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Ce er rer O eee DOE OHO meee WED Grupos de Recepea interrogando (n)os grupos Gléria Maron* Em anos recentes, Grupos de Recepeio for entados coma uma das estratégias acdo da asistencia psiquidtrica no Brasil. Estes grupos assumem contornos especk ficos dado 6 contexto em que se desenvolvem, Este artigo pretende discutir a funcio dos Gru- pos de Recepgio a partir de uma determinada experiéncia de reestruturacio de um ambulaté- rio piblico de safide mental em uma wnidade integrada de satéde da cidade do Rio de Janciro, Esta experigneia se inscreve em uma perspec tiva de transformagio pautada em uma diregio ética que -sem desconhecer a relevancia de es tender o atendimento em satide mental a um maior mimero de usuirios— visa.a qualidade da assisténcia, Pretendemos com isso, responder a impasses enfrentados nos servigos de satide afir- mando a possibilidade de uma pritica que inclua © Paicanatist, Mestre om Ciénecis da Sate pelo Inatinnto Psiqulatia IPUB/UERY. em sua abordagem a singularidade do sujeito. Dafa importincia de discutir os Grupos de Re- cepcio como uma modalidade de um primeiro acolhimento que pode assumir 0 valor de uma entrevista preliminer Ao diseutir uma determina da experiéncia - datada ¢ localizada numa de- terminada unidade da rede municipal de saiide —acabamos por interrogar a aguipe de satide men tal, « demanda de atendimento e os critérias de ence minhamento, colocando, em tdtima instdncia, no cen- tro do debute, a élica e a orientaréo elinicu gue fund mentarn uma pridtica de acolhimento, O problema Havia um problema a resolver. No ambulaté- rio da UISHP da AP 3.111 (Unidade Integrada de Satide Herculano Pinheiro - Secretaria Munici- pal de Satide) na cidade do Rio de Janeiro h: via, em outubro de 1998, uma lista de 850 ust as ris aguardando vaga para um primeiro atendi mento psicologico, Esta grande demanda reflete, em parte, alo- calizagao da Unidade num bairro populoso, com grande comércio, intensa circulagio de meios de transporte, oferta de varios servicos ¢ proximo a um terminal de énibus que chegain de distin- os pontos da cidade, Por outro lado, o nimero considergve! de usudrios aguardando atendimento na lista de espera -sem perspectiva de que este atendimen- to viesse efetivamente a se realizara curto pra -somado ao crescimento continuo da demanda, exigiu da equipe um posicionamento frente a este fato, Mais especificamente, tornowse uma questo que mereceu nao 86 reflex tes de tudo, convocou os profissionais de satide mental a adotarem um x0 posigao critica ‘operativa que criasse condigdcs para fazer fien- te a esse problema Um primeiro passo consisiiu em questionar 0 proprio funcionamento da equipe de satide mes tal. Os passos subsequentes consistiram em reali- zar umm breve levantamento do perfil da clientela; realizar um estado prefiminar da lista de espera: interrogar a propria demanda de atendimento psicologico ou psicoteripico; criar um dispositive que redhrisse a fila de espera sem ¢ qualidade do atendimento oferecido, prometera Equipe de Savide Mental Até 0 inicio da reestruturagdo do atendimen- to em satide mental nesta Unidade, havia 0 Se Cademes 7PUB atria ¢ 0 tor de Psiqu onando de ctor de Psicologia, funei- taco € isolado. Ambos 95 setores encontravantse sobrecarregados de- odo segme vido ao excesso de demanda. Além disso, cada membro da equipe centrava-se nos atendimen. tos individuais, nao ocorrendo qualquer interlocucao regular entre os diferentes profi sionais. Inicialmente, os psicélogos participavam da supervisio e sempre que necessirio, comtivaihos com a participacao da Diregao da Unidad, M: adiante, contamos com a participagio dos psi- quiairas da Unidade, quando entio verificamos que: a demanda de atendimento dirigida 20s psi- quiatras ndo era a mesma enderecada aos psicé- logos, correspondendo além disso, a uma dife renca de perfil da clientela: no setor de psiquia tia, a demandz é, predominantemente, de tra- famento medicamentoso e a clientela consiste, €m sta mioria, de casos de psicose ¢ casos grav le depressio, ~ havia necessidade de construir estratégias que funcionassem como pré-triagem antes mes- mo que os usudirios se inscrevessem para atendi- mento ambulatorial pois, freqientemente, usu’ rics atendides em outras unidades procuravam este ambulatorio, exclusivamente, para buscar medicacio. Constatamos que a propria segmentagao da equipe ¢ da oferta de tratamento favorecia segmentaco da clientela. Por outro lado, havia um ponto comum: psiquiatras ¢ psicélogos de- paravam-se com uma demanda excessiva, Come- SS RMSMHSRHADOHODARARARADRAAAANNDHHRE a a a ae a a ee Goes de Ree: iteoeganda (a)05 crap camos, entio, a trabalhar numa perspectiva de no sentido criar um funcionamento de equip de otimizar os recursos humanos disponiveis ¢ mobilizar diferentes estratégias © recursos exis tentes, de modo construir uina pratica que nao estivesse exclusivamente centrada na medicacio. ‘Tomamos como ponto de partida, 2 necessida- de de transformar a porta de entrada do ambu- Iatério e os Grupos de Recepea elo mult 0, aliadtos fssional de assisténcte for como uma estralégie que perm gem da demanda de utendimento que cheg latirio, além de constituir um es ayo privilegiade interlacugizo entre wequiye. O modelo multibrofissions de assisténcia requer ume p ticipagto inlegrantes no sentido de avaliar sua prrética xar avaliar Além disso, demonstra ser uma estratég gue convoca os profissionats a se amp cetrers er gues: tes priticas e utuais suscitadas polas transformagies sociais ¢ técnico-cientificas. Com a chegacia de no- vos profissionais foi possivel dar inicio as mudan- gas. Atualmente, a equipe de satide m: ta com 8 psicélogos ¢ 8 psiquiatra: Perfil da clientela Os dados colhidos antes do infeio dos Cru. pos de Recepeio podem serassim resumiddos. Ao Sctor de Psicologia chegam usuirios de todas as faixas ctirias, incluindo 55% do sexo feminine © 45% do sexo masculino, encaminhados por setores da propria Unidade, como clinica médi- ca, pediatria, obstetricia, ginecologia ¢ psiquis tria: programas desenvalvidos na Unidade, como por exemplo, Aids ¢ Adolescentes outras Uni- dades de Satide da Rede Piiblica; Escolas; Con- selho Tutelar, Além destcs cncaminhamentos, ocorrem casos de demanda espontanea. No grupo de criangas (em torno de 45% da clientela) eadolescentes (12% aproximadamen- te), encontramos como principais queixas traridas pelos pais on responsiveis: dificuldade de aprendicagetn ¢/ou déficit no rendimento excolar (18%) e disnirbia de comportamento, sticular, agressividade (27%), As outras queisas dis vibuem-se em problemas de relacio- mento familiar e/ou social, fobis e distirbios neuroligicos No grupo de adultos (43% aproximad: nen te), a demanda de atendimento € motivada, prin- cipalimente, por depressio (21,21%). A deman- da ambém motivada por sintomas psicossomaticos como ansiedade, “doen: ios heros" € panico. Os casos de psicoxe correspandem, osetor de Psicologia a maior parte da clientela 6% dosencaminhamentos Ji pars esti constituida por usudrios que apresentam sofrime: ‘© psiquico grave, predominantemen- te, das classes populares com nivel de instrugdo correspondente ao primeiro grau. Entre os usu- arios, encontramos uma parcela consideravel de moradores da propria area programatica em que se encontra a Unidade, Embora ainda nao zin- da nao seja grande a incidéncia de psicoticos Nao ha informacao precisa quanto 4 renda embora grosso moro, se possa afirmar que a é possivel regionalizar o atendimento, restringin- do A clientela aos usuarios da area: este € um objetive que a equipe de satide mental preten- de implementar, esiendendo ¢ atendimento, excepcionalmente, aos usuarios de areas proxi mas que néo contam com servicos de satide mental’ Os grupos: Grupos de Triagem ¢ Grepos de Recopetio A primeira solugao implementada para farer frente a lista de espera foi o grupo de triage coordenado por duas psicélogas. Em primeira lugar, foi realizado um estudo preliminar da bs: ta de espera, quando constatamos que & maior parte dos inscritos eram pais de criancas que apresentavam “problemas na escola” relaciona- dos a “rendimento escolar”, “irritabilidade”, “agtessvidade”e “agitacio" Através de aerograms a cada semana, doze familias (pais ou responsé yeis) eram convidadasa comparecer ao ambulz rio € participar do Grupo de triagem. O indice de retorno girou em torn de 50%, on seja, de cada doze pais, uma média de cinco respondi- am A convocacdo. Ap6s wés meses de experién- cia com Grupos de Triagem, verificamos que gran- de parte dos inscritos na lista no foram consi- derados casos com indicacao para atendimento sistematico no setor de psicologia. Além disso, alguns paisinformaram ter éncontrado alterna- tivas de atendimento ¢ entendemos que os de- mais que nao responderam ao acrograma, ja haviam procurado outras alternativas, 01 20 menos, abandonaram a lista. Os casos avaliados Codernoe 1PUBIT no grupo de triagem ¢ indicados para atendi- mento psicoteripico foram encaminhados ¢ ab- sorvidos na prépria Unidade. Fizemos uma avaliagio e conchimos que a lista refletia um momento passado ¢ nao funci- onava satisfatoriamente para reduzir a lista de espera que continuava a se formar no dia a dia Decidimos entie, abandondla a favor da cons truco de um novo dispositive que impedisse ou red zisse drasticamente « formagiio de isto espera e agilizasse us avaliaghes e encarminhamentos. A equipe deciin promoner mudancas na porta de entrada do ambulatinio de savide mental, operands transforma: des na propria recepyito e acolhida dos wsudrias para sum primeira atondimento. Assim, surghe a escotha de feccer funcionsr as Crupos de Recepeio. Em feverciro de 1999, iniciam-se os Grupos de Recepsao. Os usuarios que chegam para uma primeira avaliagdo sio agendados para um dos dois Cru- pos de Recepcao que se realizam scmanalmen- te, com uma média de oito participantes. A co- ordenagio dos grupos fica a cargo de uma psi cSloga € uma psiquiatra ou duas psicologas, nosso objetivo vi fancionar preferencialmen- te com assistente social ¢ enfermeiro, além do psiquiatra ¢ psicélogo. ‘Ao final de cada grupe, os responsaveis pela coordenacio do grupo discutem os casos € rea lizam os encaminhamentos. Os dados colhidos a partir de atcndimentos realizados em 36 Grupos de Reeepeie se apro- ximam dos dados descritos acima © que cot RR AR OOO OAAOARARARADD SPO HeeCveBXEeTHYEHTTTeYYwHEenY Coupee de Re do es span I da clientela da Unidade de Sai guram o p de em que Sexo: Maseulino: 55, Feminino:44,78% Faixa Ftiria: Adulto: 44 Crianga: 88,59 Adolescente: 21% Idoso: 1,5% Queixa Principal: Depressao: 15 Distirbio de comportamento: 14,34% Distitbio de aprendizagem: 11,74% Dificuldade de relacionamento: 7,82% Primeiros resultados Dente os primeiros efeitos colhidos desta experiéncia em curso, ressaltamos a redu drastica da lista de espera, podendo afirmar que avancamos no sentido de inthir a formacdo de fila de espera. Fste fato se deve 20 grupo de recepcao funcionar, nape pectiva diva e clinica udotada pela equipeimplicada no trabalho de transformagie, como uma entrevista preliminar que tem como obje- tivo primordial « andlise da demanda, Neste tra- balho preliminar cm que a demanda interrogada, alguns casos sio ratificados para tratamento psicotcrapico € outros nao requeremn mais do que um primeiro acolhimento. Um outro aspecto importante tem sido a construcao de novos dispositivos a partir dos Grupos de Recepeao. Lim dos exemplos ens tes foi a criago do grupo de pais, iniciatmente aberto c ilimitade quanto ao ntimero de sessdes ©, posteriormente, limitado a quatro sessdes. Neste grupo, os pais, vindos los Grupos de Re- cepcao, durante 0 ntimero previsto ce sessdes, falam sobre os motives que os trouxeram a bur car atendimento para os filhos avaliando junto aequipe se hd indicagio pa a0 tratamento com a crianga ou sea demanda é para tratamento de um on ambos, 11 ainda os casos que podem fi- gurar como demanda da escola, colocande a equtipe atenta para avaliar ene a incidéncia de minhamentos feitos por uma determinada escola justifica uma interven¢ao junto a mesma, no sentido de interrogar 0s educadores acerca dos critérios que findamentam a demanda de atendimento. Podemos verificar que os Grupos de Resepsao suscitam quesiées relativas an acothinento e encami- mhamento, estimulando wm deslocumento da equipe para cexterior da jnéjnia unidade, alim deuma maior implicagdo da equipe nu drea programélica a qual portence. A equipe passa a desta cia de: ar a importén- ~ fazer um levantamento dos recursos da co- munidade em que se inscreve a Unidade de s de, incluindo af os servicos equipes de satide que partitham a mesma area programatica. - interagir com outras equipes da are Programatica. Por exemplo, em dado momen- to,2 equipe de savide considerou mais importan- te qne aumentar © quadro de profissionais em id outras unidades da irea programatica, Isto foi Mental da propria unidade, loticlos em Grstos de Recepgéa: itera (mor grep quem vem nos procurar ? Por que fazer falar os transtornos? Presumimos que a realidade subjetiva é sursiva ¢ supor que o sujeito é feito de lingua. gem serve de ponto de partida para as nossas acbes. Com isso, pautamos nossa prética numa orientagdo ética ¢ elfnica que admite que a sub- jetividade € irredutivel ao organico, ao social ow mesmo & arquiceuara significante que 0 sujeito recorte para representar o mundo € se fazer representar. Ha algo que excede esse ser viven: te que ve ment i ,senie, penss, recorda ¢ fundamental um ser de linguiagem. Ou seja, um ser falante que habita a linguagem e por ela é habi- tada, sofrendo seus efeitos. Nesta perspectiva, © sujeito é um suposto intérprete construtor de uma realidade que inclui ele proprio e, por ser falante, experimenta a sua falta « ser a impossi bilidade de tudo dizer € encontrar respostas além das palavras. Quando nos colocamos a es cutar aquele que nos procura, convecames 0 sujeito a falar daquilo que no pode ser dito, © que a experiéncia psicanalitica tem nos ensinado? As palavras pronunciadas desenham o fio particular que orienta aquele sujeito que estamos escutando num dado momento. Uma eseute contrada na particuleridade do acontecimento subje fivo volla-se inicialmente para a interpretagio gee 0 sujeito trax acerca do seve sofrimento A subjetividade, a partir de Freud, nao se ins: ¢ no bindmio corpe/mente nem é mais pensada como uma engrenagem ou chado, mas sim como ruptara, descontinuidade introcuzida por um significante exterior ao enquadramento simbélico imaginario que con- fere unidade ¢ cocréncia ao sujeito, A psicanilise presume um sujeito dividide entre 95 noms € a linguagem que Ihe é delega- da ¢ que chamamos dimensdo simbética € aquito que nao tem nome, no tem sentido nem nun- ca trie que, a partir de Lacan édefinido como registro do real ¢ reeebe 0 nome de gozo. SA0 conce’- 8, modos de designar aquilo que na subjetieidade nana vosiste @ inscricéa simbélica e gue permanece opi estar ou soprimente psiquico difuso, ou erganizado em Quail al funciona pars o sujeito, onde hé desardem e ruphera, 0 00 Sujeite, podenda retornar sob a forma de mal lorno de uma queixa sintomética leo nao podemos jresumir um sujeito © at implicé-lo. Portan: (o, as formas de abordar essa dimensdo opmaca e-exce- dente ao sujeito- 0 que pareve ser a excecdo & regra para cada urn - denvtrcam diferengas importantes no cam po da siride mental. Parece-nos nao ser precipita: do afirmar que reduzir 0 sofrimento psiquico a um déficit de sabstancia quimica au de direitos sociais, implica em nio convocar o sujeito a res: ponder pela sua condi¢io no mundo ou faze frente os enigmas colocados pela sua existén: cia. Mas, a0 contrario, pretendemos sus io € esta a nossa posicio ética, pois ar urea pics nos Grupos de Recepedo que difere radicalmente de técni- cas que se colocam & servigo do recalgue ¢ do esipuect nento, O que pretendemos ressaltar quando ditigi- mos nossa atencio para esse aspecto? Hoje, no € raro lidarmos com diversas ma- nifestacdes da subjetividade contemporinea que se apresentam mais como comportamentos do que sintomas. Qual o trabalhador da satide men- talqueni chega ao ambulatério e logo se apresenta: “cu recebe freqientemente alguém que sou deprimido”. Este éap serve para nos advertir sobre a cautela de no incluir numa séric homogénea cada um que chega com a mesma queixa aparente, seja ela “depressio”, “panico”, ‘agitaco” ou “ansieda astum exernplo que de! nfim, qualquer que seja a nomeagao, Com isso, ndo se trata de ignorar a queixa ou neger 0 sintoma € sim nos recusarmos a tomédo como conclusivo, criando condicées para 0 sujeito introduzir, minimamente, neste primeiro con- tato uma dimensio de pergunta. O que tem demonstrado nossa pritica psica- nalitica no ambulatorio da rede pitbliea? A pritica tem permitido verificar, quotid mente, que nao ha sentido comum aos diversos tipos de sintomas, Basta deixar que cada um fle. Nesta diregdo, o sintoma que concerned nose priitica Eo sintoma falado pele proprio sujeito que ver. nos pedir ajuda. A experiéneia de uma pratice centrada no discurso que cada um traz acerca de seu sofrimento- ou acerca do motivo, seja cle qual for, que 0 levou a procurar ajuda - nos en- sina e nos adverte a nao reduzir a queixa sinto- mitica 2 um saber prévio, Podemos admitir que nossa pritica se dirige aqueles que, de algum modo, desejam saber 0 que passou com eles e articular queixa contexto particular de igum ist@ncia, Neste sen Codernoe IPUBSI tido, podemos aciniér que t en cde uma ago fundada no deseo de se Portanto, o que es dade p: :é em quesido € a modali- ticular de cada um lidar com 0 que parece escapar A compreensio, Muitas mais do que observar o que é tipico nos sintomas— em: bora esia dimensio constima um referenci importante para o abalhador da satide mental ~ ineluimos no campo da investigagao a fungi de excegoa regra do sintoma, aquilo que é mais singular no uc cada sujeito diz e que, em seu discurso, resiste & significagio, Ou seja, mesmo quando partimes da inscrigio de um sujeito numa classe de pos de sintomas, devemos es tar apomtados para o que hé de mais singular. Laurent faz uma adverténcia interessante quando afirma que “ndo se trata de adaplar o regu: amento eo caso, mas também de tomar 0 que no caso, excede o regu lumento, #6 u partir disso que nossa aco vai se dirigir” (Laurent, 19992, p.84) Deste modo, poder « coneluir que no cole- tivo dos grupos 6 wm a um é 0 que esti em ques. to. Sob a aparente homegeneidade dos com- sinton portamentos as, interessa-nos d a, nos Grupos de cutar a queixa encidade, Nesta direg: a heterog Recrpie, nao nos € suficiente sintomatica. Visamos, antes de txdo, problematizar @ demanda € mais do que respondé-la, suspender qualquer tipo de res- posta para af introduzir a dimensio de pergun- afinal 0 que cada umn tem a ver com aquilo que se queixa? Seguindo esta orientacio, 0 passo seguinte se diem diregio # levarosyjeitoa suspeitar de uma RAR em RRMA MA AAAARMAADARAAARMAARMBAAE HPEDIPDIDFIFIASSSSHS HSA ADO HOH GHOHHVYOH Grupos de Recrpin: nterrogene ()os rages cumplicidade prépria, mesmo obscura, no sin- toma do qual ele sofre. Conduri-lo a se pergun- tar: “o que que eu tenho a ver com isso?” visa relificar a posicio do sujetio fie formando-a numa suposivdo de saber, ou seja, dando- the estatuto de pergunt Entio, ratificamos nossa lea sua queixa, trans osigiio de tornara escuta nos Grupos de Recepedo, uma boa opor- tunidade de yerificar o que hi de mais particn- Tar no que cada um diz. Mas, seg taco clinica psicanalitica, Afinal, ndo acolhemos para de! far 0 sujeito falar? Sim, mas outros procedimentos © fazem Ou seja, nos Grupos de Recepeao devemos dar tum passo adiante e verificar a posicao do sujeito frente a seu dito, Quando convidamoso sujeito afalar em nome préprio, estamos realizando um chamado do sujeito & responsabilidade modo, admitimos que o sujeito é sempre respon- sivel pelos seus dicos, mesmo quando nio sabe deste © que esté dizendo. Neste sentido, supomos que desrresponsabilizi-lo equivalerta a aniclar se to desujeito. Partilhamos as formulacdes de Miller quando sublinha que “osujeito da to que se estabe estate tinica 60 sup quanto ao diveito, nao quanto a0 ei falo e ainsistincia de buscar o sujeito na sta ob dade 6 uma boa maneiva de néo (Miller, 1999) Ou seja, a oriemtacio adotada em nossa pri teres encontri-lo” tica articula a nogdo de sujeito de dircito e su jeito da fala, adotando 1 nocico de respensabilidade como um eritério opera rtante na implicagto ve the diz do sujeito na escolle ¢ conduciie de tudo respeito, inclusive um tratunento, 58 Supomos, finalmente, que nossa ac3o nos Grupos de Rece; sulyetividude negadora — a que denuncia o matest sem wer 6 lugur de sua ago ou deixando a agio na D vai Na contra-mao de wma née de um terceiro. Em suma, buscamos operat deslocamentos que retirem 0 sujeito da posi dese de impoténcia e passividade para a posted implicar ¢ se responsabilizar Conclusao Pocemosconeluir que a experiéncia so dos Grupos de Recepeio tem gerade mudan: as importantes para o fancionamento da equi pe de satide mental ¢ da Unidade de Satidle em questo. © primeira resultado refere-sea it thie daa ft latorial. Ao adotar os Grupos de Recepcio como estrategia para apilizar os encaminhamentos, sublinhamos nao 56 © aspecto quantitative implicado nesta soli gho, mas sobretudo, « methora aa qpralidade do de expert pure atondimento a Os Gruposde Recepdiv pode sim se tans. formar numa pritica sensivel as novas modtalida desde segregacio do sujeito, on seja, sensi derasulj jetividdude neguide ou excluida do.cumpade ucio fide mental, de cutros dispositivos da s Em outros termos, os Grupos de Recepcio introduzem uma modalidzde de abordagem do mal-e fare sofrimenta psiquica queincluia to do desig cava ali fa demanda, Operando so brea fala de sujcito kincamos mio de um dispo- sitive que visa romper com uma pritica que bus 56 ca suprimir ou aphicar 0 sofrimento € 0 makes tan Além disso, € uma pritica que convoca ¢ far vorece 0 modelo sultiprofissional de assistén- cia especificamente no que se refere & atencao a satide mental O que temos verificado? Comecam a ocorrer mudangas no fncionamento da equipe de sai de mental na medida que alguns de scus ini grantes implicados na transformagao do mod lo ambulatorial rompem o isolamento na pré- pria unidade, / 1 disso, a equipe volta-se para a interlocugéo com outras unidades de satide que fazem parte da area programatica, além de estender esta interlocugio a outros servigos co- munitérios, especialmente aqueles que constitu- em fontes de encaminhamento. Concluimos, com base nos resultados obtidos capresentados, que comecamos a desmontar um modelo centrado-no atendimenio amin dual e segmentada. Com isso, inzuguramos, a par- tir da estratégia dos Grupos de Recep aterial indlivi- petspectiva de estender os dominios de interven. cio paraa comunidade. relevante 0 levantamento ¢ o conhecimento dos recursos que a comunidade oferece, além de nao 36 acolher masinterrogar a demanda que surge Neste sentido torna-se dos préprios servigos comunitarios. Em summa, os Grupos de Recepedo tem uma funcdo importante paraa equipe, na medida que convoca permanentemente a discussio dos cri- térios de acolhimento e encaminhamento, tan- to para 2 propria unidade quanto pa servigns, na medida que convoca permanente- a outros Cadernos PUBS! menite a discussio, Com base nesta exper pretcndemos avangar a discussdo sobre os crité- rios que fundamentam nossas acdes no campo: da satide mental, colocando no centro das in- tervencoes, a dimensio da _responsabilidade. crescentamos que p participa da equipe multiprofissional de sa esta perspectiva de atuacao tem trazido contri- aque fide, buigdes importantes. S spomos que este trabalho. se alinha a uma perspectiva introduzida por Laurent, quando debate a posigio do analist nas discusses ¢ p cas contempordneas. Para cle, o analista deve assumir uma fungio de ana listaccidadioou seja, aquele que percebe que “h urna conuenidude de interesses enire 0 discurso anatt- ico # a democracia” (Laurent 1999b, p.14). Ou ja. © anuliste-cidaddo nao recua frente as exi- géncias de stia época, da sociedade em que vive € desenvolve seu trabalho, estando atento as transformacées socinis ¢ teenolégicas ¢ sua inci- déncia na subjetividade contemporinea, Mesmo seu dizer silencioso — quando for 0 caso ~ im: plica em tomadas de partido ativas. Em sintese quando se coloca sensivel as novas modalidades de segregasio do sujcito, “ajuda a civil zaghe a respeitar a articulagao entre normas € perticu- laridades individuais(...)ajudando a impedir que, em nome da universalidade ou de qualquer outro universal, seja humanista ou anti- humanista, esqueca-se a particularidade de cada uum” Alerts finalmente, para a importincia de se transformar a prrticularidade em algo itil, “um ins- Irumento pura todes”. Em diltima instdncia, temosbase para afirmar RANA RAMA MARAAMARMARMAMRAAREMOARONM OM ee ee ee ee oe ee ee ee ee Grupos de Rees: inerememdo (es rats que estamos apontados para constrats no dia a dia, ume portion fi dada no desejo de saber, trans- formundo a pritica ¢ nes deixando transformar. En- fim, apostamos juma pritica em que tanto 2 equipe de sattde mental quanto os usuarios 1 se satisfazem com aquilo que saber ou compre- cndem, incluindo como parte ¢ causa de suas aces, tuclo aquilo que pode figurar como enig- muatico Notas 1 servigo de saitde, uni Inidace Integracle de Save e de in rio, No casa especifica, a unidade de internacao ¢ uma maternidade 1, Os dados referentes & Unidace encontramvse ne Projeta perve ordeal horado por Jaqueline C. Vianna Lopes, Luciene Ro- cha, Rosimery Jagger (psicdlogas) ¢ Sénia Alves Borges (psiquiatra), com super visio de Gloria Maron ¢ Paula Borsoi (coordenadoras do Projeto de Reestruturagio do Atendimento em Saiide Mental 4 Mulher/ Geréncia de Sainte Mental da SMS) oda UIS Herculano Pinheiro, ¢ Bibliografi CORBISIER, C. “A escuta da diferenga na emergén: siquidtrica’. Priguivtria sem Hespicio. Rio de Janeiro, Campus, 1999, FIGUEIREDO, Ana Cristina, Vastus Confusces ¢ Aten dimentos Imprrfeitos, Rio de Janciro: Relume Dumiard, 1997, FOUCAULT, Michel, Problema , Psiquiatvice Prican sapio do Sujeito: Priv DA MOTTA, Manoel Barros (Org.). Colegio Ditos ¢ Esctitos. Rio de Janeiro: Forense Universitéria, 1999. LACAN, Jacques. “A diregie do trtamento eos prin. ahar: Rio de Ja- cipiosdo seu poder”. In:Escritos neiro, 1998. LAURENT, Eric, "Novas Normas de Distribuigio dos Atendimentot ¢ Sua Avaliagio de Ponte de Vistx 6a Psicanilise". Cuvinga - EBP-MG. 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