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Cet cd ste i aac cis CG Be dean eae nin man Fe Drapomaie eee eer st ng 3 cameos Devas bees ra Apes pein cope emi aw edi 200100 oven ep Nolama pn pales ring me van doa Rae “8. mtsica para todos Com ficou dito, o estudo do desenvolvimento musical na infancia e na adolescencia vem ganhando folego nos limos anos. Porém, uma eritica que podemos fazer a ele se refere a0 fato de que a maior p: dlos estudiosos tem se debrucado sobre questoes relativas ao desenvolvimento musical de erian- cas em desenvolvimento tipico, ¢, por isso, a quantidade de estudos sobre © desenvolvimento musical de bebes, criangas ¢ adolescentes com deficieneia ainda é bastante restrita. Felizmente, a situacdo esta mudando com o traba Iho de equipes multidisciplinares de pesquisa, espalhadas pelo mundo afora, que vém estudando o desenvolvimento musical de criangas com necessida- des educacionais complexas! em nenhuma pretensdo de esgotar esse tema to importante neste capitulo, procuret introduzir o leitor a alguns estudos recentes da area, bem como dliscutir dois temas particularmente controversos (¢ intrigantes!) como aoe east a superdotagio musical e @ caso dos chamados savants musicais. A inten30__ cs wablhos do zp aqui é enfatizar uma ideia muito simples e que realmente deveria sera senso comum: a miisica ¢ para todos! Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica ~ IBGE (2008), no Brasil, ha cerca de 24 milhdes de pessoas com deficiéncia. No entanto, a literatura especializada ainda oferece poucos dados sobre as priticas musi- cais cotidianas eo ensino da musica a bebés, criangas e adolescentes com deficioncia. Mas isso ndo quer dizer que nao exista musica em suas vidas. Muito pelo contratio. Como todos os outros, as cnangas e os adolescentes com deficigncia tambem apreciam a musica e vives num ambiente musical, E como interagera com ele! Allis, a musica é algo contagiante para todas as criancas, 0 que vem sendo comprovado pelos estudos da educagto musical. Através de entre- vistas realizadas com diversas criancas norte-americanas de 3 a 14 anos, as pesquisadoras norte-ameticanas Judith Jellison e Patricia Flowers (1991) descobriram que as criancas ¢ os adolescentes com deficiéncia so muito parecidos com as criangas sem deficiencia quando o assunto € musica, De ‘maneira geral, todas as criangas que participaram da pesquisa disseram, gostar de musica; dancar, cantar € tocar instrumentos estavam entre suas atividades favoritas, Entretanto, algumas diferencas também apareceram. A principal delas, imagine s6, foi que a maioria das criangas com deficiencia relatou um predominio de atividades musicais realizadas na escola. Ou seja, enquanto as criangas em desenvolvimento tipico descreveram diversas atividades musicais realizadas na escola e em casa, as criangas com deficién- cia pouco falaram sobre a misica em casa, em familia, Pode ser que tenha sido por puro esquecimento, mas, ainda assim, seria muita coincidéncia, no € mesmo? Se € mesmo verdade que os pais das criancas com deficiéncia fazem ‘menos miisica com elas que os pais das outras eriangas, isso pode ser seas ‘mudado, Basta lembrar que ha muitas maneitas de fazer musica em casa com ‘uma crianga, tenha ela deficiencia ou nao, Antes de qualquer coisa ¢ impor- tante lembrar que as criangas com deficiéncia se beneficiam da musica do ‘mesmo modo que as criangas em desenvolvimento tipico. Toda e qualquer atividade musical pode (e deve) ser adaptada as dificuldades particulares de cada crianca, Como no caso da crianga que ndo pode andar, mas que traca no ar o sobe e desce de uma melodia usando um lengo colorido em cada ‘mo, da crianca cega, que rodopia nos bragos do seu pai ao som dle uma bela valsa vienense, ov do meniino com sindrome de Down, que ensaia uma cangao com a ajuda do irmao mais velho. ‘Nem pense que fazer musica com uma crianga com deficigneia € mera recteagiio, Nao se esqueca que a miisica ¢, antes de mals nada, uma competén- cia humana. Como sugeriu Gardner (1983), todos os seres humanos ~ sem excecao — possuier uma inteligencia musical que pode (e deve) ser desen- volvida ao seu potencial maximo, Trava-linguas, cancoes, parlendas e jogos ‘musicais, além de serem super divertidos, poclem ajudar a desenvolver a capa- cidade auditiva e intelectual das eriangas com deficiéncia, bem como a memo- ria e a linguagem. Como disse a educadora musical paulistaIlza Joly (2003), dda Universidade Federal de Sto Carlos, atividadles musicais envolvendo gestos € movimentos corporais também podem servir para estimular o desenvolvi- ‘mento da coordenacao psicomotora e para fortalecer o tOnuss muscular, Assim como acontece com as criangas pequenas, pode ser que muitas repetigoes da atividade sejam necessirias para que a crianca e © adolescente com deficiencia aprimorem a sua percepeio € seus gestos. Mas o prazer de fazer miisica e de vé-los se desenvolvendo musicalmente valem todo 0 esforco! Em casa ou na escola, uma dica ¢ procurar estabelecer uma rotina Masia na infncn ena adotescenca ‘musical, isto é, um momento do dia ou da semana dedicados @ musica. Segundo os especialistas, além de a rotina dar seguranga ¢ auxiliar no desen- volvimento geral da ctianga, a musica pode ajudar na comunicagio ¢ inte- racgo dela com seus pais ¢ cuidadores. Mesmo que o tempo dos pais e dos Cuicadores seja curto, sempre € possivel encontrar um tempinho para fazer ‘musica com criancas e adolescentes ~ tenham elas uma deficigncia ou ndo. O importante ¢ que a rotina musical preestabelecidia seja respeitada a0 maximo. Por exemplo, um casal podle reservar dez minutos didrios apés o café da ‘manha para cantar ¢ ouvir musica com sua filhinha, uma professora pode cantar ¢ embalar o bebe todas as tardes, antes que ele durma a sua soneca diaria, e um adolescente cego pode “sentir o instrumento” ¢, em seguida, aise a banda de rock de seus amigos. Em todos esses casos, 0 prazer de fazer musica € garantido. Isso acontece porque ao fazer miisica com pais, amigos e pessoas queridas o individuo sai do isolamento, expressa-se musi- calmente, sentindo-se amado e protegido. E através dessa sensacao de prazer e bem-estar que muitas criancas e adolescentes com deficiéncia descobrem como pode ser gostasa e ecucativo incorporar a musica a rotina diaria, Experiénetas musicais de criangas com dificuldades de aprendizagem [No Bras eles ainda sao ravos, mas em alguns paises do mundo, ha pro- _gramas de educagdo musical espectficos para criancas com dificuldades de aaprendézagem. Em Israel, 0 Centro de Pesquisa ¢ Tratamento de Criangas speciais da Universidade Bar-Ilan tem se destacado nesse sentido, Auraves do programa Mise-Musi, diversas criancas estao tendo a oportunidad de lot Har aprender misica ¢ de desenvolver habitidades cognitivas importantes como © reconthecimento de padries (como quando percebemos 1am tema musical em uma abra) © a capacidade de diferenciar © coordenar midtiplas elemen- tos de uma mesima expertencia (Como representar o sobe e desce das notas de uma cance com as bracos, erquanto @ ouve) por meio da musica [Num estudo recente, a masicdloga Adena Portowite e a educadora Prina Klein descrevem um estudo de casa longitudinal que realizaram com oito criancas de quatro a dex anos de idade Geis criancas com Sindrome de Down ¢ duas outras criancas com difculdades de aprendizagem), que caprendiam misica através do programa Misc-Music. Durante dois anos, as pesquisadoras dacumentaram as atividades musicais realizadas com as ceriancas e descobrivam que as aulas de meisica foram muito teis para que as crianeas desenvolvessem iniimeras habitidades cognitivas coma a asso- ciacae enire dois ow mais eventos (como representar graficamente os sons dda musica), a compreensda de conceitos importantes como sequenciamento, repeticdo, variagao e contraste ¢ a percepeao de simultanetdade. Além disso, cs cTiangas se tornaram mais sociaveis , € cary, mais musicais Gitas habilidades musicais ou superdotagao musical Na historia da humanidade ha diversos casos de criangas com habili- dades fora do comum. Os pintores Giotto ¢ Pablo Picasso, 0 musico Mozart, 10s filésofos Blaise Pascal e William James, o poeta Rimbaud, o matemaica Gauss ¢ 0 enxadrista Bobby Fischer sao alguns exemplos conhecidos de criangas com altas habilidades que passaram pela histria, Suas vielas eausam Masia ma fica era adelscenca 70 deslumbramento e surpresa, assim como inveja e intimidagio. Mas 0 que exatamente tora essas criangas tio diferentes das outras? Por que elas sabem mais e entender das coisas antes da maioria? Antes de tentarmos responder a algumas dessas perguntas, ¢ importante refletirmos um pouco sobre a terminologia que ouvimes por ai e que muito rnos confunde. Como diz o psicélogo musical Afonso Galvao (2007), da Universidade Catélica de Brastlia, a definicio de talento é bastante com- plexa; permanece controversa ¢ longe de ser consensual. Pense em quantas palavras més usamos no dia a dia para designar aqueles individuos que tem hhabilidades fora do comum. Talentoso, genial, prodigio, precoce sio apenas algumas delas, Agora pense em como essas palavras tambem sto usadas ppara descrever (ou fazer elogios a) atividades cotidianas. Quando alguem cozinha superbem, ha sempre quem diga: “Fulano € um talento na cozinha’ ‘Ou entao, quando um pai ou um professor diz que uma crianga “é super dotada” porque de repente, em meio a seu discurso infantil, ela faz uso de tum vocabulitio rebuscado. Nao quero dizer que essas pessoas ndo tenham habilidades especiais ou que essas habilidades nao sejam especiais para voce. Mas isso nao quer dizer que elas tenham, necessariamente, aquilo que 0s especialistas chamam hoje de altas habilidades ou superdotagdo. A variedade de termos ¢ definigdes, os mitos que circundam a vida dos individuos com altas habilidades e diversas ideias preconcebidas dificultam ainda mais 0 estudo sobre o tema, Por essa razao, os termos altas habilidades e superdota- (fo sto usados aqui para designar os individuos que reunem pelo menos trés ccaracteristicas basicas, conforme sugerido pela psicéloga norte-americana Ellen Winner (1998), da Universidade de Harvard. Beats Ha + Sao precoces ¢ se iniciam num determinado dominio bem antes das outras, Sto criangas que demonstram habilidades fora do comum em dominios como linguagem, misica, bale, xadrez ou matematica + Insistem em fazer as coisas a sua maneira, Elas nao aprendem apenas a fazer as coisas antes das outras, mas as fazem de maneira muito diferente, precisando apenas de um pequeno “pontape ini- cial” para rapidamente ensinarem a st mesmas, Sao crianeas super criativas, que inventam regras capazes de transformar um dominio, como Mozart, que, ainda muito jovem, transformou para sempre © dominio da musica ‘+ Possurem um desejo quase que incontrolavel por dominar uma determinada area, Essas criangas slo automotivadas para aprender € dominar uma ou mais areas de conhecimento, chegando a serem obsessivas, £ interessante notar que, diferentemente das outras, essas criangas passam horas desempenhando tarefas relativas a area que desejam dominar e sentem prazer em faze-lo, Mozart, Picasso, Bobby Fischer € muitos outros individuos superdota- dos tinham essas caracteristicas quando criangas. A superdotacao pode ser definida, portanto, como uma combinacto incomum de precocidade, espontaneidade e habilidades especificas, que ‘sto determinadas por uma sociedade ou um grupo. Alem disso, ela é rara de acontecer, No caso especifico da miisica, os especialistas sugerem que a superdotacao musical envolve uma hipersensibilidade a um ou mais elementos da estrutura musical, que pode ser a tonalidade, a harmonia, 0 Masia na infin eo adoescte n 2m exo eas do ea “cab, que ucbérs Heou cone ‘cot ‘a eencarnago de J ed’, confoe dosato por ‘winner (1998) ritmo ou outta. Essa hipersensibilidade permite que a crianga tenha uma ‘memoria fora clo comum para elementos, decore e toque qualquer musica rapidamente, transponha melodias, improvise sobre um tema (como faz um. bom miisico de jazz) ou crie melodias e pegas musicais com uma facilidade extrema. Ha também superdotados musicais com habilidades precoces ¢ fantdsticas quanto ao uso da notac20 musical tradicional, como relatado por Winner. Porém, cabe aqui uma ressalva importante: a maioria dos estudos sobre a superdotacio musical se baseou em casos de criancas que aprendem ‘mtisica clissica. Talvez a complexidade e a valorizacio da musica clissica pela elite economia ¢ intelectual nos ultimos sécuilos expliquem por que ha ‘um niimero comparativamente menor de estudos publicados sobre superdo- tados musicais em outros generos musicaist De acordo com Winner (1998), a superdotagso se revela muito cedo, tmais ainda no caso da musica, Desde a mais tenra idade, as criangas super dotadas musicais demonstram um enorme interesse pelos sons musicals, bbem como uma facitidade enorme para repetir de maneira exata cangées ouvidas uma tinica vez. Alem disso, as criancas musicalmente superdotadas demonstram ter um pensamento musical mais articulado que as outras. Contudo, uma grande dificuldade dos especialistas esta justamente na avaliacdo dessas habilidades em criangas superdotadas. Em muitos patses desenvolvidos, a avaliacio do talento e da superdotacao musical ocorre por meio de testes escolasticos ¢ inventarios de interesses que medem 0 potencial ‘musical da crianca ou por meio da performance musical, sobretudo em duas subsireas da musica: execucio instrumental e composigao. Além de ambas as formas de avaliacio possuirem aspectos positivos e negativos, elas tendem ase basear em definigées fixas de talento e superdotagao musical, que nao este tan ‘consideram questdes contextuais, culturais e temporais, como bem discuriu Galvao (2007) ‘Um outro panto importante a considerar é que uma crianga musical mente superdotada nao sera necessariamente um adulto eminente. Como sugerem diversos especialisias da ‘rea como as psicologas brasileiras Denise de Souza Pleith e Eunice Soriano de Alencar (2007), la Universidade Catolica de Brasilia, ha muitos fatores que afetam a trajetiria de vida de um indivtdtua superdotado, ¢ que vio além das habilidades cognitivas especificas a um dominio, Sem contar que, algumas criancas superdotadas tém necessidades edlucacionais especials que sto frequentemente ignoradas por seus pais ou professores, Outras enfrentam momentos de pure tédio. Imagine coma deve ser chato voce saber muito sobre matematica e ter de ficar resolvendo contas de 1+1 para acompanhar o ritmo de seus colegas de classe, Ou, entao, ficar aprendendo a cantar A barata diz que tem? quando voce ja tem uma sinfonia pronta na cabeca. Embora muitos pais ¢ professores ignorem esse fato, as ccriancas superdotadas geralmente precisam de incentivos muito especificos, algo que normalmente acontece de forma individualizada. Por sua precoci- Can nen ii“A ont gut ‘mena da bara, este € uma dale em dominios complexos, muitas criancas superdotadas acabam tendo problemas de entrosamento com outras criangas e sofrem com o isolamento, Ha, fii elem uma, baba bt a a ela ‘Outras padecem com as expectativas de seus pas, familiares e professores, ¢ a literatura cientifica conta com diversos relatos de individuos com altas habili- sto recomendo aera dades que acabaram por deixar suas areas de atuacao por ndo suportarem tal done Deserovmsna de tales alas abide: ore presto soctal, como bem sugeriu Bamberger (2006). Por isso, € fundamental {Shania meee que pais professores se informem e procurem apoiar ¢ incentivar a crianga’, _pessisaonas Denise de Son ‘Eunice Sonn de Alena Musicalmente falando, had muitas criancas que fazem coisas lindas eee com seus instrumentos e vores. Mas isso nao quer dizer que elas sejam Dina mans ena adseseerets B ” superdotadas. E se o seu filho ou aluno for mesmo um superdotado musical, nao se esqueca que ele precisa de tanto carinho, atencSo, seguranga e afeto ‘quanto qualquer outra crianca ou adolescente Prodigios musteas: o caso do merino Mozart Ha na literatura cientifica, um nimero reducidssimo de estudos sobre os pro- Aigios. lem disso, segundo o psicologo nort-americano David Henry Feldman, que vem estudandlo 0 tema ha décadas, apesar de supostamente haver prodigis erm todas as dreas de conecimento humano, algumas areas receberam mais ‘atencdo que outras, como no caso da musica. Como nit poderia devcar de ser ‘Mozart é frequentemente citado como sendo a crianga prodigio mais extraorii- nia de toda a historia da misica ocidental. Precace, Mogart comecou a tocar piano aos irés anos de idade e, aos quatro, a aprendia pecas musics completas consideradas complexas para um executante dessa fatua etéria. Ao mesmo lempo em que aprendia a tocar piano, 0 pequeno Mocart também aprendeu sozinho os rudimentos da arte de tocar violin, simplesmente observando os ais velhes. Aas cinco anos de dade comecou a compor aos es ja compurha regularmente. Mozart pussou grande parte de sua infrneia em turn, tocando nas principaiscorts e salas de concerto europeias. Por volta dos sete au oito anes, 0 menino ja demonstrava estar criando um estilo proprio de compor sempre no contexto do estilo classic e, por volta dos 13 anos, jt demonstrava ter um estilo “mazartiano”, como os musicélogos o denominam hoje. Segundo Gardner, Mozart, como poucos na historia da humanidade, exibia uma incrivel confluencia sinergica de fatores ¢ eventos dsparatados — aquilo que Feldman chamou de *co-incidéncia” na infancia de wn prodigio. Mozart viveu em un Beats Tat tempo em que a musica clasica era altamente vlarigada e em que era possivel ‘a.m joven talertoso masico ganar dinero nas cores europa; inka como pai tam profesor de rusia hablidosa (ede certo mado um poco pedamte), que «estava disposto « dedicar sua vida e sua carveira ao filko ou um “dom de Deus” _que recebeus detinka wm talento musical incrvel, que certamente ncluta a habi- lidade de fembrar de praticamente qualquer coisa que owvia e a capacidade de descobrir coma realiga-ta no teclado (e em outros bnstrumtentos), possuia habilidades, personalidade, vontade e a firia para transcender na musica € o desejo de criar suas proprias maiscas (mais tarde, sem nentum aust), De Jato, sua infancia fo totalmente dedicada a composicao musical; ele vivia para compor¢ descjava pouca coisa alem disso. Mas Mozart nao contribuiu apenas pao desenvolvimento da drea de misc Feldman e Gardner argumentam que estudo da trajetoria do compesitor aus- «riacotamhémr nos judowa compreender melhor o conceit de prado. Segundo 1s psicdlogos, € abvio que outros prodigiosexistiram antes ¢ depois de Mozart, mas até hoje nenhuem individuo foi capaz de se equiparar a ele. Gardner wai além e argumenta que Mozart se tornow uma espécie de padrao para julgar outros prodigis, inclusive em dreas que nao a musica Sea pela belega de suas compesicoes, pela preciso com que lidow com a forma clissica, ou por sua inrigantetrajetoria de menino prodigio a adulto eminent, uma coisa écerta: «a misica de Mogan continua e ao que tudo indica, continuard sendo altamente apreciada por publics diverses ao redor do planeta sorties emacenacts n Savants musicais® © médico e pesquisador norte-americano Darold Treffert (1989) definiu 4 sindrome de Savant ou savantismo* como uma condigao rara e espetacular, em que pessoas com diferentes deficiéncias, como a desordem do autismo, ppossutem habilidades fora do comum em dominios especificos. Quem assis- tiu ao filme Rain man, em que Dustin Hoffman interpreta Raymond, o autista savant dotado de meméria fantastica, sabe do que eu estou falando. Alias, reza a lenda que Dustin Hoffman foi 20 encontro de Kim Peek (o savant que inspirou o filme) no estado de Utah, para se preparar para o papel. Quem tambem foi 20 encontro de Kim em Salt Lake City fot o autor de Nascido em um dia azul, o autista savant Daniel Tammet, um jover inglés capaz de aprender linguas estrangeiras como o lituano € o istandés em poucas sema- nas e de calcular e memorizar nimeros de maneira extraordinaria. Mas 0 que 6s cientistas ja descobriram sobre pessoas extraordinarias como eles? ‘Treffert (1989) explica que o savantismo é bastante raro de acontecer, que pode ser congenito ou adquirido por meio de lesses cerebrais ou doen- > Eaasccioebascadacm TRETTERT. ¢a$ como a meningite e estar associado tanto ao autismo quanto & deficiéncia Darel xrartnary pepe ew : ‘ork tamer tein. tos, mental. Diz o especialista que ha mais savants do sexo masculino do que soreemu siomedesawne Minino € que suas espectalidades tendem a ocorrer em habilidades bastante ‘oiconhale pochn Lmaion_especificas como a execugo € a composicio musical, desenho, pintura, Ds, qe amber demon 9 crane buewen tasy ky escultura, céleulo de datas em calendarios, calculos matematicos e medigdes, «po, Langdon sou acspressto —_espaciais especificos, entre outras. Treffert também explica que ha um grande pectin rere espectro de habilidades savants, 0 que levou os especialistas a fazerem uma Nota ss expresses sndrome_distingdo entre as savants talentosos € os prodigios. de Svan ote oo ae sas a aera ceca Os savants talentosos so pessoas com deficits cognitivos, nas quais as habilidades musicais, artisticas ou outras so mais proeminentes e altamente ‘afiadas”, geralmente em uma tinica rea de especialidade, sendo muito con- trastantes com seu quadto geral de deficiencia. Savant prodigio é um termo, reservado para aqueles casos extraordinariamente raros de individuos para os ‘quais a habilidade fora do comum ¢ to sobressalente que seria espetacular ‘mesmo no caso de uma pessoa sem deficién: Alem disso, as habilidades especiais dos savants sto sempre acomnpa- rnhadas por uma meméria extraordinaria, que muitos acreditam ser iimitada para suas habilidades especificas {As vidas dos savants ndo sio apenas fascinantes: elas também nos ajudam a refletir sobre as diversas facetas da inteligencia humana, Alias, um os argumentos usados por Gardner (1983) para defender a existencia de uma inteligencia musical autonoma tefere-se justamente as experiéncias dos savants musicais, Segundo ele, entre as principais caractersticas desses Individuos esta uma memoria musical extraordinariae a capacidade de praticar um instramento por horas a fio. Ha na literatura cientifica relatos de savaints musicais que executam uma pega musical complexa ou que cconseguem tocar no piano todas as notas tocadas pelos instrumentos de uma ‘orquestra completa apés uma unica audigao, O neurocientista Oliver Sacks (2007) descreveu recentemente intimeros casos fascinantes, que vale a pena concer. Nao deixe de pesquisar sobre os savants musicais e companithar as historias que descobrir com os seus filhos e alunos. Assim, eles descobririo ‘© quao extraordindria é a mente musical humana, 20 mesmo tempo em «ue aprenderio a respeitar as diferencas. Dena inc ¢ nada 78 $ ‘Respeitando limites Segundo Oliver Sacks, a musicalidade “é a mais comum e possivelmente a ‘mats chamativa forma de talento savant, pois logo € notada eatrai atencao”. Gontudo, atragao demais pode ser uma coisa perigosa. Quem diz isso € 0 psicdlogo musical Adam Ockelford, que ha mais de 20 anos trabalha com Derek Paravicini, um savant musical que tem hoje cerca de 27 anos. Cego e ‘com muitas comprometimentos, Derek mal consegue se vestir ou se alimentar sozinho. Porém, @ frente de um piano, Derek se transforma e transforma tudo 7 que ouve em verdadeiras pérolas, jam os compesitores Beethoven, Chopin, Gershusin ou Cole Porter A carreira musical de Derek comecou aos dots anos de idade, quando ele _gunou um drgio de brinquedo aos cinco 0 merino passou a ter aulas com Ockelfond. Segundo o psicéloge, Derek & wm musico instntivo: ele sabe multo Dern onde estao as notas no piano, ¢ tem uma técnica propria para tocar: © talento de Derck nao passou despercebido. Nos ultimos anos, tanto Ockelford quanta a familia de Derck tem se preceupado em preservar 0 Jjovem pianista, que toca, ocasionalmente, em eventos de caridade, da explo- racao desenfreada por jornalistas e apresentadores sensacionalistas. Em ‘entrevista pare a coluna de Stephen Moss no jornal inglés “The Guarian”, Ockelford disse: — Como eu, eles temem que Derek seja explorado. Hia 0 perigo de que ele se torne uma espécie de “macaquinho” de auditorio, Num mundo que elebra 0 Big Brother, parece que no ha limites para a decencia ou o decoro, entao precisamos ser cautelosos. Alguém chegow inclusive a perguntar se 0 Derek ro poderia ira um desses “shows”. Eu achet isso horrivel! Fame: lobia pc de Ses 207, 9.55 ¢ Mom, 2007 ssi lan

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