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Revista Brasileira de Geomocfologia, Volume 1, N° 1 (2000) 27-43 Fundamentos da Geomorfologia Costeira do Brasil Atlantico Inter e Subtropical Aziz Nacib Ab'Saber Rua Basil, 472 — Granja Vim CEP: 6700000, Cote Palavtas chave:ftoral tropical: metodologia, costa do Brasil: setores bisicos, bibliografia seletiva, {.Introdusio No decorter do século XX, a abordagem concentual e metodolsgica da geomorfologia cos- (ira recebeu aeréscimos fundamentais. Da simples constatagdo Sbvia de que 0 litoral & a faixa de con- {ato entre 0 mar ¢ a terra, passou-se para niveis de consideragio muito raais amplos. Per muito tempo, «melhor Classificagdo de Johnson sobre a exist cia de costas de submersio © costa de emersio, acrescidas de eventuais costas complexas, perdeu validade porque todas as faixas costeiras do mundo possuem diferentes niveis de complexidade, Existe una tamanha variedade de fatores. que interagom na claboragao de um setor qualquer da borda mari- sima dos continentes, que acabam por exigit um mergulho nas combinagies morfoldgicas, tectOni- «as, eustitcas, abrasivas © deposicionais ocorrentes de sector para setor, onde existam modificagdes fs, Mesmo em relagdo aos exsos mais ber rantes dos efeitos das ingressdes marinhas quater~ tas existe a necessidade premente de realizar um tratamanto mais aproundado dos fatores ou eom- binasdes de forgas que respondem pela génese da Para se compreender melhor a ordem dos fares interferentes a geomorfogénese e hideoge- ‘morfologia de um Titoral qualquer, um bom part «do motodolégico situa-se na consideragao do espa 0 toalcosteio que envelve sempee a faixa que se tend da Tina de costa até a retrotera costeia Devido essa ampliago do espago-objeto de estado, estamos mas prepatados para retragar 8 segue dos ftosacontcidos na zona costera, ao longo do Quatematio. O que nos permite dizer que 8 lito ‘ais na sua aparent simplicidade paisagistica © na sua dindmica habitual exigera consideragaes simi- lures ou alé mais complexas do. que as espagos ineriows, ja que eles envolvem scrias. questoes relacionadas com as vatiagdes do nivel do. mar an paleo-limas © histérin vegstacional, Ou sein, 0 Titort al como outras éreas dotadas de paisagens ecoldgicas, pode ser considerado sempre. como uma heranca de processos anteriores remodclados pela dinimica costeira hoje prevalecente B por todas essas razdes que o alongado litoeal brasileiro, disposto em ama posicdo nter- teopical © pré-pare.subtropiesl, conserva uma importncia muito grande para que se possa des vendar a paticipagdoindividualizada de provessos interferentes na complexa génose de seus diversos stores, do Amapé ao Rip Grande do Sul. ‘Nesse contesto de metodo © visualizagio pode se afiangar que os litorais consttuem-se em Zonas de conlatos triples: tera, ma dindmic limatca. Sem falar dos notiveis mostnidrios de fecossistemas que se assentam e diferenciam no Iostico terraigua existente no espago total da costa, Inchind estirincias de. prains arco, ‘eiritos caledreos ou manguesas fronts, Costes « costcras; gras de abrasio eanhuras basa de diferentes aspectos. Restingas isoladas ou mii- plas, lagunas elagos framentados por delas ina Thgunares. Deltas e barras de rio, de diferentes poleneias de transporte e descarga sedimertiria Campos de dunas de pelo menos trés épocas de formagia durante © Quateendrio Superior. Manues fromlas © mangues de estuirios,eanaisesteindos ow em pequenas enseades em bordas de lagunas Recifes’arenficos, eventuslmente servindo de suporie para coldnias de corais. Velhasbinhas de costs sbmerses a dezenas de melts na platalor ma continental, Paleoleitos de rios.preservados Patcialmente no interior, de baits © recincavos Canyons submarines seecioando raros trehos da platsforma submarina costeira, Enfirs, ua pata fermala de acidentes,diferncialmente agrupados selor por seit, de signiicénciafsiogafica e eco- logica. Para eftito de primcira abordagem ~ inde pendentemente de uma identifieagao mais detalha Ab 'Saber, AN JRevita Braeira de Goororfologi,volame 1m (2000) 27-43, dda de setores ¢ subsetores ~ a face atlintica do pats pode ser classificada geomorfologicamente por quatro grandes setores. A saber: Brasil Equatorial Aulantico (Amazénia Atlantica}, Brasil Atlantico Semi-Arido (Costa Cearense/Potiguar); Brasil Tropical Atintico Oriental (Costa dos recifes barreiras ¢ tabuleitos); Brasil Tropical Atlantico de Sudeste (Costa dos espordes da Serra do Mar); €, Brasil Subtropical Atlimico (Costa gadcha/sul ccatarinense). A bibliografia especializada existente para ‘© estudo e compreensio da geomorfologia e hido: geomorfologia desses importantcs setores maiores da regido costeira brasileira, ainda € muito frag. mentiria ¢ cientificamente desigual. No estudo de Francis Ruellan referente- ao micleo principal da costa sudeste brasileira, imtitulado: A Evolugio Geomorfol6gica da Baia de Guanabaca ¢ Regides vizinhas” (1944), foi inclufda uma importante bibliografia sobre © litoral fluminense ¢ seu entor- no, envolvendo © setor da costa brasileira que se extende do baixo vale do rio Doce até & Guanabara © Angra dos Reis. Tanto pela sua colaboragdo ci- cntifica original, quanto pelo rastreio de documen- os cartogrificos e de literatura espectfica, 0 estudo de Ruellan tornou-se um marco e uma referéncia para a geomorfologia litorinea brasileira, Subse- quentemente, extendendo-se por toda a segunda metade do século XX sucederam-se trabalhos sobre ‘08 mais diversos setores da costa, Existem exce: lentes trabalhos sobre as thas ocednicas brasileiras, da lavra de Fernando Flavio Marques de Almeida, Gilberto Ozério de Andrade © Lucio de Castro Soares. No que se refere aos estudos geoldgicos e geofisicos sobre a plataforma continental, © con- Jjunto dos estudos providenciados pela. Petrobris (Projeto REMAC) ~ pela sua abrangéncia ¢ quali- ‘dade — constituiu-se em um das maiores acervos de conhecimentos sobre um importante setor da faixa intracosteira do terrt6rio brasileiro. Um feito somente compardvel ao extraordinériamente bem sucedido Projeto RADAM, ‘A evolugio dos conhecimentos sobre os litorais no Brasil foi lenta e fragmentéria. Mais ‘importante do que 0s escritos ¢ interpretagdes fo- ram 0s registros cartograficos de interesse niutico, Os mais antigos mapas claborados no perfodo colonial jé apresentavam registros sobre as profun- didades das barras de alguns estusrios brasileiros. [Na busca de portos seguros, fizeram-se regisiros sobre of principais ancouradouros naturais para. as ccaravelas, No interior dos estusrios e canais retro terra foram registrados os setores dotados de certas condigdes de navegabilidade e os setores de dguas rasas apenas susceptiveis de uso para pequenas embarcagdes. Muito mais tarde, principalmente n0 decorrer do século XX, fizeram-se cartas nauticas detalhadas, por iniciativa da marinha brasileira, projetadas para servir & navegago nacional c inter- nacional, suficientes para orientar 0 acesso aos 28 Portos ou passagens ao longo das fguas continen- luis, Um detalhamento maior teve que ser feito para prientar 0s projetos de construgio de portos mo- dermos e suns instalagdes essencinis © sucessivas. No que diz respeito & bibliografia rete: renle ao litoral brasileiro, poucas foram as cont buigaes de interesse geomorfolbgico mais exy 10, Predominavam esforgos de setorizagao da linba de costa, antevistas em mapas de pequena escala, para uma valorizagio dos pontos ou wechos de ‘mudanga de rumo na fachada atlintica do territério, Na realidade, a compilagio de trabalhos reunidos sob 0 titulo de Continental Margins of Ailantie ‘Type, editado por F, Marques de Almeida (1975) para a Academia Brasileira de Ciencias, cobriu os mais variados setores das margens continentais do este e leste do Atlantico, Infelizmente, por muitas aries e dificuldades especificas, nao Toi possivel realizar estudos similares enderecados 30 conjunto do litoral brasilerio, No momento, © melhor regis tro da geomorfologia costeira ainda permanece nas '53 imagens de satélites, em falsa cor (Landsat V. bandas 3,4,5), arguivadas no INPE, em Cachoeira Paulista, So José dos Campos. Foi sugerido com insisténcia que as 53 imagens que recobrem a fs chada atkintica do Brasil fossem expostas na Expo- sigho Universal de Hannover, e, mais tarde, depo sitadas em uma instituigo de pesquisas geoldgicas ‘ou oceanograficas brasileiras. A ignorincia macica dos que governam 0 pais neste fim de século e milénio preferiu, entrementes, previlegiar apenas ‘um projelo decorativo e clientelesco. Dessa forma, perdeu-se a oportunidade Gnica de mostrar aos ‘curopeus ¢ ao mundo a maior faixa de costas tropi- ceais portencentes a.um $6 € mesmo pais, ‘Amtecedendo-se a época de disponibilida de de aerofotos, imagens de radar e satéltes, Joao Dias da Silveira (1950, 196--), publicou wabalhos ‘gonéricos sobre as baixadas litordneas quentes: © limidas ¢ a morfologia costeira. Em cursos univer- sitirios © obras didticas Aroldo de Azevedo (1942-1943), realizou sinteses bem claboradas sobre a costa do Brasil, dando continuidade 4s apreci pioneiras de Delgado de Carvalho (1913, 1927), Raja Gabaglia (1916) © Everaldo Backheuser (1918). Por muito tempo, os levanta- mentos cartogrificos providenciados pela antiga Comissio Geogrifica ¢ Geolégica do Estado de Sao Paulo (depois IG). Constituiram-se no mais, importante acerve documentério sobre um impor- {ante setor do litoral brasileiro [Exploragao do rio Ribeira de Iguape (1908) e exploragtes dos setores norte © sul do litoral paulista (1915, 1920). Os Tevantamentos aerofotograméiricos de escala favo- rivel crisram condigies para um maior detalh: mento da regio costeira, através dos tabalhos do Servico Geogrifico do Exército, IBGE e Marinha. Pesquisas geogrificas significativas, referentes a diferentes setores da costa foram incentivadas com a criagio de cursos de Geografia, Geologia e Ocea: ign de por mes No ha do ta AB'Sber, AN Revista Brasileira de Gcomorflaga, volume 1, n.1 (2000) 27-43 nografia nas jovens universidades brasileiras, a pair dos fins da década de 30. Gedlogos, enge- nheios e sodiment6logos, acrescidos por geégrafos oceandgrafes, multiplicaram aboradagens setor ais ow pontuais sobre a regio costeira do pat, estacando-se entre eles Alberto Ribeiro Lamego, Fernando F. M. de Almeida, Joao José Bigarella, Antonio Teixeira Guerra, Ary Franca, Ruy Ozério de Freitas, Gilberto Os6rio de Andrada, Olga Cruz E, entre os colaboradores estrangeiros: Reinhard Mack, Francis Ruellan, Louis Papy, Hanfrit Putzer, Jean Triart, Karl Arene e J, Damuth. Algumas observagses pontuais de Charles Frederick (1870) em seu livro Geology and Physi cal Geography of Brazil, deixaram oportunidade para revisbes futuras, de interesse para a geografia Hitorinea, A rasa ranbura de abraso observad na base do pontio rochoso do Penedo, na bafa de Viti, foi medida pela primeira vez, presenta: ose a3 metros aproximadamente acima do relati- vamente calmo atual nivel das éiguas da complexa via regional (Tabela 1), Por muito tempo ~ quase lum séeulo ~ observages similares em sitios cos- teios no to bem expressivos quanto a base do Penedo, conduziram a interpretagdes de que a costa estaria se Ievantando (..). N4o se conhecia no Bra sil, até aos meados do século XX, nada sobre as variagies eustiticas do nivel dos mares no Quater- irio, Custou para chegar entre nds as implicagses dos movimentos glicio-eustéticos ou as conse- {quéneias do stimo climético. Ficamos devendo a Francis Rucllan a introdugo do conceito de rebai- xamento do nivel dos mares em periodos glaciais cdo Quaternétio, Na época se falava em um descen- zo de aproximadamente 34 metros no perfodo pré- Flandiano, identificando atwalmenie como Wurn IvMWisconsin Superior. Revisbes impressionantes de André Cailleux, tornaram possivel estabele: {que nessa época glacial terminal do Pleistoceno Superior, ocorrido entre 23.000 e 12.700 A.P. (an- tes do presente), © nivel geral dos oceanos deve ter sido redurido de até 100 ou 120 metros. Um fato impressionante, j# que os acréscimos de geleiras nos polos ¢ altas montanhas dependeram de um vo. lume de 4guas maritimas correspondentes a 100 metros multiplicado por 370,000,000 de Km? de firea ocednicas. As consequéncias desse fato foram rmiltiplas © complexas envolvendo grupos de acontecimentos inter-relacionados. Ampliaga0 das faixas costeiras, por dezenas de quildmetros, até nova linha de costa situada a -100 metros, Dimi- ruiglo pela metade, do volume geral das aguas rmatitimas na plataforma continental. Prolong mento das correntes frias até baixas latitudes, atu- ‘ando com maior largura afastamento, sob tempe- raturas mais baixas do que hoje, determinando ccomplexas mudangas climaticas, sobretudo nas sre- ‘Tabela 1: Amplitudes msixima e minima de marés na costa brasileira, em metros. COCALIDADES “AMPLITUDES Maxima (m) ‘Minima tm) ‘Canal Norie (Rio Grande do Sul) 140 0,60 Laguna. a 4,50 0.40 Floriandpalis. 185 153 Si Francisco, 2:10 1530 Paranagud, 3.78 Santos. ‘ 2,06 1,50 ‘de Guanabara im Boqueira 271 cm Brocoi6, 237 ‘om Imbu 212 Cabo Fro. 204 Vito 220 0.60, Salvador. 3.60 Aracaju. 3.25 150 Recife. 3.10 130 Cabedelo, 342 1,68 Natal 383 Fortaleza. 4220 1.60 Amarragao (Luis Correia) 436 So Lun 7.80 Ttagui (Maranhio), 816 Belém, 3,70 2,03 Reprodurido do wabalho de Antonio Rocha Perteado: O Allatica Sil Gr Brasila Terra e ‘© Homem, Aroldo de Azevedo, Vol. l, As Bases Fisicas. pp 333). 29 Ab’Saer, AN Revista Briere de Gcomorfoogi, volume 1.12000) 27-43 as orientais dos continentes, como foi 0 caso da face leste do atual terrtério brasileiro (Ab'Saber, 1977), A regressio marinha criow massas de arcias descontinuas, que no perfodo posterior, seriam retrabalhadas e ransformadas em feixes de restin- gas, em setores sincopados de fagos ow pequenas enseadas. corrente fria de Falklands/Malvinas ‘casionou uma espécie de otimizagao da umidade, bloqueando sua penetracio continente a dentro, a0 Jongo do Brasil tropical atlintico. Enquanto 2s rmassas de ar equatoriais © topicais tornaram-se importentes para abranger as grandes reas hoje disponiveis para sua expansio no espago total do terririo. No entanto muita umidade de leste © ‘ocorrendo diminuigéo no volume das chuvas de vero, predominaram climas sub-quentes a duas cestages em um mosaic complexo de distribuicao desde a Amaz6nia ao Brasil Central. Os climas semi-drides nordestinos expandiram-se pelas de presses interplanilticas do Brasil centto-leste © borda norte do Planalto Central, atngindo a depres- so pantancira, ¢ importantes setotes dos altiplanos do Brasil Sul e centro da Bacia do Parané foram semi-dridos ftios, ainda uma vez sob distribuigo climitica e biogeogrifica complexa. A fragmenta- 0 da tropicalidade determinou uma redugio das florestas, ampliagdes dos serrados para 0 norte, ‘expansfo das caatingas sob diferentes padrdes para ‘0 sul, ou mais precisamonte para o W-SW e centto- Teste. As florestas atlanticas perderam continuida- 4e, petmanecendo em reduros de vegetagio, trans- ormadas em refigias de fauna (Teoria dos Redu: (os ¢ Refigios), Na faixa da Serra do Mar as flo restas recuaram para a meia serra, permanecendo preferencialmente em setores menos. ingremes ‘enquanto a secura costeira subiu um tanto pelos piemontes de espories menos expostas a atuagao dos ventos discretamente imidos. Nos altiplanos cristalinos do Brasil de Sudeste (Bocaina, Campos o Jordi, rio Verde e importantes wrechos da Mantiqueira e alto rio Grande) estabeleceram-se ‘campos fries e estépicos, com redutos de Araucéri- as. No macigo do Iatiaia houve presenga eventual de geloidegelo, através de um complexo sistema altitudinal de tipo peri-glacial. Um fato documen: tado pela claboragdo ou (re)elaboragao das canel rras._Climas frios anteriores a Wirn IV ~ Wiscon. sin Superior podem ter agido, com maior intensi dade geomorfogenética, respondendo pelos com: plexos tipos de conglomerados gerados no pic- ‘monte do macigo alcalino regional. Um ring dyque desventrado por torrentes ¢ erosio fluvial, desde 0 periodo de soerguimento da Mantiqucira até & retomada eresiva pos-Bacia do Taubaté ¢ Bacia de Rezende. As torrentes de blocos existentes na face interna da Uha de Sio Sebastiao, assim como os epésitos clisticos grosseiros do baixo. rio. das Pedras (Cubatio), parecem tet sido originados, também, nos diimos tempos no Plestoceno Supe- rior. Parece certo que & semi-aridez da época foi mais forte ao norte do altiptano da Bocaina,afetan do 0 envoltério das colinas e vertentes de morros hoje Mlorestados, existentes nas ondulagses da Baixada Fluminense e encostas dos motros dis- postos abaixo por pontSes rochosos (tipo paes de ‘aiicar) Um fato que levou Louis © Agassiz e seus diseiplulos a interpretarem agodadamente as scone lines wegionais como documentos diretos de agies slacidrias (na décaéa de 60 do século XIX). Na Spoca, Agassiz imaginava que no period glacial ~ entio reconhecido com o timido ~ teria reduzido lima do mundo em menos de 15® a 17" de tempe- raura, A notével revisio efetuada pelo Projeto Climap, pos EE.UU, avaliam hoje, que a redo das temperaturas médias na face da Terra, aleangou de 3° 2 4. Isso, evidentemente, sem maior det lhamento baseado na realidade da compartimenta ‘elo elimética dependente da compartimenagio Copogrifica © morfoldgica, Sem falar da complex zonagio climstica, biogeografica associada a fatos zonais, azonais ¢ intra-zonais, 6 certo ponto im- possiveis de serem reconhecidos mapeados. Conhecimentos sobre deltas intalagunares ou deltas de fundo de estuitios, ¢ canais sublitor- ne0s foram elaborados por Aziz Ab'Saber (Petizes, 1 Maranhio, Bretes no Paré), por Hangriv Putzet Alagoas costeiras de Santa Catarina e Norte Sulro- srandense), por J. Tricart © Alba Gomes sobre 0 Aelia de fundo do paleo estuitio do Guaiba Estudos miltiplos de setores diferenciados 4a costa ¢ sua origem, foram realizados sobre 0 Recdneavo Baiano, 0 setor Alagoas-Sergipe, deltas arqueados do So Francisco e rio Doce. No caso da grande restinga ¢ da lagoa dos Patos, extremo sul 4 pas, foram realizadas pesquisas detalhadas por professores da Escola de Geologia da UFRS, so bretudo por Patrick Delaney, Hardy Jost e Vil Recentemente foi editado um excelente trabalho sobre a Iha de Santa Catarina, por Olga Cruz (1999), As pesquisas coletivas sobre a Baixa da Santista, de iniviativa de Aroldo de Azevedo, ands hoje se constituem em um marco da biblio- grafia da zona costeira do Brasil de Sudeste Pesquisadores dos Insttutos de Geo. cias das Universidades Federais Brasilciras desen- volveram pesquisas detahadas sobre os litorais ot setores da costa, em diferentes Estados brasileiros io Grande do Sul, Parané, Rio de Janeito, Esp rito Santo, Bahia, Sergipe, Alagons, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Cearé, Maranhio, Pari ¢ Armapa, Excelentes estudos hidroldgicos e geo morfolégicos igualmente foram realizndos. por ikenicos e cientistas do Instituto Oceanogrifico © Instituto de Geocitncias da Universidade de Si0 Paulo. A Universidade gaiicha da cidade de Rio Grande implantow um produtivo centro de pesqui sas oceanogrificas, enquanto 6rgios governamen- tis ea ACIES ddesenvolveram excelenies estudos ai edo de x0 Por 2 € Sto Rio i en dos Ab’Sobr, AN Revista Brasileira de Gcomodolgia, volume 1m. 1 (2000) 27.83 sobre gerenciamento costeiro ¢ ecossistemaslitors- noose sublitorineos no Brasil 2.0 Delta Interior de Breves, na Retro-terra de Marajé ‘A. regio deltsica interior de Bre- \esBoiugi, interposta entre a terra firme de Ma- ‘aj6 Ocidental e as balas de Caxiuiand/Melgago Area conhecida popularmente por estrcito de Bre ves, a qual na realidade & um tampio deltico que ‘amporou um paleo canal largo que interligava 0 ‘Amazonas com o estuério do rio Para (Bacia de Gusjars), A nomenclatura popular da regiio (que designava a transigdo entre 0s rios do estuétio © a Jarga bata de Guajard/Rio Pard) incluia a expresso Baia das Bocas, equivalente 2 identificagio da frente de um delta, aproximadamente do tipo birds food. Na tealidade, as terminagées do delta de Boiugi/Breves documenta uma rea de assores ‘mento deltfico, muito recente, localizada entre uma ‘tha 0 continente, grosso-modo similar & baixada de Perizes no Maranhio, ou a baixada Santista na retro-tera da ilha de Santos e Sio Vicente, Entre- lunfo, a imagem de satélive € um documento didati- 20 de toda a sequéncia de episédios ocorridos na regido, desde 0 Pleistoceno Superior até o Holoce- AA imagem de satélite registra um comple x0 delisico da retro-terra de uma ilha continental anteiormente separada dos tabuleiros_interiores por um longo canal. Entre 23,000 e 13,000 A.P. (Antes do Presente), quando © mar estava a -100 metros, 0 Fio Amazonas desaguava a dezenas de guildmetros & frente de sua atual embocadura, A esse ramo principal de orientagdo Oeste-Leste, contrapunha-se um vale escavado em Portel Anais, que contornava a porglo ocidental de Ma- raj, € que recebia 0 baixo vale, entéo muito esca- valo do Baixo Tocantins, seguindo © rumo do rio Para até além da chamada Baia de Maraj Entre 12.700 e 5.500 anos AP., 0 mar iniciou uma subida de nivel, que culminow por um altcamento de 3 metros acima de seu nivel médio tual. A penetragio firme e larga das diguas mari has nos baixos vales estendidos dos rios Amazo- ras € Pari respondeu pelo estabelecimento do paleo canal de Broves e as rias anteriores de Portel € Caxiuand, hoje transformada em dagos de terra firme. Na imagem de satélte fiea bem claro que & delia Boiugi/Breves formou-se apds 0 alogamento dos vales de Porte! ¢ Caxiuans, durante 0 descenso das sguas referiveis a0 orimum climstico. Por essa rao pode-se afirmar que 0 assoreamento delidico do paleo canal de Breves é bastante recente, tendo ‘no maximo 5.000 anos de processos.fhivio- ‘eligicos. Nao se pode confundir 0 delta Boiu- cBreves com as ilhas rasas de fundo de estudrios existentes no interior da Boca Norte do rio Amazo- 31 ras, entre © Amapd e Marajé. Como também hi ‘que separar bem o modelo do delta das sete bocas (Breves/Boiug), em relagiio ao complexo deltaiico do Baixo Tocantins. (Landsat 5, WES 225-61, 1986, Por gentleza do INPE, 8. José dos Campos, SP © estuério do rio Paré, entre a regio dé Belém e a costa Sul-Sudeste da Ilha de Marajé (1995). Trata-se de um continuo estuarino que se inicia na Bafa das Bocas (delta de Boiugi/Breves), prossegue pelo chamado rio Paré, rea em que recebe toda a massa de guas do rio Tocantins inclui uma pequena bafa frente a Belém, 2 altura do cemboque dos rios Guam/MojwAcari, passando & ‘longada boca do complexo estuarino, sob 0 nome de baia de Marajé, Da bafa das Bocas até a freme dda baa de Marajé decortem 300 quilometros de cxtensio, [No embaque principal do rio Amazonas, desde a boca do Xingu até as ilhas frontais do estu- {rio estendido do rio, existe uma distancia aproxi- mada de 370 quilémetras, através de diversos agrupamentos de ilhas, que se comportam como vverdadeiros arquipélagos fluviais de fundo de estu- ‘0 primeiro trecho, que se estende das bocas do delta de Breves até & Ponta do Flexal, na embo- cadura do Tocantins, medeiam 125 quilémetros. E dat até um ponto intermedidrio frontal da baia de Marajo, existe um eixo de 185 quilémetros. O setor mais homogéneo do fundo do estuévio do rio Para é fo que se estende da bafa das Bocas até as proxim dades de Curralinho; daf por diante até a regido que antecede a for do rio Tocantins, existem estrangu: Iamentos forgados pelo dédalo de ilhas e canais de ‘So José da Boa Vista, onde 0 estuério, que vinha conservando de 10 a 11 quilémetros, reduz-se a pouco mais de 3 quilometwos. Para se avaliar © _acréscimo de dguas inserido pelo Tocantins no cstnirio do rio Pard e bata de Marajé, 6 importante registrar que, na foz, 0 tio apresenta mais do que 23 quilémeteos. Deixando a pate tais dimensionamentos € possivel caracterizar os diferentes niveis de terras baixas existentes nos bordos do estudrio do rio Pars « baia de Marajé. © mais baixo ntvel de sedimen- {acto corresponde as ilhotas frontais arenosas do delta estuarine do Tocantins, representado por sedimentos fluviais, do padrao da ilha Araraim, Depois segue-se 0 padrao de sedimentacio fina existente no delta interno formado por tiplice conflugncia dos rios Guam, Mojé © Acar, em uma sea jé dominada por florestas de vétzea, Lipicamente amazénicas, Logo acima segue-se 0 nivel de baixos tetragos de Icoaraci, localmente aumentado por cascalheiras, ocorrentes na regio de Belém e borda leste de Maraj6. A partir desse nivel de legitimos terrayos passa-se em altura para a superficie aplainada de Anajés, que abrange toda ‘a metade ocidental de Maraj6, onde se projetam ros © igarapés para noroeste, oeste, sul e sudeste, na ditecdo da ilha de Charapucu e baia do Vieira _Ab’Saber, AN /Revisa Busia de Goonesfolgi, volume {1 (2000) 27-83 Gtandc, deta interno do Breves Boingo ro Pars A superficie do Anais, tal somo ofa designamos esta muito hem representada na porgio eentral do sitio de Belém do Par assim coma nos alos da resian de Mosqeeiro, © parcialmente- no alinha- mento das pala ias ovorrentes desde a Ponta de Pedas até Salvaterra na margem este de Marj ‘As panics alagives,lagos © esos que se estendem desde o rebordo esniral do bloco de Anajisatéo canal su eo ioral atlintco consti 4 rmais complena rea de sedimentagao recente da ‘Amazonia. E possvel que o Tocantins tenha tio fom brago de penciragio antiga entre Muané Ponta das Pedras, E quase certo que 0 Tago de Santa Cruz do Arar tenha sda wma enseada hoo cfnica fechada por restingas progresivas de um velo litoral. As eventuais ters firmes centras, denominadas genericamente por tesos podem ter sido hancosrasos de silos, arcia earls antero res a fase de colmatagem recente que gerow a lances inundiveis Araguai/Mana6, (© mossico dos ecosisemas constiuido nas eras firmes ¢ plantcies alagavels de Marajo, Belém Mosqueiro ¢ GuaméMoju ¢ extremamente ‘ati em termos de suportes ecolbgieos, consti tuigdo biden © Fancionaldade, Nos diferentes comptimentosrasos da giao podem ser detectae dos Motestas densas de tetas firmes insulares ou continenais CAnajés-Belém) lrests de virreas em planicies aluvisis ou detdcas (Guam, Moje Acar; delta intemo GuamieMoja; campos sub mersveisefainas de aningafs Mara; campinas, campinaranas © voredas campestrespsamstlas (Mojs, Bragantina), © por fim, ecossistemas de ranges na margem diets da bain de Mara, Nas veredas atenosas da regtio de Bragantina dosta- ase forestas paleriasarmaradas a faixas cen- sais de planices, onde houveetrabalbamento de arise insergao de terra ixo.em diques marginais ina faa de tansigho do bloco de Anajés para os campos submersveis de Mara, em uma farsa SE NW que se estende desde os arredores de Muana a a proximidades de Chaves, osorre em ceos sistoma de palmceas e bosques diferenciados), Os retthamentas do bloco de Anais nesta linha gros 0 moda sul norte de separagio, ocorente no cen fto de Marjo, constiuem 0 documento da mais Interioszaa linha de costa holdeéniea de grinds iha. A segunda ftha de costa ficou incl no horde oriental do lage de Santa Cruz do Atari, Os énalhes da teto-trra mas interionizadas devern comesponder ao otimum climatic (5.000-6.000 anos AP), enquanto 9 bord oriental da bata de Santa Cruz doe tr sido gerado em uma costa rasa, hi pelo menos 300 anos AP. [imagem Landsat 5. WRS 227-61, por gentlera do INPE, S. José dos Campos} O delta estuarino da embocadura do Am zonas,constuio no largo vio Muvial que separa o ‘este de Marajé das colinase planicies ribirnhas 32 do Amapé. Trata-se de um dos mais gigantescos ccomploxos deltdicos estuarinos da face da terra. Da peguena Tiha Galhofio (NNE de Marajé) até a Ponta do Jupati no. Amapa (ao sudoeste da Tha Curus) medeiam 180 guil6meiras, pasando pela frente dos trés canais que constituem a embocadura ddo rio Amazonas: Canal Norte, Canal Perigoso ¢ Canal Sul Observado com maior detalhe, o comple x0 delidico estuaring do Amazonas ~ excluido © delta tampio existemte entre Marajé ¢ Portcl baia das Bocas — apresenla quatro agrupamentos de illas, a partir da embocadura do Xingu e das ilbas Urucuriacdia e Grande de Gurupd. Ainda que a titulo provisério, designamos os sub-conjuntos ingulares estabelecidos no largo estusrio, segundo a seguinto classificagto: 1. Tampdo deltdico estuai no do conjunto Gurups-Queimada, entre 0s quais, corre um dédalo de ilhas de porte médio a peque- ‘no, expremidas entre a baa do Vieira Grande, Canal do Sul ¢ 0 Canal do Norte; 2. Sub-deltas engastados dos rios Jacaré e Annds/Charapucu (elor Oeste © Nondeste de Maraj6); 3. Thas fron- ais recemtes, geradas por sedimentagio argilosa, » partir de rotalho ow pequenos niicleos do baixo (errago de Belém-Marajé, com acréscimos de pla nicies alagiveis costeiras e a pequena banda de manguesais de (odo 0 arguipélago estuarino, A. imagem de satélite cxibe claramente @ ocoréncia, de peguenas depressdes Incustres colmatadas butidas nos tesragos ras0s florestads. (has Quei- mada ou Serratia € Gurupé Grande) Na ilha de Mexiana escalonam-se duas apertadas linhas de ccostas, ap6s 0 corpo principal do terrago, sendo que 1 mais frontal das harrancas de abrasdo inclu uma faixa terminal do planfeies de marés (manguesal), Pequenas e sincopadas depressbes lacustres, pari: almente colmatadas restaram entre a barranca do {errago principal c o reverso do terraga de constr «40 matinha, A massa de gua doce projetada pelo Amazonas no Atlntico, incluindo grandes vou: ‘mes de argilas ¢ siltes, impede de certa forma a existéncia de manguesais devido a baixa salinidade do Mar Dutce. Os verdadeiros irechos de planicies de marés com mangrove acontece no litoral ama paense, a partir do Canal ¢ Ponta do Bailique © costa da ilha de Vit6ria, borda Atléntica, Apés a interrupezo cxistente na margem esquerda do tio Araguari, onde. predominam sedimetnos aluviais descartados da drea de emboque recurvo, estende- se 0 tinica trecho de manguesais mais expressivos no quadrante nordeste do delta do Araguati, Na ilha de Maracé ocorrem pequenas faixas de man- gues a sudeste e noroeste; assim como ao longo do cchamado Canal do Inferno, que biparte o coxpo da itha. Desde 0 Canal de Parapaporis até o ponte de infcio das largas fainas de restingas do Cabo Cassi- pote ¢ Cabo Orange, existem pequeninas reentrin- cias com mangue, as quais cedem espago para uma A’ Suber, AN /Revista Brasileira de Geomorfclogi, volume 1,1 (2000) 2743, longa faixa de plantcies Mivie-marinhas. No Oia ppogue a baixadas flivio-marinhas interpoem-se centre a8 restingas arenoses © uma paleo linha de cosla extemamente recortada, talvez esculpida por abrasio durante otinum climético. 3.0 Baixo Vale do Rio Ribeira e o Sistema La- ‘gunar Estuarino de Cananéia-Iguape Na histéia goomorfol6gica ¢ marinha da repo costa sul do Estado de So Paulo, sueede tamse fasesevoluivas de diferentes ondens de frandeza temporal ¢ espacial. Em uma sintese despretenciosa,eem carder de primeira aproxima Go, regisramos es seguntes eventos gue marca Fam histéiafisiogetica da regio: para claborar esse anigo de macro-geomorfologia centado. no conjunc de fos insvitos na provinea costera sal de Sia Pouo, tomamos por base os trabalhas de Femando de Almeida, Ruy Ozério de Freitas € Arie Ab'Saber. Tudo se iniiou com a separagdo ene os dois bocosprncpais do continent ao-brasieio (era de Gondwana), Terrenos cxstalnos semi- aphinados, dspostos em nivel teténico relativa- meine ato. No Creticeo Superior, logo apés & aagio da tectinica de placas ¢ penetragao das fgus do Atintico Sul, enire a AVfica ¢ 0 Brasil estabelecimento. de das dceas de sodimentasio, ‘oikmenteepésitas, separadas distintast a hacia do Grupo Bauru na preo norte da Bacia do Parana (cies lagunar ¢ Mivio-lacuste) © da fossa da chamada Bacia de Santos na plaaforma continen- tl este de uma dre de falhamentos escalonados (iis predominantemente- marinhas), Linkas. de fh esalonades parts 2 fossa submarina da plstaforma, prenunciam a formagio da Serra do Mar. Ao fesho da sedimentagdo cretécica, ios lonzos se dirigem para o Parand ~ em um esqucma de soperimposigio.hidrogrifica porcteticiea ~ nquoto ros curtos se ditigem para frente mart tina, passando a realizardissccagGes progressivas, dor evosio Mavi temontante. Num esquema di namico do soereuimentes epirogénices, de desigual fora de elevagio,aplicado a um oenjunto liol6gi- 0 de tochas metamérficas pouco resistentes (em fuixas NE-SW) enquadradas por macigos de rochas das siuadas nas mais diversas posgdes, proces ‘00S um dos mais interioizados recuos das es carps da Serra do Mar, avaliado em 80 quilome- tos da inka de costa tual. Enquanto eram gerados csporées sub-paraleos, em wma larga treliga de tales subseguientes, acrescidos de pequenos © rédios vals neisos em linhas de fatras tect cas ou em linhas de falhas. No modelo de hosts tpicos,rstaram alguns macigos costeros islados da serra e seus esporses, transformados em ils montanhosas nos perfodos de maxima ingresio das suas martimas, Epitogénese continuada,perodos 33 de tect6nica quebravel_pene-contemporineos a0 soerguimento da Serra da Mantigueira e Plananlto Alintico, intermediando a Fossa do Médio Paraf- ba, Aplainamento de nivel intermedidrio inferior (modelo cimeira do Macigo de Monte Serrate Santa Terezinha) atingindo ales inter-espordes, ‘morros € setores de macicos insulares. Uma flexura continental envergando essa superficie de aplaina- ‘mento, talhada em rochas cristalinas, na diregdo do Atlintico, comportando possiveis (neotect6nica. pds todos esses acontecimentos tectOni cos, estimuladores de processos erosivos, ecorreu a

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