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Tt sts ae8sFo 3852346 ecto com Preis toe erecta mese deur ping ted repro eso ara “lua, toner nage deers ene ore por ‘rota das etemares cos deo conepoderes Tac ao outages lege cone ncomenges nena de tora logis nage ads este oa Cn propretia gig Sata et ‘ado devine ese lure pagers entre econ ons condense Conca dor voter ‘Aiern Corneal Banged nla onaeiasso Froeta geo cape iagrames Casati Oege) de ncn dang at) sumario ‘Apresentasbo da colegio Sociedade em foco ‘ios Bustquede mos lose Saka Introdugdo: Sociologia eas identidades socais Anton Sera Aledo Gusaraes Classes sociais fein Cade Fernanco Lote ‘Case como tos -27. Cle como pia secaigea 9, Sco de cae scala Concer 6 nda: erase ‘ime 64, Raciemo"® brasileira” © Uma sociedad ambivalent - 72 Pela stoi -75. caisno da ‘asrmnago son. Un aco. cares emet29 Emer. fone erica etal dca -209 Racin bra Sslra? ane inaeagberce tra fies any nero: hstria de um concsito Deora Pact or qe ilar sabre gnro?-s48 Eno asia. A jeri de om cone 23 Letras “sis” de dregs rent - 36 ers ecertes a erng onl a36 Indias eles Sexuaidade como questo politica e socal Silo fess mbes Sevuabdade nates rpesertaces 358, Sade ta repredtva-agp Osites oop naturezs 266 Asta tas ccs soals-A vo desea 28 Seno, cua © ‘mporamento 378, Senaldode peer -386, Cenc. Indeates deleturase fines 390, suventude bes Guerané de Castro ‘Asda vente deride irene? 296 nem in ade om comportarerts?: 33 Rebel vlna pte revlon tras ger do rete oop Cbeeges Aoconeeta de gro 27 nates deletes fines Glossirio 194 Por que falar sobre género? 0 i 12d malo de 2005, o anal Nal most wn, Notice mtn etree acne 1 tin Sol el ee cl carbs pe lp pec aot eco al tas dc howpia Glando da, cree er cl Doreen brn por bra wer ur chogec to pl ta cor arcs tenn A vor do apse fore (pcan d oerenads por gi damn corel (oc gu ett aoe ec mal ‘reno oe rman cn Kl, Ete 1286 «20 ‘geo pte detuned coe ces pol ‘nde, oe ar gues nde sa aan dean Oca es mals care persrmot alo Samus cong ol ¢conrsts um deepen thes ose putas cacao par mains era Tas mural morta cme ¢ dunn peal seo deena hom Okra dan penta tes: ssi desputes home Tres surasls te cease econ esi peer cm daemons Hit en dea pall inks Os rome qoe cee a emdmrfesas al emoreau Ma Sige com Toa dca cmana ete el ‘bute deste teen ree sho rs rh cad pun ella a een Se a om utc, es tenon one oie teal gral nati mpetaente “ara dct da dt Sores ashore lear depneeil aes pti ae a ena Uo ene une fons copcne coer on 1a cont pen qua cp ade rer caerel 2 tuna gu poe deme anita vs a pasties sone Quando as distribuidesdesiguais de poder entre homens emule res sto vistas como resultado das diferengas, ida como natural, que atribuem a uns e outras, esas desgualdades também so “natura lizadas", termo gnero, em suas versOes mais difundidas, emete a lum coneeito elaboredo por pensadoras feminists preisamente para dlesmantar esse duplo procedimento de naturalzacio mediante o qual 2s diferengas que se atribvem 3 homens e mulheres sto consideradas inatas,derivadas de dstingdes natura a8 desigualdades entre uns cuteas so percebidas como resultado desta dferengas. Na linguagem to dia.a dae também das clnciasapalara sexo remete a esas distin oes inatas, bolas. Poresse motivo, as autora feminists utlizaram © termo pineo para referir-ae ao caster caltural das dstingdes entre homens e mtheres, entre ideas sobre feminidadee mascuinidade ‘Aimagem de desigualdade ¢ gritante nas cenas tranemltidas pela TV descrtas no inicio deste texto. Entretanto, «importante levar em conta que a narzativa do telejornal “fala” do expaco ocupado pelas snulheres em um lagar muito longinguo, em aura cultura. & claro que ‘nessa navativa lugar atebuide As mulheres também “die cose” sobre essa outra cultura. que me interessa observa, porém, & que um exemplo to dstante pode embacat nossa visio sobre o sentido de falar sobre ginero nos dis de hoje, no Bras Eno Brasil? ‘A presenga massva de meninas eovens mulheres nas esol versidades, a exstincia de meds, mulheres que drge tne ves, prefitas,senadoaseminstras nos lembram que agus tm acesso educa, podem rabalhar en pratiamente qualquer dade, ccupando ate cargoe politicos Alm dss, no Bras parece ‘uma imensa dstncia em rela as expresses mais cutis da dade entre homens e mulheres, materializadss, por exempl, em de dsseminaro terror politico durante a década de 1980 no Per, squerna envolendo ogovern daquele pase aorganaactoSenero ‘oso. Ou, no nico de 1990, os estarrecedoresestuptos,sstersicos femmassa, de mulheres emeninas muguimanas na Bsn its vezesseguidos por mutilageseassasnatos, Hes acoseran verdadeios “campos de estupro", no terstrio da antiga lugolivia Carter genocda desses aos, vinculado eliminarsodeliberaa de 03s motivad por diferencasética, nacional, raiis, religions, «que fossem consderadas crimes conta a humanidade ‘Umrapido olhae sobre alguns indicadoresno Brasil, porém, tra que a igualdade entre homens e mulhetes est longe de tr. atinglda. As mulheres tém mais anos de estado, em média, do a ‘0s homens, Segundo o Censo Escolar referente& 2005, as men so pouco mais da metade dos que terminam 0 ensino fundam tale o ensino médio No nivel superior, a diferenca& ainda mai ‘Mas o maior nimero de anos de estudo das mulheres ko sere ainda uma igualdade salarialo que se agrava mais ainda quan setrata de mulheres negras, Em médias mulheres brancas ga 40% menos do que os homens para.o mesmo trabalho; eat mulheres egras, 60% menos” ‘Quand pensamos nat horas necessrias para realizar o trabalho se cuidar da casa e dos filhos, percebemos que no Brasil as mulheres ‘que trabalham fora, além de ganhar menos que os homens, traba ‘ham mals horas que eles sso porque nao costuma haver uma divi- ‘sho equtativa do trabalho domestic. Em 2001, a Fundagio Perseu ‘Abramo realizou a pesquisa A Mulher Brasileira nos EspacosPablico «© Privado", com 2502 entrevista em todo o Brasil. Os resultados {esse estudo indicam que 96% das entrevstadas cuidavam das tare- fas domésticas e das criangas, mesmo que também trabalhassem fora de casa, Nos cas0s em que 0 trabalho doméstico era dvidido com outra pessoa, em quase a metade dessas situacdes dividiam-no ‘com outta mulher, eralmente a mie ouasflhas. Se,além de pensar nas dferencas nos saliriosenas hors de taba- Tho, também consideramos a veléni ofrida pela mulheres no Bras, ‘quae de desigualdades se torna mas critica, Entre as entrevstadas ‘que partciparam da pesquisa da Fundacto Perseu Abram poco mais dametade firmou nunca ter sofridequalqertipo de violénciaporparte ‘de um homer, Mas orestante, 43% das entrevistadas mulheres, tnha sido vitima de algum tipo de violencia cometda por um homer. Uma parte (11%) afirmou ter sido espancada, na mairia das vezes por com panheiros(marids ou namorados) on ex-companheiros.Consierando- Se que 31% delaeafrmavam que iso hava acontecidoo timo ano antes da entrevista, chegou-se ao eeu de que a cada quine segundos luna mulher € espancada no Bras, Quando o entrevstador nemeava ‘utes formas de vléncs of nimeros aumentaram: 23% softer vio lend fia (ameacas com armas, aressesisicas, stupr conjugal ou sbuso), Aldm disso, 27% softeram volncias psiqucas. Onze por cento sfirmaram jd ter sofrdo assédio sual ~ esta a tnica forma de wolén- ‘a que ndo 6 cometida por compankeires ou excompanieiros: Nesse races ote iinet gate hee ens "Sips ose ion gooey ‘quado de violencia ¢ necesirio adiclonar os homicdios de mulheres, ‘Uma pesquisa realzada em Pernambuco elatva viele etal conte ‘as mulheres em 2007 «2008 indica que compheirs e ex compan ros respondem por 70% dos casos E, nese period, aumentou oso de arma branca edo espancamento nos crimes” ‘Finalmente, éimportant embrar que, no Brat violencia contra _asmulheres nose restringe ao tmbito das relagdes cots os compan 15. Ses estupros massivos em situaeio de guerra estdolnge de nossa realiade, a violéncla sexual, em stuagdes de custéia da Estado, pode’ ‘sssumirconotagiesigualmenteesarrcedors. Vale lembraradeteng ‘no Pars, em 2007, de uma adolescent pobre, de 15 anos, acusada dé roubo. A guota fo mantida durante 26 dias em uma celade uma delegae cia de policia com mais vinte homens sea situcto &duplamentel porser poibido misturar homens e mulheres numa cel, por se a pristo de uma petsoa menor de dade, 0 fato fo ignorado por sas atoridades. De acordo com as narzativas dos formas, a joven ‘ersoide abuso semual dos cerca de vinte pesos dacla teve que sexo com eles em toca de comida fol agredid, presenta he ‘mas e marcas de queimadura de cgaro pelo corpo? Apds ess te noticia, foram difundides outros easoe de mulheres detidas em “mists”, em diversas partes do pais. Como endo bastasse,notcou também a venda de cpias de cenas de estupros,pravados em ceas Aelegacia ewansmitids por sla" Esse conjunto de indicadorese observagdes tora incontest necessdade, também no Brasil atual, de fazer esforcos para preender os lugares diferenciados edesiguais que es mulheres pam em diversas eas da vida socal, prestando tenia ao asp ‘ultras que patiipam na dlimitacao desses lugares, Para c ‘mos a essa compreensio, uma pergunta se impo; como nogbes feminiidade e masculinidade, artculadas a outros aspecton, co (no caso cima mencionado) clase sociale também rac, partic na produo dessas desigualdades? Essa pergunta sinttiza a posta feminista da uilizao do conceito de genet, blir mats nes reframe deginer, como BS imager da mulher come maid tare ntti A trajetéria de um conceito © concito de género fi claborado refrmulado em momentos ‘spectcos da histria das teoras soci sobre a“iferenca seal fo ‘novader em diversos sentides. Par perceberoalancedessasinovaées, © preciso acompanhar um pouco de sua historia. Ao narra, a bidloga © historiadora da cincia Donna Haraway, no artigo “Género para um icionio marist” afrma queotermo géero ft introdusio pelo p- ‘analsta edtadanidense Robert Stoller no Congreto Picnaitico Inter- nacional em Estocolmo, em 1963, tatando do modelo da Wentidade de ‘inera: Stoller teria formuladoo conceit de idenedade de nero para Sncingui entre nature e cultura, Assim, sexo ext vinclado& biologi (horménios, genes, sistema nervoso © morfologa) egnero tem raga) ‘com a eltura(psicloya, scologi,incluindo aqu todo o aprenden) vivid desde omasciment).O preduto do tabi da cultura sobre abe log ra. pessoa marcada por géneo, um homem ou uma mulher, (Ou se, esse psicanalita, companhando tuma reflex cient fica mais ampla,entendia que quando nascemos somos dassifcad pelo nosso corpo, de acordo com os Grgios genitals, como menina ‘menino, Mas as manera de serhomem ow mulher nto derivam deg genitals, mas de aprendzados questo cultura, que vriaen segundo g ‘momento histrico, lugar, classe social Ser mulher de clase alta ng Brasil, no inicio de séulo 20, presrupunha ser delicads, fcr reste, ‘espaco doméstic, ter poucaeducacio formal, saber bordar | ‘Assim, elas eram ensinadas ase enquadrarnesse modelo Hoje em ser malher pode signifcar algo bem diferente, e vatia muito de a ‘com o lugar, acdasse soci], o momento histrico Na opinio de Stolle, hé uma dferenga sexual "natural" no comp fisilopico. Emborao sentido que sso asume em diferentes cont -sejamuitovaiado, om cada agar eestabelecem maneira prop de ser homem e mulher. As vezes, algumas pessoas nastem com t ‘0s genitas de um sexo, mas sua “identidade de geneo” est sso 30 outro sexo. Por exemplo, pessoas que nasceram com penis, mi fe sentem como meninas,gostam de vestv-see comportar-¢ cl tas, Ha também pessoas que nasceram tendo desenvolvido paral completamente érgios sexuais mascalinos efemininos. No passado ‘ram chamadas de hermafroditas, hoje receber o nome de pessoas de ‘Sexo amblguo ox intereexoe. Ness categoria sto também inlidas pessoas caja genitla, segundo oF médics, esta “incompletamente Formada’, como crangas que, 0 nascer, tém tragos genitals pouco defnides, como nfo ter o testiclos no sco escrotal, ou ter um pis onsiderado encesivamente pequeno ou clitéris maior do que parece Ser normal Nesoes casos, médicos tendem a suger intervengbes CGrargca, as vezes matilagSes, para defini of Srgios genitals, vet ‘ando qualquer ambiguidade dees, assim como tabalhos terapeuticos {que permitam harmoniar a dentdade de neo com 8 novos gent tals. Stolle afrmava que esse conjunto de possblidades existe porque 2 identidade de género", que est no plano da cltura, dos hitos © dos aprendizados, no deriva dos gets, que "pertencem” a naturers, _bologin Por so, é preciso separa natureza de cultura entenendo ‘que o que define as diferenca de género esti no ambito da cultura Pore, as formulagses de genera que tiveram impacto na tora socal foram elaboradas a partir do pensamento feminist, na década {de 1970. Bese movimento socal, que buscava para as mulheres os ‘mesmo dieitae das homens, tou decisivamente na formula;30 do ‘onceito de género. As feminista utzaram a idla de género como Giferenga produsida na cultura, mas uneam a essa nogio a preoc posdo peas situagdes de desgusldade vivid pelas mulheres, como quelas mencionadas aclns. Fo, portanto partir de uma lta socal, ‘que surgia uma contebulghoteorica fundamental para o pensament {local Nesea elaboraglo, aspectos presentesna longa histéra de re- ‘indies des femninistas, relatives a domina;ao masculina,aticularam sea nog6estebricas que procuravam mostrar como a distingbes entre fenninin e mazculino sto da esera do sci heen pt nn mo ore ces ema ey noua Wonton Owens ahwrstressnamseopeasedemstame ‘Store cag uy ag 2 “SineSutesomucanethes geet ery ert ane yee Leituras “classicas” da diferenca sexual ‘primeira onda do feminismo ocrrew entre o inl da século 19¢ Inco do 20. Esse primero momento secaracerizox por uma importante ‘mobilizafao no continent europeu, na Amprca do Norte eer out) pases, impulsonada pela dade “direitos gua &ciadani’, que prs supunhaaigualdade entre os sexos. Ente as décadas de 1920 ¢ 1930, mulheres conseguiram, em vris pas, omper com lgumnasdas ‘es mais agudas de sua desgualdade em termos formal ou leas, As leis eram diferentes para homens e mulheres, As feminist ‘vindiavam, entre otras coisas, poder votar (mma época em que 98 ‘os homens votavam nas eleigbes), ter acesso 4 educayao (ter o mes tempo deescolaridade dos meninos) epoder ter pastes ebens (qa s6 homens podiam ser proprietéros de uma cass, por exemple). De to desse movimento era formulada uma pergunta, decortente d ela de“reitosiguais”, que ser central nas elaboracdesposteri do feminisme:"Sea subordinagso da mulher nie &justs, nem natura, ‘como se chegou a ela e como ela se manter ‘Ateoria socal certamente oferecla elementos parase pensar nessa ‘pergunta. Nas céncassocias, uma longa tradi de pensamentouti- Tava a idea de dferenga entre feriaine e masculine comme principio universal de diferenciagaoe dassificato, De acordo com ests ideas, ‘0 ats, o8animais, a5 colsas,lgos, pedras e montankas, objetos ¢ também or seres humanos, tudo seria aesificad segundo essa distin «fo. Alm disso, em todos os grupos, as dferengas entre o que ¢tido omo feminine « masculino formar as persoalidadesconskdevadas spropriads para homens e mulheres a ideas sobre as tarefas que Uns ¢outas devem desempeahae seas nogbes sobre a diferengaentee masculino¢ feminino pe sentes na teoria socal contrbulram para que novos autores e auto ‘as mostrassem o carster cultural, flexvel evaridve dea dstingto. Baseando-se em estudos sobre diversas socedades,ees/as demons tearam que, emboraseja comum haverdivisdes entre as tarefas de vhomense mulheres, essas dvisdes nio so fixas, Em algumas socie 4adesindigena, por exemplo, a atvidade de tear 6 vista como fer rina; nowtas, como masculina. Isso acontece porque nao hi nada naturlmentefersnino ou masculno. (Grande parte da producto sobre essa dferenca fl realizada ‘um momento em que se difundia o conceit de papel sail, a par- tir da década de 1930. A teoria dos paps socials busca compreen- dor os fatore que influenciam o comportamento humano. Aida é |qu os individuos ocupam posicdes na sociedade, desempenhando papéis, de flho, de estudante, de av8. Como o enredo em uma esa de teatro, as normase regrassociais determinam quai s20 0s apéis possiveis e como devem ser desempenhados. As atuagées \dependem do enredo e da atuario dos outros atores que interpre ‘am papéis na peca. E, como as improvisagdes dos atores, as varia oes nas atuagdes individuals so limitadas, porque dependem das possibilidadesabertas pelo enredo ‘Adela de poses ocupadas no desempenho dos papés fa ef ‘éncia a eategoras de pessoas que sto reconhecidascoletivamente Um dos atrbutos que podem servir de base para a definicao dessas ctegoras 4 a idade. Assim, sto estabelecidas poses a partic das ‘uals crianease adultos so vistos em elaio ae desempenho de seus apeis. Outro deste aributos pode sero sex, Nesse caso, homens «emulheres desempenham papetsculturalment constratdosos papel sexuais, Os termos “papel sexual’, “papel masculina”« “papel fermi ‘ino" se difundiram rapidamente, da década de 1930 em dante. A ntropologa foi uma dscplina central nas elaboracbes sobre a dif: ‘renga sexual que trabalharam coma teorla dos pepes sexuais, ‘A antropologa estadunidense Margaret Mead é uma das ‘importantes autoras nessa dren Bla se tornou muito conhecia ter documentado as diversas maneiras em que “outras”cultu lidam com a diferenga sexual. Mead problematizou a iia de q nogies de feminilidade e masclinidadeeram fnas, mostrando varlavam de uma cultura para outa, Na década de 1930, Mead fer uma pesquisa compartiva ‘utssociedades trbais da Nova Guine, pblicada no lio Sexo ‘ramento em trés scedadespimitivas. Seu objetivo era observar ss atitudes socials se elacionavam com as diferenca sexs, Charged cada de 1890 onze ua roc de paps por cnt dar ‘omnia. Ba mle ue faon ciao ou emai na dpce, pots Ire tn drift pce it (Com base nos resultados da peal autora afirmou quea cena ~ comparthads na sociedade estadunidense da época~ de que averia um temperament into, lgado ao sexo, no era universal. A socedade dos Estado Unidos da sua épca(eatéoje no senso comum), ressupar ha que as mulheres fssem mas cas eafetvas, como uma decorréncia ddamateridade, que os homens fssem mais dominadorese agresivos. Ess dferenga ea vista como natural, como se resulta das diferengas ‘os carps masclinose femininas. Mead, 30 contri, fl ponela a0 ‘mostra que exes tacos de cariter so aprenddbs dade que una cana ‘nase Segundo ela, toda cultura determina, de algum modo, os papés oshomens «das mulheres,mas no ofazneessariamente em terms de contaste entre at persnaldadesatribuidas pels normas sodas para os Aoi sexo, nem em termes de deminaci ou submis. Comoe tna box sobre pesquisa de Margaret Mend, ofatode a {os de temperamentotadicionalmenteconsderadosfemininos, como assvidad,susetibildadeedaposiio para cuidar das criangas, serem ‘scolhids como padi mascalino mma tbo, em outa, serem br {trios os tacos masclinos para mulheres «homens, demonstra que ‘nod base para considera tal aspectos de comportamento vine ulados 20 sexo, concui Mead. Os comportamento, como ela mostra no sto naturals, dados 36 peo sexo ou seria gua em todas as sociedad d ‘mundo. Esa concusio¢ reforada pela inversio da posigio de dom ‘nia entre os sexos no teceiro povo estudad, Trabalhando na perspectiva dos papeis semis, autores ¢autoras como Margaret Mead apontaram par ocariterdecnstragdo cular da linas foram examinadas a fim dese ‘acharem conceltos apropriados pata | cartes dcampanha pelos dar conta da opreeto fernininaeda | gues dasmalhres om css realdade das mulheres, “ocinquntenarin da Decargso A efervescéncia provocada | pivera de Dito Humanos, pelos intoesses feministas dew lugar & erescente acurulagio de tum corpo de dados sobre “a situa- ‘30 da mulher" Mas a acumalao ‘ie informagio sobre a diversidade de experincias femininas e a ‘ofistiagao crescent das perspetivas académicas orientadas pelo feminismo condusiram, também, para o caminho oposto, isto &,& ‘ontestacio de varios das conceits ecategorias que o pensamento feminist estavautlzando, Eum dos primelrosalvos desses questo ‘namentos fl autilizagdo do patrarcado como categoria de andlse, (O conceito de patriarcado, itil do ponto de vista da moblizarao polities colacau srios problemas no que se eferia ae particlardades {a candigao feminina em diferente lgarese épocas.O pensamento feminists procurou no patriarcado a dia dewma orgem, de um temp anterior, quand tera comecado a historia da opressio das mulheres, Ese opatrarcadoteve umn ino, podera ter um fim ( conceto de ptriarcado fo extendendo-se no discarso politico © na efiesio academia, sem que fossemtrabalhadosapectascentras de ‘seus components, sua dinimica seu desenvolvimento histrio. Com, © decorrer do tempo, 0 patriatado assou aser um conceto quase vasa de conteddo, nomeando algo vago fue se torn sindnimo de dominae (fo masculina, um sistema opressia twatado, As vezes, como ee tvesse uma natureza imutivel, Assim, 9 conceito trouxe problemas deliadas em termos metodelogios. Hoje, esse conceit & alvo de ‘teas, principalmente po trata de manera tnia, unk formas de poder que se alte cm diferentes perlodos histéricoa Igares, Mas ¢ importante cc fender que patrireado, assim: ‘outrasexplicasdes da origem & causas dh subordinagio fem tiaha o objetivo de demonstra a subordinagio da mulher nto é naturale que, portant, ¢ po ‘combaté-a. Pouco a pouco, as hipéteses explistivas sobre a8 or ‘da opressofeminina foram sendo questonadas, a0 mesma tempo se buscavam ferramentasconcetuais mals apropriadss para que opressio perdesseo cariter de algo natural eimutivel.Enesse qu de efervescncia intelectual que se desenvove 0 canceito de gener, Leituras recentes da diferenca sexual Ocanceito de ginero fa elaborado no ambito da segunda onda {eminismo, por pesquisadoras que procuravam uma ferramenta nativa a0 concetose categoria considerados problemticos(comol patriarcado). Com esse objetivo, revsitaram a teria soil. Ami os tabalhos antropoldgicas com papéis seals, procuraram volver anlises qu, longe de pensar na teslidade das mulheres algo recortado e separado, a stuasse em telagdo com a to 4a cultura e da socedade. A maneia do paradigma de dentidade _ginero, essas aproximagdes se valeram de uma distingio entre alocade na natureza« pensado como elemento xo, « geneo, a na cultura e, portato, varivl. Entretanto, as elaboragies fe ‘do conceito de género se distanciam dassas leturas pela énfase que Colocaram no carter politico das relagbes entre os sexos e por obser- ‘ar que os sistemas de significado que produzem nogdes de iferenga {entre homens e mulheres oprimem nio apenas 2 estas keas, mas também as pessoas que nao se inseam em atranjos heterosseruas, O sistema sexo/género ‘O conceit de gino se difundis com forga inustad a partir a for smulago da antropéloga etadunidense Gaye Rubin, Seu enaio "O tei- fico de mulheres: Notas sobre a economia polities do sexo" publeado em 1975, escrito quando a atora era ums ana de ps-gaduaio, tomo. ‘a referéncaobrgatra na lieatura feminist Ineerindo-se no debate sobre a natureza eas causas da subord nagio social da mulher, Rubin elaborou um conceito que denominou Sistema sexo/gener. Segundo a autora, ers sistema ¢ conjunto de areanjs através dos quais uma cociedade transforma a sexualidade ‘iologia em produeos da atvidade humana, Perguntando-se sobre ss relagdessocais que convertem as “meas” em "mulheres domes- ‘dcadas", autora localiea essa passagem no trinsito entre natureza ‘cultura, no expaco da sexulidade eda prociacto. ‘A disciast acerca dese trnsitoe de como operam tas ‘aranjos" {oj desemvolvia através daetura critica de diversos autores, particular ‘mente das formalacBes do antropélogo francis Lévi-Strauss, que abo rou uma importante teria do parentesco. Levi Straus tinha proposto, ‘em seu trabalho de 1949, uma teria sobre a passagem da natreza& cultura ea, tentava entender 0 que diferia os homens dos animals le moto que na natureza 0 comportamento dos animais ¢ universal, ‘sea todos os animate cde uma determinadae=pécie, por exemplo, um ‘ipo de macaco, tm os mesmos comportamentos. Na humanidade, os ‘omportamentesvariam maito de um grupo para auto, ha formas de nganizagto socal variadas linguas diversas, regra espectics. Mas hi urn rgra universal, presente em todas as sodiedades humanas 0 cha mado tabu do nests, 0 sj, a probe de se manterrelagbes sexta om parentes muito préximos. 0 que cada Sociedade classifica como parent prdximo varia, mas ha sempre um grupo de pessoas com quem ‘so se deve manterrelagies. Esa probigo instaura a alana ~ a a550- ‘cago eamizade entre diferentes familias através do casamentodamora de wma fata com um rapaz de outea. A proibigto do ncesto gra que Lévi-Strauss chamou de “troca de mulheres, pois os homens de familia deveriam ofeecr suas flhas ou irmis para que se casem con ‘homens de outras fam, e eles tarsbém receberio de outtas fs suas Futura esposas. Asim, as fails tomam-eealiadas ~ de ‘vem o termo‘lianga" que oeasamento representa Segundo o ator, o casamento ¢o dispositive mais importante as fais tém para estabelecraliangas ent elas. O sistema dep ‘tesco eas egrasmatrimonias sto consderados expresso de uma intercambio de mulheres, As egras nao mudarlam ao considera os de mulheres trocando homens, 0 que realmente interes 6a ‘mediante qual se estabelecem aliangasenre familias ¢ grupos. E ‘ri Stausstenbausadootermo"troca de mulheres, que importa ‘seu conceit ¢ que as falas fagam alianas através dos jovens que ‘casam. A proibiio do incestoestabelece una rmitua dependéncia {amilias, obrigando-as,com of de se perpetuarem, i eray8o de familias, Para este autor, hi também um aspect adional que e ‘8 necessidade de formar famflas para a sobrevivenca econdmlea ‘rupes humanos. rata-se da dvs serual do trabalho, uma dvisso tarefas de acordo com o sexo, que varia entre as clturas mas salmente institu fungies diferenciadas a homens e mulheres. A. ‘0 sexual do trabalho faz com que a menor unidade econdmica vi ‘contenha pelo menos um homem e una mulher e, assim, estabelce, ddependncia mitua entre a seros, A finalidade sera garantie a ‘entre homens e mulheres Dialogando com Lévi-Strauss, Rubin afirma que, na form {esse autor, a divsto seal do trabalho, fundamental para patent ‘ria género, porque, para garantirocasamento, instaura a diferengy posi, entre os sexos. Ou sea, 08 sexo oto diferentes em ‘mos naturas, masa dvisio semua do trabalho consti a necessidade tarefasfemininas diferentes das masclina, Com ese fim, essa di ‘scentua, no plan da cultura, as diferengs biolgias entre os sexo Para Gayle Rubin,advisto sexual do trabalho pode ser vista tum tabu contra a unformidade de homens mulheres, que divide sexo em duas catogorias excludentes. Todavia, ela também deve vista como um tabu conta outros arranjos seas que no a {que tenham pelo menos um homer e uma mulher, © que obiga ‘asamento heterossexual. Asim, o tabu do incesto pressuporia| tabu anterior, da homossexualidade, ‘A sutorapensaointercam bio de mulheres de Lévi-Strauss comoconceitoquesituacexplica Ss opressto dae mulheres denteo dos sistemas sodals. A. ash tnetria de gener, a diferenca entre aque que toca eo que & trocado, origina a repressio da semuaidade da mulher. Mas ¢ importante pereber que esseéo feito de um sistema que, ep ‘mindo a sexualldade da mulher, (sth ancorado na obrigatoie ‘dade da heteroseensalidade ‘© ponto mais importante «a formlago sobre a dfeenca seal nessa autora & pensar fem géneo,aticulad 8 sexual- dade, como uma dimensto poi tica. Para Gaple Rubin, genera mio ¢ apenas uma identifica com um sen, mas obriga que o deseo semsal sen orentado para o outro sexo. pereee a opresato das homossexuais como produto do mesmo sistema ‘aja reras eelagbesoprimem as mulheres Didlogos Dara dca de 190, tema de expe ford portubineedvseminouapdamentes tn tects de des {een ur bra onde asforcdaber aa poe fern fons Sos a vss pr entender or amos ‘per ude, Tier qroonamnte eto aed cordincsdnizo do movinentafeninita a0 men temp un decane tos pics pert teen wtp pean fo Tou O eet de car um police fet agua, ee Inte tempo, pensmets mini dette sade ee tember concednde pura mnt ferme cases Na Stade e980, pot, een etd ft neat cont tad pina por enna nop on Estados Union eo “Tech Mand arma qu bn pse sil pita tomava diferentes diferencava também sus revindicagbes. Ba feminists consideravam que ceusinteessestinham sido apa pela énfase na “identidade” entre mulheres, favorecendo os interesse das feminists brancas e de dasse media, Por exemple, para mi negras e pobres nos Estados Unidos, cujosflhor eram mortos adolescents pela polcia em balros da perifrs, a dscussio sobee Alireits reprodutivos mio podia estar centrada exclasivamente no Aieito a contracepeioe a0 aborto, predominate nas reivindicad das feminists braneas, Para essas mulheres negas, em termos d Airetos reprodutivos, era importante que os flos i nascidos sem o direitoa vver sem serem assasinados ‘Haas feminist do "Tercriro Mundo" questionaram como a én na“identidade”torava certs priticas das mulheres de palses em volvimento, como ouso dove, expresses de opressiomasulina, rando como asrelagéesdesiquals entre mages erepies do mando p alteraro significado desaspitica.O vs, cobrindo a cabeya ono inter, ¢ulizado por mulheres de rlgito mugulmana em diverscs ses, Ardbia Saudia, In, Paquistz, India eEpito, Maso uso deen ve nem sempre temo mesmo sentido. Pr exemple, mn 1979, o fizeram uma revaldo conta seu monarca,o Ki, que aos ols d revoluconsrosrepresentava a press da colonizario Ocidental. Neste ‘momento, mulheres de classe médiaesolheram vest vu, como gest> revolucondro que apoava a Uberago do pls do Ocdente [Nesse marco, 0 sistema sexo/género de Gayle Rubin foi ques tionado por ser visto como “branco” e imperiaista. Na leitura de ferinistas negeas a teoria de Rubin explicava apenas a complemen- tarldade dos sexo, a heterossexualidade obrigatora ea opressto das sulheres mediante o intercimbio de mulheres no parentesco. Elas observaram, porém, que houve grupes intsios de homens e mulhe- "es, como os esravosafrcanos, cujaposigio no parentesco dependia . Aceseo em 08/08/2008. sobre) livro da filésof francesa hao artigo de Sylvie Chaperon, “Aut sobre) Segundo sero” Cadernos Pog n° 12, Campinas: 1989, pp. 37-5. Conceto da gener « dslogos Para entender o conceito de género, hi um trabalho muito cone ‘ldo da historiadora Joan Scot: “Genero: uma categoria stil de and lise historia" (Educagoe Readade, Porto Alege ol 16, n° 2 jul-de 1990, pp. 5-22). 0 logo desse concito com 0 de feminism & rnogae de dentidade entre as mulheres, hi o meu ensaio"Re-ctando 2 categoria mulher™ Adriana Pisctli in: grant, Lella (org). "A pica feminitae concata de gener. Texte ideo. Campinas: 1cH/Unicamp, vol 48, pp. 7-42; disponivel em ,Acesso em 08/08/2009, Sobre o teabalho de pesquiadoras brsileiras de diversas reas Alisciplinres| O livro Una questo de gnero (Rode Janeiro: Rosa dos Tempo! Fundasio Calos Chagas, 1982), de Albertina de Oliveira Coste Cris tina Braschin Para entender stuacio dos intersexos transexuais so enssio de Mariza Coméa “Fantasias corporis" (in: Piste, Adriana; Gregori, Maria Plomena;Carara, Sergio (orgs) Seuaidades¢ sabes convenes fronties. Rio de Janeiro: Garamond, 2004, pp. 173 189), 0 texto de Paula Sandrine Machado, "O sexo dos anjos: urn albar sobre a anatomia ea produ do sexo (como se foss) natural" (Caderos Pag online), Campinas: 2005, 2°24, p, 249-281, Disponivelem: «ww scielo b/scelophpscript=eci_arttent&pid-S0104-63832005 (9001000128Ing=ptsinem=iso>) ea tese de doutoramento de Flavia do Bonsucesso Teixeira, Vidas que desfiam crpot «sono uma etna- _rafa do constrairse outro no gener na sexuaidade (Campinas Facil dade de Ciencias Sociais ARCH, Unicamp, 2003) Romances e ensaios Um tao todo seu, de Viegnia Woolf (trad. Vera Ribeiro, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005) Ensaio que reflete sobre acondigio de ‘Vid ede trabalho de uma mith de classe mda lta ingles, Orlando, de Virginia Woolf (trad. Celia Meirles. Rio de Janelro: Nova Frontera, 2003.) ~ Questiona or ecpagos sciai masculinos © {ermiinos através dahistria de wm principe que un dia acorda nm corpo feminino, metamorfoseado numa mulher. Cirande de pedra, de Lygia Fagundes Telles ~histria de uma) fans que se separa, © a6 vidas de tes irmae, Explora tambim a situacio de jovens em candies econémicasdistintas, durante os noe 1950. Grande sero: veredas, de Guimaraes Rosa (Rio de Jacke: Ne Fronteira,2005,) 0 protagonista Riobaldo atormenta-secomoamb quo afet (alsamente) homossexual que sente por seu companhel Jagungo Diadorim, que se revelars uma mulher travestids Filmes Minha vida em corde rosa ~ Dregto de Alain Bevlines, Fea Belgica! Reino Unido, 197, Historia bem humorada edeliada de ‘menino acha que & menina, explorando as eacdes da fama e ‘hose seus comportamentos e attudes ‘Transamerica ~Diresaode Duncan Tucker, EUA, 2005, Historia ‘uma transexual (naicida do sexo masculino, mas que se sente m que descobre que ter um flo over e que este 0 procira “AKY’—Diveo de Lucia Puenzo, Argentina/ Fanga/ Espana, 200 Sobre uma jovem intersxo e os dilemas da ambiguidade sexual ( segredo ce Vera Drake - Directo de Mike Leigh, Reino Ur Franga/ Nova Zelandia, 2004, Na Inglaterra dos ance 1950, Vera ‘uma mulher que ajuda outas a fazer abortos voluntiios, quando aborto ainda era legal naquele pas. ‘Untu de esrelas - Diregio de Tata Amaral, Brasil, 1996, 4a cabeerera Dal, que mora na Zona Leste em Sao Paulo, ea {0 vilenta com onamorado Vitor

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