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Capitulo 4 Uma utopia brasileira Rios € Mattos (2005:50) claro por que a que ito tardiamen- D: discussio nos capitulos anteriores re social no pode emergir durante o Império s orem social como uum todo estava ancorada no trabalho esctavo ¢, quando a questao social foi verbalizada como ,aquela ordem |festava em busca de alternativas para 0 "pro Paulo, entdo em vias de tor pela maciga imigragto estrangeira. O antiescravi bertos pelos anos de cativeiro, Importava a liberdade, e que 05 ex-escr fizessem dela o que bem entendessem, De uma penada, o Brasil termos com a civilizagao ocidental, ao ttansformar em cidade © perfodo s6 muito Tonge no qt d tes como uma ordem aut 20 da sociedace do trabalho no Brasil ainda que com os pés as, mineiros e cariocas. Ao colocar adiante fe representado por de parte del: somaram a essa forca irre jo por Campos Sales, E as demandas da ordem econdmi- is complexa somaranse as demandas de diversos artfices também mais e mais complexa, Parte destes a, se bem que lentamente, sas urbanas, A por vezes com quica permeabilizou-se m a seus projetos lates, apresentados 0 avancar ar a ordem de sigual, uma expresso i proprio Varges anteciparia, se converteu em poderoso mecanismo de reproducto das de- sigualdades entre nése, ao mesmo tempo e agora surpreendentemente, de Jperabilidade gocioecondmica das massas: aw pla legislagto sociale trabalhist Essa ule, io dos egletivos subalternos utbanas, com wvassalada pela repmtssfo 208 A sonstrugdo da socledade do trabalho n as grandes sociodiceias, ais 0s projetos de trans- (0s engenheiros sociais, em que patticipo nesmo denominou “governo revolu depois reunidos em Oliveira Vianna (1951). Nesse extra -ologia da promoga vista. Ainda assim, e esse é laglo socigl ¢ trabalhista mu ambienwe host vida uutras promessas porque corporificada mesmo. ( ue 05 dreltos i sé esto garant 0 brago possante do cs sa capacidade pessoal para se afirmar pot o séculos de nossa evolueao fe ensinam. |, de desamparo, de ineapacida 240 A construgo da socledade do trabalho no Brasil passada de uma a outra geracto através dos sée 1 que esse povo desamparado ge submetia aos poderosos locals? Por necessidade, obvi mente, mas também porque esse povo era bond: gente, pacifico, ‘feito de amabilidade, generosidade eddoc € que do povo nao se devia esperar 's para a melhoria de sua propria pendria e fraqueza, Entre nds a luta de classe nto encon- apesar de seus efeitos em geral benéficos em termos de construcao da solidariedade social, quando resultante de din: diferente da brasileira Libertar 0 1 social v0 do jugo dos poderosos lacais e pro: move-lo. cidadania plena era tarefa civilizatoria que cabia a0 Estado, © que este ndo precisou ‘“lutar contra ihas de cor, contra antagonismos de classes, contra édios de racas"$ Resulta que a tarefa da revolugio, dife- rentemente dos paises europeus, ndo foi a de assegurar a paz social, jé de dole do povo, mas sim a justiga soci, oblierada pela natureza individualizante e degradante de nosso pracesso civilizatori ra Vianna (1951:54) propegandeia um ariicio, uma engenbaria ada para a integracdo do Brasil no “movimento inco 1, de extensio universal, que constitu a politica de restauragdo das massas trabalhadoras na posse e na consciéncia da s A palavra forte dessa engenharia é, ndo casualmente, indusdo. o excluidos da fruig Vargas teriam sido ti dacle no emprego, o que gerou um compromisso miituo pelo bem-estar de uns e a prosperidade de outros participacto nos sindicatos como orgios estatais lamente incluidos: na firma, por meio da estabi tre as classes Estado, por meio da rmecanismos corpo- também as classes superiores; rativos de tomada de e na sociedade de co minimo ¢ da previde pontyel aos trabalhadares, que ass nna doenga. Aos trabalhae moras de segu social digs na velhice € Mas esst 2a das "prestagoes humilhavam o assistido” e, sim, a fo da caridade, reconhecidas, asseguradas e ministradas pelo poder public © autor nio tem duivida: a revolucio trouxe aos trabalhadotes “seguranca m de ter promovido a “elevacio e dignificacto progressiva das doras dentro do regime capitalista, Isso quer dizer, porém: 1s escalas de hierar quia soc categorias da sociedade (..) mas, sim, fazendo as classes trabalhadoras p Ulharem progressivamente das \cdo vem assegurando, ha mais de um século, o conforto, o bem-estar€ a dign las classes supe’ Everdade que, no mesmo conjunto de pria empreitada, Oliveira Vianna (1951:127) reconhece q das benemeréncias ou servigos, prestados pelas nossas ins videéncia sociale sindicais, representa um quadto nem sempre conforme Reconhece que a pre lade humana e so 0 operarios esbarraya em problemas d sem conta no o fato de sua penuiria n as *formidaveis possibil liveira Vianna nao se resigna di igdes incapazes de cumprir suas pron fe desenhava ins Wo que 0 mesmo Estado queria promover ania. O desenho seas insttaigbes era justo emt si mes 10 futuro, para o que o ttabalbador devia ter p: cia. Os limites estruturais a vigencia da obra sanes como superaveis por obra do propria Estado, e extemo a relag opbecimen mesmo que dizer que @ toda parte, deveria ser 0 com: a ease contratual privacla como um de- ado, estabelece: Imos contratuais, ex amte de seu res endidos, propriamente, como minimos ci como tendo sido firmado entre iguais. O estabelece como os limites de sua jos aquém dos quais, rnenhum contrato ¢ reconhe reito defi propria sustentabil Vargas, 2m 5, esteve sempre cons- ito do trabalho, mas tinha melhor Vianna sobre seus li izatdrio do di es num pafs como 0 Br va informar os trabalhadores, anualmente, s ;pleto edificio de "promogao do homem bras jr da fixagao do homem no campo, embora dos aos operities ruts, aos que, vangens da cviizagto. (.) os de rebanhos, extensas past a piblica que o agdo rural aumente para absorver a crescent 0 Grosso, E necessitio & vel elevar'a capacidade aq Como se vé, Vargas tina exata nogao das injungoe: seu projeto civilizatério, O Brasil era um pats rural, com pouc 3%6 de proprietarios de terta, apesar dos 70% de |: ers dos quais assalariados anibar ao menor rderia ser melhor em outro luga Fixar as populagbes rur no fossem estendidas as benesses da civilizagao que a tevolugde cons truta nas cidades. Na vetdade, a impotencia diante de inexoraveis ¢ incontrola ‘namicas poplacionais hé muito tirava o sono do estadista ga discurso pronunciado na Bahia em 11 de agosto de 1933, consequencias do fim da escravidao para as populagdes diretamente af das, Vargas ditia pois, ndo seria posstvel se ao trabalhador ruse d ‘no. EL nas caatingas, viviam ais empobrecidas, o leu das eircunsttncia do clima ea gua de recursos, vegetar desenralzads, por dia por dia, jungidas a voracidade dos noves senhores, que lhes explorarn 10 rude como se fossem compastas de retard icou-se o éxodo dos habitas des de trabalho abundan de vida intensa. O pr inando 1s quase ndmades, vivend ios servos da jo semelhante desorganiza fe bem recompensado, para os centros urban letariado das eidades sumentou desproporcionalamente, 08 males decorrentes do excesso de atividades se pauperis 0 € to cocupagoes fixas. as que nao Locassem, 5, Nem nos Interesses agrarios ainda fortemente representados 50, nesse sentido, €0 recon vis-d-vis os poderes apratios a de quase 30% em longe do dobro propagandéado " Oesre que a idagio ctescera, a populacao também, ea tgxas alias, ‘o.gue terminay por anular parte dos efeitos da_melhoria d: ume uteple como a populagio também cresceu 20% no pertodo, 0 isso, as despesas ganhavam novas le Pablica, criados em 1930. J em 1939, dos 4,3 valentes a 96 mi 104 70% do gasto com a ‘um membro de uma familia de classe média carioca em um anico mes ara educagio € saide, € 3,7% para 0 sociais mats ‘a maior part defesa e viacio e obras publica eloquéncia do discurso apologético varguista aapesar da ecionamento 20 posstvel fracasso de seu pro ncontralavels (porque 10 che gislagdo soct a da’, Em livro de 2002, put iongamente a ideia de que a legislacdo \uida "a sti brasileiros em ki ue as condigoes contestacao 216 ‘A consirugao da socledade do trabalho no Brastt ses tentaramn se apropriar dela como um corpo legil que citcunscrevia seus a pena lutar* Antes de desenvolver ,cumpre avaliar 0 eal alcance do primeiro 5 vezes neste estudo que o Estado é uma orem jurt- dica em busca de laticidade, Nao foi diferente no caso da ordem juridica que Vargas tentava construir. Ao colocar no centro de seu projeto de poder oenfrentamento da questo social, Vargas e aliados, sobretudlo os tenentes, a regulacto estatal na chave dos direitos saciais. certo que o jento operitio havia perdido todo o impeto apresentado em seguida a revolugao bolchevique, tendo chegado as portas do movimento de 1930 ragmentado e derrotado." E¢ pouco provavel que conseguisse, por meios proprios, protegto legal na extensio daquela instituida por Vargas. Mas ical previa & Revolucao de 1930 foi iva da Primeira Republica, como vimos lo 2. Vargas, desse pont incorporou as demandas dos sem seu projeto de.construgjo estatal, traduzinclo a seu modo ‘que deve ser encarado como um verdadeiro esprita de época, cujos prin- is marcadores haviam sido a Constituigao mexicana de 1917 (a primet- do trabalho, “instanciando” os preceitos a doutrina social da Tgreja Catslica), a revolugdo bolchevique do mesmo ano, 0 Tratado de Versalhes e a cons- lituigdo da OFT, ambos de 1919 e dos quais o Brasil era signatatio, o que cobrigava o paisa assumir 0 compromisso de instituir uma politica social ‘Alem desse espfrito de época, nunca serd demais lembrar que, mesmo que o mundo urbano acolhesse nao mais do que 30% da populacto brasi- 18, percentage diminuta se cmpregassé na industria, alvo -gulacto varguista, essa ndo se antecipou aos fatos, estan na verdade, perfetamenip emda com a ameaca vsivel do pauperisino que * © ésado rural vinha proyocando nas grandes cidades, Assim, qn 1940, exiguos 7,7%. dds brasileiros empregavam-se ni gfe, Mas, no Disuito Federal, a proporgao era . consicerancdo.se | | a populaggo como um todo, ¢ deve ter atingido 16% na cidade de Sé Paulo. Calculada em relagao 0s economicamente ativos, a taxa deve itrapassado os 26% no DF ¢ os 38% em Sdo Paulo,” e se considerarm« apenas os homens ¢ provavel que se chegasse a 30% dos ocupados no D ‘ea mais de 40% em Sao Paulo.” Ainda no Distrito Federal, e excluinds ‘05 empregatios domésticos, 75,6% dos ocupados era assalariados, questo social especificamente moderna, parteira de revolugdes sociais dos movimentos de reforma que desaguaram na legislacio social europei cra vistvel no Rio de Janeiro, capital do pais, e em Sio Paulo, ja important centro industrial, ee jue Vargas pensava estar respondendo a0 pr jegal de protecao social. Como, porém, o Estado em t formagao permanecia raquttico, uma coisa era insttuir normas legal coutra bem diferente era dar-lhes efetividade. Essa tarefa coube, em gran ‘medida, aos proprios trabalhadores, tanto individualmente, nos tribuna do trabalho ou na resistencia mitda no cotidiano das empresas, quan através de suas instituigdes representatvas, isto €, 05 sindicatos moldack pelo mesmo Vargas. A “cidadania regulada” e além Como | indiquei, a obra legislativa de Vargas no sera abjeto « analise aqui, A literatura sobre isso j4 6 bastante alentadla ¢, embora substancial controvérsia quanto 20 significado da legislacio, no 0 caso quanto ao seu contetido,** Tampouco ha espaco para a acto sindical e da luta dos trabalhadores sob Vargas e depois, algo perspectiva que estou avaliando a construgio da sociedade do trabi Brasil, quer um volume préprio, a sair em tempo oportuno. Neste pass gostaria apenas de apontar a plausibilidade de uma nova interpretacao s bre aquela obra leislativa de protegdo social, para o que pat da premis de que o leitor conhece minimamente suas linhas gerais, que incluem instituigto de um salério minimo, jornada de trabalho, descanso seman remunerado, férias, protegao ao trabalho da mulher e do menor, compe sao a familias com niimero elevado de fithos, crédito subsidiado para aquisigto de moracia, planes de aposentadoria, uma justia do traball !agdo, esse arcabouc ide rmais geral, Toro como pot para mostrar que ela consti incorporagio social das massas até entdo desdenhadas pelo processo de construco da nagdo, promessa de grand perangas, horizontes de expectativas e sobn izendo simplesmente, “quem tem oficio tem 1988:185 e segs), Oque pretendo definigho de cidadania regulada, levarmos Ja de Castro Gomes grou dase abriam e se fechavam varias vezes ao longo das trajtdrias de modo que a incluso no Je do trabalho no Brasil te dessa caréncia decortia das io rural, quase ser igem na ideia nada ire em tentava controlar, a ; higlenizar ou simplesmente perse lo, para obter uma carteira de trabalho ou qualquer outro thos na escola publica (que ferecer as vagas necessérias & educa- icos de satide (idem), o registro era de nascimento, pois, era 0 primeira cruzada pelo acesso aos din inda em 1948, portanto ja muito longe no processo de consolidagao da cidadan Rio de Janeiro nao tinham ‘continuaria, por décadas, ineapaz ‘¢do da populacio) ou ter acesso a obrigatorio, A obtengao de cer asso numa sempre co civil, conseguir a carteira de trabalho, a “cenido de de Santos, exigiaesforgos adi dor precisava pre incluindo estado notes dos pais, além de lev incipio, sim provadas docu: has portadaras ios de empreg ndo pudesse ser provada por documentos) emia que o do« 9, € sendo 0 caso, er pouco provayel do desvio pretérito. Mas havia mais, Se h war que estava em dia com 0 servigo mi cisavam de tr testemunhas, uma das quais dispos lada que compunka o prontuario do pedido candidatos exigiam-se diplomas ou cartas de empregadores provando sue habilidades profissionais, ou entto, de novo, a vestemunha de dais port: dores de carteira de trabalho. Por fim, a carteira custava Cr$ 5,00, um vale excessivo para desempregados e trabalhadores que recebiam um sali minimo ou menos. A muitos essas exigencias se afiguravam como verd deiras barreiras 4 entrada no mundo dos direitos, aspecto tecorrentemen! al publico, pars quem as reg ram “muito pesadas” para os mais pobres.2” ") lamentado por profissionais do servico de obtengio da ca Esse breve quado impée pelo menos duas especificagdes important a0 conceito de cidadania regulada. Primeiro, como sugerido, 0 processo ¢ ‘nstituigdo da legislagio social gerou por muito tempo mio uma divisio cla entre inclufdos e exchuidos, mas um continuum que fez da inclusdo una p ‘messa mais ou menos distante segundo o lugar que o trabalhador ocupay na estrutura de distribuigdo de recursos monetaris, bens, servicos, reco ;pensas e, obviamente, direitos. Num extremo estavam os muito pobres, terminando com aqueles ce titulares de dire formar todos os direitos no papel em beneficios concretos.” com hase nesse arrazoado, que os direit war o mar bravio da buroct tavam a tim empre] isso, como hav jo", bastando para isso que o trabalhad ipecaveis, con reins de se chegar ao “privi seguisse normas que ao Estado p am formalmente trabalho era vista como fracasso pessoal, sobretudo porque outros (vz hos, pal Estado que ondo barreiras burocréticas a trabalhadore amigos do fracassado) conseguiam. normas do Estado enc uma nova cidadania Este ultimo 1 fot atentado por Fischer, 0 que e, € € ele que me interessa mais de perto, Or: pecto mem arimo de far profissio na profissa lar de direitos sociais egulamentada pelo Estado." Esse homem, para 05 dat que a tarefa da re 1a umn pre para toda a nace, a ser, is medida que.cada oat lagao {rs idedlogos, nao exist > seria, j mente, se pusesse A altura do que ‘seu proprio bem". E le que, obviamente, houvesse emprego regulamentac n Se apresentava aos brasileiros como umn a demand: ow _ 223 produziu efeitos palpéveis em termos de legislacto social, Sob Vargas, a0 contrario, os direitos estavam ali, completos, a mao dos que se dispuses- sem a se enquadtar nos requisites definidos pelo Estado, O trabalhador ja rio precisava, como acontecera no modelo classico de construc estatal tar pelos direitos. Bastava a ele encontrar 10s melos para se titular nados, meios que o proprio Estado ofetecia, E, muito importante, se ainda assim o empregador se ne- gsse a seguir a lei, o trabalhador podia recorrer ao Fstado para garantir sua efetividade, pelo menos ideslmente Isso quer dizer que, malgrado 0 discurso apologético de justificagto do regime varguista, a legislacto trabalhista e socal terminow por instaurar, no ambiente em que incidiw, um campo legitimo de disputa por su cidade, cuja mat proprio Estado, Com isso, zonte da luta por direitos tornou-se, legitimamente, o horizonte da classes no pats, A cidadania regulada, nesse sentido, converteu-se na forma institucional da luta de classes entre n6s: uma luta por efetividade dos direitos existentes, uma luta por extensdo dos dlr profissionais, e uma tos. Isso quer dizer, adk sociais ¢ do trabalho (¢ os servicos sociais de sat ram ganhar faticidade por melo da luta regulada de analisado por Oliveira Viann os beneficios sanci os a novas categorias novos dirt ue tanta enengias consumiu doses , mo processo de tornar-se real no m ‘pelos trabalhaclores,¢ a cidadania regula lo dessa apropriagao em seu processo mais te precisavam lutar para vé- pessoal e coletiva, Essa luta, por fim, nao estava rmaneira, e foi tal que nao consegu darlhes a faticidade pretendida por seus idedlogos e, depois, pelos pro: prios trabalhadores, organizados ou ni A promessa ¢ o Brasil real ind es que Hentosos € estavam muito além da capacidade de intervencio dos pré ios trabalhadores. Antes de mostrar por que, cumpre reconhecer que parece paradoxal que a cidadania regula tminada parcela da populaglo, se pudess vas. O descanso erado idem. A aposent xdo © mundo, 6 muito outros que ria os tabalhadSres assalariades.® Para de cidadania regulada faga sentido, o problema nunca € universal, no sentido de coextensiva & populagao ct sua condigto de de ditito, mas, p ar € conseguir um emprego regalamentado, como 8. O pré-cidadio €consitutiv do conceito de cid recisava se oy, mais propriame passou a valer a pena lular que lizou os piores temores de. Vargas quanto aos riscos do éxodo rural oral, econdmica e social do homem brasileiro. A jeto de eleya 22 idade das condigdes de vida da grande maioria da pc ppulago — estivesse ela lotada no mundo agrétio, nos bairros rurais ou ns aldeias e pequenas cidades interioranas, nas periferas das grandes cidadk 1/em seu centro de gravidade —~ tomnava-a predisposta a busca de digoes minimas de sobrevivencia em outra parte, sempre que a vida att al, por qualquer motivo, se Ihe afigurasse insuportavel migragoes no Brasil nunca se cansou de apontar que catdstroles natura a fome momentanea ou est cou mesmo a desagregacio rotineira 0 violenta de formas tradicionais de vida nao representaram motivos esp ra a migracao das populagoes rurais.® Quando muito, apressavat ou antecipavam movimentos que de qualquer modo ocorreriam, A mobil dade geogrifica sempre foi caractertstica dessa populacio vulnerdvel tentou extrair seu sustento de ambientes sociais caracterizados pot gr literatura soby tes diferencas regi Pois bem, a partir de determinado momento no quinto século br: sileiro, 0 passou a exercer irresistivel forga gravitacion ndo movimento avassalador de pessoas ¢ fi em espago muito curto de tempo. Isso estudado, mas ¢ preciso da sobre da.década de 1950 deixaram o, campo o equivalente a.24% da ps rural contada no intcio da década, Isto 6, um em ca 28 10 (mais de uma em cada trés pessoas), ¢ « longo da década seguinte, nada menos que 42% (ou mais de duas em cac 0) da, populagdo rat pecialmente o saldtio minimo servigos publicos de educagao e sade, sempre valorizados pela populace sociais (mui pobre, parecem rer atrado, alm das populagdes desgarradas do camp muitos daqueles antes submetidos aos —padrdes que eram, ao mesmo tempo, rica, airda que subordinada, como vimos no capitulo 3 — que, de out maneira, talvez tivessem pe turbanos, nessa interpretacio, e 226 Acer os trabalhadores rurais passaram a julgar sua condic com isso, e de maneira profunda, o patamar da aceitabilidade de sua tra cional pentiria e subordinagio."* Impossivel argumentar, contrafactualmente, que os desgarrados do campo ou das vilas do interior do Brasil ndo teriam procurado as cidad se nestas 0 mercado de trabalho nao tivesse sido ordenado e regulado, tor- ado a utopia integradora dos direitos sociais € \dade com um argumento des hdes dle pobres e miseravels q séculos fizeram-no porque era este 0 b no havia alternativa para eles 5: outro ¢, nao havendo espaco coutra em algum uy nessa situagdo teria preferido migrar para as cidades assim habitaram cchefe fazendeiro ou as de milhares detxaram o Nordeste em ditegio a Amaz0nia nos dois ¢retornaram a sua regido, também as centenas res, em seguida 20 e590 ‘ria das condigées de vida em suas regioes de origem.* A atragao de nao dlferiria da atragio pelo Eldorado amazénico. A cidade mo argamentaea Vargas, o lugar de auratividade dos Departamento Nacional de Imigragto, que estudava casos de imigrantes que passaram pelo Servigo de Eneaminhamento de Trabalhadores no Rio de Janeiro em 1949. A forga posta nesses termos: os ciclos ou em resposta reitos sociais A carta do parente nao proct bem mai 30, Mencionava também. as me vtoo! 227 junto da informagzo que parecia configurar, para o burocrata ministerial, 0 que estou de Na mesma direcio, em 1973, em pesquisa sobre moradores de favelas ‘em Campos do Jordto, Schithly (1981:07) encontrou que apenas 18% dos 190 entrevistados tinham carteira de identidade. Poré tabalha- profissional, emibora apenas 61% minando “atratividade dos direitos", dores da amostra, 82% possaiam cartel ‘ivessem w profissio de identidade, mesmo que a posse daquele documento ni de trab: a de uma promessa, Do mesmo modo, dos 134 migrantes que res- ¢ acesso ao mercado fo 10, sendo para muitos apenas ponderam a pergunta sobre as razBes para a migragio, 42% mencionaram 1 busca de “melhores empregos", tendo 48% deixado sua cidade ou vile natal por Quanto da promessa de direitos estard es- condida na busca por “melhores empregos" édiffcil aquilatar."* Mas parece plausivel supor que essa motivacio estivesse presente em bi ta de emprey parte dos raziam consigo sua carteira pr Evidencias esparsas como essas, mas nao menos robustas, povoarn a ratura sobre migragdes do campo para a cidade no Brasil sobre a estando muitas vezes invistveis aos pré- Lopes (1967:34), a0 analisar a5 m lagdo do mundo urbi Pouco mais adiante, no mesmo parigrafo, J alhador} declara que veio co} insticuto e dar educagio aos nais “motives dest ordem’, no caso de oper realizada por Lopes, queriam diz da pesqui a associagao do trabalhador a 228 pela segunda promessa mais importante do desenv como veremos na segunda va a educayao dos mo meio de ascensio soci ‘um pouco mais adiante, o mesmo Lopes (1967:51) sustenta i--vs as outras ocupagoes urbanas, "nao c oferece dada, na mesma fal te deste livro, a tos valorizam o empre 56 em funclo do salario, como també: centralidade nas motivagdes dos que buscaram as cidades 20 longo das décacas. Fssas evidéncias sobre a adesto ds brasileiros promessa integradata dos direitos sociais sugerem que, se 0 processo de inclusto dos nacionais niverso desses direitos foi desigual e intermitente, por outro lado, a lade de inclusdo na cidadania regulada parece ter sido sbalhadores ti isttados em car dares de di a ou servidores publicos, ho urbana no pais. Contudo, tudo indica que a imensa alhadores, empregades ou ndo, ativos ou nao, se havia ‘acesso a um emprego formal, caso este aparecesse. re a figura 4, q do crescimento da 6, 08 “apresenta as ct carteiras de tral smitidas, e do nimero de contribu austncia de indicadores mais precisos, funciona aqui como medida apro- Ja da proporcio de trabalhadores lotados no segmento reguilado da te acurada, pois até pelo menos jposentadoria estava restr funcionarios pablicos.* Os valores no grafico expressamn a tral es sto portentosos. Ein 194 PEA urbana era composta por poue 5 miles de pessoas. Até ali, 229 © Ministério do Tr menos de 1 milhdo de carteiras de traba- tho, € os contribuintes para a previdencia eram pouco menos de 2 milhoes © trabalho regulado € 40% dos ocupacos nas cidades.” Entre 1940 e 1950, a PEA urbana seria acrescida de 1,8 mi thao de pessoas, enquanto aos contribuintes para a previdencia somaram- 2 milo de trabalhadores. Contudo, 0 Ministério do Trabalho se menos de cemitidas 150% mais carteiras do que o cresci do que o de beneficiérios da previdencia social. Isso parece uma indicagao bastante forte de que os trabalhadores acreditavam na possibilidade de sua incorporagio pelo mercado formal em consolidacio, jé que se habilitaram para isso (isto é, tiraram sua carteira de trabalho) em proporgo muito superior a propria oferta de postos de trabatho (aqui mensurada de ma- neira muito aproximada pela PEA urbana). Mais do que isso, tinalago {oi muito superior a capacidade de regulagao pelo sistema previdenciatio, isto €, & capacidade de incorporagio dos novos citadinos pelo mundo dos direitos sociais e do trabalho, e isso num ambiente de enormes restrigées bburocraticas 8 titulacio. Ao que parece, a crenga na promessa dos direitos precisa figurar entre as explicagoes para a habilitagio sempre n ibilidade desses mesmos diteitos por parte dos trabs que migravam do campo pata a cidade. indimica se aceleraria nas déc las seguintes. En ais carteiras do que o_crescim aca menos do que 377% mais do que o cresc de contribuintes previdencidrios. Entre 1960 e 1970, as cart superaram 0 crescimento da PEA urbana em 213%, ¢ em 271% nos seis posteriares (até 1976). No perfoclo considerado aqui (1940-1976), foram titulados com a carteira de trabalho 2,78 vezes mais brasileitos do que aqueles efetivamente acolhidos pelo sistema previdenciario, ¢ 1,92 vez ais- do que os que figuraram. na propria PEA." Isso quer dizer que 0, s ia social corresponden a apenas 38ik-do aumento dos que se ricularam coma carteira de trabalho no pe- rfodg. Nesse quadzo, aquele primeiro valor (2,78 vezes) deve ser tomado emitidas, como a medida mesma da inflagao da crenca dos waballiadores brasileiros na promessa cos din vezes superior as possibilidades reais do mercado formal de traball 3s msimeros de o iva de desconta das esperancas no ao longo de mais de tes décadas. rmaneira, pode-se dizer que a taxa obj protecto social foi de 62%, proporgao de titulares de carteiras de trabalho que excedeu a de contrib 1go dos anos, zando, assim, os piores temores de Vargas quanto aos riscos que a migrag rural/urbana representava para seu projeto cvilizatério. es previdenciarios a0 | gura 4 Evolugio da PEA urbana, do nlimero de carteiras de trabalho expedidas pelo Mlnlstério do Trabalho e do nimero de contribuintes para @ previdéncla social — Brasil, 1940-4976 (peas ees 7 o |__sneg' ~ iat ~~ con — vaio e080 oie ov Cabe notar que, se as promessa de desconto pelos fatos, patee para parcelas cres em para parte dos trabalhadores rurais”), un jos rabalhadores urbanos de referéncia normativo para a estruturado das expectativas individ coletivas quanto aos padrées do que se poderia denominar “minimos civi- Tizat6rios”, aquém dos quais 0 mercado de trabalho ndo poderia operar de Jorma legttima. Salévio minimo, direito remunerado, abono de Natal (igual ou proximo ao salétio percebido) rimetros que passaram a operar tamhém em segmé ambito de acordos ta tomaram-se mercado assalariado informal, seu largo, pela razio mesma de que os assalariados urbanos esperavam, cedo ou tarde, integrar-se a ele, E essa expectativa era de fato atendida vez por outra no curso da vida empregaticia de homens ¢ mulheres, em tazio das sempre muito altas taxas de rotatividade da economia urbana brasile 1a, sobretudo nas ocupagdes menos qualificadas.” Sio extraordindrias, a esse propésito, algumas trajet6rias ocupacio- nais de migrantes sumariadas por Juarez Brando Lopes em fandador (1971a:41): um trabalhador fot operério por um ano e me ua seu sitid por 21 di reto s meses, operitio por meses € de novo opei mnos, um tereciro foi servente de pedreito por padelro por duas semanas, operirio por um ano e meio, informado, operario por 15 dias e novamente de coi operirio por dois anos ¢ meio, Essas trae ranga socioecondmica que a carénci barganha num mercado E, ao que tudo indica, os ia novamente em algum momento de sua vida e os acolh A promessa e a desigualdade Apesar da adesio dos trabalhadores & para dar faticidade & a, as recompensas a foram quase sempre insuficientes para assegurar a “valorizaga emos, apenas a titulo de exemplo, a fixagio do salitio minimo, propagandeado pelo Estado Novo como ui dos princi pais instrumentos dessa valorizagio, Como também jé fartamente estu- «lado, aquele salario fol definido pelo Decreto-Lei n® 399, de 1938, como “a remuneragdo minima devida a todo trabalhador adulto, de sexo, por dia normal de servic da época ¢ regito do habitag corporad necessidades d regul "Ese texto seria mais tarde in- € aprimorado pela Constituicdo de 1946, que incluiria as hador e de sua fama © Decreto-Lei n® 2.162, que definiu © primeito valor do salério mt- , is para o Distrito o de Janeiro), Hsse foi 0 maior valor arbitrado no pats, foi contemplado com 2206 n nas do Norte ¢ do Nordeste o valor na -réls, enquanto em certas regibes passou 0s 90 mil- imo montante equivalia, em 1939, a menos de embro de uma famtia de 240 mil-réis dava para alimentar 2,6 membros da mesma familia por més e nada mais. O simples aluguel de uma casa para essa farnilia, por sua vez, tequeria 2,6 salérios minimos. E claro que a tenda minima nao se destinava a familias de classe média, que gastavam apenas com criados, em 1939, 200 mil-réis em média, Mas essa conslataciio dé a medida do oder de compra da renda arbitrada por Vargas e divulgada com grande lade nas comemoragdes do 1* de Maio de 1938, Da uma medida também da tolerancia com a desi -mbuitida na legislagao do salério ccarioca gastou por més, em média arbitrado em 1940,” era assumido pelo chefe da mensal de um profissional de rior « 10 vezes 0 salario minimo em 1940 permnaneceu, ademas, congelado entre julho de 1940 e maia de 1943, 0 que representou perda real de poder de compra de aproximadamente 40%, inflagio acumulada no periodo. Os 25% de reajuste concedidos por Vargas fem maio de 1943 nao repuseram as perdas, que dezembro do mesmo ano com mais 27% de reajuste, contr i ional de 12%6.® Mas, embora a Tegislagao comandasse rev seu valor, partir de janeiro de 1944 e até dezembro de 195 no novo governo Vargas, nao have lag, a equivalente 40% da novos reajustes, eo sal nrofda pel 1 valor mais baixo em m {cio do periodo.** Ainds assim, para determinados setores da econo! condicionals « sua efetiva adogao pelos empregadores, algo sempre pro blematico num Estado que contou, pata fiscalizar a vigencia da legs trabalhista* De qualquer modo, ba tornou-se refertncia, grande parte alto: 238,4 ‘material de transpo No ano segu justamente pata os estados de Sao Paulo (220 mil), Distrito Federal (240 além de Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul (200 mil) e Babia ¢ Parand (180 mil), conforme no excede ‘mas ndo nos setores emergentes ¢ mais dinamicos. da por algum tempo. Mas 0 se deverta esperar em setores de te, 0 salar tia, pois, o min *descolados” da remuneracdo arbitrada ai descolamento, contratiamente a0 muneragoes mais altas De fato, em dezembro de 1943, o salario m Cx$ 360 no via deixado de existit em 1942). O sal sas duas localidades em julho da cag 354 Federal e em Cr it que em todos eles os operarivs recebiam, ara como 0 sé ‘novos reajustes ao m te nao aplicou ak 1944 e 1951, quando a inflagto superou os 182% or algumas déc posto ao salévio-base até ali e A consequencia {ol novo descolamento di rios fabris do valor attificialmente arbitra cera intengdo do governo Dutra, que tentava am do salivio medio recebeu Cr$ 835 por Cr$ 360 no Distrito Federal O: . apesat da enorme repressfo ¢ da intervengio em ficados com Vargas ou dominados pelos c parte das perdas Je nova politica de recuperagao inic Sao Paulo (0 mil: distin rego de re arbitrado em pectivamente, portanto superior ao salatio minizno praticado i, congelado desde 1940 em Cr$ 240 € Cr$ 220. O novo valor m ovavel que esse ajuste tena ocortido nos deunais estados da fede- 2 media, em dezembs momo Estado Novo, € 0 lagto que obrigava a te trienal de seu preco (prevista para dezembro de 1946). Com isso, em patamar mui 1 0 papel no na tegulagao da economia. Em 1949, um operstio , para umn salério minimo congelado em rabalbadores industriais parevem 234 eee acne eae cereal inimo legal, ¢ vez mats parecem ter convergido apenas parcialmente para aquele patamar, configurando o jé mencionado “eeito farol” desse prego arbitrado ‘enguanto teto de boa parte das ren ineragoes. nos do que 56% dos trabalhadores urbanos rio minimo.” Desagregando esse valor pel se que 83% dos empregados na industria de trans- , 91% dos operdrios da constructo civil € 95% daqueles lotados em indistrias ext ou inferior 20 minimo,” Em 1966, quando o salério mi ia 36% menos do que em 1959, a remuneragio na industria se havia descolado rovamente, mas apenas em parte: 46% dos operstios paulistas que inham os pernambucanos, 70% dos ‘mineiros (para uma média de 53% dos brasileros) recebiam até um sal minimo, Considerando até dois minimos, tinhamos 78% dos trabalho: res formais urbanos." Como afirmou Francisco de Oliveira (1981), em analise classica,“o leque da remuneraglo dos trabalhadores urbanos nto € uum leque, mas um pobre gallo com apenas dois ramos’, os que ganham at€ um salério mistimp ¢ os poucos que ganham mais do que isso, Eo autor (1981:54) acrescentatia als salaios, acima do este como ponto de referéncia ¢ nunca acto se faz sempre tomando a io @ produtividade de cada amo industrial ou dé raposto A eseas- 10 espectfea do seu to do sistema, A arbitragem do salério m patamares quase sempre es sobre o padrito de expectativas da popula- Daixos teve efeitos impo npos para as cidades ao longo das décadas, como arte deste livro, Ela impactou também a distribuicto 236 10% mais rcos se apr em 1980, 51%.” Esse re- militares, qui prego arbitradk ‘momento em que o Estado volow a controlar os sindicat toda a forga, no sentido de comprimir os salirios das segm icos, ou pelo menos de imped que eles fossem definidos pelo que a denorinou “escassez especifica” de forca de trabalho. res da incapacidatle do Estado Novo e mes- o segundo governo Vargas de-cumprirero sus promessas ¢ darem, cfetividade a cidadania regulada. Por exemplo, o mimeto de, ve cresceu apenas 20% entre 1934 € 1945, 20 passo que, entre 1946 e 1950, interregno que precedeu noya administragio 4s, o crescimento foi de 47% em-telagio a.1945, iso €, duas vezes rwatriculas em espaco de tempo. dugs. vezes.menox”* Na verdade, entre 1942. 1945, o gasto real com educacdo foi decrescente (10% de queda) e, em 1951, 0 Estado despendeu, em termas reais, pouco mais da metade do que havia gasto em 1942, ou o equivalente a Cr$ 9 por habitante, £ ver dade que em 1954 o gasto per capita cresceu pouco mais de 80% em cr- res o gasto por habitante foi apenas 15% maior” O rastreamento dos gastos com satkle ou transporce publico zeiros em relagao a 1942, mas em ria dos trabalhadores era, por sua vez, remunerada abaixo do valor atbittado pelo Estado, Mas isso , medida em que aos trabalhadores foi sinalizado que wma renda digna era direto seu, € que, portanto, era o caso de se lular por ela, mesmo que por injungdes poltticas ou economic © poder de compra do salario q para esse prego arbitrado, os servigos anulou seu aspecto rio, na 237 sentadorias e tu tornara um di Palavra final Mesmo. para boa part fdo ao longo da era Vargas tenha permanecido uma promessa — pois pelo menos o Fin bathadores urbanos ti nculos empregaticos extrinsecos 8 lelslagao trabalhista—, 0 que importa para a discussio em tela neste livro € a de que aquete mundo passow a fazer parte inarredavel do horizonte dl pectativas das populagoes que viviam do trabalho como a insfgnia mesma 0a vide*, medida contra umn pardmetro de grande e multidimensional onomica: a vida no campo. Para boa parte das massas rurais e urbanas, cuja vida cotidiana e de diferenciagao, como vimos nos capitulos anteriores, era mitidos, instaveis, em grande parte invisiveis ao Estado ou ao capit 10 dos ci - do trabalho, ou a cidadanta regulada, ofereceu tum referencial poderoso para a construao de suas identidades indivi ecoletivas. Agora, o horizonte das as o estava demarcado pela pentiia de todos e, sim, pelo sono mogao pessoal pela via do trabalho protegido pelo Estado, urante a maior parte da historia re Imento de privacio telativa, de tao importantes conseque tem sociedades desiguais em processo de acelerada ‘mudanga," nfo encontrou terreno fértil no Brasil, porque os estilos de vida de dominantes ¢ dominados eram incomensuraveis,¢ aos dominados parecia impensével aspirar & posicao dos poderosos, simplestnente por aque cla estava longe demais. A cidadania regulada, ao contrério, estava a0 alcance de todos, desde que cada um se habilitasse aela, Isso estabeleceu ‘uma distingao irresistivel entre brasileiros do campo e da cidade, tornando a cidade um destino irresistivel por sua vez. Essa foi uma das razdes do fracasso do projeto varguiste, e aqui € preciso insistt. Nao importa se esse projeto era “para valer” ou se parte da elite dirigente em torno de Vargas vulnerabilidade e inseguranca soc do Bra para a dinar! 238 via nele apen prio projet de poder.” Ef provavel que motivages dessa: assem muita gente. Mas do ponto de vista que interessa ao. argumento ssas ou de sustentagao de seu areza ani- gulada pareci ‘dealmente, a qualquer um que conseguisse sua carteira de trabalho, m pri © Mas como essa posiglo estava acessive privil burocracia estatal para a obtengao dos stfo social era inconstitucional, ¢ 0 rosto do Estado para a. E.claro,que French (2004) tem razio a0. i combatida de forma sangrenta depois de 1935." apresentar diante dos nacion: como um projeto, como uma orden ju ridica carente ainda de faticidade Estado de sua nagdo e nfo como uma ‘Vargas (¢ aqui eu 0 tomo co est seu Fstado, que havia um proj rele havia Iuger para os trabalha Estado varguista afirmou-se como 0 al) enunciou, diante de uma nagdo até ali em grande med erucao nacional e que ‘menos no discurso s,€ ps Isso representou uma novi- os trabalhadores {que os trabalhadores continuaram submetidos pelas décadas segu primeiro perfodo Vargas precisou competit com essa solida aspiracio trabalhadores por inclusio na chave dos direitos sociais." A c classe dos trabalhadores brasileiros foi, por muito tempo, a consciencia do tos, cuja efetividade esteve sempre em process ¢, ness. Aspecto também pouco at teratura corrente subre 0 to de que Vargas iniciou o processo de civilize npor-the tra wziam com a sem-cerimOnia dos senhores de escraves, ‘mas como pessoas em relagio as quais tinha obrigacdes definidas em Estado varguista impés a elite, em gr la indiferente, massas trabalhadoras dotadas de humanidade e, portanto, dignas de setem reco- mhecidas em sua indfvidualidade, em sua autonomia, em sua liberdade. Mesmo que o empresariado brasileiro tenha resistida profundamente a dar efetividade a regulacto do mundo do trabalho, pte a prerrogativa da indiferenca. Depois de 1945 pela desconfianca, pelo medo e pelo precon ferenga substantiva em relag tem aver com 0 fo do capit capitaistas se d 20 lores no como con 18 dos quais os reconhecimento como “outro” se, € somente se, essa construgdo ocorresse ni da. Vargas enquadrou, pel vi fisica € pectativas ¢ a vida cotidiana dos trabalhadores, rmesquinhas da consumo e aos bens da ci abi raionalidade” (1922:157-158). * Oliveira Vianna, 1951-56. p. 112 e segs, 39-56, 50, 71, 106 "ibid, p. 128 isttuyfo identitaria para as populagoes que vivern Vargas, 1941.261-262. sulada posteriormente & morte de Vargas foi capaz de opor proj temnativos vidveis de do trabalho. "Vargas, 1938, 0 social revelou-se, por fim, poderoso instrumento de reproducio das desigualdades sociais no Bi A imensa onda migratoria, montante a partir dos anos 1940, gerou longeva inéreia social no processo de inc do trabalho, restringindo de maneira vidade da promessa varguista. Mas, como veremos mais adiante, 0 efeito 0 das nia poucas taj possivel em 1943 o Japa invadiu a Ma mazdniea haviam sido prateadas no finel do do litex. A para a produisto de borrieha nas lorestas do Acree do Amazonas, como parte do esforgo de guerra do Beal, Ver Silva (1982) inca, as promessas d 8. de acesso as benesses civilizatsrias& brasi ossiveis a quem fizesse por isso. Isso gerou pitimacdo da ordem desigual de grande wo de sua estrutura mais geral, malgrado ira | ve da fragilidade do coméeio extent, es tvelaaenoime dependéncia da acto em relaga sum punhado de grandes pro rm con a diieuldade de Vr re as arelas do govern revolucon 10 progresiva do ltifindio, protegedo x organizacto © Conform argumentaram Vianna (1999); Skidmore (2003) Ver Gomes (1988), "Para reposico do dads do censo demogrtico, a sam até um salir, no coméccio, "* Dados de Souza (1971:129). Ver IBGE, 1987:75, Taa-se da renda (PPV) encontron que rea do tea efetivamente recebida em cerca de 40%, Ver Barts, C proprio, 2006); ¢, em menor me 247 ma utopia b (2001); « Santana (2001), = Acase propdst, vt Paoli (1988); Weinstein (1996) © apenas nos anos 1980 aquelessimboos foram efcazmentec do moviwentooperiri como herange a ser super ‘ula, como lier sina onirole dos indicates e da negociagto il, Mas 0 projeto dd "novo sindicsliemo” de superago do legado varguita sei mo dos anor 1090, rahladoresbrasleios vram-se na stuagio de precisa def Tre os

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