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jetoria, ascendente ou descendente), e de seu cor ia mais precisa, de todas as propriedades, sempre soci: lificadias, de que se € portador, propriedades sexuais, ie, mas tambem fisicas, elogiadas, como a forga ou a (OU estigmatizadas. 1D} A légica da pratica Nao ¢ facil falar da pratica de uma maneira que nao seja negati« va; e principalmente da pratica no que ela tem de mais mecanico ett aparéncia, de mais oposto a légica do pensamento e do discurso. Todos os automatismos do pensamento por pares estio af para ex- eluir que a busca de fins conscientes, qualquer que seja 0 dominio, [Possa supor uma dialética permanente entre a consciéncia organiza- dora ¢ os automatismos. A alternativa ordinaria da linguagem da consciéncia e da linguagem do modelo mecanico sem duivida nao se ‘imporia tio amplamente se nao correspondesse a uma divisao fun damental da divisdo dominante do mundo: ao pensar diferentemen- te, dependendo se pensam a si mesmos ou se pensam os outros (ou Seja, as outras classes), os que tem 0 monopolio do discurso sobre 0 mundo social sao de bom grado espiritualistas para si mesmos, ma- Aerialistas para os outros, liberais para si mesmos, dirigistas para os mutros e, logicamente, finalistas e intelectualistas para si mesmos, jecanicistas-para os outros. Isso se observa na economia em que se cilara entre a inclinagao em atribuir aos agentes econdmicos, ¢ inda mais ao “empreendedor”, a capacidade de apreciar racional- jente as possibilidades objetivas ea tendencia em outorgar aos me inismos autorregulados do mercado o poder absoluto de regular as feréncias', Quanto aos etndlogos, eles poderiam estar menos in linados a linguagem do modelo mecanico se, sob a ideia de troca, sessem pensado nao apenas 0 potlatch ow o kula, mas também seus pprios jogos de sociabilidade que se expressam na linguagem do ito, da habilidade, da delicadeza, da destreza ou do saber [azet, @ tos outros nomes do senso pratico; ese, ao abandonar a troca de Populism realiza uma combinacBo mais inesperada, uma vez que While € Povo como o burguts pens asl mesmo, dons ou de palavras, tivessem pensando nas trocas nas quali os Gt ros hermeneuticos se pagam no mesmo instante, como as {roeAs de golpes, evocadas por Georges H. Mead, em que cada posigii (i ‘corpo do adversario oculta indicios que € preciso pereeber €1f Hell estado inicial, adivinhando no eshoco do golpe ou da esquiva 0 POF vir que oculta, ou seja, 0 golpe ou a finta. Voltando-se para as trois mais mecanicas e mais ritualizadas em aparéncia, como a conver cao obrigatoria, encadeamento estereotipado de estereotipos, eles teriam descoberto a vigikincia incessante que é necesséria para {ze funcionar essa engrenagem de gestos e de palavras reunidas, a atems ‘cao a todos os sinais que no uso das brincadeiras mais rituais ¢ ine dispensivel para se deixar levar pelo jogo sem se deixar arrebata pelo jogo além do jogo, como acontece quando o combate simulado domina os combatentes, a arte de jogar com os equivocos, os suber tendidos ¢ os duplos sentidos da simbélica corporal ou verbal que ¢ necessario possuir, em todos os casos em que a justa distancia obje tiva esté em questo, para produzir condutas ambiguas, revogaveis, portanto, ao minimo indicio de recuo ou de recusa, ¢ capazes dle manter a incerteza sobre as intengoes que incessantemente oscilam entre o abandono e a distancia, a obsequiosidade e a indiferenca Basta entao voltar aos seus proprios jogos, a sua propria pratica do jogo social, para descobrir que o senso do jogo € ao mesmo tempo Tealizacao da tcoria do jogo e sua negacio como teoria._ F uma tinica e mesma coisa descobrir 0 erro te6rico que consis teem dara visao teorica da pratica para a relacdo pritica coma prath ca e, de modo mais preciso, em colocar no prinetpio da pratica @ modelo que se deve construir para explicd-la e perceber que esse erro tem por principio a antinomia entre o tempo da ciencia e o tem po da acdo que leva a destruira pratica ao The impor 0 tempo inten poral da ciéncia. Passar do esquema pratico ao esquema te6rico, | eonstruido aps a Batalha, do senso pratico a0 modelo te6rico, que podle ser Tido ot como tam projeto, um plano ou um metodo, ol leoino um programa mecanico, ordenacao misteriosa misterioss DD, GM. Lesprit le so et la socete, Paris: PUF, 1963, p. 37-38. ida pelo erudite, significa deixar escapar tudo aquis i fiz avealicade temporal da pratica que esta sendo felta, A oa l#8e desenvolve no tempo € tem todas as caracteristicas correlati- Como a irreversibilidade, que destroi a sincronizacao: svia estru- itt temporal, ou seja, seu ritmo, seu andamento e principalmente orientacao, ¢ constitutiva de seu sentido: como no caso da musi- } qualquer manipulacdo dessa estrutura, nem que se trate de uma ples mudanga de andamento, aceleragao ou desaceleracao, im- We-lhe uma desestruturacao irredutivel por causa de uma simples Wiclanca de eixo de referéncia. Em resumo, devido a sua total ima. encia a duracao, a prtica esta ligada ao tempo, ndo somente por 24 No tempo, mas também porque ela joga estrategica- Thente com o tempo e p: damentc aa Existe um tempo da ciencia que nao é 0 da pratica, Para o analis- ta, o tempo se abole: nao somente, como muitas vezes se repetin desde Max Weber, porque, como sempre chega depois da batalha, le nao pode ter incertezas sobre aquilo que pode advir, mas tam. bem porque tem o tempo de totalizar, ou seja, de superar os efeitos do tempo. A pritica cientifica esta tio destemporalizada que tende a. lexcluir ate mesmo a ideia do que ela exclu: uma vez que ela nao € Possivel senao em uma relacdo com o tempo que se opde ao da prati- a, ela tende a ignorar o tempo e, dessa maneira, a destemporalizar a ritica, Aquele que esta engajado no jogo, tomado pelo jogo, ajus. se nfo ao que vé, mas ao que pré-ve, ao que ve de antemao no pre- inte dirciamente percebido, passando a bola nao para o ponto mide se encontra seu parceiro, mas para o ponto que este alcancard antes do adversario — em um instante, antecipando as antecipa- Jes dos outros, ou seja, como na finta, que pretende frustré-las, das inea do conjunto dos adversarios e do conjunto dos parceiros cap- idos em seu devir potencial. E, isso, como se diz, no mesmo instan- ;€m um piscar de olhos e no calor da acdo, isto €, em condicoes Ine excluem a distancia, 0 recuo, 0 sobrevoo, 0 prazo, o desliga- nto. Ele ¢ embarcado em um porvir, presente no porvir, ¢ abd indo da possibilidade de suspender a todo momento 0 éxtase que o projeta no provavel, ele se identifica como porvir do mundo, posite queéa Jando a continuidade do tempo. Excluindo assim a possibilidade a@) ‘mesmo tempo supremamente real e toda teoria da reducao subiti A) presente, isto é, ao passado, da ruptura brusca das aderencias € di adesoes ao por-vir que, como a morte, lana todas as antecipaghes da pratica interrompida na absurdidade do inacabado. A urgénelity na qual se tem razao de ver uma das propriedades essenciais da pie tica, € 0 produto da participacao no jogo e da presenga no futtit® que ela implica: basta se colocar fora do jogo, fora dos desafidiy como faz o observador, para fazer desaparecer as urgencias, os chile mados, as ameacas, 0s passos a seguir que constituem o mundo reilly isto é, realmente habitado|E somente para quem se retira completiy mente do jogo, que rompe totalmente o encantamento, a illusio, 10 nunciando a tudo o que esta em jogo, isto €,a todas as apostas sobt@ 0 futuro, quea sucesso temporal pode aparecer como pura descott: tinuidade e que o mundo pode se mostrar na absurdidade de um presente desprovido de por-vir, portanto, de sentido, a maneira das escadas dos surrealistas que se abrem para 0 vazio. O senso do jogo €0 senso do por-vir do jogo, o senso do sentido da historia do jogo que ‘da seu sentido ao jogo. ) Fo mesmo que dizer que existe uma possibilidade de dar contil cientificamente da pratica — e em particular das propriedades que cla deve ao fato de que se desenrola no tempo —a menos que se C0» nhecam os efeitos que a pratica cientifica produz por causa da (otdll: zacao: basta lembrar do esquema sinotico que deve precisamente sua eficdcia cientifica ao efeito da sincronizacao que produz ao pet mitir, mediante um trabalho que exige muito tempo, ver no mesmd instante fatos que nao existem sendo na sucessao € revelar assim re laces (e, entre outras coisas, contradigdes) que de outra forma sett am imperceptiveis. Como pode ser visto nos casos das praticas rittt ais, a cumulacio ea seriagio de relagdes de oposi¢ao ou de equiva Iéncia que nao sdo nem dominadas nem dominaveis por um unico informante, ¢ jamais, em todo caso, no instante, e que nao podem ser produzidas senao por referencia as situacdes diferentes, isto é nos universos de discursos diferentes e com funcdes diferentes, ¢ 0 que garante a analise o privilégio da totalizacdo, isto é, a capacidade de de dara visio sinotica da totalidade e da unidade das relax e coloca ide no fato de que ela exchti essas questdes. condigao da decifracto adequada, Em razao de todas a Sibilidades que ele tem de ignorar tanto as condicoes so. is da mudanca de natureza as quais submete a pratica e os'seus dutos, quanto a natureza das transformacoes logicas que impe Informacao recolhida, o analista € levado a todos os erros que de- jrrem da tendéncia a confundir o ponto de vista do ator eo ponto vista do espectador, a procurar, por ¢ lo, solucdes par iest6es do espectador que a pratica ndo se coloca porque nao the is €16= mplo, solugdes paras as , em vez de se perguntar se o proprio da pratica ndo O paradigma desse erro epistemolégico fundamental po- de ser encontrado na “perversidade” desses escritores que, segundo T.E. Lawrence, atribuem a um “homem in- teiramente absorvido por sua tarefa” o ponta de vista “de um homem senitado em uma poltrona”. E Maxime Chas- tang, que a ese texto, contin: “Ramus converte © labor des camponeses em movimentos aparentes da pai- sagem: quando o eultivador que cava se abaixa pends. ‘mente, nao é, no entanto, a terra que levanta; ou ele cava endo wea tern leant, eres parece evant, endo € mais o cultivador que olha, masa camera cinematogré- fica de algam artista em frie que misteriosamente subs. fituiu seus olhios; Ramuz confunde trabalho e lazer” (CHASTAING, M. Op. cit., p. 86). Nao € por acaso que 0 romance oscila entre 05 dois polos, que a ciéncia social também conhece: por um lado, o ponto de vista absoluto de ui Deus onipresente e onisciente que detem a verda- de de seus personagens (demunciando suas mentiras, ex- plicando seus silencios etc.) e que, a maneira de um an- tropélogo objetivista, interpreta, explica; por outro lado, © ponto de vista que se oferece como tal de um especta- dot de Berkeley. O privilégio da totalizacao supée, por um lado, a neutralizacao tica (portanto implicita) das funcoes pratica articular, deixar de lado os usos praticos das referencias temporais , neutralizacdo que a relacto de pesquisa exerce por si como situa- fio de questionamento “te jentos praticos e, por outro lado, a aco, que exige tempo, desses ins- imentos de eternizacdo, acumulados ao longo da historia ¢ adqui los por meio do tempo, que sao a escrita e todas as outras técnicas de isto é, neste caso ico” que supe a suspensio dos investi- u07 IE registro ¢ de andlise, teorias, métodos, esquemas ete. Ao justapor Ht simultancidade de um espaco tinico a série completa das opOsigoes temporais que so postas em aco sucessivamente por agentes dif Tentes em situacdes diferentes e que nao podem jamais ser mobiliza das na pratica todas juntas porque as necessidades da existéncia nilo exigem jamais uma tal apreensao sinotica e até mesmo a desencoras Jam por meio de suas urgencias, 0 esquema do calendario cria de ‘uma s6 vez um volume de relagoes (de simultaneidade, de sucesso ou de simetria, por exemplo) entre as referencias de nivel diferente que, nao sendo jamais confrontadas na pratica, sao praticamente compativeis ainda que sejam logicamente contraditorias, Ao contrario da pr ncialmente linear”, como 0 discurso, que, devido ao “seu modo de construgio, nos obriga a ex- Pressar sucessivamente, por uma série linear de signos, relacdes que © espirito percebe ou deveria perceber simmultancamente ¢ em uma outra ordem”, os esquemas ou diagramas cientificos, “quadros sin6- ticos, arvores, atlas histéricos, espécies de tabuas com entrada du- pla”, permitem, como o observa Cournot, “tirar um proveito mais ou menos Tavoravel da extensdo em superficie para figurar relacdes € vinculos sistematicos dificeis de desembaracar no encadeamento do discurso””. Dito de uma outra forma, o esquema sindtico permite apreender simultaneamente e de uma s6 vez, uno intuitu et total si- mul, como dizia Descartes, monotéticamente como dizia Husserl’, significacdes que sto produzidas e utilizadas politéticamente, isto 6, ‘do somente uma depois da outra, mas uma a uma, passo a passo. Além do mais, o esquema sinusoidal que permite representar as re- agdes de oposigao ou de equivalencia entre os elementos ao mesmo tempo em que os distribui (como em um calenditio) segundo as leis da sucessao (y acompanha x exclui x acompanha y;y acompanha x €zacompanha y acarretando zacompanha x; €, por fim, ow y acom- panha x ou x acompanha y), € a0 mesmo tempo visualizando sim- plesmente as oposigdes fundamentais entre 0 alto ¢ 0 baixo, adireita | €aesquuerda, permite controlar as relacées entre as referéncias ou as 3. COURNOT, A. Essai sur les fondements dela connaissance et sur les caracteres de Iweritique philosophique. Paris: Hachette, 1922, p. 364 WHUSSERL, E. dees direcrices pour une phenomenologie. Paris: Gallimard, 1950, 4on-nor. fazendo surgir todo tipo de relagoes (algumas Iitatias Ws Tels da sucesso) que sio excluidas da pratica porque Bb ulferentes divisdes ou subdivisoes que o observador pode cum, fir nto sao sistematicamente pensadas e utilizadas como momentos fle uma sucessio, mas entram, de acordo com o contexio, nas opost, Pontos dessa subdivisao de um ou outro desses periods). Como a genealogia que substitui um espaco de relacdes univo- fas, homogeneas, estabelecidas de uma vez por todas, por um con Finto espacialmente ¢ temporalmente descontinuo de ilhotas de pas Tentesco, hierarquizados e organizados de acordo com as necessida. es do momento e levados a existéncia pratica irregularmente, ou como o plano que substitu o espaco descontinuo e lacunar dos per- cursos praticos pelo espaco homogéneo ¢ continuo da geometria, o calendirio substitui um tempo linear, homegéneo e continuo pelo tempo pritico, feito de ithotas de duracao incomensuraveis, dotidas de ritmos particulares, aquele do tempo que urge ou que nao avanca, de acordo com o que se faz dele, ou seja, de acordo com as funcoes que Ihe atribui a ago que ali se realiza; ao distribuir esses pontos de referencia que s20 as ceriménias ou os trabalhos sobre uma linha eon. tthua, ele os transforma em pontos de divisio, unidos por uma rela. Gio de simples sucessdo, criando assim de uma vez s6 a questo dos intervalos ¢ das correspondéncias entre pontos metricamente ¢ nao mais topologicamente equivalentes, Conforme a precisdo com a qual o acomtecimento consi derado deve ser localizado, conforme a natureza desse acontecimento, conforme a qualidade social do agente envolvido, a pratica recorrerd a oposicdes diferentes as. sim, 0 *periodo” chamado eliali, longe de se definir, como em uma série perfeitamente ordeneda, em relays 40 momento que o precede e ao que o suede, e somente em relacdo a si mesmos, pode se opor tanto a esmarm quanto el h'usum thimgharine; ele pode também se opor, como “eliali de dezembro”, a “cliali de Janeiro", ou ainda, conforme uma outra logica, como as “grandes noites” ac “pequenas noites de furar” e as “pequenas noites de maghres”. Observa-se como ¢ artifical, ¢ até mesmo irre. al, 0 calendario que assimila e alinha unidades de niveis diferentes e de peso estrutural bem desigual. Conside- rando-se que todas as divisbes e as subdivisdes que 0 ob- servaclor pode registrar € curnular sa0 produzidas e wil zadas em situacoes diferentes ¢ separadas no tempo, a dquestdo da relacio que cada uma delas mantém com a Uunidade de nivel superior ou, ainda mais, com as divisbes cow as subdivistes dos “periodos’ aos quais ela se opde j mais se colocam na pratica. A série de momentos distri- butcos segundo as leis da sucessao que o observador constréi, guiado inconscientemente pelo modelo do ca- lendario, € para as oposigdes temporais colocadas em pratica sucessivamente o que o espaco politico continuo c homogeneo das escalas de opiniao ¢ para as tomadas de posicio politicas praticas que, sempre efetuadas em fun- ao de uma situaeao particular e de interlocutores ou ad- versiios particulares, mobilizam oposicoes de nivel dife- rente segundo a distancia politica entre as interlocutores Cesquerda: direita: esquerda da esquerda: direita da es ‘querda: :esquerda da esquerda da esquerda: direita da es- querda da esquerda etc.) de forma que alguém pode se encontrar 4 sua propria direitae & sua prépria esquerda no espaco “absoluto” da geometria, contradizendo a ter ceira das leis da sucessao. ‘A mesma analise se aplica as terminologias que servem para de- signar as unidades sociais: a ignorancia das incertezas e das ambi- guidades que esses produtos de uma logica pratica devem as suas funcGes e as condigdes de sua utilizacao conduz a producao de arte- fatos tao irreais quanto impecaveis. De fato, nada é mais suspeito do que © rigor ostentatorio dos varios esquemas da organizacdo social desenhados pelos etndlogos. Assim, sé s€ pode aceitar 0 modelo puro e perfeito da sociedade berbere, como uma série de unidades encaixadas que, de Hanoteau a Jeanne Favret, passando por Durk- heim, os etndlogos propuseram, com a condicdo de primeiramente ignorar todas as divisdes, alids, flutuantes ¢ varidveis conforme os lugares, que sao operadas no continuum das relacoes de parentesco (continuidade que manifesta, por exemplo, a degradacao insensivel pbrigacoes em caso de luto) para além da extensao da familia aquém do cla (adhrum ou thakharubth); depois, a dinami- caincessante de unidades que se fazem e se desfazem continu te na historia segundo a légica das anexacdes ou fusdes (assim Ait Hichem, os Ait Isaad reagrupam varios clas em um tini¢o ~ thale- harubth — diminutdos) ou cisdes (no mesmo lugar, os Ait Mendil, o- riginalmente unidos, dividiram-se em dois clas); por fir, a imprect= séo que é consubstancial as nogdes nativas, em seu uso pratico (em oposicdo aos artefatos semitesricos que a situacao de pesquisa, aqui como alhures, nao pode deixar de suscitar), porque ele € ao mesmo tempo a condicao e 0 produto de seu funcionamento: ainda mais que no caso das taxinomias temporais do calendario agrario, 0 uso das palavras ow das oposicdes que servem para classificar, ou seja, aqui, para produzir grupos, depende da situacao e, mais precisamen- te, da funcao perseguida por meio da produgio de classes, mobilizar ou dividir, anexar ou exchuir Sem entrar em uma discussdo aprofundada da apresenta- ‘cdo esquematica que Jeanne Favret oferece da terminolo- gia recolhida por Hanoteau (cf. FAVRET, “La segmenta- rité au Maghreb”. homme, VI, 2, 1966, p. 105-LL1. « FAVRET, J. “Relations de dépendance et manipulation de la violence en Kabylie”. L’homme, VII, 4, 1968, p. 18-44), ocorre que no caso do vilarejo de Ait Hichem (el BOURDIEU, P. The Algerians, Boston: Beacon Press, 1962, p. 14-20) € em muitos outros Ingares, a hierarquia das unidades socials fundamentais, aquelas que designam as palavras thakhavubth ¢ adhrum, € o inverso daquela que Jeanne Favret propoe acompanhando Hanoteaty; sso ain- dda que se possam encontraralguns casos nos quais, como © quer Hanoteau, thakharubth engloba adhrum, sem dii- vida porque as terminologias colhidas em tempos ¢ em lugares determinados designam a realizacao de historias diferentes, marcadas por cisoes, desaparecimentos ~ sem diivida bastante frequentes — ou anexacoes de linhagens Pode também acontecer que essas duas palavras sejam ‘encontradas indiferentemente para designar a mesma di visto social: € 0 caso na regio de Sidi Atch em que se tingue, partindo das unidades mais restritas: (a) el h'ara, a familia indivisa (designada em Att Hichem pelo nome de akham, a casa, akham n’Ait Ali), (b) altham, a farnlia estendlida, que agrupa as pessoas que sto designadas pelo ry nome do mesmo ancestral (na terceira ou na quarta gera ao) Ali ou X, as vezes designada também por um termo sem duivida sugerido pela topografia, o caminho que de senha um cotovelo quando se passa de um altham a ow tro, thaghamurth, 0 cotovelo, (c) adhrum, akharub (ow thakharubth) ou aharum, que retine as pessoas cuja or gem comum remonta além da quarta geracio, (A) 0 suf ‘ou mais simplesmente “aqueles de cima” ou “aqueles de baixo", (¢) o vilarejo, unidade puramente espacial, que agrupam aqui as dias ligas. Os sindnimos, 20s quais ¢ preciso acrescentar thaarifth (de aarf, se conhecer), ret hido de pessoas conhecidas, equivalente de akham ou de adhrum (alem de thakharubth), poderiam nao ser empre gados estritamente 20 acaso, uns colocando 0 acento mais na integracfo € na coesio interna (akham ou adh um) € 0s outros na oposi¢ao com os outros grupos (thag. hamurth, aharum). O s'uff que € empregado para evocar uma unidade “arbitréria", uma alianga convencional em ‘oposicao avs outros termos que designam os individuos dotados de uma denominacio comum (Ait.., distin. gue-se muitas vezes de adkrum com o qual coincide em Ait Hichem © em outros lugares. E preciso reconhecer na pratica uma logica que nao éa da logica para evitar Ihe pedir mais Togica do que ela pode oferécer ¢ de se condenar assim ou alhe extorquir incoeréncias, ou a Ihe impor uina coeréncia forcada. Aanalise dos diferentes aspecios, allds, estreita mente interdependentes, do que pode ser chamado o efeito de teor' zagio (sincronizacao forgada do sucessivo € totalizacao artificial, neutralizacio das funcdes ¢ substituicao do sistema dos produtos pelo sistema dos principio de producio etc.) revela, em negativo, algumas das propriedades da logica da pratica que por definicao es, capam @ apreensdo Ledrica. Essa ldgica pratica—no sentido duplo do Fees ape Tea eae Pensamentos, as percepcdes ¢ as ages por melo de alguns principios geradores estreitamente unl. uma vez que toda sua economia, que repousa sobre o principio da economia da logica, supoe o sacrificio do rigor em proveito da sim plicidade e da generalidade e porque ela encontra na “polythetia” is [_condicoes do uso correto da polissemia. Significa que os sistemas waa simbolicos devem sua coeréncia pratica, ou seja, sua unidade e gy, regularidades, mas também sua imprecisao e suas irregularidades, ¢ ate mesmo suas incoeréncias, ambas igualmente necéssarias porque inscritas na logica de sua génese e de seu funcionamento, por s © produto de priticas que nao podem preencher suas funcde as a ndo ser que engajem, no estado pratico, alguns principios que’ ‘S80 nag apenas coerentes ~ ou seja, capazes de engendrar praticas intrinsecamente coerentes a0 mesmo tempo que comp: as condicdes objetivas ~ mas também praticas, no se das, isto €, facilmente dominadas e manejiveis porque obe: uma Togica pobre e economica, ‘A apreensio sucessiva de praticas que nao se realizam senio na sucessilo € o que faz passar desapercebida a “confusao das esferas”, ‘como dizem os légicos, que resulta da aplicacao, altamente econd- mica, mas necessariamente aproximativa, dos mesmos esquemas a tuniversos logicos diferentes. Ninguém se preocupa em registrar e confrontar sistematicamente os produtos sucessivos da aplicacao dos esquemas geradores: essas unidades discretas ¢ autossuficientes devem sua transparéncia imediata nao somente aos esquemas que ali se realizam, mas tambem a situacao apreendida segundo esses ‘esmos esquemas em uma relacao pritica. A economia de logica que deseja que nao se mobilize mais de logica do que a pratica necessita faz com que o universo de discurso em relacdo ao qual é constituida €sta ou aquela classe (portanto, seu complementario) pode perma- necer implicito porque ¢ implicitamente definido em cada caso nae pela relacao pritica com a situagdo. Considerando-se que existem poucas chances que duas aplicacses contraditérias dos mesmos es- quemas se encontrem confrontadas no que € necessério chamar um Universo de pratica (mais do que um universo de discurso), a mesma €oisa pode, nos universos de praticas diferentes, ter como comple- mentar coisas diferentes ¢ ela pode, portanto, segundo universo. receber propriedades diferentes, e até mesmo opostas”. E dessa for- ma que, como ja foi visto, a casa que é globalmente definida como feminina, amida etc., quando € apreendida de fora, do ponto de vis- 5. A logica da pratica deve intimeras de suas propriedades ao fato de que uquilo que A logica chama universo de discurso ali permanece no estado priticn, ta masculino, ou seja, em oposi¢ao ao mundo exterior, pode se en- contrar dividida em uma parte feminina-masculina e em uma parte feminina-feminina quando, deixando de ser percebida com referén- cia a um universo de praticas coextensivo ao universo, ¢ tratada como um universo autOnomo (de pritica tanto quanto de discurso), 6 que ela ¢, ali, para as mulheres, principalmente no inverno' [-_ Qsuniversos de sentido que correspondem a diferentes univer- [sos de pratica sao ao mesmo tempo fechados em si mesmos — por- tanto, a salvo do controle logico por sistematizacao ~ e objetivamen- te afinados com todos os outros como produtos frouxamente siste- | maticos de um sistema de prineipios geradores praticamente inte- | grados que funcionam nos campos mais diferentes da pratica, Na l6- “pica do mais ou menos edo impreciso que aceita imediatamente como ‘equivalente os adjetivos “raso”, “monotono” e “insipido” , palavras favoritas do julgamento esteta ou professoral ou, na tradigao cabila, “pleno”, “fechado”, “dentro” e “embaixo”, os esquemas geradores sto praticamente substituiveis; é porisso que nao podem engendrar senio produtos sistemiticos, mas de uma coeréncia aproximativa e imprecisa que nao resiste a prova da critica logica. A sympatheia ton holon, para falar como os estoicos, a afinidade de todos os objetos de uum universo em que o sentido esta em todos os lugares e em todos as lugares de forma superabundante, tem como fundamento ou como contrapartida a indeterminacio ¢ a sobredeterminagao de cada um dos elementos e de cada uma das relagdes que os unem: a logica 56 pode estar em todo lugar porque verdadeiramente nao esti em lugar nenhum.” ‘A pritica ritual opera uma abstracdo incerta que introduz 0 mes- mo Simbolo em relagées diferentes ao apreendé-la sob aspectos dife- rentes ou que introduz aspectos diferentes do mesmo referente na mesma relacao de oposicio; em outras palavras, ela exclui a questao socritica da relacdo sob a qual o referente ¢ apreendido (forma, cor, fungao ete.), dispensando-se assim de definir em cada caso 0 crité- 6. Pode-se observar superficialmente que os pontos de vista adotados sobre a casa se opdem segundo a propria l6gica (masculino/feminino) que eles Ihe aplicam: esse desdobramento, que encontra seu fundamento na corresponcdencia entre as divi oes sociais eas divisbes logicas, ¢ o relorco circular que dele resulta, contributem sem davida muito para enclausurar os agentes em um mundo fechado ¢ acabado c fem uma experiencia doxica desse mundo, ry rio de selecao do aspecto retido e, a fortiori, de se obrigar continue mente a se ater a esse criterio. Uma vez que o principio segundo @ qual se opGem os termos colocados em relagao (por exempld, osole alua) nao ¢ definido e muitas vezes se reduz a uma simples contrarl« edade, a analogia (que, quando nao se opera simplesmente no esta- do pratico, esta sempre expressa de maneira elfptica: “a mulher € a lua”) estabelece uma relacto de homologia entre as relacdes de opo- sicdo (homem : mulher : : sol : lua), eles proprios indeterminados ¢ sobredeterminados (calor : frio :: masculino : feminino :: dia : noite etc.), colocam em jogo esquemas geradores diferentes daqueles que permitem engendrar esta ou aquela das outras homologias em que um ou outro dos termos relacionados poderia vir a entrar (ho- mem : mulher: : este: oeste ou sol : lua :: seco : amido). Significa dizer que a abstracao incerta ¢ tambem uma falsa abstracdo que pro- cede por relacées fundadas no que Jean Nicod chama a semelhanca. global’ Nao se Timitando jamais expressa e sistematicamente a um dos aspectos dos termos que ele retine, esse modo de apreensdo toma aa cada vez cada um deles como um tinico bloco, tirando todo proveito posstvel do fato de que duas “realidades” jamais se asseme- Tham em todos os aspectos, mas sempre se assemelham, ao menos indiretamente (ow seja, pela mediagao de algum termo comum), em algum aspecto. Assim se explica primeiramente que, entre os dife- rentes aspectos dos simbolos ao mesmo tempo indeterminados e so- bredeterminados por ela manipulados, a pratica ritual jamais opde de modo claro aspectos que simbolizam alguma coisa e aspectos que nada simbolizam e dos quis ela faria abstracao (como, no caso das letras do alfabeto, a cor dos tragos ou sua dimensao): se, por exem- plo, um dos trés aspectos diferentes pelos quais uma “realidade” como o fel pode ser relacionada a outras “realidades” (também “equivocas”), seja o amargor (ele tem como equivalentes o lourei- 10-Tosa, 0 absinto ou o alcatrao e se opoe ao mel), o verdor (ele se as- socia ao lagarto € cor verde) ea hostilidade (inerente as duas quali dades precedentes), vém necessariamente em primeiro plano, nao deixa de estar vinculado, como a tOnica aos outros sons de um acor- de, aos outros aspectos que permanecem subentendidos e pelos quis ele podera ser oposto a outros aspectos de um outro referente em Z.NICOD,J. La géoméivie dans le monde sensible. Pavis: PUI cio de B, Russe] 1961, p. 43-44 [Prefa- 146 outras relacdes, Sem querer exagerar a metafora musical, pode-se, todavia, sugerir que intimeros encadeamentos rituais podem ser compreendidos como modulacdes: particularmente frequentes por- que a preocupacio de colocar todas as probabilidades de seu lado, principio espectfico da agao ritual, conduz a logica do desenvolvi ‘mento, com suas variacoes com um fundo de redundancia, essas modulagoes simulam propriedades harmonicas dos simbolos rituais, seja que se redobre um dos temas por um exato equivalente sob to- dos os pontos de vista (0 fel se chamando absinto, que como ele une ‘0 amargor ¢ 0 verdor), seja que se module em tonalidades mais dis- tantes que simulam associagoes de uma das harmonias secundérias (lagarto > sapo)" A assoclacao por assonancia que pode levar a aproxima- goes sem significacdo mitico-ritual (Aman d laman, a gua é a confianga) ou, pelo contrario, sobredetermina- das simbolicamente (azka d azqa, amanha € o tmulo) constitu uma otra téenica de modulacao. A concorrén- cia entre a relagio conforme a assonancia ¢ a relagdo con- forme o sentido constitui uma alternativa, um cruzamen: to entre dois caminhos concorrentes que poderio ser to- mados sem contradicoes em momentos diferentes, em contextos diferentes. A pratica ritual tira todo proveito possivel da polissemia das aces fundamentais, “raizes iiticas parcialmente recobertas pelas raizes linguisticas: ainda que imperfeta, a correspondencia entre as raizes Tingutsticas e as ratzes miticas € bastante forte para forne ‘cet um de seus mais poderosos suportes ao sentido ana- logico, por meio das associagdes verbais, as vezes sancio- nadas e exploradas pelo ditado ou por uma méxima que, em sua forma mais realizada, redobra pela necessidade de juma conexao linguistica a necessidade de uma conexao mitica’, Dessa forma, o esquema abrir-fechar encontra ‘uma expresso parcial na raiz FTH’ que pode dizer indife- 8. Cf, para observagdes andlogis: GRANET, M. La civilisation chinoise. Op. cit. passim, em particular p. 332 9. possfvel, para se ter uma ideia do funcionamento dessas montagens verbats, ‘pensar no papel reservado, nos julgamentos da existencia comum, aos pares de a jetivos, que oferecem um corpa aos veredictas injustificaveis do gosto, entemente, e tanto no sentido estrito como figurada, abrir, tratando-se de uma porta ou de um caminho (nos sos rituais extraordinérios), do coragao tabrir seu co. racio), de um discurso (por exemplo, por uma formula ritual), de uma sessio de assembleia, de uma acto ou da jormada etc., ou ser aberto, tratando-se da “porta” com- preendida como 0 comeco de uma série qualquer, do co- acto (isto é, do apetite) ou de um broto, do cét ou de lum1n6, ou ainda abrir-s, tratando-se de um broto, de wm Tosto, de um rebento, de um ovo, portanto, de forma mais ampla, inaugurar, abencoar, tomar facil, colocar sob as bons auspicios (“que Deus abra as portas”), con- junto de sentido que recobre aproximadamente © con- junto das significagoes ligadas & primavera. Mas, ainda mais ampla e mais vaga do que a raiz linguistica, a raiz Initica se presta a jogos mais ricos ¢ mais diversos e 0 es- quema abrit-abrir-se-ser-aberto permitira estabelecer en- tre todo um conjunto de verbos e de nomes vinculos de associacao irredutiveis as relacdes de simples afinidade morfologica. Ela poderé assim evocar as raizes FSU, desa- tar, desamarrar, resolver, abrit-se, aparecer (tratando-se de jovens rebentos, de onde o nome de thafsuth dado a primavera); FRKh, desabrochar, dar origem (de onde asafrurakh, o desabrochar, ou tajrakh os brotos de uma arvore que crescem na pritnavera e, em um sentido mais amplo, a progenitura, a continuacao de qualquer assun- to), proliferar, multiplicar-se; FRY, formar-se, ser forma- do (quando se fala dos figos), comecar a crescer (quando s¢ fala do trigo ou do bebe), multiplicar-se (quando se fala da ninhada dos passaros: ifrur el aach, o ninho esta repleto de passarinhos), debuthar, ser debulhado (quan- do se fala das favas ou das ervilhas) e, por conseguinte, entrar no perfodo em que as favas podem ser colhidas frescas (lah'lal usafruri); ela ainda pode evocar a raiz FLQ, quebrar, fazer explodir e explodir, fender, deflorar e fender-se como 0 ovo oua roma que € quebrada durante 1s cultivas out 0 casamento. Bastaria se deixar levar pela leogica das associagoes para reconsteuit toda a rede dos si- nonimos ¢ dos antOnimos, das sinonimnos de sindnimos ¢ “a dos antonimos de anténimos. O mesmo termo poderia centdo entrar em uma infinidade de relagdes caso 0 ntime- 10 de maneiras de se relacionar com o que ele nao € nao estivesse limitado a algumas oposicaes fundamentais Ii gadas por relacdes de equivaléncia pratica: no nivel de precisio (isto é, de imprecisdo) em que eles sto defini- dos, 0s diferentes prineipios que a pritica engaja sucessi- va ou simultaneamente quanclo estabelece relacao entre objetos e seleciona aspectos retidos sao praticamente €- quivalentes, de forma que essa taxinomia pode classificar as mesmas “realidades” de varios pontos der vista sem ja- mais classificd-los de uma mancira totalmente diferente Mas a linguagem da semelhanca global e da abstragao incerta € ainda demasiado intelectualista para expressar uma logica que se efetua diretamente na ginastica corporal, sem passar pela apreensdo expressa dos “aspectos” retidos ou descartados, dos “perfis” seme- Thantes ou dessemelhantes. Ao suscitar uma identidade de reacao em uma diversidade de situagdes, ao imprimir ao corpo a mesma postura em contextos diferentes, os esquemas priticos podem pro- duzir o equivalente de um ato de generalizacao cuja explicacio € impossivel sem que se recorra ao conceito; isso ainda que a generali- dade agida ¢ nao representada que se engendra no fato de agit de forma semelhante em circunstancias semelhantes, mas sem “pensar ‘asemelhanca independentemente do semelhante”, como diz Piaget, faca a economia de todas as operagdes que a construcio de um con- ceito exige{F em fungdo “daquilo de que se trata”, principio de per- tinéncia implicita e pratica, que o senso pratico “seleciona” alguns objetos ou alguns atos e, dessa maneira, alguns de seus aspectos €, ao reter aqueles com os quais pode fazer alguma coisa ou aqueles {que determinam 0 que pode ser feito na situagao considerada, ou 20, tratar como equivalentes objetos ou situacoes diferentes, distingue propriedades que sto pertinentes e outras que nao 0 so,|Da mesma maneira que se tem dificuldade em apreender simmultaneamente, & maneira dos dicionarios, os diferentes sentidos de uma palavra que se pode facilmente mobilizar na sucesso dos enunciados particula- res produzidos em situacoes singulares, da mesma maneira os con- eitos que o analista € obrigado a empregar (por exemplo, a ideia de *ressurrei¢ao” ou de “inchaco”) para dar conta das identificacdes Praticas que os atos rituais operam sto absolutamente estranhos ? Pratica que ignora semelhantes conjuntos das efetuagdespparciais de lum mesmo esqquema e que se ocupa nao de relagoes como 0 alto ¢ baixo ou seco e umido ou até mesmo de conceitos, mas de coisas senstyeis, consideradas absolutamente até em suas propriedades apa- Tentemente mais tipicamente relacionais. e Para convencer que as diferentes significacdes produzi- das pelo mesmo esquema nao exstem no eta pitica semo na relacao com tantas situacoes particulates, bas. ‘a reunir, a maneira de um diciondeio, algumas aplicn 66es da oposigao entre ats ena frente. Auras ¢ 0 ligar Onde se coloca tudo que no se quer mals; por exem- plo, no rto do tear, diz-se: “que os anjosestejam diante dle mim eo diabo atris de mim”; em um outro, contra 9 maut-olhado, esfrega-se a crianca atris da orelha para que ele mande embora o mal para “atras de sua otelha Gogar para tris, significa tambem, em um nivel mais st Perficil, negligenciar, desprezar~ “colocar atras de sta orelha” ~ ou, de modo mais simples, nfo encarar, nao alrontar.) E de tris ou por tris que o azar chega: a mu. Ther que vai vender no mercado um produto de seu ta lento, colcha, fio de la et., ou de sua criacdo,galinhas o¥05 ete. nfo deve olhar para tris sob pena de realizay uma venda ruim; segundo uma lenda relatada por P. Ga land-Pemet,o turbilhao ataca por tras aquele que reca de frente para qibla, Compreende-se que atsis stja, alias, associado ao dentro, a0 feminino (a porta da fren, te, do leste, é masculina, a porta de tas, do oeste,femi- nina), & intimidade, a0 oculto, a0 secreto; mas também, dessa forma, ao que segue, ao qui se arrasta sobre a ter, ra, fomte de fertiidade, abrua, a cauda do vestido, 0 amuleto, a felicidade: a noiva que entra na nova casa multiplica os gestos de abundancia jogando atras dela frutas, ovos, trigo. Essas significacdes se definem em oposigto a todas as que esto associadas frente. it para a frente, enfrentar (qabel), ir para o porvi, para o leste paraa luz : logicismo inerente ao ponto de vista objetivista leva a ignorar ue a construgio erudita nao pode perceber os prinefpios da logica Pratica Sendo fazendo-a sofrer uma mudanca de natureza: a explica- M0. go eflexiva converte uma sucessdo pr sucesso represen tada, uma acto orientada em relagao a um espaco objetivamente constituido como estrutura de exigéncias (as coisas “para lazer”) operacao revel fetuada em um espago continuo e homo- geneo, Essa transformacao inevitavel esta inscrita no fato de que os agentes nao podem dominar adequadamente o modus operandi que Thes permite engendrar praticas rituais corretamente formadas se- por referencia nao ao fazé-lo funcionar praticamente, em situacdo, as funcoes praticas. Aquele que possui um dominio pratico, uma arte, qualquer que seja, € capaz de colocar em ago, na passagem ao ato, essa disposicao que nao The aparece senao em ato, na relacto ‘com uma situacdo (ele sabera relazer, quantas vezes a situiacao ex gir, a simulacao que se The impoe como a tinica coisa a ser feita); ele nao esti mais bem colocado para perceber ¢ trazer para a ordem do Q | diseurso o que regula realmente sua pritica do que o observador +] que possui a vantagem de poder apreender a acao do exterior, como uum objeto, e principalmente poder totalizar as realizagoes sucessi- ‘vas do habitus (sem necessariamente ter 0 dominio pratico que esta no principio dessas realizacdes e a teoria adequada desse dominio) “Etudo levaa crer que, assim que ele reflexiona sobre sua pritica, co- locando-se entao em uma postura quase teorica, 0 agente perde qualquer possibilidade de expressar a verdade de sua praticae, prin- cipalmente, a Verdade da relacao pratica com a pratica: o questiona- srudito o leva a ter sobre sua propria pratica um ponto de vis: 3 é mais o da acio Sem ser oda céncia, incitando-o a enga jarem explicacdes que ele propoe de sua pratica uma teoria da prat ca que vem ao enconiro do legalismo juridico, ético ou gramatical \) 20 qual a situacao de observador conduz, Unicamente pelo fato de ¥'| que ¢ questionado e se questiona sobre a razao € a razio de ser de sua pratica, nao pode transmitiro essencial, isto é, que o proprio d | priviea ¢ que-ela exchui essa quesiao: seus propésitos nao revel essa verdade primeira da experi | dos siléncios e das elipses da evidéncia. \ isto € quando, pela propria qualidade de suas questdes, 0 qu nador autoriza o informante a se entregar a linguagem da familiar|- 50 no melhor dos casos, tide a pela omissao, por meio dade: nao conhecendo senao os casos particulares ¢ os detalhes de interesse pratico ou da curiosidade anedstica, falando sempre por meio de nomes proprios de pessoas ou de lugares ¢ ignorando, salvo para matar o tempo, as generalidades vagas e as explicacses ad hoc que sao de rigor com os estranhos, essa linguagem, que nao se usa com o primeiro que aparece, ignora tudo 0 que € implicito, pois, é evidente; semelhante ao discurso do “historiador original” de Hegel que, “vivendo no espirito do acontecimento”, assume os pressupos- tos daqueles cuja hist6ria ele narra, oferece oportunidades de desco- brir, por sua propria obscuridade e pela auséncia das falsas clarezas das narrativas parcialmente habeis tipicas dos leigos, a verdade da pratica como cegueira a sua propria verdade". Ao contrario da logica, trabalho do pensamento que consiste em pensar o trabalho do pensamento, a pratica exclui qualquer inte. resse formal. O retorno reflexivo sobre a propria acdo, quando acon- tece (isto é, quase sempre, em caso de fracasso dos automatismos), permanece subordinado a busca do resultado e a busca (que nao se percebe necessariamente como tal) da maximizacao do rendimento do esforco gasto, Por isso nao tem na¢ omum com a intengao de explicar como 0 resultado foi aleancado, e menos ainda de compreender (para compreender) a logica da pratica, desalio a log ca logica. Ve-se a antinomia pratica que a citneia deve superar” quando, inediante uma ruptura com toda espécie de operacional mo que, aceitando tacitamente os pressipostos mais fundamentais 10,0 fato de que o senso prin no pode salvo uetnamento especial fncionar Sen aia, frade quale! suao, condenaatrealdade odne oped es com questionaios qu reltam como produtesautencon do hebies eeapoace suacitdas pelos estinolos bstrtos da stuacdo de pesqueaartltes de ifoan queso paraas eae em sac elo qu os rs folloeales atone Pat sats ou para os tnlogs at par os tos impetos ele peatsoe se na radio via ou pela urgecia de na sluaao drama iv mene ve Ho bem quanto em todas as pesiiss que, pedindo que os enerades coos seus propissocislogose que dguma dual dase eles maginam forencey cee fis, segundo cles, lasses scl e qutntas, no tem diealdade en condor Ae onnaequvocaa, em asta diane de um quesuonamete ae sie, flo sentido dougar ocapad no expag socal, que permite se ita asa oo ony thos pracamente, em situs olan da ote da logica pratica, ndo pode objetiva-las, quer compreender em si ‘mesma e para si mesma, e ndo par Ficla ou reformé-la, a logi- ca da pratica que nao compreende senao para agir. ‘A ideia de logica pratica, l6gica em si, sem reflexdo consciente nem controle logico, ¢ uma contradicao nos termos, que desafia a l6- ica logica. Essa logica paradoxal é a de toda pratica, ou melhor, de todo senso pratico: presa por aquilo do que se trata, totalmente ea sente no presente e nas funcoes priticas que ali descobre sob a for- ‘ma de potencialidades objetivas, a pratica exclui o retorno sobre si ‘mesma (isto €, sobre o passado), ignorando os principios que a co- mandam e as possibilidades que ela encerra ¢ que nao pode desco- rir senao agindo-as, isto é, desdabrando-as no tempo". Existem Sem diivida poucas praticas que, como os ritos, parecem [eitas para relembrar o quanto ¢ falso enclausurar em conceitos uma logica que é feita para prescindir do conceito; tratar como relacdes e operacoes Tagicas manipulacoes praticas e movimentos do corpo; falar de ana- logias ou de homologias (como se ¢ obrigado a fazer para compreen- der e fazer compreender) ali onde se trata apenas de transferencias praticas de esquemas incorporados € quase posturais". Como prdti- ca performativa que se esforca em fazer ser o que ela faz ou diz, 0 tito nao €, com efeito, em mais de um caso, senao uma mimesis priitica 182 do processo natural que se trata de facilitar", Em oposicao a metafo. ta € 2 analogia explicitas, a representacao mimética estabelece entre fendmenos tao diferentes quanto o inchago dos graos no caldeira 9 inchago do ventre da mulher gravida e o broto do trigo na tera uma relacao que nao implica qualquer explicitacdo das proprieda- des dos termos que se relacionam ou dos principios de sua relacao. As mais caracteristicas operacdes de sua “logica” — inverter, transte- ir, unificar, separar etc. ~ali tomam a forma de movimentos corpo- rais, virar a direita ou a esquerda, colocar de cabeca para baixo, en- trar ou sair, unir ou cortar etc, Essa logica que, como toda Logica pritica, nfo pode ser percebida sendio em ato, isto é, no movimento temporal que, a0 destotalizé-la, a dissimula, apresenta para a andlise um problema dificil que nao tem solugao send em uma teoria da lo- fica teorica ¢ da l6gica pratica, Os profissionais do logos querem que ‘a pralica expresse alguma coisa que possa se expressar por um dis- curso, de preferéncia légico, e tem dificuldade em pensar que st pode arrancar uma pratica da absurdidade, restituir-Ihe sua légica de outra maneira que Ihe fazendo dizer o que nao € necessario dizer, projetando sobre ela um pensamento explicito que por definigso dela esta excluido: podem-se imaginar todos os efeitos filosoficos ou poéticos que um espirito acostumado por toda uma tradigao es- colar a cultivar as “correspondencias” swedenborgianas nao deixa. ria de retirar do fato de que a pratica ritual trata como equivalentes a adolescencia ¢ a primavera com seus avancos em direcao a maturi- dade seguidos de bruscas regtessdes, ou que opdc as intervencoes 13, Georges Duby que, rompendo com o “mentalismo” da maior parte das descti- ‘es da religido, indica que a rcligito dos cavaleiros “resolvia-se inteiramente em titos, gestos, formulas” (DUBY, G. Le temps des cathedrales, Var et lasocete de 980 a 1420. Paris: Gallimard, 1976, p. 18) insiste no carster pritico e corporal das prt. 2s rituais: “Quando um guerreiro prestava um juramento, o que contava seus olhos primeiramente, nao era compromisso de sua alma, mas uma posture corpo tallo contato que sua mao, pousada sobre a cruz, sobre o livro das Eserituras cu so bre uma bolsa de reliquias,tinha com o sagrado, Quando avangava pata se to thomem de um senhor, tambem era uma aticude, uma posicdo das mdos, uma se fquencia de palavrasritualmente encadeadas ¢ que somente o fato de pronuncitclay lava o contrato” (p. 62-63). 8 masculinas e femininas na producao e reproducao como o desconti- nuo ¢ 0 continuo", Sem diivida s6 se pode explicar a coeréncia pratica das praticas € las obras com a condicao de construir modelos geradores que re- Iproduzam em sua propria ordem a logica segundo a qual ela se en- [gendta, e de elaborar esquemas que, gracas ao seu poder sinstico de sincronizagao ¢ de totalizacao, revelam, sem frases nem parafrases, a sistematicidade objetiva da pratica e que, quando utilizam adequa- } damente as propriedades do espaco (alto/baixo, direita/esquerda), | podem até mesmo ter a virtude de falar diretamente ao esquema corporal (como sabem muito bem todos aqueles que devem trans- mitir disposig6es motrizes). Ocorre que se deve ter consciencia da | transformagao que esses jogos de escrita te6rica provocam na logica | pratica pelo simples fato da explicacao. Da mesma maneira que cat- ‘ariam menos espanto, na época de Lévy-Brubll, as estranhezas da “mentalidade primitiva” caso tivesse sido possivel conceber que a logica da magia e da “participacao” tinha alguma relacao com a ex- perigncia mais ordinaria da emogao ou da paixao (célera, citime, ‘dio etc,), hoje, as proezas “Idgicas” dos indigenas australianos en- - cantariam menos se, por uma espécie de etnocentrismo invertido, no se prestasse inconscientemente ao “pensamento selvagem” a re- lacdo com 0 mundo que o intelectualismo concede a toda “cons- Ciencia” e se nao se ignorasse a transformacio que conduz das ope- races dominadas no estado pratico as operacdes formais que lhe sao isomorfas, omitindo ao mesmo tempo se questionar sobre as condigdes sociais dessa transformacao. ‘A ciéncia do mito esta em seu direito de tomar emprestada & teo- ria dos grupos a linguagem na qual descreve a sintaxe do mito, mas com a condigao de nao esquecer (ou deixar esquecer) que, quando cessa de se mostrar e de se oferecer como uma tradugao comoda, essa linguagem destroi a verdad que permite aprender. Pode-se 14.0 limite do que constitu a inclinagao inerente a funcao de imerprete€ rep sentada pela especulacdes dos teloges que, sempre levadosa projetarseus estados Gerla para a analise do religiso, passaram, sem drama, por uma reconverso ho: tologa tquela dos anaisas da iteratura, a uma forma espritualizada de semiolo- fmm que Heidegger ou Conga convive com Lévi-Strauss ou Lacan, ou até mes- & Hawiceillard, dizer que a gindstica € geometria desde que nao se compreenda que ginasta € geOmetra. E se estaria menos tentado a tratar implicita ‘mente ou explicitamente os agentes como logicos se se rethontasse do logos mftico até a praxis ritual que coloca em cena, sob forma de agdes realmente efetuadas, isto €, de movimentos corporais, as ope ragdes que a andlise erudita descobre no discurso mitico, opus opera- ‘tum que mascara sob suas significacdes reificadas o momento consti- tuinte da pratica “mitopoiética”, Enquanto o espaco mitico-ritual for apreendido como opus operatum, isto , como ordem das coisas coexistentes, ele jamais deixard de ser um espaco tesrico, balizado pelos pontos de referencia que sao os termos das relacdes de oposi- a0 (alta/baixo, este/oeste etc.) € no qual no se podem efetuar se- nao operacoes teoricas, isto é, deslocamentos e transformacdes l6gi cas, que estao tao distantes dos movimentos e das transformagées realmente realizadas, como uma queda ou uma ascenso, quanto 0 ‘cao animal celeste do cao animal que ladra. Uma vez estabelecido, por exemplo, que o espaco interno da casa cabila recebe uma signifi- cacao inversa quando € colocado no espaco total, nao se tem o direi- tode dizer que cada um desses dois espacos, interno e externo, pode ser obtido a partir do outro por uma rotacao parcial a nao ser com a condigao de devolver a linguagem na qual a matematica expressa suas operacdes ao solo origindrio da pritica, dando aos termos como deslocamento € rotacao seu sentido pratico de movimento do corpo, tais como ir paraa frente ou para trés, ou dar meia-volta; e de observar que se essa “geometria no mundo sensivel”, como diz Jean Nicod, geometria prética, ou melhor, pratica geomeétrica, faz tal uso da inversao, € sem chivida porque, a maneira do espelho que revela 08 paradoxos da simetria bilateral, o corpo funciona como um ope- rador pratico que busca a esquerda a mio direita que € preciso aper- tar, coloca o braco esquerdo na manga da roupa que estava a direita quando estava apoiada ou inverte a direita e a esquerda, o leste ¢ 0 este, unicamente por dar meia-volta, por “enfrentar” ou por “dar as la “coloca do avesso” o que estava “no lado certo”, e tantos outros movimentos que a visio mitica do mundo carrega de significagdes sociais e dos quais o rito faz um uso intensivo. Surpreendo-me definindo a soleira Como o lugar geometrico Das chegadas e das partidas Na Casa do Pai”. © poeta encontra imediatamente o principio das relacoes entre 0 espaco da casa eo mundo exterior nos movimentos de sentido inver- so (no sentido duplo da palavra sentido) que sao 0 entrar € 0 sair: pe- queno produtor atrasado de mitologias privadas, tem menos dificul- dade em atravessar as metéforas mortas para it ao principio da pratica mitopoietica, isto é, 20s movimentos e aos gestos que, como naquela frase de Alberto Magno, retomada por René Char, podem revelar a dualidade sob a unidade aparente do objeto: “Havia, na Alemanha, ccriancas gemeas e uma delas abria as portas tocando-as com o braco direito, a outra as fechava tocando-as com o braco esquerdo™. Assim, € necessario ir do ergon a energeia, seguindo a oposicao de Wilhem von Humboldt, dos objetos out das condutas ao prinet- pio de sua producao ou, mais precisamente, da analogia ou da meta- fora efetuada, fato realizado ¢ letra morta (a: b::c:d), que a herme- néutica objetivista considera, a pratica analogica como transferéncia de esquemas que o habitus opera na base de equivalencias adquiri- das, facilitando a substituibilidade de uma reagao por uma outra e permitindo dominar por uma espécie de generalizacao pratica todos os problemas de mesma forma que podem surgir em situacdes no- ‘vas. Retomar por meio do mito como realidade constituida 0 ato mi- topoiético como momento constituinte, nao significa, como o pensa (0 idealismo, buscar na consciencia as categorias universais daquilo que Cassirer chama uma “subjetividade mitopoiética” ou, na lingua- gem de Lévi-Strauss, “as estruturas fundamentais do espirito huma- no” que governariam, independentemente das condicdes sociais, to das as configuracées empiricamente realizadas. Significa reconstruir 6 sistema socialmente constituido de estruturas inseparavelmente cognitivas e avaliativas que organiza a percepeao do mundo e a a¢ao no mundo em conformidades estruturas objetivas de um estado de- terminado do mundo social[ Se as praticas € as representagdes rituais sao praticamente coerentes, € porque sao o produto do funcionamen- to combinatério de um pequeno mimero de esquemas geradores uni- dos por relagoes de substituibilidade pratica, ou seja, capazes de pro- 1, Apud BACHELARD, G. La poetique de espace. Paris: PUF, 1961, p. 201 1A poé- 0 Paulo; Martins Fontes, 2003 uzir resultados equivalentes do ponto de vista das exigencias “logle cas” da pritica. Se essa sistematicidade permanece imprecisa ¢ aptor ximativa € porque esses esquemas s6 podem receber a aplicagao qua se universal que Ihes ¢ dada porque funcionam no estado pratico, isto € aquém da explicacao e, consequentemente, fora de qualquer con- trole logico e com referencia aos fins praticos proprios a lhes impor e a Ihes atibuir uma necessidade que nao € a da logics?) As discussoes que se desenvolveram tanto enire os etnélogos (etmociencia) como entre os socidlogos (etnometodologia) em tor- no dos sistemas de classificacdo tem em comum esquecer que esses instrumentos de conhecimento desempenham como tais fungdes que nao so de puro conhecimento. Produzidos pela pratica das ge- Tagdes sucessivas, em um tipo determinado de condigdes de exis- tencia, esses esquemas de percepcao, de apreciacao e de acao que silo adquiridos pela pratica e colocados em agao no estado pritico sem atingir a representacao explicita functonam como operadores riticos por meio dos quais as estruturas objetivas de que sao o pro- duto tendem a se reproduzir nas praticas. As taxinomias praticas, instrumentos de conhecimento e de comunicagio que séo a condi ao da constituigao do sentido e do consenso sobre o sentido, nao exercem sua eficacia estruturante a nao ser que elas mesmas sejam estruturadas. O que nao significa que sejam passiveis de uma andlise estritamente interna (“estrutural”, “componencial” ou outra) que, 40 arrancé-las artificialmente as suas condigdes de producao e utili- 2acao, impede-se de compreender suas funcoes sociais". A coerén- cia que se observa em todos os produtos da aplicacao de um mesmo habitus nao tem outro fundamento sendo a coeréncia que os princt- 17.0 preconecito antigenetico que inclina a recusa inconsciente ou afirmada de ‘buscar na historia individual ou coletivaa genese das estruturas objetivas e das es truturas interiorizadas se conjuga com o preconceitoantifuncionalisa para elo?

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