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vores ¢ havia bringquedos na mia, mas eu no oh meu passo,aperte, apertand, chispe, 1a quase cheg [Nossas mos se acharam, Nés nos olhamos n nada, E foros subindo a rua Malagueta, Perus e Bacanaco Lapa © engraxate batucou na eaixa mostrando que era 0 fim. Bacanago se levanto,etieou dangaram no brilho dos sipates foram para as cortins verdes, Vestido de branco, com macio rebolado, Bacanayo se chegou: (Oi, meu parceizinho! Est a jogo ou esti a passeio? (© menino Perus encolheu-se no blusio de couro, Os dedos de Bacanaco indo, vindo,atigando. Desafivam, = Esti a jogo ou a pascio? Calado. © anelio luzia no dedo do outro ¢ © apequensva, Iangava-o de olhos baixos, desensabido. © menino Perus chucow na nota ao menino, Os olhos para Jonge uma ponts de cigarre arreou no banco lateral. Trés ‘eds enfiaram-se nos cabelos. ~ Que nada! Tou quebrado, meu ~ os dedos voliram a des- ‘cansar nos joelhos. Avistavam-se todas as tardes, acordados hi pouco ou apenas ‘nal dotmidos. Dois tacos conkecidos ¢ um amigo do outro no pretendem desacato sério, Os desafios goram, desembocam nim bbom entendimento. Perus ¢ Bacanaco, de ordiniri, acabavam sécios e pati. Ent, conluiados, nem queeiam saber se esta~ ‘am certos on ertades, Funcionavam como parelha fortsima, como bisbaros, como religios.Pranhas. apa, Pompéi,Pinhe\- ros, Agua Branca... Ou em qualquer muguinfo por si, porque todo muguinto € muguingo, quando se jga 0 joguinho e se ext com a fore. Negaga, marmelo, tapara, quando iam os dois Um, 0 marelo;0 outro era 0 cabo. Mas se cumprimentavam aos pabvrdes. Quando se topavam, por malandragem ou nega¢a do joguinlo, se enca- ravann, Picardia.E quem nio soubessediria que acabariam se atracando. Um querendo comer 0 outo pels pena, dizendo desconsideragbes Chegava-hes depois ui sxinho said empurrando-thes 4 gana para bem longe. Js no se estranhavam,Faziam socie- dade canals igualmente, cata juntos a vrais nas rods do joginho. Aqucl rd, tinham manta, cinham chats, boqueavamn a pros mole...Mas por umas ou por outs estavam sem api © dois quebrados, quebradithos. Sem dinheito, © maior ma~ Iandko eai do cavalo sofedoe algum si do buraco. Esperar amaré de sort? A sorte no gosta de ver ninguém bem. A curtiols parads nagucle aio ds Lapa. Jogo nenhum. Safados por todos of cantos. Magros, encudides, amarelos, sonolentos, agabundos,eeadios, viadores Tanto sono, muita sana, gana pouca ou nenhuma naguela rods de snuea.A roda fica mais wit sem o jogo. Mags, agros Pescogos de gins. Bacanago abanou a beg Tio s6 na boca de espera, mora. Aqui & tudo liso. Entio, enquanto otirios nio surgiam, jogo bom no apare cia € a noite nio chegava, Perus e Bacinago brincaram. Com boca e com as pernas, indo e vindo e requebrando, se fizendo de dices, brincaram, Desconsideradamente, nenhism golpe. As pernas ao de leve se tocavam e se afistavam, nio se entrelagan~ {do munca, que aquilo ers brincar, A curriola veio se encostando, Atigou-se 0 rebolado dos dois coxpos magros se elando © Bacanago vibrou, Aquele menino Perus se mexia,esperteza € ‘marotagem, se esgueirando ¢ escapulindo como um susto."Vou pods este Do bobo traseo da calga ji veio aberta a navalha ~ Ente, safido. Perusestatelou, guardou-se no blusio de coure.O antebra- nino” ,considerou Bacanaco. 0 cobriu a cara, os olhosfirmaram, A curriola calada, Mas Bucanago sorsiu, que aguilo era brineat Durie veio pedir, que o done do bar pedi. Parassem com aquilo, que aquilo nie abria futuro, havia navalha, se 05 tras aparecestem.. Durio, no seu avental encardidlo ena sua vontade frowxa de ordem, que ajetava, maneiro, Dessem juizo. O dono do bar peda, Bacanago metew 36 mti0s no bolso, estizou o beiga-Sacon a ‘iio, o polegar dobrou-se para tis, echou o bale: =O ister ai da casa nfo quer batifendo, mor. E brincaram mais um tanto, que a vontade no pasara Durio fez um barulho com a boca, descoragoado, se foi com, xicara de café na mio. Duma feita se aquictaram, j4 nio querenda mais nada Suados, procuraram o banco lateral, ajeitaram-se de pernas abertas Jogar palitinho, contar figanha ou casos com nomes de parceiros, conluios atrapalhadas, tamoias,brigas, gas, prisbes LLembraram Soroeabana, Ali, naquele sao enorme, no fazia uma semana, (© calfo era na Lapa, era 0 velho Colesting, rete mess, 4Jog0s bons, parceirinhos coiés. Catava-se ali muito trouxa de subvirbio, motorists, operirios, mascates, homens de sucaria, ‘gente da estrada de ferzo, Havia pareeitées temporitos. Bern, Ni fazia uma semana, naguela boca do inferno aparece Soro- ‘abana, lagando ali, numa semana, pouco mus de vinte conto, Quem ganhou foi Bacal, com aquele seu jeto de sonso, batida velha de quem no quer nada e joga s6 por jogar. Deu vicar ao ffegués e ele veio depressnha, Entio, Bacalau mor. Comia o homem, comendo de gosto, Quando a semana findow, ‘© malandro fingiu dé e aplioow a dissimlads ~ dew uma extia de «cinco contos a Sorocabana,Pelo certo na regra da simica,a gra tificagio de consolo previa apenas trés contos e, bem conside- sando, nio chegava nem a ts, Dez por cento sobre o perdido & a esti. E Bacalau dando cinco contos.. Mas Bucalst era um perigoso e tinha juizo, fincava na charla, mexia os patizinkos. ue Sorocahana, owns, coid-sem-sortsandivsesbagaando su alro-prémio reecido pelos vnte ans de rabalbo evo ‘aida brava dh estas de fro. Sim. Cad, tes lho, ho- mem de vida brs Um metered piso se meen a gen~ tcyum enlo-de-ets. E Baca penguntnise"Pars que tonsa quer dinheiro?, Bacal adogou-o mais, Contnatim 0 joe tho ¢o aldo lhe monde ot kim, olgndo, devas, quae tx hors de jog. Po lke, dando ale a desato, mans 6 taco com wnt mo x6 dava una lame, um partido de auinze pontos na bola dis. Era eicandlor, Bac ev per= dena linha que todo mado tea. No ef agi i= ca. que se faa isis, apa, até fas de pontor no smaridor. Crt, que € tudo malandrgem. Mas dsrespeitar par- cir. A prdpiscurriol se asnhou, desprovando Sorocaban,coitado, cava na beirada da mes atapalhn~ dose com o cigar, srando as bols,filindo sozinho. ‘Mas castigo vem a caval, Bacal quis cr mst malando que # malndagem esto «0 perlev.Pegou 3 gra, impolos-s nm rompante,ginhow a su, Fase ge entos no primcizo restate ftfou-4 cO- ‘mo um lone. Sorinho. A tarma se mordew, com agua tur- sma x qucimou. Malando ganharvinte cons, no dat mimo 4 ninguém, no dstribie a extas! Que mando era aqele? ‘Aquilo era um sfado precisando de ligSo. 4 corriola se enfe- row. Era mancids, pouco-o, cra dendenhar,dsconsidear, ge bol Anal, quando Bacal etva com 3 fms sabia mito ‘bem pedir e sempre Ihe arranjvam algum para que o vagabun- do se endiretase, tirando 0 pé da lama, Como podia, agora que ‘inha de sobra... Entregaram Bacalau 20s rates. 0s tras foram eati-lo, bebendo e folgando com saulher, dois dias depois, num boteco das Perdizes. Entregaram Bacalau e ninguém soube quem fi. Contava Bacanago que sabia muito bem das coisinhas da faganha. © menino Perus também sbia, Mas era aim menino dante de Bacanago e por iso ouvia quieto,s6 meneando a ca- bea e de acordo com tudo, Para final ~ Bacanago era taco me- thor, jogador maduro,ladino perigoso da caineta, do baralho © 4 sinuca, moreno vistoso ¢ mandio, malandeo de mulheres. CCamisa de Bacanago era wma para cada dia, Vida arrumada. De mais a mais, Bicanago tinka negécio com os mascates, aqueles que vendiam quinguilbatias e penduricalhos nas bein das da Lapa-de-baixo, ¢ era um considerado dos homens do mercado, Malndro fino, vadio de muita Kinha, tinba a consi- deragdo dos policiais. Andar com Bacanago, segui-lo, ovi-lo, servi-lo, fazer parceria, era negécio bom. Era quem primeiro cantava de galo, Bacanago nio olhava ra cara dos desconhecidos. Impunha-se-Ihes oprimsindo, ape- icadas, para enfrentara rua, = Moreno, me di um cigar Seus olhos parados, as bocas mascavam, os homens pass vam, escolhiam. ‘As roupas apertando carnes, que comexagero 0s decotes mostravam. Unas riam, convidavamt, cantarolavam, diziam pro~ ‘vocag6es,picavam 05 olhoscomio menina fazendo arte. Quando ‘em quando, um casal se formava, ela caminhava 3 frente, rumo 20 edifc lor Bueno era triste, a chave na mio, o homem ats. Intxicadas.A Ama- Maita conversa. Sono, fome ¢ vagabundos nos bancos la- ‘eras. Muitas falas daquela gente parda ¢ pilida no Americano, famoso ponto de aponto, Um reduto em que batedores de carteira, fides, jogadores e o geral da malandragem se promis- ccuiam com tiras © negociantes de viragies graidas e misdas, ‘Quando se pretendia um encontro, era 0 Americano para todas as espécies de miltiplas arrumagdes. Mil e um conchavos. Ali fincionavam tipos de muitos naipes, desde a malandragers das beiradas das estagbes até os comerciantes da rua 25 de Margo. ‘Tiras decafdos, tras atuantes, gente da Forca Paiblica compare iam contemporizados 4 malandragem. Engraxate, manicure, barbeiro a0 fundo. Aquele sibado, entrtanto,o dinheito nas mesis io corria, Jogo nenhum no salio de vinte e tantas mesas. Sondaram. Os trés pastearim entre mesas tensos passavam sem fila, estirando os beigos, chutando coisas do chio gasto Hiavia mosca, fimaga, calor. Mesas vazias tacos em seus Inga res, bolas ausentes, Os barulhos das conversas, os pentes dos engraxatesrepicavam niumna banucada,risos chegavam da bar- beara, © bulicio aborrecia = Nio dew pé.Vamos gine Voltaram 3 Ipiranga, coma mesma febre marcharam, J de longe o distinguiram, entre dois homens, num tern0 de brilhante inglés, naquela pose sua com s6 metade da mao no bolo, Chegaram-se, humildes cumprimentaram, buscaram con- vers, tiveram modos, Bacana¢o, soicto, estendeu os cigartos A esqsina da Santa Bfigénia coparam Came Frit, valente muito sério, profewor de habilidades. Havia na cidade e ainda nnoutascidades bons entendedorese tacos atados com eapaci- dade para fechar partis, lgdando as bolas. Havia nomes ¢ famas que corritm, Muitos, muitos. Prag, Purand, Detefom, Esilingue, Lincoln, Miozinha..Eram artista do pano verde. ‘Mas Frits... qe entendia de sinuca era ele. Em cima dele foram e gramaram muitos ¢ muito esperto perdeu o rebola- ddo,e muito cobra ficou faland sozinho, esficelado em volta da mesa, como coruja cega. E muito pattio de jogo caro se perdew ‘em apostas contritias, em lances para mais de vinte contos. (© homem ganhara tamanho, celebridade; uma curiosidade que se exibiu ensinando até na celevisio. Seu nome e fotografia em ‘pose de jogo foram puta o jornal numa reporagem que assim dizia: “SINUCA DE CARNE FRUTA ALTA DE ADvERSARO!”. Era Came Frita,Botassem respeito sentido e distincia com silencio © consideragio. ‘Mogo, baixinho, com uns olhos de menino, esguio como ‘0s malandkos do joguinho que andam quilémetros 20 redor das ‘mesa, ninguém daria nada iquele, prado, 4 eaquina da Santa figénia, dando um gesto de milo a Malagueta, Perus e Bacana~ «0. Fossem ver... Perguntassem em Gots, em Curitiba, em Por- to Alegre, no Rio, em Fortaleza... Sua historia abobalhata, seu {jogo desnorteou todos of meses / Quem de sinuca entendia era Fria ‘Mass febre era a febre ¢ queimava e dava’ press. Despediram-se do maior taco do Bras, ligeiros ¢ irmes entraram pels Santa Blignia, ua de viragdés como otras, que- la hora dormidas. Aleangaram 0 largo Santa Efigénia, igreja de tum lado, sinuca do outro. (Os sapatos fizeram um barulhio na escada comprida de ‘madeita, Ripidos, subiam.Veio-Ihes, num demo, a fantasia de brincarem degeaus tés a es. Perus e Bacanaco iam, lépidos. ‘Malagucta capengou, agilentou-se mal e mal no corritslo, per {ot 0% beigos num esforgo. Os companheitos pararam mais ai sma, Riram: ~Ti caindo do cavalo, velho? ‘A-escada deu-thes, enfin, 0 sali. Vem ci, moleque! Piranha esperava comida Mal entraram no Paratodos, derat com a vor do negro intimando Perus € 0 brinquedo acabou-se, ¢ tudo 0 mais se confundio, cow cinzento. Bscuro nas mesas, salio silente, tacos jogados, pontas de

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