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(© Ricardo Campos, Andzea Mubi Brighent e Luciano Spinelli (organizadores), 2011 ‘Ricardo Campos, Andrea Mubf Brighentie Luciano Spinelli (orgenizadores) Uma Cidade de Imagens. Produgbes e Consuinos Visuais em Meio Urbano Primeira edigdo: Noverno de 2022 Tiragern: 500 exemplares ISBN: 978-989-8536-08-07, Deposito egal: 358501/12 ‘Composicio em caracteres Palatina, compo 10 CConcepeio gréficae composigor Lina Cardoso (Capa: Nano Fonseca Foto da capa: Luciano Spinel Revisia de texto: Tabet Lacerda Impressio e acabamentas: Publidiss, Espanha Este vr fo abjecto de avalingdo cientifca [Reservados todos os direitos para a lingua portuguesa, le acordo com a legislagzo-em vigor, por Editora Mundos Socials, Editora Mundas Sociais, CIES, ISCTE-UL, Av, das Foccas Armada, 1619-06 Lisbos “Tel (351) 217 993238 Fave (+351) 217 940078 Evra editoraciestisete pt ate hitp;/wwwmandossocais corn indice Indice de figuras.. Sobre 0s autores. Introducao.. Ricardo Capos, An Parte I | A visualidade 1 Identidade, image Ricardo Campos 2 “Imaginaccoes” Andrea Mubi Brighe 3 Omundo € “enrug Renato Miguel do Ci 4 Acidade visual Fabio La Rocca Parte If | Imaginérios, i 5 Acidade ea imers Michel Maffesoli 6 “Killadelphia” James Dickinson 7 "Comer na india‘ Sandra C. S. Marque Capitulo 11 Imagens, paisagens ¢ tempos na metrépole contemporanea Olave Marques Primeizas palavras No presente artigo, pretendo tomar o espaco urbano como foco de investigagao an- | ropaldgica, Iendo em vista que a vida humana — objeto da construgio de conheci- ‘entono campodas iéncias socials — se edifica no espagoese distendeno tempo, | io que tas categorias so essenciais para a cempreensao dos fenémenos sociais “Goenos cercam. Acidade ~ e, mais especificamente, a metrpole — é, sem duivida, D Teed de novas experiéncias vitais que podem ser enquadradas como niéicleo da ‘entemporaneidade. No caso da antropologia urbana, 0 foce destoca-se de uma apreensao gené- “fica de grandes processos ~ globalizacio, consumo, politica, etc. — para uma rerdagem microssocioldgica, voltada parao estudo etnografico do quotidiana e Hibs provescos vividos pelos sujeitos e pelos grupos nas suas experiéncias no “undo. Tendo em vista que 0 espaco textual de um artigo nao permite longas B tscrigdes etmogralieas, as consideracbes que se seguem, em torno das espacial F dadesc temporalidades urbanas, so tecidas ¢ partir de um resgate episddico de “Gspectos de etnografias realizadas — em especial acerca da abertura da 3. Peri- “tmeralem Porto Alegre/RS, imensa via com ce-ca de 13 km, que cruzaa cidade da inasalzona norte sem passar pelo centro, atravessando vinte bairros, eque foi Uforstruida entre 1999 e 2006." Essa drdsticatransformagio estrutural da matha | iitia da cidade foi celebrada pelas autoridades como a maior obra publica jé rea- pada na capital gatcha, Na minha etnograi, tal cirurgia urbana foi enquadra- “th como cxemplo em ato de uma cultura que vivencia 0 tecido espacial da Torto Alegre éa capital do Rio Grande doSul estado noextreme sal do Brasil, que faz Fronteica com Ungun, Argentina e Paragun. Porto Alegre conta hoje com cerca de 1, 5 miles Ge hab hates, Actnogpafia sobre a3. Perinetral fi desenvolvidaestencialmente entre os anos de 2000 CrOE Os estates emogedticos que realize culminarem em meu trabalho de concluséo decurso {Mtanjues, N03), Come moracor da cade, no extanto, companho os desdobramentos dos Sears enido,e utiliza a via em cersos pereursos abservandor agregandoinformagiee cont- 168 metrépole como algo permanentemente inacabado, em curso ~ mas que, destacar, era percebida de modos distintos por diferentes sujeitos e 14 urbanos. Quanto ao espaco urbano, trata-se sim de um tecido espacial. Porm, do arranjo das formas sociais que a vida urbana assume se deslocando no tem aoseenfocar acidade como objeto temporal (Rocha e Eckert, 2005), este principe mente um tecido temporal.? Parte-se do principio de que nao hd espago sem emesmo 0 congelamento do tempo para uma analise sincrénica do espacoit a adogdo de uma certa forma de orientagao temporal — nesse caso, a ausénca g deslocamento. De fato, j 0 fundador da Escola Sociolégica Francesa, I mile heim (1989), enfatiza o tempo eo espaco como categorias bisicas do entendimne ‘humano. Em termos de representagses coletivas, a categoria espaco seria ada das formas especificas de uma comunidade habitar ce conceber 0 sex teri do mesmo modo, oritmo da vida social estaria na base da categoria tempo. T tegorias dlineiam o que oelissico autor denomina“ossatura da intlignga” cerlamente, a maneiza como cada sociedade erige certas modalidades de compreensao do espaco e do tempo configura as bases a partir das quais categorias vilais como proximidade e distancia, novo e velho, utilidade e se estraturam. a Deacordo com Maurice Halbwachs (19%), diseipulo de Durkheim queap fundou o estudo social da meméria, os grupos sociais moldam o espacoa sua pria imagem. Acredito, seguindo lal idéia, que o espaco vital de uma comunigg ‘ao pode ser construico senao a partir das dimensoes simbélicas, através das qu sedotaomundo, os lugares ¢ 0s sujeitos, de significados. O que dizer em relaea0$ agitado e frenético espaco de urna metrépole, paleo pulsante einsone de uma ci plexidade social efervescente? Quanto a cidade como objeto de estudo, énecessério salientar que est. coletivo deve ser percebide como fragmentado e plural, jé que so imimeros 08 temas simbdlicos — teias de significado, conforme a definigao semistica de (Geertz, 1989) —, 0s grupos sociais, as tedes de Felagdes es lagos ce pevlena i quais os individuos aderem e torsam parte, e que coexistem num mesmo amie coletivo, Refiro-me aqui as definigoes de Gilberto Velho (1999) sobre a “moxlernge complexa sociedade industrial ocidental” — na qual coexistem intimeros grup sociais,cujas fronteiras sto marcadas por diversas bases (éunicas religiosss oa cionais ¢ etc). E estes grupos encontram-se conectados, funcional e afetivanse ~ nasesferas da produgio e do consumo, das relagdes de parentesco e de pertenga) dasteenologias da comunicagao em massa, ec. — com distantesredes sci id | Aolongodeminha tetris de pesquisanocompadasciénciessocisisestive vinewado sepa Jeo Barca de Imagens eEfeitos Visuas/Programa de Pe Grecuagao em Antwopelagia ga = YUERGS. Esse projet, coordenuad pelasProfessoras Doutoras Ara Luiza Carvalna oa Ri #-Comeli Eckert estavaorentad para o eta das forenas ce socatilidade, ners IB sose:memériacoletiva da cade de Porto Agree veltado pore construgio de olyeecey sriias de imagens brea vida urbana, Nee basque operar com os conection ceeneal dessa lindagem de pesquisa anttopoldpica aderindo ao tema das ‘dade sob Spica dos grapasurbanos, _ franscendem largamente os lim _ fa40 ou de um pais __ Asprépriasmodalidade: rogeneidade, ao fracionament presentes numa metropole. Te ral, creio ser fundamental afir 40 espaco sem corpo, sem pe: {de entendo como um dos pat mlogia — a perspectiva doe |ias Csordas (1990), uma das Efe em nossa abertura prime "objeto em relacio a cultura, ma sim como a percepcao estén "se cultural. Abre-se espaco, p [ txperiéncias urbanas — nocas “Uincia da visualidade: na medi © 0 corporalidade (culturalme _ Gis especificas de paisagem. Aheterogeneidade, que c “riencia urbana contemporanea, | miinantes. Asetéreas paisagens {4 idéia de progresso e aos pac -gonsumo, podem ser tomadas {8 produzidas pelos moradore: [joer permanente recootuch “ gontes doetndgrato.e dos sujeit “ishorizontes momentaneament | ¥eeci (1999), tudo cultura, num “pantropSlogobusca desvendar "Jogia urbana significa, essencia “sentido de se investi na descod _presentes nama paisagem urba olhar obliquo, uma atenta ob ‘emndrafo deve observar-se tam! ‘38e debruca. [assim que Canev ‘pologia comunicativa itinerante Veja-se, por exempl, 0 fendmens do sujeitose tecemnoespagodac ddos ~ trabalhando, conversa dlistantes espaciaimente, As dist Entretanto, de mod algum sep eo, ataves dae distincias, ume se deslocando no

deum comportamento om mudangas e com mu éevidente em relagao aos nadas, reconstruidas, de- , pavimentadas; pragas e e7es, estamos to familia informacdes como aspec- sobre convencimentos antropoldgicos” (Achutti, 1997: 62). Nesses termos, a fo- io, trabalhando com rela to-etnografia realizaca acerca do tema da desordem, ocasionada pela implementa- rativae biogeSfieas demo gin desta cirurgia urbana, pretende ser ummeio de discorrer sobre este fenémeno, s transformacoes urbanas .éria coletiva das popula- em que a paisagem da cidade transpira ur tempo avassalador, um ritmo implacé- vel de renovacio que envolve, necessariamente, a destruicao e o desaparecimento eriodo casticoe desorde- de certos modos de viver a cidade e ocupar seus espacos. Segundo Carlos Nelson s metrépole, como foco de dos Santos, estes espagos so apontados como “tecnicamente deteriorados, julga- quanto pesquisador, bus dos como nao servindo mais, como sendo absoletos” (Santos © Vogt, 1981: 8). rmacio urbana em curso, fendmenos sao vividos na deremodelagio da rama mm termos de uma reorga- le novasestruturas tem- lo oslogan da construgéo “financiamento do Banco | preparandoa cidade do mmedesordem-ordem, que Jque comport, sem duivi= sfeagio dotempo através 005.28), na realidade, uma ordem re ordem e desordem, na ‘ ! : a, oqueeusentia quando Slee cox Seadh desordem,na reali rae # te proveniente de uma bacao temporal advinda eera destruida, tendendo nha a surgit sob os gestos ca a i que, substituidos em inter paisagem cambiante e ind rnossas cidades. Como dis transformagdes quotidiana nio nos apercebamos dos _ gentrification (Marvey, 1996 € das atividades que delin A explosio tecnologi modificagdes profundas n dos deslocamentos, Park j populacio urbana, de mox rham o que ele define como i, ‘essoa partir do quat mult ma i j ‘mas estes se tomam maisei [em diregio aos grandes ce | e6poles. Oaumentoalarm. __ abatcar, suscita profundas ie i pubblicas sob a forma de ci Ll | quedenomina “sindromea Actes an i tgenico, que alterou por cor pendemos profundamente: para oautorcomoomaior mem, e que “engole materi reunir-se” (all, 1973: 267, Da objectividade: tempo e espaco em uma paisagem cultural do Bguram-se, certamente, co orn nas, Para Arantes, dade qn racle ~, tendendoaostent nciamos, atualmente, profundas transformagies sociais que incidem dire gr” (Arantes, 2003: 12, ia ‘mente sobreas configuracoes dosespagus que habitamos’Destaca-se,entreaismiay 4 E certo que, ao longo. dangas, um alargamento gigantesco na produgio ¢ no consumo, eulminando a, atravessaamesmaestitica emergéncia do que Mike Featherstone (1995) denomina cultura de consumo! Prali: = polo predominio de concret feram enosmes centros comettiais, las, mercados, outdoors, pichagées, grafites car noemseu redox, doautoms tazes, fachadas e vitrinas de lojas com elementos espetacularmente iluminados Me circulando na avenida Nee 3 pria dos corredores centrais, cas desportivase hidicas, E Creioserimportantequese mencine qu enter procesos so vsiveis em metespoes ah : A tio, Ps dtc como ern hs meds em que Barto awehacs spas MM pectiva era ado fluxo valor comoprefeityquese ncumbiu deiniciasranlormagaodaTaris medievel na Pasuanelcey minutos). Hoje, entretanto, Areforma Pasos(prefelto Perera Passos, 192-16), no Rede Janet, surgi com cba pen camo ds peoraasae sae vsfonae nds rnemon el dai fare gna aig etait {ede cortgoe Bin Pon Alegre no i so ras que sae teens 7 garratamentos na suposta v Denti tem mente qucfalmas de procesoseexperirciassanas no captatismo Fae) © automével, ‘simbol 169.18) Tomwsefondaneria asin iearenconaderasospecoscome olunpeoee UMM & cuporie te eet mas, domesmo mado, odinheta,o cpl suncieulato Wale mecioaraee Rane cresce no pais, movimenta mel, 0 dinheiro é um dos aspectas mais centrais de nossas vidas, mediador e regulador de . eae ni eases relagies soca, para Hovey elemento estverante do que sedating como unnagey | aes respond, objetivamente, » poles dar sopulagicecioanas © A entre partes distintas da jem cultural do sciais que incidem direta- ‘Destaca-se, entre tais mur consumo, culminando na altura de consumo Proli- rs, pichages, gratites, car- cularmente iluminados € isivelsem metespolesdomus- ue Bardo Haussinana aparece rismedievalna Pariemademna eJoneito, surges com ocbjact "a pobsese degradadas, rep miimeras as obras que segue cbaras:ne capitalism (Harvey, spectoscomootempoe deep Vale mencionar que, para Sa 888, mediador ¢ regllador de D que se define como uma geo !AAGENS PABSAGENS ETENDCS WA MEROFOLE CONTEMFORANEA we «que, substituidos em intervalos regulares, acentuam ainda mais a formagao de uma paisagem cambiante e indefinida, alterardo sensivelmente os padroes estéticos de nossas cidades. Como disse, isso toma mais e mais imperceptiveis as pequenas transformacbes quotidianasnas porgées mnateriais da cidade, ¢, por vezes, lovaa que niio nos apercebamos dos amplos processos de verticalizagao do tecido urbano, de Seninfication (Harvey, 1996: 15), de transiormacio das caracteristicas populacionais das atividacies que delineiam as territorialidades urbanas. A explosio tecnologica nos meios de transporte e de comunicacao produ, modificagoes profundas na nossa forma de percepgao do espaco, das distancias & dos deslocamentos. Park, no inicio do sfeulo XX, aludea crescente mobilidadeda populagio urbana, de modo que as mudancas sociais entio vivenciadas determi- nam 0 que ele define como “mobilizacac do homem individual” (1973: 62) — pro- esso a partir do qua! multiplicam-se as 2ossibilidades de associagao e de contato, ‘mas estesse tornam mais efémeros e instaveis. Ocrescimento de fluxos migratérios em diregdo aos grandes centros acaba per produzir um inchamento de nossas me- {r6poles. Oaumento alarmante da frota de veiculos, cujo fluxoa trama urbana deve abarcar, suscita profundas modificagoes que acabam por acarretar drasticas obras plblicas sob a forma de cirurgias urbanas, Edward Fall (1973), quando trata do que denomina “sindrome automobilistico”,afirma que oautoméveléum arletacto tecnico, que alterou por completo o nosso género de vida, do qual hoje em dia de- pendemos profundamente ao qual nao podemos renunciar. 0 automével aparece ara 0 autor como maior consumidor deespago, pubblico epessoal, que criow 0 ho- mem, e que “engole materialmente as espagos que antes utilizava o homem para reunir-se” (Hall, 1973: 267, trachugio mina). Os automdveis e suas estruturas con- figuram-se, certamente, como elementos dominantes em nossas paisagens urbe- nas, Fara Arantes, cidade que “surge refigurada e ostetizada pelo mercado — e pa- racle —, tendendo a ostentar o que se poderia chamar de imagens cenogréficas de ar” (Arantes, 2003: 12, itdlico do autor). certo que, a0 longo de seus 13 kr, a 32 Perimetral impoe aos bairros que atravessaa mesma estética, paisagensurtanas semelhantes, em que a tOnicase tece pelo predominio do concreto da via, do processo de verticalizacao do tecido urba- ‘no em seu redor, do automovel como elemento central. Hé poucas linhas de 6nibus Girculando na avenida, Nos finais de semana, por exemple, a populaao se apro- pria dos corredores centrais, destinados ao fluxo do transporte coletivo, para prati_ «as desportivase liidicas. E 0 curioso & que, quando se dew o inicio da obra, a pers- pectiva era a do fluxo veloz entre zona sul ezona norte da cidade (Falava-se em 20 minutos), Hoje, entretanto, o fluxo é len:o — em funcao do volume de veiculos, bem como da profusao de seméforos em cruzamentos e dreas de travessia de pe. destres, que as vezes se suceciem em intervalos de 30 metros. Todos os dias hi en= garrafamentos na suposta via répida. © automével, simbolo concreto da mobilidade do homem individual, € suporte do crescimento econdmico do Brasil, uma das induistrias que mais cresce no pais, movimentando imensas quantidades de capital. Este artefato responde, objetivamente, a uma necessidade de deslocacio agil e eficiente por entre partes distintas da cidade, seguindo rotas e rotinas mais ¢ mais 180 UMACIDADEDEOUAGENS ACIS PAAGENSE TEMPOBN individualizadas.? Do mesmo modo, no que tange aos seus aspectos representack, uss do espaco urbano. Aludo onais e subjetivos, o automével éum objeto de desejo generalizaco em nosso “ies através da nogio de personal ginério cultural consumista” (Featherstone, 1995) — simbolo de poténcia, inde | tmulos que se perde a capacida pendéncia, status ~ e acaba por suplantar o transporte coletivo em termos de Vista a proteger a subjetividac lume de espaco ocupado em nossas cidades. FF truicao criativa era evidente n Desea forma, a exacerbacao de uma cultura de consumo, a explosio tecnologia | ‘Assim, quanto as formas nos transportes e na comunicacio, o crescimento exponencial da frota de veiculese || 4) reconstrugao das ordens de o outras recentes mudancas sociais deflagram e, ao mesmo tempo, 840 a expressiocon- espaco (habitacio, principalm creta da emergéncia de novas modalidades de uso e de ocupacao dos territories ue pela ligica dos deslocamentos nos, de novas formas de concepeao do espaco da cidade. Afirmo, portanto, que bi ‘rafia, grandes diferencas ent conexies entre as transformagies culturais em nossa socedade pos-modema (ém __ soesmais aprofundadas. No p termos de estilos de vida formas de comportamento e consumo, habitus ethos ute 4M mente, por ser um dos troche nos) ¢ as formas de ocupacio do espaco. Trata-se de um processo.em que 0 espagiié 4s divergéncia entre os espacos di eternamente destruido e reconstruido, remocelado — que remete ao que Nietzsche ie das ruas menores que com fine como a dialéctica entre ser destrutivamente criativa e criativamente destrutivo | tral, quando as obrasjé estavar (Nietzsche citado por Harvey, 1989: 25-26) — e que implica novas formas de relags9) 4M vinha sendo establizada pel entre sujeitoe paisagem, pautados, sobretudo, pelos prineipios da racionalidade es, ‘onde acompanheio periodo de cincia, Diante da obsolescéncia de maquinarias, construcbes e mesmo complexas it bitantes traumatizados pelasin fr-estruturas urbanas eestilos de vida, Harvey afirma que a “destruigéo crativa se | senhora, moradora do bairro h toma necesséria para a sobrevivéneia co sistema (1989: 191), Nesse sentido, se quest ~ sua casa demoliaem fungio ¢ na, mirando a solidez material de uma construgao, ce um canal, de uma via rapidat | nose tivesse passadoum cami por tris dela, a inseguranga que jaz nos process0s de ctculagdo de capital: “quant. MM logia entre tcido material da tempo mais nesse espago relative?” (1989: 192, tradugio minha), 7] —__Paraosmoradores dos dc | da cidade como algo inevitave | pode nada, anio ser estabilza Das subjetividades e do conflito __ formagbes (no sem conflitos, © moas facilidades paraatravess 1089), destaea a beatificagso da catora maemo, dccorrente da prepondeyi a Sfode linhas de transportecole das relagies objetivas em detrimento das relagdes subjetivas, imperando na vida, das grandes cidades a impessoalidade e o anonimato. Isso configura um dos aspec- tos do que oautor entende como a tragédia da cultura: as forges que minam os “Tambien Louis With (1973) eR to estao dentro da propria cultura , desse modo, as relaghes entre sujitos, mais aE (Chicago ~os que pineirotom mais impessoais, acabam por levar a uma fragmentacSo da cultura subjetiva.® ids socal = Salentam a hte Para Simmel, 6 cada vez mais o tempo cronolégico ¢ linear que guia nossas roti aie peeeeooes nas, erguidas no entremeio de horérios rigidos e em virtude dos quais pouco tempa | a ities Caiman tems perder — sobretudo no que diz respeitoa tempos vazios de esperase de dee 2 bas crater transite das Porlagos scandy o ela 11 Oquetoreate que deacon Iidade,mantendo assum er ago" (496 27) 32 Deonflto, para Simmet, no 9 Nos termos da sndome atomabistor de Edvard Hall (197%), cada vex menos se concebe sitio vida dos grapes, indisp tandes cdades,“gastar” tempo nos deslocamentos entre sas regidesc teriérios. A mais ‘como todas as formas de inter dos veiculos trafega pelae ras comporcando um ou dois passegeiros. Assim sendo, regal averudo a unidade. No exis pensamento de Zygsmunt Bauman 2001), para quema Velocidadessriag veto sunéamentl io ederepulsio, Asdisc Rossa atuais oiedades ocidentis : shes humanas.e, 35 vezes, sl das obras: “agora o pioré passou” De fato,a grande perturbacio se processou nd pe odo que defini anteriormente como a liminaridade da desordem a estabilizagis d do formadoras de mapa: nova ordem era, enfim, inevitavel. E, mais do que isso, em larga medida era desejade, | tas formasde vera cidadk Entretanto, outras pessoas, como a senhora acima citada, nao digeriam tao faciments ‘mviltiplos circulos sociai a destica intervensio sobre os seus espagosafetivos, cus de enteizamento desig, vizinhanga,étnicas, rlig subjetividade, 4 muitos universos, ¢ essa A.cidade, assim, se tece repleta de sonhos de futuro, de muitos futuros poss Ha, entretanto, processo: veis — alguns dos quais nao se consolidam. O préprio ato de projetarimplica uma cas, Como vimos, 0 auto atividade de construsdo simb6lica¢ imaginativa, que antecipa oprodutodenossas dade objetiva, surge com agées. Mais do que mera racionalidade, envolve desejo e inconsciente. Assiay po na contemporanea. A ef demos pensar numa subjetiviciade especifica ~ ngcessariamente fragmentada,$-_ rmentos mais e mais etér gundo Simmel — oriunda da experiéncia vital da cidade contemporsnea. A destruicao de lug Cabe questionar o porqué de um certoentusiasmo coletivea com obrasde rees. des implica contestagées truturagao espacial da cidade, principalmente quando se trata de sua malha vidra, ‘emocional. Vivemos de f Segundo Halbwachs (1990: 124) “ha, no canteiro de obras, uma efervescéncia win nua dualidade:entre aco entusiasmo undnime, primeiro porque é nm comeco". Por certo, através da inter: vias, artérias urbanas, de ven¢ao cindrgica sobrea matha viéria da cidade, resolvem-se problemas detrafego, $30 de vestigios da cidad Entretanto, nao se trata apenas disso, Retornemos ao slagan de divulgacio da obte, dores, a tiniea éa de qui “3. Perimetral: preparando a cidade do futuro”. Que futuro éesse? Em que medic Indo se pode ser contra 0 daaconstrugio da grande avenida nos leva em diregio aele? Todo o presentejaen carregacios de marcas er gendra certos futuros. E certo que, como propée Maffesoli, a cidade deve ser pensa soédoloroso. Emorte. Ex da como conjunto complexo, formado tantona materialidade das coisas quanton imaterialidade das imagens (Maffesoli, 1996: 264). No caso da perimetza, as ima {gens de futuro ja hd muito estao contidas no passado, no traco dourbanista. b, cabe. afirmar, hi uma questio de escala quando congrontamos a perimetral com ouleat avenidas, avenidas com ruas da cidade e ruas com vielas. Se as discursividades apontam para. idéia de uina Porto Alegre do futuro, este, noentanto jexistia mam plano diretor de 1959 — ou seja, no passado, As avenidas pelas quais o curso da pe, Atantes Noto, Antonio Aug rimetral seguit sA0 espacos jé ha muito habitados por imagens da mega-avenida, GAchutt, Luiz Bauardo Robi © proprio futuisme de certos equipamentos urbanos, como 0 viaduto entee ag Sabre Cotiiano, Lixo e Avenicas Carlos Gomes e Protasio Alves, é pautado por imagens. Bachelard, Gaston (1988), A. Sim, a cidade se transforma continuamente;entretanto, existem gestos trans Bachelard, Gaston (1993), 4. formadores de diferentes naturezas. Creio que exista uma distancia consideravel Bauman, Zygrmnt (2001), centre a agitacao temporal (Bachelard, 1988) continua e quotidianae aquilo que por (Canevacci, Massimo (1993), demos definir como sendo um “urbanismo de trator”. “ Urbana, So Paulo, St Csordas Thomas (1990), "En pp.5.47, Durand, Gilbert (1997), As E Sendo tinicas as viv ‘essa continua tensio devi eterno retorno, Referéncias bibliog 13. Cabevelembrar que. segundo Bachelacd (S88) seem nossharmioni ner, nosso eu tex elemantos 80 sgribcativosaletivartente ns ertamente sentinos eave esaparecinenth eee 14 NoBras illzamosa palavte patalaparadesgrar asniveladonss ow totres que placa Arguctpologi Ger 8 osterendse “passam por cinta” de qualquer obsticafos seria, ass, un i Durand, Gilbert (1999), O im ‘rola designando a violencia do processode intervengio. Vale nota qu, adespeliodessa vl Paulo, Deel Jénca, 3 Pesimetal no enftentou grandes oponigtes. As mobiizagBes de oposs 4 ‘Durkheim, Eanile (1989), As demoligio de préstios pora a const coc vera concentartvs a prseragio da | Paes , sfcos, como umn igrejana zona norte, onde avenida softs um afurulamento. algunas. |) ae sciagbes de mornores, como em Teresdpols buscaram seu com plaufcacores wba Featherstone, Mike (1995), C Adequacoes para 09 projetosem seus baierosexpeciios 9 Geertz, Clifford (1999), A in uurbagdo se processou no pe- Jesordem; a estabilizacao da larga medida, era desejada no digeriam tao facilmente cus de enraizamento de sua ro, de muitos futuros posst- ato de projetar implica uma ntecipa o produto de nossas, }einconsciente. Assim, por ariamente fragmentada, se- de contemporanea. scoletivocom obrasderees- se trata de sua malha vida. ras, uma efervescéncia, um Por certo, através da inter -m-se problemas de trafego. ogan de divulgacto da obra: uturo é esse? Em que medi- aele? Todo o presente jéen- oli, a cidade deve ser pensa- lidade das coisas quantona caso da perimetral, as ima- o trago do urbanista. E,cabe 105 a perimetral com outras jelas. Se as discursividades te noentanto é existia num as pelas quais 0 curso da pe- imagens da mega-avenida s, como 0 viaduto entre as or imagens. tanto, existem gestos trans- uma distancia consideravel quotidiana e aquilo que po- maniaintera, em nossorepouss, a enlimos esse desaparecirent. iadorasou tratoree que planifcam sha, asim, am “urbanisino de par slenetarque, a despeito dessa vio~ [AS mobilizagbes de oposigso 3 aramese na preservagso de alguns em aburdiamento. Algamss a> scatic com planiscadores urbans IMAGENS FABSACENS TEAS WA METROPOLECONTEMRORANEA 18 Sendo tnicas as vivencias individuals e coletivas nos espagos da cidade, sen- do formadoras de mapas urbanos invisiveis, cada individuo possuiria, assim, cer- tas formas de ver acidade que sdo s6 suas, Os individuos, entretanto, participam de ‘multiples circulos sociais, demarcados por fronteiras identitarias — de classe, de vvizinhanga, étnicas,religiosas, afetivas etc, Os sujeitos atravessam e participa de muitos universos, ¢ essa fragmentacao cultural marca nossa sociedade complexa. [Hi entretanto, processos objetivos quese configuram como tendéncias hegeméni- cas. Como vimos, 0 automével particuar, enquanto sonho de consumo e necess dace objetiva, surge como uma realidade a ser abarcada e assentada na vida urba- na contemporinea. A efemeridade do consumo transforma as paisagens em ele- mentos mais e mais eléreos. A destruigao de lugares familiares e de seguranca para sujeitos e coletivid des implica contestagdes, resistencias cu simplesmente tristeza e desestabilizagio emocional. Vivemos de fato, ¢iss0 ¢ uma das marcas de nossa cultura, wma cont nua dualidade: entrea consciéncia da nacessidade e inevitabilidade da abertura de vias, artérias urbanas, de destruicao cr.ativa, ea instabilidade, a dor pela dissolu- cio de vestigios da cidade antiga, de territérios de referencia, Nas falas dos mora- dores, a tonica éa de que a cidade tent yue erescer, Ueslucarse, (ransfurmarse, € nio se pode ser contra 0 progresso; eniretanto, quando este incide sobre espacos carregados de marcas e referéncias nas siografias individuais ¢coletivas, 0 proces- s0€ doloroso. [ morte. f um fato: tais tendéncias se amalgamam em nossas vidas. E essa continua tensdo deve ser permanentemente assentada, como uma espécie de eterno retorno. Referéncias bibliograficas Arantes Neto, Antinio Augusto (2003), Paitagens Paulistanas. 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