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CORNELIUS CASTORIADIS AS ENCRUZILHADAS DO LABIRINTO I Os dominios do homem Tedogto: JOS OSCAR DE ALMEIDA MARQUES Revit vic: RENATO JANINE Bedigto PAZE TERRA Bits Sethe. 492642 Waate es os 20 | Barfland hence dab by En Sh 1986 $o3ERIA( i C254— cr ago me ed. Sie Nacional do ares de Los 3. om ry, comeing 922997 ncaa dol ~dmisdebae/ Conn Cai data oO mess ara — Te ees Pa e187 1. lock 3 Flin 6 Mi at 1688 Ta te naw cop. Rand ran 77 San iti She SP ~ CEP 121.010 ‘ii 57-09% us Gv Vinci Hee 305-54 | ‘CHP 2144-090, Ro de nb, Emenee | ‘emirate Home page wipe open el Pei \ A polis grega ea criagéo da democracia'” Como é posse! orientar-e na histria ena polities? Como julgar c escolher? Part dessa questo politica —e € com este esprito que me petgunto:« democraca gega antiga apresentaalgum interes politico paca ns £ dbvio que a Grécia jd, num certo sentido, um pressuposta desta discussie. A intereogasio arrazada sobre o que & bom © o que & mau, sole 0s priprios principios em virtude dos quais podemos afin, 7s principals ideas dee tro foram pla priser vex apresetadas fm uma confereeia (29 de outubvo de 1979) to semiito do last Nak Planck em Strberg,drgio por Jngen Habermas edo qual partiparam, «particu, Jobann AImasion, Ernst Togenhat e Albrecht Wellner. Depois ‘s,s stir no centro do tabilho rete em me temindio na ole des Hautes Eudes, ce 1980 em dane, efopeceram rata enr 00- ‘aos param cto em ast de 1982 na Universidade de Seo Pala pars am ‘Srniroem ari de 1985 na Unverade do Rio Grende do Sal (to Ale 170, e para malta otras exposes. O texto ag pbleado € ode ua con {Erencia pronunciada em 15 eerie 1982 em Nova York, por cast de hos Hanah Arend eri Spioria Pla Pop onpanirads pela New Shoo or Social Researcher oma ema"A rig de nose mt {See O erga em ingles fotpubicado no atoao de 1983 pelo Graduate Tas Piso ural da New Sehool ral. Dia 2)-A eaduclo ances, ‘evade por inn, eve Pler-Lnmactel Dasa, a qoin dev aude ‘pb extend et erbuho, Un iongo erat ds fopubledo em Te Diba (38 an 198). superando a trivialdadese preconceitostradicionais, que uma cosa & boa ou mé, nasceu na Gréia. Nosso questionamento politico ¢, ipso {facto, uma continuscao da atitude grega, ainda que, em mais dé um importante ponto de vista n6scertamente a tenhamos ulrapasado ainda fentemoswlteapass4l ‘As modemas dscustoct acerca da Grécia tm sido contaminadas por dos preconcitos opostos esiméircos —e, por conseguinte,equi> ‘alates, num certo sentido. O primero, que € o que se encontra com _maisfeqUéncia nos dtimos quatro ut cinco sécuos,consiste em ape Sentara Gréca como um modelo, um prottipo ou wm paradigma eer- ‘0 (Eu dos rodismos atais € sa exatainversios a Grécia seria 6 antimodelo,o mevtelo negativo.) O segundo preconcete, mals recen- te,se resume em uma “ociolgzagio” ou uma “etnologiacao” comple 12s do estudo da Gréci: a diferencas entre os greg, os nhambiquaras os bamnileques si toradas come puramente descrtivas, Na plano formal, sta segunda attude 6, sma nenlsima dvida, corzeta, N8o ape fas — desnecessriadizéto — no hi nem poderiahaver a menor ‘nanos, te. execer qualquer presso conta a conviySo profundamen te arraigade de que Deus evelou-te ao mesmo tempo que revlou sua ‘ontade —e de que essa revelaco exge, por exemplo, 3 conversa for ‘ada efou © exteminio dos inf, feiticctos,heétcos, ete? Em sta ‘scupidee, 0 paroquialismo modern choga a t-se dessa idea “exstic’, ‘quando hé apenas dois sulos ela ocupava um lugar central emt todas ss sociedades “civilizd Tulgareesclher, ose sentiso mais radical, foram aides xia alas na Grecia; é ete um dos sentidos da criagio grea da politica e da Filosofia Entendo por politica nao intigas de corte, nem Iutas entre grupos sociais que defendem seus intereses x posigdes (costs que ‘ocoreetn em outros hgare), nas uma atvidade coletivaeajo objet ‘6 institugio da sociedade enquanto tal. £ na Gréia que encontra- ‘oe 0 primsiro exemplo de wivasociedade deliberando explictamente acerca de suas Is, ¢ modifcando-as. Fm outos lugares, as leis sio herdadas dos ancestais, ou sio dadivas dos deutes, quando mio do ‘Unico Deus Verdadeiro; mas nao sto esabelecidss, so ¢, rida, pelos homens apés discutitem e conftontazem, coletivamente, 2 les boas € ‘ns. Esta attude condus a outa questo que tambérn nace na Grit no se pergunta apenas: eta ei gue ag estd@ boa ou ma mas sm vv que ¢, para uma le, et boa ou mi — em ouutaspalavras, o que €& jusiga E ela se prende distamente 8 eiagso da Foote: do mesmo {9-Nio posto concord com ates de aah Arendt segundo a qual ns Ges w aida eta eau eps evan d polit tos pode ‘aler dando-e une seni tet a0 temo "legsar™ Aisles erumers ‘nae “sevolugSe" em Atenas om ous plavase muangs da epslagao andament 'contstciona modo que, eras @ atividade politica grga, a institaigho existente da sociedade pela primeira vez posta em questo modifcads, & Grésia 2 primeira sociedade a tre questionado explicitamente sobre are- Dresentaco coetvainstitulda do mundo, isto 6, a entegar-e & oso- tal como a ativiade politica na Grecia rapidamente desemboca na questzo“o que & 2 justica em geal” eno apenas se “eta ei parti- cular € bos ou ma, justa ou injust? também a interrogasto flosiiea Aesemboca com igual rapider na questio“o que é 4 verdade?” e nd0 simplesmente se verdadeiea esta, ow aquels, represetasio do mun dot, Bests das questoessio questoes auténticas — yale dizer, ques- tes que devem permanecer para sempre ent aberto, A criagio da democraca eda flosfi,e de sia ligasio,encontea uma precondiao essencal na concepso grega do mundo eda vid hu ‘mana, no nleo do imaginirio grego A melhor maneita de exclarecer ‘st talversejareferindo-nos 2s tes questdes mas quais Kant resin os imeresses do homer. Quanto as duas primeira: 0 que poss stber? ‘que devo fazer? a discussao (inerminavel comega na Geéia, mas 280 ‘existe nenfuuma “resposta greg’ Condo, para a terceira questio — 0 ‘que me € permit esperar? — hi uma cosposta greg cara e precisa ‘€€ um sido e retumbante nada, Eh toda a evidencia de que ess a melhor resposa. A esperanga nio éromada aqui em seu sentido quot iano tival — a esperanga de que havers sol amanha, ou de que as ‘iangis naserdo vas. A esperanca que Kant tem em mente & a espe- range da tradigao crist ov religisa,esperanga que cottesponde a esta aspragdo e luo centrais do homem, de que deve existe alguma cor- ‘espondéncia fundamental alguma consonincis,alguma adequato = tee nossos desejos ou nosiasdeisbes eo mundo a natusera doer, Ae Peranca € ess suposgao antologic,cosmoligicae etca segundo a qual ‘omundo nio € simplemente alga que se encontea a fora, mas um eos ‘ms no sentido proprio e arcaio, uma ordem total que engloba ands ‘mesos a oss aspragdes eniiativs, como seus elementos ceneais ‘© orgnios, Traduzida em terms flsdficos esta hipstese torna-se 0 ser éfundamentalmente bom. Plato, como todos saber, fi 9 prinaei- ‘ro que ousou procamar ess monstricsidde flow, apo final do petiodo cisco. F tal monstruasidade continuou sendo » dogma fan damental da losofiateologica em Kant, certamente,etumbémn enn Marx. ‘Maso ponto de vista grep esi expresso no mito de Pandora tal como 0 A POLIS GFGA FA CRIAGAO DA DEMOGHACIA hos conta Heslodo: a esperanga est pres, para sempre, na caia de Pandora. Na ligt gtega pre-lssicae clissica, no hi qualquer espe- ranga de vida apos a morte: ou ao ha nenhuma vida apés a ort ou, seh ela ainda pior do que a pir vida que se poderia ter na Terra ‘sta 6a revelacio de Aquiles a Odisseu, no Pas dos Mortos. Nada tendo s experae de uma vida apos a mort, nem de um Deus poteor e benes ‘olente,o homem se descobre live para aire pensar neste mundo. “Tudo ito se liga profundamene ida grega fundamental do chaos Eon Hesioda, emos que no principio era 0 cos, Caos em grego,no sen- tide préprio e primordial, signilicavatio, nada. f do vazio mais total ‘que o mundo emerge”. Mas, item Hesiodo, também o univers € cans, no sentido de que nao ¢ perfeitamente ordenado de que nose sbme- te les plens de sentido, No principio, reinaa a desordem mais total, depois fi cri # order o cosmos, Condo, nas "talzes" do univers, para além da paisigem familia, o

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