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Pana una Socio.0ct D4 Civ A Sinorse on Descesio 1a tradig filosfica que tinha evoluido de um universalism «avanscendentab» depo kantano para uma nogo da racionalidade Ji relativizada ~ por exemplo, como mostrarei mais tarde, em Carnap (1950) -, reencontrasse, com a nogdo de paradigma, a ‘radigdo kantiana do @ priori, mas omado num sentido relativizado ‘ou, mais exactament, sociologizado, como em Durkheim. Pelo facto de aquilo que surpi como tema central da obra, saber, a tensio entre o establishment e a subversio, estar em afinidade com o ambiente urevolucionsrion da época, Kuhn, que ‘ada tina de revolucioniro, foi adoptado, um pouco conta vontade, como mentor pelos estudantes da universidade de Columbia & integrado no movimento da wontracultura» querejeitavaa atacio- nalidade cienifica» e exaltava a imaginagdo contra a razio. Do ‘mesmo modo, Feyerabend era o fdolo dos estudantesradicais da Freie Universitit de Berlim (Toulmin, 1979: 155-156, 159). A invocagHo destas referéncias tedricas compreende-se quando se ‘observa que o movimento estudantil leva a contestagdo politica ara o campo cientifico, numa radio unverstiriaem que 0 fosso entre a scholarship eo committment particularmente acentuado: trata-se de ibertar 0 pensamento ea aceao do controle da razio e as convengdes, em todo o mundo social, mas também na cigncia, Em resuo, esta teoriaciemiiea ficou a dever 0 seu protago~ nismo nao tanto ao conteido da mensagem ~ excepto talvez 20 titulo: «A Estutura das Revolugdes»—mas o facto de ter surido ‘numa conjuntura em que uma populagio culta~ os estudantes ~ se pide apropriae dele e transform-lo em mensagem revolucio- tia especifica contra a autoridade académica. O movimento de 668 transportou para o tereno privilegiado da Universidade a ceontstagdo de forma api em causa os prncipios mais enraizados «enunca contestadas em que se baseava a Universidade, acomepar pela autoridade da cigncia. Usiizow armas cientifias ou epist- ‘moldgicas contra ordem universtiria, que devia parte da sua utoridade simbslica a facto de ser uma episteme institu, e de assentar, em itima instincia, na epistemologia, Estarevolugao fathada abalou, na ordem académica, prinpios essenciais e, em particular as esruturas cognitvas dominantes da ordem académica 32 «© cientifica. Um dos alvos da contestago foi ortodonia as cidneias sociais eo esforgo da trade capitolina~ Parsons, Merion « Lavarsfeld (a que nunca renunciou) ~ para se apoderar do mono- lio da visio leitima da eiénca social (com asocologia da cna como falso fim ecorolirioreflexivo). "Masa principal forga de tesisténcia ao paradigma americano surgtia na Buropa, no campo anglifono, com a escola de Ei bburgo, David Bloor e Barry Barnes, grupo de Bath, Harry Colin, «sem Franga,omeuartigo de 1975 sobre ocampocietitic (19750. 3.0 Programa Teérico “Forte” David Bloor (1983) apofa-se em Wittgenstein pata funda uma ‘coria da cigneia segundo a qual aracionaidade, 2 objectvidade: 1 verdade so normas sociocuturais pouco abrangentes, conver ‘es adoptadas e impostas por grupos particulares: reioms os ‘onccitos wittgensteinianos de wanguage gamen e wf of ie, {que tém um papel central nas Philosophical Investigations, € intexpreta-os como se se eferissem a actividades sociolinguisticas ssociadas a grupos socioculturais particulars em queas priticas ‘to reguladas por normas convencionalmente adopiadas pelos ‘grupos em causa, AS normas cintiieas tém os mesmo limites ‘ques grupos pelos quais so aceites.Gostaria de citar Yves Gingras (2000), que nos fomece uma apresentagio sintética dos quatro Drinepios do «programa terico forte: «David Bloor, nose liveo Knowledge and Social Imagery, publicado em 1976 e eeditado ‘em 1991, enuncia quatto grandes prineipios metodoléxicos que ‘devem ser seguidos para se construir uma convincente teoria socioligiea do conhecimentocientifico: 1) ausaidade: a expicagao proposta deve se causal; 2) imparcalidade: 0 socidlogo deve ser imparcial relaivamente& “verdade” ou 8 “falsidade” dos enun- ‘ads debatidos pelos agentes; 3) simi: este prinepio estipula ‘que“os mesmo tipos de causa" devem ser ulizados para explicar| tanto as erengas julgadas “verdadeiras” pelos azentes como a consideradas “ilsas" 4)reflexividadeexige qu a propria socio. 33 Paws un Socrorocts v4 Cite A Sinorss oa Dscessio Toga das cignciasseja em prineipi submetida uo tratamento que aplica is outras eigncias, Em numerosos casos de estos fudados neste prncipios, a causalidade foi interpretada de forma bastante lata para inclu ideia de compreensdo (evitanda assim a antiga icotomia“explicagio versus compreensBo"). Enguanto a principio , documentado pelos mertonianos que demonstraram, por exemplo, como vimos, ‘que se uma descoberta for feita num laboratrioreputado de uma ‘universidade prestiginda, tem mais hipéteses de ser vaidada do {que se for realizada noutto menos considera. 46 4. Um Segredo de Polichinelo Bem Guardado 0s estudos de abo romperam com a visio um pouco distanciada ¢ global da ci para se aproximar mais dos lugares de produgio. Representam, pois, um contributo incontestivel que gostaria de evocar através das imagdes de um des membros desta surent, Karin Knorr cos so no s6 tecnicamentefabrica- dos nos laboratris, mas também construidos de forma indisso- ciavelmente simbiea epoitca através das téenias litera de persuas20 tal como as podemos encontrar nos artigos cientiticos, através de estratagemas politicos pelos quais os cientistas visam formar aliangas ou mabilizar recursos, através dasseegbes que 10s factosciemificos constroem a partir do interior Ente 0s «pio~ neiros» dos estudos de laboratéro, postara de evocarostrabalhos ‘de Mirko D. Grmck (1973) e Frederic L. Homes (1974), que se basearam nos registos das experiéneias laboratoiais de Claude [Bernard para snalisar diferentes aspectos da obra deste cents Neste trabatho, vemos como os melhores cientista reeitam os resultados desfavorveis como aberrapes que omitem dos relat Figs ofieias, como por vezes transformam experigncias equivocas ‘em resultados decisivos ou modificam a ordem em queas expert cis foram feitas, ete, ¢ como todos se sujeitam is estratéxias| FetGrieas comuns que se impsiem quando transformam os restos das experigncias laboraorais em material pats publicagio. Mas deve citar-se aqui Medawar, que resume bem as distorges «que se operam baseando-se apenas nos relatries publicados: «0s resultados parecem mais deisivos ¢ honestos; 08 aspectos mais criativos da pesquisa desaparecem dando a impressio de que a imaginagao, a paixto, a ate nfo desempenaram qualquer papel ‘ede que’ inovagio resulta nfo da actividade apaixonada de mos ‘cespiritos profundaente empenhades, mas da submissZo passiva 0s preceits estéreis do pretenso "Método Cientitico”. Esteefeto {de empobreciment lev raficar uma Visto empirista ou induti- vista, antiquads eingénua, da pritica da investigagto» (Medawat 1964). a7 Pana une Socioocn pa Cbncut A Sinorse 04 Discussion ‘Karin Knor-Cetina partir de um estudo sobre um aboratéri ‘em que enuncia de forma minuciosa as progressivasfases de um «esbogo que ¢ finalmente publicado apis dezasses verses suces- sivas, analisa em pormenorasteansformagies da retéri do text, ‘trabalho de despersonalizago evade a eabo pelos autores, et. ‘Lamenta-se apenas que, em vez dese entegara longas discussdes \eério-tloséicas com Habermas, Luhman, tea autora no tena apresentado as informagdes propriamente soioldgicas sobre os autores e sobre o labortdrio que permitriam relacionar as esta ‘gas retricasullizadas com a posigzo do laboratirio no campo ientiticoecomas disposigbes dos agentes envolvides na produgio| circulagio dos dbafs.) Mas foi nos estudos de G. Nigel Gilbert ¢ Michael Mulkay (1984) que encontrei a descrigio mais correcta e mais completa dos conhecimentos desta tradigao. Estes autores mostram que os iscursos dos cientstas variam conform ocontextoedstingvem dois urepertirios» (parcee-me que sera profeive dizer dus re cas). O etepertrio empirsta &earacteritico dos artigos formas 4e investigagdo experimental que so eseritos de acordo com a representagdo empirista da acpio cicmtitiea: 0 estilo deve ser {mpessoale minimizara rferénsia aos agentes socaise 20s seus prinepios de forma a parecer objectivo; as eferéncias depen {nein das observagdes relativamente a especulagdes tebricas| de um insteumeanto simples, uma pipet, ‘Woolgar, 1988b: 85) Podem assim tata a ciéncia natural como una etividade litera ereeorrer a umn modelo semoldgico ode ‘A.J Greimas) para deserever e interprear esta circulagao dos. ‘rodutoscientiticos. Ateibucm oestattoprivlegiado conferidois cigncias natrais nao a valdade particular das suas descobertas, mas ao equipamento dispendioso eas estatévasinstucionas que ‘ransfoemam os elementos naturaisem textos pratcamenteinaac ves, sendo o autora tora, a natureza eo pablico efeitos de texto, ‘A visdo semioligica do mundo que 0s conduz a acentuar 0s ‘rags e os signos leva-as a esta forma paradigmtica da pritca eseokdstca que € 0 rextimo, ue constitu a realidade social como texto (@maneira dos etndlogos, como Marcus (1986) ou atémesmo Geertz, ou dos historiadares, coma linguistic urn, que, na mesma poca,afirmaram que tudo é texto). A eignea seria assim apenas um discurso ou uma ficeo entre outras, mas capaz de exereer um ‘feito de verdader produzido, como todos os outros eleitos Tterrios, a partir de caracterstcastextuais como o tempo dos vverbos, @estutura dos enunciados, os mods, et. (2 auséncia de qualquer tentativa de prosopografia condena a procurar a forga dos textos nos prprios textos) O universo da cgneia ¢ um mundo que consegue impor universalmente a crenga nas suas fcgbes. ‘A posigio semiologista nunca ¢ to visivel como na obra The Pasteurization of France (Latour, 1988), em que Latour tata Pasteur como um signifcante textual inserido numa historia que liana na quinta, as pritcas sexuaise a higiene pessoa, a arqu- tectura eo regime terapéutico da clinia, as eondigdes Sani na cidade e38entdades mirosedpicasencontradas no labora, ‘em sum, odo um mundo derepresentagdes que Pasteur construi «© pelo qual se afirmou como cientista eminent. [Gostaia, polo ‘contririo, de mencionar aqui um trabalho que, apoiando-se numa Teitura minueiosa de boa parte dos laboratory notebooks de 45 Pasa ue Socnoocis oa Cnces A Sworse oa Discussion Pasteur, oferece uma visto reaista e bem informada, mas sem ulizarostensivamente efeitos terion grtuitos, da aetividade © também do «mito» (capitulo 10) pasterianos: GL. Geison, The Private Sclence of Louis Pasteur (1995).] ‘© semiologismo pactua com uma visio ingenuamente maguia- vélica ds estatéyias ds centstas: as agdes simbélicas que estes realizam para fazer reconhecer as suas wiegBe so, 30 mesmo tempo, estratégias de inluéneia e de poder pelasquais servem sua propria grandeza, Tratase assim de compreender a forma ‘como um homem chamado Pasteur constr aliangas e fe prose Iitismo para impor um programa de investizaglo, Com toda a mbiguidade resultante do facto de tata enidades semiologicas| ‘como indicadores séio-histrcos, Latour trata Pasteureomo uma cespécie de entidade semioldgica que age historicamente,e que age como um qualquer capitalist (poderiamos ler, nesta perspctva, ‘entrevista inttulada «Le dernier des capitalistes sauvages> (Latour, 1983),. imaginagao (centfca esti no poder. Fez-se desaparecer a dferenga tcvial entre as agentes humanos 7 Pana us Sociov001 pa Civ ‘© 05 agentes no humanos (a porta automatica toma o lugar de ‘uma pessoa e imila a acgH humana ao preserever quem deve passat) e podemos disertarliveemente sobre:0 modo como dele- ‘Bamos poder nos objectos tenicos. (Sei que, nesta sal, hd ovens ‘do curso de preparago da sla a lado: eis uma histia que, por uma vee, poder constar das suas adissertagbes» e produzir um certo efeito; & um regresso ao curs inicil..). Para demonstrar ‘que aquilo que pode parecer um simples jogo literiio &, de facto, ‘expresso de uma verdadera opgo«netodolgiea» de wescola poderia evocar também Michel Callon (1986) que, no seu estudo sobre as veitas, colaca no mesmo plano os pescadores, a5 Vieira, fs gaivotas e o vento enguanto elementos de um «sistema de sujeltos». Mas fcaret por aqui TNio deixo de sentir aqui algum mal-star face ao que acabo de dizer: por um lado no queria dara esta obra a importineia que cla aribui a si mesma e carter 0 riseo de contribur, sem querer, para valorizi-lalevando a anilise ertca para além daguilo que teste enero de texto merece, e penso, no entanto, que é bom que -nsja pessoas quo, como Jacques Bouveresse (1999) fez propesito de Debray ou Gingras (1995) sobre o mesmo Latour, aceitem des- ‘ender tempo. energa para ibertaraciéncia dos efeitos funestos {da hubris ilosstica; mas, por outro lado, lembro-me de um belissi- mo artigo de Jane Tompkins (1988), que desereve a Hoxie da ‘righteous wrath» ~ que se poderia traduzir por «santa cera» ~, ou sea, 0 esentimento de suprema retidao» (sentiment ‘of supreme righteousness) do hers de western que, 30 principio, ‘injustamente maltratado» (unduly victimized), pode ser levado a fazer «aos vilios (agains! she villains) © que anteriormente os vilos the tnham feito» (ings which a short while ago only the villains did); no mundo aeadémio ou cienttio, este sentimento pode levaraguele que se sent investido de uma missojusticina ‘uma aviolncia sem derramamento de sangue» (bloodless Violence) que, embora se conserve nos limites da deeénciaaeadé- mica, se inspira num sentimento absolutamenteidéntico a0 que levava o herbi de western a fazer justiga com as suas prOprias| rmiios. E Jane Tompkins observa que esta ira egiima pode fazer 48 A Sworse a Discussion ‘com que alguéim se sina jusieado em atacar no sos defeitos| ‘os eros de um texto, mas especicidades do individuo. Nio escondo que mesmo aqui, através do diseurso de autoridade(euja parte essencial & dedicada a afirmar a autoridade do diseurso — Femeto aqui para anise que fiz da ret6rica de Alhussr-Baliba ~ 2001), as suas formulas encantatrias e autolegitimadoras (proclama-se «radical», acontea-intuitivo», «novo», 0 seu tom peremptrio (6 previso ser surpreendente), eu visavaastendéncias| sssociadasesaisticamente a detenminada origem social (6 veedade que as tendéncias para a arrogancia, para 0 bly até para a Jmpostura,paraa procura do feito de radicalidade, ete, nao es ‘qualmente dstibuidas entre os investigadores de acon com as ‘suas origens soci, o seu sexo ou, melhor, segundo 0 Seu sexo €| ‘origem socal), Endo consigo deixar de supor que se esta erica ‘conhecew um sucesso social desproporcionado aos seus merits, talvez porque a sociologa da cigneia oeupa uma posigo muito ‘especial na sociologia, na frnteia indeisa entee a Sociologia ea Filosofia, de modo que podemes fazer aa economia de uma -verdadeira uptura coma ilesotia e com todos os proveitossociis| associados a0 acto de alguém se apresentar como filésofo em certs etculos — rupura longa e dispendiosa, que implica a aqui- sido, dificil, de instrumentos tenis e grands investimentos| inaratos em actividades eonsideradss inferiores © alé indignas. Estas tendéncias socialmente constituidas para a audicia e para a rupture, que, em campos cienificos mais eapazes de impor os seus eonirolns ¢ censuras, se poderiam atenuar e sublimar, ‘encontraram af um terreno que Ihes permiiu exprimirem-se sem lisfarce nem feo, Seja como for, o sentimento de rightouness ‘que podia inspirara minha «santa ebleray encontra, a meu ver, 0 seu fndamento no fcto de essa pessoas, que recusam geralmente ‘onome ¢ estatuto de socilogos sem serem realmente capazes ide se submeter as exigéncias do rigor filos6fico, poderem ter sucesso junta de membros ren -admitios arasar 0 progresso| da investigagto levantando falsos problemas que fazem perder ‘muito tempo, globalmente, evando alguns impasses eenvolvendo ‘outros, que triam algo dla fazer, num trabalho criti, muitas| 0 Pansenu Socrovocis na CNcus _vezes um tanto desesporado, devido forga dos mecanismos sociais tapazes de ststentaro ero, Penso especialmente na alladoxia, © to sobre identidade das pessoas e das iis que se faz sent fem todos os que ooupam as repidesincertas entre a flosoia eas ‘igneiassociais(e também o jomalismo), e qu, situados de um & ‘do outro lado da Frontera, tanto no exterior, mo Régis Debray, ‘com as tas metaforascintiicas que imitam os sinaisexteiones| a cientficidade (o teorema de Gadel, que provocou a «santa clera» de Jacques Bouveresse), a sua Tormalidade pseudocien- tia, ca mediologie», comono interior, como os nossossocilogos- lésafosda ciénca, questo particularmentehibeis eesti particu- Tarmente bem colocados para inspirar uma crenga enganadora, allodoxia, jozando com todos os duplos-jogos,garantes de todos ‘0s duplos eanhos decorrentes da combinago de vériosKexivos de futoridade ede importinca, como oda filsofia eo da eiéncia.] 50 Um Mundo a Parte ‘Um dos pontos centrais pelo quais nfo subscrevo as andlises ‘que evoqueié0 conceito de campo que coloca a tea nas esr ‘turas que orientam asprticas eientiicasecujaeficicia se exerce ‘escala microssociolgica em que se situa & maior parte dos ta balhos que critique, em particular as estudos de laboratrio, Po- ‘demos, para mostrar os limites destes estudos, comparé-os com quilo que eram, num dominio completamente diferente, as mono- arafias regionals (e até boa parte dos trabalhos etnoldgices) que fomam como objecto micro-unidades socais eonsideradas aut6- ‘nomas (quando isso era questionado), univers isoladosecircuns- eritos que se pensava ser mais Ficcis de estuda porque 0s dados| se apresentavam de alguma forma ji preparados a essa escala (os recenseamentos, os cadastos, te). 0 Inboratéro, pequeno Universo fechado e isolado, que elaborarelatérios para andlise€ registos, parece, do mesmo modo, invocar semelhante abordagem rmonogrifica eideogrtfica (ra, percebe-se imediatamente que olaboratério um miero- cosmo soialstuado num espago que abrange outros laboratrios constitutivos de uma discplina (ela propria situada num espago, tamisém hierarquizado, de dseiplinas) e que deve uma parte muito importante das suas caraeteristieas 4 posigdo que ocupa neste st Pans wn Socio.oct m4 Cuca espago. Ignorar esta série de encaixes estrutuais, ignorar esta posigio (telacional e os efits de posigto carelativos, significa Sjetar-se, como no caso da monogratia regional, 2 procurar no Taboratro prinepiosexplcaives que estiono exterior, nesta ‘doespago em que cle est inserido. SG uma teoria global do espago cientifico, como espago estruturado segundo ldpicas simultanea ‘mente genericas e especificas, permite compreender realmente tum determinado ponto deste espago, laboratrio ou investigador particular "A nogo de eumpo marca uma primeira ruptura com a visto iteraccionista pelo facto de levar em conta existéneia da estruturat de relagies objetivas entre os laboratrioseente os investizado~ esque comanda ov orenta.s pritcas; opera uma segunda ptr, ‘porque a visio reacional ou estruural que into se associa & ‘ma ilosofiacisposicionaisa da acgo que rompe com ofnalsmo, correlativo de um intencionalismo ingénuo, segundo 0 qual os fgentes ~ no easo particular, 08 investigadores ~ seriam pessoas caleulistas mais interessadas nos benefeios soci assezurados ‘0s que parecem ter descabertoa verdade, do que na procura da prépria verdade, ‘Num artigo antigo (1975a), propus a ideia de que o campo ientifco, tal como outros campos, € um eampo de forgas dotado ‘deuma estrturaetambsim um espaco de eonflitospela manuteng0 fu transformagao desse campo de forcas. A primeira parte da definigda (campo de forgas) corresponds go momento Fisicalists {a sociologiaconcebida como fisica socal. Os agentes, cienistas ‘soados, equipas ou laboratdri, cram, pela suas relagBes, o riprio espago que os eondiciona, embora este exista apenas gragas entes que nele se encontram c que, para falar como a fsien, tedeormam o espago envolventey conferindo-the wma determina esrutura, E na relagio entre os diferentes agentes (concebidos| ‘eomo afontes de expos) que se engendra o campo eas relagdes| {de forga que o caraterizam (relagio de Forgas especttica, propria ‘mente simbélica, dada a unatureza» da forgaeapaz de se exereer ‘esse campo, o capital centifico, espésie de capital simbético que ‘age nae pela comunicagao). Mais exactamente, io os agentes, 52 Uw Menoo 4 Panre ‘ou sea, 0 cients isolados 2s equipas ov aboraros, detinides pelo volume e pela estrutura do capital especifio que possuem, ‘que determinam aestutura do campo que os determina, ou se, 0 nivel das forgas que se exercem sobre a produgio cinta, sobre asprticas dos cienistas,O peso associado num agente, suportado pelo campo ao mesmo tempo que contribui para o estrutuar, {depend de todos os outros agentes, de todos 0s outros pontos do cespago ¢ das relagdes entre Lods 08 pontas, ou se, de toda @ «espago (quem conhepa os principios da anise das correspondén- cas miltiplas pereshers a afinidade entre este método de anélise natemstica eo pensamento em termos de campo). ‘A ona de um agente depende dos seus diferentes trunfos, factores diferencias de sucesso que podem garantir-the wma vanta- ‘gem em relaglo aos rivais, ou seja, mais exactamente, depende do volume cestrutura do capital de diferentes espécies qu possul (© capital cinttico € una espécie particular de capital simbtico, ‘capital fundado no canhecimenta eno reconhecimento, Pdr que funciona como forma deerédito, pressupsea confianga oua renga {dos que o suport porque esto dispostas (pela sua formacio pelo proprio facto de pertenga ao campo) a atrbuir crédito, ‘A estrutura de distribu do capital determina aestrutura do campo, fou sea, as relagdes de forea entre 0s agentes cientfios: a posse ‘de uma quantidade (logo, de uma parte) importante de capital con- fere poder sobre o eampe, prtant, sobre os agentes comparativa- ‘mente menos dotados de capital (sobre o requsito de admissio ‘no campo) ¢ comands a distribuigao das hipéteses de luc. ‘A esiutura do campo, definida pela distribuigdo desigual do ‘capita, ou sea, das armas ou dos trunfos especificos, fz-se seni, io por interes directa, intervened oummanipulao, sobre todos ‘os agentes, mas regulando as possbilidades que hes est abertas conformeestjam pior ou melhor situados no campo, ou sea, nesta Aistribuigao, O dominante & aquele que ccupa na estrutura uma posigdo al quea esutura ageem seu fver. [Estes principio muito _gerais que valem também noutros campos, no da economia, por texemplo—permitem compreender os fendmenos de eomunicagao « citculagdo que tfm lugar no campo eientifico e que nao podem 33 avs una Soc10v0c14 D4 Cree Uy Monoo 4 Pare ser interamente explicados por uma interpreta puramente «se tioldgica. Uma das vitudes da nogao de campo &a de fornecer, simultaneament, prineipios de compreensio gerais de universos sociais da forma campo e obrigar a formolar questdes sobre 3 especificidade dessesprieipios gerais em cada caso particular. ‘As questdes que vou formular colocara mim proprio proposito do campo cientitico serio de dois tipos:trata-se de perguntar se fencontraremos nele as propriedades gerais dos campos, , por ‘outro lado, se este univers particular ter uma Fogica inttinseca, Tigada aos seus fins especificns e is earacteristica propria dos {Jogos que nce se desenrolam. teoria do campo orienta e comand ‘a investgagio empirca, Obriga a formular a questio de saber a ‘queé quese joga nesse campo (s6nabase da experncia,potanto, ‘ correndo naturalmente o risca de cae numa variant positiva do cieoulo hermenéutico), © que esti em jogo, quais os bens ou a5 propriedades procuradas dstribuidas ou redistibuidas, e como é {que se distibuem, quais sto os instrumentos ou as armas que se {deve ter para jogs com hipdteses de ganhare qual é, em cada mo- ito do jogo, aesrutura da distribu dos bens, ganhosetruntos, ‘4 sea, clo capital espeeitico (a nogio de campo é, como vemos, tum sistema de questdes que se especificam constantemente)] Podemos agora chegat ao segundo momento da defini¢Z0, ou seja, a0 campo como espago de cniitos, como campo de aegio socialmente construfdo em que os agentes dotados de diferentes recursos se defrontam para conservar ou transformar as relagdes de forga vigentes. Os agentes empreendem aqui aeges que ‘dependem, os seus fins, miios eee, da sua posigdo no eampo de orga, ou se, da posiqdonaestrutura da distribu do capital Cada acto eientifico 6, como qualquer pritca, produto do eneontro centre das hstéras, uma hstériaincorporada na forma de dispo- sigdes e uma histriaobjectivada na propria estrtura do campo e ‘em objects tecnicos (insirumentos), escrito, ec. Aespeciticidade do campo cientifico prende-se, em parte, como facto de quanti- dade de histria acumulada ser, sem divide, particularmenteim- portante,eragas em especial & «conservaglo» dos eonhecimentos ‘numa forma particularmente econémica, com, por exemplo, & S# formalizagio e a conversio em fOrmulas ou na espéeie de um tesouro,lentamente acumulado, de gestosealbrados ede apts teansformadas em rotina, Longe de se maniestarem face a uni versos sem gravidade e inéreia, em que poderiam desenvolver-se a vontade, as estraéyias dos investipadores sto orientadas pelas| Timitagdese possibilidades objectivas inscritas na sun posigdo &| pela representago (ela prépriaLgada suas posigdes) que podem ter da sua posigdo e da dos seus concorrentes, em Fungo das suas informagdes eestruturas cognitivas. (© espago de manobra deixado as estratéyias dependerd da «stratura do campo, earacterizada, po exemplo, por ura nivel mais fu menos elevado de concentragio do capital (que pode varie desde 0 quase monopdlio~ de que analisei um exemplo no ano passadoa propdsito da Academia de Belas-Artes na época de Manet até. uma distibuigdo quase igual entre todos 0s concorrentes);, ‘mas organizarse-4 sempre em redor da oposigdo principal entre 10s dominantes (a que os eeonomistas por vezes chamam first ‘movers, ilutrando as oportunidades de que dispdem) ¢ 0s domi- rnados, os challengers. Os primeires esto em posiglo de impor, ralmente sem nada fazer para isso, a representagio da cigncia ‘mais favorvel aos seus interesses, ou Sea, forma «conveniente, Tesitima, de jogar as reras do jogo, portant da participagzo no {Jogo Esto comprometidos com aestruturaconsolidada do campo ‘esi0 08 defensores habituais da ceigneia normab» do momento, Detém vantagens decisivas na competigao, entre ouraseazdes, porque constituem um ponto de referencia resonecid pelos seus croncorrentes que, sea © que for que fagam ou quciramy, so ob dos a tomar posigdo cativamente eles, activa e passivamente. ‘As ameagas que 08 challengers consttuem obrigam-nos a uma vigiléneia constant es6 podem manter a sua posigdo através de uma inovagdo permanente. ‘As estatépias © as suas hip6teses de sucesso dependem da posigo ocupada na estrutura. E podemos perguntarnos como ‘So possiveis verdadeitas ransformagBes do campo, uma vez que as fogas do campo tendem a consolidar ss posiydes dominantes| = sugerindo apenas que, tal como no dominio da economia, as 35 Pus una Socieroeua v4 Cer Uw Monoo 4 Paar ‘musdangas no interior de um campo sto geralmente determinadas| por redefinigdes das fronteras ente os campos, ligadas (como ‘asa. ou eit) &ireupgo de reeém-chegados provides de novos cursos. O que explica que as fonteras do eampo sejam quae sempre questdes de conflito no seo do campo (Darel mais tarde ‘exemplos de «revolugdes» cientifiea Hisndas 8 passagem de uma iscipfina para outta) ‘io quero conch estarefertncta as esquemastedricos sem _mencionar que o proprio laboratrio é um eampo (um subeampo) ‘que, embora definida por uma determinada posigio na esteutura ‘docampo disciplinarconsiderado no seutodo, disp de uma certa ‘autonomia relativamente is limitagBes associada a essa posigto. Enguanto espago de jogo especfico, contribu para determina as| cstratégias dos agentes, ou sea, o que estou no ao seu aleance, {As estratéuias de investigagae dependem da posigdo ocupada no subeampo constitu pelo laboratrio, ou se, mais uma vez, da posigao de ead investigador na estrutra de distibuigae do capital has suas das vriantes: a cienlfica ea adminstrativa Eo que de ‘monstra de forma adminvel Terry Shinn (1988) na sua anise da| visio do trabalho num laboratéiodefsia ou que deixa transpa> recera desericio que Heilbron e Seidel (1989) fizem do lnboraSrio de fisica de Berkeley edo confit entre Oppenheimer Lawrence Osestudos de laborat6ro tendiam aesquecer oefito da posigao do laboratdrio numa estutura; mas, além disso, hum efeito da posigo na estrutura do laboratrio, de que olivro de Heilbron e ‘Seidl (1989) dé um exemplo tipico coma historia de uma perso- rnagem chamada Jean Thibaud este jovem fsico do laboratério de Louis de Broglie inventa método do cielotrio que toma possivel 8 aceleragdo dos proi6es com uma pequena méiguina, mas no tem os meio suficientes para desenvolver o seu projectoe,sobre= tudo, «no tinha ninguém como Lawrence paraoapoiar», ous, a estrutura de empresa o director de empresa, personagem

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