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Jayme Caetano Braun - Encontro Com Juca Ruivo

Virava de meio dia,


tempo quente de mormao.
Quando pegava meu brao
era o Nogueira Leria,
ndio que a gente aprecia,
crioulo do cerne atona.
Vinha rustindo carona
no costado d'outro qera.
Era o Ruivo da tapera.
Era o Ruivo da cordeona.
Era o Ruivo que venero
desd'as tropeadas da infncia
e que aprecio distncia
com grande apreo sincero.
Era o Ruivo quero-quero
da tradio campechana.
Era o Ruivo, a voz pampeana
do canal das Misses.
Era o paj dos foges
com floreios na badana.
Era o Ruivo da saudade,
o passado vindo das eras
olfateando primaveras
no rumo da mocidade.
Era o Ruivo de verdade
mais srio que um Uruta.
O Ruivo cujo recau,
entre as costuras dos bastos
guarda as sementes dos pastos
das querncias do Jarau.
Era o Ruivo do Umb
da tapera desquinxada.
O Ruivo venta-rasgada
dos trastes de couro cru.
O Ruivo do Inh-Quetru
de corao abugrado
que o fogo arrinconado
lamenta algum que se foi
e s v olho de boi
onde sumiu o seu tostado.
O Ruivo do Quara,
que mamou no Garup.
O Ruivo do Boi Tat
e da petia de Anvilha.
O Ruivo do Ibicu
de gloriosas correrias.
O cantor das Sesmarias,
que o Rio Grande consagrou.
A saudade se plantou
junto cruz do Malaquias.

O Ruivo que o Aureliano,


numa tarde, quase inverno,
benzeu, num mate fraterno
chimarreando mano a mano,
enquanto o vento aragano
pelas copas se arranchou
e a labareda ondulou
como cabelo de gringa
que se atirou na restinga
e, por amor, se afogou.
O Ruivo que eu encontrei
depois de tanto tropear,
Sem as garras de domar
com que de longe sonhei.
o Ruivo de buena lei
que simpatias desgua.
At na gacha mgoa
demonstra grande fortuna.
quieto como laguna
quando tem cus dentro dgua.
Ah, Ruivo, bem imaginas,
no teu instinto avoengo,
as mgoas deste andarengo
que vaga tranando esquinas
sem umbs nem sina-sinas.
Que mal o cu pode ver?
Mas que anseia renascer
numa gaita, nem que seja
quando um broto de carqueja,
um dia, quando volver.
Juca Ruivo , sem alarde,
um guarda-fogo de angico.
E o galpo de pra a xico
quando esse teu astro arde.
Eu quero dizer, mais tarde,
andarengo payador,
ao falar do verso-flor
pra que todo mundo entenda:
Juca Ruivo no lenda,
eu conheci esse cantor!
Link: http://www.vagalume.com.br/jayme-caetano-braun/encontro-com-juca-ruivo.htm
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