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gles Ml Porugueses la aia sd Mu, Fela de. P/N ok Ts So Pa, 19. A GEOGRAFIA COMO CIENCIA E A REGIAO COMO OBJETO DE ESTUDO necro qu mses eres no jm simplemente wn orga, masque sm egos nam tad mde, Ta coms ames de conser una ese, é rds comet do ae, qu as vias pars oder mas ede aes tun eer, antes de sudo © mands, ters um cnc do to Exouse. Ker [A ctiacio dos impérioscoloniais da Epoca Moderna deu novo impulio a0 reconhecimento das novasterras, As necessdades impos tas pela grande insti nacida da Revolucio Industrial, a crescen- te Busca por matériayprimas ea urgéncia de se conhecer os recursos naturals ¢ econémleos nos quatro eantos do mundo valorizaram ot catudos sobre os lugares. Europeus, prin Ses ealemies, os grandes senhores imperiais de enti, foram impul- Sionadls a singrar mares, a embrenharse pelas lresas tropical crurat deaertos¢ adentrargeleira, numa rapider marcada pelo rit too dos novos tnpos' falmente ingleses, france- 1. Ammegacto a vapor que se apcreigoou ma primeira metade do século XIX, se coms numa grande revohico dos transports, Velaresnaviosranslinicospassaram a cruzar © Ragio Ganraia © conhecimento dos hugares nao se consttuia tivagio apenas para viajantes, exploradores e cient ress prioritirio para 6 poder politico ¢ econdmieo do Estadonagio. Os interesses hegembnicos deveriam estar garantidos ndo apenas pelo dominio dos povos subjugados, mas também, no ambito interno das ages dominantes, pela construcio ideolégica de que aqueles inte- sim, em mo- as, Era de inte- resses seriam de proveito de todos. Foi nesse contexto que a eatedra de Geografia foi institufda nas escolas, com o objetivo da constructo, © afirmagao da nacionalidade. Com o apoio do Estado, das companhias de navegacio, das ci inaras de comércio ¢ de outras associagSes ce capitis, minuciosas ex- pedigdes cientificas e militares foram preparadas. Essas expedigoes também tiveram apoio das sociedades geogrificas que se multiplica- ‘am nos anos citocentos e que, cedo ou tarde, se engajaram no pro- jeto de expansio colonial on territorial de seus paises! ‘A multplicidade das expeaicaes clentiticas € militares trac a‘ aventura dos tempos modemnos, As associagdes cientifieas davamn apoio as expedigdes, nos moldes da Associagio Africana, fundada em Londres em 1788, com duplo objetivo: o de explorar a Africa, com a finalidade de descobrir e de revelar esse continente & cultura ociden- tal, € abrir novos dominios comercias britinicos naquele continen- te. Até entio, a Africa era praticamente um continente desconheci- do, Apenas o Egito ~ devido & expedicio de Napolezo Bonaparte ~, a regio do Cabo, no extrema sul ~ colonizada pelos holandeses Senegal haviam sido explorados. Somente na segunda metade do sé- culo XIX, o deserto do Stara, de grande interesseestratégico para as rotas comerciais por possibilitar wma ligacio terrestre mais répida ntre a Africa branca e a Africa negra, antes feita através da navega- fo, foi conquistado pelas poténcias colonizadoras européias’, As savanas, a regido dos grandes rios elagos, de atividade agricola © pas- ‘os mares O enwio de mensagens 4 dixinda enue sugurago, em 1867, do primeira cabo tranmlin A soriedate eopriiea de a de Berlin. de 1828 ea de Landes. de 1890, No nda do sécuo XIX havia cerca de 100 sciedadesgoogrfics no mundo, leo Barth, de 1850 1855 ea do francés Duveyrr de L850 » 1869, as ncurses europtas pelo deserto do Sara. CE. Clie, 1942, wlnentes toro pose com a aris data de ‘conten na pl A Gegraia como Cinco Regi ome Oba de Bsudo ® toril, tornaram-se objetos de répida exploracio'. Por ditimo, a densa floresta tropical foi explorada’, [As terras altas da Asia foram reconhecidas com maior precisto igualmente na segunda metade do século XIX". Na Austrélia, foram 8 ingleses Stuart € Eyre que, ao explorarem a bac Darling, revelaram o interior desse continente que até entio tinha ape- do Murray- has a stia costa conhecida pelos europeus. O alemio Alexander von Humbola, em expedicio cientifica A América, bem como em outras misses, revelou o interior sul-americano’. Na América do Norte, 0 reconhecimento se di ju, sobretudo, para o oeste. No entanto, © desafio nao era s6 enfrentar mares ¢ desbravar continentes, era, também, o de sistematizar 0 conhecimento acerea 4.0 francés René Cail, um dos mais importantes exploradotes do continent aiana, tales iis afrcanos. Os militares ingles Denham € Clpperton, durante os anos de 1822 a 1824, ieram 0 evantamento do io Niger, do Cade do Sudo central. Os in lowes Baron e Spoke, pela Royal Geograph {odo Lago Tangania,eheyand algo em 1858; ainda entaram descobir a cae tas rio Nilo, descberta erm 1850 pelo mesmo Speke, porém acompanhado de Gran ‘Ao Ghadechegaram os rancous Barth, 1852 , pesterioemente, Nachtgal, em 1870 inédico e misionavio, Davi Livingstone chegos 3 Aca em 1840, em 1849, Sci, eaizram amido de explore Oexcoets para paraassiranas desconhecias 6 Norte do continent; durante vnte cinco pereorrew 2.000 quilimetro fazende reconbecimentone reaiznd sun obra de ilan- ropa IM, p. 77 © italiano razz «servo da Franca, completou oreconhecimento da regio equatorat afficana, que haia sido iniciado pela Grants Stanley, numa expedigo que desceu por son, de 18741 1877, 0 ia Congo em pleno centro do continent. A Associaio In tenacional do Congo, fundada pelo rei a Belgica, contatou Sankey para exabeecee postesmitares ao fongo do io Gango, 0 que foi exceutado daranteo pefodo de 1879 1888. Har, p 76. 6. Os misiondros franceses Hc ¢ Gabel, entre BiH ¢ 1846, pereorreram a Mongolia © 0 “Tibet, May x na segunda motade do aéculo XIX, com as vagens do explorador rwso Pxjevabhy pelo Turjuestio « Mong, innguraramse, verdadciramenie, 3s exphoracies «4 €poca moderna no continente sitio, Hew, p. 7. 17. Gate destacat as expediges de francés” Orbigny, nite ox anos de 1826 6 183,20 {So Bra ao Urugut o Ageniins doe inglere Waller teen Amarin 1848: ‘ad francés Crea na Gna ena baca do Orenoco, nite 1877 ¢ 1882. A Argentina © ‘firs umbém procediam a recnlieimento de seus teeiirios com expedies como imerasexpedi- a do argentine Moreno 3 Patani, ralzadsenire 1873 ¢ 1880, €28i cBesde Rondon pelo interior do Bras, dem . 79. © Regio ¢ Gorafia dos lugares. J no Renascimento, havia eriticas as explicagées basea- das na ordem divina, Outras formas de pensamento se desenwolveram, conduzindo-s a filosofia iluminista, ao idealismo alemio e ao pensa- mento cientifico moderno que revolueionaram a forma de analisar € de interpretar a natureza e a sociedade, A crenga na razio, no progresso e na capacidade do individuo pensar de maneira auténoma, constituiram-se nas bases do pensamen- to iluminista amadurecido no bojo do desenvolvimento da burguesia € do comércio, Tal pensamento desenvolveusse ao ritmo da valsa, na intimidade dos corpos, junto a liberdade dos volteios e da eriagio dos saldes de baile, suplantando minueto, dangadlo nas cortes, em que 0 distanciamento fisico entre as pessoas vimento de uma coreografia complexa. Inspirado nas idéias de liberdade e de igualdade dos homens, © Tluminismo afirmou o primado da autoridade do argumento sobre 4 autotidude wdvinda da hierarquia soctal. Colocou em xeque a hie rarquia social da nobreza e destacou a capacidade humana de encon- rar solugdes racionais para todas as questoes. Para o Tluminismo, 0 conhecimento deve ser racional e pleno de argumentos € comprovacdes, sendo a descricio e a demonstra io das hip6teses partes integrantes do processo do saber. Tumi- nismo considera a critica permanente como parte do procedimento cientifico, por permitir um constante aperfeigoamento e ampliagio do conhecimento. Assim, a busca de principios gerais tomouse prioridade, con- duzindo 0 homem a pensar a sociedade humana nio em suas part cailaridades, mas em sua perspectiva geral. Todo esforgo era dirigido para a formulagio de teorias e concei construcio de generalizages e abstragies, Aquela preocupacio com as anilises particulares, que remontava aos gregos, foi colocada em segundo plano, As raizes do Tuminismo estio no racionalismo de Descartes, Leibni« € Spinoza, como também no empirismo de Bacon, Hobbes, Locke, Berkeley © Hume, entre outros’, © atiuialisine considera sma regra para o desenvol- 1s gerais que possibilitassem a 8. René Descartes, natural do norte da Prana seu entre 159 € 1650, tendo desenvolide os principio metodolgicos da flosofia moder fundados raz Gated Wihelm A Conga om Cibncia ea Regio coms Obj de Psuo ® que, por intermédio do pensamento, € possivel conhecer a realida- de; enquanto 6 empirismo postula que na experiéneia sensivel & que se encontram os fundamentos do conhecimento. © racionalismo & © empirismo classico constituem visbes de mundo que consideram lade pode ser ser por meio da razéo ou da experiéncia que a re: conhecida, A critica da razio foi desenvolvida pelo idealismo alemao, que tem em Johann Fichte, Friedrich Schelling ¢ Friedrich Hegel seus principais representantes’. A razo, percebida com limites, 0 espiri- to, a conseiéncia ou a idéia, constituem-se nos elementos fundamen- tais dessa filosofia. A influéncia do idealismo na literatura e na arte va do se traduziu na superacio do classicismo, com sua visio objet ‘elbnis, 1646-1715, nscdo na Aleman, concelew » concito de ménada, peemitinds seapondler + inimeror problema metaiicm. anich de Spinora ha de jurews rie pucses, natural da Holanda, view ene 1632 e 1677, fortemente iailenciado por Des cartes buscou expor suas ilas segundo ma ordem geométria, segunda qual as de duces so decorrentcs de definicSes de asin ede posits. Quanto 308 empiri, ‘Thomas Hobbes, inglés que vvew enue 1588 e 1679, com sua ora do contrat scl, Adescmrohen 2 Klsota politics Jon Locke, 1632-1704, consturse num dos principals representantes do empiri ings, posinlando que to conhecimento€ dependente€ sult & expen obispo irandés George Merkley, que ve ene 1685 1735, las eo epi desenvolven a toria do imaterialimo,comedcrande que 1 existe ‘© 0 excorés David Hume, que sve entre 1711 1778, prcuros desenvoler 0 méiods loa uma pongo cia quanto ds de invetgario empitica na ciénca do homer, ee posiidades humana. 9. Feit, Schelling e Hegel vveram una conjunira hisdriea que condusi 4 unicagto © 2 emergéncia da consiénca nacional alemd, Johann GosiebFiehte vveu entre 1752 € TBH va & sciperso, ples wopis napolobnit de Bsn, eileen co ines bo bundono des ideas ds Revolugio Francesa ¢ eal o nacionaliamo lems conside- ou. filosfia como cincia do saber em gerale disinguit 0 ditcvo da moral, sendo © to exterior eormeienca © x mort interior aca, No penne de Predsch Wille, Joveph Schelling, 17751854, varnon encontrar a uniade di oposigdce mic © objet, capltito © maturea, ial e ral. Quanto Georg Wiel Fredech Hegel, 17701851, compartha com Aristtelese Tamds de Aquino a posi de serum dos maiores pet ores sstemdsicor de todos os tempor inpirado no pensamento de Joachim de For, ‘que vveu por ola de 1185. 1202 e que interpreta hsiia pani de um pensamen to wddico ~ que diz respito &windade ers -, Hegel concebcu a dialética como um movimento rcional superior no qual da tte contém no seu interior aanes,anbas, e conhecimento ‘no Seu movimento, sioeesolvdas~ oust, suprimidas ~ na sntese. Uma dali, por- ‘ano, qe no em como referéncia los terms, was i as em motnemo 18 © Kegito ¢ Goograpia mundo, pela valorizagio do lirismo, da subjetividade, da sensibilida- de € da imaginagao sobre a razio. Tendo reeebido, nas artes, o nome de romantismo. Dat 0 uso corrente de se contrapor o iluminismo a0 romantismo, ni a0 idealism. As bases do idealismo alemio estio no pensamento de Emma nnucl Kant (17721804) que, influenciado pela leitura de Rousseau, desenvolven um pensamento que se propds colocar claramente os lic mites da razdo, Como dissemos no capitulo anterior, Kant foi o ina gurador da disciplina Geografia, quando lecionava em Kénigsberg. Por ser em Kant que se situa a idéia de que o fundamento da Geo- Brafia € o expaco, € importante tecer mais algumas consideragées. Em primeiro lugar, abe observar que uma reflexio permanen- te de Kant em sua obra discorre sobre a relagio entre as condigies na turais e a hist6ria dos homens. Para ele, esta relagio é fundamental porque permite criar a unidade do saber, superando o conhecimen. to parcial. Dizia que nio se pode conhecer © homem se se ignorar @ meio, € que a diversidade da realidade empiriea pode ser objeto de conhecimento, Em segundo, cabe lembrar sentido de espago para Kant, Para ele, o espago é condigao de toda experiencia dos objetos. Esses objetos sio objetos da natureza, bem como do homem, mas também, sio objetos astrondmicos ¢ geométricos. Portanto, nada pode ser re- presentado sem espaco, que conteria © fundamento de toda a per cepeao sensivel. Em terceiro, vale chamar atencio para o fato de que em sua obra, Physische Geographie (Geografia Fisica), editada em 1803, apare- cem outros ramos da Geografia; portanto, 0 nome Geogralia Fisica, ‘em Kant, ndo tem nada a ver com 0 que pensamos hoje em dia como Geografia Fisica. Para Kant, a Geografia Fis mos, por exemplo: uma Geografia Moral dizendo respeito aos dife- entes costumes ¢ caracteristicas dos homens, uma Geografia Politica ica comportava vitrios ra- 10. Nio € cas, e seria una audi incevid, present alguns sspecos do pensamento Jecer a rlagioenlze mia reflex accrea do expan com nt concep de relacies capac. Apenas buscames tee ‘obsertagdes que consideranos importantes para a nossa dso, A Goran como Circa ea Regi como Oba de Estado voltada para o estudo das unidades pol unidades, uma Geografia Comercial, uma Geografia Teolégica etc. Kant afirma que 0 espaco geogrifico é de natureza diferente do espago matematico, porque se divicle em regides que se constitiem no substrato da historia dos homens. Diz que uma grande imperfei- cao da historia era nao se preocupar em saber onde os fatos haviam ocorrido, Para Kant, a idéia de espaco geogrifico vinha acompanhada da idéia de regido, Em uma de suas observagées afirmou: [Lo] & necessrio que nossa experitneias ni mas que sejam organizadas nuon todo uma casa, € preciso um conceito (Ide) do todo, do qual as varias partes poderio, mais tarde, derivar; também € necessirio, antes de estudar 0 mundo, terse um conceito do todo, wna moldura arquitetnica da qual se poder extrair os milk tiplos detathes. A geografia fisica proporciona tal arcabougo para o estudo da sejam simplesmente um agregado, temitico. Tal como antes de construirse Kant advertiu sobre a impropriedade de se considerar cada parte da totalidade como uma parte em si ¢ para a importancia de se ter uma idéia do todo. Além disso, chamou atengio para o fato de que a descrigio geogratfica deveria levar em conta o tempo e 0 espa- 0; niio simplesmente 0 conccito, exemplo que utiliza para afirmar a importincia do espaco interessante. Dizia que se classificarmos o gado segundo a re- feréncia quadrapede e, depois, como um quadriipede de patas fen- Gidas, estaremos elaborando uma classficacio segundo uma determi nada I6gica que concebemos. Em outros termes, elaborando uma Classificagio segundo. um conceito: 0 de quadripede. No caso de uma classificacio, considerando o espago, o procedimento seria di- verso. Toma como exemplo os répteis, crocodilos e jacarés para ex: por sua consideracio, Crocodilos e jacarés compdem uma mesma Classificagao, pois basicamente sio © mesmo animal. Segundo 0 con- ceito, estariam numa mesma classificagio, No entanto, considerando 0 espaca geagrifico, a classifieagio seria diversa, pois catio difcren- 1, Kant pul Tatham, 1959, p. 358, + lai «Ganga stribuidos no planeta: 0 crocodilo ¢ original da Afiica € 0 jacaré, das Américas, Consideramos este exemplo muito elucidativo, temente pois além de mostrar que para se elaborar uma descri¢io geogritfica € necessiio levar em consideracao o espaco, demonstra que uma andlise da perspectiva do espaco revela outras dimensdes da reali de. Portanto, 0 espaco geogrifico, a relacio entre 0 homem e a na lureza, a relagio entre 0 geral e © particular, temas Ho caros Geo- sgrafia, j4 aparecem sistematizados no pensumento kantano. Se a inspiracio iluminista conduz valorizagao do geral, a idea lista leva & valorizagao do particular, colocando em,segundo plano a idéia de universalidade. O idealismo entende que considerar que ape- nas 0 conhecimento deve ser racional pode construir uma barr plena expressio do homem, pois a esséncia do individuo concreto es- taria, sobretudo, na sua espontaneidade, Devido ao volume de conhecimentos cientificos ¢ de procedi- mentos para alcangi-ios, a necessidade de uma divisto do trabalho cientifico se impés. As disciplinas especificas procuraram aperfeicoar (0s principios da ciéncia modema ¢ adaptitlos aos objetos de estudos particulares. Foi Augusto Comte (1789-1857) quem elaborou uma discussio importante sobre a divisio do trabalho cientifico™, Em sua obra, Cours de Philosophie Positive, de 1844, expos sua proposta filosdt- ca denominada positivismo, reafirmandlo a erenga iimitada ma ra nalidade do mundo e no poder do método cientifico, consagrando 0 positivismo como a forma de pensamento dominante nas ciéncias. Para Comte, o estigio cientifico caracteriza-se pelo abandono da procura da causa diltima dos fendmenos, para se situar na busca do conhecimento dos fatos pela observago, o que permite chegar as leis gerais. O positivismo, portanto, nega a investigagio de outra coi- sa que nao seja as relagdes entre os fatos. Pergunta como os fatos se dao e como se dia relagao entre eles, mas nio se centra na discussio do porqué nem do para qué se dio, ‘que procurou compartimentaro saber, delinando 0 objeto enti de cada disci 1a, Das mikipla claps qu oconhecimento geogeico vin refletinde dexdea mais remota Angad, a rela mai centrale abrangente~ entre o homem € 6 meio ~ se wrnou a definidora do objeto de estudo da Geograia com Ciencia ea Rap como Objet de Bato ® ‘Tres referény na construgio do pensamen- to cientifico na perspectiva positivista. A primeira é a de que o tinico fundamento do conhecimento é a observacio estrita, devendo-se, ortanto, observar os fatos, niio indagando acerca de sua origem ou de sua finalidade. Nesta observagao, © pesquisador deve repudiar qualquer juizo de valor que se tenha sobre os fatos observados, bem como as interferéncias das faculdades humanas de sentir, int ginar etc. A segunda é da afirmagio radicalizada do empirismo; ow scja, 08 fatos observados na exper deyem passar por uma expe- rimentagao. A terceira € a de que a explicagio advém de deducées elaboradas a partir da observagio e da experimentagio em busca da construgio de leis gerais. Em termos da sm. suma, observacio, experi mentagdo e dedugoes formam 0 wipé do procedimento positivista, Contemporineo de Augusto Comte, Charles Darwin (1809- 1882) teve grande influgneia no pensamento cientifico do sécule XIX", Sua obra, The Origin of Species By Means of Natural Selection, de 1859, modificou 6 curso da histéria e foi fundamental na construcio da Geografia moderna, Afirmava que 0 homem, como todos os ou busca da construgio de leis naturais, 10s seres vivos, evoluiu de formas simples € que nesta evolugao havia uma selegio natural bascada na capacidade de adaptagio a0 meio natural em constante mudanga, Darwin considerava que 0 que ocorre na realidade é deriva- do de causas determinadas € as causas que devem ser levadas em consideragio sio, necessariamente, as que obtiveram. um certo gratt de eficiéncia e, por isso, se afirmaram. Os elementos de anslise con- siderados sio, portanto, objetivos; ou seja, materiais e passiveis de experimentacio, Como decorréncia afi turais condicionam as formas de vida, so determinantes ¢ tm um. valor absoluto. Nessa idéia de determinacao € que reside a ori nava que a condigdes na- 13, Marx reconheca a importinclaclmifica da tora evoacionista, tend, inchave, esr 1 Darwin, expressando wu intengio de the dedicar O Capt ow seshon ne eco rend devido&staestio de Engels ao observa que aida de Mars de que a wociedale 5, exabclecendo, porn ‘erminadas”rlagies wai, poesia perder fora se Capital vese ex dedicat, ‘humana prs seinen sus pep condigdes de i 82 © Regi Genraia do termo determinismo para expressar os postulados evolucionis- tas fundados no pensamento darwinista, Em sua obra de 1871, The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex, Darwin observou que nas espécies mais evolufdas 0 desenvolvi- mento dos chamaclos instintos sociais eram mais pertinentes do que (0s biologicos, fazendo a cooperagio se impor em relagio aos instintos ‘egoistas do homem. Esta observagio, entretanto, no foi levada em consideracio por alguns seguidores de seu pensamento ao transpo- rem sua teoria para a anilise social. Foi o que fez Herbert Spencer, (1820-1903) que, da idéia de selecdo natural, ded lucio da humanidade, na qual o liberalismo ~ com sua idéia de iu a idéia de evo- comércio ¢ competicio - se coloca como o aspecto social da selecio natural. Assim, para Spencer, qualquer interferéncia na dinamica so- cial, assentada no liberalism, comprometeria o progress humano. Na Alemanha, Friedrich Ratzel (1844-1904), doutor em Geo- logia, Anatomia ¢ Zoologia, imbuido do objetivo de constrnir a iden. tidade da Geografia, foi grandemente influenciado pela teoria evolucionista, tendo tomado contato com ela a partir da tradugio, do gles para o alemfo, feita por Moritz Wagner, que difundiu o pensa- wento de Darwin naquele pais. Wagner também exerceu influéncia ia de movimento da ho pensamento de Ravel, que incorporow a i qual Wagner dizia ser uma das caracteristicas centrais do mundo or- finico, sobretudo do homem. Nessa idéia tem origem o interesse de Ratzel pelo movimento dos homens na superficie terrestre © de sa afirmacdo de que a Geografia deveria se voltar para o estudo da dis tribuicdo da populagio e das regides do eciimeno. Ratzel considerava que o homem, como uma espécie entre os seres vivos, procura ampliar seu territrio a custa dos vizinhos. Par- Lindo da idéia de que as condigdes naturais condicionam as formas de vida, chegow a conclusio de que os agrupamentos humanos, quar do se véem face a um territério limitado, buscam ampliar seu espaco de vida, mesmo em detrimento dos seus vizinhos. Vivendo 0 momento de unificacao de seu proprio pais, em 1871, Ratzel entendia que a garantia do grupo social que vive num determinado territério depende do Estado. Com ele se desenvolve & vertente politica na Geografia. Em 1887, € publicada sua obra Politische Geographie (Geografia Politica), na qual afirmava que as regides coe- A Geografia como Cincia Regi come Obeto de Estado © sas ¢ densamente povoadas tinham natural tendéncia para formar jeuniddas por afinidades culturais e hist6ricas. Che- ‘gow a elaborar uma hierarquia dos Estados e a justificar 0 expansio- nismo politico como a esséncia do progresso de um povo. Desconsiderando a observagio do proprio Darwin, de que nas espécies mais evoluidas 0 desenvolvimento dos chamados instintos sociais seriam os mais pertinentes, acabou construindo uma Geogra- fia em que 0 peso das condigdes naturais era bastante significative na organizagio social dos homens. Isto o Tevou a afirmar, no primeiro volume de sua Anthropogeographie (Antropogeografia), de 1882, que as formas culturais sio fortemente associadas as condigdes naturais Neste volume, desenvolve a argumentacio de que a distribuigio do homem na terra é, de certa maneira, controlada pelas suas necessi- dades ¢ condi¢des naturais, ‘Todavia, jd no segundo volume dessa obra, de 1891, a argumen- tasio desenvolvida no primeiro volume perde forga. A influéncia da historia emerge como sendo, igualmente, fundamental. Sua fras “Pode-se talvez compreender a Nova Inglaterra sem conhecer o pais, mas nao sem comhecer os imigrantes puritanos", exprime bem a rela Lividade de sua posigao deter cionante: a historia cultural Tendo como referencia o aspecto técnico das sociedades, Ratzel istingue dois tipos de povos: aqueles que para sobreviver tém que se adaprar ao meio em fungio do seu estigio de desenvolvimento, e aque les que, por terem um estigio maior de desenvolvimento técnico, po- dem neutralizar © meio natural na sua organizacio social e politica Avisio de que a forma com que 0 homem organiza sua vida é estrei- nista em fun¢io de um outro condi tamente detern nada pelas condigSes naturais permitin a Ratzel es- tabelecer a relacio entre as diferentes formas dle adaptacao do ho- mem a0 meio e a diversidade de organizacao social ¢ politica no mundo, Permitiu perceber na totalidade suas partes. Todavia, essa perspectiva nfo respondia & contradiglo: se 0s impasses sociais eran determinados pela natureza, como poderia 0 homem resolwlos se cele mesmo era condicionado por ela? 14, Razel apd Eachanes, 1983, p40 © Regie Coorafia A influéncia do pensamento de Ratzel nao se deu apenas na Alemanha ¢ nos demais paises da Europa, aleangou, também, os Es tados Unidos, uma vez que Ratzel viveu naquele pais onde exercew a fungio de jornalista. Influenciou grandemente o pensamento de Ellen Churchill Semple, que em seu trabalho de 1911, intitulado The Influen- es of Geographic Ensvironment: On the Basis of Ratzel's System of Antropo- geography, considerava que das influéncias do meio derivavam as ativi- dades econémicas ¢, até mesmo, o temperamento dos homens, A perspectiva determinista significou que aspectos sociais pas- saram a ser subordinados aos naturais; conseqiientemente, naturali- zandose a compreensio da sociedade", A idéia de sclegao natural wansposta para a sociedade conduziu a implicagdes politicas set mas, servindo para justificar um mundo de dominacio e opressio, num cenitio em que os impérios coloniais da época moderna busca: vam retalhar 0 mundo. Havia quem afirmaste ser a guerra um exemplo supremo da uta darwiniana pela sobrevivéncia, na qual vencia 0 mais forte. Esta posicio se traduziu na idéia de que as nacdes européias erain as mais capazes em relagio aos "povos inferiores", Em suma, a idéia de sele- do natural servi como justificativa para as estratégias de dominacio territorial. A hegemonia capitalisia encontrara sua justficativa. Seu ponto de vista sobre o mundo rompeu o circulo da burguesia para ser encampado por homens de todas as classes como uma verdade Na literatura, como nas artes, revelavase um mundo em luta permanente, A obra de Charles Dickens é contundente ao descrever ‘a sociedade e a condigao dos trabalhadores indus terra que desde 1840 havia se constituido no primeiro pafs a ter maior populacio nas cidades que no campo. As conseqiiéncias da Revolu- is, numa Ingla- 15, Convémn lembrar que a formulagio da relago entre a eausa dos scontecimentos so- ‘ai como decorrente da nature no € particular a ese momento histérco, Aste ‘consderava que o lina determinava o carter nacional de wm povo, Hipberates rls omou vier doongas de extaptesclimstien © Santa Tome de Aquinas tim cons ero o lima como determinants, 46 que o cnsiderou em regio as diversidades ul tural. A diferenga € que, no jum paradigma cinco, orlentando desenvolvimento da cineia moderna, da ite ‘atu © da arts, A Gaara como Cie €« Regi como Obj de Bstudo. © ‘¢do Industrial apresentavam sua face firdua, Anos de desenvolvimento econ .o haviam se realizado sob condiges de grande exploragao do trabalho nas faricas. As condicdes de vida urbana, a violencia e a criminalidade faviam da cidade um lugar inéspito. Sonhavase com 0 que se havia perdido nas engrenagens das miquinas ¢ no ritmo de- senfreado da producio industrial. O campo era lembrado como um paraiso perdido, fazendo todos suspirarem pela natureza que havia sido subtraida da vida cotidiana. Os temas da natureza, da vida cam- ppestre e da harmonia comprometida se faziam presentes nasartes plis- ticas, como um antidoto contra as mazelas da sociedade industrial € como recondugio as sensagdes ¢ emocdes humanas que sempre emer gem quando o homem se depara com a natureza. Nao foi s6 com os pardimetros do determinismo ¢ do positivis ‘mo que a Geografia se afirmou como um ramo espectfico de conheci ‘mento. Contrapondo-se ao determinismo, a idéia do possivel; ou seja, iberda- de como possbilidade do homem substanciaram-se no pensamento possibilista*®. Como antipoda do positivismo, o historicismo, inspira- do no romantismo, questionou a sminista, incorpo- de cursos alternatives possiveis de transformagio, © a idéia de in de razi rando a subjetividade no pensamento cientifico. Em aberto confronto com aiidéia de que as ati cram determinadas pela natureza, o pensamento possi ‘© meio fisico oferecia possibilidacles ao homem para 0 exercicio das atividades humanas € que o homem teria liberdade de escolha na sua relacio com a natureza, Em outros termos, as relacdes estabelecidas entre 0 meio fisico a organizacao social sio complexas e intimeras, havendo varias possibilidades, ias alternativas € varias escolhas". 16, A idea de posibitidadee de Hherdade apatecem na mais tenra dade da flosoia, Por exemplo, Fleur, liso grego que sve ene os sor de 342 € 27 a C. coloea que ‘© homem tem a posibildade dese bertar de toda x alienag € de toda necesidade ‘nio natral,contrapondose, com ess afirmagio, is concepcdes de destin e fair de, Foi casa ida de posse, ao lado da erties que Epicure faz representa € 40 Pensamentoexpecultv, que moivou Marx etudar © pensamente deste Miao gre: 1, resltando ma maa exe de dovlorado intulads: Dirac da Fai da Nata Se pends Dendrite Bpcun 17, Foi Emile Lessseur (18281911) que, em 1889, conirpds daramente@ deteninsme Ico a berdade do omen 86 + Regi Geogr A idéia de possivel se incorporou a literatura € as artes. Se as condigdes de vida haviam se tornado indspitas, sea cisio entre 0 eam. po e a cidade fazia os homens suspirarem pela natureza ausente, havia possibilidades de recuperd-la, No final do século XX, a idéia de cida desjardins foi discutida, procurando-se conciliar as vantagens da vida urbana com a beleza do campo. Nelas, os aspectos contraditérios da telagio cidade-campo, segundo proposta de Ebenezer Howard (1850- 1998), deveriam integrarse para a formagio de uma nova civilizagio. ‘A natureza poderia ser produzida ¢ a possibitidade do domi- rio do homem sobre a natureza necessitava ser registrada, Muitos jar ins piiblicos na Inglaterra, na Franga € na Alemanha passaram a ter vvirias espécies de plantas de diferentes lugares do mundo, significan- do que nao s6 a natureza poderia ser produida, mas que ela nao se constitufa num dado irreversivel ¢ absoluto, Se as plantas motressem, poderiam ser substitufdas™, Além disso, esses jardin atestavam 0 po- der sobre outras terras e a conquista de Iigares € povos. Plantas tipt- ‘camente tropicais se faziam presente em clima temperado”. ‘Ao mesmo tempo que @ natureza era vista como sendo com- posta de virios elementos fisicos, também surgiu a idéia de que cla possuia no apenas uma constituigio fisica, mas, também, tinha uma historia. Essa perspectiva inspirada no romantismo € na valorizacio do carter hist6rico € denominada de historicismo. Para 0 historicismo, a realidade é resultado de uma evolugio hist6rica, derivando ai a valorizagao das tradigdes. O historicismo nao considera a ciéncia como una, mas procura sublinhar a especificidade das cigncias do espirito em relagio as ciéncias naturais, Considera que, diferentemente das ciéncias naturais, em que se busca leis gerais, as Giéncias humanas (ciéncias do espirito) devem aterse & descri¢io das 18, No Bes ‘em 1808, fo a eriugio do Horto Rea, o Rio de Jancio, mais tarde denominado de Real Jain Botinic,e, aualentc de Jardion Botinicn, O Hors reeebia plantas de tum dos primeitonatos de D, Joie VI, quando de sua instalgio mo Br todo mundo por onde ov portagusscepaeonony, raomunhanda a adic de panes navegador, 19, © watatho de Gold (1984) procura mostrar como se visio da homens ocidentl sobre a naturersceomo estas alteracdes se relacionam com aise, row a0 lange dos geal a A Gara como Cini ¢ Regi com Olea de Estude. © individualidades hi como produto de circunstancias tinicas no tempo e no espaco. (Sricas, com a finalidade de apreender o singular Nesse sentido, as explicagdes gerais perdem a primavia, tanto quanto as rigidas relagdes causais. Para o historicismo, as ciéncias hu- ‘manas, em ver de tentarem explicar a realidade sociocultural A luz de principios gerais, deveriam compreendé-la®, Para tanto, é necessiio um contato intimo com 0 objeto, tornando-se imprescindivel, nesta tarefa, fazer uso das faculdades subjetivas co homem, como a sensibi- lidade © a intuigio. Fazer uso apenas do raciocinio ligico se torna limitante, pois se constitui em barreira a espontaneidade, A esséncia do individuo. Por isso, 0 historicismo procurou recuperar as sens. ses ¢ as emogies que no discurso postvstahaviam desaparecido, Essa preocupario com a historia se fer presente no fato de a propria histéria do pensamento geogrifico tornarse objeto de inves: Ligagies. Houve uma grande preocupagio em se recuperar os traba- Ios que podertamos chamar de geograticos. © trabalho de Camena Almeida, de 1891, por exemplo, procura resgatar 0 conhecimento sobre os Pireneus desde a Amtigaidade Class Positivism ¢ historicismo, determinismo e possibilsmo, ins rados na filosofia iluminist, no ideaismo alemio e no desenvolsime to do romantismo, constituem as trilhas de desenvolvimento da Geo- grafia moderna, E preciso que fique bem claro, em primeiro hugo, aque qualquer id dluz a um grave equivoco, pois elas compartilham @ mesmo tempo hist6rico. Em segundo, que as posicdes dominantes de cada penst- dlornio significam formas puras, pois podemos encontrar na posigao possbiista cond versa, Por timo, como muito bem observou Paulo Gésar da Costa de precedéncia nessas maneiras de pensar con- -s€ raciocinios proprios do determinismo e vice- Gomes, 0 fato de as propostas determinista e possibilista terem signi 20. origem da dbuingio entre cineins matrase cncis humans remonta a Willy Dili, tendo sido desenvosida pelos filosofos neokantianos. Max Weber dang as Alcptinas em dase ordene sm ponies conn diend eel 8 matveea compo ‘por discplinas que tém como proposaaexplicagio, ew segundo referent ao mu do dos homens eda socedade, composi por diaciptinas que enfaizm « comprcenie, ‘Camena D'Almcda escreve Lo fen: dalapment de a connisence gigrphiqe de 1 One Cava, 197. p. $2, no 17. 2 88 Regio « Ganraia ficado estratégias espaciais diversas e de terem sido identificadas com projetos nacionais, alemio e francés, respectivamente, podem cond zir a um simplismo indevido, Esclarece indicando que as pretensbes dominacloras € expansionistas presentes na Geopolitica desse perio- do foram uma combinacio hibrida das propostas determinista € possibilista® © pensamento cientifico moderno, desenvolvendo uma forma nova de analisar ¢ interpretar a natureva ¢ a sociedade, teve como conseqiiéncia o desenvolvimento da Geografia como um ramo espe- ico do conhecimento, Nessa trajetoria, as filosofias da natureza, pe- culiares ao pensamento alemao, foram fundamentais na constituigao da lisciplina geografica™. Dez anos separam 0 nascimento dos dois pensadores alemies que impulsionaram © desenvolvimento da Geografia moderna, Em 1769, nasceu Alexander von Humboldt; em 1779, Carl Ritter, ‘um periodo de importantes transtormacoes do conhecimento geogr fico e ambos faleceram em 1859, ano em que veio a piblico, como ja indicamos, a obra The Origin of Species. Com Humboldt e Ritter, o estudo da superficie da Terra como tum todo coerente ¢ harménico se realizou por meio de miltiplas re- lagées, incluindo as estabelecidas entre os aspectos da natureza € os aspectos humanos. Eles superaram os estudos particulares, despidos de referéncias a principios gerais; superaram 0 conhecimento geogri- fico restrito & descri¢io dos lugares, entendido apenas como elabort- Gio de mapas. Num e noutro, a referéncia bisica residiu na busca da unidade ¢ causalidade dos fendmenos. Com ambos, a Geografia ca- minhou para se constituir em um ramo particular do conhecimento, que procura relacionar o homem & natureza, base da compreensiio da realidade. 22, Gomes, 1987, pp. 3238 28, 0 racicinio mecanict, baveado maida de 6 cpio humano poderia se anal tos fancesese ingles nfo cra dominate enige s pensadores histories lems. Para estes, os proceso a natureza niu vera ser analsadox como pura extvirid dade da mara em mien, pois havis una fore dears, que envolvi o Universo audnoma ¢autedertrminada A Guogafa como Citcia ea Regis como Obj de Bstudo * Alexander von Humboldt teve uma formagio enciclopedista, como era proprio de sua época, tendo se woltado, particularmente, para os estudos de botinica, fisica e geologia, Como conhecimento aplicado, estudou engenharia de mi tempo, foi indispensivel na sua formagio 0 estudo da filosofia, ten- do sido inftuenciado pelo idealismo alemo € pelas idéias de Rousseau, A Hegel, a Fichte e a Schelling se deve a idéia de natureza con- cebida por Humboldt como unidade viva. Como Ritter, compartilha- va da idéia da Terra como um todo orginico, ou seja, em que todas, as partes tinham conexio umas com as outras. Como conseqiiéne’a, !as €, como um homem de seu Humboldt procurou mostrar a conexiio entre os fendmenos, distan- ciando-se daqueles preocupados apenas com arrolamentos ¢ invent rios, sem a construcdo de relagdes entre os fendmenos. E em Humboldt que esti a origem da nogao de meio, uma das mais funda mentais do pensamento geogrifico, Humboldt entende mei produto de relayGes estabelecidas, snus, dado ay aunplo desenvolvimnen: to das conexdes entre clima e vegetacio que desenvolve em sua obra, a idéia de meio acabou se restringindo ao meio fisico. Na sua obra Kosmos (Cosmo), em nes, sendlo 0 tilt ‘abado, publicada entre os anos de 1845 e 1858, Humboldt firma que € necessirio investigar as relagdes entre a vida organica, incluindo af o homem, ¢ a superficie inorgiinica da Terra. Observa que © homem depende em menor grau do solo e das condigaes eli- maticas do que animais e vegetais, gracas as suas atividades do espiri- to € do intelecto, mas que, nem por isso, ele deixa de estar relaciona- Considera possivel desco- brir os vinculos entre os seres vivos e a naturera inorg: inco voll mo i do & natureza, sendo inelusive parte dela ea, bem como estudar as relagSes entre os fendmenos ¢ sua distribuigo no globo, construindo uma visio integradora®. 24, Humboldt cra um nore priano confccedor da cukuta frances, Na compania de . Foster, ho de Reinhold Foster, nataraita que hava acompanhado Thomas Cook ra soqunda viagem 20 redor do mundo (17224725), Humboldt empreendeu sus pie melas wagons na Europa Ocidentl 25, Para faitiar seus estudos sobre o clima, Humboldt eo leagadas numa carta metereoligica que ligam oF poros de uima mestna temperatura cord numa determinada hora oe acter = Rn 9 © Regio e Gagrafia Humboldt coloca como tarefa construir uma ciéneia que possa reconhecer ¢interpretara unidade da natureza. Num de seus primei= ros trabalhos estabelece trés distingdes para o estudo da Terra fisiograia historia natural egeognosia ~ nome latino de Brltunde, que tem 0 sentido de Geograia. A fsiogratia se engquadra no ramo das ciéncias natura a historia natural, no ramo que estuda o desenvolvi- mento das coisas no tempo; a geognosia, no ramo que estuda a dis tribuigio espacial dos elem 0 non Esse tinge € preciso der no criam és geografsconstuemse apenas em teas Para mb 56 hi uma Geografia, que tem como objetivo “reconhecer a unidade na asta diverse dos fenimenes pelo exert do pensamenta € a combinaio de obserages,dcerni a eonstncn dos fend nos no meio dis allergies apurentes™ ssa Geograia € denomine da de Geopaa a, relacionadas ta natuens tendo coma objetivo adeterminaco ds rele ene homem ea ___Avogando as postr empirisas desu jen no don dae 1 fica no ambit das les empires, masque o objeto permanente da cienea, que nea deve ser expcio,€ de prota estas nomen Tato que, pr eas de (1 sua viagem & Résa, esereveu a bro d a um membro do governo russe: “Os Montes Urais sio um verdadeiro Ellorada e, da a logia que apresentam com a confor estou certo que serio descobertos diamantes nos s 08 de ouro e patina dos montes Urals. Poucos dias depois, foram encontra dos diamantes nos garimpos de ouro e platint __ Esta posicio © conduziw a formulacio de comparagdes, contri- buindo para a construgao de um pensamento que procurou eviden- ras semelhangas ¢ as diversidades que compiem a totalicade, Tox talidade que, nao nos seus primeitos wabalhos, mas na sua obra Kosmos, no se vest ingia apenas A superfici “ da Terra, mas que se es- tendia, também, a todo universo, a todo 0 Cosmo. 26, Humboldt apd Taha, 1959, p, $67 27. Haw, p. 360 A Gaga como lenin Ragi como Obj de tudo. * uf va A discussio da diversidade, nessa totalidade, também se fer presente no pensamento de Ritter que teve uma vida muito distinta tla de Humboldt, Humboldt tinha estreitos Lagos com o poder, tendo sido consetheiro do rei da Priissia. O alcance do seu poder politico pode ser exemplificado pelo seguinte fato, apesar de pouco nobilita: dor: Humboldt agiu diretamente para que Marx, exilado politico na Franga, fosse expulso desse pais. Da Priissia, Hu ministro francés, a proceder & expulsio de Marx. O motivo foi uma a escrito (08 contra © governo prussiano que Marx hay i6dico dos refugiados alemies, Vorwaert, Em 11 de janeiro de 1845 Marx deixou Paris". Enquanto Humboldt era um homem rico, viajante € naturalis- 1a, utilizandose de observacdes diretas nas suas reflexdes, Ritter foi, .cima de tudo, um profesr, um homem de gabinete. Lecionou, durante um ano, no gindsio de Frankfurt e, durante vinte anos, foi preceptor dos filhos de um rico banqueiro dessa cidade, Quando se em 1827, entron em contato com Humboldt, ten- instalou do sido influenciado por suas idéias, tendo se tornado o primeiro sridade de Berlim e o primeiro pre- professor de Geografia da sidente da Associagio Geogrilica de Berlim™ Ritter estudou numa escola que preconizava as posigdes de ". De Rousseatt vem seu amor & natureza, De io metodolégica de partir do mais simples Rousseau e Pestalozz Pestalozzi, sua preocupas ‘a0 mais complexo. A valorizacio da natureza, a observago dos can ‘a partir dos elementos hos lugares ea construcio do conhecimento ais simples foram passos percorridos pelo jovem Ritter, que influen- 28, Ch Lefetwre & Norbert Guterman,“Préface", 1984, p. 14. 20, Na Uniieraidade de Berlin, em 1888, entre aqueles que assim aula de Kier es ‘aun jovem ehamal Karl Mars, que teslucionow a compreensio do mundo. No fi thar do neato, tea de Geograla exit pratcamente cm todas a5 universes da ‘Noman. tambin, fra pare eure do ensino primiro e secundiio.O enn madd tno da Geografia e constta mm dos instrument de airmagio da ma 40, foam acques Roussea (17121778) teas do ins 30 romani medida qe Para ee, devese evita que eueande eal amecipa as question seer da Herd, fob a inthncia negatva da vockedade, Johan Helos Pesalora (17461827), ca he educa que deve se niciado a partir da ober cio até sleangaraconsdnela ¢ 0 discon, © Regd Gegrafia ciaram sua forma de pensar, Muito embora tenha cursado eiéncias naturais ¢ matemitica na Universidade de Hall, estas tiveram um peso ‘menor na sua formagio do que as disciplinas de historia e filosofia, Com uma visio cristi ¢ cientifica do mundo, na melhor das tadigdes da escokistica, Riter considerava Deus a razio suprema € todo scu pensamento era imbuido de um enfoque teolégico. Essa perspectiva 0 conduziu & id co onde se desenrolava a atividade do homem em sua trajetria em direcao a Deus. Formulacio que, necessariamente, conduz a dicoto- mia entre o natural e o humano, presentes nos textos da Biblia, Sob tal perspectiva, enxergava © mundo formado por um complexo de cadcias vinculadas a Deus. Segundo Ritter, a Geografia deveria ter uma visio completa e universal da Terra, reunindo todo 0 conhecimento de que a Terra no passava de um pal- do globo, apresentando uma conexao desse todo tanto em relagio a0 homem quanto a Deus. Para Riucr, a Terra constitul um todo organico e a regio, uma parte deste organismo. Esta visio do todo e suas partes 0 inspirow na proposta de uma Geografia Geral Comparada, afirmando que 0 pro- cedimento da comparagio das partes desse todo pode ajudar na com- preensio do todo. Em seu livro, Ewuopa. Hin geographisches, historishes, Statistiches Gemaildes fr Freunde und Lehrer der Geographie (Um Quadro Geogrifico, Hist6rico e Estatistico para os Amigos ¢ Professores da Geografia), de 1804, Ritter indica que 0 que se deve fazer & Apresentar um retrato vivo de todas as trr38, com seus produtos naturals « culivados, seus aspectos naturais€ humanos... apresentar tudo isto como wm todo coerente, de modo que as inferéncias mais signiticatas sobre 0 homem ¢ 8 natureza se evidenciato por si, especialmente se comparadas lado a lado™ Procurando elaborar comparagGes das relagdes causais, Ritter procedeu aos estudos regionais com o objetivo de identificar as indi- vidualidades na totalidade. Diriamos: as individualidades regionais. lades e, tambén constituiase numa totalidade, Por exemplo, ao estudar a Africa, divi dea em quatro unidades ¢ cada uma em outras unidades menores. Dizia que cada continente continha numerosas total 1, Biter, pad Tatham, 1959, p. 561 A Gangrafia como Citncia¢a Regio como Obj de Kato © 93 No final, retine todas as partes € o continente inteiro se apresenta como uma totalidade. Para ele, as divisdes do todo podem ser mii plase a totalidade nao se constitui numa totalidade fechada, pois pode engendrar miltiplas totalidades. As relagdes entre a superficie terrestre ¢ a atividade humana sio seu objeto de estudo, Na obra Erdkunde (Geografia), cujo prim ro volume é de 1817, e que trata da Africa, Ritter procurou relaé nar a natureva com as atividades desenvolvidas pelos homens*, Esta obra ~ que no total tem vinte e um volumes € 23.000 paginas -, tem tum longo subtitulo Die Erdkunce im Verhiltnis sur Natur und Geschichte des Menschens oder und vergleichende Erdekund als sichere Grundlage des Studions und Unterrichts in physikalichen und Historischen Wissenschaften (A Geografia de Acordo com a Natureza € a Histéria do Homem, ou Geografia Geral Comparada, como Fundamento Seguro para o Estu- do € Conhecimento das Ciencias Fisicas e Hist6ricas), que indica ela- ramente sua preocupacio com a unidade entre 03 aspectos fisicos € humanos. Tanto que di {intima relacio reciproca ¢ sem estes, aquela ndo pode ser apresenta- da em todas suas correlagdes. Dai a historia a geografia terem de permanecer sempre insepardveis™. Seu estudo das regides baseouse na comparagio das relagdes causais € na afirmagio da importincia dos métodos em isio contribui para o desenvolvimento das divisdes regionais das em critérios naturais, em vez de divisdes regionais baseadas nos limites administrativos e politicos. Sem ekivida, € com Ritter que os fundamentos dos estudos regionais, ou de uma Geografia Regional, se estabelecem, Dada sua formacio e ao seu exercicio profissional, sua preo- ‘cupagio com 0 ensino era permanente, propondo como procedi- “A Terra e seus habitantes estio na mais 99, Sua obra Ende € compost de dezonove volumes, tendo sdo publicada entre 1817 € 1899, frkdunte © nome propose por Re para a geografia em wba salem Enachoring, que queria der geograta. Bsa proposa busca arma, a6 mes mo utllzandose de outra denominacio, uma geografacientfea€ nio desta. Em cso pala a obra Bndhunde, 25 dvs em unidades no so eis segundo os passes, mas segue do a vegies, de acordo com os exltéios que estbelece. 88. Tatham, oe, p56 14 Rogie ¢ Gngrapia mento de estudo geogrifico o seg lise do relevo, do clima, da populs se chegar a uma sintese geral. Propondo, portanto, 0 cami indugao. Este esquema inspirou muitos gedgrafos, inclusive Vidal de nte caminho: comegar pela and- jo e das atividade humanas para ho da La Blache, em como proceder & aniilise regional. E persiste até hoje Js estud A influéncia do pensamento de Ritter significou o desenvolvi- ‘mento de estudos comparativos, fazendo desenvolver a Geografia Re- a de de Geografia Regional" gional, Lidde, inspirado nas idéias de Ritter, desenvolveu a twés tipos de comparacio em Geografia. Uma que estabelece a com- paracdo entre elementos de uma determinada regio, como por exem- plo o clima ea vegetagio das savanas; outra, que estabelece compara ‘Bes entre as condigGes atuais de uma regido com o scu passado, como 0 tracado urbano de dois momentos hist6ricos de uma cidade; e uma terceira, que estabelece comparagdes entre diferente regides. Ritter ¢ Humboldt, por diferentes caminhos, conecbiam a Tes ra como um todo harm Humboldt buscava a unidade da natureza por seus aspectos fisicos, no fundamentando sua posi¢io numa perspectiva antropocéntrica, Ritter centravase na historia e na idéia de que o sentido da vida esta- ico com miitiplas relagdes. Porém, enquanto va em Deus, Uma outra distingao digna de nota é a de que a énfase dada nos estudos de Ritter se concentra muito mais no particular do {que no geral ~ ou, mais regional do que geral ~, enquanto que no de ‘Humbolet, mais no geral ou, em outros termos, mais sistemética, Por isso, 6 comum a referéncia a Ritter como fundador da Geografia Re- gional ¢ a Humboldt, da Geografia Geral, Contudo, isso no significa {que Ritter nao tenha se voltado a estudos gerais nem que Humboldt, ‘a estuddos regionais. © pensamento de Ritter, devido a sua tradigio escolistica ea importincia que dava & historia, nfo se tornou dominante, tendo re- cebido severas criticas, sobretuco daqueles que eram guiados pelos rigidos pardmetros positivistas € que tinham uma postura materialis 4.0 camino do conhecimento que pate da observagio da sala de aul, para a obser da escola, do bre, a regio. até observa do pas edo mundo, presents ‘os atuaisprocedimeniosdidtios da Geografia, tem orgem nas propostas de River, Inmpirad oom Pesala ‘A Gongafa como Ciencia a Regiao como Odo de tute * 95 ta. Estes argum fico, O de Hun ¢ botinicos ¢, em menor grau, entre aqueles que se dedicavam aos tayam que seu pensamento carecia de status cient poldt teve influéncia, sobretudo, entre os naturalistas cestudos geogrificos. Em sintese, tanto 0 pensamento de Ritter como ‘0 de Humboldt nao se consagraram de imediato, embora neles resi- daa concepeio na formulacio da ciéncia geogritfica moderna, A Geogralia, mesmo tendo como parimetro o pensamento cientifico moderno, nao sepultou as antigas formas de conhecimen- to geografico. A Geografia, nos moldes classicos, continuava a ser elaborada ¢ era reconhecida como saber inquestiondvel. No Brasil, nfo tendo contato com os escritos de Humboldt ¢ Ritter, o padre Manuel Aires de Casal, portugués de nascimento, es- creveu o importante trabalho de Geografia, denominado de Corografia Brazilica, nos moldes de uma Geografia clissica, fundamentada, basi- camente, em descriges e inventirios que foram publicados pela Im- prensa Régia em 18175. Aires de Casal difere de seus contemporineos Humboldt e Ritter como a digua do vinho, pois, enquanto estes tiltimos eram ver- dadeiros homens de cigneia, Casal desconhecia os prineipios cientif cos de seu tempo. Na verdade, aproximava-se da posi¢ao de um sim- ples compilador de documentos em arquivos € relator de acont mentos sem critica, preferindo a autoridade do texto a observacio. Como significativamente observou Caio Prado Jinior, Aires de Casal, para falar dos indigenas, utilizou-se de um texto de 1571, escrito por Jeron ‘0 maracuji € 0 abacaxi referiu-se ao texto de Santa Rita Durdo, Con- siderou o peixe-boi um peixe e, o morcego, ave. Colocou os indige- 10 Osor © que nunca havia estado no Brasil, Para descrever ras entre os animais. Também preferiu usar 0 latim para desiggnar os nomes das cidades. Alacriportus, para Porto Alegre, Solewpalis, para Sal- vador € Ciristophoropots, para Sergipe’. 135, Pouco se sabe sobre a vida de Manucl Aires de Casal 1706 exerceu o cago de cape to no Rio de Janeiro, kendo retornado com o Imperador «Portugal, em 182) terape depois floc. 136. Calo Prado Jiniorcomsiders que a Gégraphie nixed Malwsirun, pubes 4a enue 1812 ¢ 1829, tda como referénela no inicio do séeulo XIX, emborasja mais ‘completa c pretensioss que a Cone ras quanto 0 modo de waar oft goo- ico, no & mito superior ela. Prado Je, 1955, pp. 526. Regi ¢ Gonrafia Dominando varias linguas © mapas ¢ livros, os mais variados que conseguiu ter A mio, Aires de Casal desenvolveu seu trabalho. Certamente, beneficiowse dos do- ‘cumentos reunidos para os tratados de limites dos século XVIII e, tam- bem, do acervo transferido de Portugal, em 1808, que contava cerca de 60.000 obras e grande niimero de mapas. Assim, Aires de Casal produziu: sua Caragrafia Brazitica sem, conforme tudo indica, ter reali- zado nenhuma viagem de estudo ¢ observacio. Isso numa época em que os naturalistas percorriam o pais, Auguste de Sainte-Hilaire, natu- ralista francés, percorreu o estaclo de Golds, 0 sul € 0 sudeste do pais entre 1816 ¢ 1822 ¢ utilizouse da Corografia Brazilica, muitas vezes, , questionando informagSes de Aires de Casal, que conside- 30 em papéis, documentos, inch ava ousadas ¢ passiveis de contestagio. Mesmo assim, considerow-o “pai da Geografia brasileira” e reputou a sua obra como excelente”. ‘A obra de Aires de Casal contém noges de hist6ria, deserigao geoge cos, Mas trata, como dissemos, de arrolamento ¢ descrigio nos mol des dos trabalhos clissicos de Geografia. Se seu procedimento nos parece anacrénico, o que parecer entio, nos dias de hoje, a solicita dle alguns aspectos da natureza, incluindo, af, 08 acident ‘cdo para que aqueles que lidam com 0 saber geografico saibam enu- merar os principais afluentes da margem direita de um determinado que compde uma rio, os paises de um continente ¢ os muni regio metropolitana? Na Corografia Brazilica, 0 Brasil, ainda colénia de Portugal, apa- rece como uma unidade dividida em territ6rios de duas ordens. Uma, diz. respeito aos terit6rios sob 0 dominio do rei; ou seja, territ6rios sob 0 jugo da Coroa portuguesa, Outra é relativa ao que ele denomi. na de Brasil natural, que exclui algumas parcelas do territério per- tencentes & Coroa portuguesa e inclui terras nao pertencentes a Por- tugal, como o Uruguai, parte do Paraguai ¢ Argentina. Inclusio essa que tem nas bacias hidrogeaficas referencia dos limites territori Aires de Casal considerava que, dada a extensio do tertitério brasileiro, uma divisio se fazia necessiria. Mantendo, na maioria das 7, SainteHibire, 1974, p, 218, nota 8: "0 abade Manoel Aires de Caza, opal da geografia braicra, morreu em Lisboa na indigtnci, sem poder publicara 2. ediio de sia ex conte obra sobre Brasil’ A Goografia como Cacia ea Rog coms Obj de Etude veres, 0 critévio fundado nas bacias fluviais, utilizavase do curso dos rios para dividir o territ6rio; em outros termos, para criar uma regio- nalizagio. Divide 0 Ceara em dois em sentido longitudinal. Divide Goiiis com vistas a equalizar melhor a relagio entre populagio e area. Sergipe ¢ também dividido em dois, mas segundo a vegetacao: matas ce agreste, Ao discutir essa provincia, Aires de Casal estabelece a asso- Giagao entre clima, vegetagio, relevo e ocupacio, Scte anos apés o langamento da Corografia Brasilia, em 1824, surgit 0 primeito livro de Geografia escrito por um brasileiro: Com péndio de Goografia Universal, de autoria de Basilio Quaresma Torredo, Basilio wtilizow o trabalho de Aires de Casal ¢ as experigneias das viae ens que empreendeu. Escreveu sua obra no efrcere, procurando oct par 0 tempo “ocioso™ nas masmorras baianas, por ocasiio de sua pri- Sio por ter participado de revoltas nativistas no inicio do século XIX. Outros trabalhos geogrificos foram escritos por brasileiros sem contudo romper cout v miodelo classico difundido por Aires de Ca- sal, que inaugurou a consciéncia geografica do Império. Como exem- plo, podemos citar 0 trabatho de Monteiro Baena, denominada de Ensaio Corogrifico do Pari, de 1839*. A ruptura com esse modelo ocorreu com 0 projeto de cons- tucio politica ¢ ideol6gica da nagio brasileira, Essa construgio as- sentouse na exaltagao das riquezas na rnhas de povoamento ¢ de comissdes cientificas de exploragio com 0 intuito de realizar 0 projeto de unidade nacional. Em 1838 fundou- se 0 Instituto Histérico © Geogrifico, pautado pela intima relacio en- tre Geografia ¢ Hist6ria, na qual a relagio homem-natureza forjava 0 escopo da ideologia de construcio da nacionalidade brasileira. 1840, o Instituto Histérico © Geogrifico expée claramente em sua is, na promocao de campa- revista a posigao de que: [1] 0 objetivo da Geografia & 0 estado da superficie da terra; mas nio merecera ‘nome de ciéncia se se contentasse de esndat somente as formas materia, e os acidentes que a cobrem. A superficie da tera é teatro da atvidade do homem; la xe modifica delisixo de sa ago, © com ele esti em uma relacdo eterna, AS ‘emigragdes, dos povos; as descobertas, que abreviam os espagos mais distantes; as, 88. Gf. Calmon, 1963, p. 1907 Regio Garrafia plantas © animais que servem vida do homem, por ee transportados de um pais 2 outro [..]a terra cobrindose de ckdades [.] tudo isso pertence & Historia, mas pertence também & Geografia, porque estes fendmenos tem una imedtata rela- ‘elo com o espaco, ¢ sobre ele exercem uma bem clara influéncia® Com 0 objetivo de atualizar o estudo da Geografia no Brasil, 0 professor Candido Mendes de Almeida organizou um Adlas do Império do Brasil destinado 3 instrugio piblica do Império, publicado no ano de 1868. Acima de tudo, Candido Mendes de Almeida afirmou a im- portincia do estudo geogriifieo na construgio da consciéncia nacional. Em seu Atlas estii expresso, na “Introdugio”, 0 atraso em que se encontrava o estudo da Geografia ¢ a importancia do conhecimento _geogrifico. “Nos que até hoje temos sido um povo anti geograpica, na0 s6 no conhecemos bem o Atlintico que beija nossas praias, como a mér parte dos nossos rios™". Almeida, considerando a importincia da Estatistica © da His {Gria, observa que sem a Geografia essas ciéncias ndo passam dee sae beres intiteis. Esta sciencia tio indispensavel ao politico como a0 adminstrador sem a ‘icaria sem base: tornarseda senio inteiramente in tra Estatstica sob diferente ¢ mais amena formula, por que he a exposicao dos resultados da marcha ¢ vida de um povo na terra, ¢ por tanto de seus time de seus desacertos. He lla ligdo da experiencia para guiar no presente, e resguar- dar 0 fare. ‘Como se sabe tem essa sciencia dows luminares, a Geografia © a Chrono- logia. O mais importante he por sem dusida o primeiro, Fxch _graphia dos factos perder o seu relevo, sua cardeal importancia®. viva photo- No Atlas do Império, o Brasil aparece dividido, segundo expres so empregada, sob quatro pontos de vista, O primeiro dizendo res peito ao aspecto administrativo, apresentando as provincias do Impé- rio, que por sua ver sio onganizadas em quatro classes: Setentrionais, 30, Barbosa Domingues, 106, p48. 40, Cando Mendes de Aleida (org) Ala do Iso de ai io de once, Lidopraphia 4a Inninto Philomathico, 1868. fo, A Gangrafa como Ciencia Regia como Obj de Estudo. * Meridion: Orientais ¢ Ocidentais. O segundo, relative ao poder eclesiistico, com a divisio territorial segundo as dioceses. O terceiro, corresponde a0 poder judiciério (comarcas); e, por timo, segundo 08 distritos eleitorais, Esses das se constituem em esferas do poder sobre o territ6rio brasileiro, Do Império e da Igreja, Nesse sentido, as divisdes do Império nao tm nada de novo, pois a divisio do Brasil desde os tempos do descobri- mento fundou-se no poder metropolitano ~ capitanias heredititrias € governos gerais - ¢ no poder eclesiastico. © conhecimento geogrifico nos moldes clissicos, face ao de- senyolvimento da Geografia fundada nos parametros da ciéneia mo- derna, foi sendo superado, no Brasil, mais lentamente. Na Europa, niicio de Humboldt e Ritter foi, aos poucos, sendo assimilada, mas a Geografia oficial francesa permaneceu por mais tempo atada. os. Nease quadro, o deba- juatro pontos de vista” indicam que as divisdes concebi- a0 morlelo clissico de deserigSes ¢ invent centre o determi lismo ¢ entre positvismo e histori- cismo promoveram a multiplicagao dos estudos geogrificos e fizeram avancar, tebrica ¢ metodologicamente, a disciplina Geografia. Alguns tomavam como referencia a busca das relagbes causais € de leis gerais centrando-se na investigagao dos aspectos da nature- za. Por exemplo, procurando relacionar clima A vegetagio na busca ismo € 0 possi de leis gerais da natureza, Outros, procurande compreender os as. pectos da vida social ¢ cultural, incorpor elaborando andlises particulares em vex de construir explicagses ge- iensio historica, am a neralizadoras, Por exemplo, procurando compreender por que se di de forma diferenciada a disposi¢ao do casario em determinados bair- ros rurais: ora ao longo de um caminho, ora disposto segundo um centro, que podia ser uma pracinha ou uma igreja. Ou seja, compreen- der 0 porqué de algumas localidades terem 0 casario disposto de uma certa maneira, mais do que se preocupar em construir leis gerais acer- ca da disposi Visdes tio distintas, do ponto de vista tedrico e metodologico, 10 do casario nos bairros rurais. xeque Ceografia, num momento em que esses pa- rimetros pareciam inconciliveis. A tendéncia a separagio entre cié cia da natureza e ciéncia do homem comprometia o préprio sentido da ciéncia geogrifica que, na unidade dos aspectos fisicos ¢ huma- Regio ¢ Gaografia 10s da realidade, vinha se conformando como um ea 1po especifico Jo conhecimento®, A solucao veio por meio do estudo regional, visto que este pos- jlitava combinar as duas perspectivas. As relagies eausais ¢ as leis mais pert Jas compreensio dos aspectos da vida social ¢ cultural nao tinham, > objetivo de construir generalizagdes. A relacao entre os fendmenos ‘sicos e humanos de uma dada area aparecia como solugio para o passe te6rico-metodol6gico, Neste momento, consagraram-se 08 €S- uudos regionais como a alternativa para a manutengio da unidade da lisciplina Geograt © objeto essencial de estudlo da Geografia passou a sera re- sido, um espaco com caracteristicas fisicas € socioculturais homoge- eas, fruto de uma hist6ria que teceu relagdes que somens a0 territ6rio © que particularizou este espago, fazendo-o dis- rentes ao estudo dos fendmenos naturais, combina inte dos expayus Lontigues. © pomto de vista @ 0 de que a regio pode ser objetivamente listinguida pela paisagem, ¢ de que os homens tomam consciéneia lela, A medida que constroem identidades regio sido, nessa perspectiva, possui uma realidade objetiva € cabe ao pes- juisador distinguir as homogeneidades existentes na superficie ter- esire € reconhecer as individualidades regionais. Integracio e sintese passaram a se constituir na nova motiva- do do pensamento geografico. Integracao de virios elementos, tan- ntese dos aspectos da natureza com os slementos socioculturais de uma dada superficie terrestre construi- ‘am 0 novo arcabougo do conhecimento geogrifico. Posto assim, a Beografia passou a ter como referéncia maior a regio. A solucio do impasse te6ricometodolégico da Geografia, com > estabelecimento da regio como objeto de estudo, ocorreu, sobre- udo, na Franga, Estava claro para a sociedade francesa que a moder. is. Portanto, a re- (© naturais como sociais, € 2 Som vida nembuma, a fea questo da dualdade da Geogratia, entre Geogratia quedo presente c nfezmentc, pouco discda, O fo © Goografa Human dle no vir expliciamente ona nos debuts atl, demonstra que a questo io sth resold € 0 pouco esforo em enftentét,Posicio Gin enganaora como se ao ignorar mova posible de acorrrem encheneseteremotos exes dcfusicm de ex A Goorafa como Ciencia ea Regi como Objao de Etude © 10L nidade, fundada na indiisiria € no urbano, dissolvia os lugares, lesgargava 0s Lagos entre as pessoas ¢ enfraquecia a idéia de comuni- dade local, Havia uma necessidade do discurso regional para consti- tuir a unidade da nagio, A recuperagiio da relacio das pessoas com o lugar passava pela valorizacdo da meméria social ¢ da identidade regional, que se vine culava a uma forma de consciente territorial. A literatura nacional francesa se voltou para a diversidade das paisagens, descrevendio Iu gares, falandlo do tipo fisico dos habitantes, dos seus sentimentos, dos seus costumes e da forma das cidades". Nesses textos, a regiio foi vis- ta e mostrada como sujeito, dai surgindo a concepsio da regio como personagem* A Franga, com suas fronteiras consolidadas, diferentemente da Alemanha, ainda sob os efeitos da recente unificacio (1871), depara- vase com dois problemas marcantes nesse periodo. Um, relative & oct pacio prussiana da Alsicia € Lorena ¢ outro, dizendo respeito a rela Gao entre as classes sociais. Nesse iltimo caso, tratavase de reestruturar as forcas sociais internas, aproximando a populacio urbana de Patis, alinhada aos interesses do capital industrial € financeiro, com a po- pulacio das outras regides, vineulada a classe agraria e conservadora. ‘Tratava-se, também, de minar 0 movimento operdrio que se manifes- tou na Comuna de Paris. A Geografia, nesse momento, cumpre o papel de elaborar ideo- logicamente a construcao da nacionalidade francesa®. Segundo ex- pressio de Marcelo Escolar: 43, Vera cate respite belo trabalho do Pl Cha, “Le the réglonal dans crate Feangane, 1987 4, Segundo Edmund Witton, cm 18ST @historiador Mics sar a personalidade de cada regio da Franca ede como ead una dela se unin num todo, Forman tna nagdo ela de dversiads, Wilson resaltow a importnca das iveres comics ranceasterem jurado devorio & Revlucio Frances. An 92 express “O climax da histria € © momento das Federaces ano que x seein ‘omada da Rstha, quando comunidades de toa Panga vera ura frserniade © Aevogio & Revlugio” (Wikon, 1986, p. 22). 45, A cited de Googefia ma Sorbonne & de 180 aos histviadores os pedgrafo. Esa ciudra dere, ha como objetivo free conocer ue da esabelecida na dead 102 * Regiso« Gngrafa [A] Geogratia contribui onganicamente paraa constiuigio da consciéncia ‘nacional ensinando as bases teritoriais da identidadle entre solo e poo, e earacte- rizando a unidade da Nagio em sua dversidade regional. Resumindo, 0 “amor 3 Patria" passou a ser objeto de construc educativa e de fundamentacio tedrica, Face a diversidade do territério francés, afirmar o regional era, n, afirmar a identidade nacional. O sentimento de pertencer de per. tencer a um pedago de um todo harménico sob a ditegio do Estado, “Harmonia territorial, que refletia a *harmonia’ ¢ a natureza do regi me social dominante. ‘Harmonia’ rompida apenas pela perda da Alsécia e Lorena”®, A maior expressio da Geografia Regional foi Paul Vidal de La Blache (1845-1918), sendo imprescindivel para se compreender a for. ga do paradigma regional na Geografia conhecer algumas de suas idéias. Até Vidal de La Blache, a Geografia, na Franga, no se consti num ramo auténomo do conhecimento que fizesse parte da ‘ria, Com ele é que a Geografia atinge um status independente e se consagra como um ramo especifico da ciéncia. Com ele, o termo Geo- grafia Humana se sobrepoe ao de Antropogeografia. Desenvolvendo uma perspectiva possbilista, este autor se coloca claramente em opo- siglo ao determinismo. Acima de tudo, Paul Vidal de La Blache foi um pensador do possivel, das intimeras possibilidades que o homem tem diante da vida’, Mas isso nao significa dizer que, face a essa perspectiva, haja um divércio tedrico entre Vidal de La Blache e Friedrich Ratzel, muito ambi a um local, a uma regio, significava, também, a consciénc sides ramcess como tami en sino primério © médio, como intumento de consrucio da ientidade nacional, Na po, Michelet declarou: “At daquele que tena ilar um ramo do saber de out tos que parecem as mais distantes wm do outro so na alae ineigados ou me hor, todos format um Sco stema. Hem, p 1 45, Fseoar; 1986, 8 > 47. Hem p68 48, FoLodieipu de Vidal de La Blache, Lacien Fete qe, em 2, qualiicon a reticio 7, presente nos abhor de La Blache, de possbilim, 0 SLIISIOPEERe A Gangraia como Gincia ea Regi como Oba de Fstudo. © 103 embora seja freqriente dizer que em Rateel se stue a raiz do determi- nismo geogrifico, que se contrapie a0 possibilismo de Vidal de La Blache. Cabe dizer que cles compartilham da mesma visio de homem € de natureza como constituintes de uma unidade, néo como opos- tos. Se para Vidal de La Blache, © homem depende da natureza pa sobreviver, utilizando-se da sua engenhosidade para i partido das idades que ela oferece, para Ravel ndo é muito diferente, i com outras palavras coisa semelhante. Afirma que o homem, depende da natureza para extrair os meios necessirios a sua existén- cia, considerando que a relacio entre o homem e a natureza depen- de do grau de desenvolvimento social. Moraes afirma qu Para Ratzel nfo seria possvel pensar a sociedad sem pensar a natureza ‘que a envolve, ¢ que the imprime wayus espectices, nao nuina causalidade que as condicies singulares de cada lugar atuariam na particulatizacio da pareela da Ihumanidade que ali habta. A terra aparecendo como o substrato material das sociedades, condigio insubstitutivel de suas existéncis”, Afirmando a unidade dos aspectos fisicos e humanos por meio do estudo regional, Vidal de La Blache incorpora & Geografia © conceito de género de vida, que se define como o resultado das influencias fisicas, histéricas sociais, presentes na relagio do ho- ‘mem com o meio. Mas, é importante que se diga, que esse conceito nao € exclusive da Geografia; ao contrario, na segunda metade do século XIX, foi de uso corrente e utilizado no estudo da evolugio da humanidade por todos aqueles que se interessavam pelas socie- dades primitivas. Somente em 1890 0 conceito de género de vida passou a ser corrente entre os gedgrafos moderos. De wso corrente, sim, mas nao considerado como central na pesquisa geografica. O conceito de gé- hero de vida foi mais empregado nos trabalhos que se voltavam para inn geogritio'n. Esa avalagso, apa de ercada por viiosNstoradores ‘do pensamento geogrio, fol aque se difandie xe popularzon, gerand mex a ‘camoteagio de uma moderna discus das das ratzchanas ede seu pape no deven whimento di Geografia Mores, 198, p. $49, 80, ten, p. 382 104 Regiso¢ Ganga estudo das sociedades primitivas. Nessa utilizagio ressaltow-se mais o pri ivel da anélise de género de vida, o viés ecoldgico, que sublinha como o homem tira partido do meio, do que 0 segundo as. pecto, aquele que considera as relagdes que os homens tecem entre si, Esse tiltimo aspecto foi, relativamente, negligenciado, Em sua obra pOstuma, Principes de géographie humaine, de 1922, Paul Vidal de La Blache procurow afirmar mais claramente a idéia de regido como integragio ¢ sintese dos aspectos humanos € naturais, realizando a unidade homem e natureza, Segundo La Blache: (© que Utisses reteve das suas viagens foi © conhecimento das cidades © dos costumes de muitos homens: e para a maioria dos autores antigos, aos quais 8 Geografia deve os primeitos pergaminhos, a idéia de regiso é inseparivel da idéia dos seus habitantes; 0 exotismo tamto se taduz pelos meios de nutrigio © aspecto fisico dos indigenas, como pelos montes, desertos ou rios que formam Ele procurou salientar a importineia de se buscar construir nos estudos particulares a vinculacio com o conjunto terrestre. Tanto “0s fatos da Geogs to terrestre © apenas por este sio expliciveis; relacionam-se com o meio que, em cada lugar da Terra, resulta da combinagio das con- digdes fisicas”™=. Considerava importante a andlise da diferenciacao da superfi- cie da terra, das sociedades existentes a compreensio de como as unidades clementares se articulam com o todo, Enfim, como as di- versidades dos lugares se traduzem numa determinada organizacio do espago. Vidal de La Blache considera, da mesma maneira que Ratzel, que 08 grupos sociais tendem a se circunscrever a uma regio natural ‘nos estigios primitivos da evolucio humana. Jé com o desenvolvimento que afirmou: fia humana ligam-se a um conjun- Vil de La Blache, 1954, p nue eles Emmanuel De Martonne, se empenkaram 1a organiza dos originals te Esa obra ol publenda 3p a morte Sus discipals, o, inchusve, incorporado algums textos que js have sido pind no. Anna dle searephie. 18. Ma, p26. ~ A Gegraia como Gincia ea Regi como Obj de Estudo da civilizagio, os diversos grupos, por meio de tocas, cuja intensida- de decorrente diretamente da complementaridade entre as regides, tendem a uma maior aproximagio. Para ele, 0 crescimento da circu- lay desenvolve a divisio regional do trabalho, tomando as regides dependentes umas das outras, ‘Tomando como referéncia os aspectos da natureza, como 0 ‘geol6gico, o climitico e as formas do relevo, bem como 2 historia, Vidal de La Blache procurou extrair as diversas particularidades ema- nadas da relagao entre o homem € meio, que conformaram as dis- tintas paisagens na Franga. Deserevendo minuciosamente as regioes recuperando a historia dos lugares, este ge6grafo construiy uma Aivisio regional fecunda, Esse € 0 contevido de sua famosa obra Tableau de la géographie deta France, publicada em 1903, Ela contém, inclusive, ‘uma reflexio sobre pretéritas divisdes do territ6rio francés. Vidal de La Blache propés, para a Franga, uma divi posta de quince vegies, coutendy Cala una una capital regional, Esta regionalizacio veio substituir a de 1790, que se constitufa numa divi- sio administrativa, baseada no critério de distincia a um centro, A delimitagao regional era produto da distancia que se podia percor- rer em um dia, em um cavalo, para alcangar esse centro, Critério que a revolugio dos transportes enterrou, ‘Uma monografia regional deveria, na perspectiva lablachiana, conter uma analise detalhada do meio fisico, das formas de ocupacio, Migs aividades humanas e de como o omem se ajusia & natureza. O olhar sobre a naturera deveria conter uma perspectiva histériea na anilise da relacio homer regional deveria estabelecer a integracio dos elementos fisicos e so- ciais e acrescentar uma visio sintética da regio. Com a publicagio do seu Atlas historique et grographique, em 1894, que contém varios mapas tematicos possiveis de serem justapostos, permitindo facilmente relacionar os fendmenos, a possibilidade da sintese geogrifica ficou evidenciada. Esse atlas difere de todos os atlas precedentes. Nio se trata apenas de localizar os topanimos, isto & 0s nomes dos hugarcs, rios ete, mas de apresentar uma série de cartas— fisica, pol ~ justapostas para os higares representa- dos, dando idéia de um conjunto com varias relagdes, fazendo com que 0 mapa seja um elemento revelador da realidade. meio, Fundamentalmente, a monografia Regi « Goograp Na obra de Vidal de La Blache, os termos ‘paisagem’ e ‘fisio- nomi’ estio bastante presentes, porém nio se constituem sindnimos. Ele utiliza a palavra “paisagem” segundo o senso comum, enquanto a palavra “fisionomia” aparece com um sentido preciso, utilizado para se referir as caracteristicas dos Ingares, como instrumental para a ela boracio das distingdes regionals. Assim, por exemplo, ao analisar os Alpes, a Champanha, a Bretanha: regides da Franga, Vidal de La Blache utiliza 0 termo “fisionomia” e nao “paisagem”. Em suma, refe- rese a fisionomia dos Alpes, da Champanha e da Bretanha. ‘Vidal de la Blache privilegia o termo fisionomia porque se co- loca como continuador da tradi¢io do historiador Michelet, que hae via, segundo observacio de Vincent Berdoulay, relacionado a idéia de individualidade “As grandes emtidades soci mais desenvalvidas fazem politicas cujas formas rnsar o ser humano...”"%, Berdoulay repro- duz a seguinte observa¢io de Michelet: Lal a Franca € 0 pals de mundo onde a nacionalidade, ou a personalidade nar cional, se aproxinia mais da personalidade individual. Voce nfo encontrar, como ‘na Alemanha e na Ti " A lnglaterrra € um Impér inte centros de cigncia e arte $6 hi um de vida so 1 Alemanha, wm pais, a Branca € uma pessoa Ni trabalho especifico que trata da exposicio do objeto € do método da Geografia, Isso porque sua obra € composta por um conjunto de 0 caso de se buscar na obra de Vidal de La Blache wm artigos € textos sem a preocupagio de encadeamentos € de sisten tizagao dos procedimentos da diseiplina geogratfica. Suas reflexdes te6rico-metocolbgicas estio dispersas, Nos escritos de Lucien Gallois (1857-1941), um de seus disefpulos, que publicou Régions naturelles et Nom de Pays, Etude sur la Région Parisienne, de 1910, a idéia de re- sito, nos moldes lablachianos, aparece com maior clarefa®. Nos tex- tos de Vidal de La Blache, em diversas passagens, pote-se perceber 58. Cf, Rerdoulay, 1982p. 58 5. Hd, siden. Ss Aeterna pays, hos consrandoe co ra de Galles, mas em muitos outros tras tn ermo dens corrente Pays Binge ‘cost dcrvda da pla latina fuse significa um eritiiod A Goorafa como Ciencia ea Rio coms Obj de Ratudo ‘que as relagdes causais entre os fendmenos, tanto quanto as diretri- zes que regem a rela¢ao homem-meio, no se constituem no objet vo da Geografia. Esse reside principalmente na compreensio dessa relagio, e nao na elaboracio de leis gerai No seu texto Les carnctines dstintifs de la géographie, de 1913, que Vidal de La Blache expe mais elaramente sua posigio em rela ‘lo ao método da Geografia, Para cle, 0 método deve ser indutivo devendo incorporar a histéria, As interrelacdes entre os fendmenos devem ser estabelecidas, sem deixar de ter como referéncia a totalic dade desses na superficie terrestre. Afirma que: “A sintese regional [...] € 0 objetivo titimo da tax refa do gedgrafo, o tinico terreno sobre o qual ele se encontra a si ‘mesmo. Ao compreender e explicar a logica interna de um fragmen- to da superficie terrestie, o gedgrafo destaca uma individualidade que no se encontra em nenhuma outra parte™, Para Vidal de La Blache todo esforco deve ser o de observar ¢ compreender a singularidade dos lugares; enfim, de procurar compreender o ‘inico, mais do que indagar por um conceito que 0 defina. Paul Claval sintetizou o sent mento lablachiano. A primeira consider evidenciam na superficie terrestre; a segunda, é a de que as regides se traduzem na paisagem e nas realidades fisicas ¢ culturais; , a terceira, ade que os agrupamentos humanos tomam consciéncia da divisao, a nomeiam e a utilizam na criacao dos quadros administrativos”. Consideramos que as criticas de Yes Lacoste @ Vidal de La Blache, relativas ao fato desse ter tratado muito pouco das eidades, & exagerada, ao afirmar que Vidal de La Blache “excluin de suas des- crigdes tudo 0 que diz respeito & evolucio econémica, social recente, tudo aquilo que, em suma, tinha menos de um século e traduzia os efeitos da revolugéo industrial". A nosso ver, o cariter rural da socie- dade francesa nao era uma miragem, mas uma realidade vivida pelos homens do século XIN, Além disso, a busca de relagSes entre aqi que podemos chamar de fend 105 fisicos € humanos, como por 56, Vda de La Blache apd Escbaner, 1988, p58 57, Cla 1987, p18. 88, Lacoste, 1977, p85. © Regie Genie exemplo, a relagio entre clima, morfologia e atividade econdmica, € ‘muito visivel quando os ollios esto voltados para © campo. No caso das cidades, a relagio entre os aspectos da natureza e as atividades humanas ni ‘cio de Vidal de La Blache era a de buscar construir a unidade da Geo- grafia, fundada na relagio homem-meio para se chegar a sintese geo- grifica, € compreensivel a valorizacio dos estudos agratios, [Acrescente-se que na sua obra La France de UEst, de 1917, Vidal de La Blache ja chamava atengio para o fato de algumas cidades se constituirem em “formadoras de unidade”, organizando regides. De- nominou este tipo de regido de regio nodal, influenciado pelo wa- balho do inglés Halford John Mackinder (1861-1947). Nessa obra, tran sila para a relagio chute a cidade © a regiso. Gonsidera que € a cida de que cria a regio, observando que elas sio dindmicas; ou seja, se formam e se dissolve, Mais do que definir uma regiio, tomando como referéncia a cidade, Vidal de La Blache salientou que nao é fun damental procurar os limites da regio, mas concebé-la como uma es pécie de auréola, cujos limites ndo sto bem determinados. No entan- sobre seus discipulos € seguidores como tiveram suas obras precedentes, Por fim, di lugares tinha o sentido de se contrapor as idéias generalizadoras pi prias da visio estritamente positivista, Nao se pode, a nosso ver, co- brar de Vidal de La Blache a postura que ele tenta subverter. ‘A proposta de Vidal de La Blache colocou um ponte final nas regional (10.0 critério natural, como o das bacias fluviais, que havia sido elabo- rada por Buache no século XVIII, como indicamos no capitulo ante- 6 direta nem mesmo muito dara. Como a preocupa- © gedgrafo francés enfatiza a relagio entre o homem e o me to, essas idéias nao tiveram grande influénc vse que a preocupacdo com a particularidade dos \cBes que eram feitas na Franca,rque tinham como parame- jor, ou como as inspiradas em Antoine Passy, que, em 1858, havia proposto uma regionalizacZo que interrelacionava relevo e vegetacio”. 59, Halford J. Mackinder considcrava a Geogeafla uma ponte entre as cincis ma los pioncivos ds rabalhos de campo em Geograia na Inglaterra, 60, Pode parecer que o eitéio de definigfo regional fundado em baci vias ej um procelnent sina diculads que penn adr quando relev & chico ou end nas Gil do que os demas, bo, porém, no corresponde a werdade, haps A Googafa como Cibcia ea Regio coma Objeta de Bstudo © 109 Vidal de La Blache formou uma escola geogrifica, tanto pelo fato de ter tido seguidores quanto pelo modo de fazer Geografia. Na Sociedade de Geografia de Paris, concursos foram abertos incentivan- do o estudo regional, propondo como tema a descrigao fisiea de quale quer parte do territério francés que formasse uma regido natural Dentre seus seguidores, vale destacar 0 ji citado Li analisando antigos documentos cartogriticos, mostrou que por meio das regides. Havia ainda ssmais simples sio aque- n Gallois que, destes se poderia compreender a formac Camile Vallaux, que considerava que as regi las onde ocorre um género de vida uniforme, sendo, portanto, rela. tivas aos paises menos desenvolvides. Havia também Albert Deman- geon, Emmanuel de Martone, Raoul Blanchard, Jules Sion, Antoine Vacher, Jean Brunhes ¢ Pierre Deffontaines que, por sua vez, influ- gedgrafos"! Esses seguidores de Vidal de La Blache procuraram desenvol- ver sua proposta incorporando questées pouco presentes ou mesmo ausentes nos trabalhos do mestre, como os investimentos, 0s fluxos indo ele- mentos explicativos, tanto na economia quanto na sociologia, Porém, outros seguidores esterilizaram sua proposta. Como conseqiiéncia, os estudos regionals passaram a expressar uma mesmice. As monografi- notona. lerassem que o plano de estudo re- de bens ¢ eapitais ou a diversificagao das classes sociais; bus as regionais passaram a se repetir como uma sinfi Embora muitos gedgrafos con: gional nio devesse ser estereotipado, arriscava-se muito pouco na ela boragio de novas concepedes ¢ encaminhamentos. Paul Claval chama a atengio para questées alheias ao conheci- ‘mento, mas que, estando presentes no mundo académico, acabam in- terferindo no desenvolvimento da ciéncia. Cita 0 caso do trabalho de riprin de terrenoscalesis on daqueles em que tage se dtige para wines Portnoy agile que = princi va stn etre simples pode a revel dif [bert Demangeon, La plane pleande: Picard, Artis, Camus, Boawoois, ade de abr su les pines de i a Nov de a Frans, L9DS € Emmanvel de Marionne, Trait depiogrpie psu, de 1908, E ms, Antoine Vacher, Jean Brunese Pierre o sein dpa de Jean Keune, que propia na eon para 0 tao de Sho Pal 10 © Regine Goria Marcel Mauss, “Essai sur les variations saisonniéres des sociétds eskimos. Euide de morphologie social’, publicado no Année Socolog- que, tomo IX, 19041905, Howe una rejegio a este trabalho de Mauss evido a problemas entre os gedgrafos da chamada escola de Vidal de La Blache € o grupo do Année Soceaggue sso fez com que 0 a batho de Mauss fosse negado e, como decorréncia, todos os trabalhos que discutia nés como um exemplo tipico de adaptag2o ao meio frio ¢ indspito nao incorporaram as consideragoes de Mauss quanto a influéncia das variacdes sazonais na relagio dos esquimés com a natureza®® Na Franca, paralisaram-se as discoreldncias ¢, como decorréncia, 6gico se enfraqueceu. Henri Davenson expres- sou a monotonia dos estudos regionais. Afirmando ironicamente: [La] I homens, hi ithas;esss aqui colocam aqueles li em condigies is wezes bem uelas.,.Nestas condigdes eles reagem e se adaptam de mancira di versa, freqilentemente original e curioss, Voce aprende de inicio que hi ithas de pescadores ¢ outras onde se pasiorela o careiro; tras onde se toma b has de contrabsandlistas e ot nhos; que os Guanches das Canrias se vestiam de pele de cabras,ignoravam 0 uso dos metas € nfo sabiam mavegar que na ha de Ascen- slo, a menos que no se seja Tristio da Cunha, vivia uma ver um rei portugues que por remorso se tranaformou em um eremita... Eu no continuo: wee pode perceber 0 que cu quero dizer. A Geografia Humana recolhe 0s fatos particula- res, os analisa € quando ela o pode, os “explica”[..1; ela nio pode ir mais além®™ As monografias regionais acabaram construindo uma Geogra- fia que destacava o carter tnigo de cada estudo regional, fazendo 52, Cava ape 68, Dascoson, 1988, p. $06, Essa mesmice © ox sucesvos trabathos particulares sem qual ‘qr esforga de generalizago geraram no mbitoyeogrilico a seguite pada: debaixo uma drvore eatin un ico cum gografo em dexcanao merecida in que urna mag ‘ida ca uma otra mac eo ico continua a observa enquamio‘ gedgrao a desrewe ‘63 compara com a primciraspowerionnent, cai uma outra magi € mais outa € was ‘onirs« eles continnam a 36 comportar como anes, ape a queda de wri mags, 0 ‘gga parece satincto erate diane de sus sabedora frente a0 seo mudo € car Jado; mas eis que, num lance experi, o sco se Sea al sobre cola mac ‘om particular ner sore magia, man acerca da teria da qraidade A Gangrafia coma Cmca ea Regis com Ole de Bsudo deste estudo um estudo do tinico € do singular; distanciande-se da idéia de uma Geografia como ciéncia, que buscasse estabelecer leis € principios gerais no conhecimento da realidade. A Geografia seria uma ciéncia do nico e do singular ou uma ciéncia com explicagSes .gerais? Em outras palavras, afirmarse.ia a Geografia como uma cién- cia de cardter idiografico ou nomotético?™ Tais questoes revelaram & conduziram para um novo impasse te6rico: a ¢grafia Regional € Geografia Geral Essa dicotomia esti bem expressa nos clissicos trabalhos dos diseipulos diretos de Vidal de La Blache: Emmanuel de Martonne Albert Demangeon, O primeiro escreveu Traité de géographie physique, de 1909 ¢, o segundo, Géographie humaine, de 1910. Conforme De Martone, a unidade da Geografia nao estava num objeto definido, mas no método amentado na observagi gio e na representacio cartografica, considerando que a unidade da Geografia ~ fisica € humana —fundase na cartografia, Isso nio quer diver que a regiio nao estivesse nas preocupagdes de um ou de outro, Longe disso, em De Martonne, a regio se configura numa sintese de relagdes, sobretudo entre geomorfologia, clima e vegetari Demangeon, realizase pelas caracteristicas: agricultura, inddistria € entre Geo- icotomi cexplicagio, na localiza. urbanizagdo, Esestraballos denunciam o qu havia se perdido: a re lagio entre fendmenos fisicos © humanos na determinagio de uma regio. Embora a influéncia de Vidal de La Blache no desenvolsimet to da Geogratia francesa seja inquestionsvel ndo era Snica e absoh- ta, apesar de sera voe corrente oficial, A margem do reconhecimen- to social da época, vale lembrar a contribuicio de Jean-jacques Eisée Recius (1830-1905), que conhecew uma forte influéncia do pensamen- to de Ritter — tendo, inclusive, assistido a suas aulas em Berlim, em 1849-1850, onde foi seguir os estudos que Ihe dariam a formagio para pastor~o que acabou no ocorrendo, Reclus procuro compatibilizae sua posicéo anarquista cam wma vin tlenkéigica da md. A pas ‘Ho politica liber sides, por ter apoiado a Comuna de Pats ese oposto a Napoledo II, sendo obriga- ria de Reclus resultou em perse votco conto alia noao que em enti de el. vere idigylicn aia grog idee nica pd peso, particular «privat 12 © Regio e Grografa do, asin, as exar ns Estado Unidos, ps ter pasado pela Ingle tere lands, Nos Egos Unidos fo! preceptor, na Colma, 0- tomo, tendo af Se easado,Viseu na Suis, onde liga um onto seografo anarquisa, principe rsso Pyotr Kropotiin, «posterior tmente morou na Belgica Coloeandose como difisor da obra de Rie, qe, como ee, havlaestudado numa exca segura dos parietos de Pesto er de fala protestant, logo asinlon nos seus rabalhon a teo- tia darwinsa, Comentando su obra Horacio Capel dz que“ tia de eslug ede ranafornao aparece lament nla, cada Yer qe fn referencia ao bidlogo inglés™. Sun obra principal, em desenove soltmes, La now glpraphie nivel eda entre os anos de 1875 9, la aida dendividaldade geogrte ambém, dia Ge pole posto enegatio oe ‘sain seem a ‘obra anterior La Terre (1868) ele hi rao compreender os movimentos gers da sper da Terra, nee ta cle esa buseandoIdentcarparlaidades Em La nowele erpheunvened, a Fanta aparece como nda geogr- fea ea baciaparsense centro do pal, como tim plo posit em conuste com 0 mati central, menos desenvolido, como um pio negav. Ea formulae espeln sta precepaciocon buscar ds gui paves dtodd. Env nen moment, porém, procurou de regio, em de Taco. No entanto,ulizouse de eiteios geogriieos para exable cer dvsdesespacis, como o erro natural ~ bcs Mais © 0 poltico~disbs administrate wigs Seu companheiro na Suga, o rsso Pyotr Kropotkin (1812 1021), que explo ideal da ac consnitiia em sua obra prineipal Muted Ai, de 1902 divi que, smd sintese, ais hoses € 2 reforma socal deveriam fazer parte da clncl, Para ele, nio ea pre se dedicar® citnia sem lear em conskerago a condigdes procu- precisar 0 conceit (5, Ch. Capel, 1988, p. 302 66, Pela com a obra & Geogr, Rech ecebeu, en 1804, « Medalha de Ouro 4a Royal Geography Society de Londees 61, ter ie A Ganrafa como Gitncin ea Regia como Objao de Fatudo. sociais™, Juntos sempre chamavam a atengio para a necessidade de se fazer esforcos para superar a cisio entre cigncias humanas e cién- cias naturais, Imbuidos, portanto, de uma visio de sintese da Geogra- fa, tinham uma preoeupagio crtcaacerea da interacio do homem com o ambiente, em que destacavam o papel da agio comunit Procuravam se libertar dos discursos oficiais*, Yees Lacoste opina que a dificuldade para 0 reconhecimento ddas propostas dle Reclus, na Franga, indica que o éxito oficial de Vidal de La Blache coincidia com a escassa valorizagio que Reclus teve da parte de Marx ¢ Engels. José Estébaner, discutindo est opiniao, men- ciona artigo de Betriz Giblin, na revista Héradote, n. 22, no qual apa- recem num tom mais depreciativo ¢ irdnico as falas de Marx e Engels: “Eliseo é um vulgar compilador, e nada mais..”, essa mancira, Reclus © Kiypotikin representaram vozes isola- das, discordantes ¢ radicais do rumo oficial que a institucionalizagao da Geografia, nas associacies ¢ universidades, havia repercutido nos vrios paises, Entre as alternativas criticasapresentadas por varios ge6- grafos ao discurso colonialista, emergiu, cada vez com mais fora, no debate da Geografia, em grande parte motivado pela polemica entre determinismo ¢ possbilismo, a nocio de regiio. Embora nesta emer- Béncia ndo houvesse qualquer concomitancia, linearidade ou consen- s0 em relagiio a nogio de regio, conforme esclarece Tim Unwin, “a interpretagio do significado de geografia regional varia muito tanto de uum pais para outro, tanto quanto com a passagem do tempo" Na Inglaterra, a construcao de uma Geografia Regional apre- sentava a discussio da relacio entre © homem e a natureza, praticas ‘mente na mesma perspectiva dos ge6grafos franceses. Vale destacar a contribuigdo de Mackinder, uma das principais figuras da Geogra- fia britinica, que, com seu trabalho Britain and the British Seas, de 1902, elaborow uma sintese regional, uma das mais admiradas de seu tempo. (68, Como Recs, Kropoiikin fol persgui, Fi peso vitias vers na Risa ena Franc, nd voto a seu pas somente por esi da Revohuo de 1917, GD, Ct. Esbaner, ope p. 7 70. td, p78 11. Ch. Un 1908. p. 1. 114 © Rogisoe Gograpa Na época, na Royal Geographical Society, Mackinder era con siderado uma das forgas renovadoras do pensamento geogritico, trazendo para a discussio questées tedricas importantes para o de- senvolvimento da Geogralia, inclusive, levantando quests socials & politicas. Os titulos de suas obras expressam tais preocupacoes: On the Scope and Methods of Geography (1904) © Democratic Ideals and Reality: A Study inthe Politic of Reconstruction (1919). Ele considerava, {que a principal fungio da Geografia era tragar nao s6 a interacio do homem com o meio, mas, também, a dimensio politica € a anslise da interacdo entre as varias Tocalidades. Dai a importincia de seu trabalho no desenvolvimento do enfoque regional na Geografia™® Correndo o risco de omitir outros nomes importantes da Geo- .grafia britinica, eabe lembrar Andrew J. Herbertson, um disefpulo de Patrick Geddes (1854-1932), autor do argo “The Major Natural Regions of the World”, de 1905, Herbertson foi quem melhor proct- rou explicitar a questio de qual seria o critério para se delimitar uma imitagio de uma regido natural as regio, Sua posicio era que na de 0 divisdes politicas nvio deveriam ser levadas em consideragao. Para ele, a Geografia, ao examinar a rela se preocupar com o estuco da ordem ¢ da hierarquia segundo as loca lidades, os distritos, as regides, os grupos de regides, os paises; enfimm, de acordo com uma ordem crescente de complexidade. Na Italia, cabe mencionar a contribuiedo de Riechieri para o desenvolvimento da Geografia Regional, até porque influenciou a primeira divisio regional aplicada ao Brasil, fandada em critérios na turais, Riechieri, em 1920, procurou conciliar as diversas formas de dclimitar uma regiio natural, partindo dos critérios geol6gicos, bo- tinicos ete. Indicou que poderfamos falar de trés tipos de regides: a regido elementar, fundamentada em apenas um fendmeno, tanto geoldgico quanto botinico etc; a regido geogrifica complexa, com: preendendo uma érea de justaposigao de regides elementares € a re- gio integral, produwy de varias regi . contribuigio de Ricchieri, Manuel Correia de Andrade diz que ¢ io entre o homem € 0 meio, deveria complexas. Comentando a dava “grande importincia aos elementos fisicos e quase descon 72.4. Rob 19h. 91 op lp Cape, ope, p. 800 A Genrafa come Ciencia ea Regiéo como Obj de Fitudy + cia a influéncia dos fatores humanos*, Acrescentou; “Apesar de Ricchieri chamar as regides de ‘geograficas complexas’ elas eram muito mais regides naturais que regides geograficas”, Na Alemanha, em 1877, Marthe dizia ser a Geografia uma cién- cia da distribuigao dos elementos na superficie terrestre, entender do como ponto de partida do estudo geogrifico o estudo de uma re- ido determinada. $6 entao, a partir do estabelecimento das relagdes causais existentes nos lugares particulares, scria possivel tecer relages ‘em escala mais ampla ¢, por diltimo, em relagio ao mundo. Ferdinand Richtofen (1893-1905) defendeu a idéia de que, dada a natureza he- terogénea dos fenémenos sobre a superficie da terra, eram fundamen- {ais os estudos sistematicos que buscassem definir leis gerais. Mas es ses estudos seriam apenas estudos preliminares para se elaborar “a compreensio da relagdo causal nas regides"". Ao relacionar 0s estu- dos sistematicos as leis gerais, Richtofen procurava contribuir para clucidar a questio: Geografia sistematica ou regional? Esse desafio influenciou o ambiente intelectual alemio, que Procurou incentivar o estudo regional com o intuito de compreen- der como a natureza ¢ as atividades do homem se revelavam na pat- sagem. Esse caminhar se fez num mundo historicamente envolto pela ascencio do fascismo e do nazismo, pela deflagracio das duas guer- ras mundiais, pela luta pela descolonizagio e pelo nascimento e de- senvolvimento do primeiro Estado socialista. Periodo de grandes mudancas, no qual o desenvolvimento do fordismo foi embalado pelo som de um novo ritmo, 0 jazz, pela difusio do rédio, pela agonia do cinema mudo e pelo desenvolvimento da pintura abstrata 4%. Andrade, 1987, p. 4 14, A formagio geoligica de Richwofeno condusn a tte trabalhos de campo na China ¢, ‘segundo Tim Unwin, a pregar a colonizario lem da China, dando apoio e desenvo vendo as tees expansionist lems, CF Unwin, op 119 Prnsawores & Geocraros: 1 1580160 16401630 16601680 THD 17 17 1760 17RO 80H 180 18401850 1880 19091980 1980 Foamomisney SSS ‘Teas Hobbes (15881679) en Deets (18961880) Baruch de Spina (16821577) Jn Lack (1682170) oid Wels Lie (1661716) Gorge Behe (1861735) Dad Hae (L775) eanjaques Rouse (7124779) Joann Henvich Peso (17161827) Fieiich Engels (18801895) Johan Gate ie (17621814) Ala mH (17 159) Con ie 773185) roan Kn (1726180) (Gog Fidich Hee (17701831) Ka Mars (18181888) edi WJ Schling (7751868) Agus Conte (1801857) Land even (18061872) ‘Chars Dar (18882) a Mar (1818188) Herbst Spencer (1820193) ‘ets c89015) Fine Rijn 18.3908) ye Kin 18121821) ii Rata (18844905) PY Le Had 8851918) Mond i dCs Seg eta sie NIL Pine meta doc XN) PoC (8541080) edound Hse (18591018) Af He (8291981) aid jt Maid (18611917) Max Scher (18741988) 820 19251890 1835 18401845 1850. 1855 1860 1865 HATO NTS 18K 18818901405 100” 1905 191019159920 1805. 18101815, 1300 itt Fedde Rie 23 Isa Sioa Sogn de Pais 198 ‘Siedade Gerad Btn 189 Suciedate Geng de Landes 1908 Talia agai dave ririnins 10 TaBinche On te Soe od Meebo ay 198 ‘These itt gs fed Now Heberison ss | a 2 4 5 i i ] i é : ; i ‘ i i 5 A INFLUENCIA DO NEOKANTISMO E DO POSITIVISMO LOGICO NO ESTUDO REGIONAL A Gunga tom por ejtopropocionar a dese € Inespelao, de manera pecs, onenada eaciona do canter ware da superficie da Te Aun Herts [AA margem diceita do Sena, em Pars, nano de 1889, por oc siao das Exposigio Univers, imposse uma obra de arte: uma tort ferrco de 300 metros de altura, ao mesino tempo pesadae eve, OF ‘elo engenheiro Gustave Eiffel como simbolo de um sécu fundaddo em principiosckenicos. Devo mil pecas de ferro harmoniosamente disposas, i tando cos timites da téenica, romperam com o privilgio dos edifiic relgiossos em peda de aleancarem os céus. A exposiio. era uma € pécie de vitrine em que fcava exposio 0 avango téenico, cienifico Intsticoo de cada pa participant, servindo para exalar as virtude ‘DDestacavam-se na exposicao 0s feitos industria dos novos in périos ccoloniais: Inglaterra e Franca. Tratava-se da colonizagio [Kien ce da Asia baseada em relagSes ce poder, muitas vezes indir

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