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SE ne wthie - 23/4D LENINE EM INGLATERRA Uma époea nova da luta de lasses est para se abrir. Os operérios impuseram-na aos capitalistas com a vio Wéneia objectiva da sua forga de fabrica onganizada, 0 rio do poder parece s6lido; a relagio de forgas & zroso & o domi- jinua a amesga nio do capit operaria, © fécil nfio o ver, # preciso olhar longa e pro: fundamente para a situagio de classe da classe operiria. ‘A sociedade capitalista tem as suas leis de desenvol- vimento: inventaram-nas os ecoxomistas, os governantes , mais profundemente se que € eserita pelos da classe operiria— as formas de dominio ‘Mas como se bi-de chegar & préxima forma de ra dos operarios, orga- nizados em classe dominante? % preciso trabalhar com paciéneia, no seio, na matéria viva, deste explosive ms- terial social. ‘Também nés préprios comegamos por ver primeiro 6 desenvolvimento capitaliste e 88 depois as lutas ope- rérias, B um erro, Tem de se inverter o problema, mudii-lo Ge sinal, reomegar desde o principio: e o principio é a uta de ‘classe operdria, Ao nivel do capital socialmente desenvolvido, o desenvolvimento eapitalista € subordinado fcias, vem depois delas © a eles tem de fazer corresponder 0 mecunismo politico da qua propria pro- dugéo. Nao se trata de um achado retérico e niio se des- tina a ganhar confianga, B certamente urgente desembara- garmo-nos hoje desse vento de derrota operdria que em- pesta desde h& décadas aquilo que nasceu para sor 0 i nario, ¢ néo 6 da nossa época, nunc: é suficiente pare sus 93 mas ume urgéneia priti tentar uma tese cientifiea: esta deve caminhar pelas suas préprias pernas 2 partir de um né histérico de factos materiais. Se assim é, todos sio obrigados a saber que, pelo menos depois daquele més de Junho de 1848, mil Vezes maldito para os burgueses, o3 operdrios subiram para 0 paleo e nunca mais 0 abandonaram: escolheram Voluntariamente, de vez em vez, apresentar-se sob diversos apéis, como ectores, como sugeridores, como ténicos, ‘como trabalhadores, enquanto esperam por descer A plateia pare agredir os espectadoree, Como co apresentam eles ‘oe nos paleos moderns? © ponto de partida do novo discurso: diz-nos que, tanto a nivel nacional como internacional, a actual situa- cio politica particular da classe operéria guia e impde um certo tipo de desenvolvimento do capital. ‘Tra recompor & luz deste principio toda a rede mundial das relagées sociais. 0 dado material fundamental que carac- teriza esta rede ¢ a recomposicéo de um mercado mundial como proceso macroscopieamente em curso, uma vex eliminado o estrangulamento estaliniste do desenvolvi mento. Seria ffeil encontrar uma explicagdo econor © porse a reconsiderar matematicamente o problema dos mereados na producdo capit: » mas 0 ponto de operdrio procure uma explicagio politica, Mercado mun- unicamente significa hoje controlo a nivel interna- ial sobre a forga-de-trabalho sovial. A producdo de mereadorias pode organizar-se, penosamente, numa zona restrite de livre-cdmbio, Os movimentos da classe ope- réria, no. A forca-trabalho operdrie nasce ji historice- mente homogénea no plano, internacional ¢ constrange © capital —num longo perfodo hist igualmente homogéneo, Ora, hoje, 6 justamente wnidade de movimento da classe operari impfe ao capital que recupere rapidamente uma sua res- posta unitaria. ‘Mas como 6 possivel captar esta wi mentos da classe ope Os_niveis movimento operério dividem tudo; as estruturas capita- listes unificam tudo, mas no seu exclusivo interesse. Tao pouco se pode submeter um acto de Inta politica & acio empirica. O timico modo de ver unidade & comeger a organizé-la. Descobrir-se a nova forma da. unidade de classe esta inteiramente impli- cita nas novas formas de luta operdria e que 0 set novo terreno se situa a0 nivel do capital social internacional. A este nivel, munca a situagio politica operaria foi tio 94 clara: em toda a parte onde historicamente ge concentra uma massa social de forea-trabalho industrial, torna-se possivel descobrir e olho ni os mesmos comportamentos colectivos, as mesmas escolhas priticas de base, um tipo fmico de ‘crescimento politico, Nio-colaboragio progra- de uma situacéo 4 tram j4 socialmen Aquem de uma or zagio politiea, ej preciso captar a fundo e compreender os resultados deste periodo de interregno da histéris ‘as conse- quéncias politicas serao decisivas, Nao 6 por acaso que, como primeira consequéncia, encontramos uma dificuldade: a de captar os movimentos materiais da classe na auséneie de niveis institucionais correspondentes, isto 6, 0 nivel em que normalmente se exprime a consciéneia, de classe. Donde o esforgo tedrico maior e mais abstracto que nos € exigido, mas ao mesmo tempo mais claro no plano da fmefonalidade prética, ¢ que nos obriga & andlise da classe operiria independen- Yemente do movimento operério. Como segunda conse- quéneia, encontramos contradigdes e ineertezas aparentes imentos da classe. Se 2 classe operéria possulsse jonaria, 6 claro que esta ia @ parte o ponto mals elevado do refcrmismo capitalists. 0 processo de compo- sigio unitéria do capital a iernacional pode tornar- sso a base material da recomposicto politica da classe operaria e, neste sentido, momento estratégico positive da revolugio, mas 96 se fosse acompanhada de um cres- cimento revolucl é pria organizagio de classe. Na proceso inteiro vive em fungo do capital, como momento thetico de estabilizagéo unilateral do sistema ¢ de inte- gragio aparente, no seu selo, da classe operéria enquanto fal, A operacio histérica do capitalismo italiano, o acordo politico ongfinico entre cat cialistas, pode mesino abrir de novo um modelo cléssica de processo revolucio- nério se cheger a restituir acs operdrios italianos um partido operirio, doravante constrangido a opor-se direc- tamente go sistema capitalista na fase de deseavolvimento democratico da sus ditadura de classe. Sem esta legitima 95 destituigio, 0 dominio da exploragio capitalista tormar- -se-A provisoriamente mais sélido e os operarios serio gbrigados procurar outras vies para a sua revolugio, Com efeito, se 6 certo que a classe operéria impie objecti- vamente escoliias precisas ao capital, também 6 verdade que o capital reeliza eesas escolhas numa fungdo anti- -operiria. No momento presente, o capital esta nizado do que a classe operdria: as escolhas que esta impée aquele arriscam-se @ reforgé-lo, Donde o interesse imediato da classe operéria em opor-se aquelas escolhas, A estratégia operdria visual ¢ hoje de tal modo lim pida que faz pensar que 56 agora ela comeca a viver & época da sua espléndida maturidade. Descobrit ou redes- cobriu o verdadeiro segredo que condenard a morte vio- lenta o seu inimigo de classe: a capacidade politica do habilmente impor 0 reformismo ao capital e de o utilizar brutalmente para a revoluglo operéria. Mas a posiedo téctica actual da classe operéria — classe sem organizagao | @ tem de ser necessariamente, menos clara © digamo-lo ‘sem receio, mais subtilmente ambigua. 2 constrangida a utilizar ainda as contradigées que cclocain em crise o reformismo capitalistice, exasperar os ¢l mentos que server de freio ao seu processo de desenvol- vimento, porquanto sabe, sente, que um caminho livre Para a operacao reformista do capital, na auséneia de uma organizagéo politica de classe dos operarios, corres- ponde ao oncerramento, por ui longo perfodo, de todo o Proceso revolucionirio, do mesmo modo que correspon- deria & sua sbertura imediata no caso de existir aquela organizagio, Assim, os dois reformism odo movimento operario, deveri -se efectivamente, mas sé gracas a operiiria; quando, como hoje, a capitalista, o interesse operdrio & manté-los divididos. ‘Também 6 tacticumente justo que $6 se encontrem qiando or detrés da classe operdria j4 no estejam apenas experiéncias de luta, mas sim de luta revolucionatia ¢, dentro desta, modelos de organizagio alternativa. Entio, © encontro ‘histérico do -reformismo capitalista como reformismo do movimento operario marcaré efectiva- mente a abertura do processo revolueionario, A situagio Presente ndo 6 essa: prepara-a e precede-a, Donde, por arte operaria, o apoio estratégico ao desenvolvimento em geral do capital © a oposigio téctica aos modos particu- lares desse desenvolvimento, Tactica e estratégia, hoje, contradizem-se no seio da classe operiria, 96 Contradizem-se, pois, o moinento politico da theties © 0 momento tebrico da estratézia, numa relagio complexe © muito mediatizada entre organizagiio revolucionaria cigneia operdria. No plano teérieo, 0 ponto de vista ops. nario nio deve hoje ter limites, nio deve aceitar barreiras, deve waltar para & frente, superando e negando todas as Provas factuais que lhe serao continuamente exigidas pele cobardia intelectual do pequeno-burgués, Para o ponsa- mento operario, voltou o momento da descoberta. O tempo da sistematizacio, da repeticdo, da banalidade erigida em discurso sistemético, estd detinitivamente terminado! Aquilo de que precisamos de novo, desde o principio, & ‘uma férrea légica parcial, uma coragem empenhada para ai e uma ironia desintereasada para os outros. O erro a evitar é confundir tudo isto com um programa politico; a tentagio que preciso combater 6 a de transportar imediatamente esta atitude tocrice para o campo da luta politica, que 6 luta articulada na base de indicagdes de contetido precisas que, por vezes, contradizem justamente a forma das assergdes teéricas’ A resposta pratiea acs problemas préticos de luta imediata, de organizagio ime- diata, de intervengdo imediata numa situagdo de classe, nivel operétio— tudo isto deve antes de mais ser afe- Tido pelas necessidades objectives do desenvolvimento do movimento e 6 em segunda instincla pela linha geral que subjectivamente o impée ao inimigo de classe. Mas a dissociagio entre teoria e politica resulta ape- nas da contradigio entre estratégia e téictica. Uma e outra tém a sua base material no procisso, ainda a crescer lon- tamente, de primeiro dividir e depois opor a classe © as suas organizagdes histéricas, @ «classe operdriay eo «movimento operério». Que quer isto dizer concretamente? Onde se 7 melhor dizer ‘6, clara- © objectivo a atingir é a sélide reeomposigio de uma relagio politicamente correcta entre os dois mo- mentos: no é de teorizar nenhuna divisio entre eles; néo é de praticar nenhuma oposigéo, ema momento algum, mesmo provisoriamente, Se uma parte do movimento ope- rério reencoatrar a via da revolutéo indicada pela propria classe, 0 processo de reunificagio ser& mais répido, mais directo, facil e seguro; em caso contr&rio, o mesmo pro- cesso seré jgualmente’ seguro, mas menos claro, menos decldido, mais longo e mais dramético, # facil ver a obra de mistificagio a que as velhas ongi submetem as novas lutas operdrias, Mais dificil é captar @ continua e consciente instrumentalizagio operria da- 97 quilo gue ainda hoje surge, perante o capitalista, como © movimento dos operdrios ‘organizados, A classe operdtia entregou em particular nas maos das suas organizacdes tradicionals todos os problemas de téctica, reservando-se uma visio estratégica auténoma, livre de impedimentos e sem compromissos. Mais uma vex com este resultado provisério: uma estratégia revo- lucionéria © uma téctica reformista, Ainda que parega, como de costume, exactamente o contrério, Parece que 08 operfirios estic agora, em perspectiva, de acordo com © sistema e que 26 ocasionalmente entram em friegio com rata-se, porém, da aparéncia «burguesay da relagio social capitalista, A verdade 6 que as préprias escara- mugas sindicais sio, politicamente, para os operirios, exercfeios ncadémicos na sua luta pelo poder e como tai as assumem ¢ as utilizam, oferecendo-as ao patrio depois de utilizadas. E certo que ainda tom existéncia, a nivel operirio, a tese marxista eldssica: © momento tactico compete ao sindicato, ¢ momento estratégico ao partido. 4H justamente por isso que, se ainda existe um lago entre 2 dlasse operdria € o s ja tal Iago nfo existe entre fa classe @ © partido, Daqui a libertagko da _perspectiva, eatratégice relativamente as tarefaa organizativas ime- diatas, a cis&io transitéria entre Iuta de classe ¢ organi- zagio de classe, entre momento permanente da lula e formas organizativas provisGrias —consequéncia da fa- Ienola hist6rice, do reformismo socialists e premissa de wm desenvolvimento politico da revolugio operdria, B em tomo deste mecanismo de desenvolvimento, néo jf do capitalismo, mas da revolugio, que deve ser violentamente chamada a atengio da investigagio tebriea ¢ do trabalho pratico. Nao existem modelos, A historia das experiénciss passadas s6 nos serve para nos libertar- mos delas, Devemos confiar inteiramente num novo tipo de previsdio clentlfica, Sabemos que todo o proceso de desenvolvimento se incarna materialmente no novo nivel das lutas operdirlas, O ponto de partida reside, pois, na descoberta de certas formas de luta dos operérivs ‘que Provocam um certo tipo de desenvolvimento capitalistico que vai na direcedo da revolucéo, Trata-se de passar daqui & articulagio destes experiéncias, na ase, escolhendo subjectivamente os pontos nevrélg ‘que é possivel atingir @ relacio de produgio caj a, Nesta base, experimentando e voltando a experimentar, trata.se de propor de novo 0 problema como fazer corresponder de maneira permanente uma nova organizagio a estas 98 novas lutas, ‘Talvez entio descubramos que jf se verifi caram «milagres de organizagio:, que se voliario a veri. ficar, no seio destas lutas miracilosas da classe operéria que ninguém conhece, que ningém quer conhecer, mas que no entanto fizeram e fazem aozinhas, mais hist6ria revolucionéria do que todas as revolugdes de todos os Povos voloniais juntos, Porém, este trabalho praties, articulado na base de fétbrica, necessita, para que funelone no terreno da velagéo soolal de produedo, de ser continuemente aferido ¢ media- tizado por um nivel politico que o generalize, 8 em redor este nfvel polities de novo tipo que se deve procurar ¢ organizar uma nova forma de jrnal operdrio: este nio deve repetit e reflectir imediatamente todas as experién- cias particulares, mas sim conentra-las num discurso polltico geral. Neste sentido, o jarnal 6 ponto de controlo, ou melhor, de auto-controlo, da validade estratégica de cada iénela de luta % iar a correcgtio das expe rignciaa particulares, e néo viewversa. Porquanto o dis curso politico 6, nesta base, o ponto de vista total da classe e, por consequéncia, « verdadeiro dedo material assim como 0 préprio processo real, Ii & f4cil ver-se como nos afastamos, nesta via, da pripriaconcepsao leninista, do jornal operdri i base ont em previsiio de uma organizacio bolehevique da classe e do partido, objectivos que s&0, para nés, impos- sfveis de propor na fase actual da lula, de classes, quando © que & necessirio é partir & descoberta de uma organi- zagio politica, nfio de vanguardas avengadas, mas de toda aquela inteira massa social compacta em que se trans- formou, no periodo da sua alta maturidade histériea, a classe operdria. Sio justamente estes caracteres que fazem da classe operéria’ a tinica forga revolucionéria que controla, terrivelmente ameagaiora, a ordem pres ‘Jé sobiamos e, antes de nis, j@ Lenine o sabi antes de Lenine, j& Marx desobrira, pele sua prépri experiéneie humana, que 0 monento mais dificil 6 0 da passagem A organizagio. A continuidade da luta é simples: 05 operdrios apenas precisam de si préprios e do patrao frente a eles, Mas © continuidale da Seaedo 6 uma i : mal se institucio: da pelo capitalia mento operdrio por conte do capitalismo. Donde a rapides com que, passivamente, os operirios recusam formas Orge- 9 nizativas que acabaram de conquistar. Porém, com a lute permanente a nivel de tébrica, substituem o'vazio buro~ eratico de uma organizacéo politica geral com formas sempre novas que 36 a fantasia intelectual do trabalho produtivo consegue descobrir. Sem que se generalize ums organizagéo po revolucionario igrejas partidarias, as litanias democraticas da revolugio, A realidade da classe operdria esti ligada de modo defi. fe de Marx. A necessidade da sua organizagio imente definitivo ao nome golpe genial, Marx até Potrogrado: 36 0 pont de vista operirio podie ser capaz de uma tal audicia revolucio- nfria, Experimentemog pereorrer o caminho inverso, com © mesmo espirito cientifico de aventurosa deseoberte poli- tice. Lenine em Inglaterra é a Protuise de uma nova pré- tica marxista do partido operério: o tema da luta ¢ de organizagéo 20 mais alto nivel do desenvolvimento poll- tico da classe operdris, A este nivel vale a pena con. Yeneor Marx f percorrer do milagre, quando lutar para além dos limites do iento, obtendo objectivamente mais do que os capitalistas podiam naquele momento eon- ceder, Todos os economistas vos diro que a mao-de-obra tbarata estove na base do boom © 0 custo excessivo do trabalho no vértice desse mesmo boom. Subir o prego da forga-trabalho fol um acto de forga operiria que diu, momentaneamente, com uma necessidado do capital © que, posteriormente, a torceu, superou e inverteu, © desequilfbrio saldrio-produtividade 6 um facto politico: deve ser assumido como um facto politico e, como tal, politicamente utilizado, A partir daqui, e por todos estes anos, encontramo- ~nos diante de um’ exemplo macroseépics de utilizagao politica da luta sindical, Com todas as aberturas e limites ‘que isso comporta: luta nas estruturas produtivas, recon- tro imediato com o patréo, possibilidade de incldir ime. diatamente sobre.o Iuero, mas igualmente ilusées sindi- calistas, erros espontaneistas, subestimagio da organi. zagio. Foi nesta base que, por um lado, se reforgou 6 coneeito de «partido de massa» e, por outro, que se res Pondeu com a organizacéo de «grupos minoritérios» para 104 intervir nas lutas, Contudo, dentro de todo este pro- cess0, 0 facto decisive continuou a ser o de a fAbrica, ponto de vista operério, ter retomado a ehefia do mo mento efectivo de classe, das duas classes em luta, F no decurgo desta luta que o sindicato velo a encontrarse & esquerda do partido, desatando e voltando atar em sentido inverso a correla de trensmissao. Nisto, nio fez mais do que sentirse a prossic operdria. Com 'efeito, 0 uso operdnio da lute sindical superou e venceu, durante estes anos, 0 uso eal 2. do sindicatto. Perguntai a um sindicalista se ji the acontocex ter de constranger os Quando o topo sindical lange a agitugio, ‘RA meses j& que os operérios estavam a fazer pressio, a empurrar @ lula por'conla,préprlat © ini oftelal de agitagdo 6, apenas, a oportunidede da luta aberta: opor- tunidade nica, enquanto continuar a faltar uma orga- nizagdo de classe geral, na éSiriea como na. sociedade. # verdade que também houve © continua ainds a haver, tos pontos mais altos de desenvolvimento politico da classe operdri de classes, Aquele nivel, era-laes imnpossivel transfor- mé-lo numa arma polftiea, S6 uma vez isso foi possivel: no Verio de 1962, quando o enfrentamento de classe s2 tornou subitamente agudo, geral, directo e frontal: nessa altura, a oportunidade nio foi perdida, & uma lei do desenvolvimento: quanto mais s elevam o nivel da classe operiria e a unificagio econdmica do c: mais o sindicato tende a separar-se do interesse im tamente operétio para se integrar completamente, como ado, do anlarco-sindicalismoy até & «participacio con- flituals, Trata-se, entre nés, de um ¢aminho em marcha: nfio nos compete paré-lo mas, sim, utilizi-lo. Na fabrics, justamente quando se est a dar 2 instrumentalizacao da uta sindical, vése como o desprezo operdrio pelo sindi- calista atingiu quase o édio de ciasse contra os chefes, os guardas, os téenicos, os engenhelros. E assim sucederd, de futuro, cada vez mais, Mas como organizar isto, hoje, © patrao social? Soe compreendeu ‘hoje tudo isto. Quer, antes de mais, deter aquela dindmica operaria de que’ necessitou, até corso onto, para por ém marcha o seu mecanismo de desenvol- 105 vimento. © centro-esquerda nio veio cedo der ‘sim tarde demais, O capital 6 por tradicio, ento nos seus reflexos politicos; ainda o é mais em Itdlia, onde, enquanto 03 operrios atacam, tem de continuar a conversar, no seu geic, com todos os seus amigos: eamponeses, comer- ciantes, ‘padres, donos de poupancas, estudantes, inte- lectuais, especuladores e empregados de Estado. Assim, enquanto o govern anuncia umes péilidas medidas anti conjunturaig e define a situagio econémica como ala mante, coisa em que a6 os partidos de esquerda acredi- tam, os capitalistas atacam directamente, por conta pré- ponto decisivo, ou seja, o nivel operério, com os ites objectivos precisos: redimensionamento do emprego, reconstituigio de uma margem de segu- ‘ranga no exército de reserva, nova estrutura interna da Jornada laborativa, requalificagio da forga-trabalho a niveis mais altos, melhor condugao da sua mobilidade e consequente redugio dos eustos de produgio, tudo isto pare obter, sem ter de a solicitar, uma trégua salarial de facto, B neste terreno, precisamente, que o ataque deve ser rechagado, Um programa imediato de luta torna-se, aqui justamente, a coisa mais simples de por er prética, A cape 308 operérios resolver as conjunturas do ». Que o fagam Bi st fae aes os patrées, sozinhos. O sistema ivas de agressio mais oficaz contra o poder eonereto des eapitalistas, Nao basta, pols, recusar-se a colaborar na resolueéo das dificuldades con- estas dificuldades ao seu itruturas produtivas, evi- sutravando assin dasie 0 anticonjuntuvais possiveis, desencadeando por toda a Iutas operdtias em resposia ao pedido de tréguas ¢ Impe- dindo, desta forma, a estabilizacio. A blocagem da pro- dugéo, mesmo momentémea, & aquilo que hoje ndo se pode suportar: € portanto necessirio bloquear o produgio em pontos estratégicos. O patrao ataca na fabriea para demo- lis # prossio operiria: pols € na fSbrica que 6 preciso Faque como multiplica i Ein tome doe bepltaintag 0 eoveras propte tins pane de reflexio sobre o sal te lo que se trate, hoje, de intervir: Forgir ‘os nivels mais alles da lula, beter aqul @ espon- 106 taneldade operiria, impor o carfcier aberto do enfrenta- mento, transformar o culto da passividade em lute aberta, arrastar atras de si, com este tipo de violéneie, as v organizagées. Nestas condig6es, renhurna forma de ciativa operéria pode substituir a forma de lata tra nal e fundamental: a greve de fétrien, a greve de massa. Pengunta-se: e depois? Nés respordemos: nfo, por certo, a crise catastr6fica do sistema, Forquanto 6 claro que & estabilizacio da conjuntura acaberé por vir, o equilibrio do desenvolvimento recompor-se-é, a programacio come- gar a funcionar e a estrutura do Estado adequar-se-é eonsequentemente— mas com ums relagiio de forgas dife- fente, com uma classe operdria mais forte, aguerrida © reforgada pelo Tecontro, organizada pela experiéncin, presente no terreno politico fuadamental, Em contra- partida, ce a programagio se impée sem este tipo de uta absrta, comecar-se- a contar também em Itélia, pela primeira vez, desde a instincia sindical até a estatal, E lenda burguesa de uma disyonibilidade politica da Classe operdria para o desenvolvimento capitalista. HA momentos em que se tem de exeolher entre dois tipos possiveis de derrota operdria: 2 isso somos constrangidos Fao pela situacdo objective de clusse, mas por uma terrl- vel caréncia de forgas subjectivas. 1m principio ¢ nos factos, 6 mais favordvel & clasie operéria ume derrota que é hoje possivel um programa ‘conereto de luta imediata, Dizemos que jato se deve ligar, Gomo aplicagio pratice, A visdo estratégicn de um capl- falismo que caminha, no seu desexvolvimento, sobre umn feneadeamento de conjunturas. Dizemos que cada clo daquela cadela ofereceri uma oportunidade de recontzo sberto, de luta directa, de um acto de gorga, e que 0 elo fem que a cadela se partiré nfo seré, aquele onde 0 capital $ mais fraco, mas aquele onde a classe operéris 6 m ‘Donde, o interesse operfrio em eliminar, do capi- talismo, todas as velhas contradi¢6es que medeiam, Limam ft tornam indirecta e imprecisa a lute de classes, Donde, { necessidade primérie, para a classe operéria, de expri- init 2 cada oportunidade, de forma aberta, essa sua Tuta, para creseer politioamente, de maneira onganizada, com Parita e dentro dela, Donde, per iltimo, a tarefa funda- faental, para uma orgenizagio politica da classe, de esco- Ther subjectivamente pontos e momentos de ataque geral que firam a baso ¢ dagam vaciler mais de uma ver, 0 topo Ge’ sistema, construindo assim uma continuidade, por 107 saitos, do processo revolucionario inteiro. Atrés do estorgo ' de deseoberta e de redescoberta das manciras e dos meice mais modernos em que se tem expresso e se exprime a resenga operéria na sociedade capitalista, deve estar bem firme a conviegdo de que no ponto mais elevado, ‘no momento decisive, no enfrentamento frontal, as formas mais clemontares da lute e de organizagio serao Tecupe- radas: a greve de massa, a violéncia de rua, a assembloia operiria permanente, Assim, a teorizagao visual que mais abstrecta parece rolativamente ao momento presente volta a surgir como sendo.a tinion capaz de funcionar na pritica, numa altusgio dada, num momento particular, somo motor dos factos. A est mais complexa reve- lage como a mais facil de aplicar tacticamente: enquanto todas aquelas vias populares para o sooialismo naufre. gam na mais ridicula das impoténcias perante as pre | oportunidades de ataque contra o mecanismo do capital, esta uma nova demonstracio de que ge impée, na base do movimento, uma nova linha para fazer avangar jé a luta da classe operdria, (Maio de 1964), r CLASSE E PARTIDO A busca de uma nova estretégia da luta de cl a nivel de capitalismo avancado esti na ordem do di A urgénoia de conseguir recomper, neste terreno, a pers. pectiva geral ineide sobre o movimento com a forca des grandes necessidades hist6ricas, Este enorme trabalho seré colectivo ou nio sera. Ou coasegue encontrar-se ime- diatamente com o movimento qutidiano de uma massa social operdtia, ou ficara bloqueado, estagneré, andara para trés. Um desenvolvimento aiténomo das descobertas teéricas, separado da organizacio pratica, € coisa que no existe, No existem possibilidades de provisio da lute fora dessa mesma luta. Téo pouco existem palavras de ordem, que o sejam verdadeirimente, sem armas para as impor, Estas sdo as Teis que sovernam a histéria das experiénelas operérias. E se houye outras alturas em que a relagio entre a classe e a sua organizacio polttica tomou 0 aspecto violento de um problema que tinha de antes de qualquer cutro, talvex nunea como joléneia se imponha con a pressio, a iminéncia, @ complexidade e, ao mesmo tempo, a clareza de wm nd histérico que tem de ser politicanente desatado no breve Prazo que as coisas determinam, isto &, do estadio actual dag relagdes sociais, inclusivé as forcas subjectivas nelas presentes, O discarso actual sokre 0 partido tem, antes do mais, de ser Jangado no meio desta forja de problemas ainda em aberto, fundido ns nova forma que o pensa- mento operario pode emprestar ass novos factos de classe, prensado e moldado na sua seca realidade; & preciso olhar criticamente todos os modelds do passado e prestar um. interesse habilmente téctico a algumas solucdes organi- zatives que o presente oferece. ‘Todos estes momentos devem comperecer explicitamente na anélise, se queremos enfrentar no terreno politico o tema do partido de classe. Para tanto, porém, é necessério introduzir imediatamente aut um conceito novo de huta politica ja. em substituigas ie canoe politica operéria em substituicéo incdo leninista entre Iuta econémica individuais ou contra grupos indi- a fim de melhorar a situagao dos (contra o governo pela extensio raria, Sem mi xiemo ¢ sem Lenine, og dois momentos voltaram a divi- dir-se: e, divididos, entraram numa dupla ei crise actual da Iuta de classe, concebida, em c - 7 fe classe ¢ uum partido do povo: uma realidade italiana» que todos temos perante os olhos, ot seja, uma pequena e longinqua referéncia a9 formas coneretas da luta de classe. Para uma extrema confusio, um remédio extremo. A melhor maneira de abolir as consequéncias 6 abolir a premissa. A velha distinga uta econd- mica e Iuta politica tem de ser des! lesaparecerd um ponto cardeal que sempre orientou o refor- mismo mais moderno, post-leninista e com ‘Nio deveria tratar-se de uma, minarmos 0 capitalismo avancado, jé dese pareecu. Ao nivel do capital social, quando jé estio em marcha os mais amplos provessos 2 Estado e sociedade, entre camada classe social dos capitalistas, entre tuigdes de —a este nivel, qualquer limitada a0 terteno da revolugio em Itélia esté ligado a esta perspec- tiva; trata-se de uma perspectiva dura, que exige a cora- gem de certas tomadas de posicio, a paciéncia de inicia- tivas poitieas continuas, a violncis da luta aberta. Todos véem que j& comegou praticamente o iiltimo acto de ara a via burguesa, falsa, da peli- empurram o partido para a vie i tiea operiria ‘renwnciam 80 proprio partido, nfo o liguidam. © liquidacio smo tal que vai a0 ponto de rent B contra esta forma extreme, de oportuniemo Fenuncle t6rio que teremos de dar a préxima ‘batalha, Mas na para nos ficarmos por af. E sim para andar para a frente, direogho 20 partido operirio, . om “Mas tudo isto, que sfo procwsos no tempo, dentr ‘ites de espaco se poder’ verificar? Que horizonte hhistorico se pode dar? Nao se Jevantard de novo o perigo, neste momento, de sdbrevalorizar um aspecto nacional, tum estidio particular do desenvolvimento eapitalistico? Nio se esté a suprimir neste discurso a enorme comple. xidade dos problemas da revoluydio operdria, tal como hoje se colocam a nivel internacional? % verdade. A com- plexidade desses problemas & enorme. No poderia ser jimida, mesmo querendo. Tulo o que ae tem vin f'fzor até aqui néo'é senfo a dédima parte de quanto se 12 dizer agora, Nao sabemos sequer se é a parte importante, Mas é sem divida @ mais ungente, a Condigio prévie, a premissa para comegar. Existe hoje lima forma estranha, estranhamente actual, de oports. gajamento intelectual nos momentos coneretos da- lute de classes real, Porém, nenhuma ideiaiforge. nos parece importante do que aquela tese leninista do capitalismo despedagarse num ponto a este objectivo primério, exige que se fam. os respectivos problemas de organi- ireccio, Esta tese tomou, e est a tomar, importancia cade vez maior, & medida que avangam o, Processos de intogragio supranacional do eapitalismo con tempordneo, Os canais de comunicagao de que o capital esta revela-se cada vez idade, porquanto é evidente ue, hoje, s6 uma experiéncia revolucionéria real pode por em mareha © mecanismo intelro da revolugio interna, clonal. Nenium discurso te6rico, nenhuma aliernativa poli. tica & face da programacéo capitalisties, poderé ter esta forga de impacto, este valor de moi angio de seca proposta pritica— coisas que sio o minimo que se ‘ode exigir, no dmbito do capitalismo mais avangado, Para romper a trégua actual entre revolugio desenvolvimento capitalista, B certo que 2 nista precisa de ser corrigi nas desigualdades do desenvol talismo, a ténica deve ser post de desenvolvimento politico da classe ‘operdria: assim se compreende o principio neo-leninista de que a oadeia nao quebraré onde 0 capitalismo & mais fraco, mas onde a dria € mais forte, & preciso meter na cabeca il—que os niveis de desenvolvimento lasse operaria no coincidem mecanicn- mente, Mais uma vez a pritica da luta se mostra mais rica do que toda @ riqueza scumulada do pensamento 128 ee 4 operrio. © ponto a escolher portanto, aquele onde esto reunidos, ao mesmo tempo, um gray suticiente de desenvolvimento cconmico capitalista e um alto gra imento politico da clesse operdria, Apresta-se a Itélia a toraar-se 0 epicentro da revolugio no ocidente”? B cedo para o dizer. Tudo depende do tempo que leva- remos a fazer passar @ linha, a abrir o camino, (Dezembro de 1964) 110 trugio do socialismo. A mezos que no intervenha, ‘loqueando processo ¢ invertendo-o, um recomegd auténomo da luta de classe por parte operiria, uma ‘experiéncia revolucionéria, mum ponto estrategicamente eseolhido e tacticamente ‘preparado. A teoria’ de uma Tuptura no ponto médio do desensolvimento tem de encom trar, meditadamente, a sua pritica de aplicagio no con tro deste contexto histérico. 8 s6 para preparar esta Passagem 2 pratica, para essa experiénoia concreta, que se torna importante, hoje, corhecer qual 6, na falta dela, a tendéncia objectiva do proceso. Obedscer pasei- vamente a essa objectividade, eonceder ao capital a’ esco- tha do terreno de luta mo campo das suas férreas leis econémicas, renunciar a exaltar, com a orgenizagio, a irraciomalidade do ponto de vista capitalista da recuse tpolitica dos operérios como classe, isto é, renunciar a tazor tuncionar de modo subversivo, com uma exasperada intervencao subjectiva, do eateror, a articulagio operé- ria do capital —é este o erro fital do movimento revo. Wucionério, hoje. Quanto mais pensamios, mais descobr. mos que, 20 epurgatério da revducio», 0 de vista operério tem de pagar todos as seus pecados de econo. micismno, objectivismo, subordinaséo oportunista aos movi- mentos do capital wi. A CLASSE Atris © antes da classe dos capi O capital, por si sé, nda se consti l, Precisa de ver diante dele, primeiro, jé formada, a classe operdria. Mas mesmo depois de ele ter atingido uma expressiio subjectiva, de classe, aquilo que continua. a guiar o processo & sempre um objecto, uma oo relagdo material sob a forme de uma relacéo social, um mecanismo de desenvolvimento. 0 ideblogo burgués ain hoje se eseandaliza com isso: mes o fetichismo, a rei cago, a alienagéo, siio dados permanentes da historia capital, $6 que 0 objecto, a coisa, o proprio trabalho al nado, tém de ser historicamente determinados, isto é m classe ‘mais precisamente, socialmente especificados, Se atras da forga de trabalho como mereadona enicontramos os ope- rérios como classe,—o proletarindo na sua definigao 255 politica, —com a parte adversa sucede o contrario: atris da classe dos capitalistas, esté o capital como categoria econdmica, esti a relacio capitalista de produgio como relagio econémica enquanto tal. O «determinismo econé- mico> confunde-se com o ponto de vista capitalista. No meio de tantas mutagées priticas, isto , na histéria do capital, a figura cléssica do teéri¢o bungués continua sempre @ er 0 economista. A economia & a ciéncia bur- guesa por exceléncia. A propria sociologia jé no é mais do que uma ideologia da economia. Rfectivamente, nenhuma pergunta 6 mais no o tenham tentado: 86 para fazer concorréncia. ao burgués que encontra o eapital no mundo antigo, estes sfio capazes de chamar «operarios» aos construtores dis pirdmides. Chamar toda a gente da definicio dos recursos histéricos para a escola de uma possivel solugéo da préxis politica, hoje, ou seja, da luta de classes em geral as necessidades particulares da revolucio contra o capitel— continua ainda a ser a linha de demarcagio entre quem é marxista ¢ quem nao & «0 ponto—dizia Lenine —em torno do qual é preciso por & prova a compreensio e 0 recomhecimento efectivos do marxismo». £ necessirio proceder entao nessa direcgao ¢ continuar a andar para a frente, Nio & que Schumpeter possa chamar & teori classes sociais ca irma coxa de interpretagdo econémica da historia» e definir, cinco péginas adiante, como «um audaz golpe de estratégia analitica aquela que ligou 0 destino do fenémeno classe 20 destino do capitalismos, # verdade que Schumpeter entende aqui, de manoira tra: dicional, ‘0 fim do capitalism como ‘fim das classos, enquanto que @ verdedeira audicia estratégica, vélida de resto nilo 46 para a anilise, 6 hoje outra: a quo inverte © problema e vé o nascimento dae classes como nascimento do capitalismo, # neste sentido que o destino do fendmeno classe e 0 destino do capitalismo est&o ligados numa tiniea rospectiva politica de dissolugio da sociedade classieta 259 do capital: a ‘nica formacio social historicamente fun- dada sobre a luta de classes. Talvez Parsons tenha visto uma parte deste problema quando ligou, em Marx, co facto de uma unidade produtiva organizada» com

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