006923-8, de Itajaí Relator: Des. Wilson Augusto do Nascimento
APELAÇÃO CÍVEL DOS RÉUS – AÇÃO DE REPARAÇÃO
DE DANO MORAL E PATRIMONIAL C/C PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA – RESPONSABILIDADE CIVIL DO MUNICÍPIO – PRELIMINAR – ILEGITIMIDADE PASSIVA – REJEIÇÃO – MÉRITO – OMISSÃO – APLICAÇÃO DA TEORIA OBJETIVA – CONDUTA OMISSIVA ESPECÍFICA – DEVER DE OBSERVÂNCIA PREVISTO EM CONTRATO – NEXO DE CAUSALIDADE DEMONSTRADO – DANO MORAL CONFIGURADO ? ANÁLISE DO QUANTUM INDENIZATÓRIO NO RECURSO DA AUTORA – PENSÃO ALIMENTÍCIA DEVIDA – SENTENÇA MANTIDA – RECURSO NÃO PROVIDO. Em se tratando de omissão específica do ente público resta configurada a responsabilidade civil objetiva, sendo prescindível o exame da culpa. APELAÇÃO CÍVEL DA AUTORA – NULIDADE DA SENTENÇA – AUSÊNCIA DE CONDENAÇÃO EM DANOS PATRIMONIAIS – INOCORRÊNCIA – PAGAMENTO DAS DESPESAS COM FISIOTERAPIA E HIDROGINÁSTICA – OMISSÃO SUPRIDA – DANOS MORAIS – MAJORAÇÃO – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – ALTERAÇÃO DE PARÂMETRO – 10% SOBRE O VALOR DA CONDENAÇÃO EM DANOS MORAIS – ART. 20, § 3º, DO CPC – SENTENÇA REFORMADA EM PARTE ? RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n.
2009.006923-8, da comarca de Itajaí (Fazenda Pública, Ex Fiscais, Ac Trabalho e Reg Púb), em que é apte/apda Susana Cristina da Silva, e apdos/aptes Município de Itajaí e Fundação Municipal de Esportes:
ACORDAM, em Terceira Câmara de Direito Público, por votação
unânime, afastar as preliminares e, no mérito, negar provimento ao recurso dos réus e, quanto ao recurso da autora, dar-lhe parcial provimento. Custas de lei. RELATÓRIO
Susana Cristina da Silva, Município de Itajaí e Fundação Municipal de
Esportes interpuseram recursos de apelação cível, inconformados com a sentença prolatada pelo MM. Juiz de Direito da Vara da Fazenda Pública, Ex Fiscais, Ac Trabalho e Reg Púb da comarca de Itajaí, o qual julgou procedentes os pedidos formulados nos autos da ação de reparação de dano moral e patrimonial c/c pedido de tutela antecipada. O ilustre togado singular julgou procedentes os pedidos formulados na inicial para confirmar a decisão antecipatória e condenar os requeridos: ao pagamento de pensão mensal e vitalícia no valor de R$ 1.245,00 (um mil, duzentos e quarenta e cinco reais), reajustados, proporcionalmente, pelo valor do salário mínimo, bem como dos danos morais, no valor de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais). Por fim, condenou o réu ao pagamento dos honorários advocatícios, fixados em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), nos termos do art. 20, § 4º, do CPC. Sem custas, conforme o art. 35, 'h', da Lei complementar n, 156/97 (fls. 344/353). Opostos embargos de declaração (fls. 356/359), estes foram rejeitados às fls. 360/361. Nas razões recursais, a apelante Susana Cristina da Silva alegou a nulidade da sentença, eis que não ficou estabelecida na parte dispositiva a condenação em danos materiais. Asseverou a necessidade da majoração da indenização por danos morais para R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) a fim de servir como meio de ressarcimento à recorrente e punição ao recorrido. Pleiteou a modificação do parâmetro de fixação de honorários advocatícios, e sua consequente elevação, arbitrando-os conforme o estipulado no art. 20, § 3º, do CPC. Requereu, assim, o conhecimento e provimento do recurso (fls. 359/375). Igualmente irresignados, o Município réu e a Fundação Municipal de Esportes interpuseram apelação cível, suscitando, preliminarmente, a ilegitimidade passiva ad causam. No mérito, sustentaram em sendo o ato que ocasionou o dano, omissivo, a responsabiliade é subjetiva, devendo ser comprovada a culpa. Asseveraram ter a apelada concorrido para a ocorrência do evento danoso, ao passo que deverá arcar com todas as consequências, ou no mínimo, com metade de seus prejuízos. Aduziram ser indevida a condenação ao pagamento de verba indenizatória e pensão alimentícia, pois caracterizaria bis in idem. Afirmaram, ainda, não ter a apelada ficado totalmente incapacitada para o trabalho, não fazendo jus ao pensionamento e, caso entenda pela plena incapacidade, a pensão deve ser limitada até o implemento dos 65 anos. Ponderaram acerca da excessividade do quantum fixado pelo togado
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singular a título de pensão e indenização por danos morais, e, a impossibilidade da vinculação da verba com o salário-mínimo, nos termos do art. 7º, IV, da CF. Por fim, requereram o conhecimento e provimento do recurso (fls. 376/395). Devidamente intimada, a apelada Suzana Cristina da Silva apresentou contrarrazões, clamando pela improcedência do recurso (fls. 411/414). Lavrou parecer pela douta Procuradoria Geral de Justiça o Exmo Sr. Dr. Procurador João Fernando Q. Borrelli, no sentido de ser desnecessária a intervenção do Ministério Público no feito (fls. 421/422). Ascenderam os autos a esta Egrégia Corte de Justiça. Vieram conclusos. É o relatório.
VOTO
Trata-se de apelações cíveis interpostas com o desiderato de ver
reformada a sentença proferida nos autos da ação de indenização por danos materiais e morais c/c pedido de tutela antecipada, através da qual foram acolhidos os pedidos iniciais formulados. Inicialmente, faz-se necessário breve relato dos fatos. A autora ingressou com ação de reparação por danos morais e patrimoniais c/c pedido de tutela antecipada em decorrência de acidente ocorrido na Academia Espaço do Corpo, onde realizava seu treinamento como atleta-bolsista da Fundação Municipal de Esportes. Referido acontecimento, conforme relato da exordial, foi fruto da negligência dos profissionais da academia e da má conservação de aparelho de agachamento, ocasionando-lhe fratura da coluna cervical e lesão da medula espinhal e, consequentemente, paraplegia. Buscou a autora a concessão de liminar e, após, a procedência em definitivo dos pedidos, para condenar os réus ao pagamento de salário referente aos meses de novembro e dezembro de 2004, e, posteriormente: pensão mensal de 3 salários mínimos; a entrega de cadeira de rodas especial; o pagamento de fisioterapia e hidroginástica e as obras de adaptação à deficientes físicos necessárias em sua casa; a compra de passagens de avião para retornar ao Hospital de Reabilitação da rede Sarah em 15.4.05; e, a condenação em danos extrapatrimoniais sofridos pela autora. O douto magistrado deferiu a antecipação da tutela, nos termos requeridos (fls. 51/53). O réu requereu o chamamento ao processo da Academia Espaço do Corpo e da Fundação Municipal de Esportes, sendo acolhido em relação à segunda chamada (fls. 138/139). Devidamente saneado e instruído o feito foi sentenciado. 1 Recurso dos Réus 1.1 Preliminares
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1.1.1 Ilegitimidade passiva ad causam do Município de Itajaí e da Fundação Municipal de Esportes Suscitaram os apelantes sua ilegitimidade passiva, eis que a responsabilidade pelo acidente é única da Academia Espaço do Corpo, a qual foi contratada diretamente pela apelada, sem intermédio da Fundação Municipal de Esportes. Não merece acolhimento. Isto porque, conforme será demonstrado adiante, a responsabilidade dos entes públicos diante da conduta omissiva que acarretou o dano é de caráter objetivo, sendo desnecessária averiguar a culpa. Assim, verifica-se no presente caso, ser a apelada ex-atleta que representava o Município de Itajaí, integrante da Seleção Itajaiense de Atletismo, tendo sido contratada pela Fundação Municipal de Esportes através de contrato de bolsa esportiva. Portanto, afasta-se a preliminar. 1.1.2 Ilegitimidade passiva ad causam do Município de Itajaí Alternativamente, arguiu, a ilegitimidade do Município, pois a Fundação Municipal de Esportes possui autonomia e personalidade jurídica própria, não participando o primeiro no contrato de bolsa firmado com a apelada. A prefacial merece ser afastada. A Fundação Municipal de Esportes é entidade da administração indireta, possuindo patrimônio próprio e capacidade processual. Contudo, na ausência de recursos, o Município deve responder subsidiariamente pelos atos praticados por órgão a ele vinculado. Assim, rejeita-se a preliminar. 1.2 Mérito 1.2.1 Responsabilidade civil objetiva do Município e da Fundação Municipal de Esportes em decorrência de omissão específica Inicialmente, impende destacar, tratar-se o presente caso de responsabilidade civil objetiva do Município de Itajaí e da Fundação Municipal de Esportes, em razão de conduta omissiva, sendo dispensado a comprovação de culpa do agente. Muito discute-se acerca da possibilidade de indenização do Estado sob o aspecto objetivo nas causas que envolvam omissão do agente público. A respeito da responsabilização do Estado dispõe o art. 37, § 6º, da CF: As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. O debate toma corpo em razão da inexistência de previsão legal da responsabilidade objetiva em razão da omissão, estando previsto no referido dispositivo apenas a hipótese de conduta comissiva. A jurisprudência e doutrina consolidaram entedimento no sentido da responsabilidade do Estado, quando da ocorrência de omissão, ser subjetiva,
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necessitando a comprovação da culpa, conforme ensina Celso Antônio Bandeira de Mello: [...] a responsabilidade estatal por ato omissivo é sempre responsabilidade por ato ilícito. E, sendo responsabilidade por ilícito, é necessariamente responsabilidade subjetiva, pois não há conduta ilícita do Estado (embora do particular possa haver) que não seja proveniente de negligência, imprudência ou imperícia (culpa) ou, então, deliberado propósito de violar a norma que o constituía em dada obrigação (dolo) (Curso de direito administrativo. 26 ed. São Paulo:Malheiros, 2009, p. 1003). Todavia, em sentindo diverso, Sérgio Cavalieri Filho dispõe não se tratar sempre de responsabilidade subjetiva quando ocorrer omissão por parte do Estado, sendo necessário verificar se a conduta omissiva é de natureza específica ou genérica, vejamos sua lição: Haverá omissão específica quando o Estado, por omissão sua, crie a situação propícia para a ocorrência do evento em situação em que tinha o dever de agir para impedí-lo. Assim, por exemplo, se o motorista embriagado atropela e mate pedestre que estava na beira da estrada, a Administração (entidade de trânsito) não poderá ser responsabilizado pelo fato de estar esse motorista ao volante sem condições. sso seria responsabilizar a administração por omissão genérica. Mas se esse motorista, momentos antes, passou por uma patrulha rodoviária, teve seu veículo parado mas os policiais, por alguma razão, deixaram-no prosseguir viagem, aí já haverá omissão específica que se erige em causa adequada do não-impedimento do resultado. Nesse segundo caso, haverá responsabilidade objetiva do Estado" (Programa de Responsabilidade Civil. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 231). Neste sentido, reza entendimento desta Terceira Câmara de Direito Público: RESPONSABILIDADE CIVIL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS – QUEDA DE VEÍCULO EM BURACO EXISTENTE EM VIA PÚBLICA – FALTA DE SINALIZAÇÃO ADEQUADA – OMISSÃO ESPECÍFICA DO ENTE PÚBLICO – RESPONSABILIDADE OBJETIVA 1 A pessoa jurídica de direito público responde objetivamente pelos danos decorrentes de evento lesivo originado por omissão específica sua, ou seja, por omissão a um dever legal de agir concreta e individualizadamente de modo a impedir o resultado danoso. 2 A existência de buraco em via municipal, desprovido de sinalização adequada, configura omissão específica do ente público, em razão da inobservância de sua obrigação de agir para a conservação do local e a segurança dos munícipes (ACV n. 2009.046487-8, Rel. Des. Luiz Cézar Medeiros, j. em 16.9.09). In casu, a responsabilidade objetiva específica do Município e da Fundação Municipal de Esportes está demonstrada na conduta omissiva dos mesmos, ao não assegurar meios propícios e seguros, ao treinamento de atleta que possuía contrato de bolsa esportiva com a segunda requerida. Referido contrato previa uma série de deveres da atleta, obrigando-a: "[...] cumprir fielmente todas as determinações e normas do Regulamento da FME, importando o descumprimento, em afastamento imediato e demais cominações legais" (art 5º). Estabelecendo, ainda que a apelada: "[...] fica obrigado (a) a participar dos treinos indicados e realizados pela FME, que disponibilizará pessoal especializado para ministrar e auxiliar e supervisionar o aproveitamento" (art. 6º) (fl. Gabinete Des. Wilson Augusto do Nascimento 145). Consta do depoimento de Marcos José Tomaz, ex-técnico da recorrida: "A escolha da academia para exercício dos atletas foi realizada pelos técnicos da FME, pelos atletas e pelos proprietários da academia". Afirmou não ter acompanhado a ex-atleta em seus exercícios no dia dos fatos, orientado-lhe para cumprir seu treino já pré-estabelecido. Ainda, que o pagamento da academia não era realizado pelos atletas (fl. 294). Neste diapasão, visualiza-se a ausência de cuidado dos apelantes em relação às condições propícias à realização do treinamento da ex-atleta, restando caracterizada sua responsabilização pelo dano ocorrido. E não há que se falar em exclusão da responsabilidade do Município eis que não está configurada nenhuma das hipóteses de exclusão do nexo causal, quais sejam: fato exclusivo da vítima, caso fortuito, força maior e fato exclusivo de terceiro. A apelada não contribuiu para o evento danoso, porquanto apenas cumpriu ordem do treinador e realizou seu treino como de praxe. Assim, em se tratando de responsabilidade objetiva do ente público, mister somente a demonstração do nexo de causalidade e do dano sofrido, sendo prescindível a comprovação da culpa. As alegações formuladas pelas partes e as provas carreadas ao caderno processual não deixam dúvidas quanto ao nexo causal do acidente e a consequente obrigação indenizatória. Em sendo assim, comprovado o nexo de causalidade entre o evento e o dano, forçoso reconhecer a responsabilidade do Município de Itajaí e da Fundação Municipal de Esportes, bem como o dever reparatório. 1.2.2 Pensão Clamaram os apelantes pela exclusão da condenação ao pagamento de pensão alimentícia, eis que a apelada não ficou totalmente incapacitada para o trabalho, ou, alternativamente, caso, seja entendido pela plena incapacidade, a pensão deve ser limitada até o implemento dos 65 anos. No entanto, restou devidamente comprovado ter a recorrida ficado totalmente incapaz de realizar a atividade que desenvolvia antes do acidente. A respeito dispõe o art. 950 do CC: Se da ofensa resultar defeito, pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou lhe diminua o valor do trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até o fim da convalescença, incluirá uma pensão correspondente à importância do trabalho, para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu. Assim, mostra-se correta a concessão da pensão, pois a ex-atleta ficou inabilitada para o exercício de sua atividade. Nesta senda, retira-se da jurisprudência desta Corte: RESPONSABILIDADE CIVIL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS – MUNICÍPIO – RESPONSABILIDADE OBJETIVA – DISPONIBILIZAÇÃO DE TRATOR PARA ABRIR ESTRADA EM PROPRIEDADE PARTICULAR – ACIDENTE – ESMAGAMENTO DA MÃO ESQUERDA DO PARTICULAR – INDENIZAÇÃO DEVIDA
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1 O Estado tem o dever de ressarcir os danos a que deu causa ou deveria evitar. A responsabilidade é objetiva (CF, art. 37, § 6º) e dela somente se exonera o ente público se provar que o evento lesivo foi provocado pela própria vítima, por terceiro, caso fortuito ou força maior. 2 Comprovado que o fato danoso decorreu de conduta praticada por terceiro que atuava em nome da Municipalidade por força de contrato administrativo, entende-se que restou configurada a responsabilidade do ente público. 3 Acaso o evento danoso acarrete a diminuição da capacidade laboral da vítima, sem que haja incapacidade total, a pensão mensal por ela requerida deve ser reduzida em 50% do valor dos seus rendimentos à época do infortúnio, em analogia às lides acidentárias (ACV n. 2008.037638-1, Rel. Des. Luiz Cézar Medeiros, j. em 18.9.08). E não há que se falar em violação à Constituição Federal em razão da fixação da pensão em salários mínimos, eis que já se posicionou o STF neste sentido, conforme dita a súmula n. 940, senão vejamos: "A pensão correspondente a indenização oriunda de responsabilidade civil deve ser calculada com base no salário-mínimo vigente ao tempo da sentença e ajustar-se-á às variações ulteriores". Desta forma, adequado o arbitramento da pensão vitalícia determinado pelo douto juiz singular em R$ 1.250,00 (mil duzentos e cinquenta reais), correspondentes a 3 salários mínimos à época da prolatação da sentença, e, devendo por ele ser atualizado. 1.2.3 Dano Moral - quantum indenizatório Os apelantes requereram a minoração do quantum indenizatório fixado a título de danos morais. A análise deste ponto será realizada no recurso da autora. 2 Recurso da Autora 2.1 Nulidade da sentença - ausência de condenação em danos patrimoniais A apelante alegou ter o ilustre togado deixado de fixar a condenação em danos patrimoniais na parte dispositiva da sentença, ainda que em seu voto tenha declarado serem incontroversos os danos materiais sofridos. Retira-se de trecho da sentença: Os danos materiais são incontroversos eis que decorrentes da lesão sofrida que deixou a Requerente paraplégica, necessitando de tratamentos e equipamentos especiais, bem assim, da pensão mensal e vitalícia a qual fixo em R$ 1.250,00 (um mil e duzentos e quarenta e cinco reais) equivalentes a 3 (três) salários-mínimos. A ausência de menção específica da condenação ao pagamento de indenização por danos materiais não possui o condão de gerar a nulidade da sentença em comento. A apelante poderia ter impugnado a sentença através do recurso de embargos de declaração em razão da omissão e contradição apontadas na sentença. Retira-se dos autos, ter a recorrente diversos gastos com tratamentos de saúde que vem realizando em decorrência do evento danoso. Desta forma, comprovados os gastos com fisioterapia e hidroginástica, estes devem ser pagos pelo Município de Itajaí.
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Assim, não incorre em nulidade a sentença recorrida, porquanto o ilustre togado fixou a título de danos patrimoniais a pensão mensal e vitalícia de R$ 1.250,00 (um mil duzentos e cinquenta reais), representando à época 3 salários mínimos, devendo, ainda, serem pagos pelo Município os gastos realizados pela apelante com fisioterapia e hidroginástica devidamente comprovados. 2.2 Dano Moral Requereu a apelante a majoração do quantum indenizatório do dano moral para R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), enquanto os apelantes pleitearam a minoração do valor. Sabe-se que a condenação em indenização por danos morais é direito constitucionalmente assegurado, sendo reflexo do abalo psicológico causado em decorrência do evento danoso gerador da responsabilidade civil. Dispõe o art. 5º, V, da CF: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem. Em relação à sua fixação, predomina a subjetividade, não existindo parâmetros legais destinados a tal finalidade. Diante disso, os critérios para o seu arbritamento são fornecidos pela doutrina e jurisprudência, os quais, de forma geral, consideram como determinantes a situação econômica da vítima e do autor, a gravidade da situação vexatória, do constrangimento ocorrido, e do abalo experimentado, a duração do dano, o grau de culpa verificado na conduta ilícita, tudo com a finalidade de proporcionar uma compensação econômica para a vítima e impor um caráter punitivo ao causador do dano, impedindo a prática de tais ilícitos. In casu, a apelada merece compensação pelo dano moral sofrido em face da negligência do Município de Itajaí e da Fundação Municipal de Esportes não executar fielmente o contrato com ela estabelecido, deixando de conceder-lhe condições seguras de treinamento. Isso porque, depreende-se dos autos, antes do evento danoso a recorrida era atleta, possuidora de excelente condicionamento físico e detentora de ótimos resultados em competições estaduais. O acidente tolheu da apelada, a grande chance de tornar-se uma atleta profissional, de renome nacional, quiçá mundial. Assim, diante da situação analisada, tem-se que o abalo sofrido pela ex-atleta é em tese maior do que outra pessoa dita normal, pois sua vida estava pautada e construída sobre uma carreira que não mais poderá almejar. Desta forma, deve-se proceder a majoração do valor para R$ 300.000,00 (trezentos mil reais). O arbitramento do quantum indenizatório em R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) respeita os critérios da razoabilidade e proporcionalidade, atendendo
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plenamente, o caráter compensatório, pedagógico e punitivo da condenação. Portanto, acolhe-se em parte o recurso da autora para majorar a indenização ao importe de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais). 2.3 Honorários advocatícios A apelante pretende, em síntese, alterar o critério adotado à fixação da verba honorária, haja vista se tratar de sentença condenatória. A sentença condenou os réus ao pagamento integral dos honorários advocatícios, estes arbitrados em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), com fundamento no art. 20, § 4º, do Código de Processo Civil. No caso, em se tratando de sentença composta por capítulo condenatório, com determinação de pagamento de indenização por danos morais e pagamento de pensão mensal, devem os honorários advocatícios ser fixados em consonância com o art. 20, § 3º, do Código de Processo Civil, que dita: A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios. Esta verba honorária será devida, também, nos casos em que o advogado funcionar em causa própria. (...) § 3º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o máximo de vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação, atendidos: a) o grau de zelo do profissional; b) o lugar de prestação do serviço; c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço. Constata-se, portanto, mister a modificação do parâmetro adotado pelo magistrado a quo, por meio de apreciação eqüitativa. A respeito, depreende-se da jurisprudência desta Terceira câmara de Direito Público: A jurisprudência desta Corte se consolidou no sentido de que o percentual de 10% a título de honorários advocatícios é o mais apropriado na hipótese de ser vencida a Fazenda Pública, direta ou indiretamente, além das Fundações (ACV n. 2007.056215-4, Rel. Des. Subs. Sônia Maria Schmitz, j. em 6.8.09). Logo, os réus deverão suportar o pagamento dos honorários do causídico arbitrados no percentual de 10% (dez por certo), a incidir sobre a totalidade da condenação, expressa no valor da indenização a título de danos morais devida à parte autora. Portanto, neste ponto, acolhe-se o pleito recursal. Em suma, dá-se provimento ao recurso da autora, para majorar a indenização por danos morais ao importe de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), bem como alterar os critérios de fixação dos honorários advocatícios, arbitrando-os em 10% da condenação em danos morais, nos termos do art. 20, § 3º, do CPC. Por fim, em cumprimento à ordem exarada no item 1.2.2 (Pensão), bem como considerando o teor da petição de fls. 425/428, determina-se o imediato pagamento do valor de 3 (três) salários mínimos à autora, impondo-se, ainda, a complementação dos valores pagos a menor no importe de R$ 700,00 (setecentos reais) e, ainda, os gastos devidamente comprovados, realizados pela ex-atleta, com fisioterapia e hidroginástica, sob pena de multa diária no valor de R$ 500,00
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(quinhentos reais). Diante do exposto, afasta-se as preliminares arguidas e, no mérito, nega-se provimento ao recurso dos réus. Quanto ao recurso da autora, dá-se parcial provimento.
DECISÃO
Nos termos do voto do relator, decidiu a Câmara, por votação unânime,
afastar as preliminares e, no mérito, negar provimento ao recurso dos réus. Quanto ao recurso da autora, dar-lhe parcial provimento, nos termos acima. O julgamento, realizado nesta data, foi presidido pelo Exmo. Sr. Des. Pedro Manoel de Abreu, com voto, e dele participou a Exmo. Sr. Des. Luiz Cézar Medeiros. Florianópolis, 2 de março de 2010. Wilson Augusto do Nascimento RELATOR