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3 AMBIVALENCIA E CONFLITO Discus, nos eapiulos anteriores, diferentes abordagens 208 cestudos da tradugio eas nogies de equivalénca que veculam. NO primeiro capitulo, apresente estudos da traducio na perspectiva Tingtistica: 0s viios conceits de equivaléncia como nogio cen tral para defnigio de tradugioe parimetro para se determina 0 ‘que € uma boa tradugio. No segundo capitulo, expus 0 ponto de Vista de dois teérios que deserevem a tadusio litrtia em seu ‘context de produgio e que supostamente problematizam a equi valéncia. Mostre’ dois plos aparentemente opostr einconelis veis. No entanto, 20 faz, apontei também os momentos em ‘qu, apesar da aparentediversidade de concepyes,aquelas toss ‘stuam em um plano similar, evidenciando que o pressiposto dos rabalhos analisados at este ponto de que hi uma “fonte”,0 ‘texto original, da qual la um significado intencional, que provo- ‘acertoefeto que pode ser reconhecido erecuperado pela tradu- ‘slo. O paradgma em que os tabalhos se colocam é portanto,se- imelhante, pois suas propostas devorrem do pressuposto de que |n{um sentido e uma mensagem presentes nos textos que podem ser recuperados pelo traducor ou pelo pesqisador etransmitidos por diferentes meios ou por diferentes linguss, sem que se afete sua integridade 168 ‘RETIN cARNIRO ROORGUS Apesar das erticas que Lefevere (1983) fr ao “cresente es sencialsmo” de algumas das propostas de pesqissinsridas nos ‘vocaria o mesmo efit do original, Nila enatiza, portanto, que 3 recuperagto do original crealiza em um primeiro momento, en ‘quanto leitura:o traducor teria acesso a0 mesmo texto que o autor fscteveu, de acordo com suas ietengbes. Os princpiosgeras da teansformasdo seria aplicveis a todas as lingua, a todos os ex tos; cirsunsténcia contextual alguma alteraia a supostaessncia ‘do que o aver tera pretendido dizer. “Toury ¢ Lefevre parecem excapar a esas concepgies essenca lists, pois se aegam a partir de ums nogio « prior de equivaléncia cenio definem a tradusio como uma relagio de correspondénca, ‘ou conformidade, No entant ambos tsmbée mostam aeredtat {que hs signifcados recuperiveis depostados nos extos. Lefevere onsidera que o texto ¢ recepticulo dos significado atribuidos| ‘por um autor, na medida em que afiema que os radutores ideal mente deveriam str capares de transmit contetido de informa- HADUCAO EDTRENGA 169 lo semanica do vexto-fone ¢ seu poder ilocucionssio” (1992, 19) que os litoresdevem “busearo significa pretend pelo autor” (p.51) e que devem cuidae para “no ler de modo errado as itengdes do autor" (.63). Acedia, portant, ser posiel ums Ietura“proteora", em que se recuperam ossigificados do autor, apesar de reiterar que a traduglo & sempre “manipula” e inte rao entre enue. Toury é 0 nico, dos auroresanalisados neste trabalho, que salient diferensa, o fato de atraducio nto ser igual ao texto de partida, ea aeeridade,o fato de o texto traduzido ser “outro”, fem outro contexto, mantendo tras relagdes com outros textos, emouta cultura, Declara no analisrtradusées tomando base o “texto-fomte”, mas é este que actba aparecend no centro dese trabalho, como o “invariant de comparagio", ou “trtium com: rations", em relag ao qual serio determinados os “deslocs mentos" eas "normas de tradugao”. Ese “invariante” fnciona ‘como parimetro para se determinas sums tradisio se encontra no paradigma da “adequacio”, ou no polo da “acitabilidade”, 6 pdese referia uma leieura supostamentecorreta do original A suposta esénciadesse texto, na qual o pesquisador se basearia para descobrir as “norms” seguidas pelo radutor. Assim, como para Catford, Nida ¢ Lefevere, também para Toury 0 “texto- fonte” acaba se colocando fora do jogo da lingusgen, ou se, 0 ‘extofonte ado estaria sujeito 8 interferéncia do leitor, do pes uisador, pois é eomsiderado estivel, portador de um conteido ‘A imagem dominant da wag, em Catford e Nida, 6 de um faxo unidteconal, como se eltura que prod 3 tacisio ‘exercesse sobre ela uma infugecia apenas superficial, Nese sent do, exemplar a analoga que Nia faz entra disribugio de row pas em mals 0 conteido dos textos otradutor apenas reist- buiria os contetidos em outras formas sintseas, assim como 0 ‘ajantedsporiaas mesmasroupas em mals com diferentes formi- tos, Apag-seo propria taduor, como também se perece em - tra analoiafita por Nida, em que compara atradugto carga de vagoes de trem: toda a carga deposiada na origem deve atingi eu ‘destino, no importando sua dstebuicto, desde que chegue nacta 70 CRSA CARVER ROORUES (1975/1982, 190) Neste sentido, o texto de Catford também & ‘exemplar, pos oaitor apenas presceve que a ead conten os of “ragostelevantes” do texto original sem nenhuma meng a context histrio, social ou a0 pablioletor de uma tradusio. Ea crenga na uniditecionalidade ena recuperasio do expago e do tempo ofiginais que orienta os tabalhos desses dois autores. Catford mal erat de queséesexpaco-temporais, fazendo parecer ‘gue certas marcas identifica a época de um enunciado on a ‘lave socal dos enanciadores. Nida trablha com a tadugio da Biblia, que necesariamente envolve a questo da diferenga de tempo, de espago ede clrura. O autor minimiza esas diferencas, pois defende a possiblidade de um efeito e de uma reagio do p= biico que sejam imunes 3 passagem do tempo e mudanca do on- texto. De acolo com Nida, ax raduses team como objetivo fa- 2er que os receprores eagssem “A mensagem substancalmente da mesma manera que os receptores da linguafonte” (Nida 8 Tae bet, 1969/1982, 9.24). Espagoe tempo sSo apagado para dar la- tt impresio da atemporaldade da fe. Os trabalhos desses dois stores também nfo contemplam um outro aspect da questio: 0 fato de #culura que realza uma tradugto participa da slecs0 dos textos a serem traduzides, de sua edico, da orientacSo que thes dada ‘Outro aspecto nso contemplado por esas tori wnidireion ais 6 de quea rescritura, tanto a tradugio quanto a critic ite- ria és das principasresponsaveis pela forma da imagem ‘we 0 piblico receptor ciara respeito de obras e autores esran- eros: Ese ¢ um pontoenfaizado tanto por Lefevere quanto por Tory, que no cncehem a tadueo como um eaminho de mio ‘ies ¢dscutem a8 mruasinfluénias e mituas incerferencias cul- ‘ura teria Niose pode dizer, entretanto, como o faz Toury, ‘qe a rads 6 tem elagso.com acura que recebeataducio, Porgue a préprin radusso pode interfer na reeepo de uma cea "TR dens aso, oe ements qe eomparagmos as paar ‘Steeda em age dee es pote commlamor cone © ‘uo dotenpore dan fund erment ec WROUCAO EOITENGA m ra cultura que a produ, A obra de Edgar Allan Poe € um exen plo, pois deve muito de seu prestgio nos pases de gua ingles 38 tralagbes, especialmente a fits por Baudelaire na Pranga? s10 ‘no significa, entretanto, que a cultura que produza tradugho de Szade ter papel decisvo a excolha da orientagio de uma tradagi. Ene ¢urt dos motivos pelos quis Lefeveree Toury erecusam 3 caper certo tipo de correspondonca abstrata oa prioni~ a de “Cuivaléncia” entre o texto de partida ea radu. Para Toury, ‘ proprio fato de um texto “funcionae” como uma tradugio, ou Soh, ser ecebido em uma cultura como traduglo de osteo text jit ‘a aranta para se aceitar que seja uma radu COstrabalhos de Lefevere ede Toury, ao contrério dos de Nida ce de Catiord, enftizam a importincia dos aspectos espago temporais. Acbra de ambos traz esse tipo derelagioesalenta que te tralaovessofrem “coetges dos tempos em que vive, das ta- Aig Iiterdtas que tentam conciiar e dos tagos das linguas com ts quis tabalham” (Lefevere, 19922, p.6), Outro ponto que os dois autores reiteram em scustrabalhos€o fato de a “radio terra ser uma categoria hintrica em movimento (ot, pelo me- hos, mative) e nio um fendmeno a-histricn, como presupdem ts teorias orientadas para o texto ou paraa lingua-fote” (Tourys 1980, prs}. Iso far que diferentes 6pocas aceite diferentes tar dagoss, A tradgio se define, asim, como “um tipo de aividade comportamentalsociaimente orientada” e suit a coergdes de ‘cos tpos e gras (p. 141) Entretanto fato de lidaem de modo coerente com a ques es espaco-temporais e mostatem a impossblidade de se pres ‘reverregras universis para a tadusio nfo basta para coloctlos ‘nde fia que ee 3 Fa aso universal a de Po Fo {ns wd oni gu rnd er del 0 ‘Shen tarde dover angen do entre aeicno. RSS eeucom tram om spun fom taser erNamaarec ma irs ind ne (981, p3).Na-No OU ra pra sen dos Ova compl Poe, Mendes ‘serChrat spn cou wah oi epimers eta pla a Repellant fer bem ads aaa de Bae toa im RNA CANE ROORCUES «emu paradigma completamente divers daguee em que se stuam Nida e Catford. Percebe-se,na obra de Lefevere (1992, p87), 2 pretensio de recuperar 0 univers de dscurso do autor original, dde modo anslogo a ideia de Nida de recuperacio do contexto da época da escrcura da Biblia, Além diss, tanto Lefevere quanto Catford constoem esquemas de caegorzass que pretensamen: te contribuiriam para a andlise ow para a descrigho de tadugies, [No trabalho dessesaueorespercehe-e que o deseo de sistema 60, de explcagio do que acorre na tad, implica uma série de divisbes em compartimentos uma segmentagio ot fragment {0 dos elementos em unidades menores.Exemplo de seu essencia- limo € separacio que Lefevre faz entre a univers da discus, ‘os costumes 0 rituals ecrengas de uma sciedade,e os apectos| ‘eolicos, a poetic ea lingua, indicando que o autor presupse operagieslingsticasdissociadas das questdes soins e ideo ‘3, € que o proceso interpretativo se daria em etapasestangues. [Nesse sentido, o autor demonstra o deejo de controle total do process, dlasificando-o,subdividindo-o em etapa difundindo a ‘posigio tradicional entre o linghisticoe extalingistico, “Toury eambém formula uma intrncada ede de categoria pa- anise ea descrigio de trades. A “oposig basen” de que parte € ente “substncia materia” ¢ “elemento funciona” que, como coments no segundo capitulo deste trabalho, implica nive- lar forma esubstincia © opd-asfunsio. A oposio envolve ae Duir ds estruruas das lingua as eaaeteriticas de univetslidade, de fechamento ede imoblidad, na medida em que o autor afirmt ‘que os elementos de lingua (orm) so representages de subst «ia invariantese subjacentes, 0 que implica que se excluam deste vel as elagbes diferencias. Da “oposigio bisica”derivam ou- 35, ais conto existencia xa nio-existnca de mos lngisticos| «que sirvam de solugdestradutias,operagées a prior x gennas| (estticas on dinamicas, ow sea, motivadas pa considerapies "ex. temas” sobre o que sera “propriada” na cltura que eecebe a ‘dugio x motivadas por consideragdes sobre a fungio do texto ou de seus componente). Tais oposigdeslevariam a identifica sea tradugio e orienta pura 0 pélo-fonte Cadequasio"), ou para 0 Polo-alvo (aestabildade”). BADD EOFERENCA v3 Conrado, © qve aprosima mais 0 trabathos& jastamente & pressuposgio de um onceitaabsrato de “equivalénca", Nida € Catford parem dese pressuposto para definir a teadugio, en quanto Lefevre e Tonrytentam problematizar 0 conceto, mas fem questionar «propria condicao de possibldade da equivalen- ‘a. Tour chega a apontar como problematicoofato dea equiv encia nto ser jamais dfinida, mas acaba por inseila em sua ceo ria como uma "equivalécia teérica", ow como “equvaléncia ‘nix. Os autores no desfiam, em moment alguna prea possibildade de una correspondéncia entre sgnos entre textos; 05 talotes as fuges pars or quis ae deve encontrar corespondéncia ‘staran inscrtos nos texto. Estes seriam ato-sufiienese conte rian, em sy achave para a descoherta dese significado, ‘Consdera-e 0 signo como produto de wma rela estivel ‘entre sigificant csgnificado, em que se opora forma a conte to, Essa noc de sgnoe sua cries com hase em uma perspectiva pie moderna sio objeto dos préximositens deste trabalho. [ANOGAO TRADICIONAL DE SIGNO E A TESE DA INDETERMINAGAO DE QUINE A tradigioocidental considera que o signo sa signo de algu- sma coisa, que repeesentaalguma coisa em sa auséncia ea ela re- ‘ete, Pata esa tradicio, a reaidade do mundo seria apreendida pelo pensamento, sem mediagio alguna, o que garaniria que a linguagem capasse as coisas representadas em sua esséncia. De corde com Kelly, nocio de que o *sgnfcaio € um consteuto ‘ental derivado da pereep da realidade, enquantoo sons 0 sripo de sons vocais ele associados”remonta a Aristtees, am pliada por Santo Agostinho (1979, 8). ligassocentre ambos se rin arbitdra e convencional, o que leva Kelly a derivar ets conse ince: 1. ho se poderia conhecer wma palavra sem alguma ‘Spéciede expeiéncia do que ela sigifca 2. mais de um sigaificante poderisexprimie wm mesmo significado e wn Gnicosignificane re Presentarviros sgnifieados; 3. omecanismo que controlao vty ‘culo atbitrvio éo habito inghistico da comunidade (.8). m4 ‘aSTNA cave ROONGLES De acordo com Kelly, a6 0 seulo XX permanece a nogio de ate 0 significado se relaciona,dealguma maneira, 2 coisa signifi- cada, A discssio sobre traducio, no peeiodo, teria sido condurida neste termos ea possibiidade de equivalnci estariagaranida e iustificads a partir do momento em que um sgnficnte em uma lingua e outro signficante em outra Lingua remetesem a mes- ‘mo objeto oa a algum outro, com © qual parilhasse um nimero sieniiatvo de caractrsticas, Kelly assnala que, no século Xe ‘8 teoria dual do sgno fo, por um lado, ampli, mantendo-se a feridas por Ferdinand de Saussure entre 1907 e 1911, posterior mente, edtadas por Bally e Sechchaye com o titulo de Cours de Tinguistique générale (1916), Dentee 0s pontos mai importantes de seu trabalho, abordo aqui suas concepgées de linguagen e de 186 ‘as cava RoORCUES signo, para expora“radicaliaago de night © pressupostas”pro- posta pelo pés-estrutuelis. (© conceito sauseu no designo sompe com as nosées date Aigo aistotlicn eagostniana que relacionam apalavra percep- 0 de uma realidade do mundo. Saussure enfatia que as linguss lo so nomenclataras, ou sea, no so lists de termor que cot respondem a coisas, e que nfo ha “idsis feta, preexistenes is palavias” (1916/1972, p.79), Nese sentido, as lnguas nio com pportatiam sons nem iis preestabelecas cada uma asculria 4s suas proprias eategoras, seus prépriossignficads. Por um ar do, essa nogies vo contra as concepgdes medievais de que wma palavra s6 podera ser conhecda pela experizncia, pos a percep- da ealidade no era relagio direta com os elementos compo nenes das linguas tendo em vista que as palvras no denominariam 1s coisas ea lingua articular seus proprios constitutes, Por ou tro lado, concepsio saussuriat.a0 dsvincuaralinguagem de uma pereepgio de mundo, alo permite pensar que, automatic mente, do signos, cada um de uma lingua, possam corresponder 441m mesmo conceto, na medida em que aio esto ancorados cm nenfuma verdade exterior eles Da coneepeio de que nada pre- existe palayeae de que as lingua instiruem os significado, assim como os préprios “referentes decorre que nio haveria como pposular uma esénca anterior ou superior 3 palavea aque ela pe ((desseremeter. Em conseqiéncia cso, nfo se podetaatibuir aos ) Gino um valor fxo, pois nso se amit uma exabilidade prefix ‘Grex momento anterior ao sistema lingistico, ao sistema que o sniza os signos, [A concepcio de linguagem saussurana nio é portato, a de uma sie de elementos que descrevem.o mundo © que assumem valores fxarn0 sistema, Ao contririo, como enfatiza Culler, um dos pontos mais importantes da teoria de Saussure & conceher @ lingua, conseqdertemente, o mando, nfo como “ain colegio de cntidades independents, de objets aurénomtor, mas [como] una (strie de objets relacionais" (19761979, p01), Assim, seo ig |) nos se definem apenas por sua elagbes com outros signs no se pode ver cada signo, indvidualmente, como uma imagem do mundo exterior, O significado €, portano, coneebido como dife- ADUGAO EDHTREKA 187 ren ou se buseado em iferengas ene os eos eno em propridadesinrnscas dos propio termon. Cada signa nda é dorado, por principio, de una esncia geo defi e quo del tte emesagso aos demas Asin, no pos craters pos {ray a6 pode imaginarse em repo a0 que o diferencia dos de- ‘nai signos do sistema. De acord com esa concep, sera impensivel abu um mes alors palavas de daa lings diferentes. Aconsegéncia imedaa de cea es ee sraaproblematzaio da nogo da quvaléncae da posbiidade de corrspondéncia de sgnficados ene sgno dengan itis Se nada ene ossignosaos ee fentes e500 pepo sistema estabelece ites entre 08 igs, io hi como postular qu diferentes sistemas onganizem yes amponentes de modo aespelhar organiza de outro, no hi como suporqve um elmer correspondaa outro de um sera “erent Mas & com base na reat esutral que se dnd a nog de que tes possum pata fangs sigfiados na co tri de dierent inguae,Doispontos do etrturaismo sas Suranopoderiam rer fndamentadoadifasto des ida. Um de Ieséaopouigte eterna esubtncia demaeada por Saussure, ‘ae Lyons explis da eine maeira “asin como s pode tra talfara mas de modelagem em objos de formas eramankos / hferentes asi Gian (ou material dentro da gua sees ( eke dingo ales de iif pole ent zada de diferentes formas em lings diferentes” (1968/1979, 158) Asim defind, 4 nog remete dia de uma subsiia ) ‘de conteido anterior a qualgve ling, articulada de modos die rents peas diferentes lingas. Para Saussure, a substncia, cle mento amorfo, anterior superior a qualquer lingua, nio seria ob- “FTyon las» concep tania arma qe oa de na ‘bic cnceptnd ape dling edad ada dv Xb (¢a07% pS), mena no € pi conparhads por otos {ttre gu drt Frese am panorama gral sow goa ‘Sarrprines Edad Lape por exe nls embers ss ‘Sido fri ea bic open ea tame ens poston aon comida es forma da expec (en den png” 1986, 995, gn jeto de estudo da lingistiea, mas da pscologia. Ino se relaciona| com o segundo ponto que poderia tr soldicada a nogto, tio amplamente difundida, de que os sigaticados possam ser parila dos pelos diferentes lingua: aiddia de que a ala éaeepresentacso| imediata do pensamento. Essa nogo conduz 3 posibildade do universalism © & repress das diferengas ent linguas, pois r= mete iia de que a universalidade da razioancorariaavalidade dda representagio. Por outro lado, esa ida leva a encararaesci- tura com suspeita, uma ver que seria uma representacio mediada ‘que teria a fangio de representa a fala, Esas nogdesremetem di retamente ao logocentrismo, asim explicado por Calle: 0 logocentrio envove a renga de que osm so spl mente uma representagio dos iifeaos que to na conse { falnte, O signcante € apenas uma represetilo tenporiia raved quale pv parachegar 0 spniead, que ag qi inlant,nareveladora expresso, reve mene” Ea pave esti uma fonda mais derivative mpertee €epresertago de tina seqedaclsyoucea qn, a meme, un rprromegto Jo petsamento- A interpreta, por ene model, um prosen0 0s {dine retvonpetiy ona tentative de vcapear on Conese Gu ‘suvam presentesna cnsclécia do late ot sca na momen ‘dcserura (197601979, 9.94). ‘Ness tag logoctntrica, um sigifcado etaria presente sa conscacia eum ovine podeia recuperate se $020 sigieado concienerente arbudo plo fn Afontee ‘ gaantia para acivalénciaseram a univeralidace concepal se extabiliaria o significa « ori, por uma, permite elie asim sn Assim, oconceiosausuriano de sgno tem um papel dyplo om, -aponta Derrida permancse a. *comzadigio™ (1967/1973, 136). Por um lado, em dois momentos, Saussure oferece uma c= ticacontundente is nogies tradcionas de signo, mas, poe outro, presera concepgbeslogoctntricas. A andlise que Derrida faz do ‘conceitosaussuriano de signo aponta as dus dtegdes. No plano da rapeua, Derrida (1967/1973, 1972) desaca dois pons. Em HACUAOFONERENGA Ise Primeieo lugar, Saussure marcou ainseparabildade entre signi significante,airmando que sio duas faces de uma mesma _produgi. Iso aarreanio ser posvelpostular uma dicotomia fre esestermos, nem prioriza um dels reprimir 0 outo, ten dd em vista que o signa seria uma unidadeariculada em que signi ficado e significante produsiriam a significagio, Implicaria tam ‘hem uma passigem e una interrelagGo entre os fermion, pos o¢ ‘cmos dr, hima ane, que tla in Je um stem Ingo eared dren no sone dsipiaec m0 spi re pees isan a por asin Serr mete dom O ato de ened € apenas wna mca ‘Tarp peta Jur una rede de dregs eT) pra pda aa forma que pose ser inerpetds tenemos da ete dedeeng do pnd) © ni {Sto moron mi €neshuna etc ue tet mis ee 0 toe cnc, mar om ep en ee resp dr ‘cea (Sema seni da ngage 37197, p36) I Iverpretar 6 asim, inser os sgnos em um sistema diferencia ‘Quando se radu, prtiaaeadiferenca ene significant e sign ficado no mais amplo sentido, pois tradusio éuma operagio que interpreta sgnficados nas amas de um tec dfeencial e057 presenta como signifcamtes, que fazem parte de um sistema de rnormas diferente do primeiro sistema e que, por sua Ver incerpte tarse-iona rede de dferensas do significado. O tadutor, a pro- ‘dusr sun interpreago, nso eranscende o sistema da lnguager, mas contextual os sigiicantes em uma rede de iferengase de remiss. A tradugio sé podria ser uma operagio que eansh ‘ow eransport sigifcados, se houvesse a posibiidade do “signif RADUGAOE DFERENA 193 cad transcendental” do significado aut6nomo na consciénca, i tuagio em que havera transport de sgnfiados puros que as mu danas de sgificantes deixar ntscas, como presuposto por Lefevere on por Nida, por exemplo, quando comentam tradughes equivalentes (Os rabaosdeses autores pressupem que temos acesso 3s colnas do mando por meio dalinguagem. Isso retoma a tadicio tssencialista de que o mando a cultura seriamn a font das repre sentages, dos sgnos. Noentanto como explica Linda Hurcheon, 8 que a eflexdo pos-moderna tna evidenciar & que a culeuraé "efeto das represenrag6es”, ou sea, 0 mando e a cultura nio s6o, ‘tives a sosiedadeideologia € que prviuzem os seus sentidos 2 neo esta prod socilmeateesabelecidoc €por meio dele que emosomundoeo mo ums presenca: “5 teal no 200 CTIA CARNE ROERGUS em eens se tesco nso pe a itr pba ened ant paso ure pen Su owns Bar pao Cre nao cao dine pm ede wna mh om ca deme spose? Sources oes qi dv pr lipase, ‘prota cause com ae 8) ‘Un signe nfo pode emete 1 uma is, pos cada siglo vexpre emer soe gslcan els tn eida . iseaieonlgun cen aga alah punde ne ena tate sumigoats Ease peevamene deri tive Harte oun dssomis chs premotor “Fogo dedifrengaeatiamentosnancaseremetea uma presen: Peete goer pla: Ovo sien eae fo rma ox mills temo as interconcades ene te dementog ons no eto for nw ssa Isso implica que os sgnificados também no se tam 408 tex- £0 e que os valores no emanam do sistema, mas ¢atibuem no préprio jogo do rastro ou da diferéncia. Ao veferi-se 4 palavea “desconstrugio", Derrida afirma que esa, "como todas as demais| palaveas, 6 adquie se valor a partir da inscrigo numa cadeia de substimiges possves, naguilo que sechama tio cranilamente tum ‘contexto" (1987b, p392). O pressuposto da equivalénci, ‘ota passbilidade de se obrer um valor ou significado goal, como indica a etimologia da palavra, 56 teria lugar em um sistema em aque houvesse um centro, um pontofxo, no qual tvéssemos aces0 coisa em si ow ao verdadero valor dos elementos. Falarem equ waléacia €remeter ao fim do movimento, signiicados acados 205 tignificantes, que posta ser compreendidos, nfo intrpretados?* E pensar na leitura como um "proceso nostigico e retrospective" aque recuperaia os coneeitos eos valores inerentes ao texto, 0108 due teriam estado presentesna conscigncia do escritor no momen- toda esrtura (Caller, 197611979, .94), ssa concepgio relaciona-se 3 nogio tradicional de uma esci- ‘ura ligada 8 preseng soberana do autor e de uma escritura cuja _Teiuta definitive qu encerraojogod RADUSAOEDERINGA 201 itegridade de propésit tema vem de um sistema fechado de re feréncia em que os signficantes apontariam pata wi “significado transcendental” on seria a fonte de uma verdade auténtca © tintin, fora calm do jogo da inguagem. A nocSo de "signifies th ranacendental” elaciona-eintemamente& questi da equiv lencia, pois pensar na possibilidade de atrbuigSo de um mesmo ‘alo, ou de obtengio de correspondénca ene dos termos em Thun diferentes lingua, &imaginar que os significadosestejam f- ‘orn texto, ou no ssteaa, fra do jogo que eles insauran. Eye tutraspalavtas,pensat na unvocidade, na possblidade de uma ertextualidade se cons: rit enquantaverdadeira nica. A nogio de equvaléncia wei Tada pelos autores aalisados nesta tse relacionase, portant, i concepobestradicionas de que aescitra seria representasio a {inten consciente de um aurore de que a letura era a recupe- Trg das dias signiicadoscontides no texto 0 implica pen ‘ar em uma relagio deta com oraional a esriura como repre: Scoagio da falae, portant, de modo secundério, do pensamento consciente de um autor. ‘A tadugio encarada como um proceso de reprodugio de scntidos equitalentes aor dados pelo texto original presupée, portant que sea pose, em um primeiro momento, arecupe~ go, pela itr, de um valor dado pelo sistema, pelo text, 00 pelo caertor; em um segundo momento, em sua reprodugio em ‘uit lingua, em out sistema. A nogio de equivalncia nos est ‘dos de tradugio pressupde apreseragio de contetdos ou de va tores,apesat da mudanga de contexto, de espago e de tempo. Pressupae também que dois sistemas lingticos diferentes te- ‘ham nelesinsttuidos elementos aos quais conferem os mesmos valores. ‘A desconsirugio,entretanto, abala a concepgio de uma ori- gem plena, de um “significado wanscendental”inscito no texto Sune A ciferenga e a0 adiamento, ou sja, a mudangs espacial € temporal Poe em xeque assim, a validade ou a lesitimidade do, penamento tradicional que considera a Ieiura como a preserva ao de sigifcados, asim como o que jlga que a tradugiosejasua eprodugio ou sen taneporte para outa lingua. Derrida sponta 0 202 Csr cABNERO RODS ‘quanto esse “conecito corrente de radi” se toa problemti- 0, pois implica um “process de restituigSo" em que a tarefa do teadutor passa a ser rstuir“o que esa iicalmente dado”, ¢ aguilo que estaria dado, de acordo com aquelas concepySes, seria ‘sentido (19872, p.213). No enanto, ler no & buscar um ponto fixo, recuperarainteneio dada pelo autor ou desvelar 0 sentido ‘ocalto que estaria presente no text. Ao ler, estamos erando um texto, estamos eserevendo nosso préprio texto, no eestiuindo 0 sentido dado pelo autor. Aescritura rompe com seu contexto de produsio e com qualquer contexto de recepeto deteeminado, Mas, para “ie” a esrtura tem que ser repeivl ou itensvel, Der rida nfo associa a repetigo & permangncia de um mesmo, pois “iter, de novo ira de tara, ontro em sinscito", 0 que “gh &xe- petigho 8 alteridade” (1972/1991, p.886). Asim, na repetisio| ‘nto € 0 mesmo que se apresenta, pois a priea da itera tabs ‘ha, alter e algo de novo sempee corte, implicando, “0 mesmo tempo, identdade e diferenga” (Derrida, 1988/1996, 9.77). “A, iteabilidade de um elemento divide a priori sua propria dentida- de, sem contar qu esa identdade s6 pode dliniar-se numa re- lasio diferencia com outros elementos, e az a marca dessa dife- renga” (p.77), Iso tora impossvel a jgualdade absoluta mesmo na epetsio, pos ela propria no €déntica asi mesma. Com so, teiterase a impossibilidade de cma leita protetors, sents de ‘qualquer incerferéncia. A questo do texto orginal ‘A eadicso sempee considerou que tetamos pleno acesto § ‘origem. Hssailsio manifesta, na iteratura sobre trad, pe lo proprio uso do termo “texto original” como sindnimo de “tex torfonte". Os dois terms pressupdem a exsténcia de uma fone, ‘ou origem, mais ou menos tansparente que carregaria em sia plenitude de um sentido intencional. No entanto,seanalisarmas a Tigagio entre os termos, como o faz Derrida (1972/1990), con cluieemos que nossa relagio com os textos no pode ser de regres 50 fomte, 08 origem, pois fonte, "na purez de sua Sus, exh sempre isseminada long des prépria eno tem rela consigo HAoUAO EERENGA 203 cenquanto fone” (p.324)-A font é “apenas um cfsito produxido pelaestruura de um movimento mo é, portant, aorigem nem “apartda nem A chepada”(p.328) A font €heterogtnea nso tem “Sentido propria que the permitarepressar igulanse asi mes: ima” (p.325) Visto por este ingulo, o chamado texto-fonte no pode estar eacregado de sentido, s6 pode ser movimento, hetero- feneidade e, da mesma maneira que os signos,nio €recupervel fenquaito pata arigem, mas efeto produzido no movimento dos sigs. Se a.cultura nfo font das representaces, mas seu efeitos ‘se tepresentagio no domina nem ocultao referent, ela cria © imerpreta ese referente, sem oferecer um acessoimediato acl, 0 teadutor no lida com uma “fonte" nem com uma “orien” fa, ‘mas conse uma interpretagio que, por sus vez também vai ser ‘movimento desdobrar-se em outasinerpretagSes (© uso dango de equivaléncia pr Catford, Nia, Lefeveree ‘Toury, decore, como vimos, do pressposto de que o texto de parida €uma origem pura, uma fonte de sentidos a serem reeupe- Fados pelo tradator, pelo pesguisador que analisa as tadusBes Essaseoncepgées se embasariam em ama *semiologiaclisica", ‘que “parte do presuposto de que existe, por tis de todo signo, tim reerenteexterno a sistema lingo, assim como ha uma brigem primordial e definda por tis de toda deriva ou uma presenga real resativel por tis de todo simulaco” (Areojo, 1993, p.71-2), om sei, na concepedo tradicional de signo como sulsiuigho de uma preseng plea. A desconstrugio da fala pena {presente eda concep de que o signa escrito una representa ‘lo secundéras6 poderia levara uma cera desconfiang em rela- {Ho ao conceito de texto orginal como fonteimediata, Noentan- To, no ¢ isso que ocorre. Artojo descreve a relagio entre as concepgiesclisscas de signo ¢a concepeto tradicional de texto briginal ow texto-font,e expe como essa desconfiangana ecr- tura pode ser encoberea: na relagio entre a tradusio eo “orig nal este teria passado a ocupar o lugar que oreferente ocupava na “semiologiaclésica”, enquanco a traducio tera pasado a ser aguilo que o represenara esubstiiria. Nese sentido, atradusio [issou a ocupar uma posgdo “secundaria e provisria em relagio guilo que supostamente substi (73). 204 ‘RST CARNRO ROORUS A andlse de Arroo relaciona a concepso elésca de sgno as nogées de inferioridadee de aig, que normalmentese associa A traducio,e8 concepeto de que o tradator deve ser invisel ere roduziro original. As concepgbes de que a tradi € uma repre Ssenragio preciriaedevvada teviam partido de uma radio que 8 nogto de que todo “ria”, com ot inns que o connie, também mediago esinulacro&, porno, amber “proviso” “ecundiro™ Tome otexta ater tudo secu e po sto por sua condo designe ~ pela presen, pela eam, po “orginal”, por aguilo qe sepontamente poder ser objeto tment ecoheidoe determina (19938, 9.7), Pensa no “texto original” como font tansparente de ignili- ‘adds pressupde que se ignore que ce i seria “Signo de sgno", ou ‘ej, presapde considers como a epresentasio diet eimediata do peasament, ox do referents. Tudo 0 que 0 “fonocenersma” pensa ser caractritiea da fala 6 por wna espécie de exquecimen- 'o, wansposto para o"texto-fonte™ a secundaiedade ea press riedade que caacterizariam a escriuta se aribvem & radu. Desse modo, a0 chamado texto-onte se arbuiia 0 status da fla ‘como origem pura, enguanto a tadugio se eransformaria na sa representa. ‘A desconstrugio do logoeentrsmo e a raicalzago da nogto

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