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Apelação Cível n. 2009.

006923-8, de Itajaí
Relator: Des. Wilson Augusto do Nascimento

APELAÇÃO CÍVEL DOS RÉUS – AÇÃO DE REPARAÇÃO


DE DANO MORAL E PATRIMONIAL C/C PEDIDO DE TUTELA
ANTECIPADA – RESPONSABILIDADE CIVIL DO MUNICÍPIO –
PRELIMINAR – ILEGITIMIDADE PASSIVA – REJEIÇÃO –
MÉRITO – OMISSÃO – APLICAÇÃO DA TEORIA OBJETIVA –
CONDUTA OMISSIVA ESPECÍFICA – DEVER DE
OBSERVÂNCIA PREVISTO EM CONTRATO – NEXO DE
CAUSALIDADE DEMONSTRADO – DANO MORAL
CONFIGURADO ? ANÁLISE DO QUANTUM INDENIZATÓRIO
NO RECURSO DA AUTORA – PENSÃO ALIMENTÍCIA DEVIDA
– SENTENÇA MANTIDA – RECURSO NÃO PROVIDO.
Em se tratando de omissão específica do ente público resta
configurada a responsabilidade civil objetiva, sendo prescindível o
exame da culpa.
APELAÇÃO CÍVEL DA AUTORA – NULIDADE DA
SENTENÇA – AUSÊNCIA DE CONDENAÇÃO EM DANOS
PATRIMONIAIS – INOCORRÊNCIA – PAGAMENTO DAS
DESPESAS COM FISIOTERAPIA E HIDROGINÁSTICA –
OMISSÃO SUPRIDA – DANOS MORAIS – MAJORAÇÃO –
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – ALTERAÇÃO DE
PARÂMETRO – 10% SOBRE O VALOR DA CONDENAÇÃO EM
DANOS MORAIS – ART. 20, § 3º, DO CPC – SENTENÇA
REFORMADA EM PARTE ? RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n.


2009.006923-8, da comarca de Itajaí (Fazenda Pública, Ex Fiscais, Ac Trabalho e
Reg Púb), em que é apte/apda Susana Cristina da Silva, e apdos/aptes Município de
Itajaí e Fundação Municipal de Esportes:

ACORDAM, em Terceira Câmara de Direito Público, por votação


unânime, afastar as preliminares e, no mérito, negar provimento ao recurso dos réus
e, quanto ao recurso da autora, dar-lhe parcial provimento. Custas de lei.
RELATÓRIO

Susana Cristina da Silva, Município de Itajaí e Fundação Municipal de


Esportes interpuseram recursos de apelação cível, inconformados com a sentença
prolatada pelo MM. Juiz de Direito da Vara da Fazenda Pública, Ex Fiscais, Ac
Trabalho e Reg Púb da comarca de Itajaí, o qual julgou procedentes os pedidos
formulados nos autos da ação de reparação de dano moral e patrimonial c/c pedido
de tutela antecipada.
O ilustre togado singular julgou procedentes os pedidos formulados na
inicial para confirmar a decisão antecipatória e condenar os requeridos: ao pagamento
de pensão mensal e vitalícia no valor de R$ 1.245,00 (um mil, duzentos e quarenta e
cinco reais), reajustados, proporcionalmente, pelo valor do salário mínimo, bem como
dos danos morais, no valor de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais). Por fim,
condenou o réu ao pagamento dos honorários advocatícios, fixados em R$ 5.000,00
(cinco mil reais), nos termos do art. 20, § 4º, do CPC. Sem custas, conforme o art. 35,
'h', da Lei complementar n, 156/97 (fls. 344/353).
Opostos embargos de declaração (fls. 356/359), estes foram rejeitados
às fls. 360/361.
Nas razões recursais, a apelante Susana Cristina da Silva alegou a
nulidade da sentença, eis que não ficou estabelecida na parte dispositiva a
condenação em danos materiais.
Asseverou a necessidade da majoração da indenização por danos
morais para R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) a fim de servir como meio de
ressarcimento à recorrente e punição ao recorrido.
Pleiteou a modificação do parâmetro de fixação de honorários
advocatícios, e sua consequente elevação, arbitrando-os conforme o estipulado no
art. 20, § 3º, do CPC.
Requereu, assim, o conhecimento e provimento do recurso (fls.
359/375).
Igualmente irresignados, o Município réu e a Fundação Municipal de
Esportes interpuseram apelação cível, suscitando, preliminarmente, a ilegitimidade
passiva ad causam.
No mérito, sustentaram em sendo o ato que ocasionou o dano, omissivo,
a responsabiliade é subjetiva, devendo ser comprovada a culpa.
Asseveraram ter a apelada concorrido para a ocorrência do evento
danoso, ao passo que deverá arcar com todas as consequências, ou no mínimo, com
metade de seus prejuízos.
Aduziram ser indevida a condenação ao pagamento de verba
indenizatória e pensão alimentícia, pois caracterizaria bis in idem.
Afirmaram, ainda, não ter a apelada ficado totalmente incapacitada para
o trabalho, não fazendo jus ao pensionamento e, caso entenda pela plena
incapacidade, a pensão deve ser limitada até o implemento dos 65 anos.
Ponderaram acerca da excessividade do quantum fixado pelo togado

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singular a título de pensão e indenização por danos morais, e, a impossibilidade da
vinculação da verba com o salário-mínimo, nos termos do art. 7º, IV, da CF.
Por fim, requereram o conhecimento e provimento do recurso (fls.
376/395).
Devidamente intimada, a apelada Suzana Cristina da Silva apresentou
contrarrazões, clamando pela improcedência do recurso (fls. 411/414).
Lavrou parecer pela douta Procuradoria Geral de Justiça o Exmo Sr. Dr.
Procurador João Fernando Q. Borrelli, no sentido de ser desnecessária a intervenção
do Ministério Público no feito (fls. 421/422).
Ascenderam os autos a esta Egrégia Corte de Justiça.
Vieram conclusos.
É o relatório.

VOTO

Trata-se de apelações cíveis interpostas com o desiderato de ver


reformada a sentença proferida nos autos da ação de indenização por danos
materiais e morais c/c pedido de tutela antecipada, através da qual foram acolhidos os
pedidos iniciais formulados.
Inicialmente, faz-se necessário breve relato dos fatos.
A autora ingressou com ação de reparação por danos morais e
patrimoniais c/c pedido de tutela antecipada em decorrência de acidente ocorrido na
Academia Espaço do Corpo, onde realizava seu treinamento como atleta-bolsista da
Fundação Municipal de Esportes.
Referido acontecimento, conforme relato da exordial, foi fruto da
negligência dos profissionais da academia e da má conservação de aparelho de
agachamento, ocasionando-lhe fratura da coluna cervical e lesão da medula espinhal
e, consequentemente, paraplegia.
Buscou a autora a concessão de liminar e, após, a procedência em
definitivo dos pedidos, para condenar os réus ao pagamento de salário referente aos
meses de novembro e dezembro de 2004, e, posteriormente: pensão mensal de 3
salários mínimos; a entrega de cadeira de rodas especial; o pagamento de fisioterapia
e hidroginástica e as obras de adaptação à deficientes físicos necessárias em sua
casa; a compra de passagens de avião para retornar ao Hospital de Reabilitação da
rede Sarah em 15.4.05; e, a condenação em danos extrapatrimoniais sofridos pela
autora.
O douto magistrado deferiu a antecipação da tutela, nos termos
requeridos (fls. 51/53).
O réu requereu o chamamento ao processo da Academia Espaço do
Corpo e da Fundação Municipal de Esportes, sendo acolhido em relação à segunda
chamada (fls. 138/139).
Devidamente saneado e instruído o feito foi sentenciado.
1 Recurso dos Réus
1.1 Preliminares

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1.1.1 Ilegitimidade passiva ad causam do Município de Itajaí e da
Fundação Municipal de Esportes
Suscitaram os apelantes sua ilegitimidade passiva, eis que a
responsabilidade pelo acidente é única da Academia Espaço do Corpo, a qual foi
contratada diretamente pela apelada, sem intermédio da Fundação Municipal de
Esportes.
Não merece acolhimento.
Isto porque, conforme será demonstrado adiante, a responsabilidade
dos entes públicos diante da conduta omissiva que acarretou o dano é de caráter
objetivo, sendo desnecessária averiguar a culpa.
Assim, verifica-se no presente caso, ser a apelada ex-atleta que
representava o Município de Itajaí, integrante da Seleção Itajaiense de Atletismo,
tendo sido contratada pela Fundação Municipal de Esportes através de contrato de
bolsa esportiva.
Portanto, afasta-se a preliminar.
1.1.2 Ilegitimidade passiva ad causam do Município de Itajaí
Alternativamente, arguiu, a ilegitimidade do Município, pois a Fundação
Municipal de Esportes possui autonomia e personalidade jurídica própria, não
participando o primeiro no contrato de bolsa firmado com a apelada.
A prefacial merece ser afastada.
A Fundação Municipal de Esportes é entidade da administração indireta,
possuindo patrimônio próprio e capacidade processual. Contudo, na ausência de
recursos, o Município deve responder subsidiariamente pelos atos praticados por
órgão a ele vinculado.
Assim, rejeita-se a preliminar.
1.2 Mérito
1.2.1 Responsabilidade civil objetiva do Município e da Fundação
Municipal de Esportes em decorrência de omissão específica
Inicialmente, impende destacar, tratar-se o presente caso de
responsabilidade civil objetiva do Município de Itajaí e da Fundação Municipal de
Esportes, em razão de conduta omissiva, sendo dispensado a comprovação de culpa
do agente.
Muito discute-se acerca da possibilidade de indenização do Estado sob
o aspecto objetivo nas causas que envolvam omissão do agente público. A respeito
da responsabilização do Estado dispõe o art. 37, § 6º, da CF:
As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa.
O debate toma corpo em razão da inexistência de previsão legal da
responsabilidade objetiva em razão da omissão, estando previsto no referido
dispositivo apenas a hipótese de conduta comissiva.
A jurisprudência e doutrina consolidaram entedimento no sentido da
responsabilidade do Estado, quando da ocorrência de omissão, ser subjetiva,

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necessitando a comprovação da culpa, conforme ensina Celso Antônio Bandeira de
Mello:
[...] a responsabilidade estatal por ato omissivo é sempre responsabilidade por
ato ilícito. E, sendo responsabilidade por ilícito, é necessariamente responsabilidade
subjetiva, pois não há conduta ilícita do Estado (embora do particular possa haver)
que não seja proveniente de negligência, imprudência ou imperícia (culpa) ou, então,
deliberado propósito de violar a norma que o constituía em dada obrigação (dolo)
(Curso de direito administrativo. 26 ed. São Paulo:Malheiros, 2009, p. 1003).
Todavia, em sentindo diverso, Sérgio Cavalieri Filho dispõe não se tratar
sempre de responsabilidade subjetiva quando ocorrer omissão por parte do Estado,
sendo necessário verificar se a conduta omissiva é de natureza específica ou
genérica, vejamos sua lição:
Haverá omissão específica quando o Estado, por omissão sua, crie a situação
propícia para a ocorrência do evento em situação em que tinha o dever de agir para
impedí-lo. Assim, por exemplo, se o motorista embriagado atropela e mate pedestre
que estava na beira da estrada, a Administração (entidade de trânsito) não poderá
ser responsabilizado pelo fato de estar esse motorista ao volante sem condições. sso
seria responsabilizar a administração por omissão genérica. Mas se esse motorista,
momentos antes, passou por uma patrulha rodoviária, teve seu veículo parado mas
os policiais, por alguma razão, deixaram-no prosseguir viagem, aí já haverá omissão
específica que se erige em causa adequada do não-impedimento do resultado.
Nesse segundo caso, haverá responsabilidade objetiva do Estado" (Programa de
Responsabilidade Civil. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 231).
Neste sentido, reza entendimento desta Terceira Câmara de Direito
Público:
RESPONSABILIDADE CIVIL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS – QUEDA DE VEÍCULO EM BURACO EXISTENTE EM VIA PÚBLICA –
FALTA DE SINALIZAÇÃO ADEQUADA – OMISSÃO ESPECÍFICA DO ENTE
PÚBLICO – RESPONSABILIDADE OBJETIVA
1 A pessoa jurídica de direito público responde objetivamente pelos danos
decorrentes de evento lesivo originado por omissão específica sua, ou seja, por
omissão a um dever legal de agir concreta e individualizadamente de modo a
impedir o resultado danoso.
2 A existência de buraco em via municipal, desprovido de sinalização
adequada, configura omissão específica do ente público, em razão da inobservância
de sua obrigação de agir para a conservação do local e a segurança dos munícipes
(ACV n. 2009.046487-8, Rel. Des. Luiz Cézar Medeiros, j. em 16.9.09).
In casu, a responsabilidade objetiva específica do Município e da
Fundação Municipal de Esportes está demonstrada na conduta omissiva dos
mesmos, ao não assegurar meios propícios e seguros, ao treinamento de atleta que
possuía contrato de bolsa esportiva com a segunda requerida.
Referido contrato previa uma série de deveres da atleta, obrigando-a:
"[...] cumprir fielmente todas as determinações e normas do Regulamento da FME,
importando o descumprimento, em afastamento imediato e demais cominações
legais" (art 5º). Estabelecendo, ainda que a apelada: "[...] fica obrigado (a) a participar
dos treinos indicados e realizados pela FME, que disponibilizará pessoal
especializado para ministrar e auxiliar e supervisionar o aproveitamento" (art. 6º) (fl.
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145).
Consta do depoimento de Marcos José Tomaz, ex-técnico da recorrida:
"A escolha da academia para exercício dos atletas foi realizada pelos técnicos da
FME, pelos atletas e pelos proprietários da academia". Afirmou não ter acompanhado
a ex-atleta em seus exercícios no dia dos fatos, orientado-lhe para cumprir seu treino
já pré-estabelecido. Ainda, que o pagamento da academia não era realizado pelos
atletas (fl. 294).
Neste diapasão, visualiza-se a ausência de cuidado dos apelantes em
relação às condições propícias à realização do treinamento da ex-atleta, restando
caracterizada sua responsabilização pelo dano ocorrido.
E não há que se falar em exclusão da responsabilidade do Município eis
que não está configurada nenhuma das hipóteses de exclusão do nexo causal, quais
sejam: fato exclusivo da vítima, caso fortuito, força maior e fato exclusivo de terceiro.
A apelada não contribuiu para o evento danoso, porquanto apenas
cumpriu ordem do treinador e realizou seu treino como de praxe.
Assim, em se tratando de responsabilidade objetiva do ente público,
mister somente a demonstração do nexo de causalidade e do dano sofrido, sendo
prescindível a comprovação da culpa.
As alegações formuladas pelas partes e as provas carreadas ao caderno
processual não deixam dúvidas quanto ao nexo causal do acidente e a consequente
obrigação indenizatória.
Em sendo assim, comprovado o nexo de causalidade entre o evento e o
dano, forçoso reconhecer a responsabilidade do Município de Itajaí e da Fundação
Municipal de Esportes, bem como o dever reparatório.
1.2.2 Pensão
Clamaram os apelantes pela exclusão da condenação ao pagamento de
pensão alimentícia, eis que a apelada não ficou totalmente incapacitada para o
trabalho, ou, alternativamente, caso, seja entendido pela plena incapacidade, a
pensão deve ser limitada até o implemento dos 65 anos.
No entanto, restou devidamente comprovado ter a recorrida ficado
totalmente incapaz de realizar a atividade que desenvolvia antes do acidente. A
respeito dispõe o art. 950 do CC:
Se da ofensa resultar defeito, pelo qual o ofendido não possa exercer o seu
ofício ou profissão, ou lhe diminua o valor do trabalho, a indenização, além das
despesas do tratamento e lucros cessantes até o fim da convalescença, incluirá uma
pensão correspondente à importância do trabalho, para que se inabilitou, ou da
depreciação que ele sofreu.
Assim, mostra-se correta a concessão da pensão, pois a ex-atleta ficou
inabilitada para o exercício de sua atividade.
Nesta senda, retira-se da jurisprudência desta Corte:
RESPONSABILIDADE CIVIL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS – MUNICÍPIO – RESPONSABILIDADE
OBJETIVA – DISPONIBILIZAÇÃO DE TRATOR PARA ABRIR ESTRADA EM
PROPRIEDADE PARTICULAR – ACIDENTE – ESMAGAMENTO DA MÃO
ESQUERDA DO PARTICULAR – INDENIZAÇÃO DEVIDA

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1 O Estado tem o dever de ressarcir os danos a que deu causa ou deveria
evitar. A responsabilidade é objetiva (CF, art. 37, § 6º) e dela somente se exonera o
ente público se provar que o evento lesivo foi provocado pela própria vítima, por
terceiro, caso fortuito ou força maior.
2 Comprovado que o fato danoso decorreu de conduta praticada por terceiro
que atuava em nome da Municipalidade por força de contrato administrativo,
entende-se que restou configurada a responsabilidade do ente público.
3 Acaso o evento danoso acarrete a diminuição da capacidade laboral da
vítima, sem que haja incapacidade total, a pensão mensal por ela requerida deve ser
reduzida em 50% do valor dos seus rendimentos à época do infortúnio, em analogia
às lides acidentárias (ACV n. 2008.037638-1, Rel. Des. Luiz Cézar Medeiros, j. em
18.9.08).
E não há que se falar em violação à Constituição Federal em razão da
fixação da pensão em salários mínimos, eis que já se posicionou o STF neste sentido,
conforme dita a súmula n. 940, senão vejamos: "A pensão correspondente a
indenização oriunda de responsabilidade civil deve ser calculada com base no
salário-mínimo vigente ao tempo da sentença e ajustar-se-á às variações ulteriores".
Desta forma, adequado o arbitramento da pensão vitalícia determinado
pelo douto juiz singular em R$ 1.250,00 (mil duzentos e cinquenta reais),
correspondentes a 3 salários mínimos à época da prolatação da sentença, e, devendo
por ele ser atualizado.
1.2.3 Dano Moral - quantum indenizatório
Os apelantes requereram a minoração do quantum indenizatório fixado a
título de danos morais.
A análise deste ponto será realizada no recurso da autora.
2 Recurso da Autora
2.1 Nulidade da sentença - ausência de condenação em danos
patrimoniais
A apelante alegou ter o ilustre togado deixado de fixar a condenação
em danos patrimoniais na parte dispositiva da sentença, ainda que em seu voto tenha
declarado serem incontroversos os danos materiais sofridos.
Retira-se de trecho da sentença:
Os danos materiais são incontroversos eis que decorrentes da lesão sofrida
que deixou a Requerente paraplégica, necessitando de tratamentos e equipamentos
especiais, bem assim, da pensão mensal e vitalícia a qual fixo em R$ 1.250,00 (um
mil e duzentos e quarenta e cinco reais) equivalentes a 3 (três) salários-mínimos.
A ausência de menção específica da condenação ao pagamento de
indenização por danos materiais não possui o condão de gerar a nulidade da
sentença em comento.
A apelante poderia ter impugnado a sentença através do recurso de
embargos de declaração em razão da omissão e contradição apontadas na sentença.
Retira-se dos autos, ter a recorrente diversos gastos com tratamentos de
saúde que vem realizando em decorrência do evento danoso.
Desta forma, comprovados os gastos com fisioterapia e hidroginástica,
estes devem ser pagos pelo Município de Itajaí.

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Assim, não incorre em nulidade a sentença recorrida, porquanto o ilustre
togado fixou a título de danos patrimoniais a pensão mensal e vitalícia de R$ 1.250,00
(um mil duzentos e cinquenta reais), representando à época 3 salários mínimos,
devendo, ainda, serem pagos pelo Município os gastos realizados pela apelante com
fisioterapia e hidroginástica devidamente comprovados.
2.2 Dano Moral
Requereu a apelante a majoração do quantum indenizatório do dano
moral para R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), enquanto os apelantes pleitearam a
minoração do valor.
Sabe-se que a condenação em indenização por danos morais é direito
constitucionalmente assegurado, sendo reflexo do abalo psicológico causado em
decorrência do evento danoso gerador da responsabilidade civil. Dispõe o art. 5º, V,
da CF:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
[...]
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem.
Em relação à sua fixação, predomina a subjetividade, não existindo
parâmetros legais destinados a tal finalidade.
Diante disso, os critérios para o seu arbritamento são fornecidos pela
doutrina e jurisprudência, os quais, de forma geral, consideram como determinantes a
situação econômica da vítima e do autor, a gravidade da situação vexatória, do
constrangimento ocorrido, e do abalo experimentado, a duração do dano, o grau de
culpa verificado na conduta ilícita, tudo com a finalidade de proporcionar uma
compensação econômica para a vítima e impor um caráter punitivo ao causador do
dano, impedindo a prática de tais ilícitos.
In casu, a apelada merece compensação pelo dano moral sofrido em
face da negligência do Município de Itajaí e da Fundação Municipal de Esportes não
executar fielmente o contrato com ela estabelecido, deixando de conceder-lhe
condições seguras de treinamento.
Isso porque, depreende-se dos autos, antes do evento danoso a
recorrida era atleta, possuidora de excelente condicionamento físico e detentora de
ótimos resultados em competições estaduais.
O acidente tolheu da apelada, a grande chance de tornar-se uma atleta
profissional, de renome nacional, quiçá mundial.
Assim, diante da situação analisada, tem-se que o abalo sofrido pela
ex-atleta é em tese maior do que outra pessoa dita normal, pois sua vida estava
pautada e construída sobre uma carreira que não mais poderá almejar.
Desta forma, deve-se proceder a majoração do valor para R$
300.000,00 (trezentos mil reais).
O arbitramento do quantum indenizatório em R$ 300.000,00 (trezentos
mil reais) respeita os critérios da razoabilidade e proporcionalidade, atendendo

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plenamente, o caráter compensatório, pedagógico e punitivo da condenação.
Portanto, acolhe-se em parte o recurso da autora para majorar a
indenização ao importe de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais).
2.3 Honorários advocatícios
A apelante pretende, em síntese, alterar o critério adotado à fixação da
verba honorária, haja vista se tratar de sentença condenatória.
A sentença condenou os réus ao pagamento integral dos honorários
advocatícios, estes arbitrados em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), com fundamento no
art. 20, § 4º, do Código de Processo Civil.
No caso, em se tratando de sentença composta por capítulo
condenatório, com determinação de pagamento de indenização por danos morais e
pagamento de pensão mensal, devem os honorários advocatícios ser fixados em
consonância com o art. 20, § 3º, do Código de Processo Civil, que dita:
A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que
antecipou e os honorários advocatícios. Esta verba honorária será devida, também,
nos casos em que o advogado funcionar em causa própria. (...)
§ 3º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o
máximo de vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação, atendidos:
a) o grau de zelo do profissional;
b) o lugar de prestação do serviço;
c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o
tempo exigido para o seu serviço.
Constata-se, portanto, mister a modificação do parâmetro adotado pelo
magistrado a quo, por meio de apreciação eqüitativa.
A respeito, depreende-se da jurisprudência desta Terceira câmara de
Direito Público:
A jurisprudência desta Corte se consolidou no sentido de que o percentual de
10% a título de honorários advocatícios é o mais apropriado na hipótese de ser
vencida a Fazenda Pública, direta ou indiretamente, além das Fundações (ACV n.
2007.056215-4, Rel. Des. Subs. Sônia Maria Schmitz, j. em 6.8.09).
Logo, os réus deverão suportar o pagamento dos honorários do
causídico arbitrados no percentual de 10% (dez por certo), a incidir sobre a totalidade
da condenação, expressa no valor da indenização a título de danos morais devida à
parte autora.
Portanto, neste ponto, acolhe-se o pleito recursal.
Em suma, dá-se provimento ao recurso da autora, para majorar a
indenização por danos morais ao importe de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), bem
como alterar os critérios de fixação dos honorários advocatícios, arbitrando-os em
10% da condenação em danos morais, nos termos do art. 20, § 3º, do CPC.
Por fim, em cumprimento à ordem exarada no item 1.2.2 (Pensão), bem
como considerando o teor da petição de fls. 425/428, determina-se o imediato
pagamento do valor de 3 (três) salários mínimos à autora, impondo-se, ainda, a
complementação dos valores pagos a menor no importe de R$ 700,00 (setecentos
reais) e, ainda, os gastos devidamente comprovados, realizados pela ex-atleta, com
fisioterapia e hidroginástica, sob pena de multa diária no valor de R$ 500,00

Gabinete Des. Wilson Augusto do Nascimento


(quinhentos reais).
Diante do exposto, afasta-se as preliminares arguidas e, no mérito,
nega-se provimento ao recurso dos réus. Quanto ao recurso da autora, dá-se parcial
provimento.

DECISÃO

Nos termos do voto do relator, decidiu a Câmara, por votação unânime,


afastar as preliminares e, no mérito, negar provimento ao recurso dos réus. Quanto ao
recurso da autora, dar-lhe parcial provimento, nos termos acima.
O julgamento, realizado nesta data, foi presidido pelo Exmo. Sr. Des.
Pedro Manoel de Abreu, com voto, e dele participou a Exmo. Sr. Des. Luiz Cézar
Medeiros.
Florianópolis, 2 de março de 2010.
Wilson Augusto do Nascimento
RELATOR

Gabinete Des. Wilson Augusto do Nascimento

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