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assunto). (Psicologia de confessor e psicologia de
puritano, duas formas do romantismo psicologico: mas
também 0 seu oposto, a tentativa de observar “o ho-
‘mem’ do ngulo puramente atstico - ainda nao se ousa
ali a apreciacéo contraria!)
10) Todo o sistema europeu das aspiracbes humanas
tem consciéncia de seu absurdo, ou melhor, de sua
“imoralidade”. Probabilidade de um novo budismo. O
malor perigo. “Quais as relacoes entre a veracidade, o
amor, a justia eo mundo verdadero?”
Nao existe nenhumal
1 Niilismo
2. a) Niilismo, uma condicao normal. - Niilismo:
faltarthe a finalidade: a resposta a pergunta “Para qué?”
Que significa 0 niilismo? Que os valores superiores se de-
preciam,
Pode ser indicio de forca, pode o vigor do espirito au-
mentar até parecerem improprios os fins que até entao de-
sejava alcangar (“convie¢oes”, “artigos de fé") (porque a
fé expressa geralmente a necessidade de condicdes de
existéncia, a submissao a autoridade de certa ordem de coi
sas que prospere e desenvolva um ser, proporcionandohe
a aquisicao da poténcia...); por outra parte, o indicio de
forca, insuficiente para erigit a si mesma uma finalida-
de, uma razao de ser, uma fé.
Aleanca 0 maximo de sua forga relativa como fora
violenta de destruicao: como niilismo ativo. Poderiamos
dar como seu oposto o niilismo fatigado que nao mais ata-
ca: a mais conhecida de suas formas é 0 budismo, que ¢ ni
ilismo passivo, como sinal de fraqueza; a atividade do es}
rito pode estar fatigada, esgotacla, de tal forma que os fins e
valores preconizados até o presente parecam impréprios
endo mais se imponham, de sorte que a sintese dos valo-
res e dos fins (sobre os quais repousa toda cultura sdlida)40 Vontade
se decomponha, e que os diferentes valores se g)
entre si; uma desagregacao...; que tudo o que all
tranquiliza, atormenta, venha em primeiro plano, s
pagens diversas, religiosas ou morais, politicas ou
cas etc.
O niilismo representa um estado patolégico interi
diario (patolégica é a desmedida generalizacao, a con\
sao que nao tende a nenhum sentido): ou porque as
cas produtivas ainda nao estejam suficientemente sélidi
ou porque a decadéncia ainda hesitante nao tenha dese
berto seus meios.
b) Condig&o desta hipétese. - Que absolutamente
nao existe verdade; que nao ha uma modalidade absoluta
das coisas, nem “coisa em si”. Isto propriamente nada
mais € que niilismo, e 0 mais extremo niilismo. Ele faz
consistir o valor das coisas precisamente no fato de que
nenhuma realidade corresponde nem correspondeu a tais
valores, os quais sao nada mais que um sintoma de forca
por parte dos que estabelecem escalas de valor, uma sim-
plificacao para conquislar a vida.
3. A pergunta do niilismo “para qué?” vem do uso, até
hoje dominante, gracas ao qual fim parecia fixado, dado,
exigido de fora - quer dizer, por alguma autoridade su-
pra-humana. Quando desaprenderam a crer nessa autori-
dade, procuraram, segundo uso antigo, ouira que soubes-
se falar a linguagem absoluta e ordenar designios e encar-
gos. A autoridade da consciéncia é agora, sobretudo, uma
compensagao para a autoridade pessoal (quanto mais a
moral se emancipa da teologia mais se torna imperiosa).
4, Neste caso, o sentido de “coisa em si” € 0 metafisico (Ding an Sich),
pelo qual uma coisa subsiste em si mesma sem supor outra coisa, se-
gundo o conceito kantiano e nao no conceito realista vulgar de existen-
cia fore da representacao. Mas Nietzsche, em negando a “coisa em si”,
nega 0 conceito Gntico, o noumeno da acepgao pés-kantiana, que afit-
ma uma “existéncia” absoluta, fora da relacao dialética, em movimento.
Nietzsche aceita somente a relacao tragico-dialética das coisas, em seu
movimento de contradi¢ao, como ja expusemos no prélogo.