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Antropologia e Imagens
Fevereiro de 2010
1
Para uma Educação Visual e Tecnológica: Fotografia e Cinema de
Animação no segundo ciclo do ensino básico; o Stop Motion.
Resumo
Este artigo trata um estudo de caso e a reflexão sobre cinema na escola
e na comunidade, no âmbito da disciplina de Educação Visual e Tecnológica ao
nível do segundo ciclo do ensino básico. Propomos uma análise feita quer
através da bibliografia seleccionada quer das experiências desenvolvidas em
contexto escolar e sala de aula. Abordamos o cinema de animação com
preferência e relevância para o potencial pedagógico e educativo do Stop
Motion1 enquanto arte, ciência, tecnologia, linguagem, entretenimento, recurso
antropológico, meio e fim educativo. Propomos alguns conteúdos e
competências específicas e básicas no âmbito do projecto que apresentamos e
em contexto da disciplina mencionada. Propomos alguns filmes Stop Motion
susceptíveis de múltiplas abordagens segundo diversas perspectivas (artística,
científica, tecnológica, económica, entre outras.
1
Stop motion (do inglês que significa movimento parado) é uma técnica de animação
fotograma a fotograma (ou quadro a quadro) com recurso a uma máquina de filmar, máquina
fotográfica ou por computador. Normalmente utilizam-se desenhos em papel ou no
computador, ou ainda modelos reais em diversos materiais, dentro dos mais comuns, estão a
massa de modelar). No cinema o material utilizado tem que ser mais resistente e maleável,
visto que os modelos têm que durar meses, pois para cada segundo de filme são necessárias
aproximadamente 24 quadros (frames).
2
Ver
Numa abordagem à Educação Visual e Tecnológica há sem dúvida uma
necessidade urgente de uma “aprendizagem do ver”2. Segundo Piaget3, a
criança aos dez ou onze anos encontra-se no estádio das operações
concretas. Encontra-se na fase do pensamento lógico e tem capacidades para
realizar operações mentais, pois compreende que existem acções reversíveis.
Compreende a existência de conceitos o que vai permitindo compreender a
relação das partes com o todo.
Quando se fala de visão, apreciando pela superfície o rosto aparente das coisas,
confunde-se com ela a capacidade de olhar. Trata-se de uma capacidade riquíssima e
determinante, que nos permite passar do domínio das sensações ao espaço
estruturado das percepções visuais. O que quer dizer, logo à partida, que o olhar se
distingue do ver. Podemos frequentar dias seguidos uma certa rua de certa cidade,
sensíveis visualmente ao seu aspecto global, sem tomar consciência de muitos dos
sinais e características particulares dessa parte daquele meio urbano (Rocha de Sousa
1995:31).
Há uma necessidade de educar para uma “aprendizagem do Ver”. Um
Ver que vá ao encontro das coisas, um ver que é a coordenação consciente
dos vários olhares, das diferentes sensações, das diferentes percepções, das
próprias memórias que nos informam, em boa medida, os actos e as escolhas.
Na verdade, e porque não dizê-lo? Ver é escolher e é julgar. É compreender.
Uma mesma pessoa retira da realidade conclusões visuais diversas: ou
porque se alteram a sua atitude psicológica e o seu quadro cultural ou porque
mudam os meios de apoio de que dispõe, incluindo o tempo decorrido entre as
duas situações de análise e de resposta.
Vemos sobretudo o que sabemos das coisas. Vemos também o que imaginamos
serem as coisas» ( Rocha de Sousa 1995:33).
Cada um de nós, cada aluno, vê as coisas de modo particular e segundo
perspectivas culturais diferentes. Essa diferença determina, na prática, uma
variedade significativa dos modos de fazer. Isto é: uma variedade nas soluções
que cada um de nós encontra para transmitir aos outros a experiência do
mundo que nos rodeia. Nesta perspectiva de pensamento divergente e no
âmbito da metodologia de projecto há que valorizar os quatro pilares
considerados as bases da educação ao longo da vida 4:aprender a conhecer;
aprender a fazer; aprender a ser; aprender a viver juntos. Sem dúvida que o
“aprender a ver” é imprescindível na construção do conhecimento e é uma
base fundamental para o ser humano e sua educação ao longo da vida.
Consideramos a disciplina de Educação Visual e Tecnológica um espaço físico
e curricular adequado à “aprendizagem do ver”. Como o próprio nome refere,
no 2º ciclo do ensino básico há uma “Educação Visual…” e, no âmbito do seu
programa aberto e flexível, escolhemos o cinema de animação como unidade
de trabalho privilegiada enquanto veículo, meio e fim pedagógico capaz de nos
promover “uma aprendizagem do Ver” e de um novo conhecimento.
2
Rocha de Sousa
3
http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/4925/7/ANEXOS%20-%20PIAGET.pdf
4
A Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura, UNESCO, reuniu alguns dos
maiores pensadores do mundo na Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI,
coordenada por Jacques Delors, que produziu o relatório "Educação: um tesouro a descobrir". A
Comissão destacou quatro pilares que são as bases da educação ao longo de toda a vida e que servem
de orientação para as instituições de ensino implementarem uma metodologia inovadora baseada no
desenvolvimento de competências que privilegia um desenvolvimento integral da pessoa capacitando-a
para actuar de forma responsável e eficaz na sociedade.
3
Ver é compreender mas é também agir, refazer, inventar. “Saltamos ao
encontro das coisas”, desmontamos a sua aparência, lidamos criativamente
com o conhecimento adquirido.
A memória, com efeito, tem aqui um papel decisivo: a simples metade de uma laranja,
com o seu lado convexo integralmente voltado para nós, parece-nos uma laranja
inteira. A verdade do visível é relativa, por vezes de todo enganadora. Mas o que
sabemos das coisas, mesmo entre ambiguidades, alimenta uma larga percentagem da
nossa apreensão delas_ e sem isso a nossa capacidade de interpretar os temas, de os
reflectir, de os reelaborar, estaria grandemente comprometida. Cada nova aparência
que nos surge no dia-a-dia é relacionada com outros dados já codificados. A partir daí,
numa viva interacção entre memórias e referências próximas, a leitura possível de
elementos sobre os quais pouco ou nada sabíamos ganha contexto, perfil, anunciando
nomeações plausíveis. Assim, da denotação à conotação o percurso visual da leitura
pode chegar muito perto do significado envolvido nesse contacto novo (Rocha de
Sousa 1995:56).
As imagens têm um grande poder na formação dos adolescentes e em
muitos casos determinam e modelam os seus hábitos, comportamentos e
personalidades. Num regime de grande frequência, deparamos com
mensagens trazidas pelos meios de comunicação de massas. E essas
mensagens, mesmo quando não são niveladas e deturpadas pelos próprios
meios, perdem rapidamente o seu carácter de efectiva diferença, diluindo-se
numa enorme quantidade de sinais e na confusão. Isto não se passa apenas
com as matérias informativas: a vida também o revela. Como se houvesse
cada vez menos situações surpreendentes, e a tendência fosse para uma
espécie de visão desfocada e indiferente, quase nos podemos supor debaixo
de uma anestesia que tudo deixa captar, embora de forma indistinta e
impressionista. E então é como se escapassem poucas coisas vistas em
atenção e profundidade. É disto exemplo, em boa medida, a incrível
capacidade que tem a sociedade actual de absorver ou recuperar informação e
valores, fazendo com que quase tudo acabe por ser consumido.
A própria publicidade vulgariza nomes e ideias associáveis ao choque,
ao escândalo, à diferença, ao exotismo, e acaba digerida sem a menor
perturbação. Invocamos José Carlos Abrantes5 que defende uma “ecologia das
imagens”.
(…) Parece legítimo defender a necessidade de uma ecologia da imagem que previna,
que balize, que oriente, que sustente pensamentos, modos de estar e de ser que
partam da imagem, que confluam na imagem. (…) Neste sentido a ecologia da imagem
precisa da escola; (…) essas imagens relacionam-se com conceitos, com as
aprendizagens, mas também com exemplos humanos, com valores.
Neste sentido defendemos a importância do “aprender a ver” em prol da
“ecologia da imagem”. Segundo Neisser6, estamos mais «espertos» que os
nossos avós no domínio da análise visual. Wittgenstein7 defende que «a nossa
visão é sempre orientada pela nossa interpretação (…) e que a interpretação
incorporada na nossa visão já não nos permite ver e outra maneira. É
necessário um verdadeiro esforço para nos livrarmos da nossa primeira
perspectiva e reorganizar os elementos visuais de modo a compreender o
desenho de forma diferente». Para estudar as interpretações de imagem
podemos assumir duas vias; a diacrónica e a sincrónica. «A interpretação de
uma imagem depende, pois, de um saber adquirido por quem a interpreta» e,
5
Fórum Antropologia e Imagens
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Fórum Antropologia e imagens
7
Fórum Antropologia e Imagens
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«as imagens têm a capacidade de permitir várias interpretações». É neste
sentido que há relação entre a imagem e o seu espectador e, segundo o autor,
um dos elementos decisivos desta relação é o papel ou estatuto que o
espectador atribui ao autor da imagem. «Os diferentes regimes de imagem
podem associar-se e misturar-se (…)».
Segundo o autor António Damásio, sem dúvida que as emoções são
importantes para que o homem viva de forma equilibrada e se queremos
convencer alguém não podemos apelar única e exclusivamente à sua razão
uma vez que no cérebro humano, razão e emoção vivem conjuntamente. Para
o autor o conhecimento factual que é necessário para o raciocínio e para a
tomada de decisões chega à mente sob a forma de imagens; a palavra imagem
não se refere apenas às imagens visuais nem a objectos estáticos. Como são
criadas as imagens? Damásio explica que elas parecem ser geradas por uma
maquinaria complexa constituída por percepção, memória e raciocínio.
Imagens publicitárias, algo que vemos dezenas de vezes ao dia.
Inspiram-nos, manipulam-nos, afectam a forma pela qual pensamos sobre os
outros e sobre nós próprios. Moldam a nossa visão do mundo. Nenhuma outra
imagem domina a nossa vida de uma forma tão completa. Elas estão em todo o
lado, nos ecrãs, nas revistas, nos outdoors...
Mas há uma característica que a grande maioria apresenta. Tratam-se de
imagens pouco realistas, que exageram o real, que o distorcem, indo talvez ao
encontro dos nossos desejos; sendo o real aborrecido, haverá que distorcê-lo,
ficcioná-lo, exagerando algumas das suas características.
A história mostra-nos que este princípio do exagero surgiu há vários milhares
de anos (Vénus de Willendorf, ou a de Grimaldi, ou a de Moravany, ou a de
Savignano,...), os gregos cultivaram o mesmo princípio, Miguel Ângelo criou
igualmente corpos não reais, os impressionistas exageraram cor e luz, na
sociedade actual os exageros são dos mais diversos e encontramo-los
acentuadamente nas imagens publicitárias.
Se por um lado elas são culturalmente construídas, reflectem a nossa cultura,
por outro lado o nosso sistema cultural é igualmente o resultado da sua
existência e forma. Contudo, os consumidores, cada vez mais lúcidos perante o
consumo destas imagens necessitam de novas abordagens estratégicas, e é
assim, de forma a tornarem mais reais essas imagens irreais, que os criativos
publicitários fundem cada vez mais o real e a ficção, cuja ténue fronteira é cada
vez mais explorada em publicidade.
5
Imagem
8
Fórum de Antropologia e Imagem
9
BERGER, John (org.) (2005), Modos de ver, Barcelona, Editorial Gustavo Gili.
10
AUMONT, Jacques (2005), A Imagem, São Paulo, Papirus Editora.
6
Uma abordagem teórica da história da imagem, terá forçosamente de ser uma
abordagem antropológica, na medida em que foi o homem que produziu (e
continua a produzir) as imagens, sendo ele mesmo que posteriormente as
consome. O homem faz assim parte integrante do processo de produção /
recepção das imagens. A mediar esses dois extremos do processo, encontra-
se o medium que confere a visibilidade à imagem. Assim, tal como refere Hans
Belting11, uma abordagem da imagem enquanto “fenómeno antropológico”,
implica uma análise da mesma em função de uma relação de três parâmetros
distintos: imagem - medium - olhar ou imagem - dispositivo - corpo, ficando
assim estabelecida uma correlação entre o “corpo que olha” e o “medium que é
olhado”.
Esta correlação deverá contudo ser entendida como um todo, uma totalidade
significante, numa perspectiva próxima à abordagem efectuada por Jay Ruby
sobre a reflexividade na Antropologia Visual. Ser reflexivo em termos de
trabalho antropológico, implica que os próprios antropólogos se revelem, e
revelem a sua metodologia enquanto instrumentos igualmente geradores de
dados, concebendo a produção de comunicação, como um todo coerente, do
seguinte modo: produtor-processo-produto. Ler uma imagem não significa
apenas ver uma imagem, mas conduz-nos a uma enorme quantidade de
informação, um acto de constantes interacções.
11
BELTING, Hans (2004), Pour une Anthropologie des Images, Paris, Gallimard.
12
GUBERN, Román (1987), La mirada opulenta, exploración de la iconosfera contemporánea,
Barcelona, Gustavo Gilli.
13
Fórum Antropologia e Imagem, por José da Silva Ribeiro.
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Fotografia e vídeo
A fotografia teve desde o seu início um reconhecido interesse para a ciência enquanto
documento do real. Tal facto prende-se por um lado pela aderência da fotografia ao seu
referente e pela sua relação de semelhança com o real. É desta forma que a fotografia
se vê investida de um carácter científico.
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Compreender o Cinema e as Imagens
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culturalmente determinada, não sendo evidente para todo o receptor-leitor das
mesmas. A sua leitura-recepção necessita de uma aprendizagem dos códigos
de leitura. Tal facto, remete-nos para o dispositivo fotográfico como sendo um
dispositivo culturalmente codificado. O carácter irreflexivo das sociedades pós-
industriais conduziu-nos para a ideia de imagens mediáticas enquanto imagens
naturais. Contudo, aquilo com que nos deparamos diariamente é que as
imagens estão culturalmente codificadas. Uma imagem fotográfica elimina.
Houve uma escolha, que não significa apenas aquilo que ficou visível, mas
também, o que ficou escondido. O acto cultural assim presente, é o princípio de
selecção, o acto de seleccionar do fotógrafo entre o campo e o fora-de-campo.
9
Segundo Alberto B. Sousa (2003:343) longe vai o tempo em que a
fotografia na escola consistia em aulas extra-curriculares teóricas, ensinando-
se óptica e a história da fotografia, e em aulas práticas, revelando fotografia no
laboratório. Raramente se tiravam fotografias e quando tal sucedia o que
interessava não era a sua estética mas a focagem, a obturação, a sensibilidade
do filme e outras circunstâncias meramente técnicas.
Em educação pela arte a fotografia não visa o ensino da técnica, procurando-se
oferecer à criança um novo meio – a fotografia -, para poder expressar as suas
emoções e sentimentos e satisfazer as suas necessidades de criatividade.Com as
actuais câmaras digitais, qualquer criança de dois ou três anos é perfeitamente capaz
de carregar no botão e fotografar tudo o que quiser, sem que tenha necessidade de
quaisquer aulas teóricas ou práticas para poder efectuar esta acção.
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No Stop motion os modelos são movimentados e fotografados quadro a
quadro. Estes quadros são posteriormente montados numa película
cinematográfica, criando a impressão de movimento. Nesta fase podem ser
acrescentados efeitos sonoros como fala ou música. Um dos muitos filmes feito
com a técnica de stop motion foi O Estranho Mundo de Jack (1993), de Tim
Burton. Outros como A Fuga das Galinhas, A Noiva Cadáver, Wallace e
Gromit, O Fantástico Sr. Raposo (2009), de Wes Anderson, são exemplos de
filmes em stop motion. São várias as vertentes do cinema criado com esta
ideologia, maioritariamente trabalhos de animação, pelo que os trabalhos ficam
com um toque característico distinto. Portugal também tem algumas animações
em stop motion, sendo a mais relevante nestes últimos temos a galardoada
curta A Suspeita de José Miguel Ribeiro.
11
Faça uma prova de contacto e que Revele diversas Fotografias e experimente,
teste, crie, invente, delire e se apaixone. Propomos que o aluno Construa uma
câmara fotográfica artesanal e que entenda os princípios básicos da mesma,
que faça fotogramas e que o professor aborde a “Expressividade na
Fotografia”.
A abordagem da Banda Desenhada (que faz parte do programa da
disciplina), em paralelo ou antecedente à abordagem da fotografia permite a
aquisição de conhecimentos transversais ou comuns. Ao abordar a Gramática
da Banda Desenhada o aluno aprenderá conceitos teóricos e competências ao
nível do registo gráfico: guião; prancha; vinhetas; legenda; cartucho; balões
(normal, de pensamento, visualizado, metáforas visualizadas e onomatopeias,
voz off, voz alta, voz baixa, fala colectiva, ruído); imagem; enquadramento
(plano geral, plano de conjunto, plano médio, plano «americano», plano
aproximado, primeiro plano, grande plano, plano de pormenor, plano picado e
plano contra-picado); signos cinéticos; cadeia narrativa (elipse; montagem
linear; montagem paralela; o flash-back, flash-forward). Todos estes
conhecimentos serão muito relevantes e necessários para o aluno ao ser
exigido a este respostas e soluções para exercícios de registo fotográfico e de
vídeo.
Ao se abordar a Fotografia e num exercício antecedente à abordagem
do Stop Motion, propomos que o professor aborde a relação entre Fotografia e
o Movimento (Translação; rotação; evolução/crescimento; movimento aparente;
sobreposição; deslocação; sequência de deslocações; sequência escalonada;
velocidade de registo); que o professor aborde o Diaporama e o Vídeo.
Propomos também que este inicie o aluno no “Cinema de Animação” e que
aborde “Os pioneiros do cinema, os precursores do Desenho de Animação.
Para envolver e estimular o aluno e com o objectivo de entender alguns
princípios básicos da relação Imagem/movimento, propomos a execução de um
Flip Book Flip (livro de animação). Propomos o estudo e exercício da animação
feita através do desenho directo sobre a película: desenho de animação sem
câmara. Ainda numa abordagem ao cinema de animação e antecedendo a
experiência e prática a nível do Stop Motion, propomos que os alunos analisem
e usem ou construam alguns dos instrumentos ou recursos como o
Taumatrópio, o Fenacistoscópio, o Zootrópio (a roda da vida…) e do
Caleidoscópio. Muito enriquecedor para o aluno é verificar e analisar os
resultados obtidos em filmes de animação com a combinação de diversos
processos. Após a abordagem de todos estes conteúdos e com a abordagem
da técnica do Stop Motion a nível das diversas etapas e competências, os
alunos mostram uma maior autonomia, criatividade, dinamismo e espírito critico
na concepção dos seus trabalhos e projectos individuais ou de grupo. O nosso
estudo de caso que nos permite fazer propostas, redigir conclusões e assumir
alguns pontos de vista baseia-se em diversas experiências pedagógicas (ao
nível do segundo ciclo e na disciplina de EVT) realizadas ao longo de mais de
uma década de ensino. Há no entanto um ponto fundamental a ter em conta; o
tempo. O tempo determinará a abrangência e diversidade ou complexidade das
actividades. No entanto consideramos que de uma forma ou de outra, de um
modo mais simples ou mais complexo, o cinema de animação na escola e a
abordagem do Stop Motion é uma possibilidade e é sempre conducente a um
ensino eficiente e eficaz.
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Nesta relação pedagógica (Légendre15), existem muitos intervenientes
envolvidos, muitas variáveis e responsáveis pelo sucesso, porém acreditamos
que o cinema de animação é uma mais valia com características muito
diversificadas, abrangentes e que captam poderosamente a atenção e o gosto
dos alunos. Igualmente posso referir o grande potencial dos filmes de
animação e os resultados educativos que eles potenciam. A nosso ver a escola
só tem a ganhar com este tipo de aprendizagens e actividades. O aluno realiza
um cenário, recolhe meia dúzia de carrinhos de brincar que estavam
esquecidos no armário da infância, domina a máquina fotográfica e tripé. Faz o
enquadramento das cenas e pensa planos…selecciona o som … por cada
minuto dispara vinte e tantas fotos … usa o computador … vê o seu filme …
apaixona-se pelo cinema… gosta da primeira experiência! Quer repetir e
melhorar! Quer novos desafios! Fica disponível e entusiasmado com novas
possibilidades e propostas! Mesmo que um dia não seja um grande cineasta,
ao menos este aluno crescerá a “saber Ver” um filme; ao longo da vida e em
muitas situações ele “saberá ver” mais longe ou melhor (com outro
conhecimento).
Visualização de filmes
Propomos que em diversas fases da abordagem do cinema de animação
no segundo ciclo o professor possibilite ao aluno a visualização de filmes das
mais diversas naturezas e tipos. Desde o filme etnográfico, ao documental, ao
de divulgação científica, de entretenimento, descritivo, de animação com
diversas técnicas nomeadamente o stop motion e 3D, entre outros…A nossa
experiência permite-nos aconselhar numa fase inicial a abordagem do filme
Cinema Paraíso o qual permite ao aluno familiarizar-se com a história do
cinema. Propomos que a selecção também seja feita segundo temas actuais e
fundamentais à educação e formação holística do aluno. Propomos filmes que
desenvolvam no aluno e eduquem as suas atitudes e valores, a sua cidadania,
a sua relação com a escola e com a comunidade, com o outro e com o mundo
numa visão holística do ser humano enquanto participante da vida numa tarefa
comum e global.
Propomos a visualização de filmes como “Home - O mundo é a nossa
casa”; filme da autoria do realizador francês Yann Arthus-Bertrand. O filme é
constituído por paisagens aéreas do mundo inteiro e pretende sensibilizar a
opinião pública mundial sobre a necessidade de alterar modos e hábitos de
vida a fim de evitar uma catástrofe ecológica planetária. Trata-se de um retrato
ecologista do nosso planeta. É um documentário que vive essencialmente de
olhares da Terra vistos do ar, constituído por imagens que passam pelos mais
variados cantos do planeta. O filme propõe na essência um olhar contemplativo
e reflexivo sobre a Terra e os seus habitantes.
(…) Daí a urgência vital de “educar para a era planetária”, o que pressupõe uma
reforma do modo de conhecimento, uma reforma de pensamento, uma reforma do
ensino, sendo estas três reformas interdependentes (Edgar Morin 2004:10). Com
efeito, a Terra não é apenas um lugar onde se manifesta a globalização, mas uma
totalidade complexa física/biológica/antropológica. Isto significa que devemos encarar a
vida como uma consequência da história da Terra e a humanidade como uma
15
MARTINS, Amílcar, 2002. Didáctica das Expressões. Lisboa: Universidade Aberta. Ver
Modelo de Relação Pedagógica de Renald Legendre, página 38.
13
consequência da história da vida na Terra (…) a relação entre Terra e a humanidade
deve ser concebida como se tratasse de uma entidade planetária e biosférica» (Edgar
Morin 2004:70).
16
Animar 4 (1ºao 6º ano) disponível em: http://www.curtas.pt/solar/pdf_FP/fichas_pedag_F_1-
6anoWEB.pdf
14
poderá procurar uma cena do filme em que as personagens comunicam sem
palavras e falar sobre o “silêncio” e o movimento.
15
ligeiramente o objecto e captura novamente. Procede assim várias vezes até
teres muitas imagens. Lembra-te que se, entre cada posição, deslocares o
objecto uma grande distância a animação fica demasiado rápida. Os filmes da
série “LEGO” inserem-se na categoria da animação de objectos. O recurso a
objectos é quase tão antigo como a arte de animar. Muito embora as
personagens se “comportem” e animem como marionetas, não foram
executadas com essa finalidade. O facto de não terem um armação e de serem
normalmente fabricados com materiais rígidos faz com que tenham
movimentos mais limitados e menos realistas. A stop motion é uma técnica de
animação que cria a ilusão de movimento com marionetas ou objectos
inanimados. Para conseguir este efeito os objectos ou marionetas são
reposicionados e é feito o registo fotográfico das várias posições em
sequência. Quando as várias imagens, que correspondem às diversas fases de
um movimento, são projectadas à velocidade de 24 por segundo, os objectos e
marionetas comportam-se como se tivessem vida própria. É nesse momento
que algo de maravilhoso acontece!
16
Bibliografia
http://www.cafecolombo.com.br/index.php?s=shah
http://www.curtas.pt/solar/pdf_FP/fichas_pedag_F_7-12anoWEB.pdf
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