Você está na página 1de 9
A Evolugao do Conceito de Espago Verde Piblico Urbano Manuela Raposo Magalhies RESUMO. ‘A concepso do expaso pico urbano acompanhou as exigéncias da vida citadina ao longo dos tempos, até& Revotugdo Industrial. A dimensio «as caracteristicas da cidade moderna alleraram profundamente essas exigencias, and origem &viris concetos de espago pubtico, do ponto de vista, quer formal, quer dos pressupostos cientifices que 0 justifieam. ‘Neste artigo analisar-oe brevemende a relasSce cxiscntes ere conceiteo forma te epee verde pblice, dando cxemplos da sun evohupo desde 0 sbeulo XVII SUMMARY “The public open space conception followed the urban life needs, through the years, tll the industrial revolution. The dimension. and the caractherstics ofthe modern city deeply changed this needs, and gave birth 1 several concepts of public open apace fiom the formal put uf view arn he sciemific purposes which justify it Tis paper, briefly analysis the relationships between the concept and the shape of the public open space, showing examples ofits evolution since the XVII th, century © conceito de espago verde piblico urbano existiu desde sempre na Agora, na Palestra e, mais tarde na Praga ou no Lango da lgreja, camo espago de convivio ¢ encontzo, nas cidades que apresentem particular aptiddo para a instalacdode espagos verdes, quer devido a natureza do solo e disponibilidade em Agua, quer devido sua situagdo ecolbgica (margens de cursos de égua, etc.) ‘Um caso actual de aplicacdo do modelo da Estrutura ‘Verde Continua (embora apresentando outra forma) ¢ 04 citado Plano do Randstadt, na Holanda, que prevé o estabelecimento cduma continuidade edificada entre as cidades de Roterda0, Delt, Haia e Amsterdiio, salvaguardando corredores ecolégicos de ligagao entre 0 litoral e um “coragao verde” situado no centro daquela continuidade. Figura 33 -Conceto para o Randstad (anos 1980 -1990)-O "Corasao Verde” Maisrecentemente, voloua defender-se,nalgunspaises da Europa, oconceito de estrutura verde "pontiista", ou seja, ode ‘uma estrutura constitulda por espagos pontuais sem que existam comredores verdes a ligi-los, um pouco a semelhanga dos jardins rominticos lisboetas. ‘No extremo da concepedo "pontiista® tem-se chegado mesmo adefender 0 "inertismo", ou seja, a auséncia de vegetago no espago exterior urbano ¢ a sua substituigto por elementos ‘construidos por materiais inert. As referéncias anteriores mostram que estamos, actualmente, numa faseem queadefesa domodelo do continuum ‘naturale aplicado a0 meio urbano altema com a dos modelos “pontiista” ou mesmo "inertista", defendidos pelas escolas mais “formalistas” que oonsideram 0 "continuum naturale” come “ecologista” ¢ de certa forma, ultrapassado. Julgo que a justificagdo desta nova perspectiva se deve Ainfluéncia dos pafses doNorte da Europa. Estes, tendo tidouma tradicao ¢ uma pritica mais desenvolvida do modelo dito “ecologista” tém vindo a concluir que a integrago de espagos verdes na cidade no ¢ suficiente para, 8 por si, conferir caracteristicasde qualidade atrac¢dominimas ao espago urbano, Verifica-se assim, como que 0 "esquecimento” dos fundamentos biol6gicos ¢ fisicos que justificaram, ¢ justificam, a integragZodoespago verdena cidade, tendoconstituidopeocupaso mareante no urbanismo do principio do século, Assiste-sc, inclusivamente, manifestagao de intengdes tendentes a urbanizacdo de grandes parques como o Hyde Park, em Londres, 7 dado o seu enorme valor fundiario eo regresso das manifestagSes primérias do capitalismo selvagem Em Portugal, embora asituaglo seja de grande caréncia ‘em matéria de espacos verdes urbanos, talvez por mimetismo em relagfo 4 situago acima referida, esbocam-se iniciativas do esto tipo, como foi a de urbanizar a fea do Hospital Jilio de “Matos, pertencenteao Ministérioda Saude, ea Quintado Lumiar, pertencente ao LNETL ‘Simuluincamente, desenvolvemse teorias de "cerzir" as éreas expectantes da cidadesem a elaboragdo de planos prévios ‘queimpegamacolmatagem detodo tecido urbano por edificagao. Aenveredar-mos por esta opedo, compromete-seirreversivelmente 1 possibilidade de fornecer a cidade as inffaestruturas € ‘equipamentos bisicos, nos quais esta incluidaa Estrutura Verde, indispensiveis 4 resoluo dos problemas decongestionamentoe de péssima qualidade de vida urbana que hoje vivemos, Uma das nossas maiores diferengas em relagdo aos paises doNorte,panticularmentea Alemanha (ex-Federal), Holanda ceInglaterraé quenessas cidades, sobretudoas que foram destruidas durante a Segunda Grande Guerra, houve a possibilidade de aplicar as conclusdes das teorias urbanisticas modemas, devidoa coportunidade oferecida pela sua reconsinigao Por esse motivo sto, frequentemente, melhor estruturadase dispem de maiores éreas de espacoverde, planeadas deacordocomomodelo dito "ecologista” Podem porisso entregar- se, agora, a uma nova fase de experiéncias em matéria de requalificagdo urbana Figure 34 Planode Desenvotvim esquemétien do Modelo Espacta io de Viena (1972), Representario Esta situagdo nao é, obviamente, a nossa, pelo que, no podendo adoptar cegamente a experiéncia dos outros, teremos de ‘encontrar solugdes de bom senso ajustadas a nossa realidade. E um facto que, tanto a escola “ecologista”, como a “racionalista’, perderam em certos casos a preocupacdo pela formacodesenho urbano, caracteristicaque se manteve sobretudo alé a0 periodo barroco e que, nalguns casos, como o de Lisboa, se continuou pelo sée. XIX 18 Figura 35 - 0 Plano Ano 2000 pars Washington, D.C.com rats de ‘espaso penctrando até so centro da cldade Apesar de se verificar uma diferenga na pritica dos paises de raiz anglo-saxénica e dos paises latinos, ambos sentem a necessidade de retomar as preocupagées pela forma urbana € pelas tipologias tradicionais. Em minha opinido, no entanto. este objectivo nao deve ser conseguido a custa do esquecimento do conhecimento e experiéncia adquiridos nos iltimos cem anos, mas sim integrando todas as concepgdes entretanto abordadas (ecologista, racionalista e formalista). REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ARALO, lidio Alves de; Problemas da Paisagem Urbana. DGSU-CEU 1961 ni ABREU, Margarida C;, MAGALHAES, Mamiela R; TELLES, Gongalo Ri dnexo IV do Plano Integrado de Almada FFIL- 1973: ppblicado em: Caracterizaglo das fungGes desempenhadas pelos Espages: Verdes das reas de jogo erecreio no tecido urbane in ‘Contribuigdes para o planeamento de ireas de jogo e recreio, CEP” Doe. uabatho w2781 BERNATZEY, Aloys; Les espaces veris en tant que facteurclimatique et leur fonction en urbanisme in: Anthor nl, Ano 5 -1966. BORNKAMM, Re outrox Urban Heology - 2nd Huropean Ecologycal “Symposium Blackwell Scientific Publications 1982 (CABRAL, Prof. Francisco Caldeira;O continuum naturale ea conserva “danaturesain. Conservagdo da nanureca Servigo de aden de ‘Ambiente - 1980 LLARDENT, Luis Rodriguez-Avial; Zonas verdesy espacios libres en la ‘cludadt natin de Estudios de Aaministracion Local, Madrid “1982 MAGALHAES, Manuela R; Expagos Verdesin: EquipamentosColectivos Vol. Il CEP -nele-dez/1978 (revista por GEPAT = DSOT-ES Jan 90) MAGALIAES, Manuela R. ¢ outros; Espacos Verdes Urbanos DGOT {SEALOT-MPAT) - 1992 MAGALHAES, Manuela R Exrutura Verde Urbana - Concettos, Normative eAplicacdo.aZonaperturbanade Lisboa Margem None Instlato Superior de Agronomia, SAP (UTL) 1992 ER, Monigiie, TEYSSOT, Georges, The Architecture of Western Gardens MIT Press Cambridge, Massachusetts -1991 Mos AGROS n'°2 Julho - Dezembro 1992

Você também pode gostar