Você está na página 1de 30
enquanto Tevelagio tornou-se duvidoso e, com cle, ié mconditional ‘em um Deus revelado. A nocio “teoria” mudou de significado, Nao mais signi um sistema de verdades razoavelmente conectadas enquanto Yerdades, 1420 € 40s Sentidos. Tornou-se, 20 cientifica moderna, que é uma hipét muda conforme os resultados que produz de, para sua yalidade, néo do que “ fato de “funcionar”. Pelo mesmo p platénicas perderam seu poder auténomo nar mundo € 0 universo. Primeiro, tornaram-se aquilo q haviam sido para Platéo apenas em relacdo ao domit politico: pedroes ¢ medidas, ou as torcas limitativas reguiadoras da_mente cujo sucesso pareceu do homem prescrevem suas compreendidas) aos “homen: homens que decidiram para Platio “a caverna” tos humanos quot dianos, nunea aventurar-se por conta propria em um mundo © em uma vida que talvez a ubiqua funciona- lizagao da sociedade moderna tenha privado de uma de suas mais elementares caracteristicas — o insinuar do espanto face ao que é como €, Este desenvolvimento bastante real € refletido e prenunciado no pensamento politico de Marx. Invertendo a tradicéo no seu proprio quadro de referéncia, ele no how de fato das idéias de Platio, néo tr ecimento do céu limpido onde aquelas © CONCEITO IDE HISTORIA — ANTIGO E MODERNO 1. Histéria e Natureza ‘Comecemos com Herédoto, cognominado por Ci- cero de pater historiae, e que permaneceu como pai ida Historia Ocidental '. Diz-nos, na primeira sentenga idéias, assim como muitas outras entidades, outrora hi- viam sido visiveis aos olhos dos homens. do da Historia fora reintegrado no mundo da nature- za, 0 mundo dos mortais no universo que existe para sempre. Mas em termos de Poesia ¢ Historiografia an- tiga isso significou que o primitivo sentido da grandeza dos mortais, como algo distinto da grandeza indubita- velmente maior dos deuses ¢ da natureza, se perdera, No inicio da Histéria Ocidental, a distingio entre mortalidade dos homens e a imortalidade da nature tar suas obras, feitos e palavras de alguma permanén- cia, e impedir sua perecibilidade, entio essas coisas a0 ‘menos em certa medida entrariam no mundo da eter- nidade e af estariam em casa, € os préprios mortais encontrariam seu lugar no cosmo, onde todas as coisas 72 ‘compr cla Para compreender rapidamente © com alguma ‘quo distante nos encontramos hoje dessa com- ‘grega da relapio entre natureza e Histéria, en- tre 0 homens, permitir-nos-emos citar qua- tro. vers ee conservé-los em sua lingua ork ginal, visto que sua perfeicwo parece desafiar qualquer tradugio: j, mesmo as montanhas parecem repousar nas sobta'Iur das estrela; so las Tent ¢ scretame vamente aos homens — tomaram-se 0 conteddo da as coisas feitas pelo homem, estas AAs obras das mios humanas devem parte de sua existéncia & matéria fornecida pela natu- Fea, portando assim dentro de si, em alguna medida, za, Mas o que se passa diretamente entre mortais, a palavra falada © todas as agdes e feitos que os gre- 20s chamaram de prdkseis ou prdgmata, em oposigao 3 h ymata, em oposica0 a poiesis, fabricagdo, nfo pode nunca sobreviver a0 mo- mento de sua realizagdo e jamais deixaria qué tigio sem 0 auxilio da record: seaigci poe eae ca fabricagio que por fim se torna a pala- ‘A Hist6ria como uma categoria de cxisténcia hu- obviamente, mais antiga que a palavra eserita, iga que Herédoto, mais antiga mesmo que Ho- “io historicamente falando, mas poeticamente, io encontra-se, antes, no momento em que na corte do rei dos Feécios, escutou a estéria préprios feitos ¢ sofrimentos, a estOria de su vida, agora algo fora dele proprio, um “objeto” para todos verem e ouvirem. O que fora pura ocorréncia tomou-se agora “Histéria”. Mas a transformagao. de eventos e ocorréncias singulares em Histéria efa, em esséncia, a mesma “imitacio da ago" em palavras 1 "4 alcangado através das Idgrimas da recordacio. O vo humano mais profundo para a Histéria ¢ a ia surge aqui em sua pureza impar: visto que ou- ator e sofredor so a mesma pessoa, todos 0s mo ‘de pura curiosidade e Ansia de informagdes novas, ‘sempre desempenharam, é claro, um amplo papel ‘na pesquisa histérica’ como no prazer estético, te, ausentes do proprio Ulisses, ais que comovido se a Histéria se a Poesia fosse unicamente to, enc ‘um grande e doloroso paradoxo que iribuiu (talvez mais que qualquer outro fator isola ) para o aspecto trigico da cultura grega em suas jfestagdes méximas, © paradoxo consiste em que, ‘um lado, tudo era visto € medido contra o pano de indo das coisas que existem para sempre, enquanto, r outro, a verdadeira grandeza humana era, pelo me- hhos pelos gregos pré-platOnicos, compreendida como re ii © pelavras, e era representada antes ‘fazedor de grandes faganhas ¢ de sran- , que pelo artifice ou fabricador, mesmo pelo poeta e escritor. Esse paradoxo, ser a grandeza Compreendida em termos de permanéncia enquanto 2 fgrandeza humana era vista precisamente nas mais fa- feis ¢ menos duradouras atividades dos homens, asse~ Giou a Poesia a Historiografia gregas ¢ inquietou o sossego dos fil6sofos, ‘A solucdo grega originéria do paradoxo era poé- tica e nao filoséfica, Ela consistia na fama imortal que ‘os poetas podiam conferir A palavra e aos feitos, de modo a fazé-los perdurar nao somente além do fatil ‘momento do discurso ¢ da aco, mas até mesmo da ‘vida mortal de seu agente, Antes da escola socrética “MMcom a possivel excegio de Hesfodo — nfo encon- ‘ramos nenhuma verdadeira critica da fama imortal; mesmo Heréclito pensava ser ela a maior das aspira- ‘goes humanas, e, se denunciava com violenta morda~ Cidade a situagio politica em sua Bfeso natal, nunca The teria ocorrido condenar a esfera dos assuntos humanos como tal ou duvidar ce sua grandeza potencial. 75 ‘A mudanga, preparada por Parménides, sobreveio com Socrates ¢ atingiu seu climax na filoscfia de Pla- tio, cuja doutrina acerca da imortalidade potencial dos homens mortais tornou-se imperativa para todas as es- colas filoséficas da Antigiidade. Certamente, Platéo ainda se defrontava com 0 mesmo paradoxo e parece famoso endo jazer ao final sem um nome” no mesmo niveis que o desejo natural de ter filhos per meio dos quais a natureza assegura a imortalidade dis espécies, Vee oama' Avatar, then Nicdmaco, IITRIDIS «© 76 bitar com as coisas que existem para sempre, ali estar presente em um estado de atengio ativa, mas sem nada fazer, sem desempenho de feitos ou realizagéo de obras, de comparar, por assim dizer, a imortalidade da natu- reza e dos deuses com uma grandeza imortal prépria. ‘A solucdo claramente se dé as custas “do fazedor de do qual provinha a gloria tera, somente poderia ser randes” isto é as coisas que por si mesmos ao continuo desafio feram os que chamariamos de hist tador 7 uma grande parte do mundo bérbaro. .. ¢ praticamen- te da humanidade”. A preocupagéo com a grandeza, tio proeminente ‘na poesia e historiografia gregas, bascia-se na estreitis- sima conexao entre os conceitos de natureza ¢ de His- téria, Seu denominador comum é a imortalidade, Imor- talidade é 0 que a natureza possui sem esforgo © sem assisténcia de ninguém, e imortalidade é, pois, 0 que is precisam tentar alcangar se desejam sobre- vviver ao mundo em que nasceram, se desejm sobrevi- ver as coisas que os citcundam ¢ cm cuja companhia mortais que, através de feitos € palavras, dignos da natureza, e sua fama eterna significa que eles, fem que pese sua mortalidade, podem permanecer na companhia das coisas que duram para sempre. Nosso moderno conceito de Hist6ria € nfo menos intimamente ligado a0 moderno conceito de natureza que os conceitos correspondentes e bem diferentes que ria, Também ‘eles 56 podem ser vistos em seu pleno significado quan- i oposigtio. do tamente com a pretensa objetividade e precisio absolu- tas dos cientistas naturais, é hoje coisa do passado. Os cientistas naturais admitem agora que, com 0 experi- ‘mento, que verifica processos naturais sob condigoes Prescritas, e com 0 observador, que ao observar 0 ex- perimento se torna uma de suas condigées, introduz-se um fator “subjetivo” nos processos “objetivos” da natureza, (© mais importante resultado recente da Fi- sica Nuclear foi o reconhecimento da possibilidade de aplicar sem contradigao tipos completamente diferentes de leis naturais a um nico e mesmo evento fisico. Isso se deve ao fato de que, dentro de um sistema de leis baseadas em certas idéias fundamentais, apenas certos modos bem definidos 78 de formular questdes fazem sentido ¢, assim, um fal sistema separa-se de outros que permitem a colocagdo de questdes. diversas " é ividade” consistia em pressupor que. pu a Sper respostes sem quests © resultados inde semuir 0 curso dos fontes documentais. me autude, que Droysen denunciou certa feita ‘como “objetividade cunuca” ¥, reside na necessidade de selecionar material de uma massa de fatos que, face a lic mitada capacidade da mente humana e ao limitado tem. po da vida humana, parecia infinita. Objetividade, em outras palavras, significava nfo-interferéncia, assim como néo-discriminagio. Dessas duas, a nio-discrimi- nagio, abstencio de louvor e de reprovagao, era obvia~ mente muito mais fécil de atingir do que a ndo-inter- feréncia; toda escolha do material e meerto sentido in terfere com a Hist6ria, e todos os eritérios para escolha dispdem 0 curso hist6rico dos eventos sob certas con ddigdes artificiais, que so muito similares as condicces prescritas pelo cientista natural a processos naturais no experimento, ipreensio, A Ciéncia Natural mo- derma rapidamente se desenvolveu em uma ciéneia ain- da mais “nova” que a Histéria, ¢ ambas brotaram, como veremos, exatamente do’ mesmo conjunto dé “novas” experiéncias advindas com a explorago do universo feita no inicio da época moderna. ponto curioso ¢ ainda embaragador acerca das Ciéncias His. t6ricas foi 0 fato de no buscarem seus padrées nas Naturais de sua prOpria época, mas voltarem atitude cientifica ¢ em titima andlise filoséfica que a época modern: i padrées “extingdo do eu", Ciéncia Natural aristotélica ¢ principalmente na observagdo e ‘catalogacio de fatos observados. Antes do ascenso da €poca moderna era al i contemplagéo quieta la separado do maravilhamento frente ao geral do qual, segundo os an- tigos, nasceu a Filosofia, 5), Clade om Fredich Meineke, Yom geschichlehen Sinn und m der" Geschchi State i, 80 Com a época moderna essa objetividade perdeu seu fundamento e esteve, portanto, constantemente em busca de novas justificagdes. Para as Ciéncias Histéri- padrio de objetividade somente poderia yelho quadro de fas novas experiénci teincompreensio hisiiea © a confuss io larga medida que se tornou verdadet x © problema da impar- somente para a ‘‘Cién- grafia oriunda lade que conhecemos. Nao apenas deixa interesse comum no proprio lado e no pr ‘até nossos dias caracteriza quase tod: nacional, mas descarta também a ria ou derrota, considerada pelos mod mo expressio do juigamento “objetivo” da pr t6ria, € nao permite a do digno de louvor imortalizante, Pouco depois, ex- presso de forma magnifica em Tucidides, aparece ainda 81 na Historiografia grega outro poderoso elemento que contribui para a objetividade hist6rica, Este somente poderia vir a primeiro plano apés longa experiéncia na vida da polis, que em medida incrivelmente grande con- sistiu em conversa de cidadios uns com os outros, Nessa incessante conversa os gregos descobriram que 0 mundo que temos em comum é usualmente con- siderado sob um infinito nimero de Angulos, aos quais correspondem os mais diversos pontos um pereuciente e mundo Ihe parecia e se lhe abria (doket moi, “parece- -me, donde déksa, ou “opinigo) — com os de seus concidadios. Os gregos aprenderam a compreender — no @ compreender um a0 outro como pessoas duais, mas a olhar sobre o mesmo mundo do ponto de ista do outro, a ver © mesmo em aspectos bem dife- tes freqilentemente opostos. As falas em que Tu- les articula as posigdes ¢ interesses das partes em conflito sio ainda um testemunho vivo do extraordi- ndrio grau de sua objetividade, © que obscureceu a moderna discussio de obje- tividade na Ciéncia Hi impedindo-a de tocar nos problemas fundamentais envolvidos, parece ser o fato de nenhuma das condicées, quer da imparcialidade ho- mérica ou da idade de Tucidid sentes na época moderna. A imparcialidade homéri assentava-se sobre 0 pressuposto de que 0 poeta (ou, mais tarde, © historiégrafo) tem somente de preservar sua gléria, que é essencialmente fltil, e que ele destruiria, ao invés de preservar, caso esquecesse a gloria que foi a de Heitor. Para a exigua durago de suas existéncias, grandes feitos e palavras eram, em su: leza, tio reais como uma rocha ou uma casa, af estando para serem vistos e owvidos por todas as pessoas presentes. A grandeza era facilmente identificdvel como 0 que por si mesmo aspirava 4 imor- talidade — isto é, negativamente falando, como um herdico desprezo por tudo o que meramente sobrevém 82 propria. Este mente sobrevive ziio de que, segundo os ensinamentos relagdo entre vida e mundo € 0 exato oposto d fente na Antigiidade grega e latina: no Cristianismo, nem 0 mundo nem 0 recorrente ciclo da vida sio imor- individuo vivo singular. Eo mundo ‘completamente diferente dos hebreus, que sempre sus- tentaram que a propria vida é sagrada, mais sagrada que tudo mais no mundo, e que 0 homem € o ser supremo sobre a terra, tarda conexio com esta convieco inte apés a morte, a auto-interesse, ainda proprio interesse vital. O desprendime ainda uma virtude religiosa ou moral; ‘uma virtude politica. Sob essas dade perdeu sua validade na expe da vida real ¢ se tomou a “estéril” questio académica ia nfo apenas coincidiu como foi te estimulado pela divida da época mod da realidade de um mundo exterior dado “ot percepgio humana como um obj imutivel. Em nosso contexto, a conseqiiénci portante dessa diivida foi a énfase na sensac’ - sagdo como mais “real” que 0 objeto “sentido” e, de qualquer modo, 0 tinico fundamento seguro da expe- igncia. Contra essa subjetivizagéo, que nfo € sendo lum aspecto da ainda erescente alienagio do mundo no 83 hhomem da época moderna, nenhum jufzo poderia surtir efeito: todos eles foram reduzidos a0 nivel de sensa- (96es ¢ findaram no nivel da mais infima das sensagées, 4 sensagio do gosto. Nosso vocabulirio € um teste- ‘munho elogente dessa depradagio. Todos os uizos que ndo se inspirem em prineipios morais (0 que considerado sniguado) ou no sjam itads por ae ‘40 mundo, jé mencionada de perceber como estado vida porque dela ¢, pelo menos vemos ¢ em enjo ; mo nerete eset Ser ime eet bertas das Ciéncias Naturais 0 haviam conver que o homem, em sua busca da verdade e do mento, néo pode confiar nem na evidéncia 84 sentidos, nem na “verdade inata” na mente, nem tam- ‘pouco na “luz interior da razio”. Essa desconfianga, s humanas tem sido desde entio uma das misterioso definhamen- ‘eausa nem sequer foi origina- razo como tal. Sua origem issima perda de confianca pacidade reveladora da verdade dos sentidos. A realidade nfo mais era desvelada como um fendmeno do sol. A época moderna comegou quando homem, ‘com auxilio do telescdpio, voltou seus olhos corpéreos rumo 0 universo, acerca do qual especulara durante longo tempo — vendo com os olhos do esp! do com os ouvidos do coracao e guiado pela da razio — e aprendeu que recepgio da verdad. era uma constante fonte de por ter ocorrido séculos antes de seu pleno impacto se ter feito sentir em toda parte ¢ no apenas no meio um tanto restrito de sdbios e fildsofos —, as suspeitas comegaram a assediar 0 hor lados. Sua conseqiiéncia espetacular ascenso da Ci ia Natural, que por longo Periodo pareceu liberar-se com a descoberta de que” nossos sentidos, por si mesmos, ndo dizem a verdade. Daj em dia certas da infidedignidade da sensacio © suficiéncia da mera observacio, as Cign- voltaram-se em direclo a0 experimento, ‘que, interferindo diretamente com a natureza, assegurou (© desenvolvimento cujo progresso desde entiéo pareceu tado. Descartes tornou-se o pai da Filosofia moderna por ter generalizado a experiencia da geragdo precedente bem como a da sua, desenvolvendo-a em um novo mé- todo de pensar ¢ tornando-se dessa forma 0 primeiro pensador integralmente treinado nesta “escola de sus- eita” que, segundo Nietzsche, constitui a Filosofia mo- derna. A suspeita dos sentidos permaneceu 0 cerne do orgulho cientifico, até se tornar, em nossos dias, uma fonte de embaraco. O problema é que “descobrimos ‘que a natureza se comporta tdo diferentemente da ias em larga escala pode jamais ser ‘verdadei- "; messe ponto a indissolivel conexio entre nosso ensamento © nossa percepcao sensivel se vinga, pois lum modelo que desconsiderasse esta experiéneia intei- ramente e fosse portanto completamente adequado & na- tureza no experimento nao seria somente “praticamen- te inacessivel, mas nem mesmo seria pensavel” *, O problema, em outras palavras, ndo esti em que o uni- verso fisico moderno nao possa ser visualizado, pois isto € uma conseqiiéncia I6gica do pressuposto de que a natureza no se revela aos sentidos humanos; © emba- aco comega quando a natureza se evidencia inconcebi- vel, isto é, impensdvel igualmente em termos de puro raciocinio. 49, Bevin Screener, Seer and Haman, Cambridge, 1881, 86 ‘A dependéncia do_pensamento modemo fare &s descobertas fatuais das Ciéncias Naturais mostra-se com século XVII Nem sempre ela é fe como por Hobbes, que atribufa ‘mente aos resultados da obra de Copérnico e Galileu, de Kepler, Gassendi e Mersenne, ee sem coda a Filosofia passada como absut do com violéncia somente igualada, talver, no despre zo de Lulero pelos stulti philosophi. Nao se necessita do extremismo radical da conclusdo de Hobbes — nao que o homem seja mau por natureza, mas uma istingfio. entre bom e mau nao faz sentido € a ra- zo, longe de ser uma luz interior desvelando a verda- de, é uma mera “faculdade de lidar com conseqiién- cias", — pois a suspeita bésica de que a experiéncia terrena do homem apresenta uma caricatura da verda- de acha-se nio menos presente no medo de Descartes de que um espirito maligno pudesse governar 0 mundo, escondendo para sempre a verdade da mente de um ser to manifestamente sujeito a erro. Em sua forma ‘mais inofensiva, permeia 0 empirismo inglés, onde significatividade do sensivelmente dado ¢ dissolvida nos dados da percepcdo sensivel, desvelando seu significado somente através do habito ¢ de repetidas experiéncias, de tal modo que, em um subjetivismo extremo, 0 ho- ‘mem é em Gltima instincia prisioneiro em um ado-mun- do de sensagées sem significado que nenhuma realidade fe menhuma verdade podem penetrar. O empirismo é somente na aparéncia uma reivindicagio dos senti- dos; na realidade ele se assenta no pressuposto de apenas a argili¢io do senso comum pode Ihe dar si ficado, parte sempre de uma declaragio de descon- fianga’ na capacidade dos sentidos de revelar a verda- de ou a realidade. © puritanismo e o empirismo so, de fato, apenas duas faces da mesma moeda. A mesma suspeita fundamental inspirou finalmente 0 gigantesco esforco de Kant para reexaminar as faculdades huma- nas de tal modo que a questio de uma Ding an sich, isto é a faculdade reveladora de verdade da experién- cia em um sentido absoluto, pudesse ser posta em suspenso. 87 de © século XVII, a preocupacio dominante da inves- figasdo citi,” taato. natural como bistrica, tém sido os processos; mas somente a tecnologia moder- na (e néo a mera Ciéncia, nao importa quao altamente ‘desenvolvida), somecou por substituir por processos mecdnicos as les humanas (trabalhar e pesqui- Tan) 2 ferminou por instaurar novos procestos natura, teria sido inteiramente adequada ao ideal de conheci- " mento de Vico. Vico, que é por muitos considerado Disse cle: Geometrica demonstramus qi 7 © pai da Historia moderna, dificilmente se teria voltado physica demonstrare possemi para a Hsit6ria sob as ligdes_ modernas. Ele se teria voltado para a Tecnologia; pois nossa ‘Tecnologia fez de fato aquilo que Vico pensava que a acho divina fizera no reino da natureza ¢ a agdo humana, no rei no da Histra. INa época moderna a Histéria emergiu como algo ae ‘que jamais fora antes, Ela nfo mais compés-se dos fei- rae tee 8 beste e thse sofrimentos dos homens, ¢ no contou mais a es- conseglientemente, a verdade ee ae ee oe a se elo homem, © snico proces- CR Agora ted So global cuja existincia se deveu exclusivamente a ra- a € re la ao Fazedor do ga humana. Hoj a qualidade que distinguia a ria da Natureza é também coisa do passado. Sa- {o sentido, portanto, “fazemos natureza” , medida em que “fazemos Hist6ria”. E verdade que falcangamos esse estagio somente com as descobertas nu- ‘leares, onde forgas naturais so liberadas e desenca- Geadas, e onde o$ processos naturais que ocorrem ja- mais teriam existido sem interferéncia direta da agio humana, Fste estigio vai muito além nfo apenas da época pré-moderna, onde vento e agua cram utilizados para substituir ¢ multiplicar forgas humanas, como tam- bem da era industrial, com a maquina a vapor ¢ © mo- tor de combustéo interna, onde forcas naturais foram imitadas e utilizadas como meios artficiais de produgio. (© declinio contempordineo do interesse pelas hu- manidades e em especial pelo estudo da Historia, apa- rentemente inevitavel em todos 0s paises completamen- te modernizados, acha-se plenamente de acordo com 0 primeiro impulso que conduziu a Ciéncia Hist6rica mo- 39 Jo que pensavamos poder fazer Historia, Comecamos a aj costumavamos agir sobre a ramente de uma questio de pri que o-homem é to capaz de ini ooh am sobrovlads ‘como de ini ome de iniciar algo novo na esfera dos assuntos huma- Desde 0 inicio do século iso Go stcalo 30%, Tecnologia em processo de vida pode ser manipulad manga gue tos ox ues proesoe Nesse contexto, no entanto, & i exto, no entanto, & importante estar conscinte de quio deisivamente fers 0 mundo te- I6gieo em que vivemos, ou talvez em que comecamos lizagao ainda consistia basicamente na mecanizagio de 90 ‘¢ no melhoramento na elabora- jitude do homem face & natureza processos de tr gio de objetos, permanecia ainda za fornece o material fumano, O mundo no qual viemos a viver tanto, é muito mais determinado pela Sobre a natureza, eriando processos naturais € toes para as obras humanas e para a esfera dos ne- ‘p6cios humanos, do que pela construed © preservagio fa obra humana como uma entidade relativamente permanente ‘A fabricagio distingue-se da ago porquanto pos lum inicio definido e um fim previsivel: ela chega a um Him com seu produto final, que ndo s6 sobrevive a ativi- Gade de fabrieagio como dai em diante tem uma espécie A. ago, ao cont rosa descobrir, € em si € por si funea deixa um produto final atrés ter quaisquer conseqiléncias, estas jo, em uma nova ¢ intermindvel jo resultado final 0 ator é wu controlar de an- capaz de fazer & iy pode estar seguro. Nenhuma dessas caracteris- ‘acha presente na fabricagao, Face a futilidade agilidade da agio humana, 0 mundo erigido pela ricagao € de duradoura permanéncia ¢ tremenda soli dex. Apenas na medida em que 0 produto final da fa- bricagdo € incor undo humano, onde sua homio faber, e que mesmo mesmo tempo um sef que Age, que inicia processos on de quer que vé e com 0 que quer que faga. “Até nossa época a ago humana, como seus proces sos artificiais, confinou-se ao mundo humano, a0 mesmo tempo que a preocupacdo dominante do homem, em re- lagdo a natureza, consistia em utlizar seu material na 91 fabricagio, erigir com ela artefato humano ¢ defendé-lo contra a . No momen to em que iniciamos processos naturais por conta. pr6- pria —e a fisso do tomo € precisamente um destes provessos naturais efetuados pelo homem — no somen- te ampliamos nosso poder sobre @ natureza ou n0s tor- amos mais agressives em nosso trato com as forgas ter- renas dadas, mas, pela primeira vez, introduzimos natureza no’ mundo humano como fronteiras defensivas entre os elementos artefato humano nas quais todas as civilizagées ante- riores se encerravam Os perigos desse agir na natureza sio dbvios des- ée que admitamos como parte integrante da condigio ticas da_acéo huma- ade mio ¢ falta de prevsio © nenhu- a dos negécios humanos serd capaz de tliminé-a, do mesmo. modo que nenhum treinamento em prudéncia pode conduzir & sabedoria de conhecer © que se faz. Unicamente o total condicionamento, vale dizer, a total aboligio da ago, pode almejar al- gum dia fazer face & impredizibilidade. E mesmo a wumano, que © ter por por periodos de tempo relati- : yente & eapaz de alterar a essen cia mesma dos problemas humanos de uma vez. por todas; jamais pode estar segura de seu préprio futuro, numana, como todos os fendmenos estritamente dido por estrangeiros, recém-chegados cujas agdes ¢ reagdes no podem ser previstas por aqueles que nele ja se encontram e que dentro em breve irdo deixé-lo, Se, pois, ao deflagrar processos naturais comecamos a agir sobre a natureza, comecamos manifestamente a sportar nossa prépria impredizibilidade para 0 do- inig que costumavamos pensar como regido por leis inexordveis. A “lei férrea” da histéria nunca foi Jue uma metéfora emprestada da natureza, € 0 que essa metifora néo mais nos convence, pois se tor- hou claro que a Ciéncia Natural nio pode de forma ‘alguma estar segura de um imutével império da lei na tureza a partir do instante em que homens, cientistas, jicos ou simplesmente construtores do artefato hu- mano decidiram interferir e no mais deixar a natureza entregue a si mesma, 'A Tecnologia, 0 campo em que os dominios da Histéria e da natureza sc cruzaram ¢ interpenetraram em nos jponta de volta para a conexio entre 08 conceitos de natureza e de hist6ria, tal como apa~ jeceram com 0 ascenso da época moderna nos séculos XVI e XVII. A conexfo jaz no conceito de processo: ‘ambos implicam que pensamos e consideramos tudo em i sando por entida- ddes singulares ou ocorréncias individuais € suas causas distintas ¢ especifices, As palavras-chave da Historio- grafia moderna — “desenvolvimento” e “progresso” — foram também, no século XIX, as palavras-chave dos ‘novos ramos da Ciéncia Natural, em particular a Bio- Jogia e a Geologia, uma tratando da vida animal ¢ a foutra até mesmo de assuntos nio-organicos em ter- ‘mos de processos histéricos. A Tecnologia, no. senti- do moderno, foi precedida das diversas Ciéncias da Historia Natural, a histéria da vida biol6gica, da ter- ra, do universo, Dera-se um ajustamento miituo de inologia dos dois ramos de investigacio cien- ica antes que a polémica entre as Ciencias, Naturais fe Histéricas preocupasse 0 mundo cientifico) a ponto de confundir as questdes fundamentais Nada parece mais tendente a essa con- fusio que os mais recentes progressos nas Ciéncias Naturais. Eles nos reconduziram & origem comum da natureza e da hist6ria na época moderna e demons- traram que seu denominador comum jaz de fato no eonceito de proceso — tanto quanto 0 denomina~ dor comum & natureza ¢ a Histéria na Antigiidade se assentava no conceito de imortalidade. Mas @ expe- 93 riéncia que subjaz & noco de processo da época mo- derna, diferentemente da experigncia subjacente & no- gio antiga de imortalidade, nao é de modo algum pri- ‘mariamente uma experiéncia Jo homem no mun- do que o circunda; io, ela brota do de- sespero de sempre ‘ex e conhecer adequada- mente tudo aquilo que € dado ao homem © nao feito Por ele. Contra esse desespero 0 homem moderno arregimentou a totalidade de suas préprias capacidad. desesperando de encontrar um dia a verdade at de mera contemplagio, comecou a experimentar suas capacidades para a ago e, a0 fazé-lo, no podia dei- xar de se tomar consciente de que, onde quer que exista, © homem inicia processos. A noco de pro- eesso no denota uma qualidade objetiva, quer da his- ria, quer da natureza; ela o resultado inevitével da agéo humana. © primeiro resultado do agir dos ho- ‘mens na hist6ria foi a histéria tornar-se um processo, © 0 argumento mais convincente para 0 agir dos ho. mens sobre a natureza & guisa de investigacio cien- tifica € que hoje em di formulagdo de Whitehead, “a natureza é um proceso”. Agir na natureza, transportar a impredizibilidade humana para um dominio onde nos defrontamos com forgas elementares que talvez jamais sejamos capazes de controlar com seguranca, ja € suficientemente pe- tigoso. Ainda mais perigoso seria ignorar que, pela primeira vez em nossa histéria, a capacidade humana Para a aco comegou a dominar todas as outras — 4 capacidade para 0 espanto © 0 pensamento contem- Plativo nfo menos que as faculdades do homo faber © do animal laborans humano. Isso, & claro, nao sig- nifica que 0s homens, de agora em diante, no sejam mais capazes de fabricar coisas, de pensar ou traba- Ihar. Nao stio as capacidades do homem, mas é 2 constelagio que ordena seu mituo relacionamento o que pode mudar e muda historicamente. Observam-se melhor tais mudangas nas diferent ges do homem no decorrer da © sucintos testemunhos do espirito de épocas inteiras. 94 Assim, esquematicamente falando, a Antigiiidade gre~ fa coscordava em que mais alla forma de vida hi mana era despendida em uma polis ¢ em que a supre- ma capacidede humana era a fala — dedon poliiin © ‘Moderna, 0 homem era primariamente concebido como homo faber até que, no século XIX, 0 homem foi in- terpretado como um animal laborans cujo metabolis- ‘mo com a natureza geraria a mais alta produtividade de que a vida humana é capaz. Contra 0 fundo dessas definigées esquematicas, seria adequado para o mundo fem que vivemos definir o homem como um ser capaz de ago; pois essa capacidade parece ter-se tornado (© centro de todas as demais faculdades humanas. gerados com que se depara hoje a humanidade jamais foram deparados antriormente, ConsideragSes como fessas em absoluto se propdem a oferecer solucdes ou lar conselhos. Na melhor das hipdteses, elas pode- am encorajar uma reflexio detida e aprofundada acer- ca da natureza © das. potencialidades intrinsecas. da agio, que jamais revelou tio abertamente sua gran- deza’ e seus. perigos. IL, Historia ¢ Triortalidade Terrena © meter sfaeio de prov, rpusins igualmente a historia ¢ a natureza, separa a época mo- derna do passado mais profundamente que qualquer outra idéia tomada individualmente, Para nossa mo- derna maneira de pensar nada € significativo em si por si mesmo, nem mesmo a historia e a natureza to- todas as coisas tangiveis e todas as entidades indivi- duais is para nés, degradando-as a fungdes de lum processo global. A monstruosidade dessa trans- formago tende a nos escapar se nos deixamos desnor- tear por generulidades tais como o desencanto do mun- do ou a alienacéo do homem, generalidades que amitide envolvem uma no¢io romantizada do passado. O que © conceito de processo implica € que se dissociaram © concreto © © geral, a coisa ou evento singulares © © significado universal. © processo, que toma por si 86 significative 0 que quer que porventura carregue ‘consigo, adquiriu assim um monopélio de universalida- de significacio. Certamente nada distingue mais agudamente 0 con- ceito moderno de His essa distingao nao depend possuido um conceit de de humanidade como um © que € muito mais re- evante € que as Historiografias grega e romana, por mais que difiram ‘uma da o que 0 significado ou, como 0 de cada evento, fei seja 0 contexto em que alguma alidade tinha tanta eonsciéncia. di nos; no eram eonsiderados como possuidores de uma existéncia independente de que o evento seria apenas expressio mais ou menos acidental, conquanto adequa- da, Tudo que era dado ou acontecia mantinha sua cota de sentido “geral” dentro dos confins de sua for- ma individual © af a revelava, nfo necessitand« yma meméria” para so grega:_mnémen poiéisthai; no ent duvidado que cada coisa que € ou qui significado dentro de si palavra para torn: Cerrar através das palavras”), para “exibir os grandes fei- tos em piiblico”, apddeiksis érgon megdlon. © fluxo 96 de sua narrativa ¢ sufici xar espaco para muitas es que indique que © geal ‘0 particular. grandeza excelsa qui ‘sua recordacio pela posteridade, ou que os romanos ‘hajam concebido a Histéria como um repertério de ‘exemplos tomados do comportamento politico real, de~ monstrando 0 que a tradicéo, a autoridade dos ante- gia de cada geracio e 0 que o passado © beneficio do presente. Nossa nogio de processo histérico rejeita ambos 0s conceitos, con- poral uma_importancia era antes, lerna no tempo € na se- qiiéncia temporal, se tem sustentado amitide que a ‘gem de nossa consciéncia histérica se acha na hebraico-crista, com seu conceito de tempo retilinear € sua idéia de uma providéncia divina que dé yue de fato se coloca em incia sobre ocorréncias © jidade classica como com dda Antighidade tardia, em apoio a tese de que a moderna consciéncia ‘gem religiosa criti e veio a ex larizagio de categories ori ‘que apenas nossa tradigo fe, na versio eristd, um fim cinio, um “esbogo definido da histéria. mu surge senéo com o Cristianismo, e—a pri sofia da Historia € apresentada ¢m De de Agostinho. E é verdade que encont Agostino, de que a histéria mesma, 97 tGricos isolados relatados em nar- Ele afirma explicitamente que, jas dos homens sejam re- Essa_similaridade entre os conceites moderno cristo de Histéria € porém enganosa. Ela repousa fem uma comparagio com as especulagdes histéricas ciclicas da Antigtidade tardia e ignora cs conceitos histéricos cléssicos da Grécia e de Roma, A compa- ragio & apoiada pelo fato de 0 préprio Agostinho, a0 refutar as especulagdes pags acerca do ‘empo, pre~ ‘ocupara-se basicamente com as teorias temporais cfcli- cas de sua propria era, as quais com efeito nenhum cristo podia aceitar, em virtude da unidade absoluta da vida e morte de Cristo sobre a terra: “Cristo mor- eu_uma vez por nossos pecados ressurgiu dos mor- tos para nao mais morrer”®, que intérpretes mo- dernos tendem a esquecer é que Agostinho reclamava essa singularidade que soa tao familiar a nossos ou- vidos, somente para este evento — 0 evento supremo nna histéria humana, quando a eternidade como que se quebrou no decurso da mortalidade terrena; cle jamais pretendeu essa unicidade, como o fazemos, para eventos seculares ordindrios. © simples fato de 0 pro- bblema da hist6ria s6 ter surgido no pensemento cris- to com Agostinho deveria fazer-nos duvidar de sua isso tanto mais quanto surge, em ter- mos da filosofia ¢ da teologia do proprio Agostinho, devido a um acidente. A queda de Roma, que ocorreu urante sua vida, foi interpretada, tanto por pagios como por cristios, como um evento decisvo, € foi & refutagdo dessa crenga que Agostinho devotou trinta anos de sua vida. © problema, conforme ele 0 via, estava em que jamais um evento puramente secular poderia ou deveria ser de importincia central para 0 homem. Sua falta de interesse por aquilo que cha- mamos de Histéria era tio grande que ele devotou apenas um livro da Civitas Dei a eventos seculares; ¢, incumbindo seu amigo e disefpulo Orosias de escre- Em De doctrina Christiana, 2, 28, De Citate Del, XI, 1% 98 ver uma “Histéria Universs fa mais tinha em mente que uma “compilagdo veridica dos males do mund. at ‘A atitude de Agostinho face & histéria secular quanto @ énfase lum repositério de exemplos, ¢ a local to no tempo, dentro do curso secular da histor tinua sem importincia, A historia secular se repete, © fa Gnica histOria na qual eventos tinicos e irrepetiveis ja com Adio c termina com 0 nasci- ‘de Cristo, Dai em diante poderes seculares ascendem ¢ declinam como no passado © as- @enderio © declinaro até o fim do mundo, mas ne- hnhuma verdade fundamentalmente nova seri jamais no- ‘vamente revelada por tais eventos mundanos, © 05 cristios no devem at importancia particular a les, Em toda filosofia verdadeiramente cristo ho- mem € um “peregrino sobre a terra”, e esse fato por si s6 @ separa de nossa consciéncia hist6 Para © cristo, assim como para o romano, & ide eventos seculares esta no fato de possuirem o ca- réter de exemplos que provavelmente repetir-se-0 de modo que a acfio possi seguir certos modelos pa- Gronizados, (Isso, alias, se distancia também da no- ‘gio grega de feito herbico, relatado por poetas his foriadores e que serve como uma espécie de estaldio no qual se mede a prépra eapacidade para grander: ‘A diferenca entre seguir fielmente um exemplo. re Shecido ea tentativa de se medir com ele é a diferen- intre @ moralidade romano-crist ¢ aquilo que tem 10 agonal grego © que no co- ferago “moral”, mas apenas ¢ sido chamado de es nhecia nenhuma cor luma aristeuein, um esforgo sempre incessante pars ser fo melhor de todos.) Para nés, por outro lado, @ his- toria assenta-se sobre © pressuposto de que o processo, “es Avent Patina sue se AMES tit como tm oreo He COM 99. em sua secularidade mesma, nos conta uma estéria com direito proprio ¢ de que, estritamente falando, tepeti- ges no podem ocorrer. ‘Ainda mais alheio a0 moderno conceito de His- ogo de que @ humanidade tem um inicio de que © mundo foi criado no tempo coisas tempo- indo foi tomada pelos ju la para a contagem cronol € apresentada nos compéndios como um mero técnico, necessério para fins dk pirou uma interpretagdo que vé no modemo sistema de tempo uma auténtica cronologia crista, porque 0 nascimento de Cristo parece agora tornado 0 onto de inflexao da his ‘Nenhum: formas cronol6gi lunicamente para comodidade intelectual, no corres- pondendo a nenhuma concepgo temporal modificada nna sociedade em geral. O ponto decisivo em nosso sistema no 6 que agora o nascimento de Cristo apa- rece como © ponto de inflexio da histéria mundial, 100 pois ele fora reconhecido como tal e com forga muito Maior muitos séculos antes sem quaisquer efeitos seme- Thantes em nossa cronologia; o decisivo é, em vez disso, que agora pela primeira vez a historia da humanidade se estende de volta para um passado infinito que po- demos acrescer A vontade, e que podemos ainda in- belecendo a humanidade em uma potencial dade terrena. © que a primeira vista assemelha-se a uma cristianizagio da his imi verdade, todas as especul igiosas sobre 0 tem- po da histéria secular. No que diz respeito & hist6- Tia secular, vivemos em um processo que nfo conhece principio nem fim que, assim, néo permite que, en- Tretenhamos expectativas escatolégicas. Nada poderia ser mais alheio a0 pensamento cristo do que essa eoncepcao de uma imortalidade terrena da humanidade, (© grande impacto da nogio de histéria sot joderna veio relativamente tar- que desde Pia verdade ¢ a revelagio do Ser eterno em toda parte, exceto na esfera dos pro~ “ixbpimoy mpéyyara— de que Plato fala com tamanho desprezo _precisamente porque nela néo se poderia achar nenhuma perma- rnéncia, no se podendo pois esperar que desvelasse a verdade. Pensar, com Hegel, que a verdade reside ¢ se revela no préprio proceso temporal € caracteristico de toda a conscigncia hist6riea moderna, {que esta se expresse — em termos es © ascenso das ‘Antigiiddde que ocorreram em pe- . Os homens comecam agora a ler, 101 como salientou Meinecke, como ninguém j ; uém. jam; antes. Eles “léem com 0 fito de expulsar da hist a verdade witima que SoS nao mais se acredit Ie essa verdade iiltima residisse em um tni ee nou algum substitu via: mesma era considerada como tal Herder, A pesquisa histérica recente langou muita luz iné in OE 1gou muita luz iné- © 05 Tempos Modernos, resultando di isso que a época modern, admitida anteriormente como se infeiando com a Renascenga, foi remontada ao proprio Amago da Ida- de Média, Essa maior insisténcia em se entende que o surgimen- to do secular eo concomitante eclipse de um mundo transcendente, entdo é inegével que a moderna conscién- cia hist6rica esta estreitamente conectada com ek Se 5S ee ae See eee ee a cer. O motivo pelo qual eles podem, em certa medi ae ae oe dificil estabelecer uma conexdo entre ela e pi te qualquer outra idéia. Em outras palavras, se timos que existe algo como um reino independente, de jdéias puras, todas as nogies e conceitos néo podem deixar de ser inte-relacionad nesse caso todos ‘eles devem sua origem & mesm: ‘mana concebida em sua subjeti tendo-se para sempre com suas proprias imagens, infen- 0 2 experiéncia ¢ sem relagio com o mundo, quer feja o mundo concebido como natureza, quer 0 seja como historia. No entanto, se entendemos por secularizacao_ um acontecimento que pode ser datado no tempo hist6rico, mais que uma mudanga de idéias, ento a questio nao € decidir se a “asticia da razio” de Hegel foi uma se~ cularizacio da providéncia ou se a sociedade sem classes de Mai senta uma secularizacio da Era Messidnica. © fato € que a separagdo entre ja e Estado ocorreu, eliminando a religiio da vida removendo todas as sang igiosas da po- fazendo com que a religio perdesse aquele fo politico que cla adquirira nos séculos em que Romana agia como a herdeira do (Nao se segue que esta separacio inteiramente a religiéo em um “as- sunto privado”, Essa espécie de reserva na religido aparece quando um regime tirinico proibe o livre fun- cionamento das igrejas, negando ao crente © espaco llblico em que ele pode aparecer com outros € ser Yisto por cles. © dominio publico-secular, ou a esfera jamente falando, compreende a esfera jco-religiosa e tem lugar para ela. Um ‘um membro de uma igreja e a0 mesmo tempo como um cidadio na unidade mais ampla constitur- ‘por todos que pertencem & Cidade.) Essa secula- \¢20 foi freqiientemente levada a cabo por homens que nao alimentavam a menor dit ver= dade dos ensinamentos religiosos Hobbes morreu imerso em mor inferno”, e Descartes orava ragio de todos aqueles {que prepararam ou ajudaram a estabelecer uma nova & independente esfera secular como inconscientes. Tudo que poder é quer que fosse sua crenga ou auséncia dela, es 103 ‘sem influéncia sobre 0 secular. Assim, os teéricos po- Iiticos do século XVII realizaram a secularizacio se- parando 0 pensamento politico da Teologia ¢ insistindo fem que as regras do direito natural proporcionavam um fundamento para 0 organismo politico mesmo que Deus nao exista. Foi o mesmo pensamento que levou Grotius a dizer que “nem mesmo Deus pode fazer iio sejam quatro”. O proble- ia de Deus, mas descobrit ificado independente ¢ ima- ma ndo era negar a exi no dominio secular um substncia da esperan- , mas disso no decorre que houvesse ocorrido uma tularizacéo da crenga em uma vida futura ou que a nada mais fosse essencialmente que “uma das idéias crists que ela buscava suplan- jue realmente aconteceu foi que o problema ica readquiriu aquela grave e decisiva relevin- 1 existéncia dos homens que the faltava desde dignidade, porque sob circunstancia xar quaisquer tracos atrés de si. Foi esta a razio do ‘oprébrio Iangado pelo pensi ‘rego sobre toda a esfera da vida privada, cuja “idiotice” consistia em preocupar-se exclusivamente com a sobrevivéncia, como foi 0 porqué da assercio de Cicero segundo a qual somente construindo e preservando comunidades poli- ticas poderia a virtude humana chegar as leis divinas *. Em outras palavras, a secularizagiio da época moderna traz mais uma vez 4 cena aquela atividade que Arist6- teles chamara de athanatfdzein, um temo para o qual no temos equivalente imediato nas linguas vivas. O motivo por que menciono esta palavra é que ela apon- ‘ta para uma atividade de “imortalizar”, mais que para ‘0 objeto que deve tornar-se imortal, Lutar pela imorta- obra humana, de algo ‘mais permanente do que n6s mesmos; e pode significar, ‘como com os fil6sofos, 0 dispéndio da propria vida com coisas imortais. Em qualquer caso, a palavra designa- va uma atividade ¢ no uma crenga, € 0 que a ativi- dade requeria era um espaco imperecivel garantindo que (© “imortatizar” no fosse em vo *. Para n6s, que nos habituamos a idéia de imortali- dade apenas através do encanto duradouro de obras de arte e, talvez, da relativa permanéncia que atribuimos ‘a todas as grandes civilizagdes, pode parecer implausi- vel que 0 impulso para a imortalidade devesse assen- tar-se sobre 0 fundamento das comunidades politicas ". Para os gregos, contudo, a iltima poderia perfeitamen- te ter sido dada como muito mais assente que a pri- meita, Nao pensava Péricles que 0 mais alto louvor que ele podia outorgar a Atenas era afirmar que cla ‘nfo mais precisava de “um Homero ou outros de seu oficio”, mas que, gragas 4 polis, os atenienses deixa- iam por toda parte “monumentos impereciveis” atrés de si?® A obra de Homero fora feitos humanos, ¢ a polis poderi vigos de “outros de seu mister” por oferecer a cada um de seus cidadaos aquele espaco politico piiblico que, pressupunha, conferiria imortalidade a seus atos. O crescente apol dos filésofos apés a morte de Sécrates, sua de se liberarem das atividades politicas, sua ia em realizar uma athanatidzein que nao fosse i, mas sim puramente tedrica e fora da esfera da vida politica tinha causas filos6ficas bem como politicas, mas certamente entre as politicas se encontrava o crescente declinio da vida da polis, tor- nando mesmo a permanéneia — para nfo falar da imortalidade — desse organismo politico particular cada vex mais duvidosa. © apolitismo da Filosofia antiga prenunciava a ati- tude antipolitica muito mais radical do Cristianismo tmitivo, que contudo, em seu verdadeiro extremismo, sobreviveu apenas enquanto o Império Romano forne- ‘eeu um corpo politico estivel para todas as nagées ¢ todas as religides. Durante estas primeiras centirias de nossa era a convie¢ao de que as coisas terrestres sio pereciveis permaneceu uma questio religiosa ¢ cons- tituia a crenea daqueles que nada quetiam ter a ver ‘com negécios politicos. Isso mudou decisivamente com a crucial experiéncia da queda de Roma ¢ a pilhagem dda Cidade Eterna, apés 0 que nenhuma era jamais acre foduto humano, € muito menos uma pudesse durar sempre. No que dizia ppensamnento cristio, 0 fato consistiu em ima mera reafirmagdo de suas ‘crengas, Nao foi de grande importincia, como ‘Agostino. Para (08 cristios somente homens in rnada mais que fosse desse mundo, nem a hn como um todo nem a propria terra, © menos fdificio humano, Somente transcendendo esse mundo jdades imortalizadoras, ¢ a fe para a qual todos 0s impulsos gent ‘cos poderiam ser levados. O fato de semethante trans- formacao da cristandade ¢ de seus primitivos impulsos antipoliticos em uma grande e estavel instituicao p ca ter sido possivel sem uma completa perversao do jeveu quase inteiramente a Agostinho, que, 6 provavelmente o autor espiritual € jor te6rico da politica crista. O que foi deci- sivo a esse respeito foi ter ele podido, ainda firmemen- te arraigado na tradigéo crist’, aditar & nocdo erista de uma vida eterna a idéia de uma civitas futura, uma Civitas Dei, onde 0s homens mesmo apés # morte con- tinvariam a viver em uma comunidade, Sem essa re- igo dos pensamentos ctistos por meio de ho, a poltiica crista poderia ter permanecido aquilo que fora nas 1s centirias: uma contr Gio em termos, Si. Agosnho pode sluconsr ma porque a propria linguagem veio em seu auxiio: em Tatim, a palavra “viver” sempre coincidiu com inter hhomines esse, “estar em companhia de homens", de ‘modo que uma vida eterna, na interpretagdo romana, deveria significar que jamais homem nenhum teria de S@ apartar da companhia humana, ainda que na morte fe tivesse que abandonar a terra, Assim, o fato da me jdade dos homens, um dos pré-requisitos da vida itava a “natureza” humana mesmo sob as ‘dc imortalidade individual, nfo se incluindo 107 entre as caracteristicas que essa “natureza” adquirira aps a queda de Adio e que fizera i sentido meramente secular, uma neces vida pecadora sobre a terra. A conviegao de Agostinho de que algum tipo de vida politica dever ‘mo sob condigdes de inocéncia © até ms dade foi por ele condensada em uma sentenga: Soci est vita sanctorum, mesmo a vida dos santos € uma vida em comum com outros homens.” ‘Se 0 discernimento da perecibilidade de todas as ceriagGes humanas no foi de grande importineia para © pensamento cristo, podendo até mesmo, no seu maior pensador, conformar-se com uma concepgio que situa a politica além do dominio secular, ele tornou-se bas- humana emancipou-se da separaglo entre rligito e politica s 7 importando 0 que um individuo pudesse cret como membro de uma igreja, como cidadio ele agiria e se comportaria com base na suposicao da mortalidade hu- mana. © medo de Hobbes das chamas mo nao exerceu a menor influéncia em sua 1¢0 do go verno como o Leviata, um deus mortal atemorizador de todos os homens. Politicamente falando, dentro do os conduziu, é certo, a uma redescoberta ide, a0 que chamamos de humanismo, na am novamente uma correspondente a ex- suas, por outro lado ‘na pritica, moldar’seus comporta- jidade com’ o exemplo grego ou r0- ‘mano. A antiga confianca na maior permanéncia da cexistén que na de individuos humanos, & como uma garantia de sobrevi- fe dessa forma a antiga’ oposigéo de uma vida jum mundo mais ou menos imortal, Agora, jida como o mundo tornaram-se pereciveis, fiteis a (0) De Chvtate Det, XIX, 5. 108 Hoje, & dificil entendermos que essa situagio de mortalidade absoluta pudesse ser insuportével aos ho- mens. Contudo, wltando o ol a0 desenvolvi- mento da época moderna até o inicio de nossa propria era, 0 mundo moderno, vemos que se passaram séculos lantes que nos acostumassemos & nogio de mortalidade absoluta, a ponto de ndo mais nos incomodar a sua idéia e de no mais ser significativo o antigo dilema entre uma vida imort jidual em um mundo mor- tal e uma vida mortal em um mundo imortal, | Nesse respeito, entretanto, como em muitos outros, diferimos de todas as eras anteriores. Nossa cone His- i cepcdo da era mo- de transicao em que @ confianga influéncia sobre o secular ¢ em que a nova a face & questio da Se deixarmos de | detivermos dentro dos atribuindo imortalidade na-se, entio, dbvio que athanatidzein, imor atividade de homens mortais, s6 pode se nio houver garantia nenhuma de vi momento, contudo, tal atividade se torna quase uma necessidade, na medida em que existe uma preocupa- a0 com a imortalidade, seja ela qual for. Foi portanto no decurso da busca de um ambito estritamente secular de duradoura permanéncia que a época moderna desco- iu a imortalidade potencial da espécie humana. & que € expressamente manifesto em nosso calenda- © contetido real de nosso le Historia, A historia, prolongando-se na dij assem algo de essencial ¢ grande, recebiam uma per- manéncia estritamente hum’ rnesse mundo. ‘A grande vantagem dese concei abelecimento, pela diplice infinitude do processo , de um espaco-tempo em que a nogo mesma de um fim é vit- tualmente inconcebivel, a0 passo que sua grande des- vantagem, em comparaco com a teoria politica da An- 109 tigtlidade, parece ser o fato de a permanéncia ser con- fiada a um processo fluido, em oposi¢ao a uma estru- ges; ele engloba toda a humanidade,’ cuja hit Hegel foi, em conseqiiéncia, capaz de’ ver como um desenvolvimento ininterrupto do Es ‘Com isso, a humanidade cessa de ser apenas uma espécie da nature- za, € 0 que distingue 0 homem dos io & mais éo tradicional, supunha-se que partilhasse com os ani- mais. Nas palavras de Droysen, que foi talvez 0 mais, denso dos historiadores do século XIX: “Aquilo que © a espécie para animais ¢ plantas... € a histOria para s seres humanos” IL. Histéria e Politica Se é Sbvio que nossa consciéncia histérica jamais teria sido possivel sem a ascensio do dominio secular nidade, nfo era assim tio dbvio que 0 0 viria a ser subseqilentemente chama- jecessdrio significado e importincia no- imentos dos homens sobre a terra. da €poca moderna tudo apontava la agdo e da vida politica, e os sécu- ricos de novas filosofias politicas, inteitamente inconscientes de qualquer én- Histéria como tal. Sua preocupacio, era mais desvencilhar-se do passado que ‘© processo histérico. O trago distintivo da ia de Hobbes € sua unilateral insisténcia sobre 0 futuro e a interpretacdo teleoldgica tanto do pensamen- to como da acdo que disso resulta. A conviccdo da €poca moderna de que © homem somente pode conhe- (18), Manigse «Bex. aenan ihr Catia h dari den Menacen de Gesehche”"“Droywn 6 Rede 6 tor cer o que ele mesmo fez parece estar mais de acordo com uma glorificagio da acio do que com a atitude ‘contemplativa do historiador © da cons- far que x coisas que existe constit causas € que, por ds Gistingdo entre a vide humana e animal; a0 im Controu tal distincéo na capacidade para con “os efeitos de alguma causa presente ou pass vi sinal algum em época alguma, ‘A idade moderna néo somente géncias da esfera politica; tica esta presente nao apenas em Hobbes . Pode-se di Em qualquer consideraca0 do conceito moderno de tum dos problemas cruciais € explicar seu st- aparecimento durante 0 Te 0 concomitante declinio de foi um pioneiro cuja influéncia somente de duas geragdes apés sua morte.) Ond ‘via um genuino interesse em tcoria politica, este fin- dou em desespero, como em Tocqueville, ou na so da Politica com a Hist6ria, como em Marx. Pois, . poderia ter inspirado a ‘© que mais, além do des (2) Leviathan, ero 1 exp. 3 i assercio de Tocqueville de que “desde que 0 pasado deixou de langar sua luz sobre o futuro a mente do ‘conclusio da grande obra na qual ciedade do mundo moderno”, em ct clamara “scr necesséria uma nova ciéncia da Politica para um novo mundo”®. E que mais, além de con- fusio — uma confusio indulgente para’ com o préprio Marx, ¢ fatal para seus seguidores — poderia ter con- duzido a identificagao, por Marx, da ago com 0 “fa- zer a histéria”? ___ A nogio do “fazer hist6ria”, de Marx, teve uma influéncia que excedeu de longe 0 cfrculo de marxistas convictos ou revolucionérios determinados. Embora in- timamente relacionada com a idéia de Vico de que a hist6ria era feita pelo homem, contrariamente & “na tureza”, feita por Deus, a diferenca entre elas 6 contu- do decisiva. Para Vico, como mais tarde para Hegel, conceito utilizando-o diretamente como um principio de ago. Concebiam a verdade como sendo revelada a0 vislumbre contemplativo ¢ retrospective do historiador, © qual, por ser capaz de ver © processo como um todo, estaria’ em posigo de desprezar os “designios estreitos” ddos homens em aco, concentrando-se em vez disso nos fem Seu pensamento os “designios suj Aordo com os ldsofos da Historia se revelavam ape- fas ao olhar retrospectivo do historiador e do filésofo, poderiam se tornar fins intencionais de ago pol © ponto essencial € que a Filosofia Politica de Marx Inlo se baseava sobre uma anélise de homens em acio, mits, ao contrério, na preocupacao hegeliana com a His- tiva do historiador com a contemplagio do eidos ou “forma” do qual Platao derivou suas que guia 0 artesio e precede todo fazer. inagdes nfo 6 tornar imanente luntérias estava em lem rou esse “fim” ditimo como produto final de um pro- ‘cess0 de fabricagio. Contudo, nem a liberdade nem qualquei jamais o produto de uma de que a mesa 6, evid © produto final da atividade do carpinteiro. ‘A crescente auséncia de sentido do mundo moder- no é talvez prenunciada com maior clareza que em ne- rnhum outro lugar nessa identficagao de sentido e fim. sentido, que nio pode ser nunca o desfgnio da acdo © que no entanto surgiré inevitavelmente das realiza- ‘goes humanas apés a propria ago ter chegado a um fim, era agora perseguido com o mesmo mecanismo de intengées e meios organizados empregado para atin- gir os desfgnios particulares diretos da ago concreta: © resultado foi como se © proprio sentido se houvesse separado do mundo dos homens ¢ a eles somente fosse deixada uma intermindvel cadeia de objetivos em cujo progresso a plenitude de sentido de todas as realizacdes passadas constantemente se cancelasse por metas © in- fengdes futuras, Era como se.os homens fossem subi- tamente cegados para distingdes fundamenta t (como se © iro, por exemplo, esquecesse que somente seus atos particulares ao fazer uma mesa 113 sio realizados “a fim de”, mas que sua vida total como carpinteiro € governada por algo inteiramente diverso, , uma nocdo abrangente “‘por cause da” qual, antes de mais nada, se tornou um carpinteiro). E, no ‘momento em que tais distingdes sio esquecidas © os sentidos sto degradados em fins, segue-se que os pré- ‘os fins nfo mais sio compreendidos, de modo que, nte, todos os fins sd degradados e se forma alguma restrita a Marx em a0 Pragmatismo em geral, podem: 4 antiga tentativa de escapar a Bes © a fragili- dade da aco humana construindo-a a imagem do fazer. © que distingue a teoria do préprio Marx de demais teorias em que a nogio de “fazer a hi eneontrou abrigo € somente 0 fato de apenas i toma a histéria como 0 objeto de lum processo de fabricagdo ou io, deve sobre- vir um momento em que esse ”"” & completa- possivel “fazer a se pode escapar & conseqiiéncia de que ara_a hist6ria, Sempre que ouvimos grandiosos desfgnios em politica, tais como ‘cimento de uma nova sociedade na qual a garantida para sempre, ou uma guerra para todas as guerras, ou salvar 0 mundo inteiro para a de- de pensamento. Nesse contexto, é importante ver que aqui 0 pro- ccesso da historia, conforme se apresenta em nosso ¢a- Jendério prolongado na infinitude do passado e do tu turo, foi abandonado em fungéo de um tipo de processo je movimento po- exemplo, como titui de importaneia 0 que quer que tenha vindo antes: 4a nna sociedade sem classes 0 melhor que a pode fazer com a historia é esquecer todo feliz cujo Gnico propésito era abolir fe tampouco atribuir sentido a ocorrénci la- ‘pois todas se dissolveram em meios cujo sentido ‘a no momento em que o produto final é acaba- eventos, feitos © sofrimentos isolados nao possuem ais sentido do que martelo © pregos em relagio & mesa concluida. fim alcangado nos meios para um novo jo assim o sentido onde quer ‘20 aparentemente interminavel idade de hoje se torna o meio de '2 nica questo que nenhum fe jamais responder: “E para ‘como 0 colocou Lessing de modo su- serve progresso onde ‘um amanha ppensamento que serve servi cinto certa ‘A auséncia de sentido de todas as filosofias ver- dadeiramente utilitaristas podia escapar & consciéncia de Marx por acreditar este que, apis Hegel ter descober- to em sua dialética a lei de todos os movimentos, na- i proprio encontrara a mola eo contetido dessas leis no domfnio histérico e, portanto, f significagio concreta da est6ria que a Historia tinha a contar, A. luta de classes: para Marx essa formula parecia desvendar todos os segredos da his- téria, exatamente como a lei da gravidade parccera padro’com um sentido, e certamente seria far que ele percebesse que quase néo havie que 0s eventos do passado néo se encai- m to precisa e coerentemente como no seu pr6- © padrdo de Marx, pelo menos, bascava-se em Portante discernimento histérico: desde entio, isto os historiadores imporem ao labirinto de fa- sados praticamente qualquer padrio que Ihes isso resultando que a ruina do fatual e do wvés da validade aparentemente maior de is chegou mesmo a solapar a estrutura fa- de todo processo histérico, isto 6, a cro- _ Além disso, Marx construiu seu padrio como 0 fez devido & sua preocupacdo com a ago e sua impacién- cia com a histéria, Ele ¢ o tiltimo dos pensadores que se situam na linha fronteirica entre o primitivo interesse da época mode tentativas de estabe- através da redesco- lendario revolucionério francés foi abandon: uma década, ¢ a Revolucio reintegrou-se, zer, no processo histérico com sua dt ximo da histéria politica moderna, continha suficiente sentido independente, em si mesma, para inici novo processo hist6rico, Pois o calen cano nao foi abandonado meramente pelo desejo napo- 116 lednico de governar um império © ser igualado as ca- becas coroadas da Europa. O abandono implicou tam- bém a recusa, nio obstante o restabelecimento do se- cular, a aceitar a antiga convicgdo de que as ages po- Iiticas tém sentido independentemente de sua situagdo cardter sagrado dos fundamentos, com 0 corresponden- te costume de enumerar 0 tempo a partir da data de fundagio. De fato, a Revolugio Francesa, que foi ins- pirada pelo espirito romano e apareceu 20 mundo, como ‘Marx gostava de dizer, em trajes romanos, inverteu-se em mais de um sentido. ‘Um marco igualmente importante no deslocamento da preocupagio inicial com a Politica para a posterior preocupagio com a Histéria encontra-se na Filosofia Politica de Kant, Kant, que saudara em Rousseau “o Newton do mundo moral” e que fora saudado por seus contemporineos como o teético dos Direitos do Ho- mem, encontrava ainda muita dificuldade em lidar com a nova idéia de Histéria que provavelmente che- gara A sua atengdo nos escritos de Herder. Ele € um te 0 “curso. essa desesperangada e sem sentido “mistura de violencia”, como certa vez Goethe definiu a Histéria, No entanto, Kant viu também aquilo que outros ha- vviam visto antes dele: uma vez que olhamos para a His- {6ria em seu conjunto (im Grossen), © no para acon- tecimentos isolados e para as eternamente intengdes de agentes humanos, tudo faz sentido subita- ‘mente, pois ha sempre, pelo menos, uma est6ria a con- tar. © processo como um todo parece ser guiado por sngaio da natureza’” desconhecida pelos homens fem ago, mas comprensivel Aqueles que os sucedem. ‘Ao perseguirem seus préprios alvos sem rima ou ra- ‘Zio 0s homens parecem ser conduzidos pelo “fio con- dutor da razio” ®. Tem certa importincia observar it Hegel denominow tarde de “a asticia da razio” (Kant chamou-o almente “o ardi Ele chegou a ter uma certa apreen: [persegue seus alvos gerais através do “antagonismo de homens em sociedade... sem os quais os homens, de Recs cao cn rn Nana de 5 am coma, dar a roe, eroncin xi lor mais alto que 0 possuido por seu be fee em que todide's prope ids Ge ntiee oe, tum processo sugere serem os homens, em suas agées, conduzidos por algo de que néo tém’necessariamente consciéncia e que no encontra expressio di mesma. Ou, colocando-o de outra manei tra quao extremamente dtil o moderno con t6ria se revelou para dar ao émbito pol ‘um significado do qual ele, de outro modo, provido. Em Kant, em cont paca a fuga moderna da Politica para a Histor € absolutamente claro. E cla a fuga para o “todo”, ¢ a fuga é incitada pela auséncia de significado do par- E como o interesse primério de Kant recaia la na natureza e nos principios da aco politica , eta capaz de perce- bere defcgneia eri da nova) abordaper, 0 di grande tropeco que nenhuma Filosofia da nenhum conceito de progresso péde remover jamais. Nas préprias palavras de Kant: “Permanecerd sempre Pasmoso.... que as primeiras geragdes parecam con dduzir seus fatigantes negécios unicamente para ‘o bem das posteriores... e que somente as iiltimas devam ter boa fortuna de habitar © edificio [eompleto]” *. (© aturdido pesar ¢ a grande hesitacdo com que Kant se resignou a introduzir um conceito de Historia tica indica com rara preciséo a lades que fizeram com que a épo- ca moderna transportasse sua énfase de uma teoria da Politica — aparentemente tio mais apropriada a sua crenga na superiotidade da ago sobre a contemplagao 8 — para uma Filosofia da Histéria essencialmente con- templativa. Pois Kant foi talvez 0 tinico grande pen- sador para o qual a questio “Que devo fazer?” foi nao apenas tio importante como as duas outras ques- toes da Metafisica, “Que posso saber?” © “Que posso esperar?”, mas coastituiu 0 cere mesmo de sua fi- losofia. Em conseqiiéncia ele nio foi perturbado, como até mesmo Marx © Nietzsche o foram, pela tradicional ia da contemplacio sobre a aco, a vita con- iva sobre a vita activa; seu problema era, antes, outra hierarquia tradicional que, por ser oculta e ex- cepcionalmente articulada, se mostrou muito mai fieil de superar: a hierarquia no interior da propria vita activa, onde a acio do politico ocupa a posicio ‘mais alta, o fazer do artesfo € do artista uma_posigio intermediaria e 0 trabalho que prové as necessidades do funcionamento do organismo humano, a mais baixa (Marx, posteriormente, inverteria também essa hierar- quia, embora escrevesse explicitamente apenas sobre ele- vat & agio sobre a contemplacao ¢ transformar © mun- do em lugar de interpreté-lo. "No curso dessa inversio cle teve que derrubar igualmente a hicrarquia tradicio- nnal no interior da vita activa, colocando a mais baixa das atividades humanas, a atividade do trabalho, no mais alto grau. A aco, agora, parecia no ser mais ‘que uma fungio das “relagdes de produgfo” da huma- nidade erigidas pelo trabalho.) verdade que a Filo- sofia tradicional com freqiiéncia nao faz mais que timar superficialmente a ago como a mais alta vidade do homem, preferindo a atividade muito mais confidvel do fazer, de modo que ‘quia no interior da vita activa chegou algum dia a ser inteiramente articulada, um sinal do nivel politico josofia de Kant 0 fato de as velhas per rentes ago terem sido novamente trazidas cena, Como quer que seja, Kant nfo podia deixar de se tornar consciente do fato de 2 agio nao satisfazer nenhuma das duas esperangas que a época moderna esperaria dela, Se a secularizagio de nosso mundo implica 0 renascimento do antigo desejo de alguma espécie de imortalidade terrena, ento a agio humana, 19 gularmente inadequada para atender Do ponto de vista da m 0s objetivos humanos: nario possuem quando sobrevi no mencionar as obras de ca satisfaz sua intencio num ato pode jamais ser reconhecido por seu exec te como seu com a mesma ale; obra de arte de qualquer es Durante longo tempo, ignificatividade” do processo da historia itica insistindo na “ fem sua totalidade, que parecia dar A esfera faquela dignidade ¢ redengfo final da “melane Sstalidade” tao obviamente exigidas, A historia — ba- Seada na suposi¢ao manifesta de que, nfo importa quio acidentais as ages isoladas possam parecer no presen ‘na qual os homens se “reconciliam” com a re (Hegel), a realidade dos problemas humanos, isto é, de coisas que devem sua existéncia exclusivamente aos homens, Além disso, visto que a hist6ria, em sua ver- so moderna, era concebida basicamente como um pro- fesso, cla exibiu uma peculiar e inspiradora afinidade com a aco, a qual, de fato, em contraste com todas fas demais atividades humanas, consiste acima de tudo de processos de iniciamento — um fato do qual, na~ turalmente, a experiéncia humana sempre fora conscien- te, embora a preccupacdo da Filosofia com 0 fazer como modelo da atividade humana tenha obstado a ela- boragdo de uma terminologia articulada ¢ de uma des- crigio precisa. A propria nogo de processo, to alta~ ‘mente caracteristica da Ciéncia moderna, tanto natural como a histérica, provavelmente originou-se nessa ex- periéncia fundamental da aco, a qual a secularizagao femprestou uma énfase como ela jamais conhecera des- de os primeiros séculos da cultura grega, antes ainda do surgimento da polis e certamente antes da vit6ria da escola socréitica, A historia, em sua versio moderna, ppoderia entrar em acordo com essa experiéncia; em- bora fracassasse no salvamento da propria politica da antiga desgraca, embora 0s feitos e atos isolados cons- tituintes do dominio da politica, propriamente falando, fossem relegados a0 limbo, ela pelo menos outorgou 20 registro dos eventos passados aquele quinhéo de imor- talidade terrena ao qual a época moderna necessaria~ mente aspirava, mas que seus homens ativos ndo mais ‘ousaram reclamar & posteridade, 121 Epilogo covciianento com u readade eaves de comprcesio do simitcado mais profendo de todo o pro rico parece tao completamente refutada como a ‘pragmatismo ¢ do utiitarismmo de impor & realidade o significado e ts Citcias Naturise teaham sd : im ido" conseqiencia da Sxpertacia btn na tentaliva de concer univero, xi ‘a dedugdes coerentes, ¢ Barto que € como s ok hoieasexivesen em poigho de provar prateamente qualquer hipsese que decidam , no apenas no campo das construgées pu- ramente hipotéticas, como as diversas interpretacdes gl homem, toda vez. que que no so cle proprio n. cia, encontrard em iltima instincia a si mesmo, a suas € 05 padroes de st mas, objetivamente, igualmente “verda mas enémeno, do mesmo modo como a mesa em torne "virias pessoas se sentam é vista por cada um Ga atin um aspecto diferente, sem deixar por isso de ser o objeto comum # todas ela jmaginar que uma tcoria das teo rersalis, poderia eve question des ou quat entes tipos dc lei natural” podem ser faplieades ao mesmo universo sem Co . (© problema se tornaria um pouco mais serio eas fosse evidenciado que ndo existe questio alguma que a emt conjunto coerente de respostas — stingio entre padrao © SRE, propria distingio entre quesides significativas © Gesaparcceria juntamente com a Ver~ s Cegeréncia com que ficariamos po- dria ser iguaimente a coeréncia de um nidicos ou a coeréncis das atuais demo téncia de Deus. Contudo, 0 que esté pando toda 2 moderna nogao de que o significado esta paride no processo como um todo, do qual a ocorrén- Cia particular deriva sua intligiblidade, € que no so- juncionam, \ss0 “que mado € possivel ndo somente no ambito das ‘as no campo da propria realidade. tarios e seu estranho menosprezo pela fan ultima andlise, na conviegdo de ,, moralmen- ilismo primitivo, (Os sistemas, trar que @ Seuo pode ser bascada sobre qualquer hipétese © que, 123 1no curso da aco coerentemente guiada, a hipStese par- ticular se tornard verdadeira, se tornard realidade’ fa. tual € concreta. A hipstese que subjaz & aga cocrente Pode ser to louca quanto se queira; ela sempre termi. hard por produzir fatos que so entéo “objetivamente™ verdadeiros. © que originalmente nao era mais que uma hip6tese, a ser comprovada ou refutada por fatos reais, no decurso da acio coerente se transformaré sempre em um fato, jamais refuté ica tradi uma verdade auto-evidente; ele nfo necessit Tse har- monizar com os fatos dados no mundo objetivo no mo- mento em que a aco comeca; 0 proceso da ago, s¢ for cocrente, passard a ctiar um mundo no qual as hi- oteses se tornam axiométicas e auto-evidentes, ‘A assustadora arbitrariedade com que nos confron- tamos sempre que de agio, a exata congruentes, é ainda via no dom! ‘no dominio natural. Mas & mais difi pessoas de que isso vale para a histéria historiador, contemplando retrospectivament so use tanto a descobrit cado independente dos alvos e da conscién- cia dos 1¢ ele é propenso a menosprezar 0 que cfetivament "um Sua busea por discernir al- guma tend iva. Ele menosprezard, por ex tia de Stalin em favor da industrializagao do império soviético ou dos alvos nacionalistas da politica exterior russa tradi No iit das Ciéncias Ni as coisas no silo essencialmente diferentes, parecem mais convincentes por estarem até agora distanciadas da competéncia do leigo e de seu saudével e empedernido bom senso que recusa ver 0 que néo pode compreen. der. ‘Também aqui o pensar em termos de processos, or um Jado, ¢ a convieglo, por outro, de que conheg somente aquilo que eu mesmo fiz, levaram & completa auséncia de significado que resulta inevitavelmente da Compreensio de que posso escolher fazer 0 que quiser 124 Jo sempre alguma espécie de “sent tres os aso pepleiade ex om gi te particular, 0 fato observével ou a ocorréncia is na natureza ou 0 feito ¢ evento registrados da histéria, deixaram de fazer sentido sem um processo universal em que Supostamente se embasem; no obstante, no mo- mento em que 0 homem se acerca, dese processo vi- sando escapar ao cardter acidental do particular, visan- do encontrar sentido — ordem ¢ necessidade —, esforgos so rechagados de todos os Tados:, qualquer ordem, qualquer necessidade, qualquer sentido, que se ueira impor far sent. Essa ¢ « mls clara demons tragio possivel de que, sob estas condigdes, nfo, ht ” do particular svesic agora nes amar suindo na propria regio par anteriores haviam fugido vsando es- capar-Ihe do aleance. ots decisivo nessa experiéncia, tanto na natu- rezn Como ta histtria, no sho. on padres com que procuramos “‘explicar”’e que, nas Ciéncias Histéricas Sociais, se cancelam uns aos outros mais rapidamen- te, pelo fato de todos poderem ser consistentemente provados, do que nas Ciéncias Naturai biemas so mais complexos e, por essa menos aberos a arbtariedade leviana de eis. Essas opinides tém, é cerio, un ompleamente divers mas tem & obnublr © ro- blema realmente importante da contingéncia com que ‘nos confrontamos hoje em toda parte, O que € deci- sivo é que nossa tecnologia, que ninguém pode acusar de nao funcionar, é baseada nesses principios, e que rnossas técnicas sociais, cujo campo de experimentagdo real se encontra nos paises totalitérios, tm apenas de su- perar um certo espago de 16 serem capazes de fazer para 0 mundo das relagdes humanas ¢ dos as- suntos humanos tanto quanto jé foi feito para o mun- do dos artefatos humanos. ‘A Gpoca moderna, com sua crescente alienagio do mundo, conduziu a uma situacdo em que 0 homem, ‘onde quer que vé, encontra apenas @ si mesmo, Todos ‘5 processos da terra e do universo se revelaram como 125 tencialmente pro- aps como que dado, terminaram go-tempo eterno no qual todos eles pod bertando-se, assim, de seus conflitos e em a natureza so em absoluto con lupla perda do mundo — a perda da la-da obra humana no senso mais Jato, que incluiria toda a si uma sociedade de hom, humanos que se relaci INS aos outros mas que perderam o mundo outrora comum a todos eles. 126 3. QUE £ AUTORIDADE? de 0 cientista politico poder ainda recordar-se de ter 127

Você também pode gostar