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Movimento Sct ns AmfsicLto: Dn Tdi em Tempo e lobar CAPITULO 1. MOVIMENTOS SOCIAIS NA AMERICA LATINA: DESAFIOS TEORICOS EM TEMPOS DE. GLOBALIZACGAO Zilda Marcia Gricoli lokoi* Os estudos sobre os movimentos sociais na América Latina so antigos, jé definiram e frutificaram muitas interpretagdes ¢ teorias que provocaram encontros, seminarios e uma avalanche de textos, notas criticas e comentirios. Entretanto, desde o inicio dos anos de 1990 e, especialmente, nestes primeiros do século XI, o campo e as relagdes entre os diferentes sujeitos e tempos histéricos sofreram_ alteragdes profundas exigindo nova episteme. Em primeito lugar pelo alargamento das fronteiras. Novas tecnologias, 0 barateamento dos meios de comunicacio, as migracdes individuais, os novos espagos ocupados por refugiados das guerras, por deslocados das epidemias pela fome, além da existéncia de novas tecnologias que permite 0 acesso a setenta canais de televisio a cabo, acordos de livre comércio, turistas multiculturais que ocupam as metrdpoles continuamente! provocaram novos fendmenos cuja intensidade de magnitude exigem outros procedimentos interpretativos e de conhecimento. E certo que antropélogos procuram perceber as diferengas € preocupar-se com 0 que homogeneiza o homem, socislogos buscam perceber os movimentos que igualam os que diferenciam as sociedades humanas e, historiadores encontram no presente dilemas € impasses contemporineos cuja génese implica a busca de outros tempos histéricos para compreende-los. Essa busca continua © as * Doutora em Histéria, Professora do Departamento de Histéria da FFLCH da Universidade de Sio Paulo (USP) alterages nos processos sécio culturais exigem mudangas de paradigmas € novos procedimentos epistemolégicos quando as ‘manifestagdes culturais se alteram ou intensificam provocando novas formas de relages até entio inexistentes, Trata-se no dizer de Henri Lefebvre, analisar a obra pela mimeses ou pela poiseét?, Poder-se-ia \gregar 40 momento presente, como faz Canclini, o papel dos especialistas em comunicagio, que pensam as diferengas © as desigualdades como inclusio € exclusio, As vatiagdes decorrentes do olhar dos especialistas exigem re-significar continuo dos processos culturais por chaves dstintas’ Assim, o dilema em aberto é 0 de reconhecer as diferengas, corrigir as desiqualdades e permitir a conexio das maiorias As grandes redes globalizadas. Isto nao existia hé trinta anos, portanto, o conhecimento que podia definir ¢ identificar as vérias culturas eram distintos dos que hoje se exigem no mundo académico, jé que a realidade esta profundamente alterada. Todas as classes sociais, as diferentes nacionalidades, proprictirios ¢ investidores confrontam-se diariamente com interculturalidades de poucos limites, que num curto perfodo de tempo superou 6 mundo multicultural existente. Isto significa que nfo se trata mais de sublinhar as diferencas entre as virias culturas, mas de se encontrar formas de entrelacamento, estimulando-se as relagbes de trocas culturais'. Quando esses encontros ocorrem por tempo curto, definido, em congressos, férias ou negdcios, as trocas realizam fuses precirias, armadas sobretudo, em cenftios midifticos. Isto ocorre 0 tempo todo. A televisio a cabo e as redes de internet introduzem miltiplas Kinguas dentro de nossas casas. O interesse sobre esse fendmeno no campo dos movimentos sociais deve-se, especialmente, aos fracassos sociopoliticos contemporineos. Foi muito estimulante os estudos de Gadamer’, Rorty® ou Lyotard” sobre as vantagens do universalismo sobre 0 relativismo. Também 0 interesse sobre 0 campo da processos definida por Rorty ou por Rawls’. Mas foram as contribuiges de Pierre Bourdieu’e Clifford Geertz!” ¢ de Paul 10 Movien Sols Ami Latins Defi Tabi em Tempo de Gitlin Ricoeur!’ no campo filos6fico. Para eles, a nova interdependéncia globalizada ctiow obstaculos sécioeconémicos, politicos e de comunicagao a interculturalidade, especialmente devido a desestabilizacio dos ordenamentos nacionais, étnicos, de genero e de geragdes. Trata-se do fim de uma época politica ja que, as ambivaléncias © a incomensurabilidade contemporineas que exigem uma reestruturacao cultural do mundo. Desde a queda do Muro de Berlim, a divisio Ocidente ¢ Oriente representava 0 planeta como se cle fosse constituido por hemisférios antagénicos e pouco conectados. Em pouco tempo, essas diferengas mostearam-se superficiais e foi possivel pereeber que as inimicas das cidades aproximaram singularidades sem qualquer pudor. Hoje é possivel reconhecer complexos econdmicos, habitacionais, culturais extremamente imponentes, compostos dos materiais cujos valores sio elevados ao lado de niicleos de favelas sem qualquer preocupacio com 0 saneamento ¢ o bem estar social. Isto porque as economias dos paises grandes, médios e pequenos tornaram-se dependentes de um sistema transnacional que desvanesceu as fronteiras culturais e ideol6gicas. Fabricas dos Estados Unidos instalaram-s paises como o México, a Guatemala ou El Salvador, promovendo maior produtividade gragas & maior exploragio da forca de trabalho naqueles lugares. Assim também, nesses paises procedeu-se a um movimento migratétio de pessoas das familias de trabalhadores para que a renda pudesse ser melhorada com os salitios advindos das empresas estadunidenses, Essas mudancas alteraram a paisagem provocando situagdes muito diversas das existentes até entio: montadoras deslocam-se para a China para aproveitar os salétios mais baixos daquele pais; o regime socialista chinés, gera desemprego ¢ enfraquece as economias ocidentais contritio, pela superexploracio do trabalho. Assim também em cidades nos Estados Unidos ou mesmo na Europa ou no Brasil; os imigeantes, ‘0 pelo processo revolucionério socialista, mas a0 que sairam em busca de melhores condigdes de vida remetem dinheito pata os paises de origem em montantes que de fato supde expansio uu de rendas capitalizadas; as roupas e outros produtos tem etiquetas de regides onde 2 superexploragio do trabalhador as tornam menos custosas; os prdprios signos € simbolos nacionais como bandeiras, troféus etc., portam etiquetas made in Taiwan. Como agrupar esses processos ou decodificé-los no campo econémico ou cultural? H4 novas perguntas que devem ser respondidas, sobre 0 territério e o planeta. O que é o local? E 0 Nacional? Como definir 0 transnacional nesse novo quadro? Para Canclini trata-se de diferencas de escala e de intensidade. Torna-se necessirio refletir se essa situacio permitira 0 fim dos macionalismos desses povos, aproximando-os ¢ facilitando a compreensio, © que se pode observar € que aparentemente essas tedes sio pouco percebidas, prosseguindo os valores separados anteriormente existentes. Bourdieu em seus estudos nao deu conta de perceber que de certa forma reproduzia de modo continuo e, mesmo depois, quando procurou criticar 0 neoliberalismo, as dificuldades de entendimento das formas de industrializago-massificagio da cultura eno apenas o papel reprodutivista dos setores populares. Hoje torna- ‘se mais significativo prestar atengio aos mal-entendidos, as misturas veiculadas pelos grupos. Mas também interessam as barreiras em que se entrincheiram, a perseguicio ocidental a indigenas € mugulmanos. Nio apenas as tentativas de compor com as diferengas, mas os dilaceramentos que nos habitam. Também é preciso além dos hibridismos pensar na interag3o como desigualdade, conexio/ desconexio, inclusao /exelusio”. Esses problemas teéricos acima apontados levaram-me a S que envolvem 0 trifico dos migrantes, refugiados ou destertados por virios motivos, de paises latino-americanos como a Bolivia, 0 Peru ou o México, instalados em vetificar como vivem € quais as tei regime de semi escravidao nas oficinas ¢ confeccdes no Bairro do Bom Retiro em Sio Paulo? Apoiados pela pastoral dos migrantes esses homens ¢ mulheres procuram permanecer invisiveis e refugiarem-se imos espagos, nos mi que Ihes sio concedidos nas oficinas de costura em que vivem em regime de super exploragio tanto de sua forga de trabalho, como de sua propria existéncia. 2 Movimento Soi Amie ati: Deli Tacos em Teng de Goblin Pode-se dizer que esses trabalhadores compoem o trifico de cescravos da era da globalizaco, uma vez que fazem parte de um sistema mundializado que se formou a partir do final dos anos de 1980, fendémeno registrado pelas lentes do fotégrafo Sebastiio Salgado na exposigao Exodos. A desregulacio do trabalho, a ctise no sistema produtivo, a idéia de fim do Estado sto componentes significativos desse processo que acompanhou os limites da social democracia européia ¢ expandiu estado do mal estar social em paises da Asia, Africa e América Latina. Esse fenémeno aproximou tanto os pélos extremamente tecnificados da terceira revolugio industrial, como promoveu um retorno ao final do século XIX, quando a industrializagio dava os primeiros passos na Inglaterra. Nas negociagdes que se fizerem ao longo de todo o periodo, © Brasil foi instado a receber contingentes desses exilados como ja ocorrera nos anos de 1930, 1940 ¢ 1950, antes e depois da Segunda Guerra Mundial. Debates acirrados ocorreram em embaixadas ¢ consulados sobre a oportunidade ou no da adesio a essa politica de mio de obra, re; Imigracio, drgio origindrio da Hospedatia dos Imigrantes, criado no final do século XIX. Um conjunto documental significativo foi produzido permitindo a anilise do sentido atribuido as nogées de estrangeito e nacional e dos beneficios da chegada desses estranhos. O deslocamento de russos, poloneses, ucranianos pata o Brasil entre 1935 ¢ 1955, nos levou ao ideario de funcionarios consulares € das embaixadas que manifestavam seus valores sobte 0 outro ao fazer 08 registros dos mesmos criando para eles estigmas, muitas vezes incorporados as politicas de repressio, como aquelas impostas principalmente aos comunistas judeus ao longo do perfodo. As fontes da diplomacia permitiram verificar que simultaneamente as deportagées ocorridas no Brasil no periodo entre -guerras, muitos contingentes de emigrados da Europa Ocidental dos Estados Unidos, especialmente intelectuais, cientistas, grandes cometciantes, banquciros foram recebidos, indicando que houve um certo inter se accitar alguns refugiados em detrimento de outros. Aos judeus 13 rada nos relatrios existentes no Museu da se no pafs, em Minesos Svs ne Ami atin: Deas Teves em Tepade latino oriundos do Leste europeu, a resisténcia foi maior por representarem um povo considerado pelos funcionrios das embaixadas ou consulados, indesejados por serem ifdichistas, lingua considerada barbara ¢ desconhecida € serem oriundos de realidade social pertencente ao bloco socialista. ‘Tendo estudado a presenca da esquerda judaica no bairro, pela andlise do processo de formagio do Instituto Cultural Israelita Brasileiro (ICIB), procurei acompanhar 0 papel daquele érgio, voltado para a defesa da paz ¢ a difusio da educacio e da cultura libertarias, ‘como espago de ctiacio, no campo simbélico, de valores democriticos e humanitatios, nas priticas sociais de seus membros € no entorno do ICIB, Até 05 anos sessenta do século XX, encontravam-se nas ruas do bairto, estudantes do Scholen Aleichen, intelectuais ¢ artistas que freqiientavam as reunides e os seminarios realizados na Casa do Povo, como eta chamado o Instituto, ou no Teatro que acolheu muitos dos grupos perseguidos pela censura depois do golpe militar. Respirava- se um clima efervescente, tanto no campo das artes cénicas, como na miisica ou no debate politico. O Bom Retiro dos cafeicultores, palco dos movimentos da classe operitia no inicio do século XX, com seus pic-nics ¢ suas reunides politico literirias, mantinha até a década de 1960 um e/bos coerente com seu passado. Hoje sua fisionomia nao indica sendo com alguns pequenos sinais a vivacidade daqueles momentos. A escala dos processos de imigragio, o papel das oficinas de confecgdes ¢ a intensidade dos contatos em diferentes espagos tetritoriais fez com que a mobilidade de coreanos ¢ chineses em duas décadas deixassem a condicio de escravidio e novos contingentes latino americanos fossem sendo introduzidos de modo mais facil, dado co alargamento das fronteiras ¢ 4 sobreposigio de culturas num espaco restrito Como aquele espago foi continuamente ocupado por deslocados de vatios paises do exterior, analisé-lo exigiu 0 manejo da documentacio e da legislagio consular reunida no Arquivo Histético do Itamaraty e de embaixadas, mas igualmente nos fez buscar as fontes policiais reunidas no Arquivo Piblico de Sio Paulo - Acervo DEOPS - €, em especial, resgatar as vozes dos prdprios imigrantes, fossem 4 “Movinenios Sa Arb Latinas Dean Teen em Terps de lalate eles definidos ou no como refugiados. Buscava-se nesse pereurso entender ¢ estimular 0 multiculturalismo como possibilidades de assimila entre uns e outros, dai os muitos estranhamentos obtidos em depoimentos de bolivianos que vivendo em condigdes precitias por serem indocumentados e deste modo nao poderem reivindicar protesio legal silenciar sua insercZo na cidade quando buscam atendimento a satide. Reconhecem a precariedade da situagao, mas sabem que em seu lugar de origem a exclusio eta mais violenta. Neste caso, 08 apreadores de mio de obra, 0s gatos, como sio denominados na area rural brasileira, sio bolivianos que lucram com a escravidio de seus conterrineos. ‘Assim, num mundo cada vez mais desigual, com expansio ctescente da miséria, das guerras € as dificuldades decorrentes do descaso com o meio ambiente, vive-se como nunca situagdes de intolerancia que inviabilizam o multiculturalismo. A intolerincia tém se manifestado em decorréncia da idéia de que todos os povos do mundo nio formam a humanidade, em oposi¢io ao pensamento de Levy Strauss, A nogio de humanidade, hoje quase esquecida, revela- se pela intolerincia que aparece em diferentes formas e manifestagdes no mundo contemporaneo. Formas regressivas de priticas religiosas, xenofobias reabertas no continente europeu, fundamentalismos antigos € novos, disputas imperialistas, individualistas e pela continua imposigio das desigualdades sociais", ‘A cetteza na capacidade do Estado Moderno produzir alguns consensos fundamentais permitindo tanto a formulagio do sentido da justica como do seu aparato legal parecem hoje insuficientes para convencer as varias sociedades da importincia dessas garantias como defesa da vida. Em diferentes paises, 0 desencanto com o liberalismo fez com que se considerassem os aparatos legais dispensiveis. Por sua egoismos € narcisismos vez, 0 diteito positive nao tém alcance para a escala ¢ intensidade dos contatos mundiais. Novas estruturas juridicas so exigidas tanto no nivel das comunicagdes, como nos da protecao". Evidentemente, a doutrina dos direitos, aquisicio da modernidade e do pensamento liberal, produzidas num proceso hist6rico permeado por conffitos religiosos ¢ politicos destacou um. 15 Movimento Soi Ami Latin: Deron ericosem Tp de Gebiagb modo de vida no Ocidente que se sobrepés aos demais. Mas, essa prépria conquista histérica manifestou-se no periodo seguinte (século XIX), na projegio que o Ocidente expandiu sobre o resto do mundo, marcando diferengas entre 0 estado moderno € outras formas de organizagio politica centradas em hierarquias religiosas ou de castas. ‘A expansio imperialista produziu, de certo modo, um retorno a0 passado rectiando nogdes negativas sobre muitos paises ¢ regices do planeta ¢, aprofundando os processos exploratérios as tiltimas conseqiiéncias. As ambigiiidades do liberalismo acompanharam 0 expansionismo que culminou, na Primeira Guerra Mundial, na luta da civilizacio contra a batbarie. Foi oriundo desse processo que Brasil tornou-se pais beneficidtio de fluxos migratdrios ao longo de toda a sua histétia ¢, reve que enfrentar o dilema do outro em diferentes momentos sem toleriincia 20 outro, estimulando conflitos decorrentes das diversidades culturais desses geupos. Faz parte desta histéria preconceitos como os telativos aos negros, desconfiancas quanto 20s carcamanos ou aos tutcos considerados desonestos entre tantos outros estigmas existentes em nossa histéria cultural e politica. Deste modo, © reconhecimento do outro foi um dos dilemas de pertencimento no imaginitio social, especialmente devido 20 modo de ser da elite, oscilando entre pensar o Brasil ou ser reconhecida no exterior. Deste modo, seja pelos documentos produzidos pelo corpo diplomatico, seja pelo humor, ou mesmo pela literatura é possivel perceber como a xenofobia faz parte da cultura politica local. Diferentes intelectuais tém afirmado a relevancia desse debate para promover um novo modo de didlogo entre as varias nagdes, religides ¢ valores, Pode-se considerar a doutrina dos direitos humanos como referéncia necessitia 20 enfrentamento desses dilemas assim como definiu Norberto Bobbio". Para ele nfo se trata de formular um novo conjunto de direitos do homem, mas de protegé-los. A questo contemporinea, deste modo, nao é filos6fica, mas politica. Uma base da intolerincia esteve na oposi¢io Ocidente Oriente e na hierarquia que se produziu entre esses dois extremos 20 longo do século XX. Como a modernidade se projetou superior em relacho as demais experiéncias historicas do planeta, a critica da 16 Movimeotas Sols Amis ati Dene esc Temp de Gaba sociedade européia se fez incorporando esse mesmo valor. Depois da Segunda Guerra Mundial o lugar da superioridade foi paulatinamente se deslocando para os Estados Unidos que atribuiu a si e se projetou para o Oriente ¢ a Africa representando esses lugares como os da barbitie. Mas, a0 se definir alguns lugares como os da civilizagio e outros os da barbie, as diferencas existentes ao invés de promoverem trocas férteis, elas introduziram um sentido de negagao do outro como sujeito portador de cultura e como humano. Mesmo tendo destacado a ptddiga natuteza ou © paraiso tropical, os imperialistas impuseram 08 objetivos da exploragio justificados pela incapacidade do outro. Refugiados ou imigrantes apareciam sem qualquer protecao, jé que expulsos pela pitria nao poderiam serem reconhecidos com positividade. Racismo, discriminacio ao modo de vida, numa sociedade marcada pela violencia da escravidio e pelo autoritarismo formaram um continuo de modernizacio sem mudancas". Autoritarismo, anticomunismo, repressio, controle sindical, limitaram a democracia, confundindo as esferas piblicas e privadas. © estudo das formas e das priticas de recrutamento nas embaixadas ou consulados, permitiram 0 reconhecimento de outras formas de organizacio dos deslocamentos populacionais, suas origens, seus objetivos ¢ os conflitos inetentes 4s miiltiplas relades entre os grupos internacionsis, o Estado e a sociedade receptora. Ao resgatar 08 discursos dos representantes do Brasil nas varias regides receptoras, as intimeras historias de vida desses sujeitos que se deslocaram, em busca de um novo espaco de liberdade ou apenas um lugar para morar ‘ou trabalhar, ao entender como as rotas de trafico humano se formaram € 08 interesses envolvidos nessas redes, a margem da lei, como procuramos demonstrar nesta pesquisa como o tema do ‘multiculturalismo teve que ser criticado, Ao estudar como a sociedade convive com naturalidade frente ao no cumprimento das leis em vigor no pais ¢ os acordos internacionais, como se a inexisténcia do outro como sujeito de direitos abrisse espaco aos que mio vivem As margens do direito positivo, introduzisse uma competigZo entre os totalmente € 08 parcialmente excluidos. 7 Cabe neste momento retomar 0 caminho da formulagio e da aplicagio dos direitos dos deslocados populacionais seja por perseguicdes individuais, migracdes ou guetras. Poi no século XX que a. comunidade internacional iniciou o proceso de regulamentacio de refugiados, vitimas de crimes ¢ horrores das duas grandes guerras, mundiais, que violaram a dignidade de inimeros seres humanos. As ages Unidas (1946) ea Declaragio Universal dos Direitos Humanos (1948) tornaram-se instrumentos fundamentais de promogio © protecio aos direitos da pessoa. Com a mesma finalidade foi criado, em 1951, 0 Alto Comissariado das Nacdes Unidas para os Refugiados (ACNUR) ¢ aprovado o Estatuto dos Refugiados. Estas regulamentagdes entretanto s6 foram possiveis apés a deflagracio da Guerra Fria, uma vez. que entre o final da Segunda Guerra e esta data eta dificil para os organismos internacionais definirem os deslocados de guerra como refugiados. Foram considerados deste modo todos aqueles que, estando fora de seu pais sintam-se ameacados ou perseguidos, por motivos de taca, teligiio, nacionalidades ow por pertencerem a determinado grupo social ou de opiniio politica e nto possam ou nao queiram recorrer a tal pais de origem.”” Entretanto, a protecio formal aos refugiados de guerras teve inicio em 1921, ainda na esfera da Liga das Nagdes ¢ mais tarde, em 1933, pela Convencio de Genebra para a defesa dos judcus mio arianos a0 regime politico na Alemanha e, em 1936 passou- se a atender também os austrfacos, Em 1938, criou-se 0 Comité dos opositores Intergovernamental para Refugiados que em conjunto com a Us Nations Relief and Rehabilitations Administrations trabalhou, juntamente com autoridades militares na repattiagio de mais de seis milhdes de pessoas deslocadas durante a guerta Deste modo percebe-se que o tema dos direitos humanos foi posto em discussio desde os primeiros anos da II Guerra, especialmente devido ao processo de perseguicio dos judeus nos paises da Europa Central e do Leste, mas intensificou-se com os relatos dos sobreviventes do holocausto. Como enfrentat essa tragédia imposta pelo Reich a humanidade, depois da publicidade de relatos, imagens € demais documentos que foram sendo expostos naquele perfodo? No 18 Morison Sci Asc Ltn: Deion Tet em Tempo de Glitlgto Brasil a dentincia da existéncia de campos de concentragio para alemies, italianos ¢ japoneses ¢ a deportagio de judeus reabriu a discus apontam a diversidade de posicdes ¢ justificativas analisadas neste estudo. Os documentos da UNESCO apresentaram um ideal de universalidade muito amplo para o perfodo. Uma vez que todos estes ptessupostos sio claramente ocidentais e facilmente distinguiveis de outras concepgdes de dignidade humana em outras culturas perguntamos por que motivo & questo da universalidade dos direitos humanos se tornou tio debatida. Ou, por que razdo a universalidade sociolégica desta questo se sobrepds 2 sua universalidade filoséfica ow historica. do ¢ envolveu inameros interlocutores. Os documentos Acompanhando os relatos dos imigrantes de diferentes origens e, analisando os documentos produzidos pelo corpo diplomatico brasileiro buscamos os nexos desses processos que geraram discussdes sobre a tolerincia ¢ a intolerincia, muitas vezes ampliadas pela miquina da repressio aprofundada no perfodo Vargas. A Constituicio de 1934, que se caracterizava por estremo hibridismo vigorou por pouco mais de trés anos. Deste periodo em diante, cada vez mais o sistema repressivo foi se desenvolvendo e sofisticando até que em 1937, com 0 golpe de estado, as liberdades foram suspensas € 4 repressio contra estrangeiros ¢ nacionais cresceu muito, Alemies, japoneses foram perseguidos durante a ditadura do Estado Novo, mas também comunistas, judeus € nacionais que ousaram protestar, Censura, espionagem e militarismo foram a constante naquele periodo, afirmadas pela Lei de Segueanga Nacional (Lei Monstro) de 1940." O golpe de Estado de 1937 sua Carta ditatorial que durou até a promulgagio da Constituigio dos Estados Unidos do Brasil, em 18.9.1946, suspendeu os direitos humanos permitindo o aprofundamento do arbitrio e as priticas de intolerincia que se instauraram nos meandros do proprio estado. A Constituigio de 1946, especialmente o titulo sobre a declaracio de direitos, ¢ os capitulos sobre os diteitos de nacionalidade, 0s direitos politicos ¢ os direitos e garantias individuais, incorporou, como na de 1934, os chamados direitos humanos de segunda geracio, 19 ‘Movimento Socks n Aris Lins Deni Tescrem Tempo de Goblin consubstanciados num titulo sobre os direitos econdmicos, sociais ¢ culturais, © Pais ja estava em franca urbanizagio, com razoivel desenvolvimento industrial, reunindo um operariado sindicalizado que foi tomando consciéncia de sua prdpria expressio politica. Tratava-se de compreender, em primeiro lugar, que as declaragdes de direitos individuais € sociais nao constitufam apenas bons conselhos, ¢, em segundo lugar, o reconhecimento de que as garantias dos direitos humanos nao estavam apenas na sua positivac3o mas, no modo como se aplicavam as normas constitucionais ¢ as leis. Se observarmos a histéria dos direitos humanos no perfodo imediatamente posterior a Segunda Grande Guerta, nio é dificil coneluir que as politicas estiveram em geral a servico dos interesses econdmicos e geopoliticos dos Estados capitalistas hegeménicos.” As diferentes priticas sociais, em muitos momentos historicos foram produzindo diferentes rostos, fisionomias; portanto, diferentes entendimentos do que poderiam ser os direitos humanos. Estes, 20 longo da histéria da humanidade, apareceram em miltiplas formas; nao tendo, portanto, uma evolucio, mas emergindo em certos momentos, de maneira bem peculiar. Estas peculiaridades surgem em intimeros relatos de imigrantes que fugindo de processos discricionarios passaram a sofrer discriminagio € repressio em nos bairros, no trabalho por suas manifestacdes culturais ou religiosas. E praxe colocar-se 0 marco da histéria dos direitos humanos como jé apontamos acima, na Declara¢io Universal dos Direitos do Homem, surgida em 1946 quando, apés a Segunda Guerra Mundial, foi ctiada a ONU. As experiéncias nazi-fascistas e os hotrores da guerra aprofundaram a consciéncia das necessidades de mecanismos legais em defesa da pessoa, de grupos sociais e da constituigio de esferas supra-nacionais. Mas, a agenda da ONU nfo constrangeu de modo suficiente os governos de muitos paises como o do Brasil, eas primeiras medidas pautaram-se pela defesa da vida, da seguranga alimentar e do direito a0 conhecimento, Outras declaragdes e convengdes, nas décadas de 1950 € 60, deram prosseguimento 4 colocacao de que os direitos da pessoa humana deviam ser estendidos a todos. Nas décadas de 1960/70, 20 Movient Sci ne Amr Latin: Defoe Ted Tempo de laaigto devido a instalacio de varias ditaduras em paises da América Latina, 0 tema dos direitos humanos passou a ser a bandeira mais legitimada para que se pudessem confrontar as intolerincias locais frente as solidariedades intetnacionais. Foram muitas as mediacdes que permitiram a defesa de presos politicos e de seqiiesttados pelo regime nos virios paises abrindo um novo modo de lidar com refugiados que procuravam informar as Comissdes de Direitos Humanos, apoiadas naquele perfodo pela Caritas mundial e, por varias das sessdes dessa agéncia em localidades como Buenos Aires, Rio de Janeiro ou Lima. Entretanto, mesmo com todo esse processo, as ditaduras latino- americanas nos anos de 1960 € 1970 abandonaram os acordos ¢ 0 respeito A condigio humana, utilizando-se da violencia, da tortura para obter delagdes e, do suporte téenico-cientifico, para quebrar a resisténcia dos prisioneiros. Além disso, seqiiestrou pessoas e montou aparatos clandestinos para exercer a violencia. Ainda naquele momento, 0 sigilo € 0 ocultamento de cadaveres ¢ informagdes limitava 0 acesso aos dados, especialmente pela férrea censura aos meios de comunicagés Recentes preocupagdes das ciéncias humanas, dentre elas a histéria, deslocaram o eixo de reflexto de cadeias sistémicas € explicagdes causais, para aproximarem-se da realidade social e dos dados da vida e da consciéncia humana, Destacam-se assim 0 cotidiano como objeto da historia, da filosofia e das demais ciéncias sociais, Além disso, a0 voltar-se para o tempo presente”, o historiador passou a petceber a necessidade de debrugamento sobre problemas que o envolvem diretamente c, deste modo, procura ampliar 0 didlogo com outtos ramos do conhecimento para acercar-se de instrumentos cada vez mais amplos na formulacio das andlises hist6ricas. A aproximacdo entre o historiador ¢ os homens ¢ mulheres cuja histéria ele escteve permite um novo modo de olhar que foi definido por Bourdieu, como parte integrante das trocas simbélicas, onde sujeito € objeto se misturam, invertem © modificam 0 real. Mas, dadas as alteragoes apontadas no infcio deste texto, os anos de 1980 ¢ 1990 passaram a exigit uma alteragio conceitual, do multiculturalismo para o 21 Movimeno Soi Ami Latin Delo Tacos em Tn de Gata interculturalismo que alterou o método de trabalho dos pesquisadores contemporiineos. Partindo de uma concepgio te6rica que articula conhecimento investigativo e vida cotidiana como pélos centrais do entendimento da realidade, busca-se o conhecimento hist6rico como eaminho do entendimento da tealidade, em seu sentido multfacetisio, por meio do qual também se apreende a totalidade - um conjunto de fragmentos e de possiveis* Segundo H. Lefebvre sio duas as dimensdes do cotidiano — uma vivida — a cotidianeidade - resultante de esferas globais (econdmico, politico ¢ cultural) em que formas estratégicas homogéneas disciplinam a vida tornando-a lugar da repetiio reprodugio mimética. E outra, que Ihe é dialeticamente contradit6tia, o dia dia, as atitudes, os gestos,a rebeldia que potencializam o vivido enquanto © lugar do possfvel (das possibilidades) na perspectiva do devie®. Histéria e cotidiano compdem uma diade necessiria da razio transformadora: a potencialidade da histéria, ou da racionalidade inerente ao conhecimento histérico, nfo revoluciona ou transforma a realidade social, enquanto nao se dispde realizar a unidade dialética entre razio e realidade social. Neste sentido, podemos considerar 0 real composto por diferentes esferas onde as novas relagdes sécio- cultusais se realizam em suas especificidades e coexistem em espacos distintos ¢ mundializados, dando movimento e ditegdes possiveis 20 sistema social, enquanto reprodugio e possibilidade de sua superagio, Na pés-modernidade as inter-relagdes entre as diferentes esferas da realidade social se materializaram na esfera da vida cotidiana, se deparam com formas construidas em diferentes instincias da tealidade social - na dimensio do econdmico, do politico , do juridico, etc, —e, no embate entre formas de disciplinarizagio do cotidiano € © vivido, tecendo-se agdes nos movimentos sociais™: A complexidade da realidade demanda um conjunto imensurvel de formas na reprodusio do sistema social capitalista: a reproducio da forma propriedade demanda um conjunto de formas ipscicaseinsttucionais componentes da reprodugio social. De acordo Movimento Sons Ami Lite Deni Tacos Temp de Goblin com o sistema sinerdnico proposto por Henri Lefebvre, as formas devem ser pensadas como objetos funcionais e necessitios estabilidade € & reprodugio do sistema social, que comporta por seu turno, uma base técnica, uma estrutura de classe especifica ¢ as instituicdes. Desta maneira, as formas e suas relagdes com o vivido compéem objetos simultineos de anilise da realidade. O aparato juridico, a legislacdo ea normatizacio dos direitos construfdos, quando materializadas, pelo aparato juridico-ideolégico do Estado, representam-se no Legislative, nos acordos nacionais e internacionais, nas conveng6es coletivas do trabalho, nas normas disciplinates, no controle sobre a repressiio ou sobre o aparato policial, etc. Estas representacdes também constituem o proceso a ser desvelado na trajetéria das formas em suas relacdes com o cotidiano. As representacdes resultam na verdade das relagdes do real — vivido — com o representado. A representacio € nada mais do que a impossibilidade do representado se materializar inteiro na representacio, Vista como representacio, a normatizagio dos direitos, que engendra um conjunto de leis, discursos, acordos € regulagdes entre Estado € sociedade, torna-se passivel de um estudo sobre proceso pelo qual o real se esvai quando o representante constrdi a representacio. ” Deste modo 0 encontro entre imigrantes, perseguigdes, fugas, perdas de elos identitarios, descoberta de intimeros outros, aparecem no discurso policial, nos documentos dos representantes do Itamaraty € nos depoimentos dos participantes desses processos. Num contraponto com a temitica da Intolerincia, as representagdes (acerca daqueles a quem as politicas de direitos, no territério nacional ou no espaco globalizado se dirigem) propositoras da tolerincia, podem muitas vezes, em suas “auséncias”, revelar intolerancias politicas, religiosas, culturais, dentre outras, ou abrir a reflexdo para o hibridismo assim como definido por Nestor Canclini Pensada como ponto de partida para o estudo das formas, a teoria das representacdes ¢ 0 multiculturalismo contribuiu pata o entendimento da construgio do discurso ¢ das normas dos direitos (civis, trabalhistas, politicos € humanos) ocupando-se nio do resgate 2B Movimento Sci on Amie ati: Defi Tetris espn de Gobi de representacdes — 0 modo como se representam os representados ~ mas essencialmente da pratica social de ambos. Neste livro, espera-se que o conjunto dos textos apresentados possam servir para um didlogo fértil sobre o interculturalismo como meio de se definir o singular e as trocas geradoras da tolerincia num coexistir mais rico. NOTAS * CANCLINI, Nestor Garcia, Diferentes, desiguai Janeieo. Editora da UFR). 2005. P 16. *LEFEBVRE, H, Sur la presence et I’ absense Paris, Casterman, 1980. > Idem, ibidem + Paea Nestor Canclini, a multiculturalidade supae a aceitagio do heterogénco: a interculturalidade por sua vez, implica que os diferentes si0 0 que sio, em relagoes, de negociagio, conflitos ¢ empréstimos reeiprocos, Idem, p. 17. Ver: GADAMER, GH, Philosophical Ermeneuties. Berkeley : University of California Press, 1977 “RORTY, R. , “Contingency, Irony and Solidarity”. Cambridge; New York Cambridge University Press, 1995 TLYOTARD, J. F A Condigéo Pés-Moderna. Lisboa Gradiva, 1989. * RAWIS, } sobre o uiltaismor Teoria de la Justicia. Mexico: Fondo de Cultura Eeon6mica. 2003. * BOURDIEU, P. “a tarefa do socidlogo jamais consisiu em se ocupar essencialmente de aspirar o social mas em adquitir um conhecimento real dos mecanismos que 0 governam.” In A economia das trocas simbélicas, Sio Paulo: Perspectiva 1987 GEERTZ, C. A interpretagio das culturas, Rio de Janeiro: LTC Editors, 1989. "RICOEUR, P. Tempo e Narrativa. Campinas: Papirus, 1995, ® CANCLINI, NG, op. Cit, p21 ™ Tem, ibidem.p2t LEVLSTRAUSS, Claude, Anttopotogie structurel a deux. Plont, 1973. p. 383 384. } FORO INTERNACIONAL SOBRE INTOLERANCIA, in A intolerncia. Rio de Janeico: Berteand Brasil, 2001 ™ SANTOS, B. de Souza. Ver: http://wwwplancjamento goxbr/arquivos_down/ seges /publieacoes/reforma/seminario/Boaventura PDF ¥ BOBBIO, Norberto. A Era dos Dirdias. Rio de Janciro, Campus, 1982. ™ EISEMBERG, Petes. Modernizagio sem mudanga: a indistria agucareira em Pernambuco. 1540/1910. 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Sur la presence et 1’ absense.Paris, Casterman.1980. = LEFEBVRE, H.-A Vida Cotidiana ¢ © Mundo Moderno , Sio Paulo: Atica , 1991 8 Sobre a nogio de movimento social ver GIRARDET, Raoul. La societé militaire dans la France Contemporaire. (1814-1939), Pars, lon, 1953; MALRAUX, André. Les voix du silence. Paris, Galerie de la Pléiade, 1952; BASTIDE, Roger. Le réve, Ja tanse et la folie. Paris, Flammarion, 1972. MARSON, Adalberto. Lugar identidade na historiografia dos movimentos sociais in BRESCIANI, MS. ¢ alli Jogos da Politica. Sio Paulo, Marco Zero/ ANPUH -SP. 1992. © Ver ainda sobte as representagdes: LEFORT, Claude. As Formas da Hist6ria Sio Paulo: Brasiiense.1979,; RICOEUR, Paull Tempo e Natrativa, Campinas: Papirws. 1994, 23

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