou paralelas. Prevalece na doutrina o entendimento pelo qual nesse caso a primeira relagio instituida € unio estavel e as demals sero unides estavels putativas havendo boa-fé (Eucides de Oliveira, Rolf Madaleno). Na jurisprudéncia ha julgado da Terceira Turma do ST) inadmitindo a possiblidade de configurac30 de unibes estdvels concomitantes, mas hd outros da Quinta Turma que admitem o rateio da ppensdo entre ex-esposa © companheira, sem se falar em ordem de preferéncia. Dat se ver que a matéria nao é pacifica neste Superior Tribunal. Entretanto, 0 STJ, em decisdo recente (REsp 1.157.273-RN) entendeu que, quanto ‘20 questionamento sobre a viabilidade juridica a amparar o reconhecimento de lniées estivels simultdneas, a andllse dos requisites insitos a unio estavel deve centrar-se na conjuncao de fatores presentes em cada hipdtese, como a affectio societatis familiar, a participacgo de esforcos, a posse do estado de casado, a Continuidade da unigo, a fidelidade, entre outros. No caso concreto, 0 ST) afastou a existéncia da segunda uniéio estivel e fundamentou no art. 1.724 do CC/2002, porquanto esse relacionamento encontrava obstéculo intransponivel no dever de lealdade a ser observado entre os companhelros. Ressaltou que uma sociedade que apresenta como elemento estrutural @ monogamia no pode atenuar o dever de fidelidade, que integra o conceito de lealdade, para o fim de inserir, no ambito do Direito de Familia, relacies afetivas paralelas e, por consequéncia, desleais, sem descurar do fato de que 0 nucleo familiar contemporaneo tem como escopo a realizado de seus integrantes, vale dizer, a busca da felicidade, ‘Assim, podemos concluir que, apesar de ndo se tratar de tema pacifico na Juridprudéncia, 0 ST) tem entendido que deve ser analisedo, em cada caso Concreto, a existéncia dos requisitos caracterizadores da unigo estével para que o Poder Judiciério nao deite em solo infértil relacionamentos que efetivamente existem no cenério dinémico e fiuido dessa nossa atual sociedade volstil. Ausentes tais requisitos poder haver ainda o reconhecimento de sociedade de fato, cabendo 20 requerente fazer prova, em processo diverso, de eventual esforgo comum, para fins de reconhecimento de direitos patrimoniais. No mesmo sentido, Sheyla Guerretta - Joinville/SC: Em julgado recente 0 STJ, conforme se extral do Informative de Surisprudéncia do Superior Tribunal de Justiga - N° 0464, estabeleceu ser Impossivel, de acordo com o ordenamento juridico patrio, conferir protecio juridica 2 unides estaveis parelelas. Segundo 0 Ministro Relator do acérdéo, o art. 226 da CF/1988, ao enumerar as diversas formas de entidade familiar, traga um rol exemplificative, adotando uma pluralidade meramente qualitative, e nao quantitative, deixando a cargo do legislador ordinério a disciplina conceitual de cada instituto - 2 da unido estével encontra-se nos arts. 1.723 1.727 do CC. Nese contexto, asseverou que o requisito da exclusividade de relacionamento sélido € condigdo de existéncia juridica da unigio estvel nos termos da parte final do § 1° do art. 1.723 do mesmo cédigo. Consignou que o maior dbice 20 reconhecimento desse Instituto néo é 2 existéncia de matriménio, mas a concomiténcia de outra relagdo afetiva fética duradoura (convivéncia de fato) ~ até porque, havendo separacéo de fato, nem mesmo o casamento constituiria Impedimento & caracterizacio da unio estével -, daf a inviabilidade de declarar 0 referido paralelismo. E certo que atualmente um homem e uma mulher podem se relacionar afetivo e sexualmente no apenas sob 0 manto do casamento, mas também da uniéo estével, recebendo ambas as instituicdes @ mesma protecdo, as mesmas garantias © os mesmos deveres, com pequenas particularidades. Contudo, autorizar 2 possibilidade de relagies simultaneas indiscriminadamente poderd representar insergo do modelo de poligamia na sociedade brasileira, e deve ser ressaltado que as culturas poligémicas, em regra, Inferiorizam e subjugam 0 género feminino, Impingindo caréter patriarcal e machista as relagles afetivas. Além disso, a existéncia de “famil 5 paralelas” no & promissora nem auto- sustentével, Geralmente as familias se confrontam, se “descobrem’, quando 0 Individua em comum (via de regra, o hamem) falece, @ entaa Inicia-se verdadelra batalha pelos bens do de cujus e pela penséo por morte. Portanto, se um dos companheiros, na verdade, jé € casado com terceira pessoa, ndo hd que se falar fem unldo estavel, e sim em relagio adulterina, Da mesma forma, se um dos companheiros, jé em unio estavel com seu consorte, contrai nova relago com terceiro, no cabe se alegar nem mesmo boa-fé dos companheiros, jé que esta nova relacio nao se constitul outra unio estavel, e sim relaca adulterina, Outras respostas selecionadas: Caroline Martins Tomazin Bortolucci - Americana/SP © artigo 226 da Constituicdo Federal incumbiu 0 Estado de conferir especial protecdo a familia, trazendo um rol no taxativo de entidades familiares, dentre elas 0 casamento, unigo estvel e a familia monoparental [Nao sendo 0 rol do artigo 226 da Constituigdo Federal taxativo, hé possibilidade do reconhecimento dos mais diversos tipos de arranjos familiares que se encontram & margem do Direito de Familia. (© Cédigo Civil, em seu artigo 1.727, dispde que: "As relagSes no eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constituem concubinato,” Neste sentido, @ lei diferencia de forma veemente a unio estavel do concubinato. E considerado, entio, concubinato 0 relacionamento em que hé Impedimento matrimonial. Assim, mesmo que 2 relaco possua os requisites da ur lassificada como concubinato, uma vez que um de seus participantes jé é do estavel, & ou possui outra unio estavel, no estando separado de fato ou judicialmente como excepciona 0 artigo 1.723 do Cédigo Civil, no seu § 1°. Dessa forma, na perspectiva legalista da previsdo do atual Cédigo Civil, caso uma pessoa esteje envolvida em duas familias, a segunda relagSo configura concubinato, uma vez que o dever de fidelidade € infringido e, por isso, no preenche os requisitos para a unio estvel Segundo Maria Berenice Dias, existem dois tipos de concubinato, o puro, ou de boa-fé e o impuro, ou de mé-fé, residindo a diferenca entre ambos exclusivamente no fato de que um parceiro tenha ou ndo ciéncia de que o outro se mantém no estado de casado ou tem outra relagio concomitante. Assim, somente na hipétese de desconhecimento da outra relago, € que se torna possivel o reconhecimento da bboa-fé, bem como da unigo estavel. Nessa perspectiva, caso 0 companente da segunda relacio tenha consciéncia do impedimento de seu parceiro, age de mé-fé e, por isso, seu relacionamento € denominado de concubinato impuro. No entanto, se a pessoa no souber do Impedimento de seu par, e se envolver de boa-fé, sua relagso é chamada de concubinato puro, situagio em que & possivel, em face da boa-fé, o reconhecimento como unio estével putative. Entende-se, ento, que a boa retira a ilictude de seus atos, uma vez que o sujelto ignora determinada situacio, sendo possivel o reconheclmento de unides estavels paralelas. Cabe lembrar que 0 concubinato Impuro no tem, em principio, seus direitos reconhecidos pelo Direito de Familia, els que ausente 0 elemento da boa-fé, j8 que ambos os envolvides tém conhecimento do impedimento matrimonial de um deles, ou de ambos. Anacléa Valérla._-de_—Oliveira.«sSchwanke = - ——Paranaval/PR A unio estavel é reconhecida como entidade familiar entre homem e mulher, devendo, configurar convivéncla publica, continua e duradoura e estabeleda cam objetivo de constituir familia, Além desses requisitos, a relacio estabelecida entre (0s companheiros deve obedecer, dentre outros, 20 dever da lealdade, ‘Sendo assim, no se pode reconhecer a existéncia de unides estévels paralela, sob pena de violagéo aos deveres impostos no artigo 1724 do Cédigo Civil. ‘Ademais, pensar de forma diversa é privilegiar a bigamie, 0 que é vedado em nosso ordenamento juridico, Vale destacar que muito embora a doutrina sustente que se deve acolher as varias formas de entidade familiar, isso no implica em contrariar 0 bom senso © os costumes, alimentando a unio espiria. A interpretacdo sempre deverd enaltecer a boa-té Nesse caso, @ unides paralelas néo deverso ser reconhecidas como entidade familiar, podendo ser reconhecida como uniées de fato e no caso de esforco comum, postular partitha de bens na esfera civel em ago propria Henrique de Freitas Parreira ~ Goiania/GO © Instituto da unio estavel estabeleceu-se no pais como uma opedo de protecso & entidade familiar, um instituto capaz de assegurer a0s cénjuges € a prole um status similar 20 do casamento, com os mesmos direitos e garantias, sendo que a propria [el civil incentiva a transformaco da uniao estavel em casamento (Artigo 1.726) © casal deve guardar um com 0 outro os mesmos deveres de lealdade, respeito © assisténcia, assim como esses mais guarda, sustento e educacSo dos filhos, Idénticos preceitos estabelecidos ao casamento (Artigo 1.566, incisos I a IV). Considerando a func3o pretendida pela unigo estavel - de verdadelra entidade familiar ~ e 0S requisitos objetivos para a constitulcdo desta (como diversidade entre os sexos, exclusividade, notoriedade do relacionamento, aperéncia de cesamento, coabitacdo, fidelidade, inexisténcia de impedimentos), a lei civil determinou que os impedimentos descritos no Artigo 1.521 aplicam-se ao instituto, de forma que hd dbice legal 8 pretensdo de um dos cénjuges em constituir duas unibes estavels simultaneamente. Portanto, nos termos do Artigo 1.727 do CC/02, caso exista cénjuge mantendo dois relacionamentos, deve-se considerar apenas como unio estavel aquele que preencha os requisites citados acima, devendo o outro ser classificado como Concubinato, vez que nao é permitida a bigamia no Brasil Sylmar 3r. ~ Cotla/SP A lei exige como um dos requisites fundamentais para 0 reconhecimento da unio estavel 0 dever de fidelidade, incentivando, no mais, @ converso da unio em casamento. Assim sendo, entendo nao ser possivel a existéncia de duas unides estéveis paralelas, eis que necessérie a exclusividade do relacionamento sério. ‘Ao constatar-se 2 auséncia de fidelidade, conferir direitos préprios de um instituto 2 uma espécie de relacionamento que o legisladar no regulou nao sé contraria frontalmente a lel, como parece ultrapassar a competéncia conflada e atribuida ao Poder Judiciério no Estado Democrattico de Direito. N3o se desconhece 2 potencial existéncia dessas espécies de relacionamento; porém isso deve ser feito dentro dos limites da legalidade, uma vez devidamente demonstrado, em proceso especifico, © esforgo comum em adquiri-los, bem como 2 existéncia de boa fé entre as unides havides. ‘Ademais, 0 ordenamento juridico brasileiro apenas reconhece as varias qualidades de uniges no que concerne as diversas formas de familia, mas ‘no do ponto de vista quantitative, do némero de unides; por derradeiro, no hd, ainda, tutela juridica em face de relagbes afetivas miiltiplas. A discussio, portanto, da validade, no mundo juridico, das uniées estavels e a possibilidade de percep, por ambas as familias, de algum direito, esbarra frontalmente, reitere-se, na propria convalidacéo original da unigo estavel € ‘seu propésita mesmo de conversio dessa unllio em um casamento, Assentir para a possibilidade da existéncia de unides estéveis paralelas vulnera, a meu sentir, a prépria boa fé daquele que possui miltiplas uniées, pondo em cheque a dignidade e proteco de todos os familiares endo envolvidos. Em verdade, frente ao ordenamento juridico brasileiro, nao existe a possibilidade de reconhecimento de duas unides estaveis paralelas. Com efeito, consoante o disposto nos artigos 1723 e 1724, do Cédigo Civil, para a configuracdo da unigo estavel como entidade familiar, dever estar presentes, na relacdo afetiva, a dualidade de sexos; publicidade; continuidade; durabilidede; objetivo de constituicdo de familia; auséncia de impedimentos para o casamento, ressalvadss as hipdteses de separacdo de fato ou judicial; observancia dos deveres de lealdade, respeito e assisténcia, bem como de guarda, sustento e educagao dos filhos. Vale ressaltar que os requisitos necessérios a0 reconhecimento da unio estavel devem ser observados no caso concreto, levando em consideragao a affectio societatis familiar, a participacdo de esforcos, a posse do estado de casado, € continuidade da unio, bem como os demais principios que regem a matéria, Note-se que, dentre os requisites acima especificados, est30 3 auséncia de impedimentos para o casamento, ressalvadas as hipéteses de separacdo de fato ou judicial, bem como a observancia do dever de lealdade. Assim, levando-se em consideracéo a organizacso da nossa sociedade, a qual possul como elemento estrutural @ monogamia, definitivamente, ‘ndo hd a possibilidade de reconhecimento de unides estavels plirimas, miitiplas, simult8neas e paralelas, pois seria o mesmo que atenuar o dever de fidelidade, 0 qual integra 0 conceito de lealdade, esbarrando, ainda, no requisito da auséncia de impedimentos para o casamento, excepcionadas as situacGes de separacdo de fato ou judicial. Neste caso, caracterizada uma relagio afetiva de convivencia como unigo estavel, as demais concomitantes, quando muito, poderao ser enquadradas come concubinato ou sociedade de fato. Thais Bitti de Oliveira Almeid: Belém/PA Embora existam posicionamentos doutrindrios e jurisprudenciais que admitam a configuracdo de UNIOES ESTAVEIS peralelas, tem prevalecido 0 entendimento de ser inadmissivel a atribuico dessa roupagem Juridica a dols relacionamentos 30 mesmo tempo, sob pena de se favorecer a poligamia 0 principio da dignidade ‘da pessoa humana conduz a ngo se deixar desamparado qualquer dos conviventes que contribuiram material ou emocionalmente na construco de uma vida em comum. Referido principio respalda ‘a monogamia, reconhecendo que cada pessoa deve ser respeitade valorizeda como individue e atendida nado somente em suas necessidades materials, mas também psicol6gicas e emocionais. A legislagao vigente estabelece como impedimento ao casamento a condigao de # pessoa se encontrar casada (art. 1521, VI, do CCB/02). ‘Como a unigo estavel foi reconhecida pela Constitulcgo Federal de 1988 como entidade familiar, devendo a lel faciitar sua convers3o em casamento, 0 mesmo impedimento Ihe € aplicével, ou seja, assim como 0 casamento constitui impedimento ao reconhecimento da’ uniéo estavel, a preexisténcia de uma unigo estvel também impede a constituigdo de outro vinculo de igual natureza. ‘© art, 1723, §1°, do Cédigo Civil em vigor € expresso nesse sentido, dispando que: "51° A’ unio estével no se constitulré se ocorrerem os Impedimentos do art. 1.521; ndo se aplicando a incidéncia do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente" Entre os casados, assim como entre os companhelros, impem-se os deveres de lealdade, respeito e assisténcia miitua, que S30 irrenuncidveis, por decorrerem de imperativo legal. Do dever de lealdade e também do de respeito decorre o da fidelidade. ‘Assim, torna-se Impossivel 0 reconhecimento de unides estéveis paralelas no ordenamento juridico patrio por auséncia de um dos requisites legais, qual seje, a fidelidage. E vélido ressaltar que alguns doutrinadores entendem que a Unica excegio & impossitilidade do reconhecimento de unides estaveis concomitantes seria a que diz respeito & unio estdvel putative, que pode ocorrer nos casos em que o convivente desconhece o fator de impedimento para 2 constituicgo da unigo estavel. E 0 que se passa, por exemplo, nos casos em que 0 convivente, supondo manter auténtica unigo estavel com seu parceiro, desconhece 0 fato de ele ser casado. Nessas circunstincias, para preservar a boa-fé do convivente levado a fengano, pode-se estender a ele 2 condicéo de companheiro, com @ consequente concessa0 de todos os direitos préprios da unigo estavel, inclusive os sucessérios. 3. (Questéo enviada pelo participante Francisco José Monteiro - Belém/PA) Quanto a Lei Maria da Penha (11.340/2006), responda justificadamente: a) € aplicdvel ao homem? b) Incide na relacao entre homossexuais? ‘Anacléa respondeu: A Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006, fol sancionada com 0 objetivo manifesto de “coibir e prevenir a violéncia doméstica e familiar contra a mulher" (art. 1°). Em primeiro lugar, esté a sua duvidosa constitucionalidade. A Constituicéo de 1988 & peremptéria a0 determinar que "homens e mulheres séo iguals em direitos e obrigacdes" (art. 5°, 1). Obviamente, a prépria Constituicao prevé excecées a favor da mulher, como & licenga-maternidade gozada em tempo superior & licenca- ppaternidade (art. 7°, XVIII e XIX). Exatamente por serem excepcionais essas rnormas, incide o principio de hermenéutica ("as excecdes devem ser interpretadas restritvamente"), que proibe a utilizagdo da analogia para rier novas discriminagdes a favor da mulher ou de quem quer que seja Esse 6.0 mesmo raciocinio utilizado em diversas lels que visam proteger os “direitos das minorias", como o Estatuto do Indio (Lei 6.001/1973), a Lel dos crimes de preconceito (Lei 7.716/1989) [1], 0 Estatuto de Crianca e do Adolescente (Lei 8.069/1990) e o Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003). & pretexto de combater 2 discriminaco, criam-se novas diferencacies, em flagrante desrespelto 20 principio da igualdade que, ressalte-se, s6 pode ser excepcionado pela propria Constituigéo. Porém, pergunta-se se as medidas protetivas desta lei poderiem ser aplicades analogicamente em favor de outras pessoas? Desde que se constate alguma ‘analogia fatica, sim. Por exemplo: violéncia doméstica contra o homem. Nesse ‘caso, constatada que a violéncia esta sendo utlizada pela mulher como uma forma de imposicéo, nao hé divida que todas as medidas protetivas da Lei 11.340/2006 podem favorecer o homem, impondo-se a analogia in bonam partem (TIMG, Apel Crim. 1.0672.07.249317-0, rel. JudimarBiber, J. 06.11.07). Nesse mesmo sentido, decisdo do julz Mario R. Kono de Oliveira (Culabé-MT), que sublinhou: 0 homem que, em lugar de usar violencia, busca a tutela judicial para sua situacdo de ‘ameaca ou de violencia praticada por mulher, merece atengio do Poder Judiciério. Ainda que dlante de todos as anselos da socledade no se pode Ignorar que parte da sociedade ainda esta atrelada 2 uma concepcao da Igreja, que considera o homossexualismo como pecado, néo atentando a necessidade de terem regras, leis que garantam e regulam os direitos e deveres dos que optaram por constituir relagbes homoafetivas. E no Ambito especifico do direite de familia, existem divergéncias sobre a possibilidade de reconhecimento de unides entre pessoas do mesmo sexo como entidades familiares. A auséncia de previséo constituconal legal expressa é 0 principal motivo para a negetiva desta possibilidade. Porém, mesmo aqueles que rnegam o reconhecimento como entidade familiar concordam que a auséncia de regulagao legal expressa nao pode impedir a andlise das demandas pelo Poder Judicial, tornando a atividade jurisdicional @ primeira a buscar solugso para a situacdo, © tratamento atualmente conferido 4 Unio homosexual em muito se assemelha & evolucso do tratamento prestado as familias de fato.Hoje reconhecidas como unio de estivel. Primeiro se reconhece como sociedade de fato, para que se possa atribuir alguns efeitos patrimoniais, decorrentes do esforco comum. € a volta da Antiga Simula 380 do STF. Hoje, a familia é entendida sob uma nova visdo, como um nucleo de afetividade, portanto, 0 afeto no estd restrito as unides heterossexuais. Desse modo, os relacionamentos de pessoas do mesmo sexo, que mantém uma relacao baseada na afetividade, devem ter a merecida pretensdo e reconhecimento previstos na Constituicso Federal Em suma, bastaria an isar_a presenca dos elementos fundamentals, com 3 intengo de ter uma vida em comum, com miitua assisténcia afetiva e patrimonial, fidelidade, durebilidade, continuidade e publicidade. Ou seja, no plano fético, podem-se Igualar as unldes de pessoa de sexos diversas. Importa destacar se é possivel o reconhecimento juridico sob o viés constitucional ou a criagéo de um ‘novo instituto A Lel 11.340/2006 teve por finalidade especializar a violéncia praticada contra a mulher no seu ambiente doméstico e familiar ou de intimidade. Nesse caso, 2 ofendida passa a dispor de um estatuto no sé de cardter repressive, mas também preventivo © assistencial, criando mecanismos aptos a coibir essa modalidade de agressio. No entanto, no apenas a mulher a potencial vitima de violéncia doméstica. O homem também pode ser a vitima, conforme se depreende da redacéo do artigo 129, § 9°, CP, que ndo restringiu o sujeito passivo, abrangendo ambos os sexos. No entanto, as medidas de protecdo e assisténcia previstas na Lei 11.340/06 so apliciveis to somente a vitima mulher. Portanto, se o homem for vitima de violencia domestica, € possivel ao agressor sofrer a sango penal prevista no artigo 129, § 9, 10 e 11. No entanto, ao agressor ‘no poderdo ser aplicadas as medidas protetivas. No que tange 8 incidéncia na relacdo entre homossexuais, 0 artigo 5°, § Ginico trouxe uma inovacdo legislativa ao prever que 2 protecéo & mulher contra a violencia independe da orientacdo sexual dos envolvidos. Em outras palavras, a mulher homosexual, quando vitima de ofensa praticada pela parceira no ambito da familia, também encontra-se protegida pela Lei 11.340/06. Henrique de Freitas Parreira (Golania/GO) leciona para_a_comunidade Para Henrique: Para a efetiva compreensdo do ordenamento juridico, o jurista no deve se prender 8 exegese pura e simples da lei, fixando seu conhecimento e leitura da realidade ‘apenas com a letra da lel, pelo contrério, o jurista tem que pautar sua interpretacgo com olhos voltados para uma viséo global, empreendenda uma busca canstitucional dos diplomas. Pela simples leitura da Lei 11.340/06, cria-se o entendimento exegético de que 0 0 destinatério (vitima propria) do diploma & apenas a mulher, ou seja, que o legislador procurou definir e conceltuar apenas a mulher como sujeito pelo qual 0 Estado deve coibir e prevenir atos de violénda doméstica e familiar. Utiizando uma interpretagéo constitucional integradora, admite-se que a protecio da lei estende-se 2 todos os casos ~ habituals ou ndo ~ que dizem respeito & vida domiclliar ou familiar, abrangendo, por forca da igualdade formal, conflitos entre Irmos do mesmo sexo, violéncia cometida contra a mulher, contra a empregada doméstica, contra qualquer pessoa com vinculo afetivo (como namorados @ ex- namorades), praticada inclusive contra o homem, pois este também pode ser vitima da violéncia doméstica, conforme se depreende da redacio do Artigo 129, § 9° do CP, que no restringlu o sujeito passivo, abrangendo ambos os sexos. O que a Lei 11,340/06 limita s30 as medidas de assistencia e protecdo, estas sim aplicaveis somente & ofendida (vitima mulher). Uma das grandes inovagies legislativas advindas com tal diploma legal & 0 reconhecimento a protecao e repressto contra os crimes de violéncia doméstica e familiar, independentemente da orientacSo sexual (conforme dispositivo literal do Paragrafo Unico do Artigo 5°), harmonizando-se com os conceitos modernos de familia, alcancando tanto lésbicas como travestis, transexuals e transgéneros que mantém relacdo intima de afeto em ambiente familiar ou de convivio. Sylmar 3r. (Co! ‘Sylmar escreveu: Nos termos da Lei n.o 11.340/2006 (art. 1.°), objetiva-se, em suma, criar mecanismos para colbir e prevenir a pratica de violéncia contra a mulher no ambito doméstico e familiar, estabelecendo medidas de assisténcia e protego as mulheres fem situago de violencia doméstica e familiar, tudo em conformidade a Constitulgo Federal de 1988 e outros Tratados ratificados pela Repiblica Federativa do Brasi Dessa forma, a Lei em apreco integra um conjunto de regras penais e extrapenais com 0 objetivo maior de proteger a mulher e a entidade familiar, além de introduzir medidas despenalizadoras, reduzir @ morosidade judicial e diminuir a impunidade, tornando-se assim, a primeira Lei no ordenamento juridico brasileiro que tem por finalidade combater 0 problema da violéncla contra a mulher, por intermédio de medidas no somente de carater repressive, como também educativo, preventivo & assistencial abe destacar que, de andlise do art. 1° de Lei em apreco, depreende-se que ela tem dois aspectos: 0 objetivo, no qual a Lei se direciona especialmente @ combater (05 fatos ocarridos no ambita doméstica, familiar ou intrafamiliar; € 0 subjetivo, no qual 2 Lei se preocupa com a proteco da muther, contra os atos de violénca praticados por homens ou mulheres com os quais ela tenha ou haja tido uma relagio marital ou de afetividade, ou ainda por qualquer pessoa com quem ela conviva no dmbito doméstico e familiar, quais sejam, 0 pal, 0 irmao, 0 cunhado, @ filha, a neta ete. Em uma primeira andlise, poder-se-ia entender que as pessoas do sexo masculino, quando forem vitimas de agressio no émbito doméstico e familiar, estariam fora da abrangéncia dessa Lei, estando algumas delas inseridas, portanto, em normas préprias, como o Estatuto do Idoso - Lei 10.741/03, 0 Estatuto da Crianca e do Adolescente Lel 8.069/90 € outras ainda inseridas nas regras de competéncia previstas no Cédigo de Processo Penal, uma vez que neste Ultimo caso, 0 tratamento legal ¢ 0 geral € ndo 0 especifico, como é o caso da Lei em apreco. Entretanto, ndo se deve deixar de levar em consideragio que 0 texto legal no apresenta um rol taxativo quanto a sua abrangéncia, haja vista que o seu art. 2.8 reafirma os direitos humanos prociamados na Carta Magna, independente de classe, raca, etnia, orlentag3o sexual, renda, cultura, nivel educacional, idade e religh3o. Desse modo, entendo que, embora a Lei, em seu art, 1.9, tenha apenas como finalidade proteger a mulher vitimada, & possivel, sim, que os homens também sejam abrangidos pela Lei em foco, quando sofrerem a violéncia doméstica. Ressalte-se que as unides homoafetivas foram englobadas no conceito de familia da Lei em aprego, uma vez que 0 seu art. 29[112] determina que, independente de classe, raca, etnia, orlentagdo sexual, renda, cultura, nivel educacional, idade e religiSo, toda mulher goza dos direitos fundamentals inerentes & pessoa humana, assim como © parégrafo Unico do seu art. 5°[113] dispde que todas as situagies, ‘as quais configuram violencia doméstica, Independem de orientago sexual. Desse modo, as relagdes domésticas que unam mulheres homossexuais também constituem entidade familiar e estdo protegidas pela Lei em comento, independente do papel que qualquer delas desempenhem na relacao. Por derradetro, comungo do entendimento que a nocéo de familia como nideo de afetividade e base da sociedade deve ser encarada, como de fato é, como um fator cultural; e, dessa maneira, a legislac3o deve acompanhar a evoluclo da sociedade fe, consequentemente, dos arranjos familiares, sem qualquer tipo de pré-concelto. Para Sheyla: Primeiramente insta salientar, que @ Lei 11.340/2006 (lel Maria da Penha) criou mecanismos para coibir a violéncia doméstica, familiar ou no ambito de relacionamentos intimos (relac8o de afeto), tendo assinalado como sujeito passivo dessa violéncia a mulher. A preocupagao central da lel, no fol disciplinar toda a violéncia doméstica (fendmeno muito grave no nosso pais), que term como sujeito ppassivo qualquer pessoa, mas sim, buscau-se especificamente a tutela da mulher, ‘no por razio de sexo, sim, em virtude do género, Contudo, hd entendimentos de que as medidas protetivas desta lel poderiam sim ser aplicadas analogicamente em favor de outras pessoas, desde que se constate alguma analogia fética. Por exemplo: violéncia doméstica contra o homem ou homosexuals. Nesse caso, constatada que a violéncla esté sendo utilizada_ como uma forma de imposicgo, no hé diivida que todas as medidas protetivas da Lei 11.340/2006 podem favorecer o homem, impondo-se 8 analogia In bonam partem (TIMG, Apel. Crim. 1.0672.07.249317-0, rel. Judimar Biber, J. 06.11.07). Nesse mesmo sentido, deciséo do juiz Mario R. Kono de Oliveira (Cuiabé-MT), que sublinhou: 0 homem que, em lugar de user violéncia, busca 2 tutela judicial para sua situagao de ameaca ou de violéncia praticada por mulher, merece atengo do Poder Judiciario. Em entendimento inovador 0 Juiz Mario Roberto Kono de Oliveira, do Juizado Especial Criminal Unificado de Cuiabé, acatou os pedidos do autor da acio, que disse estar sofrendo agressdes fisicas, psicoldgicas e financeires por parte da sua ex-mulher. Segundo o juiz, a lei foi criada para trazer seguranga & mulher vitima de violencia doméstica e familiar. No entanto, de acordo com 0 juiz, 0 homem nao deve se envergonhar em buscar socorro junto ao Poder Judiciério para fazer cessar as agressies da qual vem sendo vitima, “E sim, ato de sensatez, j8 que no procura o homem se utilizar de atos também violentos como demonstracao de forca fou de vinganga. E compete & Justiga fazer o seu papel ¢ no medir esforcos em busca de uma solucéo de conflitos, em busca de uma paz social", ressaltou. ‘Ainda, de acordo com o juiz, havendo proves mais do que suficientes para demonstrar a necessidade de se dar a5 medidas protetivas de urgéncia solictadas ppelo autor (homer) 2 lei deve sim ser aplicada em seu beneficio. Diante do exposto, chegamos a conclusdo de que deve se dar aplicacao ‘analégica favorével da lei de forma ampla, ou seja, 2s medidas protetivas da lei Maria da Penha podem e devem ser aplicadas em favor de qualquer pessoa (desde que comprovado que a violencia teve ocorréncia dentro de um contexto doméstica, familiar ou de relacionamento intimo). Néo importa se a vitima € transexual, homossexual, hamem, avé ou avé. E certo que tais medidas foram primeiramente pensadas para favorecer a mulher (dentro de uma situago de subordinagio), mas ndo deve se limitar 2 ser aplicada exclusivamente a favor de mulher. Ora, todas as vezes que essas ireunstancias de violencia acontecerem no Ambito doméstico, familiar ou de relacionamento intimo, com imposicao de submissso ou violéncia para impor um ‘ato de vontade do agressor (ou agressora) nada impede que o Judiciério, fezendo bom uso da lel Maria da Penha, venha em socorro de quem esté ameacado ou fol lesado em seus direitos. Onde existem as mesmas clrcunstancias fatlcas deve inddir © mesmo direito. Thiago Inacio de Oliveira (Golania/GO), do mesmo modo, asseverou: Thiago escreveu: Hodiernamente, existem julgados, ainda que isolados, aplicando a Lei 11.340/2006 ao homer, neste caso, o interprete fez uso da chamada analogia in bonam partern, em situagdes nas quais 0 homem é vitima de violénda doméstica por parte da mulher. Com efeito, a Lei n, 11.340/2006, denominada Lei Maria da Penha, criou mecanismos pare colbir © prevenir a violéncia doméstica, familiar ou no Ambito de relacionamentos intimos (relacdes de afeto) contra a mulher, consoante © disposto em seu artigo 1°, estabelecendo @ mulher como sujeito passive. ‘As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha néo séo inconstitucionais. No ferem o principio da igualdade, mesmo porque, a igualdade, além de formal, & sobretudo material. Ou seja, a lei deve tratar os desiguais de forma desigual, na medida de suas desigualdades. Ora, é certo que, em razéo da nossa cultura, onde, estatisticamente comprovado, grande parte das mulheres so violentadas por seus maridos, fol necessaria a elaborac3o de um diploma legal que Inibisse os homens 2 violentarem suas parceiras. ‘No entanto, apesar do objetivo primordial da Lel Maria da Penha ser a protecdo da mulher, entendo ser possivel a aplicacdo de suas medidas protetivas ao homem vitima de violencia doméstice, desde que o magistrado constate, no caso concreto, a existéncia de uma situago fatica condizente com a aplicago da analogia in bonam partem, Por seu turno, também entendo ser possivel a aplicacdo da Lei Maria da Penha na relacdo entre homossexusis. Ressalte-se que, nas relacées homosexuals femininas, existe previséo expressa de sua aplicaco, conforme se extra do parégrafo ‘nico, do artigo 5°, da Lei n. 11.340/2006. 38 com relagio aos homossexuals do sexo masculino, o Juiz poderd aplicé-la, desde que, no caso concreto, constate a existéncia de violencia doméstica, ou seja, fazendo uso da analogia In bonam partem. ra Nubia Brito- Uberlandia/ MG: A lei Maria da Penha reconhece que 0 homem pode sim ser vitima de violéncia doméstica © desse modo alterou @ redacio do artigo 129 §9° do Cédigo Penal para fazer indluir o cBnjuge ou companheiro, homem ou mulher. Entretanto, a lel Maria da Penha s6 protege a mulher, de modo que, se a vitima for homem a punigdo vem do Cédigo Penal, se a vitima for mulher a punigo também vern do Cédigo Penal, mas ela se beneficiaré da Lel Maria da Penha para assisténcia protegio. Nas relagdes homoafetiva a Lei Maria da Penha é aplicada apenas se se tratar de unio homoafetiva feminina e desde que a agresso ocorra em razio daquela convivéncia comum. Thais Bitti de Oliveira Almeida - Belém/PA: A Lel Maria da Penha(Lel 11.340/06) é aplicével a proteco do homem, por analogia, vez que a mesma estabeleceu um rito especial para as hipéteses de violéncia doméstica e familiar, sem qualquer ressalva quanto & vitima ser do sexo masculino. ‘A Let buscou proteger os casos que envolvem os delitos de violénda doméstica, em sua maioria contra mulheres e 0 conceita de "violencia" tratade pela ‘mesma engloba no somente esposas, companheiras, amantes, flhas ou netas do agressor, mas também as pessoas que cometem lesdes praticadas contra ascendente, descendente, irm3o ou qualquer pessoa que tenha convivida nas relagies domésticas, inclusive marido que é vitima da propria esposa © artigo 226 da Constituicdo da Republica Federativa do Brasil de 1988, em seu §8° assegura que o Estado prestaré assisténcia 3 familia, na pessoa de cada ‘um dos que a integram, sem fazer ressalvas entre homens e mulheres. ‘A lel penal por analogia nao pode ser aplicada quando se trata de norma Incriminadora, porquanto fere o principio da reserva legal, previsto no Cédigo Penal: "Art. 1°. Nao ha crime sem lei anterior que o defina. Ngo hé pena sem prévia cominacdo legal.” Entretanto, embora no seja possivel aplicar a analogia in malam partem essa pode ser aplicada in bonam partem, ou seja, em favor do réu quando nao se trata de norma incriminadore, como prega a boa doutrina: “Entre 1nés, s80 favordveis a0 emprego da analogia in bonam partem: José Frederico Marques, Magalhaes Noronha, Anibal Bruno, Basileu Garcia, Costa e Silva, Oscar Stevenson e Narcélio de Queiré2" (DAMASIO DE JESUS - Direito Penal - Parte Geral = 108 Ed. pag. 48). Assim, sendo possivel a aplicacéo da analogia para favorecer 0 réu, resta claro que tal medida poder ser valida quando 0 favorecido € a propria vitima de um crime, como nos casos de violéncia doméstica praticada por mulher contra homem. Considerando a Constituicdo Federal que reza em seu art. 5° que todos sio iguais perante 2 lei, bem como 0 art. 5° da Lei 11.340/06: “Para os efeitos desta Lei, configura violéncia doméstica e familiar contra a mulher qualquer aco ou omissao baseada no género que Ihe cause morte, lesao, sofrimento fisico, sexual ou psicolégico| e dano ‘moral ou patrimonial: (x) Parégrafo Unico, As relagées pessoais enunciadas neste artigo independem de ofientacdo sexual’, esta indde na relacgo entre homossexuals. Assim, caracterizada a violencia doméstica, independentemente de orientac3o sexual, 3 vitima estard protegida pela Lei. 4 ~ (CESPE/UNB ~ MP/RR) ~ A doutrina constitucional classifica diferentes tipos de inconstitucionalidades. Entre eles, registra a distincio entre Inconstitucionalidade originaria e superveniente. Se a norma legal & posterior & Constituicio, ter-se-é um caso tipico de inconstitucionalidade. Se houver contradicao entre a norma constitucional superveniente e 0 ito ordinario_pré-constitucional, indaga-se se seria o caso de inconstitucionalidade ou de mera revogacao. Considerando as disposicées constitucionais e a jurisprudéncia do ‘Supremo Tribunal Federal (STF) a respeito da matéria acima tratada, bem como os mecanismos de controle concentrado existentes no ordenamento juridico brasileiro, redija um texto dissertativo que responda, necessariamente, as seguintes indagacées e justifique suas respostas. > O.que ocorre, em regra, com uma lei anterior & Constituicio de 1988, se for com ela incompativel, 6 inconstitucionalidade ou mera revogacao? > Pode 0 STF apreciar o exame direto da lagitimidade do direito pré- constitucional em face de norma constitucional superveniente por mecanismo de controle concentrado diverso da acio direta de inconstitucionalidade (ADI)? ‘Comesamos publicando o espelho de correcio utilizado pela instituiséo que aplicou a prova - CESPE/UNB: ESPELHO DA AVALIAGAO DA PROVA DISCURSIVA Nome: Inserigdo: Cargo: Promotor de Justiga Substitute [ASPECTOS MACROESTRUTURAIS - Prova P3— Questiot romotor de Justica Substitute — Fina de valor Quesitos avaliados Nota 1 Apresentagio eesirutura textual egiiade, respeito as margens © | 09 a 1.50 Inaieagdo de pardgrafos) 2 Dominio do conteddo (demonstazao do conhecimentojurdico apicavel) 2.1 Revoganae: 0.00090 2.2 ACF rovoga lal antorir, com ola incomptivl (ADI 2) 0.0020,90 2.3 0 STF pode apecir 0 exame mediante ADP: 0.002090 2.4 Provisdo desso eame na Lol 8982/1999, que requlamenta 2 Z 24 oe 0.00.20,90 Vejamos as respostas enviadas: Marilia Ramos De Oliveir Em principio, & de curial importancia a distingSo felta entre a inconstitucionalidade ofiginaria'e a superveniente. Desse modo, deve-se levar em consideracao 0 momento de edicd0 do ato normativo. Fala-se em inconstitucionalidade origindria quando a norma legal & editada apds @ Constituicéo e sob o seu império, mas endo com Ela incompativel. Nesse caso, © ato normative seré inconstitucional desde sua origem, jé que contém vicios formals ou matérias que o incompatibilizam com a Constituico. Por outro lado, se a norma precede a Constituicdo e & com ela incompativel, a doutrina se divide: para uns seria caso de inconstitucionalidade superveniente;_j& ppara outros, seria caso de mera revogacao (direito Intertemporal). Gilmar Mendes leciona que “alguns doutrinadores consideram que a situaclo de incompatibilidade entre uma norma legal e um preceito constitucional superveniente traduz uma valoracdo negativa da ordem juridica, devendo, por isso, ser caracterizada como inconstitucionalidade, e no simples revogacs0.” Em tempo, entendo que para que uma lei seja inconstitucional, € necessério que ela esteja em divergéncia com a Constituicso vigente & época de sua edicao. Ao elaborar uma lel, 0 legislador deve se pautar pelos ditames estabelecidos pela Constituico de sua época e n8o por uma Constituigso passada ou futura. No momento de formagio de uma lei, deve ser observado 0 padrso constitucional existente na époce, go podendo‘o legisledor prever uma future modificacao. ‘Assim, uma lel que nasce constitucional, pois esta de acordo com sua Lei Maior, go. ‘passa ser_inconstitucional’ (Inconstitucionalidade _ superveniente) simplesmente porque houve uma mudanga no padréo constitucional. Nesse caso, lei que era compativel com a ConstituicSo de sua época, passa a ser incompativel ‘com @ Constituicéo superveniente, configurando-se, portanto, um caso de nao recepcéo constitucional, matéria de direlto intertemporal e qué pode ser aplicado por qualquer juiz de direito, dispensando-se, assim, as cautelas inerentes 20 processo de declarago de inconstitucionalidade, Também é este o entendimento do Supremo Tribunal Federal. Para este colendo tribunal, sé se pode falar em inconstitucionalidade quande tratar-se de ato rnormativo posterior & Constituigg0. [No dizer de Pontes de Miranda, temos 0 Principio da Continuldade da Legislagio 0 qual "a despeito da mudanca de Constituicdo, apenas traduz a necessidade de se evitar 0 ‘vazio Juridica’ (0 Vécuo); 2 anterioridade ndo se impde contra as regras posteriores que sejam contrérias as anteriores, mas enche o que, no tempo futuro, std vazio" Com isso se conclui que as normas anteriores contrérias 8 nova Constituicso no subsistem, mesmo em relago as narmas programéticas, enquanto que as compativeis continuam em vigor, pelo processo da recepcéo legislativa. Entretanto, essa andlise de subsuncéo de uma norma com o novo pardmetro constitucional que pressupde uma compatibilidade no tem um processo Juridico especial, ou seja, no so todas as normas anteriores colocadas em juizo para que um julz ou tribunal declare que ela foi ou no recepcionada, no instante inidal da vigéncia da nova Constituicéo. Isso significa, num primeiro momento, que essas normas compativels ‘adentram o ordenamento juridico, a no ser que sejam flagranterente contrarias {208 novos preceitos constitucionals. AA legislacdo pré-constituconal, ndo sendo colidente com a nova Constituigéo Continua vigorando, ainda que tenha perdido seu fundamento de validade. Uma vez recepcionadas, as normas pré-constitucionais harmonizem-se com a Constituico Superveniente, de modo que serdo lidas, interpretadas e compreendidas de acordo com 0s. principios, ideologias, fundamentos © objetivos da nova ordem onstitucional introduzida. E importante notar que 0 contetido dessas normas permanece o mesmo, ainda que © fundamento de tode a ordem juridica tenha mudado. Kelsen relata exatamente esse processo em sua obra Teoria Geral do Direito e do Estado: "A recepgio & um procedimento abreviada de cria¢o do Direlto. As les que, na linguagem comum, Inexata, continuam sendo validas so, a partir de uma perspectiva Juridica, leis novas cuja significagdo coincide com a das velhas leis. Elas no so idénticas &s velhas leis, porque seu fundamento de validade € diferente. fundamento de sua validade € 2 nova Constituic3o, no 2 velha’. Todavia, estabelecida uma nova fordem constitucional, verifica-se um processo positive, supra relatado @ denominade de recepcao, e outro, negativo que consiste em tornar ineficazes, inoperantes as normas que Ihe sejam desconformes, que colidam ou conflitem com @ Nova Lei Fundamental, chamado por alguns de revogacao © por outros de Inconstitucionalldade superveniente. E de suma importancia a diferenciacao desses dois conceltos, de modo que a adocao de um frente a outro é 2 justificativa para haver ou n3o um controle concentrado das normas pré-constitucionais. 0 Supremo Tribunal Federal entende que temos clara hipdtese de REVOGACKO de legislac3o anterior quendo Incompativel com a nova Constituiclo. Proclama, reiteradamente, que nao se deve cogitar de inconstitucionalidade, impossibiitando, portando, via dé regra, o controle concentrado de constitucionalidade dessas normas. Em verdade, 0 principio da subsidiariedade, ou do exaurimento das insténcias, atua também nos sistemas que conferem ao individuo afetado o direito de Impugnar a decisdo judicial, como um pressuposto de admissibilidade de indole objetiva, destinado, fundamentalmente, a impedir a banalizacdo da atividade de jurisdicao Constitucional. Assim, tendo’ em vista o ceréter acentuedamente objetivo ‘da arguicéo de descumprimento, o juizo de subsidiariedade ha de ter em vista, especialmente, os demais processos objetivos j4 consolidados no_ sistema constitucional. Nesse caso, cabivel a ago direta de inconstitucionalidade ou de constitucionalidade, nao seré admissivel a arguicdo de descumprimento. Em sentido contrério, ndo sendo admitida a utilizagdo de aces diretas de constituconalidade ‘ou de inconstitucionalidade — Isto é, ngo se verifiando a existéncia de melo apto para solver a controvérsia constitucional relevante de forma ampla, geral e Imediata —, hd de se entender possivel a utilizacdo da arguico de descumprimento de preceito fundamental. E 0 que ocorre, fundamentalmente, nos casos relatives ao controle de legitimidade do direito pré-constituconal, do direito municipal em face da Constituiclo Federal e nas controvérsias sobre direlto pés-constituconal ja revogado ou cujos efeltos Ja se exauriram. Esse é um outro problema concreto da ordem constitucional brasileira, porque, diante da Constituigo analitica e de pletora de reformas constitucionais — 36 estamos vivenciando esse problema na ADI —, terse o direito legal pés onstitucional em relac3o As normas arigindrias da Constitulczo de 88, mas pr Constitucional em relaggo as Emendas Constitucionais, 0 que acaba. por gerar dificuldades até mesmo para dar prosseguimento aos processos de_controle abstrato, Nesses casos, em face do néo-cabimento da acéo direta de inconstitucionalidade, néo hd como deixar de reconhecer a admissibilidade da arguigo de descumprimento de preceito fundamental. Dessa forma, nao merece guarida o argumento do amicus curiae no sentido de que deve ser deciarada a perda de objeto do feito em exame, em face da revogacao da norma impugnada. E que a arquicéo de descumprimento de preceito fundamental tem como objetive sanar lesGes em processos em curso sobre o teria em debate, @ despeito da revogacio formal da norma. Diz 0 Dr. Claudio Fonteles na sua manifestacdo: "Nao ha perda do objeto do pleito pela revogagéo da norma impugnada, pela simples e definitiva razio que, a despeito disso, demandas hd, em curso e decididas, motivadas pela sua existéncia ‘no mundo juridico, e que com sua revogacdo, por certo n3o se extinguiram.” ‘Também é possivel que se apresente a arguico de descumprimento, como jé vimos, com pretensio de ver declarada a constituconalidade de lei municipal que tenha sus legitimidade questionada nas instancias inferiores. Tendo em vista o objeto restrito da acdo declaratéria de constitucionalidade e da aco direta de inconstitucionalidade, nfo se vislumbra, aqui, meio eficaz para solver, de forma ampla, geral e Imediata, eventual controvérsia instaurada. ‘A prépria aplicagao do’ principio da subsidiariedade também esté a indicar que a argliggo de descumprimento hd de ser aceita nos casos que envolvam a aplicagao direta da Constituicgo — alegacéo de contrariedade 4 Constituic8o decorrente ‘de decisdo judicial ou controvérsia sobre interpretac3o adotada pelo Judiciério, ou seja, que nao envolva a aplicagao de le! ou ato normativo infraconstitucional. Da | mesma forma, _controvérsias _concretasfundadas na eventual inconstitucionalidade de lei ou ato normativo podem dar ensejo a uma pletora de demandas, insoliveis no ambito dos processos objetivos. Nao se pade admitir que a existénda de processos ordindrios e recursos extracrdinérios deva exciulr, 2 priori, a utllizacao da arguicao de descumprimento de preceito fundamental — até porque o instituto assume, entre nés, feicdo marcadamente objetiva. Nessas hipéteses, ante a inexisténcia de processo de indole objetiva apto a solver, de uma vez por todas, 3 controvérsia constitucional, afigura-se integralmente aplicdvel 2 arguligio de descumprimento de preceito fundamental. E que as agbes originarias e © proprio recurso extraordinario n8o parecem, as mais das vezes, capazes de resolver a controvérsia constitucional de forma geral, definitive e imediata. A nnecessidade de interposicSo de uma pletora de recursos extraordinarios idénticos poderd, em verdade, constituir-se em ameaga ao livre funcionamento do STF e das préprias Cortes ordinarias. ‘A propésito, assinalou Sepulveda Pertence, na ADC n. 1 (ADC 1/DF, Rel. Min Moreira Alves, j. em 19-12-93, DJ de 16-6-95), que @ convivencla entre o sistema dlifuso € 0 sistema concentrado "ndo se faz sem uma permanente tensdo dlalética na qual, a meu ver, a experiéncia tem demonstrado que sera inevitével o reforco do sistema concentrado, sobretudo nos processos de massa; na multiplicidade de processos a que inevitavelmente, a cada ano, na dindmica da legislagao, sobretudo da legislacdo tributéria e matérias proximas, levard se néo se criam mecanismos eficazes de decisd0 relativamente répida e uniforme; 20 estrangulamento da maquina judictéria, acima de qualquer possibilidade ‘de sua ampllacdo e, progressivamente, 20 maior deserédito da Justica, pela sua total incapacidade de responder 4 demanda de centenas de milhares de processos rigorosamente idénticos, porque reduzidas a uma sé questo de direito”. ‘A possibilidade de incongruéncias hermeneuticas e confusdes Jurisprudenciais decorrentes dos pronunciamentos de miltiplos 6rg0s pode configurar uma ameaca a preceito fundamental (pelo menos, ao da seguranca juridica), o que também esta a recomendar uma leitura compreensiva da exigéncia aposta & lei da arguiclo, de modo a admitir a propositura da aco especial toda vez que uma definicgo Imediata da_controvérsia mostrar-se necessaria para _afastar aplicacdes _erréticas, tumultuarias ou incongruentes, que comprometam gravemente 0 principio da seguranca juridica e @ propria idéia de prestacio judicial efetiva, ‘Ademais, a auséncia de definicéo da controvérsia ou a pripria decisdo prolatada pelas insténcias judiciais poder ser a concretizacio da leséo a preceito fundamental. Em um sistema dotado de érgao de cipula, que tem a miso de guarda da Constituigio, a multiplicidade ou a diversidade de solugSes pode constituir-se, por si sé, em ameaca ao principio constitucional da seguranca juridica e,' por conseguinte, em auténtica leséo a preceito fundamental Assim sendo, € possivel conciuir que a simples existéncia de agBes ou de outros recursos processuais — vias processuais ordinarias — nao podera servir de dbice & formulacSo da arguico de descumprimento. Ao contrario, tal como explicitado, 2 multiplicag3o de processos e decisdes sobre um dado tema constitucional reclame, as mais das vezes, 2 utiizacdo de um Instrumento de felco concentrada que ppermita a solucéo definitiva e abrangente da controvérsia, E facil ver também que a formula da relevancia do interesse pliblico para justificar ‘a admiss0 da arglicdo de descumprimento (explicta no modelo alemio) esté implicta no sistema criado pelo legislador brasileiro, tendo em vista, especialmente, o carter marcadamente objetivo que se conferiu ao instituto. Dessa forma, o Supremo Tribunal Federal sempre padera, ao lado de outros requisitos de’admissibilidade, emitir juizo sobre a relevancia e o interesse publico contido na controvérsia constitucional Essa leitura compreensiva da clausule da subsidiariedade contida no art. 49, § 19, da Lei n. 9.882, de 1999, parece solver, com superioridade, 2 controvérsia em tomo da aplicacao do principio do exaurimento das instancies, Assim, € plausivel admitir que o Tribunal deverd conhecer da arguigdo de descumprimento toda vez que o principio da seguranca juridica restar seriamente ameacado, especialmente em razéo de conflitos de interpretacéo ou de Incongruénclashermenéuticas causadas pelo modelo pluralista de jurlsdico constitucional, desde que presentes os demais pressupostos de admissiblidade. ‘Segundo Sylmar: A caracteristica principal do Poder Constituinte Originario € sem divida, 0 seu caréter inicial, inaugurando um novo ordenamento juridico; em decorréncia, algumas conseqdéncias so imprescindivels de andlise para sua melhor compreensd0. So elas 2 Recepcéo, a Desconstitucionalizagéo, @ Revoga¢ao ea Inconstitucionalidade. A desconstitucionalizaco.é um processo no acelto em nosso ordenamento juridico; diz-se que, com a entrada em vigor da nova constituicso, suas normas anteriores que néo fossem meis aproveitadas com “status” constitucional continuariam vigorando, mas com um “status” mais baixo, de mera lel ordindria, infraconstitucional. Esse institute, como dito, no é acelto, pols no Brasil vigora a teoria da Revogacao e Recepsso. © entendimento & que 2 entrada em vigor da nova constituicso revoga toda a constituigSo anterior, ou seja, todas as normas constitucionais anteriores vo delxar de viger. Assim, Inaugura-se todo um nove ardenamento constitucional sem trazer nenhum resquicio do anterior. ‘Surge também 0 Instituto da Recepcdo ~ neste, ndo estamos falando mais de normas constitucionais e sim daquelas leis com status inferior & Constituicdo. Nessa teoria, entende-se que todas essas leis que forem compativeis fem seu contetido com 2 nova Constituicio sero recebidas por esta e continuarso a viger, independente de sua forma. De ser ratificado que para que ocorra a recepcdo basta analisar seu contedido material, pouco importando e forma [por exemplo, © CTN eriado come Le Ordindria sob a Constitui¢do Federal de 1946 vigora até os dias de hoje, mas com “status” de Lei Complementar, que & a forma exigida para o tratamento da matéria tributdria pela Constiuiggo Federal de 1967 e 1988, mas para ocorrer a recep¢o analisou-se apenas o contetido e no a forme exigida. Ainda falando do CTN, 0 onteido foi apenas parcialmente recepcionado, a parte dele que contraria o disposto na CF/88 esté revogada, mostrando que pode ocorrer a recep¢do parcial, Outro fator que deve ser levado em consideraco ao falar em recepgSo é o fato que 86 podem ser recepclonadas normas que estejam em vigor ne momento do advento da nova constituicéo, assim, normas anteriores 3 revogadas, anuladas, ou ainda fem vacatio legis no poderdo ser recepcionadas. Por derradeiro, a importante distinglo entre revogacéo e Inconstitucionalidade. ‘A inconstitucionalidade é espécie do que chamamos de Incompatibilidade. A incompatibilidade se manifesta de 2 maneiras: llegalidade [quando uma norma é editada em desacordo com a lei); inconstitucionalidade [quando uma norma é editada em desacordo com a Constitui¢l0), Assim, temos diferencasbésicas entre revogacoe Inconstitucionalidade, como no que atine ao momento [a revogagio se dé posteriormente: uma lei valida, delxou de viger depois de certo tempo em vigor, pols foi editada uma outra lel, que tornou seu uso inconveniente e incompativel]. A inconstitucionalidade no é um evento no percurso da vigéncia como ocorre na revogacéo. A inconstitucionalidade é um defeito ao se fazer a lel, € um vicio. Uma lel para ser considerada inconstitucional 8 deve estar com esse defeito desde a sua edicio, logo nao existe no Brasil o que chamamos de “INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE", aquela que se d4 ao longo do tempo, temos somente 0 que chamamos de inconstitucionalidade congénita, ou seja, norma inconstitucional Jé nasceu inconstitucional Outra diferenca bésica entre revogagio e inconstitucionalidade, esté no seus efeitos [a revogacdo é to somente a perda da vigéncia de uma let que néo & mals interessante que continue em vigor, por sso, quando ocorre a revogacio, tudo 0 que 2 lei revogada regulou na sua vigéncia continuaré sendo mantido. € 0 que chamamos de efeitos néo-retroativos, ou, ex nunc ; quando falamos de Inconstitucionalidade, falamos nao apenas da vigéncia, mas da validade da lel, a lei Inconstitucional é Invalida, contém defeltos, viclos. Assim, nao pode admitir-se que as relagdes que foram reguladas por ela se mentenham vélidas, salvo excepcionalmente no caso de interesse social ou seguranga juridica. Deste modo, dizemos que os efeitos da declaracdo de inconstitucionalidade opera de forma retroativa, ou, ex func = ou seja, nada que a lel invélida regulou continuard @ ser mantido. Sheyla prossegue: Na jurisprudéncia do STF (cf. ADI n® 04, Rel.: Min. Paulo Brossard), prevalece 0 entendimento de que eventual incompatibilidade da legislacéo pré-constitucional em face de uma nova Constituigéo acarreta tio somente a revogacae. Segundo © STF, quando uma lei anterior 6 materialmente incompativel com uma Constituigo, ndo ha um julzo de inconstitucionalidade, mas uma mera aplicaglo das regras de direito intertemporal, especialmente, o critério segundo 0 qual a norma posterior revoga a anterior com ela incompativel. Assim, 2 ‘norma incompativel com @ nova ordem constitucional no se torna inconstitucional por superveniéncia, mas revegada ou simplesmente nio-recepcionada. ‘A polémica “inconstitucionalidade superveniente” versus “revogacao” no é ‘uma controvérsia meramente tebrica, eis que possul importantes consequéncias préticas. A primeira delas consiste na impossibilidade de as leis pré-constitucionais serem objeto de AcBo Direita de Inconstitucionalidade ~ ADI, exatamente em razo da circunstancia de que a questdo dircunscreve-se no ambito da revogacéo. Ademais, no sistema difuso, a declarac3o da incompatibilidade da lei velha em face danova ordem pode ser feita pelos Tribunals sem a observéncia do quorum especial, previsto no art. 97 da Constituiclo (“reserva de plenério”) Registre-se que esse entendimento ¢ plenamente aplicdvel no apenas nos casos de incompatibilidade da Constituicgo com a lei a ela anterior, mas também entre Emenda Constituconal ¢ leis que tenham sido promulgadas antes de sua vigéncia. Nese ditimo caso, igualmente tem sido rechagada a chamada ‘Inconstituconalidade superveniente”, prevalecendo 2 idéia de simples revogacdo. Por forca da Lei n®, 9.882/99, que disdplina a Arguigfo de Descumprimento de Preceito Fundamental, estabeleceu-se, de forma expressa, a viabilidade do exame abstrato e concentrado da compatibilidade entre leis pré-constitucionais e a ConstituicS0 Federal, 0 que acabou por fechar uma lacuna no controle de constitucionalidade brasileiro, Da mesma forma, nada impede que, em sede de ADPF, discuta-se a compatibilidade de um direito pés-constitucional em face de Emenda Constitucional que Ihe seja posterior, com vistas & verificacéo da ocorréncia ou no de revogacio. Contudo, mesmo nessas hipéteses, lembra Gilmar Mendes que os dispositivos dos acérdios permanecem fiéis & velha jurisprudéncla, assentando que as leis anteriores impugnadas pela via da ADPF foram revogadas ou recebidas pela nova ‘ordem constitucional ou pela Emenda respective. Conforme Pedro Lenza (Direito Constitucional Esquematizado, 14° ed., p. 247), todo ato normativo anterior & Constituigo no pode ser objeto de controle de constitucionalidade. 0 que se verifica € apenas se foi ou no recepcionado pelo novo ordenamento juridico. Quando for compativel, sera recebido, recepcionado. Quando no, no seré recepcionado e, portanto, seré revogado pela nova ordem, ‘no se podendo falar em inconstitucionalidade superveniente. Assim, somente os ‘tos editados depois da Constituicéo é que poderso ser questionados perante o STF, através do controle de constitudonalidade (aco direta de Inconstitucionalldade). Também, cabe ressaltar que em anotacgo ao Regimento Interno do STF, hé fo entendimento de que no cabe ADI para questionar validade de lel revogada na vigéncia de regime constitucional anterior. ‘Assim, em resumo, pode-se afirmar que a tese da inconstitucionalidade superveniente no tem sido admitida no Direito Constitucional patrio. Porém, sob o Angulo estritamente doutrinario e de forma minoritéria, j8 se defende a possibilidade de existéncia de inconstitucionalidade superveniente nas hipéteses de mutago constitucional. Realmente, em determinadas casos, certos dispositives constitucionais sofrem uma radical mudanca na interpretacSo que Ihes & dada pelo STF, © que implica em verdadeira inconstitucionalidade do direito anterior & mutagio (cf. Gilmar Mendes, Curso de Direito Constitucional, 2* ed., p. 1.024). Para Mariana: ‘A Constituicdo Federal de 1988 outorgou 20 STF a competéncia para declarar a invalidade da norma, expulsando-a do sistema quando se tratar de decreto proveniente do controle concentrado. A regra esté disposta no art. 102 da CR. Cuida-se da fiscalizacio da compatibilidade entre condutas (comissivas ou ‘omissivas) dos poderes piiblicos e os comandos constitucionais, visando assegurar 2 Supremacia da constitulcso. Dentre as formas de inconstitucionalidade, relativamente a0 momento em que 2 mesma ocorre deve-se analisar_ quando 0 parametro foi elaborado, A inconstitucionalidade poders entio ser: 2) Inconstitucionalidade Originéria: lei posterior 8 CR/88 ¢ que nasce incompativel com ela, J sendo inconstitucional desde a sua origem. Relaciona-se, pols, 2 atos posteriorés 20 pardmetro, b)_Inconstituconalidade Superveniente: lei anterior & CR/88, ou seja, ato originariamente constitucional, mas que se toma incompativel com 0 novo parametro. No Brasil no se adotou a tese da inconstitucionalidade superveniente. Segundo STF 05 atos originariamente constitucionais que se tornam incompativels com a Constituigo Federal s8o por ela revogados. Assim, em regra, uma lei anterior & Constituigéo de 1988, se for com ela incompativel, seréconsideradorevogado, pois quando se fala em Inconstitucienalldade, faz-se referéncia a um fenémeno de desrespelto 3 Constituico por um’ ato posterior 8 mesma, 0 que ndo se confunde quando o ato anterior se torna incompativel com a nova ConstituicSo. N3o sendo 0 caso de inconstitucionalidade, ainda assim pode o STF apreciar o exame direto da legitimidade do direito pré-constitucional em face de norma onstitucional superveniente por mecanismo de controle concentrado diverso da aco direta de inconstitucionalidade. Ou seja, cansiderando que o descumprimento a Constituigo € muito mais amplo que a inconstitucionalidade, a norma anterior que se torna incompativel com a Carta poderd ser objeto da Acio de Descumprimento de Preceito Fundamental. Prevista no art.102, §19, da Constituicéo da Republica © na Lei 9.682/99, ADPF ngo 6 uma acdo de inconstitucionalidade, mas sim uma Arguiczo de Descumprimento de Preceito Fundamental, que é ainda mais ampla do que a a¢ao de inconstitucionalidade (J que a inconstitucionalidade € um tipo de descumprimento - descumprimento da ConstituicSo). 0 parémetro, no entento, € mais restrito: somente a violacdo, o descumprimento de preceito fundamental Constitucional que dard ensejo 2 propositura de uma ADPF (e no qualquer norma formalmente inconstitucional). E © objeto, por fim, pode ser ato do Poder Piiblico (ADPF auténoma ~ art. 1° caput) ou Ie'/ato normativo das esferas federal, estadual €€ municipal, Inclusive atos pré-constitucionais (ADPF incidental ~ art. 1°, pardarafo nico, 0). © controle da constitucionalidade tem por finalidade o exame da adequacdo das leis e dos atos normativos @ Constituigo, do ponto de vista material ou formal. © objetivo desse controle & preservar a supremacia da Constituigo sobre as demais normas do ordenamento juridico. Desta supremacia decorre 0 principio da compatibilidade vertical, segundo o qual a validade da norma inferior depende de sua compatibilidade com @ Constituigo Federal. ‘A inconstitucionslidade em sentido estrito decorre do antagonismo entre uma determinada conduta comissiva ou omissiva do Poder Publico e um comando constitucional, havendo intimeras formas de inconstitucionalidade, Quanto a0 momento, a inconstitucionalidade pode ser originéria ou superveniente. Serd origindria quando 0 objeto de controle é posterior 20 parémetro (CF ou femenda), ou seja, a lei j4 nasce inconstitucional. De outra forma, haverd a incanstitucionalidade superveniente quando 0 parametro & posterior ao objeto, nao sendo a lei recepcionada. Anterlormente, 0 STF entendia que nesse caso haverla revogacao do objeto (lei ou ‘ato tido como inconstitucional). No entanto, alterou seu entendimento, posicionando-se que nesses casos ocorre a no recepcéo, encampando nesse aspecto a teoria de Hans Kelsen. Na verdade, no hé inconstitucionalidade superveniente porque o Poder Pablico néo violou 2 Constituicdo, j4 que 20 elaborar 2 lei esta era constitucional. Fol 2 alteracdo posterior do parémetro que fez com a lei ou ato normative se tornasse Incompativel com a Carta Magna, Essa classificacdo é fundamental, pois a partir dela € possivel que se aprecie a Inconstitucionalidade através da propositura da ADPF, dirigida a evitar ou reparar les30 a preceito fundamental resultante de ato do Poder Publico, bem como solucionar controvérsia judicial a respeito de lel ou ato normativo federal, estadual (ou municipal, incluidos anteriores & vigéncia da atual CF. nos termos do artigo 102, § 19, CF. Nubia Brito- Uberlandia/MG (© controle de constitucionalidade busca assegurar a supremacia formal da constituigao. Classifica-se quanto ao momento que a inconstitucionalidade pode ser origindria ou superveniente. A inconstitucionalidade originéria ocorre quando 0 objeto posterior 20 parémetro, de modo que @ lei ja nasce inconstitucional. A inconstitucionalidade superveniente, todavie, ocorre quando 0 objeto é anterior a0 pardmetro, de modo que a lei que era constitucional se torna inconstitucional em raz de uma nova ‘emenda constitucional ou uma nova constituicéo. © Brasil adota o entendimento de Hens Kelsen, no sentido de que a Inconstitucionalidade esta sempre ligada @ uma conduta do Poder Piblico que viola fa constituigSo. Sendo assim, 0 Brasil no aceita a tese da inconstitucionalidade superveniente, € o STF entende tratar-se de revogacéo. Ocorre que parte da doutrina discorda da posicfo do Supremo, porque leis 0 rnormas constitucionais so feitas por poderes diferentes e, portanto, incompativel com 0 instituto da revogacio, tratando-se, em verdade, de néo recepcio. (© mecanismo de controle das normas supervenientes n&o pode ocorrer através de ADI ou ADC, que pressupde normas posteriores ao parémetro, mas é perfeitamente aplicével 8 ela a Aco de Descumprimento de Preceito Fundamental - ADPF, que ‘no impbe limites temporais como a ADI e ADC, admitindo atos normativos anteriores ou posteriores ao pardmetro. 5 ~ (CESPE/UNB - 3UIZ/AC) - SENTENCA CRIMINAL: Jo%0 Souza, motorista particular, casado, pai de dois filhos, foi preso em flagrante e, posteriormente, denunciado como incurso nas penas do art. 14, caput, da Lei n.° 10.826/2003, atribuindo-lhe 0 Ministério PUblico conduta delituosa, de que trata 0 trecho transcrito a seguir. Go) No dia 26 de dezembro 2003, por volta das 9 h 27 min, em via publica, em Rio Branco, Acre, 0 denunciado, voluntaéria e conscientemente, portava, sem possuir 0 devido registro de arma no 6rgae competente e, ainda, sem possuir porte legal de arma de fogo, o revéiver calibre 38, marca Taurus, ndmero de série XY 123456, desmuniclado. No local, policiais militares realizavam bloqueio policial, com abordagens rotineiras que tinham por objetivo o desarmamento da populacao, quando pararam o nibus Mercedes Benz, placa ABC 1234-AC, da empresa Viva 0 ‘Acre, ordenando a todos os passageiros que descessem. Em revista ao énibus, os policiais encontraram a arma de fogo, que estava ‘no assoalho de um dos bancos a frente da porta traseira, e perceberam que ela estava “quente”, © que indicava que o seu portador ainda estava, em alguma parte do corpo, com alguma marca de que a havia portado. Em nova revista aos passageiros, os pol wualizaram a esperada marca avermelhada na cintura do denunciado, tendo um dos passageiros reconhecide 0 denunciade como aquele que sentara no banco em que a arma fora encontrada. (oo) A denincia foi recebida em 15 de dezembro de 2006. 0 acusado foi interrogado em 18 de dezembro de 2006, quando negou a veracidade dos fatos narrados na deniincia, Foi apresentada tempestivamente defesa Prévia, com indicagéo das mesmas testemunhas arroladas na inici acusatéria, reservando-se a defesa o direito de apreciar o meritum causae por ocasiso das alegagées finals. No curso da instrucdo probatéria, foram colhides os depoimentos das testemunhas Daniel e Mércio, tendo Daniel afirmado que nada sabia e Marcio, que havia sentado ao lado do acusado e viu quando ele jogou a arma embaixo de um dos bancos do 6nibus. Reconheceu 0 acusado, em Juizo, e ratificou, assim, o reconhecimento feito na delegacia de policia. As partes dispensaram a oitiva das testemunhas faltantes, Na fase prevista no art, 499 do Cédigo de Processo Penal (CPP), 0 Ministério PUblico requereu a atualizago da folha de antecedentes penais do acusado, bem como a juntada do laudo de exame de eficiéncia da arma. A defesa nada requereu, Comprovou-se a primariedade técnica do acusado. © laudo de exame de eficiéncia da arma nao foi juntado. Em alegacées finais, 0 Ministério Publico postulou pela procedéncia da dendncia, para condenar © acusado pela pratica do crime narrado na dendncia. Na mesma fase, a defesa postulou pela absolvicso do acusado, com fulcro no principio do in dubio pro reo, nos termos do art. 386, inciso VI, do CPP. Argumentou, ainda, com base no principio da ofensividade, que a configuracdo do crime em tela se daria somente com a comprovacio do perigo. Aduziu nao ser 0 caso em questo, uma vez que a arma estava desmuniciada. Afirmou, também, que 0 processo estava eivado de nulidade, porque nao fora realizada pericia para auferir a ofensividade da arma de fogo. Requereu o reconhecimento da abolitio criminis. Pleiteou, alternativamente, a desclassificacao do crime para tipo previsto no art. 12, da Lei n.o 10.826/2003 e asseverou que 0 acusado, caso estivesse com a arma, teria agido em estado de necessidade, dado 0 caos da seguranca cediga publica no local. Em eventual hipétese de condenacao, requereu a substituicéo da pena privativa de liberdade por prestacio pecuniaria. Com relagdo a situago hipotética cujo histérico esté apresentado acima, , na condigao de juiz da causa e sem criar fatos novos, uma sentenca criminal cabivel, dispensando o relatério. Marilla Ramos De Oliveira Manaus/AM FUNDAMENTAGAO Trata-se de a¢0 publica incondiconada que objetiva apurar a responsabilidede criminal de Joo Souza, anteriormente qualificado, pela pratica do delito tipificado no art. 14, da Lei n? 10.826/2003. [A decisao no proceso penal no é ato de conhecimento, mas sim de compreensio. Neste contexto, diante de apresentagdo de uma hipétese fatico-descritiva pela acusacdo, procede-se a um debate em contraditério, entre partes, nos quais os énus so compartihados. Entendo que para configuracdo do tipo penal denunciado, nnecesséria a comprovacdo da aptidgo da arma, mediante laudo petical idéneo capaz de demonstrar a potencialidade do Instrumento. Contudo, compulsando os ‘autos, verifico que no hd juntada do laudo pericial do revélver apreendido, nio tendo 0 Ministério Pablico requeride a diligéncia quando Ihe coube. Sobre o tema discorrem Luiz Flavio Games e William Terra de Oliveira: ‘Somente existiré um Ilicito penal se a arma de fogo em questo for id6nea para ferir ou matar alguém. A idoneidade do objeto é também um requisito fundamental © pressuposto da lesividade insita ao delito. Sem a demonstracéo concreta de que a arma possui um poder vulnerante, e de que ¢ capaz de cumpri a funcBo para a qual foi fabricada, néio podemos admitir a existéncia do crime. Por tal motivo, a realizacéo da respective pericia na arma de fogo & um dado probatério indedlinavel. A produgo de prova material é imprescindivel para 2 caracterizar 0 delito, salvo no caso em que ocorram disparos, hipétese que acabaré por configurar um crime distinto.' ("Lei das Armas de Fogo", ed. 1998, pag. 143). Ainda sobre o tema, assim decidiu o Tribunal de lustica de Minas Gerais: "APELAGAO CRIMINAL - PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO - IMPRESTABILIDADE DA ARMA - NAO CONFIGURACKO DO DELITO - PORTE DE MUNIGAO & DE ARMA BRANCA - AUSENCIA DE PERicIA TECNICA - NAO COMPROVAGAO DA MATERIALIDADE."*Para configuragdo do crime de porte de ‘arma de fogo impée-se 2 necessidade de realizacéo de pericia técnica no instrumento, para dizer de sua prestabilidade, ver que, se ele no se encontra em condigées de ser utilizado, no traz riscos & vida e integridade fisica do Individuo, deixando de ser considerado objeto material da infracdo. - Para que se configure 0 crime de porte ilegal de municSo, bem como a contravencdo de porte de arma branca, necesséria 2 realizagio de perida técnica nos objetos, de molde 2 comprovar sua potencial lesividade & integridade fisica de alguém."(TIMG -Apelacéo Criminal n° 1.0024.04.498218-8/001 - 2 Cémara Criminal. Relatora Des. BeatrizPinheiro Caires. DJMG 06.03.2007) ‘Ainda que no haja laudo pericial, nBo se olvida que o crime de porte ilegal de arma de fogo é, conforme assinala a doutrina, de perigo abstrato, ou seja, trata-se de delito que se consuma com a realizacao da conduta supostamente perigosa, sem que haja necessidade da comprovacdo do risco efetivo para o bem juridico. Porém, tais crimes levantam séria discusséo acerca de sua constitucionalidade, visto que dispensam a comprovaco da lesividade material, na medida que estabelecem para a sua concretizag3o uma presungdo de perigo que no admite prova em contrério. Ocorre que essa presuncéo "juris et de jure" fere, irrefragavelmente, 0s principios_ da_intervencéo ofensividade/lesividade, basilares do Direito Penal democratico, razdo pela qual no inima e da concordo com esta orientacéo. Afirmam Zaffaroni © Pierang Brasileiro: parte geral. 3. ed. Sdo Paulo: RT, 2001, p. 561), em acertada analise, que tal dassificacdo dos fatos puniveis tem maior relevancia processual do que penal, afinal, "na realidade, nao hd tipos de perigo concreto © de perigo abstrato ~ ‘20 menos em sentido estrito -, mas apenas tipos em que se exige a prova efetiva (Manual de Direito Penal do perigo submetido ao bem juridico, enquanto noutros hé uma inverséo do énus da prova, pols 0 perigo é presumido com @ realizacdo da conduta, até que o contrario nao seja provado, circunstancia cuja prova cabe 20 acusado' Nesta esteira, afirma Paulo Queiroz (Direito Penal: parte geral. 4° ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 167) que “objecdo corrente aos crimes de perigo abstrato & que, a0 se presumir o perigo prévia e abstratamente, resulta em Gltima andlise que perigo ndo existe, de modo que se acaba por criminalizar a simples atividade, afrontando-se o principio da lesividade, bern assim © cardter de extrema ratio (subsidiério) do direlto penal. Par isso ha que considere inconstitucional toda sorte de presungio legal de perigo. No entanto, forca é convir que nem sempre 2 sua adocSo € inconstitucional (como jé 0 sustentei, inclusive), ppor ofensa ao principio da lesividade, pols casos hd em que 0 perigo de lesdo é de tal modo grave que a sua criminalizacdo se justifica plenamente, tal como ocorre com a falsificacdo de moeda, por exemplo, razo pele qual cumpre verificar cada caso cancretamente, de modo a verificar se sua tipificacao é ou nao legftima’ © art. 25 da Lei 10.826/2003 determinava a realizacdo de pericia em armas de fogo, acessérios ou munigées apreendides (“Armas de fogo, acessérios ou munigBes apreendidos sero, aps elaborago do laudo pericial e sua Juntada aos autos, encaminhados pelo juiz competente, quando nao mais interessarem & persecucéo penal, 20 Comando do Exército, pare destruigéo, no prazo maximo de 48 horas."), sendo tal dispositive alterado pela Let 11.706/2008, ‘a qual estabeleceu que a pericia ficaria restrita as armas de fogo, sendo que o abandono da formalidade legal implica a impossibilidade de ter-se como configurado o tipo. Incomprovada 2 posse ou a propriedade de uma das armas apreendidas, aquela declarada eficiente, impossivel se mostra a condenagdo do réu, diante da auséncia de prova da autoria do delito. ‘Se das poucas provas produzidas nao se extrai a certeza da autortia, a absolvigio é medida que se impée. bispositivo Assim, no havendo comprovagéo de ser a arma apreendida idénea para o fim que se destinava, inexiste materialidade ao tipo em apreso e, mesmo que tal comprovacao fosse suplantada pelas demais provas dos autos, impossivel admitir a configuragdo do crime, uma vez que a comprovagio da lesividade ao bem juridico se mostra deficiente em fungo da inexisténcia de laudo pericial, clamando o presente caso, pois, pela absolvico, na forma do art. 386, Indiso Tl, do Cédigo de Pracesso Penal Por tals razdes, JULGO IMPROCEDENTE a deniincia de fs, I/IM para ABSOLVER © acusade JOAO SOUZA, jé qualificado nos autos, da Imputac30 do crime descrito no art. 14, "caput", da Lei 10.826/03, com base no art. 386, II, do Cédigo de Processo Penal Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Dé-se destinagdo legal 8 arma apreendida. Transitada em julgado, arquivem-se. Rio Branco, 07 de margo de 2011 auiZA DE DIREITO Sylmar Jr. - Cotia/SP Sentenga Criminal ~ porte ilegal de arma de Fogo Comarca de XXXXXXX Vara Unica (000.000.00.000000-0 ‘Autos n® 000.00.000000-0 Denundado: Jogo Souza Delito: porte tlegal de arma de fogo Julz Sentenciante: Syimar Gaston Schwab Jr Data: XX/XX/2X0X Vistos etc. Dispensado o relatério. Passo a fundamentar a decisdo. Ficou comprovado, no curso da instrugo processual, que acusado portava, de fato, voluntaria e conscientemente, arma de fogo dentro de um transporte coletive sem possuir seu devido registro no érglo competente, bem como, igualmente, sem ter obtido 0 respectivo porte legal para seu manuseio. Referida arma encontrava-se desmunicieda. Diante desses fatos, cabe indagar-se, como ponto central para o deslinde, se 0 porte de arma desmuniciada € crime. Assunto que j8 causou muita divergéncia na doutrina ¢ jurisprudéncia patria, atualmente encontra-se quase ppacificado, sendo a resposta para tal interrogativa a negativa do ilfcto e sua conseqilente punido. Invoco, como embasamento do presente caso, que o C. 0 STF, no dia (02 de maio de 2007, ao julgar @ ADI de n.° 3112, declarou a inconstitucionalidade de trés dispositives do Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03), dentre ele, 0 artigo 14, que cuidava da tipificaco do porte ilegal de arma de fogo de uso permitido. Naquela época, firmou-se entendimento no sentido de que tais infracbes devem ser compreendidas como crimes de mera conduta e de perigo abstrato, que ‘no acarretam lesio ou ameaca concreta de lesio 8 vida ou & propriedade, Coaduno desse entendimento. © porte de arma dasmuniciada, por representar qualquer lesSo ou perigo efetivo & objetividade juridica, néo pode ser considerado crime. Nesse diapasio, com a nova ordem constitucional Introduzida a partir da Constituic’o Federal de 1988, no hd como aceitar a existéncia de crimes de perigo abstrato, 0 que importa em ofensa, mais do que patente, ao principio da ofensividade. Explico melhor: se @ arma est8 desmuniciada, nfo conta com potencialidade lesiva, de forma que, nem mesmo pode ser considerada arma de fogo. De acordo com 0 entendimento firmado pela nossa Suprema Corte, a arma desmuniciada é arma, mas néo de fogo. Neste momento, para melhor compreensio da matéria, uma confuséio, muito comum, deve ser desfeita: ndo hé nada em comum entre potencialidade lesiva e poder de intimidacao, Realmente, a arma, ainda que sem munigo, tem, em relagéo a terceiros, poder intimidativo; partindo dessa premissa, entende-se que, quando utllizada, pode constituir a ameaca necesséria, por exemplo, para a configuracSo do crime de roubo. No entanto, esse poder de intimidac3o ndo é suficiente para atender 8 necessidade de potencialidade lesiva, e, por este motivo, é impossivel cogitar 2 cexisténcia de crime na conduta de porte de arma desmuniciada. Esse € 0 meu entendimento, e, com certeza, dos nossos Tribunais, dentre os quals, 0 STF e 0 STJ. Sem diivida, uma posigéo que se coaduna perfeitamente aos valores consagrados por um Estado Humanitirio e Constitucional de Direito, como o Brasil Face 0 exposto, com arrimo no principio da ofensividade, julgo Improcedente 2 dendncia, Diante do fato principal ora decidido ~ 2 absolvigio do acusado por auséncia de crime -, ficam prejudicadas todas as postulacdes acessérias invocads pelas partes. Isengao de custas pelo sentenciado. Publique-se, registre-se e intime-se. ‘Transitada em julgado a decisio, arquive-se. Cidade (UF), 00 de marco de 2011. 3ulz de Direito Thais Bitti de Oliveira Almeida Belém/PA Conforme 20 norte relatado, 0 réu Jo#o Souza esté sendo apontado como autor do delito previsto no art. 14 da Lei 10.826/03, fato ocorrido em 26.12.2003. ‘0 acusado nega a pritica do delito, entretanto, durante a instrugio, nao vieram aos autos quaisquer elementos que pudessem ratificar tal alegagao, tratando-se de palavra Isolada, tendo 0 érg30 ministerial cumprido 0 énus de provar os fatos alegados na dentincia. A materialidade de autoria do crime restaram provadas através dos depoimentos dos policiais que efetuaram 2 priséo em flagrante, da testemunha Marcio e a apreensdo da arma de fogo. Incabivel 0 acolhimenta da tese defensiva quanto a néo ter restado configurado © crime pela nao demonstracao do perigo, encontrando-se a arma desmuniciada vez que o porte ilegal de arma de fogo é crime formal e de perigo abstrato, que se consuma com a simples prética de qualquer das condutas descritas ‘no tipo, sendo prescindivel a demonstracao do efetivo perigo no caso concreto para a sua configuracéo, dessa forma, comprovado que 0 réu incorreu em conduta descrita no artigo 14 "caput da Lei n° 10.826/2003, € de rigor a condenagéo. Frise-se que néo fez o legislador ressalvas quanto a estar ou no a arma municiada, ou seje, @ conduta perpetrada, de molde a configurar o tipo penal, no exige que @ arma esteja com munigo. Nesse sentido, seguem julgados: *APELACKO, CRIMINAL PORTE TLEGAL DE ARMA DE FOGO - ARMA DESMUNICIADA - IRRELEVANCIA - CONDUTA TIPICA. Eirelevante 2 circunsténcia de ARMA de fogo estar ou no municiada para a caracterizacs0 do delto de porte egal de ARMA de fog0, previsto no artigo 14 da Lei 10.826/03, tendo ‘em vista que se trata de um’ crime formal ede PERIGO abstrato, prescindindo-se a demonstracSo do efetivo PEREGO no caso conereto para 2 sus Eonfiguragio. Desprovimento a9 recurso que se impde.” (TMG AC N° 1.0351,05.063916-7/001 ~ Rel. ANTONIO CARLOS CRUVINEL ~j. 27/05/2008) — “HABEAS CORPUS. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. ATIPICIOADE, ARMA DESMUNICIADA. IRRELEVANCIA. 1. 0 desmuniciamento da ARMA nao conduz & atipicidade da condute, bastando, como basta, pera a caracterizagéo do delito, 0 porte de ARMA de fogo sem autorizaco e em desacordo com determinacéo legal ou regulamenter. 2. A objetividade ‘juridica, in casu, ¢ 2 seguranca, que se desdobra em nivels e comporta leséo. 3. £ que, nos’ tipos mistos aiternativos, excluidos os casos de atipicidade absoluta, as acSes que o integram nao devem ser interpretadas isoladamente, no havendo como exigir-se 0 municiamento da ARMA de fogo, seo licto se caracteriza s6 com o porte de munic&o. 4. Ordem denegade.” (ST) - HC 95134 / RJ- Relator: Ministro HAMILTON CARVALHIDO - Orgdo Julgador: ‘Sexta Turma - j. 27.03.2008). Embora néo tena sido colacionado aos autos laudo de potencialidade lesiva dda arma de fogo encontrada com o réu este no é imprescindivel para comprova¢o da materialidade do crime vez que o simples fato de o acusado ter sido preso em flagrante portando armamento sem autorizacao legal implica em ofensa ao art. 14 da Lei 10.826/03. Nesse sentido, a jurisprudéncia: “PROCESSUAL PENAL. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. EXAME PERICIAL. AUSENCIA, NULIDADE. INOCORRENCIA. Néo restando contestada a existéncia da arma e havendo nos autos da persecutio criminis outros elementos de caréter probatério sufidentes a embasar 0 decreto condenatério, notadamente os de nnatureza testemunhal, a auséncia ou, in casu, a nulidade do exame pericial na arma de fogo no desconfigura o crime previsto no caput do art. 10 da Lei n.? 9.437/97. Recurso provido.” (RESP n.° 554697 / RS; Rel. Ministro Felix Fischer; 0)24/11/2003). : “PENAL. PROCESSO PENAL. ARMA DE FOGO. PORTE ILEGAL, PERICIA. AUSENCIA, RECURSO ESPECIAL. Segundo precedentes "comprovada a posse de arma de fogo 1ngo registrada, que em momento algum teve negada sua potencialidade ofensiva, 2 auséncia_do exame pericial no desceracteriza a conduta tipica." (REsp n° 285.451/SC, Ministro Edson Vidigal, DJ de 09/04/2001). Recurso conhecido e provido.” (RESP n.° 302.357/SP; Rel. Ministro José Arnaldo da Fonseca; DJ 04/11/2002). Ora, a arma encontrada dentro do veiculo, caracteriza porte de arma, pois a posse oco/re somente quando ela é encontrada na residéncia cu no local da atividade laboretiva, pelo que, Incabivel a desclassificacdo pleiteada pela defesa. Quanto & alegacao de ser 2 conduta do agente ativo atipica em raz8o da vacatio legis temporalis instituida pelo Estatuto do Desarmamento, tenho que nenhuma rezBo lhe assiste. Como cedigo, @ vacatio legis temporalis referida, abarcou tio-somente 2 conduta de posse de arma de fogo no interior de residéncia ou da empresa de seu ossuidor e nao as condutas enumeradas no artigo 14 da Lei 10.826/03 que figuram o delito de porte ilegal de arma de fogo. . Eis a jurisprudéncia: conduta tipificads no artigo 14, da Lei 10.826/03 (porte ilegal de arma de fogo de uso permitide) néo se encontra agambarcada pela concesséo de prazo para a entrega de armas, que culminou com o reconhecimento da atipiddade de determinadas condiitas descritas na referida lel". (AP n° 164.563-5 - Rel. Hyparco Immesi) ‘0 transporte de arma de fogo no interior de veiculo, exceto se expressamente permitido através de licenca da autoridade competente, sempre fol conduta ilcita passivel de punicgo na esfera penal. ‘Assim, nao se afigura 2 atipicidade da conduta descrita no artigo 14 da Lei 10.826/03. No que concerne & tese defensive acerca da incidéncia da excludente de ictude prevista no art. 24 do Cédigo Penal, qual seja, 0 estado de necessidade, ‘ndo esto presentes, no caso em comento, os requisitos que caracterzam a referida causa de justificagao. Para que se configure o estado de necessidade € preciso que haja um perigo atual e inevitével. Segundo o doutrinador Cezar Roberto Bitencourt, em sua obra “Tratado de Direito Penal"; Parte Geral, Volume 1; 9 edic0; Saraiva, 2004, p. 313: "Perigo passado ou futuro no pode justificer o ESTADO de NECESSIDADE. Se o dano ou perigo jé se efetivou, a aco do agente somente estaré legitimada para Impedir sua conéinuagio. Se 0 perigo for futuro, podera até nao se concretizar; se for passado caracterizaré vinganca. Em qualquer das hipoteses falta-Ihes a caracteristica da atualidade, permitindo a utilizagao de outros recursos.” 0 porte ilegal de arma pelo réu justificado pelo caos de seguranca publica local ndo demonstra 0 estado de necessidade, pois nao verificada situacgo de perigo atual E Sabido que & dever do ESTADO garantir a seguranca piblica, nao cabendo 20 cidadio comum se armar para se proteger. O fito da Lei do Desarmamento é, justamente, garentir 2 pacificacdo da sociedade. E cedico que a diminuicao dos indices de criminalidade est4 diretamente ligada as medidas de restricSo 20 uso de ARMA de fogo. Portanto, compete ao cidadao, que se sentir ameagado, comunicar 0 fato a autoridade ‘competente, agindo, dessa forma, informe a0 direito, Neste sentido MENTA: APELACAO CRIMINAL. ARTIGO 14 DA LET 10.826/03. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIOO. LEGITIMA DEFESA. ESTADO DE NECESSIDADE. DESCABIMENTO.- A Lei 10.826/2003 no afronta a Carta Magna de 1988 e, 20 revés, ests em perfeita sintonia com a ordem constitucional, {3 que ‘20 aumentar a reprovabilidade do PORTE ILEGAL de ARMA de fogo, evitando que vidas Inocentes sejam ceifadas pela banalizago do uso das armas, reafirmou a pprotecao prioritéria que 0 ESTADO dispensa 4 vida dos seres humanos.- 0 fordenamento juridico nao comporta as excludentes de ‘legitima defesa preventiva! ou 'ESTADO de NECESSIDADE virtual’, de forma que 2 simples alegacio de que o acusado transitavapor locais perigosos € poderia, a qualquer momento, ser atacado or outrem, ngo € motivo suficiente para excluir a ilcitude do PORTE ILEGAL de ARMA de’ fogo." (Apelaco Criminal n° 1.0702.07.392193-5/001; Relator Desembargador Renato Martins Jacob; Julgado em 29/01/2009 e Publicado em 10/02/2009) Resta evidenciado através das provas carreadas & presente aco penal que 0 agente cometera o crime descrito na exordial acusatéria, pelo que deve ser condenado as sancdes punitivas do artigo 14 da lei 10.826/2003, sendo sua conduta tipica, tendo em vista que portava arma sem autorizacao e em desacordo com a determinagéo legal e regulamentar. Pelo exposto: JULGO PROCEDENTE a deniincia, para condenar o réu JOAO SOUZA, qualificado nos autos, nas sancbes punitivas do artigo 14 da lei n® 10.826/03. Passo a fixar a pena base e 2 definitiva: Considerando que o réu é primério; que sua conduta social revela-se normal; que possui ele personalidade normal; que sua culpabilidade resta demonstrada e € de médio grau; que as circunstancias the apresentam desfavoravels; que no se apresentam motivos que venham a justificar a pratica do llicto; que 30 houveram conseqUéncias malores para o Estado e para a coletividade por tratar-se de crime de perigo abstrato, fixo @ pena base em 02(dois) ‘anos de recluséo, a qual tomo concreta e definitiva a mingua de agravantes, atenuantes, causas de aumento ou diminuicao da pena, a ser cumprida em regime aberto em Casa de Albergado. Condeno ainda o réu 8 pena de multa, fixando esta em 30 (trinta) dias multa, correspondendo o dia muita a 1/30 do salario minimo vigente 8 época do fato. Em vista de reunir 0 acusado 0s requisites previstos no artigo 44 do Cédigo Penal, substituo a pena privativa de liberdade por duas penas restritivas de direitos, atendendo a0 disposto no artigo 45, § 2° do CP, conforme abaixo segue: 1) Pena de prestacSo Pecuniéria, no valor correspondents @ um(01) salério minimo vigente & época do fato, convertenda-se esta em cesta basice para entidade pUblica ou privada, com destinacéo social e sem fins lucrativos(art. 45, § 19); 2) Pena de prestagdo de servicos & comunidade ou a entidade publica, competindo ao Juiz das Execugies a definicdo em qual Oraio referide pena restritiva de direitos seré devidamente cumpride, sendo que as tarefas devem ser cumpridas a razo de uma hhora de trabalho por dia de condenacso, fixadas de modo a nao prejudicar a Jornada normal de trabalho, ndo inferior & metade da pena privativa de liberdade fixada, com fulcro ne artigo 46, pardgrafos 3° e 4° do CP, Concedo eo réu o direito de apelar em liberdade, no estando presentes os motivos autorizadores da medida cautelar preventiva previstos nos artigos 311 € 312 do CPP. No que tange & disposicSo contida no art, 387, IV do CPP entende este Magistrado inexistir danos a serem reparados, no presente caso. Determino 0 encaminhamento da arma de fogo apreendida ao Exército Brasileiro para os procedimentos necessérios & destruicdo ou doacdo aos 6rgaos de seguranca publica ou as Forcas Armadas, conforme disposto no art. 25 da Lei n? 10.826/03, vez que a mesma no mais interessa & persecugso penal. Transitada esta em julgado, Iance-Ihe 0 nome no rol dos culpados, providenciando 2 Secretaria as documentacdes necessérias 20 cumprimento da pena, com a devida remessa a Vara de Execucbes Penais. Custas e despesas processuais pelo réu. Publique-se. Registre-se. Intimem-se e cumpra-se.

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